terça-feira, 15 de novembro de 2016

Papa Francisco pede rapidez para proteger natureza


  • 15/11/2016 18h32
  • Marrocos
Da Agência Ansa
Papa Francisco conversa com jornalistas durante voo da Itália a Cuba (Agência Lusa/Direitos Reservados)
Papa Francisco pediu para que as nações ajam "sem demora" para defender a natureza. O pedido está em uma mensagem enviada à 22ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas  Agência Lusa/EPA/Pool/Alessandro Di Meo/Direitos Reservados


O papa Francisco pediu hoje (15) para que as nações ajam "sem demora" para defender a natureza. O pedido está em uma mensagem enviada à 22ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP22), que está sendo feita em Marrakeche, no Marrocos.  As informações são da Agência Ansa.


"Agir sem demora, de maneira mais livre possível das pressões políticas e econômicas, superando os interesses e os comportamentos particulares", apelou o Papa.



Segundo o pontífice, o Acordo de Paris, que entrou em vigor recentemente, mostra a "grave responsabilidade ética e moral" de todas as nações sobre os "preocupantes impactos" das mudanças climáticas.



O Papa Francisco ressaltou  que os problemas ambientais causam impactos "em toda a humanidade, mas em particular, nos mais pobres e nas gerações futuras, que representam o componente mais vulnerável".



Edição: Valéria Aguiar

Mesmo com chuva, nível dos principais reservatórios do DF não aumenta



Chuvas não foram suficientes para encharcar o solo e os recursos subterrâneos. Racionamento está autorizado desde a semana passada e pode ser posto em vigor a qualquer momento pela Companhia de Abastecimento (Caesb)



Toninho Tavares/Agência Brasília
Toninho Tavares/Agência Brasília
Adasa tem plantado mudas de espécies nativas junto ao reservatório do Descoberto para reter a umidade no local e ajudar na preservação da área
 
A quantidade de chuva que tem caído no Distrito Federal nos últimos dias ainda não foi o suficiente para aumentar o nível dos principais reservatórios da cidade. Segundo dados da Agência Reguladora de Águas do DF (Adasa), até às 7h30 desta terça-feira (15), o nível da Barragem do Descoberto e do Córrego Santa Maria se mantiveram em 19,91% e 40,78%, respectivamente. Juntos, os reservatórios abastecem 2,5 milhões de brasilienses, 86% dos moradores.



Neste cenário, o racionamento de água ainda é uma realidade no Distrito Federal e pode ser decretado pela Companhia de Abastecimento (Caesb) a qualquer momento – desde que informado à população com 24 horas de antecedência. A medida já foi autorizada pela Adasa no último dia 7, quando o índice do Descoberto chegou a menos de 20%. Segundo a Caesb, porém, o racionamento só não chegou aos brasilienses porque a previsão é de que as chuvas continuem e a esperança é de os níveis desejados dos reservatórios sejam retomados.



A situação dos reservatórios de Brasília entraram em estado de atenção em agosto, quando atingiram 60% do volume total. Em setembro, os níveis caíram para 40%, estado de alerta, quando foi declarada situação de escassez hídrica, até que, em outubro, os reservatórios atingiram níveis bem próximos a 20% da capacidade, estado de restrição do uso. Segundo a Adasa, até o momento, nenhuma Região Administrativa do Distrito Federal está com o serviço de abastecimento de água suspenso.



Porém, apesar do racionamento não estar em vigor, os consumidores já estão pagando tarifa dinâmica. Todas as residências e comércios que consomem mais de 10 mil litros de água por mês receberão uma cobrança extra de 20% na tarifa a partir de dezembro por conta da crise hídrica.



Como medida de contenção, a Adasa tem plantado várias mudas de espécies nativas junto ao reservatório do Descoberto, na intenção de reter a umidade no local e ajudar na preservação da área. Distante dos 60% ideais, o volume útil do Descoberto pode ter a queda desacelerada caso se confirmem os 75 mm de chuva previstos para cair sobre a região esta semana pelo Climatempo.

Comentario

A ADASA planta e o GDF desmata muito mais.Assim não adianta. 

Anonimo

8 plantas tóxicas para animais mais comuns em São Paulo

Vida Sustentável


Estudantes da medicina veterinária realizaram uma pesquisa para saber quais as plantas mais causam toxicidade.


29 de março de 2016 • Atualizado às 15 : 39
8 plantas tóxicas para animais mais comuns em São Paulo
A toxicidade da planta copo de leite causa irritação das mucosas, dor severa e edema de glote. | Foto: iStock by Getty Images
Plantas ornamentais, decorativas, que embelezam o ambiente. Apesar de agradáveis, nem todas as plantas são “amigas” dos animais e quem gosta de cultivá-las em casa é preciso se atentar para não expor os bichinhos ao perigo de ingerir substâncias tóxicas. Os casos de intoxicação mais comuns relacionando os dois agentes foram listados por alunos da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP.




“Na tabulação dos dados, a campeã absoluta de ingestão por cães e gatos foi a Dieffenbachia sp, a popular comigo-ninguém-pode. Muito comum nas residências, ela é conhecida pela beleza de suas folhas, facilidade de cultivo, pois são bastante tolerantes à sombra e baixa umidade do ar. A toxicidade desta planta ainda não está totalmente clara, mas acredita-se que grande parte dos sintomas é causada pelo oxalato de cálcio”, afirma a faculdade em nota.




Os estudantes realizaram uma pesquisa com médicos veterinários de clínicas da cidade de São Paulo para saber quais as plantas mais causam toxicidade. Além do nome popular e científico, a lista resume alguns dos sintomas causados pelas substâncias tóxicas, confira abaixo:
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| Foto: iStock by Getty Images
– Antúrio (Anthurium spp): Todas as partes da planta possuem ocalato de cálcio, princípio ativo que oferece riscos à saúde. Os principais sintomas são queimação de mucosas, inchaço da boca, lábios e garganta, edema de glote, asfixia, náuseas, salivação, vômitos, diarreia.
| Foto: Tato Grasso/CC BY-SA 2.5
| Foto: Tato Grasso/CC BY-SA 2.5
Avenca (Adiantum capillus-veneris): Não é nativa do Brasil, mas é cultivada principalmente como planta medicinal. A ingestão de seus brotos pode causar câncer.
beautiful view of a group of colorful flowers in spring
| Foto: iStock by Getty Images
Azaleia (Azalea sp): Considerada símbolo da cidade de São Paulo, portanto encontrada facilmente. Seu princípio ativo é a andromedotixina, um glicosídeo cardiotóxico, cuja ingestão pode causar distúrbios digestivos até seis horas após a ingestão e alterações do débito cardíaco, diminuindo a condutividade elétrica.
Closeup of red poinsettia flowers
| Foto: iStock by Getty Images
Bico-de-papagaio (Euphorbia pulcherrima): Possui o princípio ativo Latex irritante, que tem um aspecto leitoso, e é composto por ésteres de diterpeno. O contato com essa substância causa lesões cutâneas e conjuntivite. A ingestão causa náuseas, vômitos e gastro-enterite.
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| Foto: iStock by Getty Images
Comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia sp): Devido a beleza de suas folhagens e pela crença popular de que a planta traz proteção ao lar é facilmente encontrada. Seus mecanismo de toxicidade são múltiplos e incluem as ráfides de oxalato de cálcio e outras substâncias proteicas e não-protéicas, que irritam as mucosas. A intoxição pode ocorrer por ingestão de qualquer parte da planta, contato ocular e dermal, com sintomas que variam desde edema, irritação da mucosa até mesmo asfixia e morte, sempre causando dor intensa.
Calla lilies in wedding arrangement
| Foto: iStock by Getty Images
Copo de Leite (Zantedeschia aethiopica): Possui oxalato de cálcio e saponinas. O mecanismo de toxicidade é semelhante à comigo ninguém pode, causando irritação das mucosas, dor severa e edema de glote.
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| Foto: iStock by Getty Images
Coroa de Cristo (Euphorbia milii): Apresenta como substância tóxica o Látex irritante, composto de flavonoides e triterpenos. Causa reação inflamatória, causando inchaço, dor vermelhidão e inchaço tecidual.
| Foto: iStock by Getty Images




Espada-de-São-Jorge (Sansevieria trifasciata): Planta ornamental, muito utilizada pois há crença popular de que a planta traz prosperidade. Contém glicosídeos pregnânicos e saponinas esteroidais. Causa dificuldade de movimentação e de respiração devido a irritação de mucosa e salivação intensa.



Além dessas, muitas outras aparentemente inofensivas plantas podem fazer aos bichos. A lista completa do estudo está disponível aqui.




Redação CicloVivo

Projeto usa plantas nativas para transformar o Minhocão


São 3,4 quilômetros de concreto e poluição, que estão com os dias contados.



13 de novembro de 2016 • Atualizado às 22 : 00
Projeto usa plantas nativas para transformar o Minhocão
Além das trepadeiras, o Minhocão deve ganhar árvores, guarda-sóis, cor e muito mais vida. | Foto: Divulgação
O Minhocão é um dos pontos mais criticados e polêmicos da cidade de São Paulo. A construção, que data da década de 70, corta o centro da cidade, colocando carros e muito poluição direto na janela dos moradores vizinhos. Há anos a obra é tema de discussões sobre possíveis demolições ou transformação de seus mais de três quilômetros em parque. Independente dos rumos que esses debates tomarão, algo precisa ser feito com urgência para transformar a serpente de concreto em algo mais bonito. O movimento “Novas Árvores Por Aí”, junto com o coletivo Parque Minhocão, tem a solução: espalhar plantas por todo o elevado.




A proposta é muito simples e barata. Segundo Nik Sabey, um dos criadores do projeto, a ideia é colorir e dar mais vida ao minhocão. “Seja como for, ele precisa ser verde”, comenta o publicitário e ambientalista. De acordo com ele, não é necessário muito mais do que mudas de plantas conhecidas como “trepadeiras”, árvores e alguns fios de aço.




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Imagem: Divulgação




As movimentações para que este sonho se torne realidade já começaram. O primeiro “plantio” ocorreu em um dos acessos próximo à Praça Roosevelt. O segundo local já foi escolhido e, inclusive, até tem uma trepadeira. No espaço,  o único trabalho será instalar um cabo conecte a planta ao outro lado da avenida. O bacana deste tipo de vegetação é que ela se espalha naturalmente, sem que seja necessária muita manutenção, principalmente depois que ela já “pegou”.




A ideia é fazer isso por toda a extensão do elevado. São 3,4 quilômetros de concreto e poluição, que estão com os dias contados. Os movimentos já articulam os próximos passos e o projeto já foi desenhado profissionalmente para que toda a população consiga visualizar o que pode ser feito, quais benefícios a mudança pode oferecer e como uma obra tão feia e criticada pode ser renovada.
Imagem: Divulgação
Imagem: Divulgação
Além das trepadeiras, o Minhocão deve ganhar árvores, guarda-sóis, que garantirão uma sombrinha aos frequentadores do Parque Minhocão, muito mais cor e vida. Os idealizadores querem usar espécies de plantas nativas, comestíveis e que tenham flores, para resgatar a biodiversidade original que se perdeu no meio da urbanização.





Jardins Verticais
Nik Sabey explica que um dos fatores que o incentivou a criar este projeto foram os jardins verticais instalados em prédios próximos ao minhocão. “Eu comecei a passar pela região com mais frequência e quando eu vi o primeiro jardim vertical, eu achei demais. Depois eu fiquei decepcionado quando descobri que eram feitos como compensação ambiental. Aí eu comecei a falar: tem que ter uma saída.”




O principal motivo para a inquietação do publicitário foi pelo fato de que, com os altos custos de um jardim vertical, muitas árvores poderiam ser plantadas nas cidades, proporcionando benefícios em uma escala muito maior.



Foi a partir daí que ele começou a estudar soluções mais acessíveis em termos de implantação, sem que fossem necessários grandes investimentos estruturais, e em termos de manutenção, já que não é possível ter uma equipe regando plantas ou uma tecnologia automatizada que faça isso diariamente. A solução foi simples: trepadeiras, que, segundo ele são “soluções que fazem a diferença e que são muito simples de serem instaladas”.
Acompanhe a página do movimento “Novas Árvores Por Aí” e saiba como fazer parte deste projeto.





Por Thaís Teisen – Redação CicloVivo

Maior aquífero do mundo fica no Brasil e abasteceria o planeta por 250 anos





Carlos Madeiro
Do UOL, em Maceió



Imagine uma quantidade de água subterrânea capaz de abastecer todo o planeta por 250 anos. Essa reserva existe, está localizada na parte brasileira da Amazônia e é praticamente subutilizada.


Até dois anos atrás, o aquífero era conhecido como Alter do Chão. Em 2013, novos estudos feitos por pesquisadores da UFPA (Universidade Federal do Pará) apontaram para uma área maior e deram uma nova definição.



"A gente avançou bastante e passamos a chamar de SAGA, o Sistema Aquífero Grande Amazônia. Fizemos um estudo e vimos que aquilo que era o Alter do Chão é muito maior do que sempre se considerou, e criamos um novo nome para que não ficasse essa confusão", explicou o professor do Instituto de Geociência da UFPA Francisco Matos.



Segundo a pesquisa, o aquífero possui reservas hídricas estimadas preliminarmente em 162.520 km³ --sendo a maior que se tem conhecimento no planeta. "Isso considerando a reserva até uma profundidade de 500 metros. O aquífero Guarani, que era o maior, tem 39 mil km³ e já era considerado o maior do mundo", explicou Matos.





O aquífero está posicionado nas bacias do Marajó (PA), Amazonas, Solimões (AM) e Acre --todas na região amazônica--, chegando até a bacias subandinas. Para se ter ideia, a reserva de água equivale a mais de 150 quatrilhões de litros. "Daria para abastecer o planeta por pelo menos 250 anos", estimou Matos.



O aquífero exemplifica a má distribuição do volume hídrico nacional com relação à concentração populacional. Na Amazônia, vive apenas 5% da população do país, mas é a região que concentra mais da metade de toda água doce existente no Brasil.




Por conta disso, a água é subutilizada. Hoje, o aquífero serve apenas para fornecer água para cidades do vale amazônico, com cidades como Manaus e Santarém. "O que poderíamos fazer era aproveitar para termos outro ciclo, além do natural, para produção de alimentos, que ocorreria por meio da irrigação. Isso poderia ampliar a produção de vários tipos de cultivo na Amazônia", afirmou Matos.



Para o professor, o uso da água do aquífero deve adotar critérios específicos para evitar problemas ambientais. "Esse patrimônio tem de ser visto no ciclo hidrológico completo. As águas do sistema subterrâneo são as que alimentam o rio, que são abastecidos pelas chuvas. Está tudo interligado. É preciso planejamento para poder entender esse esquema para que o uso seja feito de forma equilibrada. Se fizer errado, pode causar um desequilíbrio", disse.




Mesmo com a água em abundância, Matos tem pouca esperança de ver essa água abastecendo regiões secas, como o semiárido brasileiro. "O problema todo é que essa água não tem como ser transportada para Nordeste ou São Paulo. Para isso seriam necessárias obras faraônicas. Não dá para pensar hoje em transportar isso em distâncias tão grandes", afirmou.

Aquecimento bate 1,2ºC em 2016

Por Por Camila Faria e Claudio Angelo, do Observatório do Clima
Maxx Dilley (esq.) e Petteri Talaas (centro), da OMM, explicam a tendência de temperatura de 2016. Foto: Claudio Angelo/OC.
Maxx Dilley (esq.) e Petteri Talaas (centro), da OMM, explicam a tendência de
temperatura de 2016.

Foto: Claudio Angelo/OC.


O aquecimento da Terra nos primeiros nove meses de 2016 chegou a cerca de 1,2oC acima da média pré-industrial e há hoje 95% de chance de que o ano termine batendo o recorde absoluto de mais quente desde o início dos registros.


O recado vem da Organização Meteorológica Mundial, que lançou nesta segunda-feira na COP22, em Marrakesh, seu balanço anual preliminar O Estado do Clima.


Segundo o documento, as temperaturas globais entre janeiro e setembro foram 0,88oC mais altas que a média do período 1961-1990, e cerca de 1,2oC maiores que a média pré-industrial. Em 2015, o planeta atingiu 1oC acima da média pré-industrial. Em algumas regiões do Ártico russo, as temperaturas chegaram a 7oC acima da média.


Recordes de eventos extremos foram batidos novamente ao longo de todo o ano: no verão, uma localidade no Kuwait atingiu 54oC, a temperatura mais alta já registrada na Ásia; a Tailândia bateu seu recorde absoluto, com 44,6oC; furacões atingiram o Sudeste Asiático, as ilhas do Pacífico, a Coreia do Norte e o Caribe, com o furacão Matthew encabeçando a lista das tempestades mais letais: 546 mortos no Haiti. A única porção de terra do mundo com temperaturas abaixo da média neste ano foi uma região entre o norte da Argentina, o Paraguai e a Bolívia.


Um relatório do Banco Mundial lançado também nesta segunda-feira em Marrakesh dá uma dimensão dos impactos desses extremos: segundo o banco, o prejuízo causado por desastres naturais no mundo tem sido subestimado em 60%: as perdas em consumo chegam a US$ 520 bilhões 26 milhões de pessoas são empurradas para a pobreza todos os anos.


Alta velocidade

O salto de 0,2oC em apenas um ano é uma mudança de marcha desde o início das medições globais com termômetros, em 1880. Daquela época até 2012, o planeta aqueceu 0,85oC e, de 2012 a 2015, 0,15oC.


De acordo com o secretário-executivo da OMM, Petteri Talaas, a tendência atual de aquecimento foi turbinada pelo forte El Niño de 2015/2016, que além de elevar a temperatura dos mares causou uma série de outras perturbações nos ecossistemas que ajudaram a impulsionar ainda mais a subida do termômetro global. Alguns desses fenômenos, como os megaincêndios florestais do Canadá deste ano, ainda mantiveram as emissões de CO2 em alta, mesmo com uma estabilização no setor de energia em 2015.


As temperaturas seguem elevadas mesmo nos últimos meses, com a reversão do El Niño para La Niña, quando as águas do Oceano Pacífico resfriam. “É provável que a temperatura não seja tão alta no ano que vem”, disse Maxx Dilley, chefe de Previsão de Clima e Adaptação da OMM. No entanto, prosseguiu, “a mudança está acontecendo muito mais rápido que a capacidade do processo de acompanhar”.


O “processo” a que Dilley se referiu é o Acordo de Paris, o único mecanismo internacional já proposto para enfrentar a mudança do clima. O acordo está tendo os detalhes de sua implementação rascunhados na COP de Marrakesh, que entra em sua fase decisiva nesta terça-feira, com a chegada de ministros de 196 nações.


Paris estabelece que o mundo precisa estabilizar o aquecimento da Terra em bem menos de 2oC em relação à era pré-industrial e fazer esforços para limitá-lo a 1,5oC.


Na hipótese de os próximos anos repetirem o salto de temperatura de 2016, o limite de 1,5oC terá sido ultrapassado em 2018. A chance de isso acontecer é muito baixa, mas a série de recordes de extremos climáticos deste ano ajuda a pôr em perspectiva a dificuldade que o mundo terá de cumprir a meta.


Falando a jornalistas nesta segunda-feira em Marrakesh, o finlandês Petteri Talaas praticamente descartou que seja possível evitar a ultrapassagem da meta de 1,5oC sem recorrer a tecnologias de emissão negativa – ou seja, de captura ativa de carbono da atmosfera.


“[A meta de 1,5oC] ainda é factível, mas precisaremos de um declínio muito dramático nas emissões ao longo dos próximos anos, e a questão passa a ser quão preparados os países estão para gerenciar esse declínio.”


Talaas recusou-se a comentar o impacto que a eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA terá sobre as metas de Paris e a tendência de aquecimento. No fim de semana, relatos na imprensa internacional afirmaram que Trump quer retirar os EUA do Acordo de Paris, como prometeu na campanha, da forma mais rápida possível.


Balanço de carbono
A única boa notícia da manhã de segunda-feira em Marrakesh foi dada pelos pesquisadores do Global Carbon Budget Project, ligado à Universidade de East Anglia, no Reino Unido.



Eles afirmaram que as emissões de CO2 por queima de combustíveis fósseis em 2016 devem ficar estagnadas pelo terceiro ano consecutivo.


A redução no uso de carvão mineral para geração de eletricidade nos EUA e na China estão entre os principais fatores da redução. No entanto, alertou a equipe britânica, as emissões por mudanças de uso da terra continuaram altas, o que fez com que a concentração de gases-estufa na atmosfera aumentasse. Desmatamento na Indonésia (cujas florestas contêm muito mais carbono que as da Amazônia) e incêndios florestais no Canadá estão entre as causas do crescimento.
Republicado do Observatório do Clima através de parceria de conteúdo. logo-observatorio-clima

‘Outros países preencherão vácuo dos EUA’

Por Claudio Angelo, do Observatório do Clima
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Se Donald Trump abandonar a ação contra as mudanças climáticas, como vem indicando que fará, estará abrindo espaço na cena internacional para outras lideranças, como a China, a Rússia e até mesmo o Brasil. Esses países poderão usar sua liderança no clima, no vácuo dos EUA, como escada para uma ascensão global em outros temas.



A aposta é de Christopher Field, da Universidade Stanford, e Katharine Mach da Carnegie Science, nos EUA, e respectivamente coordenador e coordenadora-adjunta de um dos grupos que produziram o Quinto Relatório de Avaliação do IPCC, o painel do clima da ONU.



Ambos chegaram a Marrakesh para a COP22 no dia seguinte à eleição do magnata para a Presidência dos Estados Unidos. Como vários outros participantes da conferência, ainda tentavam se recuperar do choque de ter como homem mais poderoso da Terra um homem que chamou a mudança climática de “fraude” e que já disse, durante a campanha, que estimularia o setor de óleo e gás e ressuscitaria a indústria do carvão em seu país.



Os cientistas apostam em que há limites para as bravatas de Trump no setor de energia. “Quem está ganhando a guerra contra o carvão é o gás natural, não as regulações”, diz Mach. Field completa o raciocínio e diz que, se o republicano de fato quiser estimular a extração de óleo e gás não-convencionais, por meio do “fracking” (fraturamento hidráulico), estará automaticamente minando a possibilidade de o carvão ser competitivo, já que foi o preço baixo do gás que possibilitou a redução do uso de carvão – e das emissões do setor elétrico.



No entanto, prosseguem, Trump poderá reduzir incentivos ao desenvolvimento de energias limpas nos EUA, o que minaria a capacidade do país de ser líder nesse tema, como vem sendo especialmente no segundo governo de Barack Obama. “Outros países poderiam tomar a dianteira”, diz Field.



Na semana passada, Marrakesh já viu um movimento nesse sentido. Os negociadores da China deram uma entrevista coletiva para dizer que seu país não de desviaria da ação que tem tomado para desenvolver (e vender) tecnologias energéticas limpas e que, embora entendessem que a liderança na cena climática seja atribuição dos países desenvolvidos, “nós ficaríamos felizes se a ação da China estimulasse outros países”.



Field e Mach falaram ao Observatório do Clima no Bab Ighli, centro de eventos que abriga a COP22, na noite de quinta-feira, antes de uma fonte do governo Trump ter dito à agência Reuters que o presidente eleito buscaria a via mais rápida possível para abandonar o Acordo de Paris. Leia a entrevista.


Chris Field. Foto: Stanford University
Chris Field. Foto: Stanford University

Quão ruim é a vitória de Donald Trump para o clima?
Chris Field: Acho que houve declarações contraditórias de Trump durante a campanha. Por um lado, ele disse que está interessado em legitimamente proteger o ambiente e, por outro, ele é a favor de se livrar de um monte de regulações ambientais e de acordos internacionais. Essas afirmações são inconsistentes entre si. A maioria das regulações ambientais é boa para o ambiente e para a economia. Isso quer dizer que Trump vai se ater às evidências? Ou sua administração vai ignorar as evidências e se livrar das regulações? Eu queria muito saber a resposta, ou ser otimista sobre a resposta.



Katharine Mach: Trump disse várias vezes que quer incentivar o óleo e gás e trazer de volta o carvão. O que é interessante aqui é que, domesticamente, quem está ganhando a guerra contra o carvão é o gás natural, não as regulações. Vários Estados estão empurrando as renováveis hoje em dia. E todos os cinco Estados que têm mais energia eólica votaram em Trump. Então é interessante pensar nisso: a maioria dos americanos acha que o clima está mudando e querem ver ação a respeito, e ao mesmo tempo eles podem dizer, bem, energia limpa trata de gerar empregos, construir economias sólidas e limitar riscos catastróficos. Em muitos aspectos é só ganha, ganha, ganha ganha, de formas que os apoiadores de Trump gostariam.



Como se compara isso com a era Bush, quando um presidente republicano também assumiu e rejeitou a ação climática?
Chris Field: Há um par de coisas fundamentalmente diferentes entre os anos Bush e os dias de hoje. A primeira é que naquela época se podia questionar legitimamente se a mudança climática causada por humanos era um assunto importante. Isso está fora de questão hoje. E os poucos céticos do clima que ainda restam estão à margem do sistema global.(Jair Bolsonaro? Olavo de Carvalho?)

 Outra grande diferença é que os renováveis em todos os casos são competitivos em custo com os combustíveis fósseis e, em muitos casos, são a opção mais barata. Nós saímos de um ambiente no qual se encarava a redução das emissões de gases de efeito estufa como um sacrifício. O Brasil é claramente um líder na implementação de biomassa competitiva, por exemplo.



Quão importante é a liderança dos EUA? É importante, em parte porque os EUA têm uma tradição de ser um grande emissor, mas também têm uma tradição de ter preocupação com os rumos que o mundo toma. E capitular dessa liderança é sem dúvida um problema sério. E outros países veem isso potencialmente como uma oportunidade para seus ambientes diplomáticos, e um vácuo na liderança americana é uma oportunidade para a China, a Índia, a Rússia, o Brasil, de serem mais influentes no palco global. E para reconhecer que ser um líder no clima é uma das maneiras de ser líder em assuntos globais. E eu espero que os EUA não estejam preparados para sacrificar essa liderança. Mas, se estiver, nós estamos vendo mais e mais países interessados em tomar a dianteira.



O que quer dizer então é que, ao renunciar da liderança no clima, os EUA estariam abdicando de…
Chris Field: …de liderar em uma ampla gama de outros temas.
Em termos das implicações para o clima, se os EUA adotarem a abordagem de ir mais devagar, quão mais rápido o clima aqueceria? E isso tem dois componentes: um o que acontece nos EUA e outro, como a percepção da inação dos EUA afeta outros países. Sobre o primeiro aspecto, honestamente, se eu olho para a dinâmica que está afetando as emissões dos EUA, em sua maior parte, é o preço baixo do gás natural e a troca do carvão pelo gás natural, o que basicamente não tem nada a ver com regulação de emissões. E isso deve continuar em qualquer administração.



Trump falou muito em favor de encorajar o fracking, e, se o fracking for estimulado, não há hipótese de o carvão ser competitivo. A questão real passa a ser o que acontece com os renováveis, e aqui nós estamos vendo um crescimento muito rápido das renováveis, mas também trabalhamos num ambiente no qual energia eólica e energia solar têm isenções fiscais importantes e a remoção dessas isenções provavelmente retardaria a penetração das renováveis no setor de eletricidade. E retardariam o progresso dos EUA na redução de emissões. No longo prazo, a maior implicação seria que isso minaria a capacidade dos EUA de ser um líder no desenvolvimento, nas vendas e nos ganhos econômicos advindos das tecnologias limpas. Outros países poderiam tomar a dianteira.



Porque, na época de Bush, quando as empresas solares americanas se mudaram para a Alemanha, o mercado não era tão grande, nem a China estava vendendo painéis solares baratos no mundo todo.
Chris Field: Mas há outros países que estão prontos para competir, não apenas na produção de energia, mas em toda uma gama de soluções climáticas, desde carros eficientes até construções eficientes, até iluminação e eletricidade. As tecnologias mais importantes do século 21 poderão ser as tecnologias limpas, e eu acho muito difícil de acreditar que os EUA possam abandonar sua capacidade de ser líder nessas áreas.



Vocês acham que essas indústrias hoje têm poder suficiente para pressionar Trump?
Chris Field: Você esperaria que as indústrias tradicionais, moribundas, fossem as que têm poder político, e as indústrias emergentes fossem ter problema. Certamente há algumas empresas gigantes de óleo e gás que ainda têm poder, como a Exxon Mobil, a Chevron. Mas onde o dinheiro corre mesmo é nos Googles e Facebooks e nas empresas de tecnologia que também são players importantes no setor de soluções climáticas. Muita coisa tem a ver com o mapa político nos EUA e com onde as indústrias tradicionais, como o carvão, têm um papel nas alavancas do poder político. Uma coisa que a eleição mostrou foi quão desigual é a distribuição do poder político, com as zonas rurais tendo uma influência desproporcional nos resultados da eleição.



E quanto à ciência? Eu sempre tenho a impressão de que cientistas americanos ainda sofrem um estresse pós-traumático da era Bush e, justo quando estavam começando a se recuperar dele, Trump foi eleito. Vocês temem isso?
Chris Field: Baseado na minha experiência no IPCC, eu não diria que os cientistas americanos tenham sido mais conservadores em suas abordagens do que os outros. No último relatório do IPCC, vimos alguns cientistas em todos os grupos de trabalho muito cautelosos na maneira como eles abordam as questões. As recompensas dentro da ciência sempre foram meio desalinhadas com as motivações de informar a sociedade.



A ciência sempre enfatiza muito ter certeza sobre o resultado antes de publicar. A comunidade científica tem demorado um pouco a entender a diferença entre os critérios de prova que são adequados para demonstrar que um fenômeno ocorre e os critérios de precaução adequados para entender o risco. Eu não sei se os cientistas americanos fazem isso menos bem que cientistas em outras partes do mundo.
Katherine March. Foto: Stanford University
Katherine Mach. Foto: Stanford University



E claro que é cedo ainda para dizer se Trump vai cortar financiamento à ciência do clima, certo?
Chris Field: A única coisa que dá para dizer sobre isso neste momento é que Trump fala um bocado sobre um setor de empreendedorismo vibrante e, se há alguma coisa muito clara na história, é que um setor empresarial vibrante depende de uma pesquisa e desenvolvimento vibrantes e isso, por sua vez, tem na ciência acadêmica uma componente-chave. Eu não posso dizer que tenha ouvido boas coisas a esse respeito de Trump durante a campanha, mas acho que são maciças as evidências de que devemos continuar a buscar um comprometimento grande, na verdade maior, à P&D se quisermos ter a liderança econômica de que ele tanto fala.



Katharine Mach: O ponto é mover-se para além da questão de se os humanos estão causando as mudanças climáticas para não só existe o entendimento de que ela está acontecendo como nós conseguimos ver os impactos em tempo real. A agenda de P&D não toca mais na questão de se é real, mas do que podemos fazer a respeito.



Chris Field: Acho que tudo se resume à questão: Como fazemos dinheiro no século 21? Se fizermos dinheiro fazendo painéis solares melhores ou veículos elétricos melhores, então a última coisa que você vai querer é dizer: “Vamos parar com isso, porque isso também ajuda o clima”. Precisamos ser espertos. Se tem uma coisa com a qual eu concordo com Trump é que nós precisamos ser espertos com as nossas escolhas.


As pessoas ontem estavam, “é só um presidente”, mas é também um Senado republicano, uma Câmara republicana e talvez uma Suprema Corte republicana.
Chris Field: Tudo isso é verdade. Acho que o impacto que uma administração Trump pode ter sobre o clima, a saúde, é imenso. Uma coisa boa sobre os EUA é que nós temos um amplo conjunto de Estados e governos locais. Nos últimos anos a maioria dos projetos mais estimulantes no clima veio de Estados como Califórnia, Washington, Oregon, Nova Inglaterra. Eles estão dizendo muito sobre os EUA e o resto do mundo, e duvido que a administração Trump, mesmo se tentasse, poderia fazer muita coisa para suprimir as iniciativas locais.

Republicado do Observatório do Clima através de parceria de conteúdo. logo-observatorio-clima