quinta-feira, 15 de junho de 2017

Com ingressos gratuitos, 100 filmes ambientais são exibidos em São Paulo

segunda-feira, 12 de junho de 2017


Os filmes são exibidos em 30 espaços culturais da cidade.

A 6ª Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental, o mais importante evento audiovisual sul-americano dedicado a temas socioambientais, segue até a próxima quarta-feira (14). Com ingressos gratuitos, são 100 filmes programados, representando 26 países.


Vincent Carelli, o grande homenageado da mostra deste ano, é indigenista e premiado documentarista. A programação inclui, além de seus longas-metragens recentes (os elogiados “Corumbiara” e “Martírio”), títulos marcantes realizados pelo projeto Vídeo das Aldeias, criado pelo cineasta nos anos 1980. A obra de Carelli, que estará presente, será o centro do debate Cinema de Resistência, agendado para o dia 13 de junho (terça-feira), às 20h00, no Cine Reserva Cultural.


Os filmes são exibidos em 30 espaços culturais da cidade: Cine Reserva Cultural, Cine Caixa Belas Artes, salas do Circuito Spcine – Centro Cultural São Paulo, Cine Olido, Centro Cultural Cidade Tiradentes, Biblioteca Roberto Santos, CEU Aricanduva, CEU Butantã, CEU Caminho do Mar, CEU Feitiço da Vila, CEU Jaçanã, CEU Jambeiro, CEU Meninos, CEU Parque Veredas, CEU Paz, CEU Perus, CEU Quinta do Sol, CEU São Rafael, CEU Três Lagos, CEU Vila Atlântica e CEU Vila do Sol. Completam a lista as seguintes unidades das Fábricas de Cultura: Vila Curuçá, Sapopemba, Itaim Paulista, Parque Belém, Brasilândia, Capão Redondo, Jaçanã, Jardim São Luís e Vila Nova Cachoeirinha.



A cerimônia de encerramento do evento, com anúncio dos premiados, acontece no dia 14 de junho (quarta-feira), a partir das 20h45, no Cine Caixa Belas Artes. Na sequência é projetado o longa-metragem vencedor da Competição Latino-Americana.

Fonte: Ciclo Vivo

Jovem que inventou sistema para tirar plásticos do oceano está prestes a lançar seu produto

segunda-feira, 12 de junho de 2017


A estimativa do jovem é de coletar cerca de 50% da “Grande Porção de Lixo do Pacífico” em apenas cinco anos.


Em 2013, o CicloVivo contou a história de um holandês de apenas 19 anos que havia desenvolvido um sistema inovador para limpar os lixos plásticos do oceano. Quatro anos se passaram e agora o garoto já prevê o lançamento de seu equipamento no mercado em 2018.


Boyan Slat era apenas um estudante quando realizou uma viagem de mergulho na Grécia. Na época, ele ficou surpreso com a quantidade de resíduos encontrados no mundo subaquático e uma vez de volta à terra decidiu que precisava fazer algo para ajudar a resolver o problema.


Segundo o desenho apresentado por Slat inicialmente, a máquina tem a aparência de uma arraia e é equipada com pás gigantes que ajudam a aglomerar todo o resíduo. Depois de centralizar todo o material, ele é direcionado às plataformas que separam os plânctons, filtram o lixo e armazenam o plástico para a reciclagem.


Para viabilizar seu projeto ele conseguiu arrecadar 320 milhões de dólares. A estimativa do jovem é que o sistema colete cerca de 50% da “Grande Porção de Lixo do Pacífico” (uma ilha de lixo localizada no oceano Pacífico) em apenas cinco anos. Anteriormente, o cálculo era de que o equipamento levaria mais de dez anos para coletar 42%.


A promessa de maior velocidade para retirar o lixo deve-se a uma inovação de design aplicada nos últimos anos. Ao invés de todas as bombas do equipamento irem até as profundezas do oceano, elas ficam suspensas na água, mas anexadas com âncoras. Tais âncoras podem flutuar mais facilmente seguindo o fluxo da água, pois a mesma força que moverá o plástico também moverá o sistema de limpeza. Ou seja, as âncoras vão atrás do plástico como imãs.


Cientistas estimam que apenas na ilha de lixo do Pacífico haja trilhões de peças plásticas flutuando. A preocupação de Slat é recolher todo esse lixo antes que cada pecinha se transforme em microplásticos impossíveis de serem capturados. “Isso é o que mais me assusta. Devemos desarmar esta bomba relógio logo”, afirma.


De acordo com as pesquisas de sua equipe, por enquanto “apenas” três por cento dos plásticos ali são microplásticos – a maioria ainda é grande o suficiente para serem retiradas com o sistema. Seguindo as medições de seu grupo e programas computadorizados, o holândes está confiante de poder capturar toneladas de plástico anualmente até que todo o mar esteja limpo.




Fonte: Ciclo Vivo

Chapada Diamantina: a caixa d’água da Bahia vai secar! por Cristiane Passos

sexta-feira, 9 de junho de 2017


Conhecida por ser uma das principais atrações turísticas do Brasil, por conta de suas belezas naturais, o mundo desconhece a importância que a Chapada Diamantina tem no fornecimento de água para o estado da Bahia, e para o equilíbrio da rede hidrográfica brasileira.




(Cristiane Passos – CPT Nacional)



Refém dos interesses comerciais de grandes produtores rurais, abandonada e maltratada pelo poder público, a Chapada está secando e seus rios estão morrendo. Comunidades ao longo da Chapada já sofrem com a escassez de água, conflitos que podem se tornar mais violentos estão se intensificando na região e a capital soteropolitana também vai sofrer com a falta d’água.



Em Utinga, os índios Payayás já perceberam há uns anos o tamanho do problema e começaram um trabalho de conscientização, articulação política e ação. Hoje, Otto Payayá, avalia que a ação é a única ferramenta que ele ainda crê. “Do governo a gente tá cansado. A gente junta a comunidade e vamos limpar o rio, plantar na beirada dele, fazer algo prático, recuperar a vegetação para que a água volte a correr”, afirmou.



A descrença de Otto não é à toa, além do abandono relegado pelo estado à região, quando ele enfim age, o faz sem planejamento e acaba por piorar a situação. O rio Utinga nasce na comunidade de Cabeceira do Rio, distante cerca de oito quilômetros da sede do município de Utinga. Ele é responsável pelo abastecimento de água das cidades de Utinga, Wagner, Lajedinho e Andaraí. Em 1977 foi construída uma barragem na cabeceira da nascente do rio Utinga, literalmente em cima da nascente e de seus fervedouros – nascentes de rios subterrâneos. E para piorar ainda mais, a retirada da mata ciliar na área da barragem provocou o desbarrancamento, o que tem assoreado o rio. O indígena relatou que recentemente conseguiu levar ao local o engenheiro responsável pela obra da barragem e que ele se emocionou ao ver o tamanho do erro que cometeram.



O rio Utinga é apenas um dos vários rios que compõem a bacia do Paraguaçu, responsável pelo abastecimento de várias cidades da região e da capital baiana, Salvador. Assim como o Jacuípe, que abastece, por exemplo, o distrito do município de Piritiba, França. No distrito, a Embasa (Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A.) joga no próprio rio os rejeitos da estação de tratamento. Além dos rejeitos, uso de agrotóxicos por produtores locais e plantações em área de preservação permanente têm poluído e assoreado o rio, cuja vazão tem diminuído a olhos vistos.



Seguindo o exemplo dos payayás, assentamentos da região têm se organizado para reflorestar as margens dos rios e assim tentar retomar a riqueza de águas da região. É o caso do assentamento São Sebastião, no município de Wagner, que após ver o rio Utinga quase secando, fez mutirões para plantação de mudas nativas nas margens do rio e para a limpeza do local. Os assentados descrevem com tristeza terem testemunhado o rio secar e os peixes morrerem. Mesmo com as ações, em fevereiro deste ano os assentamentos ficaram sem água. Na cidade de Wagner aconteceu o mesmo.



Sem a presença do poder público, grandes produtores, também impactados pela falta d’água, destilam acusações contra os assentados e pequenos produtores, acusando-os de serem os responsáveis pela escassez de água. Porém, são os grandes produtores que multiplicam bombas para alimentar sistemas de irrigação de suas produções, ao longo do rio. Segundo os produtores, nos últimos 10 anos houve um aumento do plantio irrigado de culturas, que absorvem um grande volume de água, saindo de aproximadamente 200 hectares para mais de 1.000 hectares. Isso é equivalente a mais de 1,6 milhão de plantas, que para manter sua produtividade necessita de 40 litros de água por dia para cada planta[1]. Sem controle, plano de manejo ou fiscalização, boa parte dessas bombas para irrigação não possui sequer outorga de uso do Inema (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia)[2].



Conflitos pela água: a violência iminente



A comunidade do povoado de São José, próximo a Lençóis (BA), ficou 120 dias sem água. Toda sua produção foi perdida. Endividados, pois conseguiram a terra em que vivem através do crédito fundiário e não pela reforma agrária, chegaram a passar fome. Em fevereiro desse ano, quando chegaram ao limite, bloquearam os dois sentidos da BR-242, na altura do km-308.





Segundo relato das famílias, policiais militares da CIPA (Companhia Independente de Policiamento Ambiental) dispararam contra os manifestantes. Ninguém ficou ferido. A polícia teria, segundo eles, levado duas pessoas presas e, no trajeto até a delegacia, os próprios policiais teriam quebrado o vidro da janela da viatura e colocado a culpa em um dos manifestantes, que ficou preso por dois dias sob acusação de vandalismo. Ele foi solto somente após o pagamento de fiança no valor de R$ 2.800,00.



Líderes da comunidade têm sofrido constantes ameaças por conta de sua atuação e denúncias feitas. As ameaças, conforme relataram, partem tanto de fazendeiros da região, quanto da polícia. Fazendeiros disseram também a eles que “se virassem” com caminhões pipa ou que “criassem camelos, que não bebem água”. “Quando é da natureza você tem que concordar. Mas a minha sensação é que não era da natureza essa falta d’água, era somente por que tem gente que se acha melhor do que a gente”, desabafou uma das moradoras da comunidade. Temerosos com o rio baixando novamente, os moradores declararam que vai haver mais embate, pois não irão aguentar novamente a falta d’água, quietos.




Bacia do Paraguaçu
A bacia hidrográfica do Paraguaçu é uma das mais importantes para o estado da Bahia, sendo fundamental para o abastecimento de água da região metropolitana de Salvador. Mais de três milhões de pessoas dependem das águas deste rio, cuja bacia se estende por mais de 55 mil km², abrangendo 86 municípios e 10% do território do estado.





O Paraguaçu tem suas nascentes em áreas de Caatinga, Campos de Altitude e encraves de Mata Atlântica na Chapada Diamantina. Das nascentes até a foz, na Baía de Todos os Santos, o rio percorre 600 km, cruzando uma região com alta diversidade social, cultural e ecológica. Tamanha importância torna ainda mais preocupante o atual estado de degradação ambiental da bacia[3].





Além da sua importância no fornecimento de água e no equilíbrio da biodiversidade local, a região possui grande potencial turístico e econômico, mas nem mesmo isso tem livrado a Chapada da degradação. Um de seus cartões postais, a Cachoeira da Fumaça, localizada entre os municípios de Lençóis e Palmeiras, que possui 340 metros de altura e é a segunda maior cachoeira do Brasil, também enfrenta problemas com o desequilíbrio das águas na região. Segundo moradores da região, têm aumentado os momentos no ano em que a cachoeira seca. O Poço Azul, outra atração turística, atraente por sua gruta com águas cristalinas que ficam mais azuis com a entrada de feixes de luz do sol, está cercado de plantações irrigadas e que utilizam agrotóxicos.





De acordo com Rogério Mucugê, da Conservação Internacional e coordenador do projeto “Semeando Águas no Paraguaçu”, todos esses fatores já citados, como poluição, retirada indiscriminada de água, ausência do Estado e de políticas públicas que garantam a conservação do ecossistema local, são agravados ainda pelas constantes queimadas. “A maioria dessas queimadas são criminosas”, afirmou ele. Além disso, espaços de reivindicação da sociedade civil para a resolução de problemas como esses, estão dominados pelos representantes de grandes empreendimentos rurais. O Comitê da Bacia Hidrográfica do Paraguaçu é um deles. Apesar da ideia de composição diversificada e democrática dos Comitês, a população em geral e as entidades de preservação ambiental são sempre voto vencido nas decisões sobre a Bacia.





Como disse o senhor Ramiro de Souza, do Assentamento São Sebastião, “dizem na televisão que o agro é tudo, mas não é, a água é tudo. Ninguém vive sem água”. Comungando dessa ideia e preocupada com a situação na região, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Ruy Barbosa (BA) dará início a uma campanha de conscientização sobre a necessidade de ações imediatas de preservação das águas da Chapada Diamantina. Articulada com as comunidades locais e organizações de defesa do meio ambiente, ela espera visibilizar a situação crítica das águas da Chapada e, assim, mobilizar a sociedade para salvar esse patrimônio natural, bem como o mais fundamental de nossos recursos naturais, a água.





Fonte: EcoDebate

Projeto para otimizar produção de peixes representa o Brasil em ‘Copa do Mundo’ da tecnologia

terça-feira, 13 de junho de 2017


Um projeto que promete otimizar a produção de peixes e camarões desenvolvido por três universitários irá representar o Brasil na etapa global da Imagine Cup – a ‘Copa do Mundo’ da tecnologia. A técnica, desenvolvida por três estudantes, dois deles de Campinas (SP), gera uma economia no custo operacional dos criadouros de até 30%.

 
“Vimos que é um dos mercados de proteína que mais cresce no mundo, isso porque ele tem a vantagem de usar bem menos espaço produtivo, emite menos gás carbônico e usa até menos água”, conta o estudante da Unicamp Alfredo Cavalcante Neto.
 
Promovida pela Microsoft, a competição tem o objetivo de transformar projetos acadêmicos em startups de sucesso. O ‘UpFish’ foi escolhido entre 199 projetos do país e, juntamente com o BubuDigital, desenvolvido na Paraíba, concorrerá com outros 58 projetos do mundo todo ao prêmio de U$ 100 mil e mentoria exclusiva com o CEO da Microsoft, Satya Nadella. A etapa mundial acontece em julho, em Seattle (EUA).
 
O sistema foi uma parceria entre os estudantes de engenharia de controle e automação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Alfredo Cavalcante Neto e Carlos Eduardo Milani, e o graduando em neurociência da Universidade Federal do ABC (UFABC) Elton Soares.
 
Em desenvolvimento há quatro meses, o principal objetivo do UpFish é monitorar a produção de pescados a fim de ampliar a oferta mundial de alimentos e fortalecer o mercado interno.
 
A ideia de trabalhar com a aquicultura surgiu da experiência de Soares no exterior, onde visitou a primeira fazenda urbana orgânica de camarões, em Nova York (EUA). Voltando ao Brasil, conheceu o zootecnista e diretor da Associação Brasileira de Criadores de Organismos Aquáticos (Abracoa), que deu os primeiros direcionamentos ao grupo.
 
“Vimos aí uma oportunidade bacana. Só que, como tudo, ele tem as suas dificuldades. Então, criar o ambiente ideal de cultivo pra esses peixes, esses camarões, é uma tarefa difícil”, completa o aluno da Unicamp Cavalcante Neto.
 
O grupo desenvolveu uma solução integrada que funciona em três etapas: um dispositivo (hardware) é instalado no tanque de produção dos peixes, onde sensores captam dados sobre a qualidade da água, que são enviados para um software em uma “nuvem”. Com base nessas informações, são desenvolvidas soluções para corrigir eventuais necessidades da água e otimizar o processo de produção.
 
“Como o sistema atua melhorando essa água, ele acaba melhorando também todo o metabolismo do peixe num geral. Então, isso acaba interferindo em como o peixe está absorvendo a comida. E essa técnica acaba gerando uma economia no custo operacional, uma taxa de 15% a 30%”, pontua Cavalcante Neto.
 
Para a equipe, que está confiante com a próxima etapa, participar da Imagine Cup é uma grande responsabilidade não só por representar o Brasil, mas também por representar o mercado da aquicultura, que segundo Cavalcante Neto, ainda carece de tecnologias específicas para a área.
 
“A gente surge pra quebrar essas barreiras, nossa missão é empoderar o produtor rural através da nossa tecnologia”, observa o universitário. 
 
Fonte: G1

Elefante-marinho volta ao mar após 139 dias de tratamento

Por Sabrina Rodrigues
O elefante-marinho Fred em direção ao mar. Foto: Instituto Baleia Jubarte
O elefante-marinho Fred em direção ao mar. Foto: Instituto Baleia Jubarte

Na segunda-feira (12), o elefante-marinho conhecido como Fred voltou ao mar depois de passar 139 dias de tratamento. Uma equipe composta por biólogos, pesquisadores, veterinários e instituições trabalharam durante todos esses dias para que o retorno do animal ao seu habitat natural fosse possível.
A história de recuperação de Fred começou no dia 25 de janeiro deste ano, quando o animal foi resgatado em uma praia no litoral norte do Espírito Santo. O elefante-marinho estava muito magro e com a saúde debilitada.
Durante quase cinco meses, Fred foi tratado por biólogos e veterinários, mantido em uma base do Projeto de Monitoramento de Praias da Petrobras. O elefante-marinho recebeu medicamentos, ingeriu entre 20 e 30 kg de peixe por dia, até que finalmente se recuperou e recebeu alta para poder ser solto.
Agora no mar, caso Fred seja visto em alguma praia, ele poderá ser identificado pelos pesquisadores por apresentar brincos com numeração nas nadadeiras posteriores e um chip sob sua pele, instalados pelo Instituto Mamíferos Aquáticos (IMA). Além disso, Fred está com uma antena instalada, que permite o seu acompanhamento via satélite.

Fred sendo preparado para ser devolvido para o mar. Foto: Instituto Baleia Jubarte
Fred sendo preparado para ser devolvido ao mar. Foto: Instituto Baleia Jubarte.

Pesquisador instalando transmissor no elefante-marinho Fred. Foto: Instituto Baleia Jubarte
Pesquisador instalando transmissor no elefante-marinho Fred. Foto: Instituto Baleia Jubarte.

Hidrelétricas em série causarão colapso ecológico na Amazônia, diz estudo

Por Claudio Angelo, do Observatório do Clima
Rio Tapajós, onde o governo tem planos por enquanto suspensos de instalar uma nova mega-hidrelétrica. Foto: Fábio Nascimento/Greenpeace.
Rio Tapajós, onde o governo tem planos por enquanto suspensos de instalar uma nova mega-hidrelétrica. Foto: Fábio Nascimento/Greenpeace.
Num momento em que grupos tentam enfraquecer o licenciamento ambiental no Brasil, um estudo internacional acende uma luz amarela sobre as hidrelétricas da Amazônia. Seus autores apontam que as mais de 500 barragens construídas ou planejadas para a região poderão causar, se implementadas, nada menos do que o colapso ecológico de bacias inteiras da maior floresta tropical do mundo.
Entre as principais vítimas potenciais estão a região do rio Marañon, no Peru, do Madeira, na Bolívia e no Brasil, e do Tapajós, onde um polêmico complexo de sete grandes hidrelétricas pode voltar à mesa. Nessas bacias, o pulso natural dos rios, que entre outras coisas mantém a alta biodiversidade da região, seria alterado. Sem ele, até mesmo a evolução das espécies amazônicas poderá ser afetada.
Os impactos agregados poderão prejudicar até mesmo o transporte de sedimentos do rio Amazonas, que todos os anos lança 500 milhões de toneladas de nutrientes trazidos desde sua nascente nos Andes e os despeja no Oceano Atlântico, ajudando a equilibrar o clima local e a fertilizar ecossistemas tão distantes quanto os manguezais do Pará e a costa da Guiana.
Para evitar uma potencial catástrofe, o grupo de 16 pesquisadores propõe aos países da bacia amazônica colocar um freio de arrumação à expansão das hidrelétricas e discutir uns com os outros um protocolo conjunto de manejo de rios.
“Até hoje as hidrelétricas têm sido aprovadas projeto por projeto, mas nunca se pensou no impacto acumulado na larga escala”, disse ao OC o geólogo Edgardo Latrubesse, um argentino que divide seu tempo entre a Universidade do Texas em Austin e a Universidade Tecnológica Nanyang, em Cingapura – com paradas eventuais para orientar alunos na Unesp de Rio Claro. Ele é autor principal do novo estudo, publicado nesta quarta-feira (14) no site do periódico científico Nature.
O grupo liderado por Latrubesse é formado por biólogos, ecólogos, geólogos e hidrólogos do Brasil, da Alemanha, dos Estados Unidos e do Reino Unido. Alguns deles participaram dos estudos de impacto ambiental de hidrelétricas como Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, e Belo Monte, no rio Xingu.
Ele analisou 19 sub-bacias da Bacia Amazônica e compuseram um índice de vulnerabilidade de cada uma, levando em conta fatores como a integridade ambiental, a propensão a erosão, a influência dos sedimentos na dinâmica natural dos rios e o impacto potencial de hidrelétricas em cada sub-bacia.
Em toda a Amazônia, as sub-bacias menos vulneráveis são as do Negro, do Javari e do Jutaí, no Amazonas – em grande parte protegidas por terras indígenas e longe do olho gordo da Eletronorte. As mais vulneráveis são as do Madeira – o quarto maior rio do mundo, responsável por 50% dos sedimentos transportados pelo Amazonas para o oceano –, do Tapajós e do Marañon.
Lama primordial
No caso do Madeira e do Marañon, um dos efeitos deletérios do grande número de usinas é algo que à primeira vista pareceria uma boa coisa: elas tendem a deixar a água barrenta dos rios amazônicos mais clarinha.
Na realidade, isso é um desastre para a floresta. Num sentido nada figurado, a lama transportada do Marañon e do Madeira para o Solimões e o Amazonas é grande parte da receita do que torna a Amazônia o que ela é.
“A lama tem um papel fundamental”, diz Latrubesse. No período das cheias, ela deposita nutrientes nas planícies aluviais, o que mantém a biodiversidade. Os sedimentos também têm um papel na constante mudança de curso dos rios, criando meandros abandonados, lagos e ilhas ao longo dos anos. É nesses ambientes de populações de animais e plantas isoladas pelo rio que surgem novas espécies.
“As pessoas tendem a pensar no rio como um mero canal de água, mas na verdade ele é uma coisa viva”, diz o cientista argentino. “Se você corta os sedimentos, corta a diversidade dos ecossistemas”.
“As pessoas tendem a pensar no rio como um mero canal de água, mas na verdade ele é uma coisa viva”, diz o cientista argentino. “Se você corta os sedimentos, corta a diversidade dos ecossistemas.”
Foi exatamente isso o que aconteceu no rio Paraná, no oeste paulista, que se transformou numa cascata de hidrelétricas, e no rio Yangtzé, na China, que abriga a maior hidrelétrica do mundo, a de Três Gargantas. O rio perdeu 70% de seu transporte de sedimentos, numa tragédia ambiental que os chineses agora buscam reverter.
Licenciamento
O artigo propõe que os nove países da América do Sul que dividem a bacia amazônica desenvolvam um sistema multinacional de avaliação de projetos de hidrelétricas, que leve em conta impactos que vão além da área de influência de cada empreendimento.
A própria necessidade de novas usinas deve ser repensada, segundo os autores: eles não falam em Lava Jato, mas lembram que o custo dessas obras é na maioria dos casos pelo menos duas vezes maior do que a previsão inicial. E afirmam que, devido à crise econômica que reduziu a demanda por energia no Brasil, há espaço para essa reavaliação – e, eventualmente, para preencher a demanda com fontes renováveis, que se expandem rapidamente no mundo e despencam de preço.
O sistema político brasileiro, porém, caminha neste momento no sentido oposto: vários projetos em discussão no Congresso buscam flexibilizar, enfraquecer ou simplesmente extinguir o licenciamento ambiental, facilitando a instalação de hidrelétricas na Amazônia.
Um único projeto de lei de licenciamento, que o Ministério do Meio Ambiente vem há um ano tentando emplacar no Congresso, busca estabelecer algo que dialoga com as recomendações dos cientistas: ele cria a figura da avaliação ambiental estratégica, na qual o impacto de políticas públicas sobre uma região é analisado antes que se decida fazer empreendimentos ali. “O foco passa a ser de desenvolvimento regional, caminhando para empreendimentos que, no conjunto, são mais viáveis do ponto de vista socioambiental”, disse a presidente do Ibama, Suely Araújo. Uma das principais defensoras da avaliação ambiental estratégica, Araújo arquivou, em 2016, o licenciamento da megausina de São Luiz do Tapajós. O Ministério de Minas e Energia, porém, resiste a dar a obra como morta.
O projeto do MMA concorre com outro, da bancada ruralista e da indústria, que visa tirar qualquer critério de rigor no licenciamento baseado na geografia (ou seja, empreendimentos na Amazônia teriam, a priori, maior rigor na análise) e deixar que Estados e municípios definam tudo.
Mas há outras propostas circulando no Parlamento. Uma delas, de autoria do senador Romero Jucá (PMDB-RR), quer criar um licenciamento “a jato” para grandes obras. Outra, do senador cassado Delcídio do Amaral (PT-MS), recém-aprovada numa comissão do Senado, busca criar um licenciamento especial e mais expedito só para hidrelétricas. Uma terceira, do senador Acir Gurgacz (PDT-RO), vai além: quer emendar a Constituição para extinguir o licenciamento ambiental. Ponto.
“No planejamento das hidrelétricas na Amazônia, usamos a mesma localização das obras proposta pelo regime militar”, disse Latrubesse. “Não se trata de ser contra ou a favor de hidrelétricas. O problema é que a maneira como foi feito foi grotesca.”
OC procurou a Empresa de Planejamento Energético, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, para comentar o estudo. Não obteve resposta até o fechamento deste texto.
Republicado do Observatório do Clima através de parceria de conteúdo.