terça-feira, 7 de junho de 2016

As araucárias e o grande Festival dos Papagaios de Urupema

Por Fabio Olmos
Em abril-maio os Peitos-roxos são vistos em casais ou pequenos grupos... Foto: Fábio Olmos
Foto: Fabio Olmos
Nossa Araucária Araucaria angustifolia é uma sobrevivente. Também chamada de pinheiro-do-paraná e pinheiro-brasileiro, sua linhagem dominava as florestas do Jurássico, 160 milhões de anos atrás, e alimentava os grandes dinossauros saurópodos, os maiores animais terrestres que já existiram.
Os dinossauros se extinguiram 65 milhões de anos atrás junto com as araucárias do Hemisfério norte. Mas a linhagem continuou a prosperar no sul, no antigo supercontinente de Gondwana.
Gondwana deu origem à Antártica, Austrália e ilhas próximas, além da América do Sul. E as araucárias continuam entre nós, com 17 espécies na Austrália, Nova Guiné, ilha Norfolk e Nova Caledônia (onde há 13 espécies endêmicas) e duas na América do Sul. Incluindo nossa Araucaria angustifolia.
Quando a deixam viver o suficiente, essa potencial gigante que gosta de climas frios e úmidos pode atingir 50 metros de altura e mais de 3 metros de diâmetro. O último período glacial, frio e seco, não foi bom para ela, que acabou refugiada nas serras e vales mais frios enquanto boa parte do sul do Brasil era ocupado por campos.

Urupema vista do alto do Morro da Antena. Foto: Rita Souza
Urupema vista do alto do Morro da Antena. Foto: Rita Souza

As araucárias remanescentes nas serras de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo são um testemunho deste período frio.

Com o fim do período glacial e a mudança para um clima mais úmido, as araucárias começaram a crescer sobre os campos, com uma grande expansão entre 4.500 e 1.000 anos atrás. Essa pode ter sido ajudada pelas populações ameríndias, que como nós e dezenas de outros animais, apreciavam os pinhões e provavelmente plantavam araucárias em locais convenientes.

Isso mudou com a invenção do Brasil.

Campos nativos são um dos ambientes dominantes da região... Foto: Rita Souza
Campos nativos são um dos ambientes dominantes da região... Foto: Rita Souza
.... juntamente com as Florestas com Araucária. Foto: Rita Souza
.... juntamente com as Florestas com Araucária. Foto: Rita Souza

Debacle das Araucárias
Nosso país trava uma guerra de extermínio contra as florestas. A Floresta com Araucária – uma das mais belas do país -  foi uma maiores vítimas. Antes um bloco mais ou menos contínuo com 200 mil km2 cobrindo o interior do Paraná (40% do estado), Santa Catarina (30%) e Rio Grande do Sul (25%), onde se mesclava com os Campos Sulinos, hoje resta, com boa vontade, 12% da extensão original ainda com algumas árvores que justifiquem chamá-las de floresta.

Menos de 1% pode ser considerado de florestas maduras, que atingiram seu potencial máximo.

Essa destruição aconteceu na maior parte entre as décadas de 1930 e 1970, em menos de duas gerações. O Brasil realmente é campeão naquilo que só envergonha.
O massacre seguiu um roteiro que foi repetido em locais como o Pontal do Paranapanema, o sul da Bahia e toda a Amazônia.  Começa com a abertura de estradas e ferrovias, passa por projetos de colonização e “reforma agrária”, muita grilagem e o incentivo a madeireiras que trabalharam como se não houvesse amanhã. E fecha com fazendeiros criando gado e soja para alimentar uma humanidade cada vez mais obesa.


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As Araucárias são a espécie arbórea característica de Urupema. Foto: Rita Souza
É tempo de Festival! Foto: Rita Souza Chegando à Pousada Rio dos Touros. Foto: Rita Souza Araucárias existem desde a época dos dinossauros. Florestas naquele tempo poderiam ser parecidas com esta. Foto: Rita Souza

Some-se a isso o apoio tácito do Estado à destruição, como acontece na Amazônia via FINOR, BNDES, SUDAM, etc., nesse caso através de órgãos como o Instituto Nacional do Pinho.

Em meio ao desastre, sucessivos governos falharam miseravelmente em criar unidades de conservação em áreas extensas deste ecossistema. Restam cacos.

Muitas áreas antes ocupadas por araucárias são hoje plantações de pinus e eucaliptos. Bizarramente, plantações de araucária ocupam áreas extensas na vizinha Argentina, mas não aqui, terra do “pinheiro-do-brasil”.

Uma razão é que muitos proprietários acreditam que não poderão cortar suas árvores quando chegarem ao tamanho comercial. O que acontece bem depois de começarem a produzir pinhões. Sou apenas eu que noto algo errado aqui?

Como aves são dinossauros, esta Borralhara-assobiadora Mackenziana leachii se sente em casa. Foto: Elsie Rotenberg
Como aves são dinossauros, esta Borralhara-assobiadora Mackenziana leachii se sente 
em casa. Foto: Elsie Rotenberg

As Florestas com Araucária, embora dominadas por uma espécie arbórea, abrigam umas 2.800 espécies de plantas. Muitas são endêmicas, como 827 de 2.117 plantas com flores (Angiospermas), 47 de 352 árvores e 15 das 57 samambaias e afins. A fauna também apresenta exclusividades, notavelmente entre os invertebrados, anfíbios, répteis e pequenos mamíferos.

Entre as aves, minha praia, dentre as cerca de 250 espécies nas Florestas com Araucária, há uns 12 táxons que podem ser considerados restritos à “área-núcleo” das araucárias no sul do Brasil e serras satélite no sul e sudeste.

Papagaio-de-peito-roxo

O Papagaio-charão é a grande estrela para os observadores de aves que visitam a região... Foto: Fábio Olmos
O Papagaio-charão é a grande estrela para os observadores de aves que visitam a região... 
Foto: Fábio Olmos

Dois papagaios ocorrem nestas matas. E são os protagonistas de uma festa especial que acontece todos os anos em Urupema, a cidade mais fria do Brasil, nas terras altas de Santa Catarina.

À parte algumas populações no norte da Argentina e Paraguai, o Papagaio-de-peito-roxo Amazona vinacea ocorre pontualmente nas regiões serranas do sul da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, e nas serras e planaltos do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.  Fora poucas localidades, no geral sua distribuição coincide com a das araucárias, que produz os pinhões que são um prato favorito desta espécie.

Os peito-roxo foram dizimados pela destruição de seu ambiente serrano, fato fácil de atestar por qualquer um que já passeou pelas serras Baiana, Fluminense e Capixaba, leste de Minas Gerais e Serra da Mantiqueira. Isso aconteceu especialmente no sul, no holocausto das Florestas com Araucária.

A isso se soma a captura de filhotes, roubados nos ninhos porque ainda há quem cultiva o costume brega, coisa de gente primitiva, de ter aves presas em casa.

.... juntamente com os Papagaios-de-peito-roxo, bem mais raros. Foto: Fábio Olmos
.... juntamente com os Papagaios-de-peito-roxo, bem mais raros. Foto: Fábio Olmos

Os peito-roxo já foram considerados extremamente fáceis de encontrar, com registros históricos considerando-os as “aves mais comum” na serra fluminense e “escurecendo o céu” em Santa Catarina. Um censo recente estima que hoje existam míseros 3 mil exemplares.
Parabéns para você que quer ter um louro em casa.


Do Rio Grande do Sul para Santa Catarina
O charão Amazona pretrei é mais estritamente associado às Araucárias e já foi considerado uma especialidade do Rio Grande do Sul, onde nidifica na região central e norte do estado, uma paisagem de capões de mata dispersos em terras agrícolas.

À parte bichos perdidos na Argentina (dois em 20 anos), no último século os charões sempre ficaram em plagas farroupilhas. Após criarem seus filhotes, se deslocavam das áreas de reprodução para regiões onde predominavam as araucárias. Ali, bandos com milhares de aves se congregavam para aproveitar a safra do pinhão.

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Em abril-maio os Peitos-roxos são vistos em casais ou pequenos grupos... Foto: Fábio Olmos ...enquanto os Charões aparecem em bandos... Foto: Fábio Olmos
... e hordas ... Foto: Fábio Olmos
... que atacam as araucárias... Foto: Fábio Olmos ... em busca dos pinhões. Foto: Fábio Olmos

Em 1950, um residente de Vacaria reportou observar um bando de papagaios com 1 quilômetro de largura que levou 45 minutos para passar sobre sua cabeça. Pode ser exagero, mas não há dúvida de que os charões (assim como os peito-roxo) já foram extremamente comuns e se reuniam em número prodigioso nas áreas de invernada.


Um destes lugares era a Estação Ecológica Aracuri-Esmeralda, um remanescente de florestas de araucária com 250 hectares, onde cerca de 10-30 mil aves se reuniam nos anos 1970, razão pela qual foi criada a reserva, em 1971.

Só que hoje as hordas dos charões não mais se reúnem ali. A destruição das terras no entorno tornou a pequena reserva incapaz de mantê-los. E, certamente, um monte de outras espécies também se foi graças à fragmentação e isolamento. Um problema sério no Rio Grande do Sul continua sendo a degradação dos capões e matas de galeria na área de reprodução pela retirada de lenha e pastoreio de gado, que impede a regeneração das árvores.

A destruição de seu habitat e a captura para venda aos gaioleiros (300 a 500 filhotes eram retirados a cada ano na década de 1990) levaram a população a um mínimo de 7.500-8.500 indivíduos em 1993-94, quando foi realizado o primeiro censo da espécie, que, por isso, deixou de aparecer em antigos locais de ocorrência, como a Serra do Tapes e a Serra do Herval.

Em meio a esta desgraça generalizada, a história recente dos charões é um alento.

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Satisfeitos, os Charões socializam com os amigos... Foto: Fábio Olmos ... e no final da tarde se reúnem em bandos... Foto: Fábio Olmos
... e hordas... Foto: Fábio Olmos ... rumo ao poente. Foto: Rita Souza

A situação dos charões chamou a atenção de conservacionistas e pesquisadores e, entre outras iniciativas, levou à criação do Projeto Charão, que já completou 20 anos. Entre atividades de pesquisa e conservação mão na massa, o Projeto conseguiu reduzir a captura de papagaios, conscientizar proprietários rurais para que manejem melhor suas florestas e instalar caixas-ninho, ações que têm permitido a recuperação da população.

O crescimento levou os charões de uma população (leia aqui no capítulo sobre a espécie) de uns 8,5 mil indivíduos, em 1995, para, hoje, algo como 22 mil na natureza.

Fora isso, na década de 1980 os papagaios gaúchos mudaram seu comportamento migratório e “apareceram” em Santa Catarina, onde estão os maiores remanescentes da Floresta com Araucária (que já foi do Paraná...). Ali, os “papagaios estrangeiros”- como os locais os chamavam -  descobriram uma mina de pinhões, alimento crítico que lhes permite acumular reservas de gordura para migrarem e se reproduzirem.

Novo lar
Na Serra Catarinense os papagaios podem ser vistos em grupos de milhares de aves na região centrada nos municípios de Lages, Painel e Urupema. Em maio de 2010, a equipe do Projeto Charão gentilmente me guiou até o dormitório onde cerca de 11 mil aves se reuniam no final da tarde.

Foi um dos espetáculos mais incríveis que já vi.

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A Saíra-preciosa Tangara preciosa é uma espécie sulina que alegrava nosso café da manhã na pousada... Foto: Fábio Olmos ... em companhia do Sanhaço-frade Stephanophorus diadematus... Foto: Elsie Rotenberg
... junto com o Bico-grosso Saltator maxillosus... Foto: Fábio Olmos
... o Sanhaçu-papa-laranja Pipraeidea bonariensis… Foto: Elsie Rotenberg ... e o Sanhaço-de- fogo Piranga flava. Foto: Fábio Olmos

Em junho de 2011, minha amiga e colunista do O Eco Maria Tereza Jorge Pádua publicou um artigo sobre um dos mais impressionantes e, até então, desconhecidos espetáculos da vida selvagem na América do Sul: os bandos de milhares de papagaios-charões que se reúnem na Serra Catarinense a cada ano quando as araucárias começam a amadurecer seus pinhões.

O texto descrevia o espetáculo dos papagaios -- então desprezado pelas autoridades responsáveis pelo desenvolvimento regional --, seu potencial como catalisador para o ecoturismo e a necessidade de melhorar o receptivo turístico.

Este artigo não caiu em ouvidos moucos. Ele foi o estopim que levou à criação do 1º Festival do Papagaio-charão, com a primeira edição já em 2012.

Festivais de observação de aves são tradicionais em vários lugares do mundo, onde a festa gira em torno de uma ou mais espécies emblemáticas. Atividades que vão de palestras a feiras de produtos, claro, passando por saídas de campo. Atraem visitantes que movimentam a economia local e animam a vida cultural de lugares que, em muitos casos, seriam visitados por poucos.

No Brasil se destaca, além do festival de Urupema, o precursor Festival Brasileiro de Aves Migratórias, em Tavares, porta de entrada do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, que em outubro deste ano terá sua 13ª edição.

Além, é lógico, do Avistar, nossa feira de observadores de aves e seus filhotes (Rio, Brasília, Belo Horizonte, Vale Europeu, Vitória, Rio Branco...)

O rebatizado Festival do Papagaio-charão e Festival do Papagaio-de-peito-roxo ocorre em Urupema, a cidade mais fria do Brasil, em datas variáveis que aproveitam os feriados entre o final de abril e o início de maio. A edição de 2016 foi durante o feriado prolongado do 21 de abril.

Depois daquela visita em 2010, voltei à região para participar do Festival. E gostei muito do que vi.

Fria e hospitaleira

Nem só de papagaios vivem os observadores de aves em Urupema. Há Grimpeiros Leptasthenura setaria, que teoricamente só vivem sobre as araucárias (ninguém contou para esse, que procurava insetos no chão)... Foto: Rita Souza
Nem só de papagaios vivem os observadores de aves em Urupema.
Há Grimpeiros Leptasthenura setaria, que teoricamente só vivem sobre as araucárias
(ninguém contou para esse, que procurava insetos no chão)... Foto: Rita Souza

Urupema está em uma das regiões mais cênicas do Brasil. O mosaico de campos naturais e florestas com muitas araucárias, de serras e planuras, agrada os olhos. Ali pudemos ver bandos com milhares de papagaios-charões (e um número bem menor de peitos-roxos) sob aquela luz que faz os fotógrafos rirem sozinhos. Inclusive na própria pousada onde ficamos, a agradável Eco Pousada Rio dos Touros.

E além de muitos, muitos e muitos papagaios que posaram voando, pousados, comendo pinhões, brincando, etc., etc., também vimos especialidades e raridades, como o Pedreiro Cinclodes pabsti e o Grimpeirinho Leptasthenura striolata – endemismos do sul do Brasil, e os ameaçados Veste-amarela Xanthopsar flavus, Noivinha-de-rabo-preto Xolmis dominicanus e a impressionante Águia-cinzenta Urubitinga coronata. Além de uma certa espécie ainda não descrita que não entregarei aqui.

Este relato e vídeo de festivais passados dão uma ideia do que esperar.

E espero que tantas outras cidades que têm aves fantásticas como Urupema percebam o potencial deste turismo. Desejo o mesmo para os órgãos ambientais que estupidamente continuam fechando os parques para os observadores de aves.

... Grimpeirinhos Leptasthenura striolata, que só existem na região dos Campos Sulinos e Florestas com Araucária do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul... Foto: Fábio Olmos
... Grimpeirinhos Leptasthenura striolata, que só existem na região dos Campos Sulinos
e Florestas com Araucária do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul...
Foto: Fábio Olmos

Apesar de ter apenas cerca de 2,5 mil habitantes, Urupema tem acesso fácil e agradáveis pousada. A culinária, sabendo onde, tem joias que degustamos durante o jantar oferecido pela organização. Parabéns aos mestres jedi e padawans dos cursos de gastronomia e enologia do IFSC.

E, last but not least, a cidade está em uma região que produz vinhos de qualidade surpreendente e que já mereceriam um tour próprio. Ou um tour como os já feitos no Chile, Argentina e Califórnia, que combinam observação de aves com visitas e degustações nas vinícolas.

Festivais como esse também são momentos para encontrar velhos amigos e fazer novos, trocar experiências, contar e ouvir “causos”, pegar dicas de viagem e equipamento, e fazer planos para novas aventuras. E em uma cidade pequena e fora da temporada turística, o evento ajuda a economia local.

É claro que um lugar com araucárias tem que ter Gralhas-azuis Cyanocorax caeruleus... Foto: Fábio Olmos
É claro que um lugar com araucárias tem que ter Gralhas-azuis Cyanocorax caeruleus... Foto: Fábio Olmos

... que também comem pinhões. Foto: Elsie Rotenberg
... que também comem pinhões. Foto: Elsie Rotenberg

Reservas privadas
Aproveitei a oportunidade para conhecer a nova reserva particular do patrimônio natural, a RPPN Papagaios de Altitude, adquirida pelo Projeto Charão através da Associação Amigos do Meio Ambiente com fundos da IUCN Netherlands, Rainforest Trust e apoio da Fundação Grupo Boticário.

Essa pequena propriedade de 46,8 hectares é o núcleo do que esperamos se tornar uma área manejada para a natureza que inclua não só RPPNs – do Projeto e seus vizinhos - mas também terras onde as araucárias, os papagaios e seus acompanhantes sejam conservados porque seu verdadeiro valor foi descoberto.

E aí vale lembrar que enquanto um quilo de maças produzidas na região é vendido a R$ 2,50, o quilo do pinhão já passou de R$ 8, o que deveria fazer algumas fichas caírem. Nessa linha, iniciativas muito interessantes foram lançadas pelo programa Araucária+, parceria da Fundação CERTI e da Fundação Grupo Boticário.

Visitando a RPPN Papagaios de Altitude também descobri que há outras iniciativas privadas para conservar o que sobrou da Floresta com Araucária, como as RPPNs Grande Floresta das Araucárias, Serra da Farofa e Emilio Einsfeld Filho, todas com mais de 4 mil hectares.

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O Pedreiro <i>Cinclodes pabsti</i> ocorre apenas na região dos campos do alto da serra de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Foto: Fábio Olmos Outras espécies campestres são o Sabiá-do-banhado <i>Embernagra platensis</i>... Foto: Rita Souza
... a estilosa Seriema Cariama cristata... Foto: Rita Souza ...o Chopim-do-brejo <i>Pseudoleistes guirahuro</i>... Foto: Fábio Olmos
O Veste-amarela Xanthopsar flavus vive em grandes bandos. É uma espécie ameaçada de extinção porque nidifica em banhados... Foto: Fábio Olmos
... que são destruídos pelos fazendeiros. Como este, no Morro do Combate, transformado em plantação de batatas. Foto: Rita Souza

Mas nem tudo são flores na região de Urupema.

O Morro do Combate, onde há campos, banhados e florestas, é um dos locais mais fabulosos para avistamento de aves. Ali era um ponto clássico para observar os Vestes-amarelas, espécie endêmica do Pampa e dos Campos Sulinos. Ela depende dos prados para sua alimentação e, como outras aves do bioma, depende como área de reprodução dos banhados nos fundos dos vales e das depressões.

Infelizmente o banhado usado pelos Vestes no Morro do Combate foi drenado para se transformar em uma plantação de batatas. Encontramos alguns Vestes ainda por lá, depois de muitos os terem procurado sem sucesso. Por quanto tempo resistirão?

Risco politicamente correto
Pior ainda. Há o projeto, já em licenciamento, para instalar um parque eólico com mais de uma centena de aerogeradores. Embora a energia eólica seja considerada limpa em termos de emissões de CO2, isso está longe de significar que seja sempre “verde”.

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A Noivinha-de-rabo-preto <i>Xolmis dominicanus</i> é outra espécie ameaçada endêmica dos Campos Sulinos. Foto: Elsie Rotenberg A espetacular Águia-cinzenta Urubitinga coronatus é o grande predador alado dos Campos Sulinos e do Cerrado, e colonizou áreas desmatadas como o Vale do Paraíba. Entre outros predadores, como os Pumas (ou Leões-baios), seria comum não fosse a tradição primitiva dos fazendeiros de gastar dinheiro com balas ao invés de cães pastores, currais e chiqueiros adequados.

Na realidade, em algumas regiões,  parques eólicos instalados em áreas utilizadas por aves e morcegos têm causado níveis de mortalidade inaceitáveis, que em alguns casos levou ao declínio de espécies ameaçadas. Um parque já implantado na região desrespeitou as recomendações dos biólogos e suas estradas de acesso destruíram banhados preciosos. Coisa de engenheiro.

E eis que algum gênio agora deseja colocar estes moedores de carne em uma região sujeita a neblina onde circulam bandos com centenas de papagaios, além de aves de rapina. Não requer brilhantismo para ver que isso é pedir para uma desgraça acontecer.
E vale lembrar que isso destruiria um dos maiores atrativos de Urupema - seu cenário – em troca de um mínimo de empregos locais. Como Belo Monte e Tapajós, essa é uma daquelas ideias tão infelizes que nem deveria ter sido cogitada.
Veremos o que o futuro reserva para os Papagaios de Altitude e o que os licenciadores da FATMA resolverão. A vida não tem sido fácil para os highlanders, papagaios e outros, que estão longe de serem imortais.

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E nem só de passarinhos e passarões vivem os observadores de aves. A família de mansos graxains Lycalopex gymnocercus que vive na Eco Pousada Rio dos Touros é tanto divertida quanto fotogênica. Foto: Rita Souza A RPPN Papagaios de Altitude, do Projeto Charão, é a mais nova iniciativa de conservação na região. Foto: Rita Souza
A conservação das Florestas com Araucária também passa pelo uso racional de seus recursos florestais, como nos projetos apoiados pelo programa Araucaria+ . Foto: Rita Souza Parques eólicos, da mesma forma que aterros sanitários, são uma boa ideia, exceto quando localizados em locais estúpidos. Este, no Cabo Kaliakra (Bulgária) foi construído exatamente em uma das principais rotas de aves migratórias da Europa. O governo búlgaro está sendo processado pela corte europeia pela estupidez. Esperamos que nada parecido aconteça em Urupema.



Suely Araújo é a nova presidente do Ibama ((o))eco


Cerimônia de posse. Foto: Divulgação/MMA.
Cerimônia de posse. Foto: Divulgação/MMA.

Após três semanas da mudança ministerial, finalmente começaram a sair as primeiras nomeações para as chefias das autarquias do Ministério do Meio Ambiente. Na sexta-feira (03), Suely Araújo assumiu a presidência do Ibama, em cerimônia realizada no gabinete do ministro Sarney Filho.

Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília (UnB) e em Direito pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), Suely é doutora em Ciência Política pela UnB, onde defendeu a tese “Política ambiental no Brasil no período de 1992/2012: um estudo comparado das agendas verde e marrom”, trabalho que recebeu menção honrosa do Prêmio Capes de teses.

A urbanista atua há 25 anos como consultora legislativa da Câmara dos Deputados nas áreas de meio ambiente e direito ambiental, urbanismo e direito urbanístico. Autora de diversas publicações sobre os temas, a nova presidente do Ibama é professora voluntária da UnB desde 2010, nos cursos de graduação em Ciência Política e Gestão de Políticas Públicas.

A engenheira Marilene Ramos, que comandou a autarquia por um ano, assumiu o cargo de diretora de Infraestrutura do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES). A nomeação também saiu na edição de sexta-feira do Diário Oficial.

Um novo DNA para a humanidade

06/06/2016 7 Comentários 

Por Dal Marcondes, da Envolverde – 

A busca pelos fósseis de 60 milhões de anos deveria servir para se perceber a insignificância de uma espécie que destrói o próprio habitat em pouco mais de 50 anos – 


Todos os anos, no dia 5 de junho, data em que se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente, as empresas distribuem milhares de releases enaltecendo as próprias qualidades de sustentabilidade, escolas promovem oficinas de reciclagem e políticos posam com criancinhas plantando árvores. É uma beleza só, de repente o mundo fica mais sustentável, só que não!


Contudo, as ações e discursos enaltecendo as atitudes sustentáveis servem para mostrar que o problema não é mais a falta de educação ou falta de conhecimento sobre os impactos que os hábitos humanos estão causando sobre o planeta, sobre a biodiversidade, sobre o habitat humano.


Já não há mais tanta gente falando em “salvar o planeta”, porque esse não é o dilema que a humanidade vive, pelo contrário, a Terra sabe se virar sozinha. Ela vem fazendo isso a quatro bilhões de anos e vai continuar girando em torno do Sol por mais quatro ou cinco bilhões de anos. É muito tempo de passado e de futuro.


Já a humanidade está aqui a pouco mais de 100 mil anos, tem 10 mil anos de agricultura e pouco mais de 2 mil anos de história escrita. Até o anos de 1800 os impactos da humanidade sobre o planeta eram quase insignificantes, apesar de já terem extinto algumas espécies de animais.


Nesses últimos 200 anos, mais propriamente nos últimos 60 anos, é que a humanidade realmente mostrou suas garras e passou a exigir da Terra muito mais do que ela pode oferecer. A população durante o século 20 saltou de 1,65 bilhão no ano de 1900, para 2,50 bilhões em 1950 e para 6,07 bilhões em 2000. Em 2011 a população humana ultrapassou 7 bilhões de pessoas e a estimativa é de que seremos 9 bilhões em 2050.
populacaomundial
Esse crescimento exponencial da população se reflete, também, na superexploração de recursos naturais e na degradação de ambientes em todo o planeta. O mais impressionante nessa história é que os impactos da humanidade sobre a maior parte dos recursos naturais era muito baixo até o ano de 1950, depois disso o desarranjo dos ecossistemas se tornou praticamente irreversívelcaso os modelos de desenvolvimento e os tradicionais métodos de produção e consumo não sejam drasticamente alterados.


O gráfico abaixo mostra como todos os indicadores de uso de recursos naturais e a perda de espécies e biomas estão em um movimento crescente.


Impactos da Humanidade sobre o Planeta
Ref: Ladislau Dowbor
Ref: Ladislau Dowbor

Educação e conhecimento não bastam
A conversa corrente de que é preciso mais educação e conhecimento para que as pessoas mudem de comportamento em relação ao meio ambiente não é mais o suficiente para uma real transformação ainda a tempo de preservar o habitat humano e de outras milhares de espécies que povoam a Terra.  Não se trata mais de um desenvolvimento civilizatório, a ciência já tem todos os diagnósticos necessários em relação às mudanças climáticas, à extinção de espécies, a perda de florestas tropicais, o uso de combustíveis fósseis e sobre a maior parte dos Indicadores que apontam para uma tragédia socioambiental de grandes proporções.


Um dado alarmante é que atualmente a população humana é de pouco mais de sete bilhões de pessoas. No entanto, apenas três bilhões tem um padrão de vida que pode ser considerado confortável. Os quatro bilhões e pouco restantes padecem de algum tipo de carência, seja alimentar, de saúde, de educação, de habitação, água, trabalho ou outros direitos considerados universais, mas que não estão universalizados. Ou seja, o atual modelo de desenvolvimento não consegue suprir as necessidades básicas da humanidade como um todo. E não é por falta de informação ou conhecimento que as coisas não funcionam como deveriam.


Empresas e governos estão há anos debatendo quais são os limites de suas ações e procrastinando as possíveis soluções. As conferências realizadas no âmbito das Nações Unidas avançam de forma discreta em diversas frentes, conseguem resolver umas poucas coisas, mas não tem a efetividade necessária para gerar resultados em escala e duradouros. Há registros de resoluções, mas há, também, muitos apontamentos de fracassos. No caso das empresas, as maiores e mais importantes do mundo publicam regularmente seus Relatórios de Sustentabilidade, onde alardeiam suas qualidades e providências por um mundo melhor, mas não abandonam, em sua grande maioria, o tão conhecido “business as usual”, ou seja a maneira usual como fazem negócios e ganham dinheiro.


Hora do salto evolucionário
Há muita resistência a qualquer tipo de mudança nos atuais padrões de produção e consumo da parte privilegiada da humanidade. Muitos alegam que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) global irá levar ao uma equalização no desenvolvimento humano, oferecendo a todos a oportunidade de um padrão de vida digno.


Ao se avaliar no gráfico acima a evolução do PIB e o crescimento das iniquidades em todos os sentidos, nota-se que não há uma relação entre PIB e justiça social, pelo contrário, aparentemente o crescimento do PIB global tem levado a uma maior concentração de renda e aumento da desigualdade.


O principal problema a ser enfrentado pela humanidade neste século 21 não é o crescimento do PIB, mas sim a desigualdade na partição dos benefícios em uma economia realmente globalizada. Uma globalização que não se atenha ao comércio de bugigangas, mas que oferte bem estar e qualidade de vida para todo o planeta. E isso está muito longe de ser alcançado.
evolucao
O desenvolvimento humano não é mais uma questão de educação, conhecimento ou civilização. Esses elementos já estão presentes em todas as organizações, empresas ou governos que realmente importam. Ou seja, as empresas, os bancos, os governos e a mídia sabem exatamente o tamanho de seus impactos negativos sobre o planeta. Não mudam de atitude por serem incapazes de romper uma inércia assassina onde cada qual quer tirar o máximo de vantagem no menor tempo possível como se o mundo fosse, de fato, acabar nos próximos dias.


Bom, o resultado disso é que possivelmente o mundo não acabará nos próximos dias ou anos, mas se tornará um lugar bem mais inóspito e difícil para se viver. A ciência tem alertado, principalmente em relação às mudanças climáticas, que o preço de não se fazer nada para melhorar o perfil ambiental do planeta torna-se muito mais alto a cada dia que passa. Talvez, daqui a alguns anos nem haja mais recursos suficientes para uma reversão.


A humanidade precisa com urgência realizar um novo salto, desta vez não um salto industrial como nos últimos 200 anos, ou um salto civilizatório, como no século 20, ou ainda um salto tecnológico como dos últimos 50 anos, mas um salto evolucionário. É preciso evoluir como espécie ou não terá pela frente os mesmo 10 mil anos que tem de passado. A Terra vai se recuperar da presença humana em bem pouco tempo.


 Especulações feitas por escritores e arqueólogos apontam que em dois mil anos poucos vestígios restariam da presença humana na Terra depois que ela se for. Um ou outro monumento e, o resto, seria trabalho para arqueólogos de uma espécie futura, que cavaria em busca de vestígio como hoje fazemos buscando dinossauros.


A própria busca pelos fósseis de 60 milhões de anos deveria servir para se perceber a insignificância de uma espécie que destrói o próprio habitat em pouco mais de 50 anos. A mudança do modo de vida da humanidade ainda neste século é necessária para a sua sobrevivência como espécie. Para isso não basta uma transformação, será preciso uma evolução, no melhor princípio darwiniano. (#Envolverde

Fabricantes de cigarro miram os mais pobres


Vendedora de rua em Manila oferece maços com 20 cigarros por menos de um dólar. Foto: Kara Santos/IPS
Vendedora de rua em Manila oferece maços com 20 cigarros por menos de um dólar. Foto: Kara Santos/IPS
por Aruna Dutt, da IPS –


Nações Unidas, 1/6/2016 – No Dia Mundial sem Tabaco, celebrado ontem, 31 de maio, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou aos países que adotem uma embalagem neutra para os cigarros a fim de reduzir o consumo, mas até agora somente os mais ricos puderam fazer frente ao custo que essa medida implica.


Várias iniciativas em diferentes partes do mundo contribuem para reduzir o consumo de tabaco, como impostos, restrições por idade, proibição de fumar em espaços públicos, limitações à publicidade, bem como a embalagem neutra, que tem a Austrália na dianteira.


Esta última medida, lema do Dia Mundial Sem Tabaco deste ano, deriva de uma lei australiana de 2011 e ganhou impulso na Grã-Bretanha, França, Nova Zelândia e Canadá, que se comprometeram a implantar a embalagem neutra. “Sabemos que a embalagem do maço de cigarros procura ser atraente, frequentemente para um público específico, como mulheres ou jovens”, explicou à IPS Nicole Hughes, que trabalha em pesquisas para o controle do tabaco no Instituto Nossal para a Saúde Global.


“Por isso, reduzir a atração motivada pelo maço e seu uso como meio para a publicidade, é incrivelmente importante para combater o consumo de tabaco”, acrescentou Hughes. O tabagismo diminuiu em muitos países de alta renda, como a Austrália, onde caiu pela metade desde 1991, mas ainda se fuma muito nas nações mais pobres, onde a regulamentação costuma ser mais frouxa.


Segundo a OMS, os países mais pobres têm quase o dobro de publicidade de tabaco do que os mais ricos, e, quanto mais pobres são, mais locais podem vender cigarros. “A metade das pessoas que fumam tem grandes probabilidades de sofrer alguma enfermidade relacionada ao tabaco, enquanto a outra metade morrerá”, afirmou Edouard Tursan D’Espaignet, coordenador da Iniciativa Livre de Tabaco, da OMS.


“Trata-se de umas poucas pessoas que ganham milhões de dólares graças à deterioração da saúde e à morte de pessoas em todas as partes do mundo”, apontou D’Espaigne. A iniciativa da embalagem neutra, que também pode implicar a incorporação de advertências sobre os cigarros, é uma forma de contribuir para combater o problema, mas não avança sem a luta da indústria do tabaco.


Em 1993, muito antes de se considerar ou se pesquisar sobre a embalagem neutra, a indústria criou um grupo de trabalho para estudar o que aconteceria se essa iniciativa viesse a ocorrer, recordou D’Espaignet. O grupo concluiu que prejudicaria seus ganhos porque reduziria de forma significativa a atração pelo fumo. Sabendo das consequências negativas da medida, a indústria empreendeu táticas para impedir que os governos impusessem essa legislação, inclusive recorrendo à justiça.


Em maio, um alto tribunal da Grã-Bretanha rejeitou a apelação de uma companhia de cigarros contra a embalagem neutra. Foram descartadas 17 ações contra o Estado, mas ao custo de milhões de dólares em julgamentos e processos legais. “Com a informação legal desses casos, outros países podem aproveitar a experiência quando a indústria do cigarro tentar processá-los”, pontuou D’Espaignet.


“O temor que os grandes fabricantes têm da embalagem neutra e de suas possíveis consequências é enorme, e seu comportamento alarmista demonstra isso claramente. Têm medo de que funcione e querem fazer todo o possível para evitá-la”, acrescentou  D’Espaignet. Mas, na medida em que os países de alta renda implantam e defendem suas políticas de controle do tabaco, a indústria do setor dominada por Philip Morris, British American Tobacco, Imperial e Japan Tobacco International, transfere seu mercado para as nações de rendas baixa e média.


Cerca de 80% das pessoas que fumam vivem em países de rendas baixa e média, e o Banco Mundial prognostica que, até 2030, esses países registrarão sete milhões de mortes ao ano, 70% do total de fumantes. Segundo a OMS, 92% da população mundial vive em países cujos impostos estão abaixo do que a organização recomenda. E, lamentavelmente, apesar de o consumo de tabaco continuar sendo a segunda causa de mortes no mundo, em 2011, apenas US$ 68 milhões dos US$ 31,4 bilhões destinados à assistência ao desenvolvimento para a saúde foram canalizados para controle do tabaco.

“Sabemos que, quanto mais pobre é o país, mais ilimitados são os esquemas de comercialização da indústria do cigarro”, indicou D’Espaignet. Para Chris Bostic, subdiretor de políticas da organização Action for Smoking and Health, com sede em Washington, a batalha legal dos grandes fabricantes é um bom sinal.

Sua organização, junto com outras, leva adiante uma campanha para mudar os acordos comerciais e evitar os julgamentos das fábricas. Bostic afirmou que nem todas as medidas contra o tabaco estão sujeitas à jurisdição comercial, por isso os países podem avançar com confiança na maioria de suas ações.

“De certa forma, esses julgamentos são um bom sinal. A indústria do cigarro se preocupa que a embalagem neutra reduza seriamente suas vendas. Esse é o ponto”, pontuou Bostic à IPS. “Nesta etapa, são necessárias mais pesquisas e preparação pelas complexidades legais e econômicas, o que implica criar e defender as leis. Mas a publicidade e o debate associado ao interesse da OMS pela embalagem neutra, com sorte, poderão gerar oportunidades de mais pesquisas no contexto dos países de rendas baixa e média”, ponderou.

Países como Uruguai, Togo e Namíbia tiveram dificuldades para derrotar as multinacionais que recorreram a ações comerciais e de investimento para impedir ou atrasar a implantação de leis sobre rotulagem e publicidade dos cigarros. Os problemas com a implantação se agravam pela corrupção governamental, dependência econômica da indústria ou pela falta de recursos para combater as ameaças de litígios dos grandes fabricantes.

Para Hughes, “o apoio da OMS à embalagem neutra também é relevante nos países de rendas baixa e média, mas na maioria deles poderá levar mais tempo”. O Programa de Controle do Tabaco do Grupo do Banco Mundial ajuda a implantar reformas tributárias nas Filipinas, Indonésia, Senegal, Colômbia, Botswana, Etiópia, Armênia e Geórgia.


As pesquisas a respeito concluíram que o aumento dos impostos sobre o cigarro é muito efetivo para reduzir o consumo e, portanto, reduzir os custos na saúde pública. Envolverde/IPS

(Video obrigatório!!) A História das Coisas

13/05/2016

 
https://youtu.be/7qFiGMSnNjw

Da extração e produção até a venda, consumo e descarte, todos os produtos em nossa vida afetam comunidades em diversos países, a maior parte delas longe de nossos olhos.


História das Coisas é um documentário de 20 minutos baseado nos subterrâneos de nossos padrões de consumo.


O conteúdo revela as conexões entre diversos problemas ambientais e sociais, e é um alerta pela urgência em criarmos um mundo mais sustentável e justo.



O vídeo nos ensina muita coisa, nos faz rir, e pode mudar para sempre a forma como vemos os produtos que consumimos em nossas vidas. Confira!


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Os ensinamentos da morte de Cecil

07/08/2015 


Casal de leões na Reserva Krugersdorp Game, na África do Sul. Foto: Derek Keats/cc by 2.0
Casal de leões na Reserva Krugersdorp Game, na África do Sul. Foto: Derek Keats/cc by 2.0
Por Rosie Cooney* 


Gland, Suíça, 7/8/2015 – Cecil, o magnífico e querido leão que fazia parte de um projeto de pesquisa de longo prazo, foi atraído para fora de seu refúgio no Parque Nacional Hwange, no Zimbábue, por um caçador ilegal que disparou contra ele e o deixou agonizar até morrer.


O fato, acontecido em julho, gerou tamanho escândalo que vale a pena parar para pensar no que aconteceria se a partir de agora fosse proibida a caça de troféus em todo o continente africano.


Essa prática é o fim da limitada caça de “alto valor”, na qual pessoas, que costumam ter muito dinheiro e são principalmente ocidentais, pagam elevadas quantias para poderem matar animais.


Imaginemos o que aconteceria na África austral, uma área que ocupa quase o dobro da soma dos parques nacionais da região.


O fato geral tal indignação e repugnância, pois se mata amimais por esporte, e em alguns casos, como no dos leões, nem mesmo se come sua carne. Inclusive os milhões de caçadores de fim de semana com suas geladeiras cheias têm dúvidas sobre a caça de troféus.


É uma prática que quase não tem mais cabimento em um mundo moderno, quando a humanidade avança para uma posição ética que, cada vez mais, outorga aos animais os mesmos direitos morais que os seres humanos se concedem (ao menos em princípio) entre si.


Agora, imaginemos que a União Europeia e a América do Norte proíbam a importação de troféus, enquanto Namíbia, África do Sul, Zimbábue e outros países proíbam a caça de troféus, as companhias aéreas se neguem a transportá-los e a atividade morra lenta (ou rapidamente), livrando o mundo dessa suja mancha sobre a consciência coletiva.


Nos concentramos em olhar para a África austral, orgulhosos do que conseguimos assinando uma petição na internet, pressionando dirigentes políticos e compartilhando e comentando artigos no Facebook.


Salvamos os leões? Preservamos áreas naturais? Desferimos o golpe de graça ao tráfico de vida silvestre? Livramos as comunidades locais dos caçadores estrangeiros imperialistas?


Voltemos ao Parque Nacional Hwange, onde Cecil foi morto. A Autoridade de Gestão de Parques e Vida Silvestre do Zimbábue, responsável pela gestão desse e de outros parques, agora tem enormes problemas.


O órgão obtém sua renda para proteger, conservar e administrar a vida silvestre em todo o território nacional da caça de troféus, e recebe magros recursos do governo central, que não tem precisamente fama de incentivar a boa governança nem a transparência em matéria de administração de fundos.


O orçamento do Parque Hwange sofre um corte radical e há poucos recursos para automóveis ou equipamentos de patrulha. A carne procedente de caçadores ilegais aumenta e os guardas florestais não têm equipamentos para enfrentá-los. O uso de armadilhas com alarmes é indiscriminado e permite capturar muitos leões, entre outros predadores, que agonizam e sofrem uma morte sem sentido.


Na Namíbia, mais da metade das áreas de conservação comunitária, que cobrem 20% do país, estão em colapso, porque sua renda, não derivada de atividades relacionadas à caça, como o turismo, não é viável e não é possível encontrar fontes alternativas de renda.


Os espaços de conservação comunitária da Namíbia são uma inovação da década de 1990, e são responsáveis pelo pronunciado aumento de várias espécies silvestres fora dos parques nacionais, como elefantes, leões e rinocerontes negros. A renda procedente da caça de troféus e do turismo impulsionou as comunidades a dedicarem suas terras à conservação.


As comunidades ficam com 100% dos benefícios do uso sustentável da vida silvestre, incluída a caça, quase 18 milhões de dólares namíbios (US$ 1,2 bilhão) em 2013, que usaram para construir escolas, centros de saúde, estradas, capacitar e empregar 530 guardas florestais para proteger a fauna e a flora.


Quase dois milhões de refeições ricas em proteínas por ano foram um subproduto da caça. Agora tudo isso virou fumaça. Algumas poucas áreas de conservação conseguem doadores ricos para não desaparecer, e cruzam os dedos na esperança de que essas doações se mantenham nas próximas décadas.


Os guardas florestais estão desempregados, sem poderem alimentar suas famílias e em busca de alguma oportunidade para conseguir uma renda. As comunidades dedicadas à conservação estão furiosas, pois ninguém as consultou sobre tão importante decisão. Poucos jornalistas e ativistas sociais refletem sua própria visão da situação.


As comunidades e as autoridades responsáveis pela conservação voltam a ser indispor.
Ali onde colapsaram as áreas de conservação, se destrói a vida silvestre. As épocas más anteriores à reforma voltaram e a fauna vale mais morta do que viva.


Só ventres famintos se alimentam da caça ilegal e os caçadores ilegais ganham terreno. As comunidades locais já não estão interessadas em fornecer informação à polícia para ajudar a proteger a vida silvestre, os programas de guardas florestais faliram por falta de fundos, e os chifres de rinocerontes, os ossos de leão e o marfim dos elefantes embarcam ilegalmente rumo à Ásia Pacífico.


Na África do Sul, terminou a caça de troféus, inclusive a pequena proporção que estava “cercada”. Nas propriedades privadas, que cobrem cerca de 20 milhões de hectares, a renda procedente da vida silvestre sofreu colapso.


As propriedades com paisagens pitorescas, perto das grandes rotas ou atrações turísticas e que contam com infraestrutura turística, sobrevivem graças ao fototurismo, mas acabou a época de ampliar a vida silvestre comprando terras e repondo com mais exemplares.


A maioria dos proprietários voltou a ter gado bovino e caprino e a cultivar para poder pagar a educação dos filhos e a hipoteca da casa.


A vida silvestre nessas terras se extinguiu, em grande parte, com seu habitat, e voltaram as paisagens degradadas pela agricultura, que prevaleceram antes dos anos 1970, quando foi legalizado o uso da vida silvestre pelos fazendeiros (incluídos os caçadores).


Os leões que estavam nessas terras se foram faz tempo, e os poucos que restam nos parques nacionais são mortos quando ultrapassam seus limites, porque se converteram em um problema. O grande êxito em matéria de conservação na África do Sul se deteriora rapidamente.

Especulação? Sim, mas é um prognóstico razoável porque já passou.


A proibição da caça de troféus na Tanzânia, entre 1973 e 1978, no Quênia em 1977, e em Zâmbia entre 2000 e 2003, acelerou a rápida perda de vida silvestre pela eliminação de incentivos à conservação. Os primeiros informes indicam que há indícios semelhantes em Botsuana, que no ano passado proibiu todo tipo de caça.


Choremos por Cecil, mas tenhamos cuidado com o que desejamos… Envolverde/IPS


* Rosie Cooney é presidente do Grupo Especialista em Uso Sustentável e Sustento da União para a Conservação da Natureza (UICN). As opiniões contidas nesse artigo são de responsabilidade da autora e não representam necessariamente as da IPS – Inter Press Service, nem podem lhes ser atribuídas. Tampouco expressam necessariamente os pontos de vista da UICN.

Alemanha bate recorde e energia renovável chegou a ser grátis por um dia


A Alemanha pretende ter 100% de sua energia vinda de fontes renováveis até 2050. | Foto: iStock by Getty Images
A Alemanha pretende ter 100% de sua energia vinda de fontes renováveis até 2050. | Foto: iStock by Getty Images
A última semana foi um marco na história da Alemanha em termos de sustentabilidade. Graças a um domingo ensolarado e com ventos fortes, o país europeu bateu recorde em produção de energia limpa. Às 13h do último domingo (8) as fontes solar, eólica, biomassa e hídrica estavam fornecendo 55 GW de energia, garantindo 87% do abastecimento nacional.
Devido a esse fenômeno, o preço da energia chegou a ser negativo durante várias horas. Na prática isso significa que muitos clientes, entre eles grandes industrias, acabaram recebendo para consumir energia.


Até o último ano, a média de produção de energia renovável, somando todas as fontes, era de 33%, de acordo com a assessoria alemã Agora Energiewende. No entanto, as novas conexões entre as usinas eólicas e as redes de transmissão ajudaram a elevar consideravelmente esse percentual.


Mesmo que ainda existam céticos sobre a eficiência e capacidade das energias renováveis em garantirem o abastecimento total, principalmente devido aos picos de produção, muitos países já têm demonstrado que isso é possível.


A Alemanha tem tido ótimos resultados em sua busca por um país 100% energeticamente renovável até 2050. A Dinamarca também segue no mesmo caminho. Em algumas regiões a produção já até supera a demanda e o excedente é comercializado aos países vizinhos.


Redação CicloVivo