quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Incêndios na Floresta Amazônica acarretam uma redução de 94% das espécies de árvores




Incêndios na Floresta Amazônica acarretam uma redução de 94% das espécies de árvores. Entrevista especial com Erika Berenguer
IHU
A área de queimada em quatro municípios do ParáSantarém, Belterra, Mojuí dos Campos e Uruará — foi de “7.400 km2, afetando 12% da Floresta Nacional do Tapajós, uma das Unidades de Conservação mais estudadas do país”, informa Erika Berenguer à IHU On-Line. Segundo ela, “só a área queimada nesses quatro municípios é maior do que todo o desmatamento registrado no mesmo período em toda a Amazônia Legal”.



A pesquisadora explica, na entrevista a seguir, concedida por e-mail, que entre os fatores que contribuem para o aumento das queimadas na Amazônia, destacam-se “o uso do fogo no preparo da terra para cultivo”, o fato de as florestas estarem “cada vez mais degradadas” e ainda os efeitos das mudanças climáticas. “Os agricultores, em sua grande maioria, usam as queimadas com cuidado, porém o clima cada vez mais seco e quente na região amazônica devido às mudanças climáticas tem contribuído para as queimadas saírem de controle, virando grandes incêndios acidentais, que queimam áreas de cultivo e benfeitorias, assim como adentram as florestas, queimando-as”, diz.



Erika lembra que anos atrás, quando o fogo entrava na floresta, os efeitos não eram devastadores porque a floresta era bastante úmida, no entanto a “extração de madeira” e os “incêndios” têm causado uma “grande mortalidade da vegetação, o que resulta em muitas folhas e galhos no chão da mata e gera clareiras no meio da floresta. Essas clareiras permitem uma maior entrada de luz solar e de vento, deixando a floresta mais seca. A combinação de uma floresta mais seca e cheia de combustível no chão a torna muito mais vulnerável aos incêndios, gerando então um ciclo vicioso”, explica. Entre os resultados negativos desse processo, a pesquisadora menciona, após ter acompanhado de perto os incêndios durante três meses na região de Santarém, que “as matas que já sofreram tanto com a extração madeireira quanto com os incêndios apresentam uma redução de até 94% das espécies de árvores, 86% das espécies de besouros rola-bosta e 54% das espécies de aves”.



Para reverter esse processo, Erika pontua que é necessário “evitar uma maior degradação das florestas, como, por exemplo, maior fiscalização e punição de extração ilegal de madeira”. Em períodos de secas extremas, frisa, é essencial que “sejam direcionados incentivos financeiros de emergência para os municípios que geralmente têm maior ocorrência de incêndios. Tais incentivos teriam o objetivo duplo de prevenir os incêndios antes do desencadear da seca e de combater os incêndios após o início da seca”.



Erika Berenguer é bióloga graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutora em Ecologia pela Lancaster University, Reino Unido. É pesquisadora nas universidades britânicas Lancaster e Oxford. Há 14 anos trabalha com os impactos antrópicos nas florestas tropicais, focando primeiro na Mata Atlântica e, ao longo dos últimos 8 anos, trabalhando na Amazônia. Está envolvida em projetos que buscam desenvolver um maior entendimento sobre os possíveis impactos da fragmentação, da extração de madeira e dos incêndios acidentais na biodiversidade e nos estoques de carbono das florestas afetadas.



Confira a entrevista.



IHU On-Line – Quais são os dados mais atuais em relação às queimadas na Amazônia? O que esses dados demonstram em relação a outros momentos em que as queimadas foram monitoradas?
Erika Berenguer – Os dados mais recentes sobre incêndios na Amazônia nos mostram que estes aumentam em anos de seca extrema, como a do ano passado, que foi causada pelo El Niño. Por exemplo, em 2015 (ano de um El Niño de grande porte) o INPE registrou mais de 87 mil focos de incêndios, um aumento de 48% em relação a 2014 (um ano sem El Niño) e de 23% em relação a 2010 (ano de um El Niño de médio porte). Uma análise recente do Imazon mostrou que a área queimada só na região de Santarém, Belterra, Mojuí dos Campos e Uruará, municípios vizinhos no estado do Pará, foi de 7.400 km2, afetando 12% da Floresta Nacional do Tapajós, uma das Unidades de Conservação mais estudadas do país. Para se ter uma ideia da dimensão do problema, só a área queimada nesses quatro municípios é maior do que todo o desmatamento registrado no mesmo período em toda a Amazônia Legal!



IHU On-Line – Quais são os fatores que contribuem para que haja queimadas na Amazônia? De que modo é possível reduzi-las?
Erika Berenguer – Atualmente existem uma série de fatores que atuam em conjunto para contribuir com os incêndios acidentais na Amazônia, dentre eles, três se destacam: o uso do fogo no preparo da terra para cultivo, as florestas cada vez mais degradadas e as mudanças climáticas. Tradicionalmente, os agricultores usam as queimadas para limpar a terra que estava em pousio, ou seja, sem ser usada para plantio por alguns anos. Os agricultores, em sua grande maioria, usam as queimadas com cuidado, porém o clima cada vez mais seco e quente na região amazônica devido às mudanças climáticas tem contribuído para as queimadas saírem de controle, virando grandes incêndios acidentais, que queimam áreas de cultivo e benfeitorias, assim como adentram as florestas, queimando-as.



Apesar de 91% dos agricultores construírem barreiras ao fogo, apenas 7% deles evitam o horário mais quente do dia para iniciar as queimadas
 
 
 
Antigamente, quando o fogo entrava na floresta, ele não conseguia ir muito longe, afinal as florestas amazônicas são muito úmidas. No entanto, tanto a extração de madeira quanto os incêndios causam uma grande mortalidade da vegetação, o que resulta em muitas folhas e galhos no chão da mata e gera clareiras no meio da floresta. Essas clareiras permitem uma maior entrada de luz solar e de vento, deixando a floresta mais seca. A combinação de uma floresta mais seca e cheia de combustível no chão a torna muito mais vulnerável aos incêndios, gerando então um ciclo vicioso.



Como as previsões científicas mostram que a Amazônia será ainda mais quente e seca no futuro, algumas medidas são necessárias para evitar os grandes incêndios na região, como aqueles vistos no ano passado. Primeiro, é necessária uma ampla campanha educacional entre os agricultores, especialmente nas áreas historicamente mais afetadas por incêndios, para melhores práticas no controle das queimadas. Por exemplo, os resultados das nossas pesquisas mostram que apesar de 91% dos agricultores construírem barreiras ao fogo, apenas 7% deles evitam o horário mais quente do dia para iniciar as queimadas.



Outro fator necessário é evitar uma maior degradação das florestas, como, por exemplo, maior fiscalização e punição de extração ilegal de madeira. Finalmente, é essencial que, em anos com previsão de secas extremas, sejam direcionados incentivos financeiros de emergência para os municípios que geralmente têm maior ocorrência de incêndios. Tais incentivos teriam o objetivo duplo de prevenir os incêndios antes do desencadear da seca e de combater os incêndios após o início da seca.



Queimada na Amazônia (Foto: Erika Berenguer / Arquivo Pessoal)
Queimada na Amazônia (Foto: Erika Berenguer / Arquivo Pessoal)
IHU On-Line – Por que os pequenos produtores na Amazônia alegam que é inevitável praticar agricultura sem queimadas? Por que eles argumentam a favor dessa prática?
Erika Berenguer – O uso de queimadas no preparo do solo é uma prática barata e a qual os produtores dominam; abandoná-la é caro e exige assistência técnica: 56% dos pequenos agricultores que entrevistamos não podem arcar com os custos de uma agricultura livre de queimadas. Isso porque os substitutos do fogo são o uso de maquinário e insumos agrícolas no preparo do solo, ambos extremamente caros. Além disso, os produtores não acostumados com essas técnicas de cultivo necessitam de programas governamentais que assistam nessa transição para novas práticas. Sem incentivos financeiros e técnicos, torna-se proibitivo, para a maior parte dos pequenos produtores, a adoção de uma agricultura sem fogo.



IHU On-Line – Que tipo de política pública poderia reverter a atual prática de queimadas?
Erika Berenguer – As políticas públicas voltadas para uma agricultura livre de fogo devem variar de acordo com cada contexto. Infelizmente não existe uma solução mágica que se aplique a toda a complexidade amazônica. Em municípios nos quais a agricultura mecanizada é consolidada, pode-se incentivar a criação de programas de acesso dos pequenos produtores a maquinário e insumos; enquanto em municípios nos quais a agricultura familiar é predominante, incentivo a cultivos que façam uso do fogo com menos frequência, como a fruticultura, pode ser mais relevante, desde que acompanhados de serviços de assistência técnica e de escoamento da produção.



IHU On-Line – É possível estimar qual é o percentual de biodiversidade perdido por conta das queimadas na Amazônia?
Quando comparadas com florestas intactas, as matas que já sofreram tanto com a extração madeireira quanto com os incêndios apresentam uma redução de até 94% das espécies de árvores
Erika Berenguer – Os incêndios florestais contribuem para uma enorme perda de biodiversidade, tornando a floresta mais pobre e afetando uma série de serviços ambientais que as florestas fornecem para a humanidade. Nossas pesquisas mostram que, por exemplo, quando comparadas com florestas intactas, as matas que já sofreram tanto com a extração madeireira quanto com os incêndios apresentam uma redução de até 94% das espécies de árvores, 86% das espécies de besouros rola-bosta e 54% das espécies de aves. Muitas das espécies afetadas são as raras ou com distribuição restrita, o que leva a um aumento do seu risco de extinção. No caso das árvores, as espécies de madeira densa e que atingem um grande porte e que, portanto, são as que mais armazenam carbono na floresta, são especialmente afetadas pelo fogo.



IHU On-Line – Quais são os estudos mais relevantes desenvolvidos nos últimos anos em relação à Amazônia?
Erika Berenguer – Nos últimos anos, diversas redes de pesquisa têm desenvolvido pesquisas de extrema relevância na Amazônia. Abaixo eu dou exemplo de algumas:
Rede Amazônia Sustentável (RAS):
* 2016 – Nature: Antropogenic disturbance in tropical forests can double biodiversity loss from deforestation
* 2014 – Global Change Biology: A large-scale field assessment of carbon stocks in human-modified tropical forests
* 2013 – Biological Conservation: Avian biodiversity in multiple-use landscapes of the Brazilian Amazon
RAINFOR:
* 2015 – Nature: Long-term decline of the Amazon carbon sink
*2011 – Science: The 2010 Amazon drought
ATDN:
* 2013 – Science: Hyperdominance in Amazonian tree flora



IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?
Erika Berenguer – Um aspecto muito importante sobre os efeitos nocivos dos incêndios na Amazônia é o da perda de carbono das florestas queimadas e a consequente emissão de gases do efeito estufa. Nossas pesquisas mostram que as florestas que já sofreram tanto com a exploração madeireira quanto com o fogo armazenam em média 40% menos carbono do que as florestas intactas. Isso é uma perda substancial de carbono! Só em 2010, os incêndios na Amazônia brasileira causaram a emissão de 15 milhões de toneladas de carbono, o que equivale a quase metade das emissões de todo o setor energético do país no mesmo ano. Para o Brasil conseguir cumprir suas metas climáticas, são necessárias políticas públicas mais fortes de prevenção e combate aos incêndios acidentais na Amazônia.

(EcoDebate, 07/12/2016) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Denúncia: O desastre nuclear na Bahia e a tragédia de Mariana em Minas Gerais



O desastre nuclear na Bahia e a tragédia de Mariana em Minas Gerais
Por Zoraide Vilasboas
 
Articulação Antinuclear Brasileira/MPJ

O vazamento ocorreu no tambor circulado. As setas indicam que o DUA (concentrado de urânio), por sua densidade, assentou no piso e nos roletes.
O vazamento ocorreu no tambor circulado. As setas indicam que o DUA (concentrado  de urânio), por sua densidade, assentou no piso e nos roletes.



O Instituto do Meio Ambiente (IBAMA) e a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) estiveram na mineração de urânio, em Caetité (Bahia), onde foram “conferir” as proporções da tragédia que está sendo chamada de “Mariana subterrânea”, numa alusão ao rompimento da barragem da Samarco, Vale/BHP que, há cerca de um ano, destruiu a bacia do Rio Doce e matou 21 pessoas em Minas Gerais, na maior catástrofe ambiental do país.


Há uma diferença entre Mariana, onde o mar de lama tóxica correu, à vista de todXs, por Minas, Espírito Santo e litoral da Bahia, e Caetité, onde o liquido mortal se espalha pelo subsolo, escondido de todXs! Mas as semelhanças entre as duas desgraças não são meras coincidências: ambas estão envoltas em silêncios e sigilos criminosos; licenciamentos obscuros; omissão e conivência dos órgãos de fiscalização e controle, em todos os níveis; desinformação e desrespeito com as comunidades do entorno da mina e até denúncias de corrupção.


A fábrica que o Programa Nuclear Brasileiro montou em Caetité para concentrar o minério extraído pela Indústrias Nucleares do Brasil (INB) é considerada uma bomba-relógio, desde sua construção pela Odebrecht (“fisgado” pela operação Lava Jato) e empreiteiras terceirizadas. Os fatos, mais uma vez, mostram que a obra correu “solta”, sem o rigor e a fiscalização técnica exigidas para manipulação de produtos de extrema periculosidade, como é o caso do urânio. Isto explica, em parte, os vazamentos em série, de licor ou pó radioativos, ocorridos na unidade de concentrado de urânio da INB, celebrizada pela insegurança técnico-operacional, incompetência, irresponsabilidade gerencial (denunciadas por seus órgãos de controle), inadequação da estrutura da planta industrial e seus obsoletos equipamentos.

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Área do entamboramento, minutos após o acidente com vazamentos de DUA. No piso, o detalhe do solado das botas do operário que deixou o local.
(Foto/legenda do IBAMA, 2012)

Como em Mariana, estes crimes estão exaustivamente registrados em documentos oficiais e de movimentos sociais (http://docplayer.com.br/8950844-relatoria-do-direito-humano-ao-meio-ambiente-relatorio-da-missao-caetite-violacoes-de-direitos-humanos-no-ciclo-do-nuclear.html) alertando para as tragédias socioambientais que advêm de atividades perigosas impostas à sociedade pelos processos de exploração dos recursos naturais, em especial de minérios atômicos destinados a gerar energia elétrica num ciclo degradador, contaminador do ambiente e causador de doenças e mortes.


Em abril de 2000, milhões de litros de licor de urânio vazaram para o solo. Em audiência na Câmara dos Deputados, a representante do IBAMA, SANDRA MIANO, declarou: “(…) mandamos uma equipe para lá. As indústrias nucleares demoraram muito tempo a admitir o problema, dificultando nossa averiguação, até que mandamos esvaziar o tanque de licor-1401. (…) (…)Observou-se uma diferença de 5 milhões de metros cúbicos (na verdade 5 mil metros cúbicos, o equivalente a 5 milhões de litros) e houve dúvida sobre onde haveria parado esse volume.(…) (…)Mandamos esvaziar o tanque e abrir a manta. Quando a manta foi aberta, vimos que não havia sido feita a compactação. O projeto executivo que havíamos aprovado não havia sido executado, apesar de qualquer empresa ter de executar um projeto que tenha sido aprovado.(…)”. (http://bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/3743)

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Com o vazamento de ácido sulfúrico, a base de concreto no limite do tanque sofreu ataque químico. (Foto/legenda do IBAMA, 2012)

Para sua primeira experiência na concentração do minério numa espécie de sal amarelo, uma instalação industrial, ultrapassada, foi montada com erros técnicos primários, como instalações embutidas em paredes, ou no subsolo, de tubos transportadores de ácido sulfúrico, licor de urânio e outros produtos tóxicos. Estes problemas são conhecidos pelos órgãos fiscalizadores da atividade nuclear desde sempre. Documentos oficiais da CNEN e do IBAMA relatam falhas não resolvidas pela INB. Em Nota Pública, em 25 de março/2011, o então presidente da CNEN, Odair Gonçalves, afirmou: (…) “A INB não tem capacidade de produzir os relatórios anuais de monitoração ambiental (não consegue realizar medidas radiométricas). O último é referente ao ano de 2008. Esses relatórios são vitais para a avaliação de impacto ambiental da instalação (…).


(…) Em Julho/2010, foi detectada presença de contaminação, por solvente orgânico, em um poço de monitoração. A INB, por iniciativa própria, realizou uma remediação da área que incluiu a retirada de um volume solo de cerca de 4x4x4 m3, e a remoção do concreto de toda a área para identificação de possíveis infiltrações e recuperação do piso. (…) Ressalta-se, ainda, que o PMA-18 continua apresentando ocorrência de solvente até a presente data, conforme inspeção regulatória de 21 a 24/03/2011, demonstrado que a remediação realizada pela INB não surtiu efeito (…);(…) Ficou evidenciada, também, a contaminação subterrânea de partes da plataforma da USINA, de origem desconhecida e que estão sob investigação (…).


No diagnóstico para a ineficiência da produção da INB, Gonçalves destacou a falta de “um programa de manutenção preventivo, preditivo e corretivo; de análises de dados de amostras coletadas; de cumprimento de critérios de engenharia, segurança nuclear e proteção radiológica e de planejamento estratégico.” (http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/o-caso-cnen-por-sergio-rezende)


Sobre a infiltração, jamais controlada, de ácido sulfúrico no poço de monitoramento (PMA-18), apesar do poço ter sido até concretado, parecer do IBAMA, de 16 de março/2012, anotou: (…) Até o momento não se tem idéia de quando ocorreu a infiltração de solvente orgânico no piso da área AA-330 (onde fica o PMA-18), quando infiltrou e por onde se deu a infiltração (…). (…) Porém, não é só a presença de solvente que chama a atenção neste poço. A concentração de outros elementos e compostos, como cloretos e sulfatos, encontra-se muito acima do background nesta porção da plataforma da usina, sendo indicativo de contaminações ocorridas anteriormente (grifou-se) (…).
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Detalhe do comprometimento da base das bombas. A seta indica o grau de deterioração do rejunte dos ladrilhos de porcelana.
(Foto/legenda do IBAMA, 2012)

Agora, contaminantes químicos não extintos antes, emergem à superfície. Cerca de 20 ms que ladeiam um tubo do sistema operacional, na Área 140, estão encharcados de licor de urânio, mostrando que vazamentos “ocultos” deviam estar ocorrendo desde o início das atividades da empresa. Chama a atenção a vinda à tona, agora, desse vazamento pois a empresa está sem operar há cerca de 3 anos, não se tendo idéia do volume que vazou.



A equipe técnica da CNEN foi conferir também os resultados de novas análises de amostras de água da região que apontam níveis de radioatividade bem superiores aos “índices toleráveis” pela legislação. Desde 2004, fiscais da CNEN já apontavam as possibilidades de contaminação do lençol freático. Aliás, muito antes, o Estudo de Impacto Ambiental indicava o risco de contaminação das águas superficiais e subterrâneas, entre os prejuízos que a mineradora traria para a região.


As vítimas da mineração, entidades e movimentos sociais e populares, os membros da Articulação Antinuclear Brasileira e da Coalizão por um Brasil Livre de Usinas Nucleares exigem, mais uma vez, o fim do Programa Nuclear Brasileiro e o reconhecimento dos direitos dos atingidos, direta e indiretamente, pela contaminação radioativa, com indenização e assistência integral à saúde. Exigem ainda a reparação imediata dos danos socioambientais de localidades que têm atividades nucleares ou depósito de material radioativo, com a justa indenização de seus habitantes e trabalhadores de instalações atômicas.


Apelam também aos Ministérios Públicos Federal e Estadual que investiguem com urgência os velhos e novos delitos socioambientais, que impõem o fim da expansão da mineração de urânio no Brasil.

Por Zoraide Vilasboas
Articulação Antinuclear Brasileira/MPJ

in EcoDebate, 08/12/2016

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Riscos de deslizamento de encostas e de enchentes urbanas: causas, consequências e algumas medidas preventivas


, por Lauro Charlet Pereira e Marco Antônio Ferreira Gomes


artigo
RISCOS DE DESLIZAMENTO DE ENCOSTAS E DE ENCHENTES URBANAS: CAUSAS, CONSEQUÊNCIAS E ALGUMAS MEDIDAS PREVENTIVAS.



Lauro Charlet Pereira


Marco Antônio Ferreira Gomes



O solo é um recurso natural básico, importante no equilíbrio ambiental e também nos diferentes setores empresariais e da vida humana, como: produção de alimentos, moradia, recreação, construção civil, planejamento de uso e traçado de estradas, dentre outros. Este recurso, quando usado ou manejado indevidamente, tem na erosão um dos principais vetores de degradação, destruição e prejuízos, inclusive com riscos à vida, principalmente animal e humana.



A erosão é um processo de deslocamento de terra ou de rochas de uma superfície, tendo a chuva como principal agente, sobretudo nas regiões de clima tropical quente e úmido, predominantes no Brasil. De um modo geral, a erosão pode causar grandes prejuízos de ordem econômica, ambiental e social, tanto no meio rural quanto urbano. No primeiro caso, refere-se às perdas de solos agricultáveis, que ao serem arrastados levam junto a camada superficial, rica em matéria orgânica e nutrientes, resultando em queda da produção agrícola, diminuição de ganhos econômicos da propriedade, além de eventuais riscos de contaminação de rios e mananciais. Nas cidades, a erosão do solo também pode contribuir para inúmeros danos ambientais, econômicos e sociais, decorrentes de assoreamento de rios e consequentes enchentes; deslizamento de encostas ou vertentes e escarpas; soterramento de casas e mortes de pessoas; fechamento de rodovias, ferrovias e outras vias de transportes, dentre outras.



Este trabalho foi elaborado a partir de revisão de literatura, complementada por observações de campo e experiências dos autores, principalmente no que tange aos aspectos pedológicos, geológicos e climáticos. Tem como objetivo principal fazer uma reflexão técnica sobre eventos ou catástrofes recorrentes no meio urbano, envolvendo os chamados movimentos de massa, também conhecidos popularmente por deslizamentos, a partir de encostas/taludes naturais ou construídos, bem como fazer uma análise das causas e consequências desses eventos para os cursos d’água e também para as populações mais expostas, localizadas nos vales e áreas de várzea. Dentro desse contexto, o trabalho procura, ainda, reunir um conjunto de sugestões voltadas à prevenção e/ou mitigação dos impactos decorrentes.



Deslizamento de encostas e enchentes urbanas
As cidades são os espaços onde vive a maior parte da população e dependendo de sua fisiografia (aspectos físicos ambientais) e vulnerabilidades ambientais, podem ocorrer deslizamentos de encostas e enchentes, assim como processos erosivos, que devem merecer atenção de órgãos públicos, empresas privadas, instituições de pesquisa, enfim, todos os setores responsáveis pela ocupação urbana sustentável e qualidade de vida da população.



Os deslizamentos encontram-se associados tanto aos processos erosivos quanto aos “movimentos de massa”, sendo este caracterizado por deslocamento de rochas ou sedimentos em superfícies inclinadas, podendo estar relacionados à ação da gravidade (natural), ou ação antrópica. Já os processos erosivos, estão associados a perdas de solos, principalmente, em áreas com inclinação variável.



Assim sendo, tecnicamente deve ser reforçado o alerta para estes problemas urbanos recorrentes (erosão, deslizamentos e enchentes), com seus respectivos impactos, não só para identificar as causas e consequências, mas sobretudo para encontrar medidas que visem a prevenção e/ou minimização de inúmeros prejuízos econômicos, ambientais e sociais, inclusive com perdas de vidas. Deste modo, tem-se:



a) Fatores causadores
– Inclinação/declividade acentuada do terreno, conjugada com comprimento de pendente, que impulsionam a água da chuva com forte potencial de arraste e destruição;


– Espessura do solo, até o maciço rochoso, pois os solos rasos são naturalmente mais instáveis, além da baixa capacidade de absorver e armazenar água. Estes, quando muito encharcados de água, pesados e lamacentos, se soltam das rochas e deslizam levando junto árvores, fragmentos de rochas e casas, além de vidas e outros bens materiais;


– Desmatamento e ocupação de encostas, que somados às chuvas intensas, constituem uma combinação perfeita para tragédias, principalmente em áreas de solos rasos e declividades elevadas, como são comuns em regiões serranas de vários estados brasileiros;


– “Movimentos de massa”, associados à deslizamentos e desmoronamentos, que são caracterizados por deslocamentos de rochas ou sedimentos em superfícies inclinadas;


– Ocupação intensa (elevada densidade populacional) e desordenada do solo, nas margens de rios e/ou encostas, consideradas áreas de preservação permanente (APP’s);


– Frágeis construções de moradias, localizadas em áreas de declive acentuado e solos rasos;


– Precariedade nos processos de prevenção, assim como na fiscalização de ocupações de encostas e outros ambientes de riscos; 


– Além da espessura, a elevada suscetibilidade do solo à erosão (erodibilidade), também é um fator que deve ser relacionado aos riscos ambientais; 


– As chuvas, tanto em termos de intensidade (quantidade de chuva por unidade de tempo), quanto de duração, podem ser importantes fatores desencadeantes nos deslizamentos de encostas, enchentes e solapamento (erosão) de áreas, tornando-as ainda mais vulneráveis às catástrofes urbanas;


– A impermeabilização da superfície dos solos e o desrespeito às condições topo-pedo-geológicas, combinados com a cobertura vegetal insuficiente, são fatores relevantes que além de romper o ciclo natural, contribuem para a ampliação de riscos de catástrofes e insustentabilidade de moradia no meio urbano (DA SILVA & MAGALHÃES, 1993)


b) Consequências
– Dentre as diversas consequências, tanto de ordem econômica, quanto social e ambiental, priorizou-se por abordá-las sob duas condições de ocorrências e impactos: a primeira refere-se aos deslizamentos de encostas, que tem grande poder de destruição, dado ao enorme volume de terras e/ou lamas, acompanhado de rochas e vegetação, que descem morro abaixo. Em geral destroem casas e outros bens materiais, culminando, muitas vezes, com perdas de vidas. 


A outra condição, refere-se aos processos erosivos e enchentes, que pode estar associada à primeira, ou não, provocando acúmulo de enxurradas nas vias públicas, entupimento de bueiros e canais de drenagem, aumento de escoamento superficial da água, que ao migrar para as áreas/terrenos mais baixos causam grande caos urbano, como: alagamentos generalizados, perdas de casas e bens materiais, perdas de vidas humanas, interdição de estradas, ruas e avenidas e túneis, dentre outros.



c) Algumas medidas de prevenção ou de mitigação
– Mapeamento das áreas frágeis, a partir de uma classificação de risco (muito alto, alto, médio, baixo, muito baixo), considerando-se, por exemplo: áreas habitadas e não habitadas; topos de morros, encostas, várzeas (APP’s); solos rasos; solos nus, sem cobertura vegetal;
– Revisão do plano diretor, com incrementos de monitoramento e estabelecimento de ações de curto, médio e longo prazo;
– Estabelecimento de um plano de prevenção (previsão climática), combinado com um sistema de alerta;
– Plano de contingência (preventivo, preditivo e reativo), com estratégias operacionais, a fim de se antecipar a problemas, avaliar ocorrências e controlar situações de emergências;
– Reassentamento de famílias em áreas estáveis, dotadas de boa condição topo-pedológica, além de adequada infraestrutura de drenagem e galerias de águas pluviais;
– Realizar o reflorestamento de áreas devastadas, sobretudo em áreas de encostas e solos rasos; e
– Estabelecimento de rigor máximo nos licenciamentos, a fim de evitar novos impactos e danos ambientais, sociais e econômicos, e, sobretudo, preservar a vida humana.



Considerações Finais
Quando se trata de deslizamento de encosta, enchente e erosão do solo, em meio urbano, significa dizer que não se pode atribuir apenas a um fator causador. Na verdade, em geral os eventos de maior ou menor gravidade, decorrem da ação ou reação combinada de vários fatores: naturais, antrópicos, de legislação e gestão pública, principalmente. Assim sendo, a educação ambiental, com seu caráter de transversalidade, deve ser priorizada em todos os níveis, envolvendo os legisladores, gestores públicos e a população em geral.
De outro modo, é perceptível a crescente intensificação da ocupação urbana, o que tem dificultado a adoção de políticas públicas, combinando a organização social com o respeito ambiental. Em decorrência disso ocorre, muitas vezes, uma ocupação de forma desorganizada, sem a devida preocupação com a qualidade paisagística, segurança de moradia e bem estar de seus habitantes (DA COSTA & CINTRA, 1999).
Assim sendo, considerando-se a abrangência dos danos (ambientais, sociais e econômicos) e seus respectivos transtornos no meio urbano, deve-se priorizar sempre as ações de caráter preventivo, pois estas são bem menos onerosas e menos traumáticas do que a reconstrução e assistência às vítimas, sem mencionar os casos de perdas de vidas, pois estas não podem ser precificadas.



Referências Bibliográficas
SILVA, R. S. da; MAGALHÃES, H. Ecotécnicas urbanas. Ciência & Ambiente, Santa Maria, v. 4 n. 7, 1993.
COSTA, S. M. F.; CINTRA, J. P. Environmental analysis of metropolitan areas in Brazil. Photogrammetry & Remote Sensing, Stuttgart, v. 54, n.1, 1999.

in EcoDebate, 09/12/2016



"Riscos de deslizamento de encostas e de enchentes urbanas: causas, consequências e algumas medidas preventivas, por Lauro Charlet Pereira e Marco Antônio Ferreira Gomes," in Portal EcoDebate, ISSN 2446-9394, 8/12/2016, https://www.ecodebate.com.br/2016/12/08/riscos-de-deslizamento-de-encostas-e-de-enchentes-urbanas-causas-consequencias-e-algumas-medidas-preventivas-por-lauro-charlet-pereira-e-marco-antonio-ferreira-

Aos responsáveis pela LUOS


Nós do Park Way lutamos para que nosso bairro seja o espaço onde a paisagem natural prevalece sobre a paisagem construída.  Um lugar em que um visitante percebe e sente que o silêncio de nossas ruas não é um vazio a ser preenchido, mas uma conquista, de anos, que não abrimos mão.  Tudo isso é e continuará a ser um patrimônio coletivo nosso e das futuras gerações se mantivermos 5 princípios norteadores:
1. MANTER a condição de um bairro Residencial Exclusivo;

2. ESTAR inserido em duas unidades de conservação (APA Gama Cabeça de Veado e Planalto Central) e querer permanecer sendo vista como tal. Seja dentro de qualquer instrumento que trate de planejamento e gestão territorial e ambiental;


3. ESTAR dentro de um programa internacional que é  a Reserva da Biosfera da UNESCO. E estar na zona de amortecimento da Reserva que EXIGE baixa densidade populacional;


4. ESTAR na zona de tutela do IPHAN,  uma vez que o Park Way está na bacia do Paranoá, que é a área de tamponamento do Conjunto Urbanístico de Brasília. Isso significa que a Portaria IPHAN n.68 /2012 que dispõe sobre delimitação e diretrizes para a área do entorno de Brasília faz com que haja altura máxima de prédios  também para o Park Way, para não comprometer a visibilidade do horizonte a partir da área tombada;


5.  SER fornecedora de importante serviço ambiental para a população do Distrito Federal.  Afinal, a comunidade, há anos, preserva, regenera e recompõe o Cerrado, para garantir os corredores ecológicos para diversas espécies. E também contribui para a integridade dos ecossistemas aquáticos, ajudando a qualidade e quantidade de água das drenagens que correm para dentro do Lago Paranoá,  futuro reservatório para abastecimento da população do DF. Em época de escassez hídrica, nosso papel é ainda mais importante.