quinta-feira, 16 de março de 2017

Febre amarela: primeira morte no Rio ocorre próximo de santuário dos micos-leões-dourados

Por Daniele Bragança
Ocorrência de febre amarela é registrada perto de santuário dos micos-leões-dourados. Foto: Andréia Martins/Associação Mico Leão Dourado
Ocorrência de febre amarela é registrada perto de santuário dos micos-leões-dourados. 
Foto: Andréia Martins/Associação Mico Leão Dourado


Os primeiros dois casos de febre amarela no estado do Rio de Janeiro, incluindo a primeira morte, foram confirmados nesta quarta-feira (15) pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio. As ocorrências aconteceram em Casimiro de Abreu, na Baixada Litorânea. O estado já registra 36 casos suspeitos da doença. Dois macacos bugios foram encontrados mortos em Casimiro, mas ainda não há confirmação de que tenham sido vítimas da febre amarela.


Os dois homens infectados não têm histórico de viagens para regiões com circulação comprovada do vírus que transmite a doença e moravam na região rural do município. A secretaria anunciou que vai acelerar o processo de imunização no estado.


O epicentro dos primeiros casos no Rio ocorre exatamente na região onde vive uma população endêmica de Micos-Leões-Dourados (Leontopithecus rosalia), na Reserva Biológica (Rebio) de Poço das Antas, em Silva Jardim, município vizinho a Casimiro.


Na Rebio, existem 470 primatas originários da natureza. Atualmente, a maior parte dos micos que estão na natureza são espécimes reintroduzidas que nasceram em cativeiro (ou são filhos de primata nascido em cativeiro). Mas não os de Poço das Antas, que agora podem estar seriamente ameaçados pela febre amarela.


“A notícia é gravíssima e coloca em risco toda a população da região e do Estado do Rio de Janeiro. Também nos preocupa a possibilidade de alcance aos Micos-Leões-Dourados, espécie ameaçada de extinção, cuja ocorrência é exclusiva nesta região”, afirmou, em nota, a Associação Mico-Leão-Dourado, ONG que trabalha com a conservação da espécie em Poço das Antas. A ONG disponibilizou o telefone (22) 2778 2025 para caso alguém encontrar algum animal morto entrar em contato.


Os macacos são sentinelas e ajudam a prevenir o surto da doença. Isto porque a mortandade de primatas é um indicativo que o local está sob efeito da epidemia, já que são animais muito vulneráveis ao contágio da febre amarela e morrem rápido. Se a taxa de mortalidade em humanos chega a 50% em infectados não tratados, em primatas ela ultrapassa 90%.


Se já não bastasse a alta taxa de mortalidade e a ausência de vacinação contra febre amarela em animais, os primatas ainda sofrem com perseguição de humanos, que, por ignorância, os matam achando que com isso cessarão a epidemia. Ledo engano. Sem os macacos mortos, é possível que os profissionais de saúde demorassem mais tempo para diagnosticar a mortal doença.

Saiba Mais
Ministério do Meio Ambiente: febre amarela põe em risco macacos

Síndrome afetou 91% dos recifes da Austrália


Por Claudio Angelo, do Observatório do Clima
Corais brancos na Grande Barreira, em foto aérea. Foto: Terry Hughes/Nature.
Corais brancos na Grande Barreira, em foto aérea. Foto: Terry Hughes/Nature.


Faltaram superlativos para descrever a pandemia de branqueamento que afetou corais do mundo inteiro no ano passado, adoecendo com especial gravidade a Grande Barreira de Coral da Austrália, o maior conjunto de recifes do mundo. O fenômeno foi descrito como uma catástrofe ambiental silenciosa e de grandes proporções. Um estudo publicado nesta quarta-feira (15) no site do periódico Nature põe números nessa afirmação: 91% dos recifes australianos foram afetados em alguma medida pela síndrome.


Uma equipe internacional de cientistas liderada pelo australiano Terry Hughes, da Universidade James Cook, fez um amplo inventário da tragédia. Usando imagens de avião e amostragens submarinas, eles analisaram 1.156 recifes distribuídos ao longo da Grande Barreira – uma área de mais de 340 mil quilômetros quadrados, mais ou menos equivalente ao território de Mato Grosso do Sul esticado ao longo de 2.300 quilômetros de costa.


A contagem revelou que apenas 8,9% dos recifes analisados não sofreram branqueamento nenhum em 2015 e 2016, anos em que a pandemia se instalou e atingiu seu pico. Esses recifes ficam na parte sul da Grande Barreira, onde tufões ajudaram a quebrar o aquecimento acachapante da água do mar australiano – em alguns lugares, a temperatura da água ficou 8oC mais alta que a média. O número de recifes que tiveram 60% ou mais de seus corais branqueados foi quatro vezes maior do que nas pandemias anteriores.
Corais embranquecidos na ilha Heron, Austrália. Foto: Richard Vevers/The Ocean Agency/Catlin Seaview Survey.
Corais embranquecidos na ilha Heron, Austrália. Foto: Richard Vevers/The Ocean Agency/Catlin Seaview Survey.


O branqueamento ocorre quando algum estresse, normalmente térmico, faz um coral expulsar as algas microscópicas que vivem em simbiose com ele. Essas algas, chamadas zooxantelas, são a principal fonte de alimento do coral e lhe dão cor. Quando o mar esquenta demais, elas vão embora. O coral passa fome e fica mais suscetível a doenças. Em muitos casos ele morre.


Desde que a síndrome foi descoberta, nos anos 1980, apenas três episódios globais de branqueamento ocorreram: em 1998 (um ano de forte El Niño), em 2002 e em 2015/16. O grupo de Hughes comparou o número de recifes afetados nos três episódios e confirmou o que todos já sabiam: a pandemia do ano passado foi, de longe, a pior da história. Em 1998, 42% dos corais australianos escaparam ilesos; em 2002, 45%.


O episódio é uma realização chocante do prognóstico feito dez anos atrás pelo IPCC, o painel do clima da ONU. Em seu quarto relatório de avaliação, o comitê previa que o aquecimento global causaria “mortandade disseminada de corais” na Austrália “em 2020”. Um relatório publicado nesta semana pelas ONGs Earth Justice e Environmental Justice Australia afirma que 22% dos corais australianos morreram. No ano passado, mergulhadores relataram ao jornal britânico The Guardian a experiência de sair da água impregnados com o mau cheiro de milhões de animais em decomposição.


O estudo de Hughes e colegas chama atenção para um aspecto particularmente dramático da última pandemia: não importa se os corais estavam em áreas livres de poluição ou sem pressão de pesca, eles branquearam do mesmo jeito.


O relatório das ONGs reforça a necessidade de aumentar a proteção da Grande Barreira, hoje inscrita como sítio do patrimônio natural da Unesco, pedindo que ela seja listada como sítio de patrimônio ameaçado e que todos os projetos de infraestrutura que aumentem a pressão sobre os recifes sejam cancelados.


A nova pesquisa dá a entender que tais esforços para evitar estresses não-climáticos são fúteis. Se eventos de aquecimento extremo do mar ficarem mais frequentes, com menos tempo para os corais se recuperarem – como prevê o IPCC –, nem toda a proteção do mundo poderá proteger a Grande Barreira. “Assegurar um futuro para os recifes de coral, em última análise, exige ação urgente e rápida para reduzir o aquecimento global”, escrevem os cientistas.

Republicado do Observatório do Clima através de parceria de conteúdo.

Descoberta primeira perereca fluorescente do mundo

 

Por Sabrina Rodrigues
Hypsiboas punctatus. Foto: Santiago Ron/Flickr
Hypsiboas punctatus. Foto: Santiago Ron/Flickr


É brasileira e do Pantanal o primeiro anfíbio fluorescente do mundo. A descoberta, publicada na segunda (13) pela revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, de que a perereca Hypsiboas punctatus apresenta coloração fluorescente, à noite, abre uma perspectiva emocionante na fisiologia e ecologia visual da rã e no papel da fluorescência em ambientes terrestres.


Donas de uma diversidade de cores, brilhos, e diferentes cantos, não se sabia, até a publicação dessa descrição, da capacidade dos anfíbios de possuir fluorescência, que nos seres vivos terrestres só apareciam, até o momento, em insetos.


A descoberta, feita por pesquisadores argentinos e brasileiros, aconteceu por acaso. O biólogo argentino Carlos Taboada queria saber o porquê da pigmentação vermelha e verde nessa espécie.


Após analisar a H. punctatus com uma luz ultravioleta, descobriu-se que em condições onde há pouca luz, a espécie emite um brilho verde muito forte. Na natureza, as pererecas absorvem a luz da Lua.


Os pesquisadores ainda não sabem informar qual a função ecológica desse brilho, mas acreditam que as emissões fluorescentes façam parte da comunicação visual desses anfíbios a fim de atrair futuros parceiros.


Saiba Mais

Artigo: Naturally occurring fluorescence in frogs. PNAS. On-line 13 mar. 2017.

ZEE não protege os lençóis freáticos do DF!!!






Ofício PWR 130 /2017                                                        Brasília, 11 de março de 2017.


Excelentíssimo Senhor
André Rodolfo de Lima
Secretario de Estado do Meio Ambiente
Assunto: Audiência Pública ZEE


Senhor Secretário,


A maior parte da Região Administrativa do Park Way está localizada na Área de Proteção Ambiental (APA) Gama Cabeça de Veado. Esta unidade de conservação está inserida dentro programa internacional da UNESCO de Reservas da Biosfera. De acordo com o Inventário Florestal do Distrito Federal, publicado recentemente, o Território possui menos de 40% de Cerrado íntegro. Lembrando que esse bioma faz parte dos chamados hotspots, que são áreas do Planeta com alta biodiversidade, alto endemismo e ameaçadas de desaparecer. No caso do Brasil, temos apenas duas: Cerrado e Mata Atlântica. Diante disso, e considerando que o bioma Cerrado ainda não é um patrimônio nacional inserido na Constituição, devemos preservar todos os fragmentos de Cerrado que ainda existem no Distrito Federal. Nesse contexto, acreditamos que os moradores do Park Way têm dado uma grande contribuição, pois possuímos a mais baixa densidade urbana tanto da APA Gama Cabeça de Veado como das bacias hidrográficas que compõem essa unidade de conservação.

2. De acordo com o novo Plano de Ação de Lima, do Programa MAB/UNESCO, as Reservas da Biosfera passam a ser os “laboratórios vivos” de trabalhos referentes às mudanças climáticas e aplicação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).  As Reservas da Biosfera devem se transformar em “áreas-piloto” ou “vitrines” mundiais de sustentabilidade do século XXI. Nesse contexto, é preciso cumprir compromissos internacionais assumidos pelo governo brasileiro, e, por conseguinte, pelo Distrito Federal quais sejam: Convenção da Diversidade Biológica; Metas de Aichi; Agenda 21; Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas; e Agenda 2030 referente aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Nesta questão, recentemente, ficamos muito satisfeitos ao receber a notícia pela imprensa de que o Governador Rollemberg assinou decreto instituindo o Grupo de Trabalho para implementar os dezessete objetivos e 149 metas dos ODS dentro do planejamento e das políticas públicas do Distrito Federal.

3. No que se refere a nós, da comunidade do Park Way, gostaríamos de informar que há anos trabalhamos pela preservação de nossos ecossistemas terrestres e aquáticos e a sustentabilidade de nossas atividades, de forma a mitigar nossos impactos. É freqüente estarmos disponibilizando nas redes sociais o trabalho de revegetação de Cerrado que vários moradores fazem ao longo de anos. Todos sabem da nossa luta por manter os últimos fragmentos de cerrado contíguos às nossas residências, e do empenho em transformá-los em bosques, reconhecidos pela legislação da APA Gama Cabeça de Veado. Não é novidade a pressão que tivemos, na última revisão do PDOT, para parcelarmos ainda mais os nossos lotes. Também é notória a pressão recente de elaboração da Lei de Uso e Ocupação do Solo – LUOS, tentando transformar nosso bairro em uso misto, onde cabe até indústria. 

4.Por tudo isso, temos consciência da importância estratégica de continuarmos sendo um bairro residencial onde o cerrado predomina dentro da sua poligonal. Temos claro que os oitenta metros de Área de Preservação Permanente dos cursos d’água que passam ao largo de nossas casas são fundamentais para garantir a qualidade da água que desemboca no Lago Paranoá. Temos clareza que podemos evitar ainda mais o assoreamento dos cursos d’água e do Lago. Possuímos informações científicas de professores da Universidade de Brasília e de pesquisadores da Reserva Ecológica do IBGE que nos mostram que adensar nosso bairro irá se refletir em piora da qualidade e quantidade hídrica da bacia.

5.Tendo por base o material do ZEE, que nos é apresentado nesta audiência pública e ao qual tivemos acesso, julgamos necessário tecer algumas considerações:
  1. É preciso apresentar as informações dos dados físicos e do mapa de vegetação em escala compatível com o Park Way, que é um bairro urbano. Fala-se no ZEE em manter os corredores ecológicos, áreas de preservação permanente, mas não há, no Zoneamento Ecológico Econômico, nenhuma menção ao principal: como estão nossas unidades de conservação?  Como elas se ligam em termos de fragmentos de cerrado? Onde estão nossos parques? Onde estão nossas Áreas de Preservação Permanente? Como podem produzir um mapa hidrográfico do Distrito Federal, contendo a nomenclatura de todos os cursos d’água e não aparecer, no produto final, nem os principais cursos de nosso bairro? Ainda mais lembrando do grande impacto que a segunda pista do Aeroporto trouxe ao Córrego do Cedro, sendo que ainda querem retirar mais cerrado, como também consta no mapa final do ZEE.  Como está a área núcleo da Reserva da Biosfera do Cerrado e sua zona de amortecimento, da qual fazemos parte? É preciso que a proposta encaminhada para a UNESCO, pelo MMA, no ano passado, de ampliação seja realmente assumida pelo Distrito Federal. Também é preciso que toda a vulnerabilidade física do lençol freático apontado pelo ZEE seja realmente norteadora na definição das zonas. Ou seja, é importante que o ZEE realmente dê destaque à parte ECOLÓGICA do trabalho. Afinal, deve ficar claro para o Governo do Distrito Federal, na elaboração do ZEE, que há quatro coisas que consideramos vitais para nossa comunidade:  

ü  ESTAR dentro de uma unidade de conservação e querer permanecer sendo vista como tal. Estar dentro de qualquer instrumento que trate de planejamento e gestão territorial e ambiental;

ü  ESTAR dentro de um programa internacional que é  a Reserva da Biosfera da UNESCO. E estar na zona de amortecimento da Reserva que EXIGE baixa densidade populacional;

ü  ESTAR na zona de tutela do IPHAN,  uma vez que o Park Way está na bacia do Paranoá, que é a área de tamponamento do Conjunto Urbanístico de Brasília. Logo, foi fixada altura máxima para as casas  dentro do nosso bairro e próximo, para não comprometer a visibilidade do horizonte a partir da área tombada;

ü  SER fornecedora de importante serviço ambiental para a população do Distrito Federal.  Afinal, a comunidade, há anos, preserva, regenera e recompõe o Cerrado, para garantir os corredores ecológicos para diversas espécies. E também contribui para a integridade dos ecossistemas aquáticos, ajudando a qualidade e quantidade de água das drenagens que correm para dentro do Lago Paranoá,  futuro reservatório para abastecimento da população do DF.



 Respeitosamente,



Flavia Ribeiro da Luz
Associação Park Way Residencial