sexta-feira, 17 de março de 2017

Madri destrói avenida em marginal para construir parque linear de 42km

segunda-feira, 13 de março de 2017


A estrada se transformou em uma enorme área de convivência, lazer e de resgate da biodiversidade

 
 
Madri não é apenas a capital espanhola, ela é também uma das maiores cidades europeias. Com seus mais de três milhões de habitantes, o município enfrenta muitos problemas comuns às metrópoles, como o trânsito e a falta de qualidade de área verde disponível aos moradores. Para resolver parcialmente este problema, a prefeitura local tem investido em soluções voltadas às pessoas e não apenas aos carros. Uma das grandes apostas foi a substituição da avenida na marginal do rio Manzanares por um parque linear.
 
 
A estrada, que antes transportara milhares de carros e possuía estruturas para mais de mil vagas de estacionamento subterrâneo, se transformou em uma enorme área de convivência, lazer e de resgate da biodiversidade local e da qualidade de vida dos moradores da região.
 
 
Assinado pelos arquitetos Gines Garrido e Adriaan Geuze, o parque linear foi apelidado de Madrid Río. O espaço concentra diversas opções de lazer e soluções que facilitam o deslocamento dos habitantes. Por ter 42 quilômetros de extensão, ele conecta vários bairros. Suas ciclovias e pistas de caminhada, cercadas por árvores e pelo próprio rio, permitem que as pessoas passeiem ou se desloquem entre os bairros com segurança. O parque ainda possui dezenas de estações de metrô e trem, que o conectam aos bairros mais periféricos.
 
 
O projeto trocou os mais de 200 mil carros que trafegavam pela avenida diariamente por onze novas áreas de lazer infantis, seis áreas de lazer para jovens e adultos, trinta quilômetros de ciclovias, 253 mil metros quadrados de áreas livres, que podem ser usadas para práticas esportivas diversas, 33 mil novas árvores e 429 hectares de zonas verdes.
 
 
A enorme área ao ar livre pode ser usada para o lazer e também para eventos culturais. Mas, a prefeitura também pretende transformar antigas estruturas nos arredores dos parques em centros culturas para exposições e aulas de dança e música.
 
 
O projeto foi idealizado pela prefeitura de Madri em 2007 e em 2011 já estava completamente finalizado. O que antes era apenas uma via exclusiva para o tráfego de veículos poluentes, hoje é um espaço que agrega vida e valo à cidade.
 
 
 
Clique aqui para ver mais detalhes deste projeto.
Assista o vídeo: https://vimeo.com/76502485
 
 
Fonte: Ciclo Vivo

Comunicação Ambiental e Poder

quarta-feira, 15 de março de 2017


Os problemas ambientais atingem a todos, independente de classe social, mas é óbvio que os pobres, que não tem como se defender, acabam sendo mais atingidos e são obrigados a migrar para não perecerem.




Isso não significa que ser rico servirá de salvo conduto para livrar uma pequena parcela de nossa espécie dos problemas ambientais. Pode resolver aqui e ali, localmente, mas se continuar a escalada irresponsável de uso ilimitado de recursos e de destruição de ecossistemas, nem os ricos terão para onde fugir, por que não existe um segundo planeta terra de recursos.



As economias capitalista e comunista, para ficar só nessas duas, não diferem na forma como extraem e transformam os recursos naturais. Ambas agem de maneira irresponsável ao tratar o Planeta como uma espécie de armazém de recursos naturais infinitos por um lado e uma lixeira de capacidade infinita para absorver nossos restos e poluição, por outro.




O Mar de Aral, que virou deserto na China Comunista, ou os frequentes acidentes ambientais no mundo capitalista revelam bem o quanto a questão ambiental e desrespeitada por ambos.



A corrida aos recursos naturais se intensificou ainda mais nas últimas duas centenas de anos com a invenção das máquinas, que mudou a escala da extração de recursos de artesanal para industrial, e com a elevação do consumismo como um valor a ser perseguido como sinônimo de sucesso e felicidade.




Em consequência, a pegada ecológica agigantou-se e nada indica que irá diminuir com o atual crescimento demográfico, o consumo de recursos limitados, a emissão de gases carbônicos, a extinção em massa das espécies.




O aumento dessa pegada ecológica não se converteu em melhor qualidade de vida no mundo e menos ainda no atendimento das necessidades dos mais pobres, mas serviu para aumentar ainda mais a concentração de riquezas ou nas mãos dos mais ricos, no caso dos regimes capitalistas, ou nas mãos do Estado, no caso dos regimes comunistas. Então, fica óbvio que não será aumentando o tamanho da pegada ecológica que se atenderá à necessidade dos mais pobres, mas distribuindo melhor as riquezas e combatendo a concentração de renda e de poder.




Seja no capitalismo ou no comunismo uma coisa é certa, os donos do poder político e econômico não gostam de perder poder.




E é aqui que entra a importância da comunicação a serviço da solução dos problemas ambientais e não a serviço de agravar estes problemas.



Se no passado os donos do poder político e econômico, seja no capitalismo ou no comunismo, usavam correntes, chicotes, tiros de canhão e masmorras para impor suas verdades, hoje, usam a comunicação meio verdadeira ou francamente mentirosa, ou manipulada com o mesmo propósito: nos manter escravos de uma lógica que beneficia a poucos e está nos levando a um ponto ambiental planetário de não retorno que ameaça a todos.




Como manobra para desviar o foco de nossa atenção, a comunicação manipulada e manipuladora tergiversa, lança suspeitas, confunde a opinião pública sugerindo que a crise ambiental não é tão grave assim, que os ambientalistas são apocalípticos, que o agravamento das mudanças climáticas é uma mentira, que o planeta tem recursos de sobra para todos, que o ideal é o consumismo como meta de felicidade.




Manipula com nossa culpa, como se cada um de nós, individualmente fosse responsável pelo atual colapso ambiental. Um truque sujo para desviar nossa atenção, colocando a todos num mesmo saco, explorados e exploradores, como se o poder de decisão fosse igual para todos nós, como se a solução para os nossos problemas ambientais fosse apenas uma questão de mudar o estilo de vida, pegar mais leve com o planeta, praticar a reciclagem, andar de bicicleta, usar energias alternativas, etc. 




Sim, claro, tudo isso ajudaria, mas sem modificar as atuais estruturas de concentração de riquezas e de poder nas mãos de poucos, a crise planetária prosseguirá, por que prosseguirá a apropriação desigual dos recursos, não para o atendimento das necessidades de todos, mas para a concentração de rendas, riquezas e poder nas mãos de poucos que nos dominam, corrompem e manipulam.





Como o amor, a fraternidade, a solidariedade não se dão por decreto, a humanidade terá ainda uma dura jornada pela frente para aprender a dominar a si própria antes de pretender dominar a natureza, pois o que conseguimos até aqui foi mais destruir e arrasar que colaborar para tornar este mundo melhor.


Fonte: Envolverde

MPF requer que mineradora condenada por danos ambientais em Santo Amaro (BA) pague multa de R$59 milhões

terça-feira, 14 de março de 2017


Plumbum foi condenada por não sinalizar corretamente área com contaminação por cádmio e chumbo causada pelas atividades da empresa

 
 
O Ministério Público Federal na Bahia (MPF/BA) requereu na última sexta-feira, 10 de março, à Justiça Federal, que a mineradora Plumbum Comércio e Representações de Produtos Minerais e Industriais Ltda. seja obrigada a pagar a multa no valor de R$ 59.332.082,50, conforme decisão liminar de fevereiro de 2003. A liminar, emitida a pedido do MPF, concedeu prazo de 15 dias para a mineradora sinalizar os locais em Santo Amaro da Purificação (BA) que, por conta de sua exploração, foram contaminados por cádmio e chumbo.
 
 
A Plumbum encerrou as atividades na região em 1993. Desde então, a mineradora foi acionada diversas vezes para reparar os danos ao meio ambiente e à população local. A liminar de 2003 determinava à empresa a obrigação de realizar o cercamento eficaz da área contaminada; colocar placas indicativas do perigo decorrente da utilização e/ou contato com o material tóxico ali depositado; vigiar de forma permanente a área, a fim de evitar o trânsito de pessoas e de animais; e instalar uma “área alagadiça” que evitasse a migração dos resíduos para o leito do Rio Subaé, situado a 300 metros do local.
 
 
A Justiça definiu multa diária de 5 mil reais por dia de atraso, que foi aumentada para 10 mil reais diários, por deliberação judicial publicada em maio de 2012, quando foi concedido novo prazo, de 15 dias, para a Plumbum confirmar o cumprimento das obrigações. Em 2014, a Justiça publicou a sentença do processo, confirmando a liminar, mas a multa nunca foi paga.
 
 
Após diversas inspeções realizadas ao longo dos anos pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), que constataram que as determinações judiciais não haviam sido cumpridas, o procurador da República Pablo Coutinho Barreto requereu, diante do descumprimento das decisões, a execução da multa, que resultou naquele valor. O cálculo do montante foi feito conforme o art. 537 do Código de Processo Civil, parágrafo 4º: “A multa será devida desde o dia em que se configurar o descumprimento da decisão e incidirá enquanto não for cumprida a decisão que a tiver cominado.”
 
 
Confira a íntegra do requerimento de cumprimento provisório.
Fonte: Ministério Público Federal na Bahia

Mineradoras, latifundiários e senador seriam beneficiados por redução de reservas no Amazonas



Levantamento inédito do ISA mostra que grandes intereses econômicos podem sair ganhando com proposta de políticos amazonenses

Diferentemente do que dizem políticos do Amazonas, existem grandes interesses econômicos por trás da proposta de reduzir a área para conservação, na região de Apuí, no sul do Estado. É o que revela um levantamento inédito do Programa de Monitoramento de Áreas Protegidas do ISA (veja o mapa abaixo e acesse a nota técnica ).


Parlamentares, prefeitos e a Federação de Agricultura e Pecuária do Amazonas (FAEA) insistem que a implantação de Unidades de Conservação (UCs) na região vai expulsar principalmente pequenos agricultores. Se a ideia de retalhar essas áreas sair do papel, no entanto, um projeto hidrelétrico do senador Ivo Cassol (PP-RO), mineradoras nacionais e estrangeiras, latifundiários e, provavelmente, grileiros de terra podem ser beneficiados.



Mapa com todos os interesses sobre as UCs  
Em fevereiro, o ISA noticiou que um movimento encabeçado pela bancada amazonense no Congresso articulava com a Casa Civil a elaboração de um projeto de lei para extinguir a Área de Proteção Ambiental (APA) de Campos de Manicoré, diminuir o Parque Nacional (Parna) do Acari, a Reserva Biológica (Rebio) de Manicoré, as florestas nacionais (Flonas) de Urupadi e Aripuanã, todas criadas em maio de 2016.


A área protegida total cairia de 2,6 milhões de hectares para 1,6 milhão de hectares, um decréscimo de 65%. O território perdido para a conservação, de 1 milhão de hectares, equivale à metade do estado de Sergipe (saiba mais).


Pressão

Na semana passada, os políticos amazonenses reuniram-se com o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho. A conversa resultou na instituição de um grupo de trabalho, com técnicos do governo e representantes dos parlamentares, para analisar o caso. No início de abril, os dois lados tentarão chegar a um acordo num novo encontro. Pego de surpresa pelas articulações com outra pasta, Sarney resiste à ideia, mas a pressão é muito forte.


Cachoeira do Rio Camaiu, no Parque Nacional do Acari


Os técnicos do Ministério do Meio Ambiente (MMA) explicam que o desenho final das UCs deixou de fora delas estradas, vários empreendimentos e ocupações consideradas legítimas. Lembram também que, com exceção da Rebio, as reservas permitem atividades econômicas, como a produção agropecuária, mineração, manejo florestal e turismo.


“Ninguém está criando UCs em cima de uma ocupação antiga. Ouvimos muito esse discurso. Não é isso”, afirma a secretária de Biodiversidade e Florestas do MMA na época em que as unidades foram instituídas, Ana Cristina Barros. Ela conta que as negociações com o governo e políticos amazonenses, população local e outros ministérios foram exaustivas. O MMA teria cedido em vários pontos.


O senador Omar Aziz (PSD-AM) discorda e diz que as tratativas foram atropeladas. Para ele, a decretação das UCs, no último dia de mandato de Dilma Rousseff, teria sido uma represália aos parlamentares do Amazonas que votaram pelo impeachment. Aziz reafirma que os principais prejudicados com as UCs seriam pequenos produtores rurais instalados na região há décadas. “Não existe grande agricultor no Amazonas. Não temos grandes plantações”, diz.


“Esse movimento não é um fato isolado, mas faz parte de uma estratégia com várias frentes, operada por setores do agronegócio, mineração e produção de energia, para fragilizar o Sistema Nacional de UCs”, denuncia a coordenadora de Política e Direito do ISA, Adriana Ramos. “Considerando a atual retomada do desmatamento, essa proposta demonstra falta de responsabilidade e compromisso com a conservação. O governo federal deveria ser o principal interessado em fortalecer seu principal instrumento de combate ao desflorestamento, que é a criação de UCs, conforme reconhece a nova versão do próprio Plano de Combate ao Desmatamento na Amazônia”, completa.


Ivo Cassol

Se o território atual do Parna for mantido, Ivo Cassol perderá, logo de cara, pelo menos R$ 1,2 milhão, gasto no estudo de inventário hidrelétrico do Rio Acari, que corta a área. A usina prevista foi estimada em até R$ 700 milhões. Conforme a legislação, os parques não permitem empreendimentos ou atividades econômicas em seu interior, a não ser o turismo.


A empresa do parlamentar, Eletrossol, pediu à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a autorização para iniciar a avaliação do potencial hidrelétrico do rio, em 2012, e enviou o primeiro inventário, em 2014, antes da decretação das reservas ambientais. O estudo foi rejeitado e, de acordo com Cassol, foi reformulado e reapresentado à agência, em fevereiro deste ano, nove meses após a criação do parque, para que aquele investimento inicial não fosse perdido. Caso o governo resolva diminuir a UC, autorize a barragem e outra empresa ganhe a concessão da hidrelétrica, ela será obrigada a ressarcir a Eletrossol.


Cachoeira no Rio Acari, onde está prevista uma hidrelétrica   
O senador minimiza seu interesse no empreendimento porque a Aneel, ao analisar o caso, teria recomendado um projeto com potencial de geração de 140 MW, enquanto a Eletrossol explora hoje apenas usinas de até 30 MW. O desenho proposto pelos parlamentares amazonenses, no entanto, exclui cirurgicamente todo o leito do Rio Acari do parque nacional (veja no mapa acima).


Cassol defende a proposta de redução das reservas, mas nega que esteja participando das negociações para viabilizá-la. “É melhor uma redução sem litígio do que se criar expectativas e deixarmos esse povo abandonado”, afirma, referindo-se às comunidades locais.
Mapa de interesses minerários

Mineração

O levantamento do ISA mostra que há 205 pedidos e autorizações de pesquisa e exploração protocolados no Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) cujos polígonos estão sobrepostos às UCs. Desse total, mais da metade incide sobre os trechos que os políticos pretendem desproteger. Os processos têm como alvo a exploração de vários minérios, mas a imensa maioria visa a extração de ouro.


O caso que chama mais atenção é o do Parna do Acari. O desenho proposto pelos parlamentares e a Casa Civil exclui de seu território quase com exatidão os polígonos dos 49 processos minerários sobrepostos ao parque (veja o mapa). Entre os interessados, estão pessoas físicas, cooperativas de garimpeiros, pequenas e médias mineradoras, algumas de capital estrangeiro. A BBX do Brasil é subsidiária da australiana BBX Minerals e a BMIX está vinculada à norte-americana Brazil Minerals Inc., por exemplo.


Daniel Geyerhahn Garcia e Luiz Fernando Lacerda Silva deram entrada a 32 desses processos minerários. Eles detêm sobretudo permissões de lavra garimpeira. Nos documentos de criação das UCs, os dois são identificados como representantes da empresa Goldmen Group.


Garcia esteve na reunião no MMA. Depois de seu encerramento, defendeu a redução do Parna ou sua transformação numa Flona, que permite a mineração, para técnicos do ministério. Ele informou que suas autorizações foram concedidas antes da criação das reservas e que tem a licença ambiental de operação concedida pelo governo do Amazonas para começar o empreendimento. Garcia disse que só daria entrevistas depois da nova reunião marcada por Sarney Filho.


Em um ofício encaminhado, em maio de 2015, ao Instituto Chico Mendes de Conservação de Biodiversidade (ICMBio) e anexado ao processo de criação das UCs, Garcia adverte que até então gastara R$ 2 milhões com pesquisas e burocracia para tirar do papel seu negócio. A BBX teria investido R$ 2,6 milhões. Um parecer de Garcia também anexado à papelada menciona que a mineração envolve “altos investimentos na região para a extração de cobre e ouro em uma área com potencial de ser uma mina de classe mundial”. O documento diz ainda que “Apuí se tornará no (sic) Carajás de ouro e cobre do Amazonas, desde que haja condições de se continuar a fazer pesquisa mineral na região”.


Mapa dos CAR sobrpostos às UCs

Latifúndios gigantescos

O levantamento do ISA sobre os Cadastros Ambientais Rurais (CARs) registrados na região mostra que latifundiários e, provavelmente, grileiros podem ser beneficiados pela redução das UCs. Conforme a análise, existem 162 áreas cadastradas incidentes sobre as cinco reservas, dos quais 134 estão sobrepostas a trechos com propostas de exclusão. A área média dos imóveis nesses trechos é de 6,2 mil hectares, ou seja, várias dessas terras, se não forem protegidas, poderão ser desmatadas e transformadas em latifúndios gigantescos.


Previsto pelo Código Florestal de 2012, o CAR pretende viabilizar a regularização ambiental por meio do registro das áreas desmatadas e das que devem ser reflorestadas em cada propriedade rural. Ele é uma arma importante no combate ao desmatamento ilegal. De acordo com a Lei, o cadastro é autodeclaratório, feito pela internet e não tem valor para fins de regularização fundiária.


Em regiões com conflitos de terras, como a Amazônia, no entanto, o CAR tem sido usado por grileiros para tentar comprovar a posse da terra. A chance de que isso esteja acontecendo no sul do Amazonas é muito grande, segundo especialistas e técnicos do governo ouvidos pela reportagem. E não só pelo tamanho das áreas cadastradas.


Entre os 11 maiores CARs registrados sobrepostos às UCs, três deles foram feitos após 12/5/2016, quando elas foram decretadas. O maior foi feito em outubro, quase cinco meses depois, e tem inimagináveis 250 mil hectares, o equivalente a mais de uma vez e meia a extensão da cidade de São Paulo.


O cadastro sobrepõe-se ao Parna do Acari e à Estação Ecológica do Alto Maués, além das flonas de Urupadi e de Pau Rosa. Os outros dois cadastros têm 70 mil hectares e 20 mil hectares.


O registro do CAR numa área protegida é outro indício de que se trata de uma tentativa de grilagem – talvez motivada pela expectativa de desproteção da terra. Outro argumento a favor das UCs é justamente o de que toda a região foi avaliada pelo Programa Terra Legal durante dois anos. Em 2014, três milhões de hectares foram identificados como terras federais e destinados ao MMA. Daí a criação das reservas.


“Querem oficializar a grilagem. Isso abre um precedente seríssimo para as outras regiões. Não tem explicação, não tem cabimento”, disse a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, em entrevista ao Observatório do Clima.


O presidente da FAEA, Muni Lourenço Silva Júnior, considera que, ao transferir as terras para o MMA, o governo federal desconsiderou processos de regularização em andamento. “A grande parcela, quase absoluta, do universo desses produtores, dessas famílias rurais existentes na região não se confunde com grileiros. Pelo contrário, boa parte dessas pessoas tem protocolos na mão de pedidos de regularização junto ao Terra Legal, mas que não foram concluídos até o momento por motivos alheios à sua vontade”, conclui.

COMENTARIO


 Antonio Lourenço ·
 
 
Mais uma vez observamos as manipulações políticas, que em conjunto com os grileiros do agronegócio, unem-se para destruir o bioma amazônico. É muito triste saber que nos últimos anos estamos passando por diversas crises de falta de água nos reservatórios por falta de chuva, a crise energética como também acontecendo o fenômeno do aquecimento global, justamente pela eminente perda de florestas. 



As nossas ultimas florestas, que deveriam ser preservadas a qualquer custo em prol de toda a humanidade, estão sendo devastadas? O que observamos é que estão sendo loteadas e desmatadas todos os dias por ações com a ajuda de políticos corruptos que se encarregam de burlar o sistema de proteção as florestas com propostas de mudanças nas leis, criando novas leis através de PECs em seu benefício e em benefício dos grandes latifundiários, madeireiros e mineradoras, seus financiadores de campanha que insistem neste sistema fraudulento de corrupção implantado no país para obter vantagens. 



Assim para atingir suas metas escusas e criminosas, iniciam um processos de sensibilização da sociedade através da suposta necessidade de atender aos ensejos dos pequenos produtores para ter a sua terra para trabalhar burlando a opinião pública de que o povo também precisa? 



Eu até concordo em fazer uma revisão agrária que beneficio das classes de pequenos produtores para conseguir suas terra para trabalhar e produzir, mas sim, através de projetos sustentáveis de distribuição de terras em terras já desmatadas e devidamente desapropriadas da forma legal e com estudos de viabilidade econômica e ambiental, juntamente dando os benefícios e ajuda de custos através de programas descentes promovido pelo Governo Federal. 


Mas a forma que estamos observando é uma doentia corrida para ganhar dinheiro com minérios, abertura de grandes áreas para beneficiar os grandes latifundiários e mercenários que colocam suas necessidades de ganhos imediatistas, acima das necessidades de equilíbrio do planeta e dos direitos das outras pessoas de pertencer a um planeta equilibrado assim derrubando as matas e destruindo o ecossistema. 


Utilizam políticos corruptos para conseguir entrar nas Unidades de Conservação já demarcadas e consolidadas, com o triste propósito de destruir um bem de todos em benefício de alguns, destruindo todo um eco sistema produtor de chuva e de água natural que ainda nos resta que mantém funcionando o sistema de chuvas, assim como também, é o sistema mantenedor de equilíbrio ambiental natural, neste contexto ainda temos tribos indígenas em risco de extinção e desconstrução social e cultural e ainda toda uma biodiversidade que já se encontra já ameaçada por tantos outros projetos em andamento. 


Peço a todos que sejam contrários a qualquer tentativa dos políticos fazerem valer qualquer tentativa de burlar as leis que protegem as áreas de unidade de conservação no país e, principalmente nas que já estão em suas listas, como a da Cachoeira do Rio Camaiu, no Parque Nacional do Acari/ ICBIO
 

Bacia do Rio Doce tem 500 nascentes recuperadas

quinta-feira, 16 de março de 2017


Trabalho acaba de ser finalizado por meio de uma parceria entre Fundação Renova e Instituto Terra ao longo da Bacia do Rio Doce em Minas Gerais e Espírito Santo.  217 produtores rurais se cadastraram e aderiram ao projeto de maneira voluntária




Um passo importante para a recuperação do Rio Doce acaba de ser concluído. A proteção de 511 nascentes de afluentes da Bacia Hidrográfica do Rio Doce, em Minas Gerais e no Espírito Santo, foi realizada por meio de uma parceria entre a Fundação Renova e o Instituto Terra. Ao todo, a Fundação Renova promoverá a recuperação de 5 mil nascentes na região ao longo de dez anos. Das 511 primeiras nascentes recuperadas, 251 estão em MG e 260 no ES. 



O trabalho contempla as bacias dos rios Pancas, envolvendo os municípios de Pancas, Governador Lindenberg, Marilândia e Colatina; e Santa Maria do Doce, em Colatina, no Espírito Santo. Em Minas, as ações foram na bacia do Rio Suaçuí Grande, nos municípios Itambacuri, Frei Inocêncio, Jampruca e Campanário. A escolha das áreas prioritárias contou com a participação dos Comitês de Bacia envolvidos e de lideranças das comunidades locais. O Comitê de Bacias Hidrográfica do Rio Doce (CBH Doce) é quem tem a responsabilidade de indicar em quais bacias a Fundação Renova deve iniciar a recuperação das nascentes.



EM CAMPO
O produtor rural Antônio Fantini, de 46 anos, mantém uma propriedade de 10 hectares em Itambacuri (MG), localizado no Vale do Rio Doce.




A parceria entre a Renova e o Instituto Terra providenciou o cercamento de dois olhos d’água no terreno de Fantini, nascedouros que formam o Córrego Cupim. “É uma iniciativa que compensa. Espero colher benefícios com essa ação. Eu já tinha alguns projetos para proteger essas nascentes, iria até cercar por conta própria. A iniciativa veio na hora certa”, explica. No terreno do produtor, o trabalho foi concluído em dezembro de 2016 e demandou 240 estacas e 314 metros de arame para cada nascente.



Fantini, que cria cerca de 30 cabeças de gado, diz saber da importância da medida de proteção para evitar que a criação impacte negativamente as nascentes, principalmente devido à compactação do solo. Ele acrescenta que a conscientização junto aos produtores da região é bem-vinda. “Alguns cuidam das nascentes, outros não. É sempre importante esse trabalho. No final das contas, vai contribuir para a recuperação do Rio Doce”, conclui Fantini.



ETAPAS DO PROCESSO
essa etapa do processo de recuperação, produtores rurais receberam orientação técnica e todo o material para cercar as áreas de nascentes, como estacas, arames e grampos, além de um incentivo financeiro para realizar o trabalho. A partir dessa definição, 217 produtores se cadastraram e aderiram ao projeto de maneira voluntária, entendendo a importância da inciativa para o meio ambiente e também para manter as propriedades produtivas.



A ideia é que a proteção, através do cercamento, evite o pisoteio do gado nas áreas de nascente e a degradação vegetal, favorecendo a regeneração florestal. Com isso, o solo fica em condições favoráveis para reter a água da chuva, garantindo o recurso de qualidade para as atividades domésticas das propriedades e agrorurais, como irrigação, pasto e criação de pescados, por exemplo.



A próxima etapa, que será realizada até setembro deste ano, prevê a implantação de fossas sépticas nas propriedades, para evitar o despejo de esgoto no lençol freático. Além disso, contempla instalação caixas secas e barraginhas, evitando o carreamento do solo e garantindo a captação da água da chuva para reaproveitamento.


De novembro deste ano a janeiro de 2018, no período chuvoso, também serão reflorestados cerca de 300 hectares em Minas e Espírito Santo. Preparação do solo, adubação e plantio mudas de espécies de Mata atlântica nas áreas de entorno das nascentes são ações que farão parte do trabalho.



Recuperação de nascentes, como funciona:
> A recuperação de nascentes tem como princípio básico a proteção da superfície do solo, criando condições favoráveis à infiltração da água;
> Nessa etapa de proteção das áreas foram 511 nascentes contempladas, 251 em Minas Gerais e 260 no Espírito Santo;
> Em cada área de nascente foram cercados 314 metros de perímetro;
> Com o cercamento, o objetivo é deixar a vegetação se regenerar e voltar a reter a água de chuva, garantindo um fluxo de água;
> Os resultados poderão ser percebidos entre 6 meses e 2 anos, dependendo da região e do nível de chuva.



INSTITUTO TERRA
O Instituto Terra é fruto da iniciativa do casal, Lélia Deluiz Wanick Salgado e Sebastião Salgado, que há pouco mais de uma década, diante de um cenário de degradação ambiental em que se encontrava a antiga fazenda de gado adquirida da família de Sebastião Salgado, na cidade mineira de Aimorés, tomou uma decisão: devolver à natureza o que décadas de degradação ambiental destruiu. Mobilizaram parceiros, captaram recursos e fundaram, em abril de 1998, a organização ambiental dedicada ao desenvolvimento sustentável do Vale do Rio Doce.


O Instituto Terra é uma organização civil sem fins lucrativos fundada em abril de 1998, que atua na região do Vale do Rio Doce, entre os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Trata-se de uma região do Brasil que vivencia as consequências do desmatamento e do uso desordenado dos recursos naturais como a seca, a erosão do solo e a falta de condições para o homem do campo viver e prosperar.



Atualmente o Instituto Terra conta com 22 associados, sendo dois associados fundadores vitalícios, oito associados fundadores e 12 associados efetivos. Suas principais ações envolvem a restauração ecossistêmica, produção de mudas de Mata Atlântica, extensão ambiental, educação ambiental e pesquisa científica aplicada.




Sobre a Fundação Renova
A Fundação Renova é uma instituição autônoma e independente constituída para reparar os danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, ocorrido em Mariana (MG), em novembro de 2015. Entidade privada, sem fins lucrativos,  garante transparência, legitimidade e senso de urgência a um processo complexo e de longo prazo.



A Fundação foi estabelecida por meio de um Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC), assinado entre Samarco, suas acionistas, os governos federal e dos estados de Minas Gerais e do Espírito Santo, além de uma série de autarquias, fundações e institutos (como Ibama, Instituto Chico Mendes, Agência Nacional de Águas, Instituto Estadual de Florestas, Funai, Secretarias de Meio Ambiente, dentre outros), em março de 2016.


Fonte: Envolverde

A crise hídrica perfeita, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

quarta-feira, 5 de agosto de 2015


São cinco fatores fundamentais que geram a atual crise hídrica brasileira.
 
 

O primeiro, alertado por vários cientistas, é a possível ruptura no ciclo de nossas águas. Em resumo, grande parte delas tem origem na evapotranspiração da floresta amazônica, sendo carreada para o sul, centro-oeste e sudeste pelos rios voadores. Com a derrubada da floresta amazônica os rios voadores estão perdendo força.


Completa essa ruptura o desmatamento do Cerrado, que tem como consequência sua impermeabilização. O Cerrado não está na origem do ciclo de nossas águas, mas tem o papel fundamental de armazená-las em tempos de chuva e depois liberá-las para nossas bacias hidrográficas em tempos de estiagem. É o que os técnicos chamam de vazão de base. Ela garantia a perenidade de nossos rios, a exemplo do São Francisco. Hoje porém, com menos absorção, não garante mais.

 
 
O segundo fator é a escassez qualitativa. Destruídos, poluídos, muitas vezes os mananciais estão ao lado de nossas casas, cortando nossas cidades, mas impróprios para o consumo humano e doméstico. O exemplo mais clássico são as águas do Tietê do Pinheiros em São Paulo. Mas podemos estender essa lógica a todos os rios que atravessam centros urbanos, desde os pequenos até os grandes.

 
 
O terceiro fator é a expansão do uso da água para fins econômicos, particularmente a agricultura irrigada. Hoje temos 6 milhões de hectares irrigados e eles são responsáveis por 72% da água doce consumida no Brasil. Entretanto, estudiosos dizem que temos potencial para mais 29 milhões de hectares – outros falam em 60 milhões -, sobretudo no território do agronegócio chamado de MATOPIBA, iniciais de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

 
 
O quarto fator é o hidronegócio. A mercantilização da água despertou cobiça no mundo inteiro em seus múltiplos usos, particularmente dos serviços de abastecimento urbano e na água envazada. Quando um bem essencial à vida como a água é apropriado privadamente e mercantilizado, passa a ser gerido pelas regras absolutistas do mercado. A consequência é o preço exorbitante da água para populações mais pobres e o lucro soberbo das empresas que adquirem esses serviços. O que aconteceu em Itu e nas periferias da grande São Paulo ilustram esse fator de forma cabal.

 
 
Finalmente, o descuido. Não temos nenhuma política de educação, ética do cuidado com nossos mananciais ou a utilização de nossas águas. Mesmo quando a questão é abordada, simplesmente prefere-se transferir o problema para os consumidores domésticos, exatamente a parte menos influente na crise.

 
 
A ruptura do ciclo das águas + escassez qualitativa + expansão da demanda + hidronegócio – cuidado. Eis a equação da crise perfeita e perversa.

 
 
Roberto Malvezzi (Gogó), Articulista do Portal EcoDebate, possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.

Fonte: EcoDebate

Ongs acusam Burger King de ligação com desmatamento do Cerrado

terça-feira, 14 de março de 2017


Mas de 50% do Cerrado já foi destruído.

O Engajamundo organizou no último domingo (12) uma ação em frente ao Burger King da Avenida Paulista, em São Paulo (SP), para chamar a atenção sobre a ligação entre a carne dos hambúrgueres da rede de fast food com o desmatamento extensivo do Cerrado.

A ação foi protagonizada por jovens ativistas fantasiados, alguns deles de mágicos, que fizeram o “truque” de transformar árvores em hambúrgueres.

A atividade foi motivada pelo relatório “O Maior Mistério da Produção de Carne – Os Segredos do Burger King”, lançado recentemente pela organização norte-americana Mighty Earth e pela norueguesa Rainforest Foundation Norway, que denuncia o avanço do desmatamento do Cerrado e a falta de ação por parte do Burger King e de seus fornecedores para assegurar que não estão comprando soja vinculada à destruição da savana brasileira.

Usando cartazes com mensagens impactantes e lúdicas e dados do relatório da Mighty Earth, os jovens chamaram a atenção do público para o impacto de suas escolhas de consumo ao meio ambiente e cobraram mudanças efetivas por parte do Burger King, entre as quais a divulgação do nome de seus fornecedores, informando se e como eles estão em conformidade com políticas de sustentabilidade; e a adesão à extensão da moratória da soja – sendo adotada há 10 anos na Amazônia – para o Cerrado.

“No Brasil, poucas pessoas sabem do impacto que o agronegócio e a produção de alimentos têm sobre os biomas brasileiros, em particular sobre o Cerrado, e o clima do planeta. A nossa ação teve como objetivo chamar a atenção para isso e também para cobrar respostas efetivas do Burger King”, afirmou Raquel Rosenberg, uma das coordenadoras do Engajamundo.

Cerca de 75% da produção mundial é utilizada na alimentação de animais. Mais de um milhão de quilômetros quadrados do nosso planeta – equivalente ao total das áreas da França, Alemanha, Bélgica e Países Baixos combinadas – são dedicados à produção de soja. A soja é considerada o segundo maior vetor de desmatamento de florestas no mundo, ficando apenas atrás da pecuária.

A investigação da Mighty e da RFN constatou que mais de 500 mil hectares da área em que a Bunge opera foram desmatados entre 2011 e 2015 apenas no Cerrado. No mesmo período de cinco anos, a Cargill operou em áreas do Cerrado que apresentaram 130 mil hectares de desmatamento. Além de comprar soja, a Cargill e a Bunge financiam estradas e outras infraestruturas e fornecem fertilizantes e outros recursos aos agricultores. Nem todo o desmatamento registrado entre 2011 a 2015 pode ser atribuído a essas empresas, mas os dados colhidos demonstram que elas têm um papel direto e nado desprezível na destruição da sociodiversidade da região.

A Cargill e a Bunge vendem soja a produtores da carne que é utilizada na produção de hambúrgueres, nuggets de frango, cachorros-quentes e outros produtos. Não foi possível obter o número exato de quanta soja produzida no Cerrado está na cadeia de suprimentos do Burger King, pois a empresa não divulga a lista completa de seus fornecedores.

Segundo a ong, mais que 50% do Cerrado, bioma conhecido como o berço das águas do Brasil por abrigar as principais bacias hidrográficas brasileiras, já foi destruído. O Cerrado tem hoje uma taxa de desmatamento 2,5 maior que a Amazônia e, sob o atual amparo legal, será possível desmatar o bioma até que só 10% a 15% de sua cobertura original seja mantida.

O Engajamundo é uma organização com lideranças jovens e feita para jovens. Formada por mais de 1,2 mil ativistas de 15 e 29 anos, a organização busca empoderar a juventude para compreender, participar e incidir em processos políticos nacionais e internacionais por meio de formações, mobilização e ações de ativismo. Em janeiro deste ano, o Engajamundo ganhou o concurso Juventude e Meio Ambiente da Agência Europeia de Meio Ambiente, e participará de eventos organizados pela instituição com especialistas e ativistas.

Fonte: Ciclo Vivo

A música que a Natureza precisa

Por Suzana Padua
ipe-amarelo
Ipê-amarelo (Handroanthus albus). Foto: Mauro Guanandi/Flickr


Há 25 anos assisti a uma palestra do Dr. Kent Redford que me deu grande emoção. Primeiro, o teor e a forma criativa de expor o conteúdo por meio de metáforas com sensibilidade e coerência.  Segundo, porque a ocasião do evento foi a fundação do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, do qual faço parte desde o início, tendo Kent como um de nossos Conselheiros por alguns anos. O evento foi em março de 1992 no auditório da ESALQ em Piracicaba.


Do que constava sua fala? Kent comparou a conservação da natureza e das áreas protegidas a Ulisses, na Grécia antiga, que reconhecendo sua vulnerabilidade como homem, já que não era deus, pediu para ser amarrado ao mastro de seu navio para não se deixar tentar pelo canto das sereias. Cabia a ele a responsabilidade de conduzir a embarcação com segurança ao seu destino e, tanto ele quanto sua equipe sabiam que passariam próximos a uma ilha onde viviam as sereias que seduziam por sua beleza e canto cheio de magia.


Os desafios da conservação têm sido marcados pela sedução de aparentes vantagens, hoje responsáveis pela destruição maciça da natureza, seja construção de estradas, exploração de minérios valiosos, plantio de um produto rentável em larga escala, criação de animais para o abate, ou qualquer outra atividade econômica, comuns mundo afora. As escolhas humanas vêm sobrepondo à conservação e o mundo natural encontra-se cada vez mais diminuto e menos protegido. Com isso, temos que ter mais e mais cuidados para não nos deixarmos seduzir pelo canto das sereias que se proliferam exponencialmente.


"Precisamos ter mais e mais cuidados para não nos deixarmos seduzir pelo canto das sereias que se proliferam exponencialmente"
Precisamos nos lembrar que somos seres vivos integrantes de uma teia complexa de elementos que perfazem o sistema terrestre. Se nos deixarmos cair na tentação de abrirmos mão de nossos propósitos mais valiosos, dos quais a celebração da vida faz parte, cairemos no canto das sereias. Amarrem-nos, dizia Kent. Apertem mais e mais as cordas para que não avancemos nas áreas protegidas.


Precisamos proteger a natureza de nós mesmos e de nossas escolhas equivocadas, de modo a que a riqueza da vida permaneça tanto na terra quanto nas águas e no ar. O planeta nos proporcionou abundância de espécies, ecossistemas, biomas que merecem a chance de continuar sua trajetória evolutiva, com os mares salvaguardados, os rios com águas límpidas e cheios de vida, e tudo o mais que herdamos nessa nossa breve passagem por aqui. A cada tentação, amarrem-nos mais fortes e nos tirem as vendas da cegueira da ganância.


Mais recentemente, li sobre outro personagem do mundo mitológico, e achei que valia ser relembrado: Orpheu. Ao tocar sua lira, tamanha era a perfeição do som que produzia que a todos encantava. O mal e o bem se estarreciam diante de tanta beleza. Até as árvores se curvavam ao som de sua música mágica. Orfeu apaixonou-se perdidamente e perdeu seu amor cedo. Foi às profundezas sombrias tentando resgatá-la, e até lá encantou a todos que encontrou, e por isso não foi contagiado pelo mal. Acabou por perder seu amor para sempre, mas ficou a magia de sua música e sua lira se tornou uma constelação da via láctea.


O que Orfeu tem a ver com conservação? Como educadora ambiental, busco formas de encantar as pessoas com as belezas naturais que estão por toda parte. Estão dentro e fora de nós. Estão ao redor e nas alturas, no sistema cósmico a que pertencemos. Todo a intrincada teia de vida da qual dependemos e fazemos parte é de imensa beleza, sutil, delicada e por vezes agressiva, mas sempre em harmonia com um propósito maior, e por isso merecedora de nossa reverência e maravilhamento.


Precisamos encontrar liras que sonorizem nuances de tons que sejam tão bem tocados que nos afastem das tentações de abrir mão do que realmente vale a pena. E no caminho que percorrermos, é fundamental que contagiemos a todos com esse sentimento de êxtase que a natureza é capaz de nos despertar.


Que o IPÊ e todos que buscam proteger a natureza encontrem liras à altura de Orfeu, suficientes para cumprir nosso papel de dar exemplo de que é possível viver sem destruir. É possível proteger e ajudar àqueles que desejam novos modelos de desenvolvimento integrado à vida. Nossa felicidade muito depende desse novo pensar e que nossos caminhos sejam banhados de músicas inspiradoras e não de cantos de sereias tentadoras.