segunda-feira, 29 de maio de 2017

Agro x conservação da natureza: quem perde com esse confronto?


Por Emerson Antonio de Oliveira
Plantação de soja em Ponta Grossa, Paraná. Foto: Otávio Nogueira/Flickr.
Plantação de soja em Ponta Grossa, Paraná. Foto: Otávio Nogueira/Flickr.

Novo marco cravado neste início de 2017 confirma a relevante contribuição da agropecuária para a economia nacional. Depois de dois anos de retração, o Índice de Atividade Econômica do primeiro trimestre anunciado esta semana pelo Banco Central apontou elevação de 1,12% em relação ao período anterior. A principal responsável por esse saldo é a nova safra de grãos, que deverá ser a maior da história, em torno de 230 milhões de toneladas segundo a última estimativa do IBGE.


A dinamização da economia não decorre apenas da negociação da safra –lembrando que a maior parte da produção é exportada para outros continentes. Isto é, para que chegue aos nossos portos, é necessário transporte, por centenas de quilômetros, consumindo combustível, lubrificantes, pneus e uma infinidade de produtos e serviços ao longo das rodovias, principal modal brasileiro. As atividades e insumos para os plantios, tratamentos culturais e colheita igualmente contribuem para o incremento da economia.


Entretanto, os dados econômicos não consideram os serviços ambientais que viabilizam a produção agropecuária. Sem contar com a ampliação de áreas no Cerrado e Amazônia, melhores tecnologias têm propiciado aumento de produtividade nas áreas historicamente cultivadas no Centro-Sul do País. Em decorrência disso, porém, as atividades agroeconômicas têm pressionado ano a ano os poucos remanescentes naturais, em especial na Mata Atlântica, visto que se tratavam de áreas marginais mas que hoje são passíveis de produção.


Foi esse processo que ocorreu na Área de Proteção Ambiental da Escarpa Devoniana, criada em 1992 pelo Estado do Paraná, para conservação dos últimos refúgios dos “Campos Gerais” que se intercalavam às florestas com araucárias e outras espécies arbóreas e rasteiras (de campos limpos e pedregosos), muitas ameaçadas de extinção, e molduravam o imenso degrau de relevo entre os planaltos de Curitiba e Ponta Grossa (escarpa).


A declividade e os solos rasos impediam sua exploração, porém a tecnologia, especialmente do plantio direto, que possibilita o plantio em solos rasos, potencializou a quase extinção dos campos, incluindo as áreas úmidas drenadas.


“(...) a drástica perda de áreas naturais na Escarpa Devoniana, que suscitou Projeto de Lei Estadual para sua redução, é idêntica a de outras regiões do Paraná e Estados vizinhos, onde os remanescentes naturais gradualmente foram convertidos para agrossilvicultura.”
 
 
 
A divulgação de dados por satélites indicando o Paraná como Estado que mais suprimiu a Mata Atlântica nos últimos 30 anos também está nesse contexto, tanto que neste ano o Ministério Público Estadual capitaneou ação contra desmatamentos da floresta com araucárias, tendo flagrado inédito enterro de árvores, visto que o objetivo era apenas abrir novas áreas para cultivos.



Portanto, a drástica perda de áreas naturais na Escarpa Devoniana, que suscitou Projeto de Lei Estadual para sua redução, é idêntica a de outras regiões do Paraná e Estados vizinhos, onde os remanescentes naturais gradualmente foram convertidos para agrossilvicultura. Com a não contabilização da perda de serviços ambientais, os lucros são centralizados a uma parte da sociedade, enquanto a menor vazão dos mananciais, redução de polinizadores, perda de espécies, contaminação de solos e aquíferos e desregulação climática ficam para todos, perdendo a imensa maioria da população. No médio prazo, ainda, os recursos naturais tendem a ser exauridos e novas supersafras serão inviabilizadas.

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