sábado, 20 de setembro de 2014

Para desancar Marina, Lula bate até em Simon



Josias de Souza


Em campanha na cidade gaúcha de Caxias do Sul, nesta quinta-feira (18), Lula voltou a espinafrar Marina Silva e sua “nova política.” Para alvejar a ex-correligionária, hoje a principal rival de sua pupila Dilma Rousseff, Lula bateu até no senador Pedro Simon (PMDB-RS), com quem sempre manteve relações amistosas.

“Que história é essa de nova política?”, discursou o morubixaba petista. “É a nova política feita pelos velhos políticos? Aliás, tem uma aí que inovou tanto, tanto, que o Pedro Simon [84 anos] agora é candidato a senador com ela, defendendo ela. É uma nova política extraordinária!”. 

A plateia, 100% feita de companheiros, caiu no riso.


Minutos antes, Lula dissera: “É muito fácil as pessoas dizerem ‘nós queremos uma nova política', é muito fácil as pessoas dizerem ‘eu vou governar com os miór’. Aonde é que estão esses miór, que vocês não encontram? Aonde é que está essa nova política, fora da política? É como se a Igreja Católica tentasse se renovar fora da Igreja. É como se as coisas acontecessem fora das instituições.”

Lula tomou um jatinho até o Rio Grande do Sul para pedir votos em favor de Tarso Genro. Candidato à reeleição, Tarso continua em desvantagem no Datafolha em relação à rival Ana Amélia Lemos. Coisa de 37% a 27% no primeiro turno, anotou pesquisa divulgada nesta quinta. No segundo turno, Ana Amélia prevalece por 49% a 36%. Ao longo do discurso, alguma coisa subiu à cabeça de Lula.

Com seus 69 anos, o coronel do PT criticou o ficha-limpa Pedro Simon por disputar, aos 84, mais um  mandato de senador. “É a nova política feita pelos velhos pelos velhos políticos?”. E “não há política fora das instituições.'' De fato, é justamente porque as instituições brasileiras funcionam adequadamente que a cúpula do PT encontra-se na penitenciária da Papuda.

A conversão de Marina em ameaça real à reeleição de Dilma é uma evidência de que Lula já não é aquele cabo-eleitoral de outrora. Mas no seu caso o pior da velhice é ainda conservar alguma capacidade de conquistar votos, de pedir aos eleitores que mantenham o petismo no poder, e não lembrar muito bem pra quê! (ouça abaixo, se tiver interesse, o discurso de Lula em Caxias do Sul)

Oscilação negativa obriga Marina a fazer política


Josias de Souza

Intenção de voto

Presidência da República

Dilma Rousseff

Marina Silva

Aécio Neves

Eduardo Jorge

Everaldo Pereira

Luciana Genro

José Maria

Levy Fidelix

Outros

Brancos e nulos

Indecisos
TOTAL
17 Jul 2014
18 Ago 2014
29 Ago 2014
03 Set 2014
10 Set 2014
19 Set 2014
0%5%10%15%20%25%30%35%40%
37%
30%
17%
Surrada abaixo da linha da cintura na propaganda eleitoral de Dilma Rousseff e pisoteada na de Aécio Neves, Marina Silva bambeou. Ela ainda conserva um pé no segundo round da luta de boxe em que se converteu a sucessão de 2014, informa o Datafolha. Mas, para sobreviver na luta, terá de fazer algo que preferia adiar para depois de uma hipotética vitória: acordos políticos.

Aécio Neves despertou do nocaute. Mas enfrenta a contagem regressiva do calendário. Como observaram Mauro Paulino e Alessandro Janoni, diretores do Datafolha, “para chegar ao segundo turno, Aécio deve torcer por um feito inédito em eleições presidenciais nesta etapa da disputa: sua candidatura crescer além de seu teto e Marina cair abaixo de seu piso.”

Se confirmado pelos fatos, o embate final entre as duas damas da eleição será sangrento. Em fins de agosto, Marina ostentava na sondagem do segundo turno uma dianteira de dez pontos sobre Dilma (50% a 40%). Hoje, ela continua numericamente à frente. Mas a diferença é de apenas dois pontos (46% a 44%) —um empate técnico.

Deu-se até aqui, mais ou menos o que planejara João Santana depois que Marina ganhou o primeiro plano da disputa. Armado de mentiras, mistificações e falsas analogias, o marqueteiro de Dilma dissolveu um pedaço das intenções de voto de Marina e, mais grave, fez dobrar sua taxa de rejeição. Há um mês, apenas 11% dos eleitores diziam que jamais votariam em Marina. Hoje, a taxa soma 22%.

Permanecendo no ringue, Marina terá de provar para o pedaço menos ilustrado do eleitorado que não é a fraude que Lula e Dilma autorizaram João Santana a fabricar. A seu favor, a candidata do PSB terá a paridade de armas. Vai dispor dos mesmos dez minutos de rádio e televisão a que Dilma terá direito. Dinheiro também não haverá de lhe faltar. O problema de Marina será providenciar matéria-prima adequada para preencher o tempo de propaganda.

Marina precisará adensar o córner, atraindo forças novas para o seu lado no ringue. Sob pena de potencializar a empulhação  segundo a qual sua vitória empurraria o país para um desastre à Jânio ou à Collor. De saída, terá de obter de Aécio o que sonegou a José Serra na sucessão de 2010.

O apoio do PSDB não cairia no colo de Marina. Teria de ser conquistado. 

Noutras condições, a candidata talvez pudesse esnobar o tucanato. Avessa ao PT, a maioria dos eleitores de Aécio tenderia a votar nela. Mas Marina precisará, acima de tudo, passar a impressão de que a sua “nova política” não é antônimo de bom senso.

Marina não terá de sentar à mesa com um Sarney ou um Renan. Mas será pressionada a abrir um sorriso para personagens como Geraldo Alckmin, sobretudo se ele mantiver o favoritismo que ostenta nas pesquisas. Nas palavras de um correligionário do PSB: 

“Marina ainda tem boas chances de virar presidente da República. Mas precisa errar menos. E recusar uma parceria com Alckmin no maior colégio eleitoral do país seria um equívoco primário.”



Abarrotadas, as gavetas da República explodem



Josias de Souza

Dilma Rousseff tem orgulho de dizer: “Ao longo da minha vida tive sempre tolerância zero com corrupção.” Mas o destino —essa fração de segundo em que o sinal muda de verde para amarelo e a pessoa é intimada a decidir se para ou avança— pregou-lhe uma peça. Na hora em que ela reivindica um segundo mandato, as gavetas da República começaram a explodir ao seu redor. São explosões incontroláveis.

A inevitabilidade dos estrondos é proporcional à quantidade de bombas estocada nas gavetas. Há nitroglicerina demais. Tanta nitroglicerina que já não é possível negociar o que será insinuado e o que permanecerá escondido. Até agora, Dilma não demonstrou desejo de parar. Diante do sinal amarelo, ela aperta o botão do ‘eu não sabia’ e pisa no acelerador. Pena, mas nada impede que enxergue o freio.

A plateia ainda não sabe o tamanho do estrago produzido pela autoimplosão de Paulo Roberto Costa. Sabe-se que a delação do ex-diretor da Petrobras balançará o coreto de autoridades, estilhaçando-lhes as coligações. Mas não ficou claro, por ora, o grau de comprometimento dos alicerces do Planalto. Infelizmente, a visitação aos escombros não deve ser liberada antes das eleições.

Enquanto tenta desviar sua candidatura do óleo derramado na pista da sucessão pelo delator Paulinho, como o chamava Lula, Dilma é surpreendida por outra bomba —dessa vez uma bomba de efeito retardado. Foi armada por Renan Calheiros. Deveria ter ido pelos ares em 2007. Mas, com a ajuda de Lula, o artefato desceu à gaveta. Que a Procuradoria da República acaba de abrir.

Seis procuradores da República protocolaram na 14ª Vara Federal do Distrito Federal uma ação por improbidade administrativa contra o presidente do Senado. Nela, Renan é acusado de pagar com propinas recebidas da empreiteira Mendes Júnior a pensão de uma filha que teve em relacionamento extraconjugal. Em troca, acusam os procuradores, o senador pendurou no Orçamento da União emendas que bancaram obras da firma corruptora.

Quando o caso veio à luz, em 2007, Renan já presidia o Senado. E Lula, solidário com seu drama, ajudou-o a mobilizar o consórcio governista para enterrar o escândalo vivo. Combinou-se na ocasião que o Conselho de Ética encamparia a tese de que o dinheiro repassado à ex-amante de Renan viera da venda do gado. E os brasileiros seriam convidados a se fingir de bobos. Pelo bem da República.

Produziram-se dois relatórios atestando a falta de provas para a cassação do mandato de Renan —um foi subscrito por Romeu Tuma, já morto. Outro, por Epitácio Cafeteira, ainda muito vivo. Sabia-se que fechar os olhos piorava a palhaçada. Mas dizia-se que não convinha arriscar a estabilidade do Legislativo e a própria governabilidade em nome de algo tão relativo e politicamente supérfluo como a verdade.

Todos se encaminhavam para aceitar a combinação de que nada ocorrera. Mas, de repente, a imprensa golpista demonstrou que a boiada que Renan apresentara para justificar suas despesas era feita de notas frias. Um rebanho de dúvidas passou a transitar pelos salões do Senado. De novo, combinou-se que as reses não estavam ali. Num grande acordo, Renan renunciou à Presidência do Senado e seus pares abstiveram-se de passar o mandato dele na lâmina.

Em fevereiro do ano passado, como se nada houvesse sucedido, Renan foi devolvido ao comando do Senado. Dias antes da aprovação do nome dele em plenário, o então procurador-geral da República Roberto Gurgel denunciou-o ao STF. Servindo-se do mesmo caso que mistura lençois, verbas orçamentárias e propinas, Gurgel acusou Renan de peculato, falsidade ideológica e uso de documento falso.

A despeito de tudo, Renan obteve de volta, já sob Dilma, a poltrona de presidente do Senado. Amealhou votos de governistas e de oposicionistas. O PSDB entregou-lhe oito decisivos votos. Decorridos dezenove meses, ouve-se a explosão da nova ação judicial. O barulho chega na hora em que Renan emerge da lista de supostos recebedores de propinas cavadas na Petrobras. Uma bomba se interconecta com a outra.

Noutros tempos, as explosões eram resolvidas mais facilmente. As autoridades faziam cara de nojo em público, cobravam a cumplicidade dos aliados em privado e confiavam na pré-disposição da plateia para engolir histórias mal contadas. 

As prisões do mensalão geraram uma dúvida: de que tamanho precisa ficar o embaraço para que o brasileiro, já tão habituado ao papel de tolo, possa considerá-lo aceitável? A paciência parece ter diminuído. Além das gavetas, a desfaçatez encheu o saco.

Código Florestal:1ª anistia de multa por desmatamento é homologada no Acre




Josias de Souza



Dono de uma propriedade de 75 hectares, Geraldo Ferreira da Silva (de camisa escura na foto) tornou-se o primeiro produtor rural do país a obter anistia de multa por desmatamento com base no novo Código Florestal, em vigor há quase dois anos. Por ironia, as terras de Geraldo ficam em Brasiléia, no Acre, Estado onde nasceu Marina Silva, uma crítica fervorosa do código, sancionado por Dilma Rousseff em outubro de 2012.

Geraldo tivera a propriedade embargada e multada pelo Ibama em 2007. Coisa de R$ 15 mil. Um castigo por ter derrubado a mata na área de preservação permanente de sua propriedade, a chamada APP. Desde então, Geraldo estava proibido de obter benefícios do Estado e contrair empréstimos em bancos oficiais. 

Reabilitou-se graças ao artigo do novo código que autoriza a remissão de multas aplicadas até 22 de julho de 2008.

Em troca, Geraldo assinou um compromisso de recuperar a área degradada de sua propriedade. Pela lei, ele teria até 20 anos para o replantio. Mas comprometeu-se em restaurar a paisagem em cinco anos. Recebeu o documento que desbloqueou suas terras há dois dias, num ato que contou com a presença da ministra Izabella Teixeira, sucessora de Marina Silva na pasta do Meio Ambiente, e do senador petista Jorge Viana, um dos relatores do código no Senado.

Em conversa com o blog, o secretário de Meio Ambiente do Acre, Edegard de Deus, descreveu Geraldo Silva como um produtor rural de mostruário. “A propriedade é pequena, fica num antigo assentamento, já consolidado. Seu Geraldo mora na propriedade, vive dela. Trabalha com os dois filhos. Estava impedido de acessar programas sociais e obter crédito bancário. Voltou a ter segurança jurídica.”

Segundo Edegard, a falta de crédito para tocar a lavoura deixava Geraldo e sua família “desesperados”. Encontram-se na mesma situação outros 1.317 produtores do Acre, entre pequenos, médios e grandes. Todos têm contas a ajustar com o Ibama. O governo local deseja facilitar-lhes a vida. A “instrução normativa” baixada pelo Ibama para regulamentar a aplicação do novo Código Florestal só foi editada em 6 de agosto.

“Vamos colocar todo mundo na legalidade”, disse Edegard na noite passada. “A partir do compromisso da regularização ambiental, os produtores terão segurança jurídica para trabalhar. Vão poder realizar os seus negócios, obter financiamentos públicos. Esse é o principal objetivo.”