sexta-feira, 12 de agosto de 2016

A dupla face do agronegócio para os polinizadores

Por Vandré Fonseca

Foto: Ana Dias/Flickr.
As abelhas são responsáveis por mais de 70% da polinização das plantas. 

Foto: Ana Dias/Flickr.
Manaus, AM -- 


Os quarenta milhões de hectares dominados pela agricultura corporativa, desenvolvida por grandes empresas internacionais, no Brasil e em países da África são, ao mesmo tempo, a principal ameaça ao futuro dos polinizadores e também um caminho para ações que possam protegê-los, segundo um estudo que reuniu um time internacional de 17 pesquisadores, entre eles o engenheiro agrônomo brasileiro Breno Magalhães de Freitas, da Universidade Federal do Ceará.



Para a elaboração do estudo, publicado no início de agosto na revista científica Peer J, os pesquisadores convocados apresentaram um total de 60 possíveis ameaças e oportunidades para o futuro dos insetos e outros animais responsáveis pela polinização de plantas. Após uma série de rodadas de análises, 15 questões foram selecionadas e, entre elas, seis apontadas como prioritárias. No topo da lista, o controle da agricultura por grandes corporações, que produzem principalmente soja para o mercado chinês.



“Eles usam técnicas padronizadas em todos os lugares em que atuam”, afirma o professor brasileiro, que há mais de vinte anos estuda abelhas e hoje é uma referência internacional quando se trata de polinizadores. “Essas técnicas não são adequadas aos polinizadores. Mas ao mesmo tempo, se você convence essas empresas a não causar impactos aos polinizadores, podemos ter impactos positivos também”, ressalta. Mas para que essa estratégia funcione, é preciso que essas grandes empresas trabalhem em colaboração com organizações não governamentais e pesquisadores, segundo os próprios autores do estudo.



Eles destacam que cerca de 35% da produção agrícola mundial e 85% das plantas silvestres com flores dependem de polinizadores. A redução desses agentes têm impactos sobre a agricultura. Freitas cita um estudo publicado por ele e um ex-aluno de doutorado, Marcelo Milfont, que trata da relação entre polinizadores e produtividade da soja. “Se você tem polinizadores, há um aumento de 12% a 18% da produção numa mesma área”, conta.


O pesquisador brasileiro destaca também a ameaça representada pelo surgimento de uma nova classe de inseticidas sistêmicos, ou seja, que entram no metabolismo das plantas, os sulfurados. De acordo com Freitas, ainda não se conhece bem os efeitos desses venenos para abelhas e outros insetos e o Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos. Novos vírus emergentes e os efeitos de eventos extremos associados às mudanças climáticas também foram destacadas como ameaças.


Ao lado, estão também fatores que podem ser aliados à preservação dos polinizadores, como o aumento da diversidade de espécies manejadas e a redução do uso de produtos químicos em ambientes não-agrícolas.


Diferente da maioria das pesquisas, que segundo os autores do artigo buscam apenas mitigar os impactos, esse novo estudo procura apontar soluções para superar as ameaças. “Estamos adotando, cada vez mais, práticas que afetam essas espécies. Então buscamos infantilmente mitigar essas perdas, ao invés de impedi-las, em primeiro lugar”, afirma o líder do estudo, Mark Brown, Royal Holloway University of London.



Segundo Breno Freitas , o estudo mostra que existem duas opções. A primeira, deixar as coisas continuarem como estão e sempre buscar medidas paliativas e que geralmente não funcionam. A outra, é chamar governos e grandes corporações para assumirem também a responsabilidade e atuar junto com pesquisadores, organizações não governamentais e sociedade.



 “ O foco deve ser na implantação de medidas preventivas, para minimizar ou eliminar os possíveis problemas antes que aconteçam”, afirma.

Santa Catarina terá dois centros de reabilitação de animais marinhos


SC centros reabilitacao animais marinhosFoto: Divulgação/Projeto Tamar
A Fundação do Meio Ambiente (Fatma) autorizou a construção de dois locais para tratamento de animais marinhos em Santa Catarina. O Centro de Reabilitação de Animais Marinhos será instalado no Parque do Rio Vermelho, em Florianópolis, que já presta atendimento a animais recolhidos no Estado. O espaço será gerido pela Fatma e pela ONG R3 Animal.



Já o Laboratório de Reabilitação de Aves Marinhas será em Penha, no Litoral Norte, e ficará sob responsabilidade da Universidade do Vale do Itajaí (Univali). A construção dos centros vai proporcionar benefícios ambientais e otimização de recursos para os órgãos envolvidos.



Segundo Rogério Rodrigues, diretor de Proteção de Ecossistemas da Fatma, a implantação dos centros facilitará a logística de animais resgatados ou apreendidos em fiscalizações.
SC centros reabilitacao animais marinhos2ONG R3 Animal já presta serviços em Florianópolis, onde recolheu em junho um flamingo dos Andes. (Foto: R3 Animal/Divulgação)
O documento de autorização estabelece o plano de trabalho que será realizado e a instalação de estruturas adequadas nos centros, como laboratórios, salas de cirurgia e equipe de biólogos e veterinários, por exemplo.



Além dos centros em Penha e Florianópolis, a coordenadoria de fauna da Fatma analisa mais dois pedidos: um para Laguna, sob responsabilidade da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e outro para São Francisco do Sul, sob gestão da Universidade da Região de Joinville (Univille).
SC centros reabilitacao animais marinhos3Foto: Marcos Porto/Agência RBS
A Univali é a entidade responsável pela gestão dos centros de reabilitação de animais marinhos no Estado.
Fonte: DC

Capitalismo verde, deus fracassado


Por que a teoria econômica de Adam Smith – baseada na suposta virtude social dos atos egoístas – só pode produzir desigualdade incessante e colapso ambiental do planeta.



Embora o capitalismo tenha produzido um desenvolvimento sem precedentes, esse mesmo motor está agora nos conduzindo em direção ao colapso ecológico, ameaçando destroçar-nos a todos. A economia capitalista de Adam Smith não pode oferecer solução para a crise porque a crise é o produto da própria dinâmica de produção movida pela competição por mercado que gera a crescente acumulação de riqueza e consumo, celebrada pelos economistas smithianos.


Em seu livro “O Futuro do Capitalismo”, de 1996, Lester Thurow lucidamente captou o impaCapitalismoVerdecto socialmente suicida de transferir as decisões econômica aos indivíduos: “Em nenhum outro aspecto da vida, o horizonte de tempo do capitalismo é um problema mais agudo do que na área do ambiente global… O que poderia fazer uma sociedade capitalista sobre problemas ambientais de longo prazo, como o aquecimento global ou a redução da Camada de Ozônio?… Usando as normas de resolução do capitalismo, a resposta ao que deveria ser feito hoje para prevenir tais problemas é muito clara – não fazer nada.


Por maiores que possam ser os efeitos negativos, daqui a cinquenta ou cem anos, o preço que se paga por provocá-los, no presente, é zero. Se o valor corrente das consequências negativas futuras é zero, então, segundo a lógica econômica vigente, nada deveria ser gasto hoje para prevenir que emerjam aqueles problemas distantes.


Mas se os efeitos negativos forem muito grandes daqui a cinquenta ou cem anos, então será tarde demais para fazer qualquer coisa capaz de melhorar a situação, já que qualquer coisa a ser feita naquele tempo poderia somente melhorar a situação num futuro distante, de cinquenta ou cem anos. De modo que, se forem bons capitalistas, os que viverem no futuro também decidirão não fazer nada, não importa quão graves sejam seus problemas.


Finalmente, chegará uma geração que não poderá sobreviver no ambiente alterado da Terra – mas a essa altura será muito tarde para fazerem qualquer coisa e prevenir sua própria extinção. Cada geração toma boas decisões capitalistas, embora o efeito em rede seja o suicídio social coletivo.”



Lester Thurow, quase sozinho entre os economistas mainstream, reconhece essa contradição fatal do capitalismo – embora ele não seja anticapitalista e tenha escrito o livro do qual foi retirado o trecho acima na esperança de encontrar um futuro para o sistema. Até muito recentemente, os livros didáticos padrão de economia ignoravam completamente o problema ambiental.


Ainda hoje, as obras padrão de teoria econômica não fazem quase nenhuma menção a meio ambiente ou ecologia e virtualmente nenhuma consideração séria sobre o problema. Isso reflete a crescente virada para a direita da ciência econômica, desde os anos 1970. Em países como os Estados Unidos, a profissão de economista abandonou desde então a prática do pensamento científico crítico de visões dissidentes.


Hoje, um dogma religioso “neoliberal” neo-totalitário domina a disciplina. O keynesianismo, o velho liberalismo, para não mencionar o marxismo, são todos desprezados como incuravelmente antiquados; a economia ecológica é suspeita e aconselha-se o estudante de graduação prudente a manter-se longe de tais interesses, se deseja encontrar um emprego. Como propôs Francis Fukuyama nos anos 1990, depois do colapso do comunismo, a história teria atingido seu apogeu no capitalismo de livre mercado e democracia liberal.


A ciência da economia, declarou Fukuyama, foi estabelecida com o feito de Adam Smith. O futuro traria não mais do que “ajustes técnicos infinitos”. Nenhum outro pensamento teórico seria necessário ou precisaria ser solicitado.


Teologia econômica e negação da realidade

Para os economistas que seguem de Adam Smith, a noção de que há, ou deveria haver, limites ao crescimento econômico é quase impensável. Porque admitir que crescimento é um problema seria permitir uma rachadura fatal em todo o sistema e abriria portas para um desafio a partir da esquerda. 
Apesar de suas importantes divergências, os economistas smithianos, ainda filiam-se, todos, a uma mesma religião: a do “Não é Possível Parar de Comprar”.


Adoram os mesmos ídolos – o crescimento e o consumo. Na extrema direita, os fundamentalistas de mercado como Milton Friedman, Gary Becker e adeptos da escola de Chicago simplesmente negam que haja qualquer problema ambiental – para eles, certamente não é nada que o mercado não possa resolver.


Numa entrevista de 1991, Milton Friedman tentou ridicularizar os ambientalistas com sua acidez característica: “O movimento ambientalista é composto de duas partes muito distintas. Uma é formada pelos grupos de conservação tradicionais, que desejam proteger recursos. A outra é um grupo de pessoas que não estão fundamentalmente interessadas em poluição. São somente anticapitalistas de longo prazo, que aproveitarão cada oportunidade para destruir o sistema capitalista e a economia de mercado.


Costumavam ser comunistas ou socialistas, mas a história foi ingrata com eles e agora tudo o que podem fazer é reclamar da poluição. Mas sem a moderna tecnologia, a poluição seria muito pior. A poluição dos cavalos foi muito pior do que a dos automóveis. Se você ler descrições das ruas de Nova York no século dezenove…”



E em sua arenga sado-econômica, Free to Choose (“Livres para escolher”), o agressivo anticomunista queixou-se de que: “quaisquer que fossem seus objetivos declarados, todos os movimentos das últimas duas décadas – o movimento dos consumidores, o dos ambientalistas, o que propõe o retorno à terra, o que defende a vida selvagem, os hippies, os que não querem o crescimento da população humana, o “small is beautiful”, os anti-nucleares – tiveram sempre algo em comum. Eles opuseram-se a mais desenvolvimento, à inovação industrial, ao uso ampliado dos recursos naturais. Em resposta a estes movimentos, as agências reguladoras impuseram medidas de alto custo para cada vez mais ramos da produção”…


O negacionismo caipira de Friedman modela, há muito tempo, a extrema direita da teologia econômica, mas sua afirmação confiante de que o crescimento infinito é sustentável é compartilhada por todo o espectro dos economistas mainstrem, ainda que com nuances. Se examinarmos a extrema esquerda do pensamento econômico “aceitável” – por exemplo, Paul Krugman –, encontraremos o mesmo mantra segundo o qual “não se pode interromper o progresso”. Em sua coluna no New York Times, Krugman especula “se não há algo maníaco no ritmo de acumulação – e, sobretudo consumo – de riquezas, nos Estados Unidos fin de siècle:


“Mas há um argumento muito poderoso a lançar, em favor do recente consumismo norte-americano: o de que ele pode não ser bom para os consumidores, mas é útil aos produtores. Consumir pode não produzir felicidade – mas cria empregos, e o desemprego é muito eficiente na criação de miséria. É melhor ter consumidores maníacos, no estilo dos Estados Unidos, do que os consumidores depressivos do Japão.


Há um forte elemento de disputa entre ratos, no boom econômico dos EUA, impulsionado por consumo, mas são estes ratos disputando em suas gaiolas que mantêm as rodas do comércio em movimento. E embora seja uma vergonha que os norte-americanos continuem a competir sobre quem é capaz de possuir mais brinquedos, o pior de tudo seria a interrupção abrupta de tal competição.”


Krugman é um economista brilhante, mas as premissas smithnianas de sua estrutura teórica não lhe permitem enxergar que podemos não ter mais recursos para produzir todos estes brinquedos.


Aqui está a questão: o crescimento insaciável e o consumo estão destruindo o planeta e condenarão a humanidade a longo prazo – mas sem crescimento incessante da produção e aumento insaciável do consumo, teríamos colapso, no curto prazo.


Quem se importa pelo Bem Comum
A teoria econômica de Adam Smith é uma ideia cujo tempo passou. A especialização, a ausência de planejamento, a produção anárquica para o mercado, o pensamento focado na maximização dos lucros, às custas de quaisquer outras considerações, foram um motor que gerou enormes avanços na produtividade industrial e agrícola – e também a maior acumulação de riquezas a que o mundo já assistiu.


Mas o mesmo motor do desenvolvimento, agora imensamente maior e funcionando a todo vapor, está hiperdesenvolvendo a economia do mundo, sobreconsumindo os recursos, envenenando as águas e a atmosfera com contaminação e aquecimento e conduzindo-nos ao abismo do colapso econômico – ou da simples extinção. O erro fatal de Adam Smith – fatal para nós – foi sua ideia segundo a qual o meio “mais efetivo” de promover o interesse público, o bem comum da sociedade, é simplesmente ignorá-lo e confiar exclusivamente na busca dos interesses egoísticos individuais.


Em relação ao interesse público na riqueza econômica da sociedade, Smith afirmava que o mercado automaticamente produziria “opulência universal, que se estende às camadas mais baixas do povo”, já que “uma abundância geral difunde-se por todos os níveis da sociedade”. Dificilmente esta tese poderia mostrar-se mais equivocada.


Mais de 200 anos depois, o desenvolvimento do capitalismo global produziu a sociedade de desigualdade mais obscena da História, com metade da população mundial vivendo com menos de dois dólares por dia, bilhões submersos em miséria desesperadora – muitas vezes mais que toda a população da Terra ao tempo de Smith – e uma minúscula elite global, algumas poucas centenas de indivíduos, concentrando uma fatia cada vez maior da riqueza do mundo e esbanjando-se numa riqueza nunca antes imaginada.


Este fracasso assustador de previsão científica deveria ser suficiente para ter ridicularizado a teoria econômica de Smith há muito. Isso inevitavelmente ocorreria nas ciências naturais, diante de equívoco comparável.


No que diz respeito ao interesse público por preocupações sociais mais amplas, que incluem hoje o ambiente, a filosofia de Smith, baseada no individualismo como meio para maximizar o interesse público – o bem comum da sociedade – é, além de um completo equívoco, um convite ao suicídio.


E está em total confronto com os cientistas e corpos científicos de todo o mundo, que pedem um plano – um plano para interromper o aquecimento global, para salvar as florestas e oceanos, para descontaminar o Planeta, salvar milhares de espécies da extinção etc. Mas os economistas capitalistas – mesmos os mais humanos, como Paul Krugman e Joseph Stiglitz – são hostis à ideia de planejamento econômico.


As corporações não são necessariamente más. Mas o problema é que as decisões críticas que afetam o ambiente – divisões sobre o que e quanto produzir, sobre o consumo dos recursos, sobre a poluição – não estão hoje nem nas mãos da sociedade, nem nas dos governos. Estão em mãos privadas, principalmente a das grandes corporações. A partir da lógica que os orienta, os executivos não têm outra escolha, exceto tomar decisões sistematicamente erradas.


No tempo de Adam Smith, isso não importava tanto, porque as empresas eram muito pequenas e suas ações tinham pouco impacto sobre a natureza. Mas hoje, quando enormes corporações têm o poder, a tecnologia e todo incentivo para derreter as camadas de gelo, este tema importa. Deixar a economia global nas mãos das corporações privadas, sujeitas às demandas do mercado, é o caminho para o eco-suicídio coletivo. (Eco21/ #Envolverde)


* Richard Smith é historiador econômico. Escreve no The Ecologist, Journal of Ecological Economics, New Left Review, e outras publicações. – Tradução: Inês Castilho e Antonio Martins.


Fonte: Envolverde

Reúso da água é essencial para gestão dos recursos hídricos

Reúso da água é essencial para gestão dos recursos hídricos. Entrevista especial com José Galizia Tundisi

“Pode-se afirmar que 60% da água utilizada para abastecimento no Brasil é perdida pela incapacidade de reutilização”, constata o pesquisador.


“A gestão das águas por bacias hidrográficas é atualmente o grande desafio”, diz José Galizia Tundisi à IHU On-Line, ao comentar a atual situação dos recursos hídricos no Brasil. Segundo ele, se fosse realizada uma gestão “bem executada”, seria possível “assegurar um controle mais efetivo às reservas de água e maior eficiência no uso”.


Outro fator que contribui para a má gestão dos recursos hídricos no país, frisa, é o não tratamento de esgoto. A ineficiência desse serviço, explica, faz com que a perda de água chegue a “quantidades abundantes pela incapacidade de reúso”, chegando a um total de 60%.


Na entrevista a seguir, concedida à IHU On-Line por e-mail, Tundisi pontua ainda que o “reúso de água implica técnicas avançadas para melhorar a qualidade das águas já tratadas. Por exemplo, pode-se melhorar muito a qualidade da água ao utilizar membranas especiais para filtrar água do esgoto já tratada”.


José Galizia Tundisi é graduado em História Natural, mestre em Oceanografia pela University of Southampton e doutor em Ciências Biológicas (Botânica) pela Universidade de São Paulo – USP. Atualmente é professor titular aposentado da USP e professor titular do curso de Qualidade Ambiental da Feevale, em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul.


Confira a entrevista.

IHU On-Line – Em artigo recente o senhor afirma que o ciclo hidrológico foi alterado para um ciclo hidrossocial. Em que consiste essa mudança e o que entende por hidrossocial?


José Galizia Tundisi – Ciclo hidrossocial refere-se a todas as atividades humanas relacionadas com o ciclo da água. Podemos dizer que o ciclo hidrossocial é a expressão da atividade humana no ciclo hidrológico.


IHU On-Line – De que modo o crescimento populacional, a urbanização e o aumento na produção de alimentos têm impactado nos recursos hídricos?


José Galizia Tundisi – Crescimento populacional, produção de alimentos e urbanização impactam o ciclo da água pelo uso excessivo da água superficial e água subterrânea e pela degradação produzida por resíduos. Como a quantidade de água é sempre a mesma, o uso excessivo de água leva à depleção. Além disso, a poluição e a degradação pelo uso do solo, e esgotos não tratados impedem o uso de águas superficiais e subterrâneas.

IHU On-Line – Como deveria se pensar a gestão da água na atual configuração social em que vivemos, com aumento populacional e maior produção de alimentos?


José Galizia Tundisi – A gestão da água deve ser feita por bacias hidrográficas. Os usos da água na área urbana devem ser estritamente controlados. A utilização da água na produção dos alimentos deve ter tecnologias mais avançadas. Se a gestão for bem executada em nível de bacias hidrográficas, pode-se assegurar um controle mais efetivo às reservas de águas e maior eficiência no uso.


“Há riscos de esgotamento de recursos hídricos por bacias hidrográficas e uso excessivo do recurso”


IHU On-Line – Quais são os riscos em torno da segurança hídrica nos nossos dias?


José Galizia Tundisi – Os riscos principais referentes à segurança hídrica são: mudanças globais e falta de água; contaminação e poluição que impedem abastecimento efetivo; incapacidade de ministrar água suficiente de boa qualidade para a população humana e para manter o funcionamento dos ecossistemas.


IHU On-Line – Há riscos de esgotamento dos recursos hídricos dado o aumento do uso desses recursos nas últimas décadas?


José Galizia Tundisi – Sim. Há riscos de esgotamento de recursos hídricos por bacias hidrográficas e uso excessivo do recurso. Como a reciclagem é ainda pouco utilizada, há riscos de se esgotarem as reservas devido ao desequilíbrio: precipitação — uso excessivo.


IHU On-Line – O que é o fenômeno de eutrofização e de que modo ele impacta o tratamento da água?

José Galizia Tundisi – A eutrofização é um fenômeno resultante da intensa carga de nitrogênio e fósforo para lagos, represas e rios. É resultado de atividades humanas como a agricultura, urbanização e despejos de esgotos não tratados nos corpos de água. Quanto maiores os graus de eutrofização, maior é o custo do tratamento de água para torná-la potável.


IHU On-Line – Quando se trata de sugerir o reúso de água tratada, que práticas já têm sido implementadas nesse sentido e de que maneira é possível avançar para ampliar o reúso?


José Galizia Tundisi – O reúso de água implica técnicas avançadas para melhorar a qualidade das águas já tratadas. Por exemplo, pode-se melhorar muito a qualidade da água ao utilizar membranas especiais para filtrar água do esgoto já tratada. Este tipo de tratamento já vem sendo realizado por pesquisadores da Universidade FEEVALE com coordenação do professor Marco Antonio Siqueira Rodrigues.


Um novo Centro de Pesquisa em Tecnologias Limpas foi criado só para tratar deste problema do uso de membranas para reúso de água. Isto permitirá ampliar o reúso. O Centro Internacional de Referência em Reúso de Água da Escola Politécnica da USP, em São Paulo, vai na mesma linha.
“Para uma gestão integrada, preditiva e de alto nível é necessário utilizar tecnologias avançadas, participação comunitária e integração de processos econômicos, ecológicos e sociais”


IHU On-Line – O não tratamento do esgoto provoca a perda de recursos hídricos. Considerando que no país somente 40% do esgoto é tratado, é possível estimar quanto se perde em termos de recursos hídricos por conta desse percentual de tratamento?


José Galizia Tundisi – O não tratamento de esgoto perde quantidades abundantes de água pela impossibilidade de reúso. Portanto, perdem-se recursos hídricos pela incapacidade de reúso. Pode-se afirmar que 60% da água utilizada para abastecimento no Brasil é perdida pela incapacidade de reutilização.


IHU On-Line – Há risco de crise de abastecimento hoje no Brasil?


José Galizia Tundisi – Há problemas localizados de abastecimento no Brasil que podem se agravar em função do ciclo hidrológico comprometido e pelo uso excessivo de água. Problemas de impactos de mudanças climáticas podem ocorrer dependendo da região, latitude e longitude. Crise de abastecimento pode ocorrer em grandes regiões metropolitanas que usam muita água sem gestão adequada.


IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?


José Galizia Tundisi – A gestão das águas por bacias hidrográficas é atualmente o grande desafio. Para uma gestão integrada, preditiva e de alto nível é necessário utilizar tecnologias avançadas, participação comunitária e integração de processos econômicos, ecológicos e sociais.


Fonte: EcoDebate

Brasil é 8º no ranking mundial de geração eólica

Em 2015, o País também registrou o primeiro lugar no ranking mundial em fator de capacidade de geração eólica, com 38%


O Brasil subiu sete posições, nos últimos dois anos, no ranking mundial de geração eólica: em 2015, o País alcançou a 8º posição.

Também no ano passado, o Brasil registrou o primeiro lugar no ranking mundial em fator de capacidade (relação entre produção efetiva e capacidade instalada) de geração eólica, com 38%.

O País ainda manteve a quarta posição no ranking mundial de potência instalada. Os dados são do Boletim de Energia Eólica Brasil e Mundo – Base 2015, produzido pelo Ministério e Minas e Energia (MME).

Entre os países analisados, o fator de capacidade do Brasil é 60% superior ao indicador mundial. O destaque do fator de capacidade, que indica o aproveitamento do vento para gerar energia, é resultado do aumento significativo dos avanços tecnológicos em materiais, e no porte das instalações, além da escolha de melhores sítios, o que permite melhor aproveitamento dos ventos.

No atual modelo institucional do setor elétrico brasileiro, 16,6 GW são de potência eólica contratada, dos quais, 9,3 GW se encontram em operação, 3,4 GW em construção e 3,9 GW aptos para iniciar a construção.

Para atingir os 24 GW em 2024, previstos no Plano Decenal de Expansão de Energia – PDE 2024, ainda será necessário contratar 7,4 GW, no período de 2016 a 2021.

No mundo, a Dinamarca apresenta a maior proporção de geração eólica em relação à sua geração total, com expressivos 44,6%. Na sequência, estão Irlanda (24,8%), Portugal (21,7%) e Espanha (18,2%).

Em 2015, o Rio Grande do Norte saiu na frente com a maior proporção na geração eólica brasileira, de 34,6%, seguido pelo Ceará (20,7%) e Bahia (18,5%). Destaque para o expressivo fator de capacidade do Estado da Bahia, com 42,9%.
Fonte: EcoDebate

Analfabetismo ambiental e a preocupação com o futuro do planeta


Uma quantidade imensa de pesquisas, surgidas de diversos cantos, inclusive da academia colocam a questão ambiental entre as cinco maiores preocupações atuais da humanidade.


Há momentos que ela alcança o terceiro lugar neste ranking, só sendo superada por questões mais diretamente ligadas ao cotidiano humano, como insegurança e economia. Embora esses estudos apontem a saúde do planeta como algo crucial, ela é –sem dúvida – a que menos recebe atenção e intervenções diretas sejam por parte de governos ou da própria sociedade.


O jornalismo sob enfoque tanto científico como o ambiental, esse último muito mais organizado em suas relações, se esforça para colocar uma lupa e por vezes uma teleobjetiva macro em ações pontuais na esperança de sensibilizar as pessoas sobre ações positivas ou parte para exemplos trágicos como fenômenos extremos, geralmente ligados ao clima. Mas entre a sensibilização e a ação prática há um abismo, além do perigo de alicerçar a zona de conforto de muito inativos ambientalmente.


Há um latente analfabetismo ambiental e científico, que não é exclusividade brasileira, que colabora fundamentalmente para que os barbarismos da antropização do meio ambiente natural acabem mitigados pela própria mídia ao apresentar soluções individuais, de pequeno alcance. A resposta inconsciente – ou mesmo consciente – é que há gente já trabalhando nesta mudança planetária. Como se isso aplacasse a culpa e, principalmente, a inoperância de grande parte da sociedade. A situação piora se isso mexer com algum interesse particular ou com a alteração do status quo do indivíduo. Vivemos a dicotomia do “precisamos mudar, mas, por favor, não altere nada”.


O homem ainda não se apercebeu que quem está em risco de extinção é sua própria espécie. Ele passará e permanecerá como um registro fóssil, assim como as espécies marinhas, os grandes répteis, os dinossauros e a megafauna, essa já incluindo diversos mamíferos. Em 500 milhões de anos de evolução da vida planetária e de extinções em massa (já que eles ocorrem diariamente em menor escala), a melhor definição do que venha ser a espécie humana vem do jornalista da BBC e naturalista David Attenborough: “ Somos muito mais filhos de desastres naturais que da própria evolução natural”.


A busca por informações ambientais cresce, o assunto ganha espaço desde os debates acadêmicos até as conversas de mesa de bar, criando um paradoxo no mínimo curioso: necessita da informação, de compreendê-la dentro de uma linguagem acessível ao leigo, mas não está disposta a bancá-la.  Os sites e publicações especializadas no tema vivem a mingua para manter-se e diversos já encerraram suas atividades.


A sociedade, em sua esquizofrenia mercantilista, paga altos valores para ter informações de ordem econômica. Mas não faz o mesmo pela ambiental. Para a maioria preocupada com a situação planetária (embora haja uma significativa parcela que sequer busque compreender a gravidade do quadro) compreender que a elevação de um grau centígrado na média térmica mundial esfacelará esse modelo econômico que tanto se preza. Mais difícil ainda se aperceber que suas estruturas sociais se transformaram drasticamente em questões de dias ou mesmo de horas, num colapso fatal.

Existe aí um autismo das sociedades urbanas movidas pelo consumo apregoado por uma economia desenfreada, autofágica e narcisista, além de extremamente egoísta. A beira deste colapso se vê surgir às figuras dos salvadores, que mesmo com a prostração geral, emergirá para a redenção da humanidade e seu rastro de atrocidade.


Vários acreditam na figura de Deus redentorista, difundido pelas religiões monoteístas. Os mais pragmáticos buscam as respostas em governantes mal assessorados e intencionados que surgem com ares messiânicos no universo da política mundial. Ou no empresariado que posa de timoneiro da construção de uma nova ordem mundial. Em todos esses casos há a redenção dos desastres ambientais provocados pelo homem e a perpetuação desta espécie como soberana sobre os demais seres viventes e numa tentativa suicida em controlar o planeta.

Para completar, o universo científico quando não passa a desqualificar os movimentos ambientais, num exercício de ego próprio dos decanos da erudição, diminuíram sensivelmente a divulgação de informações científicas e poucas vezes estabelecem vínculos entre seus trabalhos e de colegas ‘concorrentes’. Infelizmente essa ainda é uma prática comum no meio acadêmico e tão provinciana quanto às tiranias do conhecimento que condenaram Galileu, Pasteur, Darwin e uma infinidade de outros que ousaram enfrentar as elites do saber.


Só haverá real esperança em alterar a dramática situação planetária quando o volume de conhecimento e informações cruciais para a criação de uma massa crítica saltar das dissertações e teses, pesquisas mantidas sob o anonimato e estudos, inclusive inconclusos, deixarem o mofo de seus escaninhos e bibliotecas e saltaram para a democratização do conhecimento.


Enquanto o império do egoísmo não superar essa falta de visão universal estamos fadados a sermos os autores da mais cruel e programada extinção em massa do que chamamos hoje de Terra. 


(#Envolverde)


* Júlio Ottoboni é jornalista diplomado, tem 31 anos de profissão, foi da primeira turma de pós-graduação de jornalismo científico do Brasil, atuou em diversos veículos da grande imprensa brasileira, tem cursos de pós-graduações no ITA, INPE, Observatório Nacional e DCTA. Escreve para publicações nacionais  e estrangeiras sobre meio ambiente terrestre, ciência e tecnologia aeroespacial e economia. É conselheiro de entidades ambientais, como Corredor Ecológico Vale do Paraíba, foi professor universitário em jornalismo e é coautor de diversos livros sobre meio ambiente.  É colaborador Attenborough fixo da Agência Envolverde e integrante da Rebia.


Fonte: Envolverde

África poderia alimentar o mundo inteiro




A agricultura africana pode alimentar o mundo? A resposta é “sim”. Embora ousada, a afirmação se baseia em fatos concretos.

Por Baher Kamal, da IPS –

Roma, Itália, 11/8/2016 –  A África abriga 65% das terras férteis não cultivadas do planeta, 10% dos recursos renováveis de água doce, e sua produção agrícola cresceu 160% nos últimos 30 anos. Esses dados são da Nova Associação para o Desenvolvimento da África (Nepad), o corpo técnico da União Africana, e constam de um informe divulgado em julho, que recorda que a população mundial chegará a dez bilhões de pessoas até 2050.

Assim, “teremos que aumentar a produção agrícola em pelo menos 70%”, alertou a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Como a previsão é de que a proporção da população africana aumentará de 15% a 25% do total mundial, existe um reconhecimento crescente de que seus agricultores terão que desempenhar um papel crucial, afirma a Nepad.

“Podemos e ficaremos contentes em alimentar o mundo. Só precisamos do reconhecimento e de financiamento”, afirmou Raajeev Bopiah, gerente-geral da East Usambara Tea Company, uma empresa da Tanzânia que produz mais de quatro milhões de quilos de chá por ano.

Existem vários obstáculos impedindo que a produtividade agrícola da África melhore, segundo a Agência de Planejamento e Coordenação da Nepad. “Um dos maiores obstáculos é o sistema desordenado de tarifas alfandegárias dos 55 Estados do continente. Só 13 países oferecem entrada sem visto a todos os africanos”, diz o Informe de Abertura de Vistos da África, publicado este ano pelo Banco Africano de Desenvolvimento.

As empresas nas nações sem litoral, em particular, se queixam de que a passagem de seus produtos pelas fronteiras é tão burocrática que costuma gerar enormes perdas, segundo a Nepad. “O transporte na África é muito difícil. É caro, e às vezes arriscado”, ressaltou Ahmad Ibrahim, da African Alligator, empresa de Uganda dedicada à venda de gergelim e amendoim. As esperas nas fronteiras “podem ser longas, e acaba-se perdendo os produtos”, acrescentou.

Órgãos regionais, como a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral e a Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental, conseguiram certo avanço na harmonização dos trâmites aduaneiros e na melhoria de algumas ligações de transporte transfronteiriço, mas muitos apontam que ainda não é o suficiente.

“Também dentro de seus próprios Estados, os governos mostram uma tendência a criar obstáculos ao comércio de forma inadvertida. O regime fiscal incoerente da Tanzânia, por exemplo, faz com que os agricultores pulem de uma cobrança tributária a outra. Os encarregados de pagar as contas dizem que é difícil planejar com muita antecedência por medo de se deparar com faturas elevadas”, indica a Nepad.“Não se pode planejar a longo prazo quando são cobrados novos impostos sem levar em consideração o que é acessível e o que não é”, queixou-se Bopiah.

A má infraestrutura também é um problema em grande parte do continente. As condições das estradas no norte da Tanzânia limitam severamente o volume de mercadorias que a empresa de chá de Bopiah pode transportar no trajeto de 70 quilômetros até o porto de Tanga, no Oceano Índico. “Não dá para transportar mais de quatro toneladas por caminhão nas estradas de terra, contra as 20 toneladas que poderiam ser levadas por vias adequadas. Me custa cinco vezes mais”, afirmou.

Em um exemplo recente, pelo menos dez navios que transportavam 450 mil toneladas de trigo de emergência para as áreas afetadas pela seca na Etiópia no começo deste ano tiveram que esperar durante semanas no mar porque o porto de Djibuti não dava conta do volume da carga, informou a Nepad.

A FAO acrescenta que a falta de silos e fontes de energia erráticas também obrigam muitos produtores de alimentos a recorrer a caros geradores para ativar suas bombas de água e estufas. Cerca de 30% de todos os alimentos produzidos no mundo são desperdiçados ou perdidos por essa razão.

A falta de armazenamento adequado significa que “o continente registra uma perda de alimentos posterior à colheita no valor de US$ 4 bilhões ao ano”,destacou Richard Munang, alto funcionário do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). “A falta de eficiência nas cadeias de valor agregado da África são a base dos problemas alimentares”, ressaltou.

Melhorando e expandindo suas instalações, além de reforçar a produção elétrica, a África poderia alcançar rapidamente a autossuficiência alimentar. Mas a corrupção continua prejudicando o trabalho dos pequenos proprietários e as grandes empresas agrícolas igualmente. E os agricultores também têm limitadas oportunidades de financiamento.

A maioria dos países carece de bancos agrícolas, enquanto os bancos comerciais tendem a considerar a agricultura como uma aposta muito arriscada.“Pensam que o período de gestação é muito longo”, pontuou Bopiah. “Por exemplo, se deseja plantar determinado cultivo, poderia demorar cinco anos para ser amortizado”, acrescentou.

Sem acesso ao crédito, muitos agricultores não podem comprar as ferramentas ou os produtos químicos que lhes permitiriam aumentar seu rendimento. Em um continente onde os rendimentos de trigo podem ser de apenas 1,5 tonelada por hectare (em comparação com três ou quatro toneladas em outros lugares), essas limitações são muito problemáticas.

“Não temos o tempo que os países em desenvolvimento tinham nos anos 1960. Hoje na África é preciso não só produzir melhor, mas também vender melhor no mundo globalizado”,enfatizou Ousmane Badiane, diretor para a África do Instituto Internacional de Pesquisa em Políica Alimentar, informou a Nepad.

Fonte: Envolverde