sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Evento incentiva pessoas a observarem pássaros e listarem espécies em app colaborativo

quinta-feira, 20 de outubro de 2016


O objetivo é observar o maior número de espécies de aves livres em 24 horas.
 
 

No dia 22 de outubro acontece o Big Day Brasil, evento que reúne pessoas de todo o País para um desafio: observar o maior número de espécies de aves livres em 24 horas. É possível participar de qualquer lugar, seja da janela de casa, nas ruas, em um parque ou numa Unidade de Conservação. O importante é “capturar” a ave com os olhos, sem incomodar o pássaro ou o ninho. 
 
 
 
As espécies observadas devem ser listadas na plataforma colaborativa eBird com informações, fotos e/ou filmes.
 
 
 
 
Como forma de reconhecer a participação e a colaboração do público, haverá uma premiação simbólica para os que observarem o maior número de espécies em geral, maior número de espécies ameaçadas e maior número de espécies em seu Estado.
 
 
 
 
De acordo com Pedro Develey, diretor da SAVE Brasil (Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil) e da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, o movimento contribui para a conservação e conhecimento da biodiversidade brasileira. “Não temos informações suficientes, como distribuição e população, de determinadas aves. Quando o esforço é colaborativo e padronizado, tudo pode ser registrado e comparado ano após ano”, relata.
 
 
 
 
Ele explica que não precisa ser um especialista para participar da ação. “Qualquer pessoa pode contribuir, começando com as aves mais comuns e aumentar o número de espécies e idas a campo, aprendendo cada vez mais”, conta. No ano passado, ele observou 125 espécies em sua casa no interior de São Paulo.
 
 
 
 
Para os que não possuem tanta experiência, o especialista recomenda o uso de binóculos e uma aproximação mais cautelosa. Também deve ser evitada a formação de grupos muito grandes e o uso de equipamentos sonoros perto dos ninhos, pois podem estressar e assustar as aves.
 
 
 
 
O Big Day Brasil 2016 é organizado pela SAVE Brasil (Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil), Avistar Brasil, Observatório de Aves do Instituto Butantan e PUC/RJ, além de contar com o apoio da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.
Fonte: Ciclo Vivo

Concentração De CO² Na Atmosfera Atinge Seu Mais Alto Nível Em Milhões De Anos, Alerta ONU



Citando os graves impactos que os recordes de emissões CO² causaram no mês de setembro, o Escritório da ONU para a Redução do Risco de Desastres (UNISDR) pediu que países aumentem o compromisso com a redução da emissão dos gases de efeito estufa.

 
 
 
 
“É profundamente perturbador saber que os níveis globais das 400 partes por milhão (ppm) já tenham sido alcançados no mês de setembro pela primeira vez”, disse o diretor da agência da ONU, Robert Glasser.
 
 
 
 
Para o diretor-executivo do PNUMA, Achim Steiner, a América Latina e o Caribe estão na “vanguarda” da luta contra o efeito estufa, buscando fontes renováveis de energia para alcançar o desenvolvimento sustentável
 
 
 
 
Citando os graves impactos que os recordes – em 15 a 20 milhões de anos – de emissões CO² causaram no mês de setembro, o Escritório da ONU para a Redução do Risco de Desastres (UNISDR) pediu na semana passada (30) que os governos aumentem o compromisso com a redução da emissão dos gases de efeito estufa.
 
 
 
 
“É profundamente perturbador saber que os níveis globais das 400 partes por milhão (ppm) já tenham sido alcançados no mês de setembro pela primeira vez”, disse o diretor da agência da ONU, Robert Glasser, em comunicado à imprensa.
 
 
 
 
“A última vez que os níveis de dióxido de carbono atingiram esse patamar foi há 15 a 20 milhões de anos”, acrescentou.
 
 
 
 
Segundo Robert Glasser, os níveis mais baixos são geralmente registrados em setembro, o que traduz a improbabilidade de se ver níveis menores que das 400 partes por milhão (ppm) no futuro.
 
 
 
 
“Estamos elevando sistematicamente os níveis de risco de desastres para as gerações futuras. É possível que eventos climáticos mais severos aconteçam nos próximos anos”, sublinhou Glasser.
 
 
 
 
Catástrofes climáticas já são responsáveis por 90% de todas as devastações causadas por desastres naturais. Esses desastres são potencialmente prejudiciais, especialmente para os países de baixa e média renda que contribuem pouco paras as emissões de gases de efeitos estufa, mas têm grandes populações expostas a secas, inundações e tempestades.
 
 
 
 
“Uma ação muito mais vigorosa é necessária para uma razoável chance de limitar o aquecimento global a 2 graus Celsius, embora o Acordo de Paris reconheça que limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius reduziria significativamente os riscos e os impactos da mudança climática”, frisou Glasser.
 
 
 
 
A UNISDR é o ponto focal entre as Nações Unidas e das organizações regionais para a coordenação da redução de desastres.

ACE inaugura jardim sensorial para crianças com síndromes neurológicas em Joinville

terça-feira, 18 de outubro de 2016


Abertura do espaço faz parte da comemoração pelos 30 anos do curso de Fisioterapia

 
 
Imagine como é aprender em uma sala branca fazendo exercícios repetitivos. Agora, imagine como é estar em um local repleto de aromas e texturas, como um jardim. A segunda opção parece melhor, não é? Pensando nisto, a ACE (Associação Catarinense de Ensino) inaugura nesta quarta-feira (19), às 10h, o Jardim Sensorial Maria Iracema, um espaço voltado à reabilitação de crianças com síndromes neurológicas. A inauguração faz parte da comemoração pelos 30 anos do curso de Fisioterapia da instituição, o primeiro em Santa Catarina.
 
 
A ideia, segundo o coordenador do curso, Jean Zipperer, surgiu da necessidade de estimular a reabilitação das 81 crianças cadastradas no atendimento. “A sala branca, com uma pessoa de jaleco branco, fazendo exercícios repetitivos, tudo isso gera muita dificuldade na adesão das crianças. Por isso, quisemos tirá-las de dentro da sala e trazer para o contato com a natureza”, explica. No espaço de cerca de 150m², o equilíbrio e a força das crianças são estimuladas a partir dos elementos do jardim, como bambus, areia, pedras e argila. A estimulação visual, tátil e a partir de aromas também são benefícios do ambiente. 




O espaço está disponível para as crianças há cerca de dois meses e o resultado é comemorado pelo curso. “É muito gratificante ver a resposta dos pais e das crianças. Primeiro havia resistência das crianças em vir pra fisioterapia, mas hoje elas querem vir. Isso foi muito impactante pra nós e os pais também se sentem felizes. Isso suaviza o processo de reabilitação”, conta Jean. As crianças são atendidas no espaço duas vezes por semana.
 
 
 
O Jardim Sensorial leva o nome de Maria Iracema, esposa de Guilherme Guimbala, fundador da faculdade.
 
Fonte: Notícias do Dia
 
 

Jovens brasileiros conquistam prêmio do governo alemão para a sustentabilidade




Os dois apresentaram projetos de suas áreas de atuação e competiram com outros 757 candidatos de mais de 104 países.

Anualmente o Ministério Federal da Educação e Pesquisa da Alemanha (BMBF) realiza o concurso Green Talents. A proposta é incentivar iniciativas com capacidade inovadora de tornar a sociedade mais sustentável, abrangendo diversas áreas da economia, com ideias criativas capazes de responder as questões atuais mais urgentes sobre proteção ambiental. Na edição deste ano, dois brasileiros tiveram destaque e foram premiados: Marina Demaria Venâncio e Hani Rocha El Bizri.
Os dois apresentaram projetos diferentes, dentro de suas áreas de atuação e competiram com outros 757 candidatos de mais de 104 países. Hani, de 29 anos, mestrando em Saúde e Produção Animal pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e pesquisador associado do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), apresentou uma iniciativa focada na sustentabilidade da caça na Amazônia. Enquanto Marina, de 23 anos, estudante de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), tem como foco de sua pesquisa as interconexões entre mudanças climáticas, agricultura e os sistemas alimentares sob uma perspectiva do direito, com ênfase nas políticas públicas agroecológicas brasileiras e suas implicações jurídicas.
O projeto de Hani
A carne de caça, tema estudado por Hani, tem uma importância notável na subsistência das famílias de baixa renda que vivem na região, como as populações indígenas, ribeirinhas e quilombolas.
 Porém, a caça tem afetado fortemente os animais silvestres, pois a atividade contribui para a diminuição de suas populações, o que gera tanto um problema de preservação da biodiversidade como também à segurança alimentar das comunidades. Assim, o projeto do pesquisador visa obter informações reprodutivas desses animais na busca do manejo sustentável desses recursos.
“A nossa técnica inovadora envolve os moradores locais, que nos fornecem os órgãos reprodutivos dos animais que eles caçam habitualmente, partes raramente consumidas. Trata-se de um sistema de fornecimento voluntário que ocorre no dia a dia da vida do morador. Até o momento, obtivemos mais de 1.700 doações em 10 anos de estudos conduzidos na Amazônia brasileira e peruana”, conta o pesquisador.
A partir desses dados, a equipe do pesquisador trabalha com as amostras em laboratório para refinar as informações reprodutivas de mais de 10 espécies de mamíferos (por exemplo, anta, paca, queixada, catitu, cutia, espécies de macacos, etc.), comparando com resultados anteriores e que hoje são obsoletos, já que foram gerados há mais de 30 anos com base em poucos animais de cativeiro. 
Com isso, novos resultados foram gerados. Esses dados reprodutivos representam uma das informações mais essenciais para nutrir modelos matemáticos de sustentabilidade, os quais estimam taxas sustentáveis de caça e as melhores técnicas a serem aplicadas para manter as populações de animais estáveis. Esse trabalho também poderá ser usado para definir estratégias de manejo a serem adotadas pelas comunidades e, assim, garantir uma de suas principais fontes de proteína.
A pesquisa de Marina
O trabalho desenvolvido pela mestranda tem como foco de sua pesquisa as interconexões entre mudanças climáticas, agricultura e os sistemas alimentares sob uma perspectiva do direito, com ênfase nas políticas públicas agroecológicas brasileiras e suas implicações jurídicas.



“Mudanças climáticas, agricultura industrial e insegurança alimentar são apenas alguns dos exemplos das diversas questões que atualmente demandam soluções e abordagens inovadoras, interdisciplinares e integradas no contexto de uma sociedade global que se modifica rapidamente”, coloca a pesquisadora.  Tem-se, assim, que a Agroecologia é uma ciência transdisciplinar que também ficou conhecida na América Latina como uma teoria crítica e um movimento social, que advogam para o estabelecimento de um sistema de produção mais sustentável e socialmente inclusivo.



Recentemente no Brasil foram promulgadas variadas leis relacionadas à temática, com destaque à Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica.  Neste âmbito, enquadra-se a sua pesquisa atual, cujos principais objetivos são melhor compreender e delimitar os princípios, direitos e deveres trazidos ao mundo jurídico por estas novas políticas públicas, bem como sua extensão e mecanismos de cumprimento; revisitar o direito ambiental brasileiro à luz do novo paradigma estabelecido pela Agroecologia, repensando a atual divisão entre as nossas especializadas disciplinas jurídicas e discutir as interconexões entre a recente legislação agroecológica brasileira com as leis existentes relacionadas à agricultura familiar, segurança alimentar e produção orgânico-ecológica, delineando um manual para auxiliar na construção de políticas agroecológicas mais compreensivas e efetivas.
Fonte: Ciclo Vivo

A Amazônia que arde


TEXTO 1
A Amazônia que arde
O ano de 2016 caminha para ser o mais quente já registrado. Enquanto isso, no Brasil, um dos El Niños mais intensos das últimas décadas exacerbou a estação seca em boa parte da na Amazônia.
Quando esses dois quadros se juntaram ao uso inadequado do fogo nos últimos meses, vastos quinhões da Amazônia arderam, com graves consequências para as populações, para a economia e para a natureza.
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a área queimada na região em setembro[1] chegou a 54,5 mil quilômetros quadrados, maior do que o Estado do Rio – extensão pouco menor do que em setembro de 2015, contrariando previsões iniciais de potencial recorde neste ano.
Nem por isso há o que se comemorar: largas áreas de vegetação foram incendiadas. “Sabemos que está ocorrendo o aumento da estação seca na Amazônia e uma alteração no ciclo hidrológico, mas ainda não sabemos direito as causas", diz o cientista Paulo Artaxo, professor na Universidade de São Paulo (USP) e conselheiro do IPAM.
Estresse
De acordo com dados da NASA (agência espacial norte-americana), o solo da floresta amazônica está menos úmido em 2016 do que em 2005 e 2010, dois anos que também registraram secas extremas[2].
A área queimada no bioma aumentou 110% em 2015 em relação à área queimada em 2006, segundo cálculo baseado em informações do Inpe. Enquanto isso, a área de corte raso caiu 56%, ficando estacionada ao redor de 5.000 km2.
Em todo o mundo, as regiões de floresta tropical têm aquecido em média 0,26°C por década desde meados de 1970[3]. “A Amazônia está sofrendo um processo de estresse hídrico devido ao aumento de 1,5°C no último século”, explica Artaxo. “Ao ter um ambiente com uma temperatura alta se aproximando de limiares, isso pode trazer uma fragilidade maior para a região.”
Quando diferentes forças – atividades humanas, como mudança no uso do solo e emissões de CO2, mais fatores naturais, como El Niño – atuam sobre uma mesma região ao mesmo tempo, pesquisas científicas combinadas a políticas públicas precisam ser prioritárias.
"Políticas públicas de longo prazo, monitoramento, presença do Estado e governabilidade estadual são essenciais para definir os próximos rumos do ambiente e da população como um todo", diz o cientista. "Uma estratégia muito importante para o país é melhorar o monitoramento ambiental dos processos que estão acontecendo na Amazônia. Mudanças no uso do solo são só a primeira alteração ambiental numa cadeia muito grande – é preciso monitorá-la completamente.”

TEXTO 2
Um menino esquenta a Amazônia
Em agosto e setembro, o Inpe detectou 425.178 focos de calor no bioma amazônico. Nos mesmos meses de 2015, foram registrados 444.942 focos, cerca de 4% a mais. Já a área queimada cresceu pouco mais de 5%, de 102.965 para 108.655 quilômetros quadrados, na mesma comparação.
Esse fogaréu todo responde pelo nome de El Niño (“O Menino”, em espanhol), que começou no ano passado e só foi perder força no primeiro semestre de 2016.
El Niño é um fenômeno natural climático como consequência do aquecimento fora do normal das águas do Oceano Pacífico na altura da costa do Peru. Conhecido por alterar globalmente os índices pluviométricos e os padrões de vento, no Brasil ele atinge as regiões de formas diferentes. Ao modificar a distribuição de calor e umidade, El Niño geralmente causa excesso de chuva no Sul do país e redução no Nordeste e no Leste da Amazônia.
No período de 2015-2016, a temperatura da superfície do Oceano Pacífico foi a mais alta registrada desde 2001, quando começou o monitoramento de queimadas por satélite. Para piorar, a temperatura da superfície do Oceano Atlântico também esteve acima do normal, o que intensificou a seca e, por consequência, as queimadas na Amazônia este ano[4].
Alta intensidade
O último grande El Niño foi registrado entre 1997 e 1998. O fenômeno causou uma intensa seca na Amazônia, o que aumentou significativamente as queimadas.
Naquele período, estudos do IPAM com IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostraram que na Amazônia os prejuízos com o fogo chegaram a quase 10% de PIB (cerca de US$ 5 bilhões na época). Em 1998, só o SUS (Sistema Único de Saúde) gastou mais de US$ 10 milhões com tratamento de problemas respiratórios na região devido à fumaça das queimadas na região[5]. No Nordeste, a estiagem provocou uma perda de R$ 1,8 bilhão[6] devido a quebras de produção. No Sul, as chuvas ficaram acima da média histórica, causando tempestades e enchentes.
Neste ano, o El Niño foi, além de intenso, extenso (confira gráfico abaixo). “Ainda não podemos atribuir essa intensidade do fenômeno ao aquecimento global; serão necessárias um pouco mais investigações”, explica o pesquisador sênior do IPAM, Paulo Moutinho. “Mas o que se pode já dizer é que, se o avanço do desmatamento e da mudanças climática continuarem, o cenário de grandes secas em boa parte da Amazônia poderá ser algo bem comum no futuro.”
 
TEXTO 3
O (des)controle do fogo
O fenômeno El Niño forneceu o ambiente para as queimadas proliferarem em 2015 e 2016. Mas, ele sozinho não explica por que tantos focos de calor surgiram na Amazônia. Essa conta é do homem.
Na Amazônia, é praticamente impossível que o fogo apareça por causas naturais. Raios, por exemplo. Se o número de focos de calor aumentou neste ano é porque alguém riscou o fósforo em uma situação altamente favorável a propagação das chamas.
“A frequência do fogo natural na Amazônia, ou seja, de quanto em quanto tempo uma mesma área queima sem interferência humana, é de 500 a 1.000 anos”, explica a pesquisadora Ane Alencar, diretora do IPAM. “Pela ação humana, nós diminuímos essa frequência para 24 anos, sendo que há lugares que já queimaram até 12 vezes nesse mesmo período." É uma alta frequência de queima a qual a vegetação não tem tempo para se adaptar”. O resultado é uma mortalidade elevada de árvores, mesmo quando o fogo é rasteiro.
Alencar mapeou o histórico do fogo em 24 anos no Sudeste da região, utilizando dados de sensoriamento remoto e identificando quantidade de material no solo. Sua conclusão é que, apesar de o fogo ser considerado um distúrbio natural da floresta, a forma que se faz o manejo da terra está alterando seu regime na Amazônia, pois ele mexe na dinâmica da região, enquanto as mudanças climáticas potencializam seus efeitos.
"A floresta tem a capacidade de retenção de água no solo, mas não está se recuperando desse processo de seca intensa”, diz a diretora do IPAM. Há um déficit de água acumulada na floresta, que parece aumentar ano após ano. Por isso, qualquer fagulha tem potencial de virar labaredas. “São vários eventos que se sobrepõem, sem que haja um tempo de recuperação do solo.”
Um desses eventos é a conversão de uma área florestada para um campo de soja ou de pasto. Um estudo realizado pelo também pesquisador do IPAM Divino Silvério ao redor do Parque Indígena do Xingu (MT) aponta que áreas de produção tem a temperatura da superfície de 4°C a 6°C, em média, mais alta em comparação a uma área florestada.
"Ao desmatar, o sistema perde capacidade de retirar água do solo mais profundo, assim, a energia do Sol que seria utilizada para gerar vapor d’água passa a ser utilizada para aquecer o solo. Desta forma, o sistema se torna muito mais quente e mais seco", explica Silvério.
Combate
Justamente num ano que se previa crítico, o Ibama (Insttuto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) teve menos dinheiro para combater incêndios florestais na Amazônia. O Prevfogo, um programa do Ibama que todo ano contrata brigadistas para combater queimadas sobretudo em terras indígenas e assentamentos, teve R$ 24,2 milhões no ano passado e contratou 1.400 pessoas. Neste ano, após dois cortes orçamentários e uma complementação, foram R$ 22 milhões, que bastou para contratar 900 pessoas.
"Com o aumento do salário mínimo, a despesa total cresceu, mas o orçamento não acompanhou. Por isso contratamos menos brigadistas", explica Gabriel Zacharias, chefe do Prevfogo. 
Segundo ele, uma estratégia que o programa tem usado nos últimos anos é tentar fazer o manejo do fogo usando o conhecimento tradicional dos índios (23 das 49 brigadas do Prevfogo são indígenas). "Não dá para simplesmente dizer para não queimar. O que nós estamos fazendo é buscar resgatar, por exemplo, a informação de quando os avós dos índios queimavam", diz Zacharias. "O horário da queimada, por exemplo, importa muito na disseminação do fogo."

TEXTO 4
Mais fogo, menos comida
O fogo é uma técnica antiga utilizada pelos índios, para limpar a área e preparar a terra antes do cultivo. No passado, quando usado, o fogo não causava tantos problemas. Porém, em um ambiente cada vez mais seco, as condições naturais do clima que os indígenas estavam acostumados não são mais as mesmas. O risco de se perder o controle do fogo – porque a chuva atrasou, por exemplo – é bem maior agora. Consequentemente, há mais incêndios florestais e muitos indígenas estão perdendo seu cultivo de subsistência.
Segundo a pesquisadora do IPAM, Ane Alencar, é preciso entender como as políticas públicas podem auxiliar em ano de seca extrema e trabalhar com os índios a melhor forma de manejo para enfrentar o problema. “É preciso criar os mecanismos para que eles tenham essa visão de médio prazo e possam se adequar às novas condições climáticas", afirma Alencar.
Uma alternativa para a criação desta visão mais abrangente do problema está na plataforma SOMAI (Sistema de Observação e Monitoramento da Amazônia Indígena), desenvolvida pelo IPAM. Por meio dela, os povos tradicionais têm acesso a informações que impactam suas terras. Com o apoio do Google, nos próximos meses, um boletim digital, o Alerta Clima Indígena, será lançado para levar dados climáticos com mais antecedência aos indígenas.
“Muitos povos indígenas já relatam mudanças nos seus calendários agrícolas, afetando diretamente a segurança alimentar. Ferramenta como o SOMAI e o Alerta Clima Indígena apoiarão tomadas de decisão importantes na gestão territorial, visando a ações de adaptação para esses povos", afirma a coordenadora do núcleo indígena do IPAM, Fernanda Bortolotto.
Produção em risco
Não só o cultivo de subsistência precisa de adaptação. No Pará, o segundo Estado que mais produz cacau no Brasil, os agricultores estão sentindo os impactos da seca. No verão de 2015, diversos produtores relataram a mortalidade de cacaueiros. Esse ano, a safra que deveria ser colhida até agosto atrasou e é esperada uma perda de 50% da produção.
Até os produtores mais antigos estão surpresos com a situação desse ano. Élido Trevisan é um médio produtor em Medicilândia (PA), que produz cacau desde 1977. Ele conta que, em uma safra normal, sua produção é de 1.500 quilos por hectare, mas esse ano vai cair para 900 quilos. “É uma queda muito grande na colheita do cacau, ainda mais considerando que essa foi a única safra do ano. Estamos sofrendo, porque ficamos nove meses sem produção."

TEXTO 5
Os efeitos invisíveis do fogo
Além das labaredas e grandes colunas de fumaça, as queimadas provocam efeitos danosos e de longo prazo que não são imediatamente visíveis.
O primeiro é o empobrecimento do solo. Especialmente em áreas em que o fogo é recorrente, ou seja, quando ele é usado como ferramenta agrícola, ele degrada e afeta a fertilidade da terra, e reduz tanto a produção agrícola quanto sua capacidade de produção.
Nutrientes essenciais às plantas, como nitrogênio, potássio e fósforo, são eliminados. Além disso, a prática reduz a umidade do solo e acarreta na sua compactação, resultando em um processo erosivo.
Na Amazônia, as queimadas se somam ao desmatamento e a secas extremas para ampliar esse processo, uma vez que cada um desses fatores alimenta o seguinte.
Com a crescente demanda por alimentos, a saúde do solo, que é um recurso finito, é uma preocupação mundial. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) cerca de 32% das terras do mundo estão degradadas.
"No Brasil 40% do PIB vem do uso do solo. Se fizermos o manejo de forma equivocada, vamos comprometer o futuro e a segurança alimentar da população. Por isso, é preciso investir na conservação, na recuperação e no bom uso do solo," explica o diretor-executivo do IPAM, André Guimarães.
Aquecimento global
Outro efeito é o impacto no clima. Além de reduzir a capacidade das florestas em armazenar o carbono, as queimas são responsáveis por liberar uma grande quantidade de CO2, o principal gás do efeito estufa, na atmosfera.
Estimativas globais indicam que 70% a 80% do CO2 que chega à troposfera pela queima de biomassa em um ano vem de regiões equatoriais e subtropicais[7].
Na terceira Comunicação Nacional do Brasil à Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças do Clima, divulgada neste ano, as emissões de gases estufa pelo fogo seguidas de desmatamento correspondem a 350 milhões de toneladas de CO2 equivalente (t CO2e) em 2010, que são 63% das emissões totais de uso de solo, como explica o cientista da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Raoni Rajão. “Há também as emissões de mais de 450 milhões de tCO2e que, por serem de fogo que não ocasionaram desmatamento, não são contabilizadas, já que parte disso pode voltar para a floresta em recuperação”, diz.
Quanto mais gases estufa na atmosfera, piores são as mudanças climáticas e mais intensos e frequentes serão os eventos extremos, como as secas – que, por sua vez, alimentam mais fogo, num círculo vicioso e extremamente perigoso para a Amazônia e para quem vive na região.
“Enquanto desmatamento e queimadas forem uma prática corrente na Amazônia, não haverá equilíbrio”, diz Paulo Moutinho, do IPAM.

Reportagem: Karinna Matozinhos (IPAM), com colaboração de Claudio Angelo (Observatório do Clima)
Edição: Cristina Amorim (IPAM)