sábado, 20 de maio de 2017

Governo, grileiros e mineradoras juntos contra as áreas protegidas

Por Vandré Fonseca
Congresso analisa inúmeras propostas que flexibilizam a proteção de Unidades de Conservação. Foto: Luis Macedo / Câmara dos Deputados
Congresso analisa inúmeras propostas que flexibilizam a proteção de Unidades de 
Conservação. Foto: Luis Macedo / Câmara dos Deputados


Manaus, AM -- Um dossiê divulgado pelo WWF-Brasil aponta que iniciativas do governo federal e do Congresso Nacional, que atendem a interesses de grileiros, mineradoras e produtores rurais que ocupam ilegalmente terras públicas, ameaçam quase 8 milhões de hectares de áreas protegidas, nos estados do Amazonas, Pará e Santa Catarina. A área equivale ao território de Portugal.


A organização não governamental alerta que essas iniciativas contribuem para o aumento da derrubada da floresta e afetam também compromissos internacionais assumidos pelo Brasil. O país se comprometeu com as metas de Aichi, definidas pela Convenção da Diversidade Biológica das Nações Unidas, que prevêem até 2020 a proteção legal de 10% das áreas marinhas e costeiras e 17% das áreas terrestres.



Para o WWF-Brasil, a ofensiva compromete o Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA), que já recebeu US$ 215 milhões de doadores internacionais, fundações e agências de cooperação. O dossiê destaca o avanço do desmatamento em unidades de conservação na Amazônia, que chegou a 230 mil hectares em 2015, segundo dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), citados no dossiê.



Amazônia
O entorno da BR-163, entre Cuiabá (MT) e Santarém (PA), foi considerada pelo Imazon como a região mais sensíveis ao desmatamento da Amazônia. A Floresta Nacional do Jamanxim, localizada nesta região, já perdeu 9 mil hectares de floresta devido iniciativas do governo e do Congresso Nacional. Uma Medida Provisória publicada no ano passado, pelo presidente Michel Temer (PMDB) reduziria em 57% a área da Flona. Durante a tramitação nas Comissões do Congresso, a área afetada pela redução foi ampliada para mais de 800 mil hectares.


Na própria justificativa da MP, o Ministério do Meio Ambiente chamava a atenção para a alta taxa de desmatamento ilegal na área, devido a conflitos fundiários remanescentes e ao garimpo ilegal. A Flona do Jamanxim fica na Bacia do Tapajós, área de interesse para mineradoras.
A maior parte do território reduzido de Jamanxim (438 mil ha), foi incorporada ao Parque Nacional do Rio Novo (acima). Foto: ICMBio.
A maior parte do território reduzido de Jamanxim (438 mil ha), foi incorporada ao Parque Nacional do Rio Novo (acima). Foto: ICMBio.



Uma nota técnica do Ministério de Minas e Energia, citada pela organização não governamental, aborda os interesses da empresa Brazauro Recursos Minerais, subsidiária da Eldorado Gold, sediada no Canadá, que teria investido US$ 76 milhões no projeto Tocantinzinho, com previsão de investimento total seria de US$ 1 bilhão. O ministério retrata na nota dezenas de autorizações de pesquisa e permissões de garimpo, que teriam de ser ressarcidos devido às ampliações de limites da Unidades de Conservação que anteriormente havia sido propostas pelo governo federal.


A ampliação do Parque Nacional do Rio Novo, no Pará, uma medida compensatória pelas reduções propostas, foi barrada pelo Congresso.



PL 3751
O Congresso discute também uma proposta que pode simplesmente fazer cerca de 10% de todo o território ocupado por unidades de conservação federais no país. O Projeto de Lei (PL) 3751, proposto pelo deputado federal Toninho Pinheiro (PP-MG) em 2015, invalida a criação de unidades de conservação caso proprietários de terras afetados não sejam indenizados no prazo de 5 anos. Ela também impede a criação de novas UCs sem indenização prévia em dinheiro ao proprietários de terras.



O Brasil conta com aproximadamente 78 milhões de hectares de áreas protegidas por unidades de conservação federais. Segundo dados do ICMBio, divulgados pelo WWF, existem 5,6 milhões de hectares terras privadas não indenizadas em unidades de conservação federais, mas esse número pode chegar a 10 milhões de hectares.



A ofensiva contra as áreas protegidas inclui cinco unidades de conservação criadas pela ex-presidente Dilma Rousseff no ano passado, no Amazonas. Em fevereiro, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, deu apoio a parlamentares do Amazonas que pretendem reduzir em cerca de 1 milhão de hectares a extensão do conjunto de unidades de conservação formado pela Reserva Biológica Manicoré, o Parque Nacional de Acari, a Floresta Nacional de Aripuanã, a Floresta Nacional de Urupadi e a Área de Proteção Ambiental Campos de Manicoré.


Estados
O Sul do país também é alvo da ofensiva. O Parque Nacional de São Joaquim, em Santa Catarina, perdeu 20% da área, durante a votação da MP 756. Segundo informações do ICMBio, o Paraná ocupa um remanescente de mata de araucária, importante na recarga de aquíferos.


Em nível estadual, as áreas protegidas também sofrem uma ofensiva. Em abril, a Assembléia Legislativa do Mato Grosso aprovou, em primeira votação,  a extinção do Parque Estadual Serra Ricardo Franco, que abriga fazendas do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, que teve bens bloqueados no final do ano passado devido a degradação ambiental.



O parque estadual é uma área de proteção integral de mais de 158 mil hectares criada há 20 anos. O pretexto dado pelos deputados foi o grande desmatamento na região, que para eles não justificaria a manutenção da área protegida.

A nova invasão do Vietnã e o naufrágio do Delta do Mekong, artigo de José Eustáquio Diniz Alves



Delta do Mekong

[EcoDebate] O Vietnã vai sofrer uma segunda invasão. Mas ao invés da entrada de tropas estrangeiras vindas de países imperialistas, vai ser uma invasão de água salgada, provocada pelo aumento do nível dos oceanos. O delta do rio Mekong pode naufragar e desaparecer debaixo das águas marinhas. Não haverá Vietcongues suficientes para barrar a invasão aquática.



A população do Vietnã era de 28,3 milhões de habitantes em 1950 e passou para 87,8 milhões de habitantes em 2010. Para 2050, a estimativa média é de 103,4 milhões, podendo cair para 83 milhões de habitantes em 2100, na projeção média da Divisão de População da ONU. No final do século XXI pode chegar a 140 milhões na hipótese alta ou 44 milhões na hipótese baixa. A densidade demográfica sempre foi alta, de 85 habitantes por quilômetro quadrado em 1950, passando para 265 hab/km2 em 2010 e podendo chegar a 313 hab/km2 em 2050.



A maior parte da população vietnamita depende das plantações no Delta do Mekong. Porém, os cientistas dizem que a elevação de um metro do nível do mar até o final do século deslocaria entre 3,5 e 5 milhões de moradores da região. Uma subida do nível do mar de 2 metros poderá forçar a saída de até 15 milhões de pessoas.



Mas mesmo antes da elevação do oceano, as mudanças no regime das chuvas e inundações já estão ameaçando um dos ambientes agrícolas mais produtivos do mundo. O governo do Vietnã, em Hanói, está estudando e organizando um plano abrangente de adaptação e mitigação.



A altitude média do Delta do Mekong é inferior a 2 metros acima do nível do mar. Atualmente, é uma região perfeitamente adequada para o cultivo de arroz. Os fazendeiros no Delta também produzem frutas, cocos, peixes do rio e camarão. Suas colheitas abundantes são possíveis por inundações anuais e por uma intrincada rede de canais, represas e eclusas.



É um ambiente altamente projetado para uma moderna sociedade hidráulica baseada em agricultura intensiva e infraestrutura que desvia as inundações, limita intrusão salina, facilita o transporte fluvial e a aquacultura, fornecendo a quantidade certa de água doce para irrigação.



Não era sempre assim, segundo David Brown (03/10/2016), pois quando os colonos vietnamitas entraram pela primeira vez no Delta há cerca de 300 anos, eles encontraram uma paisagem selvagem moldada por um clima de monção, tufões e marés e a inundação anual do Mekong. Oficiais do Império, e mais tarde engenheiros coloniais franceses, mobilizaram dezenas de milhares de pioneiros para cavar canais e fossos de drenagem.


Com o passar do tempo, grande parte do trabalho de infraestrutura foi mecanizado. Mesmo os anos da “Guerra Americana” houve a reforma agrária e a introdução do chamado “arroz milagroso” – cepas que poderiam dobrar as colheitas desde que os níveis de água de irrigação, pesticidas e nutrientes fossem cuidadosamente geridos.



O Vietnã se recuperou da guerra e avançou com a agricultura e a economia. A renda per capita (em poder de paridade de compra) era de US$ 435,00 em 1980 e passou para US$ 6.400,00 em 2016, segundo dados do FMI. A mortalidade infantil era de 104 mortes para mil nascimentos em 1950-55 e caiu para 17 por mil no quinquênio 2015-20. A esperança de vida ao nascer era de 53,5 anos em 1950-55 e subiu para 77 anos no quinquênio 2015-20, segundo dados da Divisão de População da ONU.



Artigo de Liu Quin (08/03/2017) mostra que o aquecimento global vai afetar os glaciares do Himalaia e reduzir o fluxo de água dos rios Mekong, Amarelo e Yang Tze, afetando a vida de centenas de milhões de pessoas. A combinação de menor vazão dos rios e elevação do nível dos oceanos vai provocar o naufrágio de extensas áreas urbanas e rurais.



O Vietnã é um país emergente e que tem apresentado avanços significativos em termos econômicos e sociais. Porém, o futuro está ameaçado pelas mudanças climáticas e o aquecimento global. O vale do rio Mekong é extremamente vulnerável à subida do nível do mar. Se o processo de emissão de gases de efeito estufa não for revertido, o Vietnã poderá sucumbir diante na nova invasão, desta vez mais fluida, mas ainda mais implacável.
Referência:



David Brown. Will climate change Sink the Mekong Delta? Mongabay, 03/10/2016
https://news.mongabay.com/2016/10/will-climate-change-sink-the-mekong-delta/
Liu Qin. Source of Mekong, Yellow and Yangtze rivers drying up. China Dialogue, 08/03/2017


https://www.chinadialogue.net/article/show/single/en/9654-Source-of-Mekong-Yellow-and-Yangtze-rivers-drying-up

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 19/05/2017
"A nova invasão do Vietnã e o naufrágio do Delta do Mekong, artigo de José Eustáquio Diniz Alves," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 19/05/2017, https://www.ecodebate.com.br/2017/05/19/nova-invasao-do-vietna-e-o-naufragio-do-delta-do-mekong-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/.

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Fórum de Vulnerabilidade Climática (CVF) alerta que limitar o aquecimento global é questão de sobrevivência



Climate Vulnerable Forum – Drive for greater climate action - United Nations Climate Change Conference at Bonn, Germany 17 May 2017
Climate Vulnerable Forum – Drive for greater climate action – United Nations Climate Change Conference at Bonn, Germany 17 May 2017

Da Agência EFE / ABr



O Fórum de Vulnerabilidade Climática (CVF), grupo que reúne 50 nações especialmente vulneráveis ao aquecimento global, advertiu ontem (17) em Bonn, na Alemanha, que limitar esse fenômeno a um máximo de 1,5 graus centígrados é “questão de sobrevivência”. A informação é da Agência EFE.


“Para os países-membros do fórum, cumprir com a meta de 1,5 graus é simplesmente uma questão de sobrevivência”, declarou Debasu Bayleyegn Eyasu, que comanda a Direção de Coordenação de Mudança Climática do Ministério de Meio Ambiente da Etiópia, país que preside atualmente o CVF.



Eyasu acrescentou que já está ocorrendo “significativo impacto climático” com o atual nível de aquecimento. Ele falou em entrevista transmitida pela internet e realizada em Bonn, onde ocorre a reunião dos países do Acordo de Paris para preparar a próxima Conferência do Clima, marcada para novembro nessa cidade alemã.


Um aquecimento adicional “não fará mais do que aumentar os riscos de impactos graves, generalizados e irreversíveis”, afirmou.



A presidência etíope destacou que apesar dos graves riscos que enfrentam, os países-membros do CVF, que representam mais de 1 bilhão de pessoas nos cinco continentes, veem em uma “ambiciosa ação climática a oportunidade para prosperar”.



“Temos enorme déficit em ação climática”, advertiu Emmanuel M. De Guzman, da Comissão de Mudança Climática do Escritório da Presidência das Filipinas, país que precedeu a Etiópia à frente do CVF.



Segundo De Guzman, enquanto existe a possibilidade de frear a mudança climática é preciso aproveitá-la, pois “o fracasso não é uma opção”. Para ele, são necessárias ações imediatas e drásticas.



“Os 1,5 graus são nosso limite de oportunidade e esperança”, acrescentou.
Segundo Eyasu, “a ação climática pode reduzir riscos, limpar o ambiente, gerar novos trabalhos verdes, limitar a instabilidade econômica e potencializar o uso sustentável de recursos nacionais”.



A falta de uma ambiciosa ação climática, disse, “prejudicará muito seriamente” o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a chamada universal à adoção de medidas para pôr fim à pobreza, proteger o planeta e garantir que todas as pessoas gozem de paz e prosperidade

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/05/2017

Dossiê do WWF-Brasil denuncia perigoso retrocesso na legislação ambiental brasileira



Colniza, MT, Brasil: Área degradada no município de Colniza, noroeste do Mato Grosso. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Ofensiva abrange unidades de conservação federais de Norte a Sul. Grilagem de terras e mineração são vetores do desmanche.
Um desmonte de quase 80 mil quilômetros quadrados – equivalente ao território de Portugal – em áreas protegidas federais no Pará, Amazonas e Santa Catarina é o que está prestes a acontecer no Brasil. São parques nacionais, reservas biológicas e florestas nacionais que deveriam estar sob o mais rigoroso cuidado devido à sua importância mundial, mas que sofrem neste momento um ataque sem precedentes promovido com o apoio de setores do governo e do Congresso Nacional e de interesses contrários ao meio ambiente. O conflito não é novo. A novidade é a abrangência e a estratégia de desmanche da investida.



De um lado estão produtores rurais que ocupam irregularmente ou gostariam de ocupar essas áreas protegidas, empresas de mineração ou grileiros de terras públicas. De outro, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), que colocou o Brasil ao final da década passada na posição de líder mundial em extensão de áreas protegidas.



Na medida em que um dos lados ganha mais força, o impacto nas áreas protegidas pode resultar em mais desmatamento da Amazônia, com prejuízo às metas brasileiras para a redução das emissões de gases de efeito estufa na Convenção do Clima das Nações Unidas, além de implicar o desmonte do Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA) e ameaçar os compromissos assumidos pelo país na Convenção da Diversidade Biológica (CDB). O alerta está em um dossiê lançado pelo WWF-Brasil.



Acesse a íntegra.
Segundo o documento, o potencial do estrago é enorme. Basta dizer que um dos projetos em tramitação no Congresso Nacional, o PL 3751, torna caducos todos os atos de criação de unidades de conservação cujos proprietários privados não foram indenizados no período de cinco anos.



Para se ter uma ideia do impacto dessa proposta, o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) calculou em 56 mil quilômetros quadrados a extensão de terras privadas ainda não indenizadas no interior de UCs federais, mas o número poderia chegar a 100 mil quilômetros quadrados, segundo o próprio instituto.



Caso aprovada, a proposta representaria o desaparecimento de aproximadamente dez por cento das áreas protegidas em UCs federais no país, que somavam, em agosto passado, 788 mil quilômetros quadrados. Isto é dez por cento do total do território protegido das UCs federais.



A proposta apresentada pelo deputado Toninho Pinheiro (PP-MG) em 2015 também impede a criação de novas UCs sem “prévia e justa” indenização em dinheiro e é apenas um dos projetos que tramitam no Congresso, exemplares do fenômeno que a literatura acadêmica trata como PADDD, do inglês Protected Area Downgrading, Downsizing and Degazettement (redução, recategorização e desafetação de áreas protegidas).



Alto impacto
A ofensiva contra as UCs vem ganhando fôlego desde dezembro do ano passado, a partir da publicação de medidas provisórias pelo presidente Temer, destaca o dossiê do WWF-Brasil. O alvo principal era a Floresta Nacional do Jamanxin, criada para conter o desmatamento na região da BR-163, no Pará.



A exposição de motivos assinada pelo ministro do Meio Ambiente, José Sarney, chamava a atenção para a alta taxa de desmatamento ilegal na Flona Jamanxim, problema atribuído aos conflitos fundiários remanescentes e à atividade garimpeira ilegal na região de grande potencial aurífero na Bacia do Tapajós.



Outra medida provisória editada no mesmo dia tinha como justificativa a passagem de uma ferrovia para transporte de grãos. A Flona Jamanxim perdia ali 57% de seu território, que deixavam de ser protegidos ou passavam a ser menos protegidos, com a liberação de atividade econômica. Mas o estrago ficaria bem maior no Congresso.



O texto do dossiê lembra que, antes, no início de fevereiro, um grupo de parlamentares da bancada do Amazonas recebeu aceno favorável do ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) de que o Planalto encamparia proposta de mudança em UCs no Estado, que compromete mais um milhão de hectares atualmente protegidos.



O lobby tem como alvo a extinção ou redução de cinco unidades de conservação criadas em 2016, em áreas previamente regularizadas do ponto de vista fundiário: a Reserva Biológica Manicoré, o Parque Nacional de Acari, a Floresta Nacional de Aripuanã, a Floresta Nacional de Urupadi e a Área de Proteção Ambiental Campos de Manicoré.



Em abril, comissões especiais do Congresso Nacional alteraram as medidas provisórias editadas por Temer em dezembro, ampliando o tamanho do dano ambiental, para mais de um milhão de hectares que deixam de ser protegidos. O avanço contra as UCs no Pará foi comemorado no plenário pelo senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), uma espécie de ícone da luta contra as UCs no Congresso. Segundo o senador, o resultado das votações, a ser confirmado pelo plenário antes de ir à sanção presidencial, “oferece oportunidade aos produtores rurais de regularizarem suas áreas e atividades produtivas”.



Documentos a que o WWF-Brasil teve acesso mostram que o ataque às áreas protegidas já havia ganho aliados dentro do próprio governo. Em nota técnica, o Ministério de Minas e Energia endossa interesses dos mineradores de ouro que atuam na região do Tapajós e sobretudo da empresa Brazauro Recursos Minerais, subsidiária da Eldorado Gold, com sede no Canadá.



A nota alega que a empresa havia investido US$ 76 milhões no projeto “Tocantizinho”, no qual planeja investir mais de meio bilhão de dólares. O MME contabilizou ainda dezenas de autorizações de pesquisa e permissões de lavra garimpeira, que teriam de ser ressarcidos por conta da alteração de limites das UCs proposta pelo governo, além de mais de 250 requerimentos de lavra garimpeira na região.



Santa Catarina
Além de a ampliação do Parque Nacional do Rio Novo (uma medida compensatória as reduções propostas) ter sido barrada pelo Congresso, o ICMBio calcula que a Floresta Nacional do Jamanxim perca quase 815 mil hectares de seu território com base nas propostas aprovadas nas comissões. A perda para a biodiversidade também é grande na alteração dos limites da Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo, que protegem nascentes de rios que formam as bacias do Xingu e do Tapajós.



“Temos de lembrar dos compromissos assumidos no Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA), que apoia a gestão de UCs na Amazônia, com aportes de recursos externos. Os financiadores deverão cobrar explicações sobre o que está ocorrendo no Brasil”, adverte Maurício Voivodic, diretor executivo do WWF-Brasil.


O avanço contra as UCs nas votações de abril extrapolou os limites da Amazônia e alcançou até o Parque Nacional de São Joaquim em Santa Catarina, que teve seus limites alterados, por pressão de produtores rurais instalados na região. Trata-se de uma área de remanescentes de mata de araucária, importante na recarga de aquíferos, segundo o ICMBio. Na votação da Medida Provisória 756, o Parque perdeu 20% de seu território.


Mato Grosso
Também em abril, em outro expediente apressado, a Assembleia Legislativa do Mato Grosso aprovou em primeira votação projeto que extingue o Parque Estadual Serra Ricardo Franco, uma área de proteção integral de mais de 158 mil hectares, criado há 20 anos.


O pretexto apresentado pelos deputados foi o fato de a região estar bastante desmatada, não justificando a manutenção do status de área protegida. O Parque abriga fazendas do chefe da Casa Civil de Temer, Eliseu Padilha, que teve os bens bloqueados no final do ano passado pela Justiça do Mato Grosso por degradação ambiental. Sinal que de que a ofensiva às UCs não se limita às áreas federais.



Colaboração de Giovanna Leopoldi, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 19/05/2017

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BNDES aprova primeiro financiamento para geração de energia solar


BNDES aprova primeiro financiamento para geração de energia solar
O Complexo Solar Pirapora será localizado em uma área plana de 400 hectares próxima ao Rio São Francisco, no município de Pirapora, interior do estado de Minas Gerais.[Imagem: BNDES/Divulgação]



Franco-canadense
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou a aprovação do primeiro financiamento para um projeto de geração de energia solar.



O empréstimo, de R$ 529 milhões, vai financiar a implantação do Complexo Solar Pirapora, em Minas Gerais, um empreendimento da EDF Energies Nouvelles, subsidiária do grupo estatal francês Électricité de France (EDF) e da fabricante de módulos solares canadense Canadian Solar (CSI), que fornecerá equipamentos para o projeto.



O Complexo Solar Pirapora será formado por cinco Usinas Fotovoltaicas (UFVs) - Pirapora V, VI, VII, IX e X - com potência instalada de 30 MW cada uma e sistema de transmissão associado.


A energia gerada pelas cinco usinas deverá ser capaz de atender a demanda de quase 190 mil residências.


Empregos
A etapa de construção da usina de energia solar, em uma área plana de 400 hectares próxima ao Rio São Francisco, está gerando 1.381 empregos diretos e indiretos. As obras começaram em outubro de 2016. As usinas têm previsão de entrada de operação comercial em agosto próximo.


A energia do Complexo Solar de Pirapora foi comercializada no 7° Leilão para Contratação de Energia de Reserva, realizado em 28 de agosto de 2015.


Os contratos de energia de reserva (CERs), celebrados com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), têm vigência de 20 anos a partir de 1º de agosto de 2017. Durante o leilão, as usinas comercializaram juntas 42 MW médios, a uma tarifa média de R$ 298,58 por megawatt-hora (MWh).

Água bombeada sem gastar eletricidade imitando plantas


Chip que imita plantas bombeia água sem gastar eletricidade
Um mecanismo simples mantém o bombeamento de água por dias, apenas por pressão osmótica. [Imagem: MIT]
Biomimetismo
Engenheiros do MIT, nos EUA, criaram o que eles chamam de uma "árvore em um chip" - uma bomba microfluídica inspirada na forma como as árvores e plantas circulam nutrientes.
O chip bombeia água por dias, a taxas constantes, gerando uma pressão hidráulica suficiente para movimentar pequenos robôs.



As plantas, das imensas castanheiras às pequenas violetas, são verdadeiras bombas hidráulicas naturais. Elas estão constantemente puxando água de suas raízes até as folhas mais altas, e bombeando açúcares produzidos por suas folhas de volta para as raízes. Esse fluxo constante de nutrientes é transportado através de um sistema de tecidos chamados xilema e floema, agrupados em conduítes fibrosos paralelos.



Jean Comtet e seus colegas conseguiram imitar esse sistema dentro de um dispositivo microfluídico - um biochip, ou microlaboratório, onde minúsculas quantidades de líquido são usadas para realizar reações, por exemplo, para exames laboratoriais.



Propulsão hidráulica passiva
A grande vantagem da tecnologia é que, assim como seus equivalentes na natureza, o chip opera passivamente, não necessitando de peças móveis ou bombas externas. Ele é capaz de bombear água e açúcares através dos seus canais a uma taxa de fluxo constante por vários dias.



"Na microrrobótica, tudo é duro e rígido, da fabricação e da integração à atuação. Se pudermos fazer blocos de construção básicos que permitam uma 'complexidade barata', isto seria super entusiasmante. Acredito que estas [bombas microfluídicas] são um passo nessa direção," disse a professora Anette Hosoi, que está tentando construir robôs que se alternam entre flexíveis e rígidos.



Chip que imita plantas bombeia água sem gastar eletricidade
O sistema precisará ser miniaturizado para ser inserido em um robô - a ideia é usar a tecnologia dos biochips. [Imagem: Jean Comtet et al. - 10.1038/nplants.2017.32]
 
 
 
Chip que imita plantas
Para construir seu chip-árvore, os pesquisadores juntaram duas lâminas de plástico, através das quais eles perfuraram pequenos canais para representar o xilema e o floema. As duas lâminas são separadas por um material semipermeável para imitar a membrana que separa os dois dutos da planta. O xilema foi preenchido com água e o canal do floema com água e açúcar.



Uma outra membrana foi posta sobre a lâmina que contém o canal do floema e, sobre essa membrana, a equipe colocou um cubo de açúcar, para representar a fonte adicional de açúcar que se difunde das folhas de uma planta para o floema. O conjunto foi então posto sobre um tubo, que fornece a água de um tanque para o chip.



Essa configuração simples mantém o bombeamento por dias, passando a água do tanque para um coletor colocado na saída do chip.



A equipe quer agora colocar o chip em um pequeno robô para que ele gere uma impulsão hidráulica, permitindo medir a eficiência do mecanismo de bombeamento como sistema de propulsão.


Bibliografia:

Passive phloem loading and long-distance transport in a synthetic tree-on-a-chip
Jean Comtet, Kaare H. Jensen, Robert Turgeon, Abraham D. Stroock, A. E. Hosoi
Nature Plants
Vol.: 3, Article number: 17032
DOI: 10.1038/nplants.2017.32

Pássaro-robô é contratado em tempo integral por aeroporto


Pássaro-robô é contratado em tempo integral por aeroporto
[Imagem: Universidade Twente/Divulgação]
Robô espantalho
O Aeroporto Internacional de Edmonton, no Canadá, vai estrear mundialmente o uso de pássaros robóticos de forma contínua, e não apenas em testes experimentais.
O Robird (robô pássaro) está sendo fabricado por uma equipe da Universidade de Twente, na Holanda.
O objetivo é que o pássaro robótico assuste os pássaros reais, afastando-os do aeroporto, onde podem causar acidentes. Ele ficará especialmente incumbido de evitar que os pássaros façam ninhos ou criem rotas de alimentação no entorno do aeroporto.


Pássaro robótico
O robô biomimético imita o voo de um falcão de forma realista, tornando seu comportamento virtualmente indistinguível de um pássaro natural, levando as outras aves a acreditarem que seu inimigo natural está presente na área.


Para que ele próprio não represente um risco para os aviões, as missões "espanta pássaros" ficarão inicialmente limitadas a uma distância de 400 metros das pistas de pouso e decolagem, mas essa distância deverá ser diminuída à medida que a tecnologia se mostrar verdadeiramente confiável.


"Este é realmente um momento histórico para o nosso empreendimento, mas especialmente para toda a indústria da aviação," disse o professor Nico Nijenhuis, que agora lidera a empresa emergente Clear Flight Solutions, criada com o auxílio da universidade.


"Nós atualmente operamos nossos Robirds em uma variedade de lugares, mas dar o passo para a plena integração dentro das operações diárias em um aeroporto é fenomenal. Por anos, tem havido muito interesse dos aeroportos. Agora, começar oficialmente a integrar nossas operações em um importante aeroporto canadense é absolutamente fantástico," comemorou ele.