quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Parques também protegem o céu


Por Silvana Campello
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Parque do Cantão: para ver bilhões de estrelas e outras galáxias basta uma boa câmera e uma longa
 exposição. Foto: Dana Bres

Desde que a NASA reiniciou as pesquisas espaciais, muito tem sido revelado sobre o sistema solar, e para além dele. E o que antes era limitado a intelectuais e a quem tinha acesso a um planetário, agora está ao alcance de milhões de pessoas graças ao lançamento de telescópios portáteis, relativamente baratos e de alta tecnologia, os quais podem ser adquiridos até pela internet.  Porém, justo quando a tecnologia se torna disponível, é o céu que parece já não estar, devido ao fenômeno da poluição luminosa.


A poluição luminosa é conseqüência da civilização industrial.  A luz das grandes e médias cidades do mundo é tão intensa que ofusca as estrelas, impedindo a observação do céu. Estudos recentes indicam que o aumento de exposição luminosa altera o ritmo biológico de diversas espécies, inclusive a nossa, que evoluíram para viver períodos iguais de luz e escuridão.   Por tudo isso, ganha impulso um movimento internacional deflagrado pela ONG americana Associação do Céu Escuro (International Dark-Sky Association)


Segundo a ONG, as Unidades de Conservação distantes dos centros urbanos, longe da poluição luminosa, podem garantir a clareza da massa estelar sobre nossas cabeças, e reconhece que, assim como a biodiversidade, o céu também cumpre um importante papel na nossa cultura e na nossa história.  A União Internacional para Conservação da Natureza – IUCN, por meio de um Grupo Consultivo para o Céu Escuro, mantém uma lista de 35 Unidades de Conservação em todo o mundo onde o céu está livre de poluição luminosa, e que por isso começam a atrair visitantes interessados na observação dos astros.



O Canadá lidera a lista da IUCN com 15 reservas, mas infelizmente – e injustamente - nenhum parque brasileiro está na lista. O Parque Estadual do Cantão, na bacia do Rio Araguaia, é um dos que certamente merecem estar: embora a sede do parque esteja no pequeno município ribeirinho de Caseara, a 256 km de Palmas, capital do Tocantins, os restantes 90.000 hectares do Cantão se encontram na ponta norte da remota Ilha do Bananal, adjacentes ao Parque Nacional do Araguaia e a extensas reservas indígenas, formando um conjunto de mais de 2 milhões de hectares sem poluição luminosa, de onde se vislumbra um céu esplendoroso.



Por ocasião do 18o aniversário do Parque do Cantão, cerca de 60 alunos da rede escolar local tiveram a oportunidade de ver o céu em nosso telescópio.  O interesse dos jovens superou nossas expectativas, e muitos solicitaram repetir a experiência.  Afinal, como não gostar de ver Saturno e seus anéis, e sua lua Encélado que nos indica a possibilidade de vida? Ou o grandalhão Júpiter, um planeta cuja enorme força gravitacional e posição estratégica no sistema solar, atrai para si meteoritos e asteróides que de outra forma viriam diretamente em direção à nossa Terra, destruindo a vida do planeta?  Júpiter é nosso guarda-costas!



O fato é que algumas Unidades de Conservação acabam de adquirir um novo papel na proteção de tudo que está abaixo, ao redor e acima de nós.  Quem mora em uma cidade grande hoje em dia precisa viajar para muito longe a fim de experimentar a sensação inesquecível de ver a Via Láctea e o céu em todo seu esplendor. E imaginar quantos mistérios existem por lá.



O físico italiano e Premio Nobel Enrico Fermi formulou uma pergunta interessante:  se a probabilidade de vida inteligente no Universo é tão grande quanto indicam os dados científicos, então eis o paradoxo de Fermi: “onde estão todos?” Vida inteligente é aquela capaz de formar civilizações.  E isso é uma coisa rara, haja visto nossa própria Terra, onde das estimadas 30 milhões de espécies somente uma foi capaz de formar uma civilização – com capacidade de criar comunicação e tecnologia avançadas, mas também de gerar poluição.  De todas as possíveis respostas ao paradoxo, a mais aceita pelos cientistas é que as civilizações deixam de existir, pois, à medida que avançam, alteram seu meio natural a ponto de se auto-destruir.  Se isso for verdade, nem Júpiter poderá nos salvar de nós mesmos.
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Jovens estudantes observam os astros com o telescópio do Instituto Araguaia, no Parque do Cantão. 
Foto: Instituto Araguaia

Crescimento da população humana ameaça a girafa… e todas as outras espécies

Por Silvana Campello
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Girafa, queda de 40% da população em três decadas. Foto: Wikimedia Commons


Saiu mais um dado oficial da União Mundial de Conservação (UICN), informando as alterações de espécies na Lista Vermelha de Animais Ameaçados de Extinção 2016. Os dados são, como sempre, estarrecedores:  mais 700 espécies de aves (das quais 13 estão consideradas extintas) foram adicionadas à lista, enquanto outras anteriormente incluídas, como o papagaio cinza (Psittacus erithacus), passaram de categoria VU - Vulnerável, para a categoria EN – Em Perigo de Extinção.  O mesmo acontece com o tubarão-baleia (Rhincodon typus). 


Das 6 espécies de gorilas, 4 estão na categoria CR – Criticamente Ameaçada, que esse ano passou a incluir o Gorila do Leste (Gorilla beringei). A lista marca a extinção de Petaurus australis, uma espécie de roedor endêmico da Austrália, a primeira extinção de um mamífero atribuída a mudanças climáticas.  Dentre outros aspectos a serem ressaltados, chama a atenção alteração de status de algumas espécies como o ornitorrinco  (Ornithorhynchus anatinus), a zebra (Equus quagga) e o cervo de  Borneu (Muntiacus atherodes) , os quais eram classificadas como LC - Pouco Preocupante, e que agora passaram à categoria NT – Quase Ameaçadas.


No infame  jogo da extinção, algumas espécies pularam várias casas:  o carismático Koala (Phascolarctos cinereus), o marsupial australiano Petauroides volans, e a girafa (Giraffa camelopardalis), foram da pouco preocupante categoria LC diretamente para a incômoda VU.  Desses, a icônica girafa vem ganhando grande destaque na mídia, uma vez que sua população declinou surpreendentes 40% nos últimos 30 anos.   Das 9 subespécies de girafa, apenas 3 da parte sul da África estão estáveis. As demais 5, espalhadas pelo continente, encontram-se a caminho da extinção.


Durante o Congresso Mundial de Conservação, realizado pela IUCN no Havaí esse ano, representantes de governos e ONGs passaram uma resolução pedindo a criação de áreas protegidas para conservação da girafa e do okapi, um animal raro, um “mix” de zebra, girafa e búfalo, que se encontra na categoria CR - Criticamente Ameaçado.


"A caça ilegal, perda de habitat, avanço da agricultura e problemas sociais estão levando a girafa à extinção”. Troque a palavra “girafa” por qualquer outro animal de sua escolha e a frase seguirá sendo verdadeira."
A lista vermelha do Brasil, onde constam 1.173 espécies, foi apresentada pelo ICMBio na 13a Cúpula das Nações Unidas pela Biodiversidade (COP 13), e foi matéria de ((O))Eco da semana passada.
Conservacionistas de todo o mundo estão acostumados a ver a Lista Vermelha de Animais Ameaçados aumentando a cada nova edição, salvo alguns raros casos de sucesso, como o do carismático Panda (Ailuropoda melanoleuca), que esse ano passou de EN para VU graças a um esforço (ainda não comprovado) do governo chinês.


Mas o que realmente causa surpresa é que – pelo menos no caso das girafas – a IUCN leva a mão à palmatória e admite abertamente que a causa da queda brutal da espécie é o crescimento descontrolado da população humana.  Esse assunto vinha sendo uma espécie de tabu entre os tomadores de decisão, um elefante no meio da sala que todos fingiam ignorar.  Segundo o relatório desse ano a IUCN afirma que “a crescente população humana está causando um impacto negativo nas populações de girafa.  A caça ilegal, perda de habitat, avanço da agricultura e problemas sociais estão levando a girafa à extinção”.  Troque a palavra “girafa” por qualquer outro animal de sua escolha e a frase seguirá sendo verdadeira.


Desde 1992, com o surgimento do movimento socioambiental, quase nenhum congresso e evento da IUCN ou de outras organizações ousaram sequer falar sobre o assunto da superpopulação humana e a necessidade de seu controle.


Ao contrário, grande ênfase é dada aos direitos e necessidades de nossa espécie sobre as demais 8,699 milhões de espécies estimadas no planeta. Áreas de proteção integral de onde não se extrai recursos caíram em desuso face a criação de áreas extrativistas, em busca de uma utópica sustentabilidade ambiental, econômica e social que pudesse preservar a biodiversidade, mas com os serem humanos dominando tudo.  Não apenas ineficiente, essa mentalidade é um tanto quando demagógica, e por que não dizer, ingênua, pois o impacto negativo que agora chega às girafas, eventualmente chegará a nós.


Admitir que somos nós os grandes vilões da Terra, agindo como células cancerígenas que adoecem o planeta, em nome de nosso egocêntrico bem-estar, não é algo fácil de se admitir em um universo que valoriza apenas nossos direitos. Mas reconhecer um problema é o primeiro passo na direção de solucioná-lo. E a IUCN finalmente fez essa admissão.




Doria define os parques de São Paulo que irão para a iniciativa privada

Por Sabrina Rodrigues
O Parque Jardim da Luz está entre as 15 unidades que serão cedidas à iniciativa privada. Foto: Milton Jung/Flickr.
O Parque Jardim da Luz está entre as 15 unidades que serão cedidas à iniciativa privada.
Foto: Milton Jung/Flickr.

Dando início aos planos de concessão dos parques municipais para a iniciativa privada, a equipe do prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), já definiu quais os parques municipais irão para a exploração comercial.

São eles: Parque Jardim da Luz, Trianon, Buenos Aires, Chácara do Jockey, Parque do Pôr do Sol, Alfredo Volpi, Burle Marx, Ibirapuera, Parque do Povo, Independência, Aclimação, Cidade de Toronto, Anhanguera, Parque do Carmo e Piqueri.


Outras 80 unidades estão sendo avaliadas para concessão. A futura gestão pensa em uma alternativa de “adoção” de unidades menos atrativas, ou seja, a empresa que vencer a concessão teria de assumir também unidades com menor público e estrutura. Ao ganhar o direito de explorar comercialmente os parques, os empresários poderão, por exemplo, estabelecer sistemas de estacionamentos ou áreas de alimentação, como quiosques de lanches e restaurantes. A gestão Doria estuda também alterar as atuais regras que impedem a realização de certos tipos de eventos dentro das unidades, como, por exemplo, feiras temáticas de produtos orgânicos com direito a pagamento de aluguel pelos expositores.


Fonte: Folha de S. Paulo