quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Socorro!! Madeireiros no poder!

Madeireiros tentam comandar municípios que mais desmatam

Por Sabrina Rodrigues
Extração ilegal de madeira na Floresta Amazônica. Foto: Ana Cotta/Flickr.
Extração ilegal de madeira na Floresta Amazônica. Foto: Ana Cotta/Flickr.


O jornalista Alceu Luís Castilho, do site De Olho nos Ruralistas, fez um levantamento detalhado sobre candidatos a prefeitos envolvidos de alguma forma em denúncia relativa à extração ilegal de madeira.


O trabalho aponta o envolvimento de 18 madeireiros que pretendem alcançar (ou se manter) no cargo majoritário em municípios que estão entre os que mais desmatam a Amazônia. Entre eles, está o prefeito de Brasnorte (MT), Eudes Aguiar (DEM), candidato à reeleição. Dono de madeireira, ele foi preso em 2005 numa das maiores operações já feitas contra o desmatamento, a Curupira.


Com 95 acusados de integrar o que foi chamado, então, de “maior quadrilha” a praticar crimes ambientais no país. A madeira retirada ilegalmente encheria 66 mil caminhões.

Saiba Mais
De Olho nos Ruralistas: Dezessete madeireiros tentam ser eleitos nos 52 municípios que mais desmatam no país

Cabras arrasaram com espécie nativa da ilha de Trindade; conheça a história


RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL À ILHA DA TRINDADE

19/09/2016

Ilhas oceânicas evoluíram durante milhões ou milhares de anos, produzindo ambientes muito originais e equilibrados. Isso, até o homem introduzir uma planta ou um animal invasor.


A introdução fazia sentido aos marinheiros das grandes navegações europeias, iniciadas no século 15. A ideia era criar um supermercado próprio de vegetais e especialmente animais, com ênfase naqueles que comem de tudo e se reproduzem rápido –cabras, galinhas, bodes, e porcos.


Só que esses bichos arrasavam a fauna e flora locais. Como aconteceu em várias ilhas famosas –como o Havaí e as Galápagos– e também na pequenina brasileira Trindade.
Segundo Ruy José Válka Alves, do Museu Nacional da UFRJ (Universidade Nacional do Rio de Janeiro), até o século 17 as florestas dominadas pela árvore conhecida pelo nome científico Colubrina glandulosa cobriam 80% da Ilha.


Yamandu Wanders/Orbis Defense
Por ter uma reduzida plataforma costeira, com a ilha surgindo abruptamente do fundo do mar; e pela sua distância do continente, Trindade e sua ilha vizinha e bem menor, Martin Vaz, possuem relevo, vegetação e vida marinha bem distintas e únicas

"Essas florestas ainda estavam vivas e saudáveis em 1700, quando a Ilha foi visitada pelo famoso astrônomo sir Edmund Halley.


Porém, das duas visitas em 1881 e 1889, Edward Frederick Knight (1852-1925) relatou uma floresta morta. As causas de tal degradação podem ser seguramente atribuídas às sucessivas ocupações da ilha por humanos e seus animais domésticos", escreveu Alves.



"A diversidade de espécies vegetais antes de 1700 foi certamente maior que a atual. Como a primeira observação florística da ilha foi feita em 1783, acreditamos que muitas espécies que aí ocorriam já teriam sido eliminadas pelas cabras. Mesmo o quadro da devastação mais recente é impressionante", afirma o pesquisador.


Entre 1959 e 1965, Johann Becker (1932-2004), naturalista e professor do Museu Nacional, fez várias campanhas de coleta em Trindade ele encontrou e amostrou o último espécime vivo de C. glandulosa.
O jornalista viajou a convite da Marinha do Brasil, a bordo do NDCC Almirante Saboia

Desmatamento zero na Amazônia Brasileira: o que está faltando?

(eco)

O desmatamento na Amazônia brasileira sofreu uma drástica redução nos últimos anos. Em 2005, cerca de 19 mil km2 de florestas foram derrubadas, contra 5 mil km2 em 2014. Uma queda de 70%. Um feito que demonstra ser possível avançar no controle da destruição da floresta. No entanto, desde 2012 esta taxa insiste em se manter ao redor de 5 mil km2.


A floresta, portanto, continua sendo removida, só que a uma velocidade menor. A remoção da floresta, combinada com o aquecimento global, poderá gerar impactos nefastos no regime das chuvas e nos ciclos hidrológicos da região. Portanto, o desafio imposto à sociedade está em zerar o desmatamento da Amazônia

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Este cenário de urgência e as estratégias para por fim ao desmatamento na Amazônia estão explicitados no artigo publicado esta semana no jornal científico Elementa. O artigo intitulado“Achieving zero deforestation in the Brazilian Amazon: what is missing?” (“Atingindo o desmatamento zero na Amazônia Brasileira: o que está faltando?”) é de autoria dos pesquisadores Paulo Moutinho e Raissa Guerra do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), e de Claudia Azevedo-Ramos, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA/UFPa). O artigo é parte de uma edição especial da revista Elementa a qual é inteiramente dedicada ao desmatamento na Amazônia.

Além de identificarem as ameaças sócio-político-econômicas à maior floresta tropical do planeta, os autores indicam seis estratégias fundamentais para por fim, de vez, ao desmatamento. São elas: (salvaguardas sócio-ambientais para as grandes obras de infraestrutura da região; incentivos positivos para a produção sustentável de commodities; política socioambiental para os assentamentos de reforma agrária; implementação do Código Florestal; direitos aos povos indígenas e comunidades tradicionais sobre seus territórios, com expansão de áreas protegidas, e; alocação de quase 80 milhões de hectares de florestas públicas ainda sem destinação para a conservação ou uso sustentável.

De acordo com Paulo Moutinho, pesquisador sênior do IPAM, o fim do desmatamento na Amazônia brasileira deveria acontecer muito antes de 2030, data estabelecida pelo governo brasileiro para pôr fim ao problema e que foi anunciada durante a Conferência do Clima, realizada em Paris, no final do ano passado. “Está cada vez mais claro, à luz da ciência, que manter floresta em pé é manter funcionando o regador de uma boa parte da produção agrícola do país e o ar condicionado de vastas áreas na região”, destacou o pesquisador


“No atual contexto de perturbações políticas e econômicas, o desmatamento zero deve ser visto como uma oportunidade para aliar desenvolvimento a preservação, e não como um obstáculo ao crescimento”, enfatizou a pesquisadora Raissa Guerra, que observou ainda a necessidade do controle definitivo desta problemática na região.
Saiba mais sobre o IPAM: www.ipam.org.br
Mais informações para a imprensa:
Cristina Amorim – (61) 9 9127-6994 e cristina.amorim@ipam.org.br
Marcela Marques – (61) 2196-0944 e marcela.marques@ipam.org.br


Sobre o Park Way


Em época de crise hídrica e estiagem, o que menos precisam é cimentar e ladrilhar o Cerrado. O Park Way presta um importantíssimo serviço ambiental para a população do DF. 
 
A  pouca chuva que cai, que tende cada vez mais a ser a regra e não a exceção, penetra exatamente nas áreas verdes que cobrem as residências e áreas verdes do Park Way, abastecendo o lençol freático e cursos d'água, os quais  contribuem para  o sistema hídrico do Lago Paranoá, reservatório este que irá abastecer em breve a população do DF.  
 
 
A CAESB já perdeu várias pequenas captações de água exatamente porque essas foram aterradas e/ou secaram e/ou ficaram poluídas. Já na década de 90,  as que haviam sido desativadas abasteciam cerca de 75 mil pessoas. De lá para cá, outras também pararam de ofertar água. 
 
 
A CAESB pretende agora retornar a captar água em algumas dessas captações. Como dito pelo presidente da ADASA, Dr. Paulo Salles "toda gota conta"( Globo Comunidade, 17/09/2016). 
 
 
Se é assim, toda área verde, todo Cerrado em pé conta. Logo, a comunidade do Park Way volta a afirmar que medidas renitentes do Governo para liberar o parcelamento dos   terrenos Park Way e ocupar as áreas verdes do bairro,  travestida de espírito altruísta de querer ajudar seus moradores liberando comércio não será tolerada.   
 
 
A ponta do iceberg é o comércio, para em seguida vir o parcelamento indiscriminado do Park Way. Assim, reiteramos os 5 princípios que nos regem: 
 

Nós do Park Way lutamos para que nosso bairro seja o espaço onde a paisagem natural prevalece sobre a paisagem construída.  Um lugar em que um visitante percebe e sente que o silêncio de nossas ruas não é um vazio a ser preenchido, mas uma conquista, de anos, que não abrimos mão.  Tudo isso é e continuará a ser um patrimônio coletivo nosso e das futuras gerações se mantivermos 5 princípios norteadores:
1. MANTER a condição de um bairro Residencial Exclusivo;

2. ESTAR inserido em duas unidades de conservação (APA Gama Cabeça de Veado e Planalto Central) e querer permanecer sendo vista como tal. Seja dentro de qualquer instrumento que trate de planejamento e gestão territorial e ambiental;


3. ESTAR dentro de um programa internacional que é  a Reserva da Biosfera da UNESCO. E estar na zona de amortecimento da Reserva que EXIGE baixa densidade populacional;


4. ESTAR na zona de tutela do IPHAN,  uma vez que o Park Way está na bacia do Paranoá, que é a área de tamponamento do Conjunto Urbanístico de Brasília. Isso significa que a Portaria IPHAN n.68 /2012 que dispõe sobre delimitação e diretrizes para a área do entorno de Brasília faz com que haja altura máxima de prédios  também para o Park Way, para não comprometer a visibilidade do horizonte a partir da área tombada;


5.  SER fornecedora de importante serviço ambiental para a população do Distrito Federal.  Afinal, a comunidade, há anos, preserva, regenera e recompõe o Cerrado, para garantir os corredores ecológicos para diversas espécies. E também contribui para a integridade dos ecossistemas aquáticos, ajudando a qualidade e quantidade de água das drenagens que correm para dentro do Lago Paranoá,  futuro reservatório para abastecimento da população do DF. Em época de escassez hídrica, nosso papel é ainda mais importante. 



  


Brasília teria um segundo lago, maior que o Paranoá



Poucos em Brasília devem se lembrar que nos primeiros mapas do Distrito Federal havia uma grande área, delimitada por linha pontilhada, informando onde seria o futuro Lago São Bartolomeu, três vezes maior do que o Lago Paranoá, que tem 40 quilômetros quadrados.



O Lago São Bartolomeu iria de Planaltina a São Sebastião e chegaria, ao sul, quase aos limites com Goiás. Se tivesse sido construído, haveria maior captação de água a pouca distância de áreas urbanas e zonas rurais, possibilidade de ampliar a produção de energia com uma barragem de 25 metros de altura, ligação aquaviária entre regiões distantes, pesca profissional e mais opções de lazer para a população. E os efeitos da seca, com tão extenso espelho d´água, seriam menores.


Os que inviabilizaram o Lago São Bartolomeu têm grande responsabilidade pela crítica situação hídrica de Brasília – não só por não existir o lago, mas também por contribuírem decisivamente para os danos ambientais que exterminaram e reduziram as nascentes em uma ampla área do Distrito Federal.



Ocupações no lugar do São Bartolomeu
O que impediu a construção do segundo lago foram as invasões de terras públicas e os loteamentos ilegais em terras particulares que deram origem a condomínios e expansões urbanas não planejadas. Sempre com a conivência danosa de sucessivos governantes, de parlamentares e de desembargadores e juízes.



As ocupações ilegais começaram na década de 1970, quando Brasília tinha governadores nomeados e nenhuma representação política. Foram aceleradas nos anos 1980, com forte proteção de autoridades, e se consolidaram nos anos 1990, quando grileiros, invasores e compradores tidos como de “boa fé” — muitos, porém, sabendo que estavam cometendo ilegalidades – passaram a contar com a proteção de governadores e deputados eleitos.


Proteção que continua até hoje.


APA não impediu as invasões
O projeto do Lago São Bartolomeu vem desde a construção de Brasília, mas a área da bacia do Rio São Bartolomeu começou a ser invadida nos anos 1970 em três frentes: em Planaltina, na região do Vale do Amanhecer; em São Sebastião, com a expansão da vila; e no Lago Sul com os condomínios de classe média, a partir do Quintas da Alvorada.


Para tentar impedir a ocupação desenfreada e possibilitar a construção do lago artificial, em 1983 foi criada a Área de Proteção Ambiental do São Bartolomeu. Só em 1988, porém, foi concluído o zoneamento ambiental da APA, que já tinha cerca de 20 mil moradores dentro de seus limites. Em 1985 existiam 90 condomínios irregulares na área.


E na década de 1980 o governador ainda não era eleito e não existia Câmara Legislativa. Os interesses não eram eleitoreiros.


Demagogia e interesses financeiros
A situação se agravou depois que o Distrito Federal passou a ter eleições e a definição da política urbana foi guiada por critérios eleitoreiros e demagógicos e visando favorecer a especulação imobiliária. Para ser ter uma ideia, em 1991 o próprio governo de Brasília criou a cidade de São Sebastião, que tinha menos de 8 mil moradores, na APA do São Bartolomeu.



Na verdade, o novo lago já estava inviabilizado pelas ocupações irregulares e parcelamentos ilegais de terras particulares. Diversas nascentes e cursos de rios na região estavam sendo soterrados e poluídos pelos condomínios e expansões do Altiplano, do Jardim Botânico, de São Sebastião e de Planaltina.



Além disso, parecia mais interessante financeiramente, para alguns, a construção de um lago em Goiás, na Bacia do Rio Corumbá.


Quintas é precursor das ilegalidades
O condomínio Quintas da Alvorada, tão defendido hoje por deputados distritais, é o pioneiro dos loteamentos ilegais destinados à classe média. Em 1977, diante das dúvidas quanto à legalidade do registro do imóvel levantadas pela procuradoria-geral do DF, o Tribunal de Justiça deu ganho de causa aos loteadores e abriu precedente para novas irregularidades.


A partir daí novos condomínios ilegais proliferaram na região que vai da barragem do Paranoá até São Sebastião e inviabilizaram de vez a construção do Lago São Bartolomeu, que sumiu dos mapas.


Aliás, desembargadores, juízes e tabeliões já foram punidos por cumplicidade com a grilagem e registros ilegais de terras no Distrito Federal.


Projeto na Saída Norte será alterado
O secretário de Mobilidade, Fábio Damasceno, informa que sua equipe elaborou novas alternativas para os pedestres e ciclistas no trevo de triagem norte, que está sendo construído. Além disso, a Secretaria está discutindo com o Departamento de Estradas de Rodagem (DER), responsável pela obra, um projeto para um parque no local. E, segundo o secretário, haverá faixas exclusivas para ônibus nos novos viadutos.


O projeto do novo trevo no final da Asa Norte está sendo criticado por causar danos ambientais na área – inclusive em nascentes — e não privilegiar o transporte coletivo, pedestres e ciclistas. Damasceno diz que vai apresentar as modificações à comunidade.


Cérebro diminui um sentido para darmos atenção a outro


20/09/2016


Redação do Diário da Saúde

Cérebro diminui audição para dar atenção à visão
"Esta é uma pesquisa básica sobre como o cérebro funciona, e os resultados sugerem muitos caminhos possíveis para novas pesquisas." [Imagem: Linkoping University]
Sentido único
Quando estamos ocupados com algo que requer o uso da visão, nosso cérebro reduz a audição para tornar nossa tarefa principal mais fácil.


"É por isso que não é uma boa ideia falar ao telefone enquanto dirigimos," explica o Dr. Jerker Ronnberg, da Universidade de Linkoping (Suécia).


"O cérebro é realmente inteligente, e nos ajuda a concentrar no que precisamos fazer. Ao mesmo tempo, ele filtra as distrações que são irrelevantes para a tarefa. Mas o cérebro não consegue lidar com muitas tarefas: apenas um sentido em um momento consegue funcionar em seu máximo," detalha ele.


Menos audição para concentrar na visão
Para chegar a essas conclusões, Ronnberg e sua equipe fizeram uma série de experimentos e exames que trouxeram uma compreensão mais profunda do que acontece no cérebro quando nos concentramos em tarefas que requerem o uso de diferentes sentidos.


Os voluntários receberam uma tarefa visual, alguns deles em um ambiente calmo e outros com um ruído de fundo perturbador. Imagens de seus cérebros foram capturadas por um aparelho de ressonância magnética funcional (fMRI) enquanto eles faziam a tarefa. Os pesquisadores também avaliaram a função de memória de curto prazo dos alunos através de um teste de memória com cartas.


Os resultados mostram que a atividade cerebral no córtex auditivo continua sem qualquer problema, desde que tenhamos que lidar apenas com um som.


Mas quando o cérebro recebe uma tarefa visual, como um exame escrito, a resposta dos nervos do córtex auditivo se reduz, e a audição torna-se debilitada. À medida que a dificuldade da tarefa aumenta, a resposta dos nervos ao som diminui ainda mais.


Amortecimento das emoções
A conclusão é que uma elevada carga cognitiva sob a forma de uma tarefa visual compromete a resposta do cérebro ao som.


Além disso, os exames mostraram que o enfraquecimento do processamento ocorre não apenas no córtex, mas também nas partes do cérebro que lidam com as emoções.
Como esta é uma informação que não está envolvida com a solução da tarefa, a equipe afirma que fará novos estudos para tentar elucidar o impacto dessa alteração.


"Esta é uma pesquisa básica sobre como o cérebro funciona, e os resultados sugerem muitos caminhos possíveis para novas pesquisas. O conhecimento adquirido pode ser importante para o projeto de futuros aparelhos auditivos. Outra possibilidade é que a nossa investigação irá estabelecer as bases para estudarmos como a deficiência auditiva influencia a maneira com que podemos resolver tarefas visuais," disse Ronnberg.


Os resultados foram publicados na revista Frontiers in Human Neuroscience.

Humanos, a espécie invasora suprema


Por Fabio Olmos
Fig 1 Peter Snowbal NHMPL
Uma cena que pode ter acontecido na Cueva del Milodon, atual Chile: um Mylodon 
observa uma onça-patagônica Panthera onca mesembrina (uma forma extinta) 
atacar um grupo de cavalos também extintos (Hippidion). 

Ilustração: Peter Snowball, NHMPL


“Vivemos em um mundo zoologicamente empobrecido, de onde todas as formas mais imensas e ferozes e estranhas desapareceram recentemente”.


Alfred Russell Wallace, co-formulador da teoria da evolução pela seleção natural e um dos pais da biogeografia em A Distribuição Geográfica dos Animais (1876)

Em 24 de agosto de 1832 o HMS Beagle chegou a Bahia Blanca, 650 km ao sul de Buenos Charles Darwin, seu mais ilustre passageiro, dedicou sua estadia para explorar a região.
Ali Darwin encontrou ossos de nove espécies de grandes mamíferos extintos, incluindo uma preguiça gigante terrícola que acabou batizada como Mylodon darwini, e de seu primo ainda maior, o megatério Megatherium.


Muito depois, em 1895, ossos, esterco e, incrivelmente, pele de Mylodon foram encontradas na hoje famosa Cueva del Milodon, no Chile. A condição aparentemente fresca dos restos levou alguns cientistas a acreditar que o bicho ainda vivia por ali. Resumindo uma longa novela, na verdade os últimos Mylodon chilenos morreram há mais de 9 mil anos.


Os ossos descobertos por Darwin, estudados pelo grande anatomista Richard Owen, tornam-se provas adicionais da existência de animais extintos. Isso numa época onde muitos acreditavam que a Bíblia provava que a Terra fora criada em 4004 AC e que a extinção era algo impossível, pois Deus não permitiria que meros humanos apagassem sua criação.


O Mylodon era um gigante de 2,5 toneladas que viveu em diferentes habitats no que é hoje o Chile, Argentina, Paraguai, Bolívia e sul do Brasil. Poderia estar pastando no pampa gaúcho até hoje, mas foi extinto uns 8 mil anos atrás.


Há poucos milhares de anos, menos do que a idade de cidades como Jericó (estabelecida em 9.000 AC), mega-animais – Mylodons, mamutes, tigres-dentes-de-sabre, pássaros-trovão - viviam tranquilos sobre a Terra. Até nós nos tornarmos humanos.


Nossa espécie surgiu em algum lugar da África a c. 200 mil anos. Mais um entre vários bichos do gênero Homo que viviam naquela época, todos usando ferramentas, e a maioria o fogo, os sapiens não eram nada muito diferente até algo acontecer há uns 70 mil anos.


Nesse período ocorreu uma revolução cognitiva. Pela primeira vez surgem evidências de arte, pensamento simbólico, imaginação, linguagem complexa e – seu resultado – novas tecnologias. Algo mudou a natureza humana e nos tornou capazes de cooperar em uma escala muito além de nosso círculo pessoal. Algo associado a crenças – memes - que criam identidades comuns entre pessoas que não são relacionadas e a linguagem necessária para espalhar estas crenças. A mesma fonte das religiões e estados nacionais.


A causa provável deste flip mental foi uma mutação que deflagrou um processo de coevolução gene-cultura e se espalhou rapidamente em uma população até então pequena. Mas não é possível desprovar que um certo monólito negro ou outro fator externo tenha tido um papel nisso.


Há 70 mil anos grupos de Homo sapiens deixaram a África e partiram para conquistar o mundo. Dez mil anos depois haviam chegado à China e Coréia, mas a então gélida Europa só seria ocupada a partir de 45-50 mil anos atrás.


Na mesma época, antigos marinheiros colonizaram a Austrália, continente onde primata algum havia colocado os pés. Nas Américas, há certeza de que 15 mil anos atrás já haviam populações humanas estabelecidas, talvez também descendentes de navegadores. É provável que tenham chegado muito antes.


Nossa rápida ascensão como espécie dominante não foi acompanhada por nossa psicologia. Quem já encontrou um leão, tubarão branco ou crocodilo sabe a auto-confiança que milhões de anos de domínio deram a eles. Segundo o historiador Yuval Harari, nós continuamos cheios de medos e ansiedades e nos comportamos como ditadores de repúblicas de bananas, rápidos em optar pelo extermínio do que nos amedronta ou incomoda. Seja uma lagartixa no banheiro ou uma harpia na praça.


Talvez isso explique porque nossa expansão foi acompanhada pelo fim dos outros humanos que já ocupavam as novas posses.


Antecipando o que viria depois, das Guerras dos Bárbaros no nosso nordeste ao genocídio dos Iarumá pelos Kuikúru do Xingu, a expansão dos sapiens coincide com o fim dos neandertais da Eurásia, erectus e hobbits da Indonésia, denisovas da Sibéria e outros que sabemos terem existido graças a genes perdidos entre os nossos. Se a história recente é exemplo, lembranças tanto de encontros amorosos como de violência.



Aqui existiam dragões
Fig 5 Peter Trusler
A Austrália antes da chegada dos sapiens. Um leão-marsupial (Thylacoleo) defende sua presa 
de um dragão (Megalania) enquanto um diprotodon, um canguru-gigante e dois tilacinos 
observam. Um mihirung (Genyornis) foge pela esquerda. 


Ilustração: Peter Trusler / Museu Victoria

A invasão dos sapiens não obliterou apenas outros humanos. O mundo encontrado pelos exploradores que deixaram a África era um mundo de criaturas fantásticas (a BBC fez uma série sobre elas).


Entre Portugal e a Sibéria viviam manadas de mamutes, cervos gigantes, rinocerontes lanudos, unicórnios (Elasmotherium), saigas, auroques, onagros, renas e bois-almiscarados, caçados por leões, hienas, leopardos e gatos-cimitarra.


Após alguns milênios de atrito estes animais estavam reduzidos a refúgios ou extintos, os últimos mamutes morrendo em sua derradeira ilha ao redor de 1.700 AC, quando as pirâmides já eram velhas.


Na isolada Austrália havia pelo menos 54 espécies de grandes mamíferos (mais de 40 kg), além de mihirungs, crocodilos terrestres e dragões. Todos extintos entre a chegada dos primeiros humanos e a do Capitão Cook em mais um processo de atrição que levou milhares de anos.


A extinção de grandes herbívoros - que convertiam biomassa vegetal em carne - e o uso do fogo pelos aborígenes favoreceram espécies pirófilas como os eucaliptos. O continente ganhou vastas regiões sujeitas a incêndios catastróficos, que todo ano assistimos nos noticiários.


Na América do Norte, 34 gêneros de grandes mamíferos foram eliminados, enquanto a América do Sul perdeu 52 gêneros entre a primeira ocupação humana e a chegada de Colombo.


O Brasil de então, com várias espécies de preguiças gigantes variando de maiores que um elefante ao tamanho de um carneiro, gliptodons, mastodontes, macrauquênias, cavalos, lhamas, toxodons, etc., etc., etc., humilharia qualquer savana africana de hoje.


Alguns bichos, como Mylodons, gliptodontes e tigres-dentes-de-sabre persistiram até 7-8 mil anos atrás, 5 mil anos após humanos se tornarem evidentes no registro paleontológico.
Como na Austrália, há evidências de mudanças profundas nos ecossistemas após sua extinção, incêndios mais frequentes e intensos deixando seus rastros nos sedimentos. A paleontologia e comparações com as savanas africanas de hoje fazem pensar que os regimes de fogo que caracterizam o Cerrado de hoje são mais destrutivos do que seriam se a megafauna estivesse presente.


E que somos um bom exemplo de como espécies invasoras causam profundas alterações nos ecossistemas.


Junto com os grandes mamíferos desapareceram dezenas espécies de aves, como pássaros-trovão, condores de bolso e pássaros que direta ou indiretamente dependiam daqueles gigantes, tanto fonte de alimento como engenheiros ecossistêmicos.


Da mesma forma, dezenas (centenas?) de plantas perderam seus dispersores de sementes primários.


Os ecossistemas que temos hoje são muito diferentes, e mais pobres, do que seriam se os sapiens tivessem ficado em casa. Quem fala que não existe natureza intocada está absolutamente certo. Dizer que humanos criaram e mantém ecossistemas mais ricos do que existiriam sem eles tem tanta base científica quanto a astrologia.


Ilhas foram o último refúgio
Figura 3
Tigres-dentes-de-sabre, macrauquênias, cavalos extintos (Hippidion), mastodontes, 
um gliptodonte e uma preguiça-gigante (Megatherium) em um cenário que poderia ser 
o interior do Rio Grande do Sul ou Santa Catarina. Ilustração: Mauricio Antón.


A(s) causa(s) das extinções associadas à expansão humana são tema de velho debate entre quem culpa a mudança climática na transição entre o Pleistoceno e o Holoceno (o período de 11.700 anos atrás até hoje); os que culpam os humanos, seu fogo, seus cães e suas armas; e os que propõem uma combinação de fatores.


Um fato evidente é que ilhas – do Mediterrâneo ao Caribe e Oceania - passaram incólumes pelas mudanças climáticas do Pleistoceno-Holoceno apenas para sofrerem extinções em massa após a chegada dos primeiros humanos.


Pelo menos 13 espécies primas do Mylodon viviam nas ilhas maiores do Caribe. Após darem as boas-vindas ao Holoceno, todas foram extintas, junto com outros mamíferos, corujas gigantes e condores, ao redor de 4.400 anos atrás. Exatamente após a chegada dos ameríndios àquelas ilhas.


As ilhas do Pacífico foram colonizadas apenas nos últimos 3 mil anos. Estima-se que os polinésios – que se expandiram em um processo viral associado a explosões demográficas - eliminaram pelo menos 2 mil espécies de aves. Para entender o desastre, hoje são reconhecidas cerca de 11 mil espécies vivas no mundo, com 140 extintas desde 1500.


A civilização capitalista ocidental ainda não chegou ao nível daqueles povos pré-industriais que tanto inspiraram a ideia do bom selvagem amigo da ecologia.


Os últimos 16 mil anos foram um período de mudanças climáticas rápidas, como o evento chamado Younger Dryas (12.900-11.700 anos atrás), que derrubou as temperaturas médias regionais entre 1 e 6°C em poucas décadas.


Mas isso não era novidade. Eventos similares já haviam acontecido muitas e muitas vezes ao longo do Pleistoceno. O padrão, revelado pelo estudo de DNA antigo, era que quando o clima ficava hostil (para muitas espécies isso significava aquecimento), populações sofriam declínios e as áreas de ocorrência podiam encolher, ficando restritas a refúgios onde o clima e a vegetação eram adequados.


A novidade foi que, começando 50 mil anos atrás, não havia mais refúgios sem populações de sapiens invasores fazendo o que nós fazemos melhor.


Fomos nós
Fig 4_Mauricio_Antón
Parte da fauna que os primeiros sapiens encontraram quando chegaram à Europa. Mamutes, rinocerontes-lanosos, cavalos e leões dividiam a paisagem com os neandertais nativos. Ilustração: Mauricio Antón


Estudos recentes (veja aqui, ou aqui e aqui) demonstram a estreita associação entre a expansão de nossas populações e as extinções observadas (incluídos os neandertais) nos continentes. É inescapável que humanos foram a causa primária e necessária da catástrofe, e o clima causa acessória, com sinergias prováveis em pelo menos alguns casos.


Uma conclusão é que somos a mais destruidora dentre as espécies exóticas e invasoras, embora não nos listem no catálogo oficial das espécies-praga danosas à biodiversidade.
Outra é que se Colombo e Cabral tivessem encontrado uma América sem humanos é muito provável que Darwin (e outros exploradores) tivesse encontrado Mylodons em carne e osso, e não apenas ossos.


É evidente a continuidade entre povos pré-históricos e as civilizações que os sucederam, desde os antigos egípcios até os usuários de iPhone e comedores de muriquis de hoje. E que há muito tempo que não há ecossistemas intocados devido ao legado de destruição ambiental e extinção deixado por povos que nem imaginavam o que era uma bolsa de ações ou para que servia o petróleo.


É irônico que um dos poucos casos onde se tentou atribuir consequências positivas à antiga ação humana se refira às terras pretas da Amazônia. Depósitos de lixo e latrinas deixados por civilizações pré-europeias que adubaram florestas que cresceram somente porque aquelas populações humanas colapsaram, provavelmente graças a germes que acompanharam os primeiros exploradores europeus e seus pets.


É de se pensar o que o registro arqueológico futuro mostrará de nossa civilização. Uma camada de plástico marcando o pico da Sexta Grande Extinção que começou quando uma espécie invasora deixou sua África natal?