quarta-feira, 2 de março de 2016

Neste ano, 45 animais foram atendidos no hospital veterinário do Zoológico de Brasília

Um dos pacientes foi um lobo-guará com acúmulo de sangue na orelha
Samira Pádua, da Agência Brasília
 
28 de Fevereiro de 2016 - 16:00
Foto: Tony Winston/Agência Brasília Neste ano, 45 animais foram atendidos no hospital veterinário do Zoológico de Brasília
Correção estética e funcional. Esse foi o tratamento recebido pelo lobo-guará Orelha no Hospital Veterinário do Jardim Zoológico de Brasília em janeiro deste ano. Com oto-hematoma (acúmulo de sangue na orelha, causado por um rompimento de vaso sanguíneo), o animal teve que ser atendido para a retirada do excesso do líquido.

"Vimos que a orelha do animal estava pendente, inchada, e ele balançava muito a cabeça", explica o diretor do hospital, Rafael Bonorino. "Precisávamos fazer a cirurgia corretiva e verificar se não havia risco de infecção."

O lobo-guará foi entubado, anestesiado e teve batimentos cardíacos e respiração monitorados durante todo o procedimento, que durou 30 minutos. Após três semanas em recuperação, voltou há um mês para o recinto na área de mamíferos e passa bem.

Orelha tem cerca de 9 anos e é um dos 45 animais do zoo atendidos pelo hospital veterinário neste ano. A unidade oferece atendimento em clínica médica, cirurgia, radiologia e laboratório. Há ainda parcerias para serviços como acupuntura e laser terapia (tratamento que ajuda na reabilitação de animais com lesões), feitos por meio de cooperações técnicas espontâneas e gratuitas com especialistas privados.
Soro
A história do lobo-guará com a unidade teve início em 2008, quando ele foi resgatado pela Polícia Militar Ambiental do DF e levado ao hospital veterinário para tratamento. Apresentava uma lesão na orelha direita e problemas no tórax por causa de um tiro, e também estava com anemia e debilitado, com costelas à mostra.

O tratamento envolveu procedimentos como transfusão de sangue, injeção de soro e melhorias na alimentação. "Pode ser que nessa época, pelo tiro e debilitado, ele não tenha conseguido se alimentar normalmente, e uma coisa vai agravando a outra. O conjunto de fatores poderia ter levado o animal ao óbito", detalha o diretor do hospital.

O zoo solicitou ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) a incorporação de Orelha por dois motivos: por ele ter se acostumado ao ser humano devido ao tratamento e para renovar geneticamente o plantel de lobos-guarás da fundação, que, na época, estava baixo. Atualmente, ele é um dos 196 mamíferos do local.

"O visitante vê lazer, mas o intuito é também conservação, pesquisa e educação". Essas vertentes, de acordo com Bonorino, englobam programas específicos para estudantes e pessoas com deficiência e ainda a conservação de animais que podem entrar ou entraram em extinção e o estudo de doenças e de aspectos alimentares e fisiológicos, por exemplo.


HospitalO Hospital Veterinário do Jardim Zoológico de Brasília existe desde 1979. A equipe é composta por dois veterinários, dois tratadores de animais e cinco residentes.

Não são atendidos bichos da comunidade em geral, apenas os do próprio local e, eventualmente, os de vida livre que habitam áreas ecológicas vizinhas e os que são resgatados por órgãos públicos da área ambiental.

Em 2015, passaram pela clínica 400 animais em média. Em 2016 foram 60 (45 do próprio zoológico). Nos dois casos, a maior parte deles veio do plantel do zoo.

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Grito Revolucionário do Século XXI


As bancadas da Câmara


Maiores grupos de parlamentares da Câmara são pautados por interesses corporativos, conservadores ou por ambos; mapeamos quem defende o quê

Os deputados federais da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), uma das maiores e mais organizadas bancadas da Câmara dos Deputados, reúnem-se semanalmente durante um almoço em uma mansão no Lago Sul, bairro nobre de Brasília.

Divulgado com antecedência também para a imprensa, o “cardápio” – nome dado pela assessoria própria da FPA às pautas que estarão em debate – na terça-feira (16) incluiu a tributação de produtos agrícolas, a indenização de propriedades quando desapropriadas e a indicação de membros para as comissões permanentes da Câmara dos Deputados, cuja composição é renovada a cada ano.

Além do colegiado de Agricultura, os ruralistas estão de olho especialmente em outros dois: o de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) e o de Meio Ambiente.

“Nós vamos tentar colocar o máximo de pessoas que tenham condições de debater a questão ambiental no Brasil, não de forma ideológica nem radical, mas de forma equilibrada. Vamos tentar, sim, ter uma grande maioria”, disse à Pública, após o almoço, o deputado federal Nilson Leitão (PSDB-MT).

Vice-presidente da FPA, ele é o relator da CPI da Funai e do Incra, que pretende devassar os órgãos federais, e presidiu a comissão especial que em 2015 aprovou a PEC 215 – que inclui o Congresso Nacional no processo de demarcação de terras indígenas. “Nós vencemos na parte da comissão; agora é tentar colocar logo em plenário, ver o que a Câmara vai decidir e fazer com que o Senado também possa acelerar o processo”, diz, sobre a PEC 215, cuja aprovação em definitivo é um dos principais objetivos da frente para 2016 – por mais que ela seja taxada por muitos juristas como inconstitucional.


Além da FPA, diversas outras bancadas atuam diariamente no Congresso Nacional, reunindo deputados com ideologias, motivações ou objetivos semelhantes, ou ainda com financiadores do mesmo setor. A dinâmica de funcionamento desses conjuntos temáticos é heterogênea. Nem todos possuem estrutura ou estratégia semelhante aos ruralistas – que contam com coordenadores, agitadores e negociadores entre os seus inscritos –, e em muitos casos a formação da bancada só fica clara com o desenrolar de pautas específicas ou com a ajuda dos dados de doação de campanha.


Para mostrar quais parlamentares defendem quais interesses, a Pública levantou a composição de onze das bancadas mais atuantes. Além dos ruralistas, que contam com 207 deputados, mapeamos outras gigantes da Câmara: a evangélica (196), a empresarial (208), a das empreiteiras e construtoras (226) e a dos parentes (238), o maior agrupamento da Casa – confirmando a tendência de aumento do número de deputados com familiares políticos, como a Pública mostrou recentemente.


Adicionamos ainda as bancadas da mineração e da bola, respectivamente com 24 e 14 deputados federais. Também pequenas mas igualmente fortes, pelo teor dos conteúdos que defendem, mapeamos a composição das bancadas da bala (35), dos direitos humanos (24) e da saúde (21).


Nesses casos, os critérios para defini-las foram a atuação diária de cada parlamentar em temas relacionados aos segmentos específicos. Para a das construtoras, partimos exclusivamente do financiamento de campanha, que também ajudou a elaborar o levantamento da bancada da mineração.


A empresarial e a sindical consistiram em uma atualização do material publicado pouco após cada eleição pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), que faz uma radiografia das bancadas no Congresso Nacional. A simples troca de alguns titulares por suplentes – 33 exerciam mandato em janeiro de 2016 –, curiosamente, implicou redução nos dois grupos. A primeira perdeu treze integrantes e a segunda encolheu oito cadeiras. Proporcionalmente, a perda foi mais sentida pela sindical, que conta agora com apenas 43 deputados, contra 208 dos empresários.
Baixe a tabela com o mapeamento das bancadas da Câmara feito pela Pública

Ruralistas de carteirinha

Para mapearmos os defensores do agronegócio, incluímos todos os parlamentares que subscreveram a criação da FPA. Embora regimentalmente haja um número mínimo de assinaturas para a criação de uma frente – tornando comum um companheirismo na linha do “assina a minha, que eu assino a sua” –, esta regra geral de cordialidade não se aplica à bancada ruralista, na análise de Antônio Augusto Queiroz, diretor do Diap.


“Isso vale muito para a frente de direitos humanos, por exemplo, a questão de assinar e não efetivar o apoio. É simpático pra opinião pública, mas quando é pra valer o cara desaparece ou não vai pra linha de frente. Mas ninguém assina a bancada da agricultura se não tiver vínculo direto com o setor”, explica.


Um dos mais aguerridos defensores do agronegócio na Câmara, Leitão diz que o tamanho da bancada não atrapalha o fluxo dos trabalhos. Temas espinhosos como o impeachment da presidente Dilma Rousseff, que ele defende, costumam ter debates menos consensuais entre os integrantes da FPA, mas, em outras pautas, o convencimento dos 207 deputados – ou 40% da Câmara – que compõem a bancada é mais simples. “Nos assuntos do setor produtivo no Brasil, naquilo que a frente deve defender, como a PEC 215, nós sempre temos a maioria para poder ter a vitória necessária”, afirma.


Casarão onde a bancada ruralista reúne-se semanalmente para definir prioridades e estratégias
Casarão onde a bancada ruralista se reúne semanalmente para definir prioridades e estratégias. Foto: Étore Medeiros/Agência Pública


Questionado sobre o viés radicalmente conservador dos ruralistas – e mesmo com tons de ódio, em alguns casos –, Leitão se justifica. “Nos Estados Unidos, por exemplo, não tem nenhum problema em um deputado representar o setor do aço, da agricultura, do automobilismo ou da religião.


O Brasil tem esse preconceito ainda, que é cultural. Eu moro num estado [Mato Grosso] que é eminentemente agrícola, que é o maior produtor de tudo. Eu moro numa região [Centro-Oeste] que é a maior região de produção. Se eu não defender o enriquecimento e a população da minha região, eu não tenho razão de estar na Câmara federal.”

Bala e Bíblia

A bancada da bala, assim chamada pela imprensa para se referir aos parlamentares financiados por indústrias de armas e munições, teve ao longo do ano passado “acréscimos” de deputados que fizeram jus a serem incluídos pela veemência e repetição com que defendem a redução da maioridade penal, o aumento de penas e, principalmente, a revisão do Estatuto do Desarmamento – algumas vitórias parciais foram conseguidas em 2015.


 Conhecido por ostentar um impecável uniforme militar pelos corredores e plenários da Câmara, o PM e deputado federal Capitão Augusto fala com bom humor do epíteto recebido pelo grupo.


“Acabou que esse termo, que tinha um sentido pejorativo, se popularizou e com viés até contrário, demonstrando que a bancada da bala está, sim, compromissada com a questão da segurança, com o endurecimento da legislação penal, do Estatuto da Criança e do Adolescente, e por aí vai. Hoje, já não nos incomoda mais esse termo ‘bancada da bala’, mas nós somos, na verdade, da bancada da vida. O que a gente defende é a vida, principalmente do cidadão de bem”, disse.


A relação entre a turma que em parte defende a linha do “bandido bom é bandido morto” e a Frente Parlamentar Evangélica é um bom exemplo da força da articulação de grupos conservadores. “As frentes de segurança pública e a evangélica correm juntas aqui. Nós temos os mesmos valores. A gente se ajuda realmente, não integramos [a frente evangélica, da qual Augusto também faz parte] apenas com o nome, para constar, mas para efetivamente ajudar em todos os projetos que eles estão apoiando”, reconhece o PM.

 Ele rechaça a ideia de os pontos que unem os dois grupos sejam de um conservadorismo extremista.


“Preservamos a questão da família, da moral, da ética, da honestidade. Não tem como ser radical nesses valores – ou você tem, ou você não tem. Ou você é honesto, é um cidadão de bem, ou você não é.”
Deputado Capitão Augusto (PR-SP), à direita, das bancadas da Bala e da Bíblia
Deputado Capitão Augusto (PR-SP), à direita, das bancadas da bala e da Bíblia. Foto: Lucio Bernardo Junior/Câmara dos Deputados

Pequenos, mas aguerridos

Diametralmente oposta às bancadas da Bíblia e da bala, está a turma dos direitos humanos. Apesar do reduzido número de deputados que militam diariamente no combate da opressão às mulheres, à população LGBT, aos índios e populações tradicionais, do racismo e da violência estatal, a mobilização de setores da sociedade e da militância de causas específicas rendeu a esses deputados algumas vitórias parciais importantes ao longo dos últimos anos, mesmo com somente 23 parlamentares no seu núcleo duro.

A própria PEC 215, por exemplo, obsessão ruralista desde que foi proposta, no ano 2000, somente no ano passado conseguiu avançar até estar pronta para a votação em plenário. “Você pode ter uma bancada de dez aguerridos que vale por 300 que não se mobilizam. A influência de cada grupo também está associada ao número de integrantes, naturalmente, mas principalmente ao número dos que efetivamente têm compromisso com o tema”, analisa Antônio Queiroz, diretor do Diap.


Exercendo o primeiro mandato na Câmara, o paraense Edmilson Rodrigues (Psol) travou diversos embates com a bancada ruralista na comissão especial que analisou a PEC 215. Mesmo conhecendo de perto o radicalismo de boa parte de seus integrantes, entretanto, mantém a esperança no poder do convencimento. “Por mais que haja uma ação às vezes muito truculenta por alguns representantes, particularmente do agronegócio, do latifúndio, mesmo entre eles há pessoas com capacidade de diálogo. Eu sou um otimista.”


 Ele conta que em determinada votação sobre direitos das crianças se surpreendeu com a atitude de um deputado que é pastor. “Ele estava ao meu lado. Pegou a Bíblia e me citou um versículo para fundamentar uma posição favorável à minha e contrária à quase totalidade da bancada evangélica, mesmo que em outras situações ele seja obediente à linha geral da bancada.”


Deputado Edmilson Rodrigues (PSOL-PA), da bancada dos direitos humanos, na comissão especial da PEC 215
Deputado Edmilson Rodrigues (Psol-PA), da bancada dos direitos humanos, na comissão especial da PEC 215. Foto: Gabriela Korossy/Câmara dos Deputados

Rodrigues reconhece que, muitas vezes, alguns parlamentares acabam tomando posição por motivações alheias ao debate. “Às vezes, você conversa com as pessoas, mas elas dizem ter compromisso com o partido. Mais que isso, o líder do partido é um amigo pessoal, e o deputado não quer desmoralizá-lo. Em outros casos, o partido tem cargos, ministérios, é responsável pelas políticas que o Estado desenvolve, e o deputado vota como base de apoio”, diz.

Identificação

Embora sejam uma forte maneira de influenciar os deputados, as determinações partidárias ou do bloco do governo nem sempre são seguidas, e é frequente haver a liberação da bancada – quando a liderança permite que os parlamentares votem conforme bem entenderem, mesmo contra as orientações recebidas. “É uma distorção do sistema que tem levado a vários problemas.


Os partidos não têm o comando, não tem nenhum partido unificado, fechado, talvez o Psol, mas porque é muito pequeno. Os blocos de interesses aqui são mais fortes que os partidos, por isso nem sempre a orientação partidária se reflete na votação”, opina o deputado José Stédile (PSB-RS).


Dirigente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Porto Alegre (RS) de 1989 a 1998, ele se surpreende ao saber que é nome frequente nos mapeamentos da chamada bancada sindical. “Ela não chega a 30 deputados, os que realmente lutam em defesa da classe trabalhadora aqui dentro. Isso é reflexo do modelo eleitoral, em que você só tem chance de ganhar se tiver recursos, se é um grande líder, de uma categoria grande, ou acontecem outros casos, por exemplo, como o meu.


Os meus votos não são somente da minha categoria, mas por ter sido prefeito [duas vezes do município gaúcho de Cachoeirinha] e a minha cidade ajudou a me eleger.” Stédile diz defender os trabalhadores, aposentados, agricultores e operários, mas não se identifica com nenhuma bancada. “Elas não reconhecem perdas, e a gente sabe que um país como o nosso não tem como atender tudo, então às vezes tem que abrir mão de algumas coisas pra ganhar outras.”


Metalúrgico e ex-dirigente sindical, José Stédile (PSB-RS) diz não se identificar com bancada sindicalista
Metalúrgico e ex-dirigente sindical, José Stédile (PSB-RS) diz não se identificar com bancada sindicalista. Foto: Gustavo Lima/Câmara dos Deputados


Com uma leve ironia, Antônio Queiroz questiona: “Ele acha que chegou a prefeito por quê?”. Quanto à relação entre o financiamento, as bancadas temáticas e os partidos, entretanto, a análise do diretor do Diap converge com a de Stédile. “Cada deputado tenta convencer o líder a incorporar ou assumir a plataforma da sua frente parlamentar, e, não conseguindo, pelo menos que sejam liberados pra votar em sintonia com o que a frente propõe. Enquanto as legendas não se derem ao respeito, não houver uma mudança cultural, não terão como agir de modo doutrinário, programático.”

Financiamento e ideologia

“Algumas siglas são fortemente dependentes de recursos empresariais, enquanto outras se proíbem de recebê-los, como é o caso do Psol. Teoricamente, quanto mais dependentes desse tipo de doação, maior seria a probabilidade de o parlamentar cooperar com as demandas dos grupos financiadores”, analisa Dalson Britto, professor de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).


Especialista em comportamento legislativo, ele conduziu um estudo em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) sobre a influência das doações eleitorais na elaboração da agenda legislativa. O trabalho, publicado em 2015, analisou as votações na Câmara de 1999 a 2007 em relação aos projetos de interesse da Confederação Nacional da Indústria (CNI) para confirmar que, quanto maior a proporção de recursos corporativos recebidos por um parlamentar, maior a cooperação com determinado setor.


Alguns cruzamentos de dados indicaram que cada ponto percentual adicional do financiamento corporativo no total arrecadado pelo candidato resultou em 30,7% a mais de chance de o parlamentar votar a favor da indústria. Em outro modelo estatístico, o resultado foi de 19,8% a mais de chance de ajuda ao segmento para cada ponto percentual. O professor, entretanto, analisa os números com cautela. “Um determinado deputado votou de acordo com os interesses do grupo X porque recebeu doações de campanha, ou o grupo X financiou aquele deputado porque já dispunha de informações sobre o seu posicionamento ideológico?”, questiona.


“Metodologicamente, um dos principais desafios enfrentados pelos estudiosos da relação entre grupos de interesse e comportamento congressual é mensurar influência. Essa dificuldade é ainda maior na ausência de dados confiáveis sobre o assunto”, observa Britto. Ele ressalta que o financiamento de campanha não compra os votos dos deputados, mas garante um acesso facilitado a eles, tanto para defender projetos quanto para pedir a sua rejeição.


“A interação entre agentes privados e parlamentares resulta não só na formulação de uma agenda de pautas favoráveis a determinado setor, mas também na exclusão de matérias que possam ser danosas aos seus interesses.”


A ideologia, a trajetória e a base eleitoral de cada deputado também pesam na balança na hora das votações, enquanto as alianças entre diversas legendas para garantir bases de apoio aos governos contribuem para a infidelidade às orientações das lideranças partidárias.


“Em uma mesma coalizão tem-se apoiadores contumazes de pesquisas científicas com células-tronco e opositores fervorosos da união homoafetiva, por exemplo. Em termos de clivagens ideológicas, é de se esperar algum nível de consistência entre as legendas partidárias e o comportamento parlamentar, mantidos outros fatores constantes. Imagine a situação de um deputado que tem que escolher entre votar de acordo com a indicação do seu líder, agradar à sua base e ao mesmo tempo contemplar os interesses dos grupos que financiaram sua campanha.


É de se esperar alguma consistência ideológica nas votações; no entanto, se for para escolher entre a fidelidade às diretrizes ideológicas do partido e a lealdade aos financiadores, eu acredito que os parlamentares escolham a fonte de recursos. Afinal, campanhas eleitorais custam caro e alguém tem que arcar com esse custo. Lembrando: ‘não existe almoço grátis’”, observa o professor da UFPE.

Água e circo

O fim do financiamento empresarial, determinado por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2015 e já válido para as eleições municipais de 2016, leva às mais diversas análises do que pode acontecer daqui para a frente durante as eleições e nas futuras composições dos blocos temáticos na Câmara.


Para Nilson Leitão, vice-presidente da bancada ruralista, amplamente financiada por empresas agropecuárias, o fim dos repasses pode resultar em uma pequena queda da representação do setor no Congresso, mas a base eleitoral não se perderá com campanhas mais baratas.


 “Alguns defendem porque acreditam – como eu disse, eu moro num estado que eu preciso defender a produção. Isso gera votos pra mim, além de dar o resultado pra minha sociedade.”


E se essa suposta identificação com o eleitorado não se confirmar? “Talvez seja um bom treinamento, agora em 2016 [nas eleições municipais], para saber se a ausência do financiamento empresarial – que existe nos países desenvolvidos – realmente vai fazer essa falta toda. Se fizer, automaticamente vai ter mudança na lei”, adianta-se. “Se não fizer, quem sabe todos vão aprender a fazer campanha eleitoral bem mais barata, de forma que possa ser nivelada por baixo, e não pelo absurdo que muitos gastam em campanha eleitoral”, afirma o deputado, que investiu R$ 2,4 milhões para se reeleger em 2014 – os altos gastos bancados por empresas e empresários são uma tônica entre os mais influentes nomes ruralistas.

Britto, da UFPE, cita a teoria hidráulica da regulação para comparar os recursos financeiros à água – que sempre encontrará um caminho. “A proibição do financiamento empresarial fortalece sobremaneira o papel do lobby, que ainda não foi regulamentado no Brasil. Como resultado, devemos observar vários escândalos envolvendo representantes governamentais interinstitucionais e representantes políticos nas próximas eleições.”

Para Antônio Queiroz, embora seja possível um aumento de parlamentares de partidos pequenos como o Psol– e consequentemente da bancada dos direitos humanos, por exemplo, na qual atuam hoje todos os cinco deputados federais da sigla –, esse suposto crescimento não será significativo. “O quociente eleitoral é muito elevado. Nos estados em que não existe uma liderança consolidada ou alianças com outros partidos, ainda que alcancem excelentes votações, os candidatos não atingirão o quociente e os votos serão perdidos”, acredita.

Calculado a partir da divisão entre o número de votos válidos e as vagas a preencher, o quociente eleitoral significa o número mínimo de votos que um partido ou coligação precisa ter para eleger um candidato. Nas eleições de 2014 em São Paulo, por exemplo, foram necessários cerca de 300 mil votos para conquistar uma vaga na Câmara.


O diretor do Diap teme que o resultado para a democracia brasileira do fim do financiamento empresarial seja desastroso. “Você vai ter como candidatos prioritários os endinheirados, que podem bancar 100% da campanha com recursos próprios, as celebridades e os fundamentalistas, que defendem causas que têm seguidores cegos. Os partidos de esquerda poderiam tirar proveito do fim do financiamento, já que têm um ativo muito importante, a militância, mas a maioria deles está vinculada ao governo, que tem uma pauta rejeitada por muitos desses segmentos”, diz.

Embora as celebridades nem sempre exerçam protagonismo durante o mandato, são disputadas pelos partidos, já hoje, por ajudarem a eleger outros parlamentares. Foi graças aos mais de 1 milhão de votos recebidos pelo deputado Tiririca (PR-SP), por exemplo, que o Capitão Augusto – aquele da farda militar e que defende a vida, “principalmente do cidadão de bem” – conseguiu se alçar ao Congresso, apesar de ter alcançado apenas cerca de 47 mil votos.

Atualização (19/02, às 15h30): O nome do deputado Paulo Teixeira (PT-SP) foi erroneamente incluído na bancada evangélica e excluído da bancada de direitos humanos. Alteramos o número dos integrantes das duas bancadas no texto e corrigimos os infográficos.


Dani Lasalvia canta a natureza em show no Teatro dos Bancários

Estarei lá hj. Quem puder leve um kg de alimento.
É um show beneficente.
 
 
Músicas de Elomar, Xangai e Dércio Marques fazem parte do repertório da cantora paulistana
metropoles.com

16 toneladas de peixes mortos! Uma das consequencias da Belo Monte.

André Lima shared Instituto Socioambiental - ISA's photo.
 
 
Depois de desviar definitivamente o Rio Xingu e realizar o primeiro teste de geração de energia da hidrelétrica de Belo Monte (PA), a Norte Energia foi multada em R$ 8 milhões. O Ibama, responsável por fiscalizar a obra, identificou informações parcialmente falsas nos relatórios da empresa e morte de 16 toneladas de peixes nos últimos 3 meses na região da Volta Grande do Xingu. ‪#‎BeloMonte‬ ‪#‎EstamosDeOlho‬ http://isa.to/21tK87B

Ministério Público do DF questiona constitucionalidade da lei das vaquejadas

Publicação: Quinta-feira, 25/02/2016 às 18:21:18  

O projeto de lei foi vetado pelo Governador do DF, mas mantido pela Câmara Legislativa, que derrubou o veto e pôs a lei em vigor
 
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) questinou na Justiça a lei distrital nº 5579, que reconhece a vaquejada como modalidade esportiva no DF, nesta quarta (24).

A Procuradoria-Geral de Justiça pede ao TJDFT que a lei seja declarada inconstitucional, por estar em desacordo com o artigo 296 da Lei Orgânica do DF, que proíbe práticas cruéis contra animais.
O projeto de lei 5579 foi vetado pelo Governador do DF, mas mantido pela Câmara Legislativa, que derrubou o veto e pôs a lei em vigor. A vaquejada é uma prática na qual dois vaqueiros, montados em cavalos, tentam derrubar um boi puxando-o pelo rabo.

Segundo a ação, frequentemente são noticiados casos de maus-tratos contra os animais envolvidos, que são confinados e açoitados. Para o MP, a prática implica em crueldade.

O Supremo Tribunal Federal, em decisão anterior, referente à briga de galos e à denominada “farra do boi”, também reconheceu que práticas cruéis contra animais são inconstitucionais, mesmo quando sejam realizadas como manifestação da cultura regional.
Fonte: MPDFT

Calendário do Mês das Águas.

CALENDÁRIO DO MÊS DAS ÁGUAS NO DF

Muita coisa boa rolando neste mês de março.

Destaco o amplo rol de parceiros, privados e públicos, desenvolvendo ações e debates ligados ao tema da boa gestão da água no nosso quadrado.

Mais info no site da Sema:

http://www.semarh.df.gov.br/…/2869-calend%C3%A1rio-especial…

Exempo a ser imitado. Tartaruga com múltiplos ferimentos é salva por banhistas no litoral de SP

02/03/2016 11h02 - Atualizado em 02/03/2016 11h02

Biólogo acredita que ferimentos podem ter sido causados por ação humana.
Animal foi encaminhado para o IPEC de Cananéia e está sendo recuperado.

Luna Oliva Do G1 Santos
Cristian fez os primeiros procedimentos que salvaram o animal  (Foto: Cristian Negrão/Arquivo Pessoal )Cristian fez os primeiros procedimentos que salvaram o animal (Foto: Cristian Negrão/Arquivo Pessoal )
Uma tartaruga marinha foi encontrada com vários ferimentos na cabeça na areia da praia Balneário Araça, em Ilha Comprida, no litoral de São Paulo. O animal foi encontrado na tarde desta terça-feira por uma banhista que caminhava pelo local.
Tartaruga foi encontrada com ferimentos na parte superior da cabeça (Foto: Cristian Negrão/Arquivo Pessoal)Tartaruga foi encontrada com ferimentos na cabeça
(Foto: Cristian Negrão/Arquivo Pessoal)


Ao ver o animal ferido, a banhista acionou a ONG Amigos do Mar. Segundo Cristian Negrão, voluntário da ONG e técnico ambiental de Ilha Comprida, a suspeita é que o machucado tenha sido provocado por alguma pessoa ou por uma embarcação.


Negrão chegou ao local e comprovou que a tartaruga estava viva. Em seguida, fez uma massagem cardíaca no animal e o colocou em uma caixa preparada para tartarugas.


Após os primeiros socorros, o Instituto de Pesquisas de Cananéia (IPEC) chegou ao local e seguiu com mais procedimentos para salvar o animal. A tartaruga foi encaminhada para a sede do instituto, onde será feito um tratamento de recuperação.


“Eu estou muito feliz pela ação de todos. Conseguimos salvar a tartaruga. É muito bom ver que algumas pessoas estão tendo a consciência da importância de preservar todas as espécies. Eu trabalho com crianças e acho muito bonito quando vejo que existe educação ambiental”, afirmou Negrão.
Tartaruga foi para o IPEC e receberá um procedimento de recuperação  (Foto: Cristian Negrão/Arquivo Pessoal)Tartaruga passa por tratamento e se recupera bem (Foto: Cristian Negrão/Arquivo Pessoal)
 

Cientista Thelma Krug é nova 'xerife' contra o desmatamento no Brasil

02/03/2016 11h20 -

Pesquisadora assume diretoria de preservação florestal em ministério.


Engenheiro José Miguez é novo secretário de Mudanças Climáticas.

Rafael GarciaDo G1, em São Paulo



A cientista Thelma Kruk, nova iretora de Políticas para o Combate ao Desmatamento (Foto: G1)A cientista Thelma Krug, nova diretora de Políticas para o Combate ao Desmatamento do Brasil (Foto: G1)
A cientista Thelma Krug, especialista na relação entre florestas e o clima, é a nova diretora de Políticas para o Combate ao Desmatamento do Ministério do Meio Ambiente.


Thelma substitui o ecólogo Francisco Oliveira, que chefiava a área desde 2012. No período, o país registrou as três menores taxas de desmate na Amazônia desde que o problema começou a ser monitorado por satélites.

A cientista é afiliada ao Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e também vice-presidente do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança Climática), órgão criado pela ONU para avaliar a ciência do aquecimento global. Veja entrevista com a pesquisadora.

Thelma assume a pasta em um momento crucial, em que o Brasil assumiu um objetivo de corte de emissões de CO2 até 2030. O desmatamento bruto hoje é a principal fonte de gases-do efeito estufa do país. Entre as metas assumidas pelo país está a de zerar o desmatamento ilegal no país até 2030.


Mudanças Climáticas
A confirmação de Thelma no novo cargo foi anunciada no Diário Oficial da União ao lado da nomeação do engenheiro José Miguez como secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental.

Miguez substitui Carlos Klink, que em janeiro já havia assumido o a secretaria-executiva do Ministério do Meio Ambiente, segundo cargo mais importante da pasta.

Integrante da equipe de negociação do Brasil que costurou o Acordo de Paris para redução nas emissões gases do efeito-estufa, Miguez é visto como "linha dura" na diplomacia do clima.

Como funcionário do Ministério da Ciência e Tecnologia, Miguez formulou a política país para o setor, alinhando o Brasil a nações em desenvolvimento que se recusam a assumir metas absolutas de redução de emissões. Ainda no governo Lula, entrou em situação de conflito com o Ministério do Meio Ambiente, então chefiado por Carlos Minc.

São Paulo, onde as árvores são consideradas lixo

Por Fabio Olmos

Erosão laminar e bueiros entupidos são um dos resultados da forma como as praças do Centro de São Paulo são “cuidadas”. Foto: Fábio Olmos.
Erosão laminar e bueiros entupidos são um dos resultados da forma como as praças do 
Centro de São Paulo são “cuidadas”. Foto: Fábio Olmos.


Todo urbanista moderno concorda que praças e outras áreas verdes e a arborização são essenciais para a qualidade de vida das cidades, colaborando para a mitigar a poluição do ar e a sonora, reduzindo a temperatura resultante das células de calor e, nesta época de chuvas, absorvendo água e estocando-a no subsolo, reduzindo o fluxo que alimenta enchentes.


É interessante ver como cidades ao redor do mundo, como Frankfurt, New York e Mendoza incorporaram a arborização e espaços verdes como instrumentos de manejo climático e de águas superficiais, o que não é nenhuma novidade já que babilônios e árabes faziam a mesma coisa milênios atrás.


Infelizmente a maior parte das cidades brasileiras não acordou para isso, com honoráveis exceções como Maringá e Curitiba, no Paraná. Tudo muito coerente com a cultura brasileira, onde as pessoas reclamam do calor mas preferem derrubar árvores por causa da “sujeira” que fazem na calçada.


São Paulo, maior cidade do país e onde a regra é que os interesses de empreiteiras, prestadoras de serviços e do mercado imobiliário suplantem o interesse do público, infelizmente é um exemplo negativo e o excelente blog de Ricardo Cardim, Árvores de São Paulo mostra como a imbecilidade e o barbarismo predominam por aqui.


Moro na região central da cidade, que está em um longo e problemático processo de revitalização. O domínio da Subprefeitura da Sé é uma das menos arborizadas da metrópole e onde as praças mostram como um pouco mais de cuidado (ou seria sensibilidade?) e conhecimento ajudariam.


A foto deste artigo mostra o que acontece no Largo do Paissandú (famoso pela Galeria do Rock e o Ponto Chic e seu mitológico bauru) a cada chuva mais intensa. Ou seja, quase diariamente durante a temporada das chuvas. O solo nu e compactado da praça não absorve a água, que escorre e causa erosão laminar, levando terra cujo destino é o bueiro e a drenagem que serve áreas sujeitas a enchentes como a Praça da Bandeira e o túnel do Anhangabaú.


O solo é nu e compactado porque não há cobertura vegetal, o que seria de se esperar em uma praça, resultado do plantio de espécies que não aguentam as condições do local, especialmente a seca, e o péssimo hábito das equipes de limpeza de pisotearem o lugar para retirar as folhas que acham ser lixo. O resultado, um terreiro de terra batido, também pode ser visto na Praça da República.


Tem sido assim há pelo menos uma década e os encarregados das áreas verdes da Sub Sé têm falhado miseravelmente em solucionar o problema. O simples ato de não pisotear os canteiros e deixar algum folhiço acumular, e com ele as minhocas e outras criaturas que tornam o solo permeável, já ajudaria bastante, mas as prestadores de serviços obrigam os garis a varrerem as folhas de forma obsessiva, ao invés de apenas recolherem o que é lixo de verdade. É evidente que não há orientação técnica.


Ajudaria mais se houvesse um mínimo de cuidado técnico no plantio das áreas nuas. Dois anos atrás, na véspera de uma Virada Cultural (em maio, já na véspera da estação seca) um certo Projeto Florir deu um banho de loja no Paissandu e outras praças. O resultado, depois de alguns meses, foram canteiros nus e áreas verdes comprometidas tanto pela péssima escolha de espécies (marias-sem-vergonha não crescem bem a sol pleno em lugares sujeitos a três meses de seca) como pelo período de plantio.


No caso do Paissandu, perguntei ao encarregado porquê não plantavam plantas de sombra na sombra e de sol no sol, e porquê iriam remover o denso tapete de amendoim-bravo que segura parte do declive do praça, impedindo a erosão, e plantar grama no lugar. A resposta foi que a “arquiteta” havia feito o projeto e este deveria ser obedecido. O resultado é o da foto.


Logicamente este estado de coisas acontecendo na minha porta não me deixa feliz, e tanto tentei contatos com a Sub Sé para tentar melhorar as coisas como cheguei a comprar plantas para ocupar trechos pelados. E fiz o mesmo com mudas de árvores nativas como ingás, figueiras-brancas e jatobás, produzidas a partir de sementes que recolhi em viagens ou deixadas pelos passarinhos que visitam meu alimentador.

O contato amistoso com as zeladoras urbanas que tentam cuidar do local, apesar dos moradores de rua, da omissão da Guarda Civil Municipal que deveria lhes dar apoio e do desinteresse dos responsáveis pelas áreas verdes, que levaram dois anos para trazer-lhes mais que meia dúzia de mudas, parecia ter assegurado que as árvores iriam crescer.


E repetir experiência anterior, feita na antes desnuda Praça do Correio por mim e outros moradores, onde graças ao cercamento, um plantio cuidadoso e à zeladoria urbana hoje cresce um bosque dominado por espécies que fornecem alimento às aves urbanas que deveria ser modelo para outras áreas verdes da região.

E eis que, na segunda semana da gestão Haddad, uma equipe da Sub Sé chega ao Paissandú, corta a grama e arranca todas as mudas de árvores, já com mais de 1 m, plantadas nos últimos dois anos, e as joga no lixo. No lugar foram plantados alguns clorofitos que certamente não darão sombra a ninguém, enquanto as áreas nuas onde eles poderiam ter sido plantados continuaram do mesmo jeito, a terra sem vida dura e seca sob a crosta compactada.


Ao perguntar o porquê do vandalismo, a resposta que tive é que deveria falar com a “engenheira”.
Uma gestão onde quem deveria cuidar das áreas verdes considera que árvores são lixo realmente começa mal.

Quem brinca com água acaba se queimando

Por Fábio Olmos
Chen Ku, o “poço de deus” cheio de cianobactérias pouco saudáveis, na cidade maia de Chichen Itza. Foto: Fábio Olmos
Chen Ku, o “poço de deus” cheio de cianobactérias pouco saudáveis, na cidade maia de
Chichen Itza.
Foto: Fábio Olmos


A ciência diz que Chen Ku, um dos pontos mais importantes na metrópole maia de Chichen Itza, é uma dolina, uma caverna cujo topo desabou formando um poço. No caso, cheio de água vinda do lençol freático. Os maias que lá moravam achavam que era um local onde podiam se comunicar com Chaac, o deus da chuva e uma das deidades mais importantes para uma civilização de base agrícola.


A região habitada pelos maias está sujeita a secas e quando estas ocorriam a opção era aplacar Chaac com sacrifícios humanos e de objetos de arte lançados em Chen Ku. Obviamente estes sacrifícios tinham impacto zero sobre as chuvas, além de piorarem a qualidade da água.


"(...)a lista de povos orgulhosos que viraram história quando o mais importante recurso limitante deixou de ser disponível é extensa."
A civilização maia clássica entrou em colapso quando sua estrutura sócio-política teve que encarar uma seca intensa que destruiu sua agricultura, situação muito piorada pelo desmatamento realizado pelos ruralistas daquele império. Há evidências de que a classe dirigente, que dizia ter contato direto com os deuses e fazer chover, foi massacrada por revoltas populares quando caiu a ficha que eles não iriam entregar o que prometiam.

Os maias foram apenas uma das muitas civilizações que quebraram quando faltou água. Do Mediterrâneo da Idade do Bronze passando pelo Vale do Indus, pelos Anasazi e Roma, a lista de povos orgulhosos que viraram história quando o mais importante recurso limitante deixou de ser disponível é extensa.


Erros que se repetem
É fácil fazer piada dos maias (e outros) sacrificando crianças a Chaac para trazer chuva, mas eles não são diferentes dos brasileiros católicos que pedem o fim da seca no nordeste e dos norte-americanos evangélicos que pedem a mesma coisa em sua terra.


Se há algo que a história e a ciência ensinam é que rezar tem impacto zero sobre padrões climáticos, embora mantenha as pessoas ocupadas e as faça esquecer de cobrar seus governantes. Também aprendemos que quanto maior e mais complexa uma civilização maior o tombo, e que é uma boa ideia tratar muito bem os recursos escassos das quais ela depende. Especialmente a água.


O sudeste e nordeste do Brasil vivem uma seca que reduziu dramaticamente os reservatórios das hidrelétricas da bacia do Tietê-Grande-Paraná e do São Francisco, forçou o país a usar termoelétricas movidas a combustível importado – o que custará a bagatela de R$ 66 bilhões apenas esse ano - e paralisou hidrovias (veja aqui e aqui). Não deixa de ser interessante ver como a natureza, ao secar o São Francisco, pouco se importa com as promessas feitas sobre uma certa transposição.


O problema da seca é piorado graças ao desmatamento, que afeta negativamente padrões de precipitação, a perenidade das nascentes de água, a recarga dos aquíferos e o assoreamento dos cursos d'água e dos reservatórios. Podemos agradecer aos "heróis do progresso" que desmataram o que nunca deveria ter sido cortado e seus representantes no Congresso Nacional que garantiram que eles não consertarão o estrago.


Em meio à encrenca, a maior região metropolitana do país, São Paulo, se destaca como exemplo de como tratamos o alicerce do qual depende nossa civilização.

Enquanto escrevo, zerou o volume útil do Sistema Cantareira, que abastece mais de 50% da região metropolitana. Com o aval da Agência Nacional de Águas (ANA), a empresa de abastecimento, a SABESP, raspa o fundo do tacho sugando o chamado volume morto (veja o que é aqui e aqui) e o governador paulista garante que racionamentos são desnecessários, embora ele já esteja acontecendo. Os reis maias devem ter se comportado do mesmo jeito.

O Cantareira está na bacia do rio Piracicaba e não há água suficiente para garantir a vazão desta, com impactos tanto sobre a população humana como os ecossistemas. Falta água para as pessoas e a famosa piracema do rio Piracicaba foi aniquilada.

Templo de Ikas Calaveras: os maias tinham uma atitude positiva sobre a vida.... Foto: Fábio Olmos
Templo de Ikas Calaveras: os maias tinham uma atitude positiva sobre a vida.... Foto: Fábio Olmos


A capital do desperdício
São Paulo e suas cidades-satélites sempre tiveram uma relação complicada com a água. Uma cultura que acha que progresso é sinônimo de concreto canalizou e retificou os rios da região, transformados em esgotos a céu aberto e inutilizados como mananciais. Isso obriga o uso de bacias distantes como a do Piracicaba, que pagam o pato.


Sucessivos governantes, incluindo o atual prefeito de São Paulo, obsessivamente impermeabilizaram a maior área possível, deixando poucas áreas verdes. Um resultado é a mudança no clima local, que fez a antiga "terra da garoa" ser hoje mais adequada a árvores do cerrado do que da mata atlântica, além de enchentes quando chove para valer, já que a água não é absorvida pelo solo.


A isso se soma a pressão populacional. Válvula de escape para problemas sociais de outras partes do país, a imigração para a Região Metropolitana de São Paulo fez com que a população explodisse de 8,17 milhões em 1970 para 19,7 milhões em 2007, o que aconteceu na ausência de planejamento urbano e políticas de habitação. O resultado é que, só na cidade de São Paulo, a população favelada foi de 72 mil pessoas (1,1%) em 1973 para 1,07 milhão (11,3%) em 1992. Gente que, em geral, foi morar onde não deveria.


A demanda por moradia tanto por pobres como por ricos cobrou um preço pesado das "áreas de proteção de mananciais" da região metropolitana. As áreas "de proteção" ocupadas por "assentamentos irregulares" sofreram uma urbanização mais rápida do que áreas sem proteção legal, o que mostra quão interessadas estavam autoridades que deveriam cuidar das mesmas.


Áreas vitais para o abastecimento foram e são presas de loteamentos e ocupações que sempre acabam legalizados graças ao "interesse social" e o dos políticos que cultivam seus currais nestas áreas.


O tal "interesse social" garante que o entorno dos reservatórios continue sendo ocupado e reservatórios como a Guarapiranga sejam um caldo de plantas aquáticas dominado por cianobactérias potencialmente produtoras de toxinas que afetam o sistema nervoso e causam câncer de fígado (veja aqui e aqui) Eu só tomo água que tenha passado por um filtro de carvão ativado.


Enquanto as opções de mananciais são limitadas e sua qualidade vai para o ralo, a SABESP, considerada "um padrão" entre as empresas brasileiras de saneamento e abastecimento, desperdiça 31% da água captada no trajeto entre a represa e a caixa d'água . Um desempenho que dificilmente pode ser justificado.


Um problema estrutural
"A gestão dos recursos hídricos no país mostra como é desastroso ter políticos apenas interessados em eleições e para os quais longo prazo é sinônimo de dois mandatos à frente de questões que demandam visão de longo prazo."
A má gestão da água na região metropolitana não é só culpa do governo estadual e dos municipais. A Agência Nacional de Águas (ANA) é a responsável por autorizar quanta água de cada manancial pode ser retirada e para qual fim, mediando os diferentes interesses.

Infelizmente a ANA tem um mau histórico. No final de 2003, quando vivíamos outra grande seca e o volume útil do sistema Cantareira zerou, ela tanto autorizou o uso do volume morto como, pior, usou uma canetada para transformar parte deste em volume útil (veja a história aqui), abrindo a possibilidade de lambanças futuras. Agora, ao invés de obrigar medidas de economia, que já deveriam ter começado há muito tempo, a ANA autorizou novamente o uso do volume morto, que é metade do que era em 2003.


Isso significa não só o uso do fundo do tacho, onde estão concentrados contaminantes, mas também que os reservatórios vão levar muito mais tempo para recuperar um volume útil que possa ser considerado seguro. É uma aposta que só dará certo se as chuvas voltarem a cair em abundância e um risco que não precisaríamos correr se houvesse planejamento (de novo).

A gestão dos recursos hídricos no país mostra como é desastroso ter políticos apenas interessados em eleições e para os quais longo prazo é sinônimo de dois mandatos à frente de questões que demandam visão de longo prazo.

Agências reguladoras como a ANA deveriam ser técnicas e evitar que chegássemos a situações assim, mas a gestão política as considera como moeda de troca... política. A tomada de decisões comumente passa ao largo do tecnicamente correto e/ou do interesse comum. Enquanto escrevo há uma disputa entre a ANA, o Operador Nacional do Sistema Elétrico e a Agência Nacional de Transportes Aquaviários porque não há água suficiente para todos os interessados. Além de água faltou competência.


Nossos políticos preferem realizar grandes e caras obras para trazer água de centenas de quilômetros (a "solução" para São Paulo é trazer água da bacia do rio Ribeira de Iguape e a "solução" para o nordeste é a transposição do São Francisco...) e dão pouca atenção à água desperdiçada por canos furados e coisas simples como plantar árvores e proteger as bacias de captação, embora esta seja a estratégia seguida por metrópoles como Nova York, Tóquio e Quito. Será devido ao apetite por grandes obras das empreiteiras que bancam campanhas eleitorais?


A gestão política também acha que as coisas vão dar certo mesmo quando se faz tudo errado, fato também visível na nossa economia. Hoje precisamos de um milagre (ou desastre) climático, talvez temporais no final do ano trazidos por um El Niño que está se formando no Pacífico.


O Brasil glorifica a ignorância desinibida (basta olhar nossos dirigentes mais populares) e tem o jeitinho como sua maior característica cultural. Outros povos já perceberam que encostas que caem, rios que secam, hidrelétricas que não geram, crianças sem cérebro e universidades interditadas por causa de contaminação no solo são sinais de que meio ambiente é coisa séria, não perfumaria.

Infelizmente, aqui não é assim e não damos valor aos recursos dos quais nossa sociedade depende. O resultado é que somos mais vulneráveis do que acreditamos. Vemos isso a cada morro que despenca e a cada torneira que seca.

Uma saída
Muita gente já sugeriu o que deveria ser feito a respeito da atual crise de abastecimento de água. É consenso, pelo menos entre os técnicos, que as perdas no sistema de distribuição devem ser reduzidas, a vegetação nativa das bacias de captação dos reservatórios deve ser recuperada, e todo esgoto deve ser coletado e tratado possibilitando o reuso da água.

Tenho uma modesta contribuição.

"É duro ver empresas de limpeza urbana lavando calçadas e particulares fazendo o mesmo com seus carros durante uma estiagem, bancando o Nero enquanto Roma pega fogo."
Concessionárias como a SABESP deveriam pagar uma taxa por metro cúbico (m³) de água captada dos reservatórios. A taxa seria duplicada para cada m3 perdido ao longo do sistema de distribuição, esse valor punitivo não podendo ser transferido ao consumidor final. Assim a água perdida por ineficiência do sistema passaria a ter um valor que incentivaria a redução de perdas.

A arrecadação dessa taxa deve suprir tão somente três finalidades: 1) compra de terras em áreas de mananciais visando sua transformação em unidades de conservação; 2) recuperação da vegetação em áreas de proteção de mananciais, margens de rios e nascentes; e 3) pagamentos a proprietários de terras que sejam produtores de água e suprem mananciais de abastecimento (nos passos do Projeto Oasis, da Fundação Grupo Boticário).

Isso implica em maior custo para o consumidor? Talvez, mas o fato é que ninguém valoriza o que é de graça ou barato demais. Água mais cara seria um estímulo ao consumo consciente. É duro ver empresas de limpeza urbana lavando calçadas e particulares fazendo o mesmo com seus carros durante uma estiagem, bancando o Nero enquanto Roma pega fogo.

O El Niño talvez traga alívio para esta estiagem, mas outras certamente virão. Será que daqui a poucos anos estaremos falando, de novo, em volumes mortos e agências reguladoras desreguladas?



Água e floresta merecem gestão de longo prazo

Por Suzana M. Padua

Viaduto sobre a represa de Nazaré Paulista (Sistema Cantareira), antes com sua estrutura de colunas coberta de água até uma altura elevada, agora bem abaixo do normal. Foto: Lizandra Mayra/IPÊ
Viaduto sobre a represa de Nazaré Paulista (Sistema Cantareira), antes com sua estrutura de
 colunas coberta de água até uma altura elevada, agora bem abaixo do normal. 

Foto: Lizandra Mayra/IPÊ

A água agora está na mídia. Na verdade, é a falta de água que está ocupando os meios de comunicação como nunca antes. Pena deixar chegar a um ponto tão crítico antes dos gestores tomarem providências à altura da importância desse elemento vital. Como vamos fazer sem água?


Proteger a água é mais complexo do que se pensa. Ao ouvir uma palestra de Silvio Ferraz, professor de hidrologia da ESALQ (USP de Piracicaba), vários pontos me chamaram a atenção. Por exemplo, água e floresta estão interligados, o que parece óbvio, mas ambos se modificam em decorrência de fatores ambientais e antrópicos. Mesmo com muita água doce disponível na maior parte das regiões brasileiras, os centros urbanos consomem cada vez mais, e o que é distribuído pode não ser suficiente.

Floresta não produz água, mas ajuda na sua regulação e mantém todo o sistema vivo em equilíbrio: a qualidade do ar, do solo e seus nutrientes, e a própria água depende das matas que protegem os mananciais. Quando se planta árvores, estas também consomem água, principalmente durante a fase de crescimento.


Mas é a médio e a longo prazo que seus efeitos benéficos são percebidos e os resultados se manifestam localmente e não em escala macro. Esses fatores certamente dificultam as decisões políticas de se plantar ou proteger as florestas que ainda existem, pois os benefícios podem demorar mais para serem percebidos do que o tempo dos mandatos.


O sofisticado papel das florestas
"As árvores servem como filtros naturais no processo hidrológico, e seus efeitos são percebidos conjuntamente, em florestas, e não isoladamente."
A floresta não retém a água da chuva, pois a maior parte passa por ela e cai sobre o solo, de onde as árvores tiram seu sustento. É o solo que age como uma esponja. Quando há árvores, a água das chuvas penetra no solo de maneira bem diferente de quando a vegetação foi suprimida. Na verdade, as florestas exalam água em sua transpiração, ou evapotranspiração.

É aí que ajudam a preservar o sistema, pois retroalimentam o ambiente com a água que captam pelas suas raízes. E o mais fascinante é que cada espécie tem características distintas, não só na sua aparência ou na quantidade de sua evapotranspiração, mas também na profundidade em que as raízes buscam a água que necessitam para se manterem. Ou seja, o sistema funciona quando a natureza não foi interceptada de forma abrupta.


Foto: Lizandra Mayra/IPÊ
Foto: Lizandra Mayra/IPÊ

As árvores servem como filtros naturais no processo hidrológico, e seus efeitos são percebidos em conjunto, nas florestas, e não isoladamente. Existem variações e muito está relacionado a onde as matas se encontram.


Por exemplo, em encostas, as florestas têm uma função especialmente importante, por evitam deslizamentos de terra e perda do solo fértil. Mas, a floresta ripária, aquela encontrada em torno de cursos d'água, nem sempre é fácil de ser recuperada quando destruída, por conta das adaptações das espécies arbóreas de períodos de cheias a de vazantes, que em muitas regiões varia bastante.

O replantio dessas áreas exige técnica, paciência e persistência, o que a natureza tem de sobra, enquanto nós conhecemos apenas indícios do que é necessário, além é claro da falta de vontade política.

Na natureza, quando uma árvore cai ou morre, abre lugar para outras que aguardavam o sol e o espaço para crescerem. Mas, quando o plantio, mesmo de árvores diferentes é simultâneo, as necessidades são similares e em grandes proporções. Mais cuidado ainda deve ser tomado com as monoculturas, que exigem o mesmo elemento concomitantemente e em grandes quantidades. Daí a importância de um manejo bem planejado, que pode reduzir impactos e prevenir desastres ambientais.

O Prof. Ferraz chega a afirmar que as florestas ajudam na regulação hidrológica, mas em termos práticos, o manejo das áreas agrícolas pode ser mais eficiente para a gestão da água, já que hoje predominam na superfície do território brasileiro.
Bacias hidrográficas
"a estiagem prolongada que vivemos agora não é a única razão da crise de água em que se encontra a região de São Paulo"
Não é simples manter uma bacia hidrográfica em boas condições, pois são muitos os cenários que ocorrem ao mesmo tempo. Por exemplo, tem gente e cidades, agricultura em pequena ou grande escala, criação de animais, indústrias, e assim por diante, cada um demandando elementos da natureza que nem entram na contabilidade cotidiana. Mas, as florestas acabam sendo afetadas e em geral recebem toda a responsabilidade do que acontece com a água.


O ideal é que o sistema fosse monitorado cuidadosamente, tanto o rural quanto o urbano, o que raramente acontece. E, sem um manejo adequado, espera-se muito mais das matas ciliares do que elas dão conta de suportar. Além disso, as práticas humanas são com frequência devastadoras – queimadas nas plantações de cana de açúcar, por exemplo, ou loteamentos desregrados.


Todas as práticas têm consequências, sendo que a maioria das pessoas e mesmo da mídia não percebe a ligação entre o que causou desastres ambientais como deslizamentos de terra ou agora a falta de água, com as ações humanas anteriores. O fato é que a estiagem prolongada que vivemos agora não é a única razão da crise de água em que se encontra a região de São Paulo.


O argumento "plantar floresta" pode ser sedutor, mas deve ser usado com cautela, principalmente quando se pretende retirar as florestas antigas para replantar novas. Uma floresta madura oferece todos os serviços ambientais em seu ápice de qualidade, enquanto que o replantio em muitos aspectos exige mais do que oferece num primeiro momento. Por isso não se deve trocar florestas antigas por novas. Deve-se sim, plantar florestas novas protegendo as antigas, e analisar os dados sobre reflorestamento com essa perspectiva.


Perdas do novo Código Florestal
Foto: Fernanda Pereira/IPÊ
Foto: Fernanda Pereira/IPÊ


"As áreas alagadas de várzeas, se não forem cobertos de florestas, causam danos aos rios (...) Por serem as mais produtivas, o proprietário nem sempre quer reflorestar "
Outros aspectos impactam a qualidade das florestas. Por exemplo a distância entre os fragmentos de matas ou a conexão entre eles influenciam os serviços ambientais que oferecem. Áreas que alagam muitas vezes são favoráveis a reflorestamento, mas não são protegidas pelo Código Florestal.


Nesse sentido, as Áreas de Preservação Permanente (APPs) de 30 metros, como regia o antigo Código, ajudariam muito se tivessem sido levadas a sério, mas essa exigência caiu na nova lei. As áreas alagadas de várzeas, se não forem cobertos de florestas, causam danos aos rios, que acabam sendo assoreados e ainda recebem os aditivos agrícolas usados nas culturas locais que acabam na água. Por serem as mais produtivas, o proprietário nem sempre quer reflorestar, e quem acaba sofrendo é a água. Por isso, o planejamento deve também existir para as florestas e um estudo da paisagem, mesmo que complexo de ser implementado, deve ser contemplado na gestão de uma região.

Com as mudanças climáticas, os ciclos naturais estão mais desregulados. Se por um lado tudo acontece rapidamente, o planejamento passa a ser visto como secundário porque adota-se a postura de "apagar incêndios". É o que está ocorrendo em São Paulo, e é visível no Sistema Cantareira. Falta planejamento, falta assumir responsabilidades, falta vontade política.


Muitos técnicos acreditam que obras resolvem. Com certeza engordam os bolsos de alguns, mas a questão é complexa e só obra é insuficiente para se enfrentar os desafios atuais. O fato é que assistimos a um triste cenário com perspectivas assustadoras que a maioria ainda não percebeu. São Paulo está sem água. Ano eleitoreiro piora a percepção e parece colocar tapa-olhos nos tomadores de decisão e candidatos.


E, claro, existem resistências de se planejar a longo prazo porque os resultados podem não aparecer num mandato governamental, ou na gestão de um administrador. Uma lástima, porque mais uma vez a vida é colocada em um segundo plano em detrimento a interesses pessoais.
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Adendo:
Uma vez que a sede principal do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas se localiza às margens do Rio Atibainha, em Nazaré Paulista, estamos iniciando uma campanha De Olho no Cantareira.


A ideia é monitorar as condições do reservatório com a participação de um público amplo, que pode postar fotos ou vídeos do que vê nas represas e rios que sofrem com a seca e com os desmatamentos (hashtag #olhonocantareira).


 Este é um meio de tornar pública a preocupação das pessoas com relação ao abastecimento e a conservação das áreas ao redor dos mananciais - um alerta para a necessidade da proteção dos recursos hídricos, incentivando a redução do consumo pelos cidadãos, bem como a tomada de decisões urgentes para o combate ao desperdício e para investimentos em melhorias da gestão hídrica pelo poder público.

O IPÊ irá monitorar esses materiais e compartilhará em suas redes sociais – Facebook, Twiter e Instagram. Além desses canais, os registros serão divulgados na página do IPÊ e no hotsite do projeto Semeando Água.




Em nova contagem, cientistas estimam 3 trilhões de árvores no mundo.Antes do impacto humano havia 6 trilhões.

Por Adam Vaughn*

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O mundo tem 3 trilhões de árvores, mas, sem impacto humano, já teve 6 trilhões. 

Foto: Creative Commons

Os cientistas já calcularam quantos peixes há no mar (230 mil espécies), e quantas espécies existem no planeta (8,7 milhões). Agora, eles progrediram na contagem de todas as árvores do mundo.


Usando uma combinação de medições por satélite e terrestres, os pesquisadores estimaram pouco mais de 3 trilhões de árvores no planeta, mais de sete vezes o número calculado antes, em pesquisa feita sem revisão por pares (outros cientistas), e que se baseou apenas em imagens de satélite.


Mas o impacto humano sobre as florestas do mundo é “esmagador”, de acordo com a equipe internacional de 15 países. As atividades humanas levaram à perda de quase metade das árvores do mundo (45,8%), segundo o estudo.


Hoje, as pessoas são responsáveis ​​pela perda de cerca de 15 bilhões de árvores por ano devido ao desmatamento e demanda de terras para a agricultura, um número que os autores disseram ser "consideravelmente maior" do que há apenas um século.

"A escala do impacto humano [que encontramos] foi astronômica. O número de árvores cortadas é quase 3 trilhões desde o início da civilização", diz Thomas Crowther, da Universidade de Yale, principal autor do estudo, publicado na revista Nature nesta quarta-feira.

"Eu não esperava que a atividade humana aparecesse como a restrição mais forte sobre a densidade de árvores em todos os biomas. Ela foi um dos reguladores dominantes do número de árvores em quase todo o mundo. Realmente, isso destaca quão grande é o impacto dos seres humanos sobre a Terra".

O estudo foi uma demanda de diferentes iniciativas para plantar árvores com intenção de obter uma visão mais clara do número-base de árvores, que permita compreender melhor o impacto de projetos tais como a campanha “Billion Tree”. Para Crowther, o fato de que havia muito mais árvores do que se pensava não diminui o mérito deste tipo de esforço.


"A mensagem é que um bilhão de árvores ainda é uma enorme contribuição", diz Crowther. "Me preocupava que prover esta informação pudesse parar iniciativas e fazer as pessoas entrarem numa de 'ok, plantar um milhão de árvores é inútil’, mas, na verdade, nós obtivemos a resposta oposta. Para ele, esses projetos deveriam passar a pensar em plantar um trilhão de árvores em vez de um bilhão.


As áreas mais densas em árvores foram encontradas nas florestas boreais do norte do Canadá, China e Rússia, embora os autores ressaltem que os dois últimos sejam lugares entre aqueles com a menor quantidade de dados obtidos no terreno. Florestas tropicais e subtropicais detêm a maior parte das árvores do mundo, com cerca de 1,39 trilhão no total, enquanto as regiões temperadas fortemente afetadas pelo homem, tais como a Europa e a Ásia têm apenas 0,61 trilhão.


A estimativa anterior de 400 bilhões de árvores no mundo, ou 61 por pessoa, foi baseada em imagens de satélite e publicada em um livro de 2009, em vez de uma revista científica. O novo estudo combina dados de satélite com mais de 400 mil medições terrestres, de fontes que incluem levantamentos florestais de governo.


Segundo o Dr. Simon Lewis, geógrafo da University College de Londres e da Universidade de Leeds, o novo trabalho é importante, mas não mostrou que havia mais árvores do que se pensava, porque a estimativa anterior não havia sido chancelada por uma revisão de outros cientistas.


"Para mim, esta é a primeira estimativa sólida do número de árvores. É uma peça importante e útil, mas devemos lembrar que o número de árvores não é necessariamente a melhor métrica para medir a saúde de um ecossistema ou a sua importância. Uma plantação grande de árvores iguais não é o mesmo que uma faixa de floresta amazônica".

Para Lewis, o estudo não muda a nossa compreensão do papel que as florestas têm em retardar as alterações climáticas provocadas pelo homem, porque a quantidade de carbono que as árvores do mundo podem armazenar já é bem conhecida. Mas afirma que tais visões globais “ajudam-nos a ver o mundo de uma maneira diferente", e a perda de 45,8% das árvores, desde o período pós-Pleistoceno é "muito impressionante".

A perda bruta de árvores foi estimada em cerca de 15.3 bilhões por ano, mas é provável que a perda líquida esteja mais perto de 10 bilhões por ano, já que crescem algo como 5 bilhões de árvores novas por ano, dizem os autores.

O estudo contou árvores que tinham pelo menos 10 cm de diâmetro, o único padrão utilizado universalmente, ou seja, há provavelmente outros bilhões de árvores menores que não entraram na conta.
*Esse artigo é publicado em parceria com a Guardian Environment Network, da qual ((o))eco faz parte. A versão original (em inglês) foi publicada no site do Guardian. Tradução de Eduardo Pegurier