domingo, 16 de julho de 2017

Quase 40 milhões de animais silvestres são retirados à força da natureza brasileira todo os anos, especialmente aves. Nove em cada dez morrem no transporte.

Quase 40 milhões de animais silvestres são retirados à força da natureza brasileira todo os anos, especialmente aves. Nove em cada dez morrem no transporte. Os sobreviventes abastecem mercados concentrados no Sudeste e quase sempre encerram a vida atrás das grades. Poucos têm a sorte dos mais de vinte tucanos e araras apreendidos com traficantes e soltos nos últimos dias em áreas preservadas de Goiás. Esse comércio criminoso ganha força pela demanda de zoológicos e colecionadores, petshops e indústrias, e também para pesquisa, biopirataria e tráfico, no Brasil e Exterior. 


Fiscalização recente de Ibama e Receita Federal encontrou 1.049 animais despachados via Correios em São Paulo, em apenas duas semanas. Já em zoológicos e circos na China, Tailândia e outros países asiáticos, há shows onde chimpanzés e orangotangos fantasiados dançam e andam de patins. Praticamente todos os animais foram capturados ilegalmente na África e Indonésia. As Nações Unidas estimam que 23 mil grandes primatas deixaram de viver em ambientes naturais entre 2005 e 2011. Enquanto isso, carne de caça de macacos, pangolins e outros animais é vendida nas principais capitais da Europa. De 134 passageiros chegados da África pelo aeroporto de Paris em menos de vinte dias, nove carregavam 200 quilos de carne de animais selvagens. Outro balanço, em dois aeroportos suíços, mostrou que um terço da carne apreendida era de pangolins, pequenos carnívoros e primatas. Além dos danos às espécies e aos ambientes em que vivem, o tráfico de carne aumenta o risco à saúde humana pela propagação de doenças.


@ Entre os menores parentes de cachorros e lobos do planeta e vivendo apenas no Cerrado, a raposa-do-campo (Lycalopex vetulus) está em vias de extinção, por ações humanas. É o que afirmam pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) que têm monitorado por mais de uma década o comportamento do animal, dentro e fora de áreas com proteção oficial. O time descobriu que a maioria das raposas sucumbe com apenas oito meses de idade e que metade dessas mortes, fora de Unidades de Conservação, têm influencia humana. “Seja por tiro, envenenamento ou enterrando a toca com os filhotes, os homens têm contribuído para o desaparecimento dessa espécie. Existem pessoas que chegam a mostrar o colar transmissor, afirmando ter matado a raposa que era estudada”, lamentou Frederico Lemos, professor do curso de Ciências Biológicas da Regional Catalão da UFG. A espécie é apontada como vulnerável no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, pois também sofre com atropelamentos, é devorada ou contrai doenças de cães domésticos.


@ Além de estiagens, secas e outros eventos com impactos extremos na vida humana, as mudanças climáticas têm gerado problemas inesperados para os animais. Um estudo com sapos de diferentes regiões da América do Sul revelou que o crânio dos animais tende a ser mais longo em ambientes secos, e mais comprido quanto maior a umidade. Já outra análise, revelou que os anfíbios de terrenos baixos são os mais ameaçados pelas humores climáticos. Isso porque esses animais já convivem com as temperaturas máximas que poderiam suportar, enquanto anfíbios de regiões elevadas podem ser mais resistentes ao aumento das temperaturas. "Compreender como as espécies respondem às variações do clima é fundamental para a sua conservação em condições climáticas futuras. No entanto, para a maioria dos animais e plantas de áreas tropicais, os dados sobre os limites térmicos críticos das espécies ainda são limitados", disse Rudolf von May, pesquisador do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade de Michigan (Estados Unidos).



@ Estudo publicado na revista Landscape and Urban Planning aponta que quanto mais próximos do natural, mais benéficos à saúde são os ambientes. Enquanto a maioria das pesquisas compara efeitos da imersão de pessoas em ambientes urbanos e preservados, a pesquisa da Universidade de Copenhague (Dinamarca) colocou na balança diferentes tipos de áreas verdes. As análises mostraram que a interferência humana nesses espaços reduz os impactos positivos à saúde mental. Todavia, os benefícios crescem em florestas e outras áreas bem preservadas e mais ricas em espécies de animais e plantas. Os pesquisadores ainda não identificaram de forma mais precisa como isso acontece, mas, de acordo com estudos iniciados na década de 1980 sobre como a mente das pessoas reage a diferentes configurações, esses espaços ampliam um sentimento de integração e fascinação pelo meio ambiente, provocando relaxamento.


@ Muitas vezes adornando guloseimas em festas badaladas, o camapu vem sendo testado para o desenvolvimento de medicamentos contra a leishmaniose e doenças que afetam o funcionamento do cérebro. “Descobrimos que tanto o extrato aquoso da planta quanto a substância purificada apresentam atividade neurogênica, ou seja, estimulam o crescimento de neurônios”, explica Milton Nascimento, professor e membro de um grupo ligado à Universidade Federal do Pará que pesquisa a espécie desde 2011. Segundo ele, a substância extraída da planta, típica da Amazônia, poderá melhorar raciocínio e memória e até induzir o nascimento de neurônios, ajudando, por exemplo, no tratamento de pacientes depressivos. “Isso é uma coisa fantástica! O mundo vem buscando drogas capazes de induzir o crescimento neuronal”, comemorou o professor ao Jornal da Universidade Federal do Pará.

Este boletim é um oferecimento de
© Aldem Bourscheit // Jornalista DRT/RS 9781 // conectacomm@gmail.com
- Ativista em Políticas Públicas Socioambientais
- Membro da Comissão sobre Educação e Comunicação da UICN
- Mestrando em Desenvolvimento Sustentável pelo Fórum Latino-americano de Ciências Ambientais
- Especialista em Meio Ambiente, Economia e Sociedade pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais

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