terça-feira, 11 de julho de 2017

Fórum Mundial da Água: o gato se veste de lebre, artigo de Flávio José Rocha da Silva



artigo de opinião

[EcoDebate] A cidade de Brasília sediará o 8º Fórum Mundial da Água entre os dias 18 e 23 de março de 2018.


No site do evento podemos ler que “O Fórum Mundial da Água é o maior evento relacionado à água do mundo e é organizado pelo Conselho Mundial da Água (WWC), uma organização internacional que reúne todos os interessados ??no tema da água.” Há até mesmo uma consulta online onde todos são convidados a sugerir ideias a serem discutidas e a promessa de que as vozes dos participantes serão possivelmente adicionadas às discussões durante as datas do evento na capital brasileira.


Vale ressaltar que 40% dos gastos com o Fórum serão bancados pelos governos federal e do Distrito Federal. A promessa é discutir como a água pode chegar ao maior número possível de pessoas no mundo.


Parece coisa boa falar de acesso a água para todos, mas o gato se disfarça de lebre com mais frequência do que imaginamos. Será que as vítimas da privatização da água no planeta também serão convidadas para contar as suas histórias?


Comecemos por conhecer um pouco mais sobre a entidade organizadora do evento, o Conselho Mundial da Água (CMA). Esta organização é presidida atualmente pelo brasileiro Benedito Braga, que também é o Secretário de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo.



Esta secretaria estadual paulista é a responsável pela Sabesp, órgão que ficou bastante conhecido durante a crise da falta de água nas torneiras de São Paulo há poucos anos e foi acusada por vários especialistas na questão hídrica de não ter investido o necessário na infraestrutura de abastecimento de água para privilegiar os seus acionistas (49% da Sabesp pertence a empresas privadas) em detrimento dos usuários, sendo essa uma das causas da crise.


O CMA afirma em seu site que é financiado por taxas pagas pelos seus membros e doações de governos e organizações internacionais, embora não cite os nomes das organizações doadoras ou a quantia por elas doadas. Entre os membros listados estão governos, grandes ONGs, empresas que controlam a distribuição de água em várias partes do planeta, entre outros.


Sabe-se que o Banco Mundial é muito próximo ao Conselho, assim como é de conhecimento público que o Banco Mundial lidera uma campanha internacional pela privatização da água difundindo a ideia de que a esta tem um valor econômico como qualquer outro recurso natural e que a única forma de fazer com que seja acessível a todos é sendo administrada pela iniciativa privada.


Em seus documentos, o CMA prega a busca pela boa gestão da água para alcançar a universalização do saneamento básico. Também externa a preocupação com o que pode acontecer ao setor produtivo caso haja um colapso no acesso a água. Para que uma boa gestão aconteça, recomenda que o setor privado seja parte integrante do sistema de distribuição da água.


Sabemos que o setor público não pode gerir todas as demandas da sociedade, mas será a água uma demanda qualquer? Por que então mais de 200 cidades no mundo inteiro que tinham a água distribuída por empresas privadas retomaram o seu controle nos últimos anos, a exemplo de Paris? E o que dizer de cidades nos Estados Unidos, Honduras ou aqui no Brasil que estão em luta para que suas cidades não tenham a distribuição dos seus recursos hídricos privatizados?



A ausência sobre o gasto de água com a irrigação do agronegócio industrial também é notada nos documentos e nas discussões do CMA, sendo que este setor sozinho gasta cerca de 70% da água doce no mundo. Este seria um tópico essencial para ser discutido em Brasília se realmente o CMA estivesse preocupado em preservar os nossos mananciais e promover o acesso a água de qualidade às populações carentes.



Há algo mais a se ressaltar sobre o Conselho Mundial da Água e os fóruns por ele organizados. Eles nunca mencionam a água como um direito humano que deve ser garantido pelo Estado. Por isso é preciso tomar muito cuidado com a promessa da pretensa universalização do saneamento básico preconizada por estas organizações.



Não por coincidência, o governo Temer, através do BNDES, está forçando estados a privatizarem as suas companhias de distribuição de água com a desculpa de que isto aliviará as contas públicas estaduais e que as empresas compradoras melhorarão o serviço de abastecimento nestes estados. O Rio de Janeiro foi o primeiro a privatizar a sua companhia, a CEDAE, mesmo sendo ela uma empresa lucrativa.



Sabendo que o gato pode vestir uma fantasia de lebre para encantar o público, movimentos sociais estarão organizando, nas mesmas datas, o Fórum Alternativo Mundial da Água. Será uma forma de confrontar o discurso neoliberal, lutar contra a privatização do nosso patrimônio hídrico e mostrar que o miado pode até ser diferente, mas o gato sempre vai ser o gato, independente da fantasia que esteja vestindo.


Flávio José Rocha da Silva é doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP e administra a página OPA -Observatório da Privatização da Água – no Facebook



in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 11/07/2017



"Fórum Mundial da Água: o gato se veste de lebre, artigo de Flávio José Rocha da Silva," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 11/07/2017, https://www.ecodebate.com.br/2017/07/11/forum-mundial-da-agua-o-gato-se-veste-de-lebre-artigo-de-flavio-jose-rocha-da-silva/.

Com Cais do Valongo, no Rio, Brasil ganha seu 21º patrimônio histórico reconhecido pela Unesco; conheça a lista

Resultado de imagen para Cais do Valongo

  • 10 julho 2017






Porto de chegada de quase um milhão de escravos africanos, o Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, foi declarado Patrimônio Mundial da Unesco, a agência cultural da ONU. 


Esse é o 21º patrimônio histórico reconhecido pela ONU no país, em uma lista que inclui centros históricos, parques nacionais e áreas preservadas em várias regiões.

O Brasil foi o principal destino de escravos africanos nas Américas, e o Cais do Valongo se tornou o maior porto de entrada deles no país até meados do século 19. Ele ficou por décadas aterrado e sua riqueza começou a ser redescoberta durante o trabalho de revitalização da zona portuária do Rio para as Olimpíadas de 2016.

"É o mais importante vestígio físico da chegada dos escravos africanos ao continente americano", disse, em nota, a Unesco.




Resultado de imagen para Cais do Valongo


A presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Kátia Bogea, disse que, "o Valongo merece estar junto de lugares como Hiroshima e Auschwitz para nos fazer lembrar das partes da história da humanidade que não podemos esquecer".

Segundo o Iphan, o desembarque de escravos no Rio foi integralmente concentrado na região da Praia do Valongo a partir de 1774, e ali "se instalou o mercado de escravos que, além das casas de comércio, incluía um cemitério e um lazareto".



O calçamento de pedra que constitui o Sítio Arqueológico do Cais do Valongo foi parte das obras de infraestrutura realizadas em 1811, "com o incremento do tráfico e o fluxo de outras mercadorias".


Após a declaração da República no Brasil, em 1889, o cais do Valongo foi aterrado. Com as obras do Porto Maravilha, foram encontrados milhares de objetos pessoais na região, como partes de calçados, botões feitos com ossos, colares, amuletos, anéis e pulseiras em piaçava.

Sepultura coletiva

Após uma longa jornada pelo Atlântico, africanos esquálidos eram mantidos na região portuária em chamadas casas de engorda para se recuperarem. Depois, eram vendidos e levados a trabalhar em plantações de várias regiões, além de serem empregados em atividades domésticas e construções do Rio.


Muitos, no entanto, não sobreviviam. A poucos quarteirões do cais está um cemitério onde, entre 1770 e 1830, milhares de escravos foram enterrados. Restos desse local foram encontrados por acaso em 2011, quando um casal reformava sua casa na área e se deparou com ossos e crânios.






O tráfico de escravos estrangeiros foi banido em 1831, mas continuou ilegalmente até a escravidão ser abolida no país, em 1888.


Cerca de quatro milhões de escravos chegaram ao Brasil entre os séculos 17 ao 19, o que representa quase 40% dos escravos que desembarcaram nas Américas.
A partir de 2012, o Cais do Valongo passou a fazer parte de um circuito histórico de celebração da herança africana no Rio.


Esse não é o único patrimônio da Humanidade brasileiro a figurar na lista da Unesco. Conheça abaixo outras 20 atrações que ganharam o mesmo status:
  1. Cidade de Ouro Preto (MG)
  2. Centro histórico de Olinda (PE)
  3. Ruínas de São Miguel das Missões (RS)
  4. Centro histórico de Salvador (BA)
  5. Santuário de Bom Jesus do Congonhas (MG)
  6. Parque Nacional do Iguaçu (PR)
  7. Brasília (DF)
  8. Parque Nacional da Serra da Capivara (PI)
  9. Centro histórico de São Luís (MA)
  10. Áreas protegidas de Mata Atlântica do Sudeste (PR e SP)
  11. Reservas de Mata Atlântica da Costa do Descobrimento (BA e ES)
  12. Centro histórico de Diamantina (MG)
  13. Complexo de Conservação da Amazônia Central (AM)
  14. Área de conservação do Pantanal (MT)
  15. Ilhas do Atlântico: Reservas de Fernando de Noronha (PE) e Atol das Rocas (RN)
  16. Áreas protegidas do Cerrado: Chapada dos Veadeiros e Parque Nacional das Emas (GO)
  17. Centro histórico da Cidade de Goiás (GO)
  18. Praça de São Francisco na cidade de São Cristóvão (SE)
  19. Cidade do Rio de Janeiro (RJ)
  20. Conjunto moderno da Pampulha (MG)

História do Cais do Valongo

Cais do Valongo
Atualmente, essa região está em alta, devido à modernização e revitalização da zona portuária. Entretanto, essa área da cidade do Rio de Janeiro tem em seu DNA muito da nossa história.


O Cais do Valongo tem uma ligação fortíssima com o período da escravidão no Brasil. Até meados de 1770, os negros escravizados vindos do continente africano desembarcavam na Praia do Peixe (atual Praça XV) e eram negociados na Rua Direita – hoje Rua 1º de Março -, no centro do Rio.


A presença dos negros africanos incomodava a elite, sobretudo portuguesa, que frequentava a região. Por isso, em 1774, uma nova legislação estabeleceu a transferência desse mercado para o Cais do Valongo, por iniciativa do segundo Marquês de Lavradio, Dom Luís de Almeida Portugal Soares de Alarcão d’Eça e Melo Silva Mascarenhas, vice-rei do Brasil.


 
Após a chegada da Família Real Portuguesa, junto com a corte, a região do Valongo passou a ser muito frequentada por pessoas que queriam comprar escravos. Isso porque a população do Rio duplicou nesse período. Foi de 15 para 30 mil pessoas.


Mesmo com a proibição do tráfico negreiro, em 1831, o Cais do Valongo continuou sendo um dos principais pontos dessa atrocidade que era a compra e venda de pessoas trazidas à força dos países da África. Nessa época, esse tipo de comércio era feito de forma clandestina.


Aquela região, mais do que o cais, era um complexo de escravos, que incluía o lazareto, para onde os negros que chegavam doentes iam se curar ou morrer, o Cemitério dos Pretos Novos e os armazéns de engorda e venda dos escravos, que se concentravam na Rua do Valongo, atual Rua Camerino”, diz Tânia Andrade Lima, arqueóloga do Museu Nacional que supervisionou as obras no Porto Maravilha.


Desembarque de escravos no Cais do Valongo (JM Rugendas) - 1835
Desembarque de escravos no Cais do Valongo (JM Rugendas) – 1835


Em 1831, por pressão da Inglaterra, o tráfico transatlântico de escravos foi proibido. Com isso, o Cais do Valongo foi fechado. Os traficantes passaram, então, a fazer o desembarque em outros portos menos fiscalizados.


Mais de uma década depois, em 1843, foi feito um aterro de 60 centímetros de espessura sobre o cais do Valongo para a construção de um novo ancoradouro. O motivo foi a chegada da Princesa Teresa Cristina, futura esposa de D. Pedro II. O cais foi rebatizado. Passou a se chamar Cais da Imperatriz.
cais valongo antigo
No ano 1911, durante a reforma urbana realizada pelo prefeito Pereira Passos, o Cais da Imperatriz também foi aterrado.


Em 2011, durante as escavações realizadas como parte das obras de revitalização da zona portuária da cidade do Rio de Janeiro, foram descobertos os dois ancoradouros: o do Valongo e o da Imperatriz. No mesmo lugar estava uma grande quantidade de amuletos e objetos de culto originários do Congo, de Angola e Moçambique.


O Cais do Valongo é um lugar simbólico, porque ali está o passado da população afrodescendente do país. Ele não foi encontrado por acaso. Desde 2010, sabíamos da existência de um sítio arqueológico naquele lugar”, conta Tânia Andrade.


Agora, o Cais do Valongo está lá, visível para nos lembrarmos de um período extremamente negativo da história do nosso país e do mundo. Que sirva de exemplo para que não cheguemos nem perto de repetir certos erros. Coisa que muita gente, infelizmente, ainda não aprendeu.




Unesco declara Cais do Valongo Patrimônio da Humanidade 8 Do UOL, em São Paulo* 09/07/201714h41 > Atualizada 10/07/201714h34 Ouvir texto 0:00 Bruno Bartholini/Pública Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, após as ... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2017/07/09/unesco-declara-cais-do-valongo-patrimonio-da-humanidade.htm?cmpid=copiaecola

O Globo – Unesco exige ‘pequena reforma’ no cais



Natália Boere

Depois da festa, foi hora de arrumar a bagunça. Após ter sido flagrado pelo GLOBO tomado por lixo e exalando cheiro de urina bem no dia em que foi eleito Patrimônio Mundial Cultural pela Unesco, o Cais do Valongo passou por uma grande faxina: garis da Comlurb limparam o local e, por volta das 11h de ontem, o novo orgulho do Rio estava tinindo. Os desafios, no entanto, continuam. 



A prefeitura terá agora que dar conta de compromissos assumidos com a Unesco e dar uma outra “geral” no espaço. Está prevista a consolidação das rochas que compõem o sítio arqueológico para que elas não fiquem soltas. A grama que circunda o local também deverá ser substituída por água do mar. O projeto já foi autorizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A prefeitura disse que o projeto está em estudo, mas não informou quando iniciam as intervenções.



— A água do mar não chega à superfície porque há algumas bombas aqui embaixo para canalizá-la. Faremos a mudança para que as pessoas tenham a real dimensão de como era o Cais do Valongo. Se era um porto, o mar ia até as imediações das rochas. Queremos fazer também um guarda-corpo de vidro porque o de cabos de aço é muito vulnerável. As pessoas ainda não têm um entendimento de que, se entrarem no lugar preservado, podem colocá-lo em risco — diz Mônica da Costa, superintendente do Iphan/RJ.


Usuários de crack e moradores de rua costumam ser vistos com frequência dentro do Cais do Valongo.


— É urgente a conservação do Valongo e do entorno, é preciso que o sítio arqueológico tenha vigilância. Como um Patrimônio Mundial vai ficar coberto de lixo, se deteriorando? Se ele não for cuidado como merece, o título pode ser retirado pela Unesco. Eles fazem acompanhamento periódico dos Patrimônios Mundiais — alerta a arqueóloga Tania Andrade Lima, coordenadora da equipe que, entre janeiro de 2011 e junho de 2012, desenterrou a história do Cais do Valongo durante as obras de revitalização da região do Porto.



Entre os achados das escavações, foram encontrados 500 mil objetos, como miçangas, búzios e brincos, que foram levados para o Galpão da Gamboa, na Zona Portuária. O material está armazenado sob a tutela da Secretaria municipal de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação. Há duas semanas, reportagem do GLOBO mostrou que os guardas municipais que tomavam conta do local foram expulsos por traficantes do Morro da Providência, vizinho ao galpão.


—Temos um projeto, em parceria com a prefeitura, para fazer ali um laboratório aberto de arqueologia urbana para estudar os achados de toda a região portuária. Já demos o primeiro passo, o inventário está todo concluído. Isso permite expô-los futuramente no Memorial do Valongo ou no Museu da Escravidão e da Liberdade — conta Mônica da Costa.


A construção do Memorial do Valongo é outro compromisso assumido com a Unesco. Segundo Mônica, ele pode, ou não, estar localizado dentro do Museu da Escravidão e da Liberdade, uma promessa da secretária municipal de Cultura, Nilcemar Nogueira. A vontade da secretária é erguê-lo no Armazém Docas Dom Pedro II. No entanto, a desocupação do espaço de 6,5 mil metros quadrados, erguido num terreno pertencente à Secretaria de Patrimônio da União (SPU) e, desde 2000, sede da ONG Ação da Cidadania (criada em 1993 por Herbert de Souza, o Betinho), está em litígio.


— Quando a SPU solicitou a reintegração do galpão, a pedido da prefeitura do Rio, entramos com uma ação na Justiça. Em meados de agosto, teremos uma audiência com a SPU para tentarmos resolver a situação. Estamos dispostos a tocar o projeto do museu junto com a Secretaria de Cultura e ceder uma área do galpão de mais de dois mil metros quadrados. Investimos R$ 15 milhões ali — afirma Kiko Afonso, diretor executivo da ONG.


A secretária municipal de Cultura, Nilcemar Nogueira, afirma, por sua vez, que “chegou a hora de interesses particulares não prevalecerem em detrimento de causas tão urgentes”. Ela diz esperar que a decisão do governo federal seja tomada logo:

—Espero que saia logo, pois temos apoios internacionais importantes e parceiros privados no Brasil que não podemos perder.


Secretário de Articulação e Desenvolvimento Institucional do Ministério da Cultura, Adão Cândido diz que, “junto à SPU e à Casa Civil”, está “tentando encontrar outro local que atenda às exigências da ONG, para que ela possa continuar desenvolvendo suas atividades.

Perturbadores endócrinos - Riscos para saúde




Julho 2017

Os perturbadores endócrinos são compostos químicos que interferem no funcionamento do sistema endócrino, ou seja, no conjunto de glândulas do corpo, como pâncreas, tireoide, hipófise e suprarrenais, e alteram a eficácia dos hormônios, bem como sua produção endógena.



Essas substâncias podem ser encontradas em diversos alimentos, principalmente os industrializados, em cosméticos e produtos de higiene, pesticidas e até no ar que respiramos.



Riscos para saúde

Atualmente, diversas equipes de cientistas em todo o mundo têm se debruçado sobre os efeitos da presença de perturbadores endócrinos no corpo. Nesses estudos, já foi demonstrado a ação desses compostos sobre o sistema reprodutor da pessoa e seus descendentes com a deterioração da qualidade do esperma, problemas de esterilidade, partos prematuros, atraso no desenvolvimento fetal, puberdade precoce e aumento dos casos de erros na formação genital de recém-nascidos.



Além disso, modificações no metabolismo levam a um aumento do risco de obesidade e diabetes e aparição de câncer de mama, testículos, próstata e ovários.



Efeito coquetel

Devido à quantidade e variedade de substâncias químicas com as quais interagimos no ambiente, uma das principais interrogações ainda a ser respondida pelos pesquisadores é sobre o impacto que a combinação de tantos compostos pode ter no organismo. Esse é o chamado efeito coquetel dos perturbadores endócrinos.


O Estado de S. Paulo – O ecologista de Macron / Coluna / Gilles Lapouge


No governo do presidente francês, Emmanuel Macron, alguns ministros são medíocres. Muitos são apagados, mas repletos de mérito e saber. Mas há uma joia. Um homem que dá inveja ao mundo inteiro. Trata-se do ministro da Transição Ecológica, Nicolas Hulot.


Um ortodoxo. Há 30 anos ele batalha por um mundo menos impuro, menos pútrido e menos envenenado. Sedutor, erudito e grande explorador, todos os governos de esquerda ou de direita tentaram atraí-lo para suas fileiras. Mas ele sempre se mostrou inflexível. Sabia muito bem que simplesmente teria as “asas cortadas” pelos investidores da grande indústria e seus representantes políticos. Preferiu continuar seu combate solitário, em vez de se tornar ministro e se trair.


Por isso, aguardávamos a primeira batalha de Nicolas Hulot. Foi há alguns dias, em Bruxelas. Os europeus tentavam, novamente, após quatro grandes fracassos, colocar fora de combate os chamados “perturbadores endócrinos” (compostos químicos que interferem no funcionamento do sistema endócrino) que contêm alguns pesticidas cujo efeito sobre a natureza e os homens é trágico. Pois a França, graças a Hulot, fez a Europa se voltar para o campo da razão e da saúde, da vida contra a morte. Hulot havia prevenido: ele seria intransigente.


No dia seguinte à reunião em Bruxelas, a Europa congratulou-se de ter, enfim, chegado a um acordo sobre o assunto. E Nicolas Hulot orgulhou-se do grande sucesso. Nós todos aplaudimos, por Hulot em primeiro lugar, e depois porque são assuntos muito técnicos que não entendemos. Mas, no decorrer dos dias, a cortina se abriu e descobrimos que não foi assim tão interessante.



A primeira discordância se fez ouvir. O jornal Figaro referiu-se ao “primeiro sapo que Hulot engoliu”, prevendo que “esse primeiro sapo precede um viveiro inteiro”. O que ocorreu, afinal?



Na verdade, há quatro anos a UE tentava assinar esse texto, mas não conseguia porque 4 países, entre os 28, se opunham: República Checa, Suécia, Dinamarca e França. Ora, este ano, mediante algumas modificações insignificantes, a França mudou de campo. Na primeira salva de artilharia, a França de Hulot juntou-se ao inimigo e mudou de campo.


Mas é o Figaro que afirma isso. Ora, este é um jornal da direita retrógrada e Hulot tem simpatias pela esquerda. O que se disse é que esse artigo “viperino” não valia nada. Era mal-intencionado. Ontem, foi a vez do jornal Le Monde. E com forte artilharia. “A França não conseguiu nada. Ela capitulou.”



O artigo mostra como o texto se apoiou em estudos de consultores da indústria publicados em revistas complacentes, para contrariar o consenso de entidades que agrupam milhares de cientistas. No entanto, o jornal Le Monde é de centro- esquerda, que considera Hulot um traidor, pois obedece às ordens deste “que não é nem de direita nem de esquerda” – Emmanuel Macron. O artigo no jornal não valeria nada, foi mal-intencionado também.
Mas as diversas publicações ecologistas, que admiram Hulot, seu saber, sua precisão e sua pureza, também estão consternadas. Uma delas, por exemplo, Le Sauvage, não esconde sua surpresa, sua consternação e seu desestímulo.




Uma nota divertida nessa história triste: há alguns meses, a Generation Nature realizou um teste dos cabelos de sete personalidades do campo da ecologia, entre eles Nicolas Hulot. Nos cabelos do ministro foram encontrados 57 perturbadores endócrinos.