segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Lava a jatos inovam e economizam água em Brasília/DF

RB AMBIENTAL



Posted: 03 Aug 2017 02:01 PM PDT


Se todos os proprietários de automóveis do Distrito Federal lavassem os veículos hoje, a quantidade de água gasta poderia abastecer, durante um mês, uma cidade com mais de 50 mil habitantes. A frota na capital é de 1.205.537. Em lava a jatos tradicionais, usam-se, em média, 200 litros de água para a limpeza de cada carro. O gasto é tão grande que supera até mesmo o consumo diário de um morador da cidade, de aproximadamente 150 litros, segundo a Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb).


Fazer a limpeza ecológica se tornou uma saída para alguns empreendimentos brasilienses. Há 10 anos, uma empresa especializada em lavagem a seco se tornou o negócio do geólogo Flávio Bonfá, 66. A ideia surgiu quando um amigo, que estava nos Estados Unidos, explicou como funcionava o processo de limpeza de tanques do Exército no deserto. “O produto retira a camada magnética que existe entre a sujeira e a pintura do carro. Tudo isso sem utilizar água”, afirma.

Na 214 Sul, o reúso de água está em fase de teste em um lava a jato. Implementado há 10 meses, o sistema permite o reaproveitamento de até 90% da água utilizada na lavagem dos carros. Segundo o diretor operacional do comércio, Daniel Benquerer, 30, a expectativa é de que o investimento se pague em um ano e meio. “Estamos em fase de adequação. Utilizamos um intenso fluxo de água, ainda não conseguimos realizar todos os ajustes”, explica. No local, uma bomba manda a água para a parte de cima do estabelecimento. Até chegar à caixa d’água, o líquido próprio para realizar a limpeza de um carro passa por três recipientes e um filtro com areia e brita.


O meio ambiente foi o principal impulsionador na ideia de investir no reúso. O lavador Édipo Jackson Ferreira dos Santos, 28, conta que, para realizar a limpeza da água, o sistema usa apenas 25 minutos. “Mesmo com pouco tempo de uso, estamos com uma grande economia. Antes, precisávamos de dois a três caminhões-pipa por semana. Agora, pedimos apenas um por mês”, afirma Édipo.


Assista ao video da reportagem:

https://youtu.be/JXFuvAHXBsc

Fonte: Correio Braziliense

Aquecimento causado por humanos provavelmente causou a recente tendência de temperaturas recordes



pesquisa

American Geophysical Union*
É “extremamente improvável” que 2014, 2015 e 2016 teriam sido os anos consecutivos mais quentes registrados sem a influência da mudança climática causada pelo homem, de acordo com os autores de um novo estudo.


Os registros de temperatura foram quebrados pela primeira vez em 2014, quando esse ano se tornou o ano mais quente desde que os registros de temperatura global começaram em 1880. Essas temperaturas foram superadas em 2015 e 2016, fazendo o ano passado o ano mais quente já registrado. Em 2016, a temperatura média global em terra e áreas de superfície do oceano foi de 0,94 graus Celsius (1,69 graus Fahrenheit) acima da média do século 20 de 13,9 graus Celsius (57,0 graus Fahrenheit), de acordo com a NOAA.


Combinando dados históricos de temperatura e simulações de modelos climáticos de última geração, o novo estudo indica que a probabilidade de sofrer temperaturas globais consecutivas de 2014 a 2016 sem que os efeitos das mudanças climáticas fossem causados pelo homem não seriam superiores a 0,03% ea probabilidade de três anos recordes consecutivos acontecer a qualquer momento desde 2000 não é mais de 0,7%. Quando o aquecimento antropogênico é considerado, a probabilidade, de três anos consecutivos temperaturas recordes, vir a ocorrer, a qualquer momento desde 2000, spbe até 50%, de acordo com o novo estudo.


Isso significa que as mudanças climáticas causadas pelo ser humano são muito susceptíveis de responsabilidade para os três anos consecutivos de registros recordes, de acordo com o novo estudo aceito para publicação em Geophysical Research Letters , uma publicação da American Geophysical Union.
“Com as mudanças climáticas, este é o tipo de coisa que esperamos ver. E, sem mudanças climáticas, realmente não esperamos ver isso”, disse Michael Mann, cientista climático da Pennsylvania State University, em State College, Pensilvânia, e principal autor do novo estudo.


Um planeta aquecido
Os gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono e o metano, acumulam-se na atmosfera e atraem o calor que, de outra forma, escaparia para o espaço. O excesso de gases de efeito estufa de atividades industriais, como a queima de combustíveis fósseis, captura calor adicional na atmosfera, fazendo com que as temperaturas da Terra aumentem. A temperatura média da superfície do planeta aumentou cerca de 1,1 graus Celsius (2,0 graus Fahrenheit) desde o final do século 19, e os últimos 35 anos viram a maioria do aquecimento, com 16 dos 17 anos mais quentes registrados desde 2001, De acordo com a NASA.


Os cientistas agora estão tentando caracterizar a relação entre altas temperaturas anuais e o aquecimento global causado pelo homem.


Em resposta às últimas temperaturas, de três anos, os autores do novo estudo calcularam a probabilidade de observar uma série de três anos de temperaturas recordes, já que os registros de temperatura global anualmente começaram no final do século 19 e a probabilidade de ver tal registro desde 2000, quando grande parte do aquecimento foi observado. Os autores do estudo determinaram a probabilidade de que esse tipo de evento acontecesse tanto com e sem a influência do aquecimento causado pelo homem.


O estudo considera que, a cada ano, não é independente dos que vêm antes e depois, em contraste com as estimativas anteriores que assumiram que os anos individuais são estatisticamente independentes uns dos outros. Há eventos naturais e humanos que fazem com que as mudanças de temperatura se agrupem, como padrões climáticos como El Niño, o ciclo solar e as erupções vulcânicas, de acordo com Mann.


Quando essa dependência é levada em consideração, a probabilidade de esses três anos consecutivos de gravação ocorrerem desde 1880 é de cerca de 0,03% na ausência de alterações climáticas causadas pelo homem. Quando a tendência de aquecimento a longo prazo das mudanças climáticas causadas pelo homem é considerada, a probabilidade de 2014-2016 serem os anos consecutivos mais quentes registrados desde 1880 eleva-se entre 1 e 3%, de acordo com o estudo.


A probabilidade de que esta série de anos recordes seja observada em algum ponto desde 2000 seria inferior a 0,7% sem a influência da mudança climática causada pelo homem, mas entre 30 e 50% quando a influência das mudanças climáticas causadas pelo homem é considerada.


Se as mudanças climáticas causadas pelo homem não forem consideradas, o aquecimento observado em 2016 teria cerca de uma chance em um milhão, em comparação com uma chance de quase 1 em 3, quando o aquecimento antropogênico é levado em consideração, de acordo com o estudo.


Os resultados tornam difícil ignorar o papel que a mudança climática causada pelo homem está influenciando as temperaturas ao redor do mundo, de acordo com Mann.


O aumento das temperaturas globais está relacionado a eventos climáticos mais extremos, como ondas de calor, inundações e secas, que podem prejudicar humanos, animais, agricultura e recursos naturais, disse ele.



“As coisas que provavelmente nos impactarão mais sobre mudanças climáticas não são as médias, são os extremos”, disse Mann. “Se é uma seca extrema, ou inundações extremas, ou ondas de calor extremas, quando se trata de impactos nas mudanças climáticas … muitos eventos climáticos mais impactantes são eventos extremos. Os eventos estão sendo mais frequentes e mais extremos por causa das mudanças climáticas de origem antropogênica”.



Referência:
Mann, M. E., S. K., Miller, S., Rahmstorf, B. A., Steinman, and M., Tingley (2017), Record Temperature Streak Bears Anthropogenic Fingerprint, Geophys. Res. Lett., 44, doi:10.1002/2017GL074056.

* Tradução e edição de Henrique Cortez.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 14/08/2017

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Agricultura Urbana: Técnica de cultivo em palha reduz necessidade de irrigação e adubação





O cultivo em palha traz várias vantagens sobre o sistema convencional
O cultivo em palha traz várias vantagens sobre o sistema convencional. Foto:Renato Perez/Sesc/Divulgação
 
Uma técnica de plantar, que diminui as necessidades de irrigação e adubação das plantas para quem tem pouco tempo para cuidar de pequenas hortas urbanas, está tendo boa receptividade em São Paulo. Trata-se da técnica do cultivo em palha, que além das vantagens acima possibilita deixar os recipientes das plantas mais leve, podendo ser deslocado facilmente.


Numa oficina realizada este final de semana no Sesc Vila Mariana, na capital paulista, o público pôde conhecer essa nova forma de plantar. “É uma técnica muito interessante, de baixa manutenção. A palha é um material que consegue reter bastante umidade, e que não requer rega diária. Além disso, por ser uma matéria orgânica, que entra em decomposição junto com o composto orgânico, diminui muito a manutenção da adubação também”, explicou Julhiana Costal, permacultora do ArboreSer, espaço agroecológico que dissemina práticas de plantio.


Insatisfação e busca de alternativas
“Percebemos cada vez mais a insatisfação das pessoas com o que está sendo oferecido para elas nos mercados e nas feiras. Quanto mais as pessoas têm acesso à informação do grau de contaminação que está o nosso alimento, mais elas querem retornar ao processo de cultivar, se tornar um agente participativo também do meio de produção do nosso alimento”, disse Julhiana.


Por conta disto, a agricultura urbana vem conquistando cada vez mais interessados, dentro do contexto da agroecologia e do consumo de produtos sem agrotóxicos. Afinal, por meio de hortas urbana, é possível ter uma alimentação mais saudável e até gerar renda. Essas hortas podem estar diretamente no solo, em canteiros suspensos ou em vasos.


Diferente da agricultura tradicional, muitas vezes, as pessoas não tem conhecimento técnico nem muito tempo disponível para cuidar do plantio. A técnica de plantar em palha diminui a necessidade de irrigação e adubação para quem tem pouco tempo para cuidar da horta, além de deixar o recipiente leve, podendo ser deslocado facilmente.


Segundo Julhiana Costal, as pessoas podem encontrar palha no final de feiras, já que os feirantes a utilizam para embalar as frutas e depois descartam. “Geralmente fazemos [o plantio com palha] em caixotes de madeira, que ficam muito leves. Quando vamos fazer o manejo, é muito fácil mudar de lugar,inclusive para colocar em lajes, telhados e em lugares que não podem ter sobrepeso”, disse.


Muito agrotóxico
Ela disse que muitas das pessoas que procuram a agricultura urbana estão preocupadas com o consumo de alimento sem agrotóxico. “Estamos em momento em que nos desconectamos do meio de produção do alimento, temos consumido muito alimento que vem de uma agricultura convencional, cheia de veneno, de agrotóxico. Cada brasileiro está consumindo sete litros por ano [de agrotóxico]. Então, acreditamos que o resgate do ato de plantar traz muitos benefícios”, disse.


Além disso, a permacultora comentou que a agricultura traz benefícios para a cidade. “Hoje temos nas cidades áreas que são quase ilhas de calor. Então, quando você planta uma horta, você ajuda a melhorar muito o microclima desse espaço, você diminui o calor, aumenta a biodiversidade. Hoje estamos muito dependentes do campo e, quando começamos a plantar na cidade, a aumentar a produção de alimento no meio urbano, também aumentamos a resiliência da cidade”, avaliou.

A oficina de plantio em palha vai acontecer também no próximo dia 27 de agosto no Sesc Vila Mariana, na capital paulista, às 11h. A atividade é gratuita e a retirada de ingressos começa uma hora antes.

Por Camila Boehm, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 14/08/2017

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Estudo realizado em 400 cidades em todo o mundo explora a relação entre ondas de calor e mortalidade





pesquisa

A Espanha é um dos países onde mais ondas de calor são registradas anualmente
Agencia Estatal Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC)*


Ondas de calor registradas em todo o mundo (aqueles com menos de 14 dias em azul e mais de 17 dias em vermelho). CRÉDITO: MCC Collaborative Research Network
Ondas de calor registradas em todo o mundo (aqueles com menos de 14 dias em azul e mais 
de 17 dias em vermelho). CRÉDITO: MCC Collaborative Research Network

A Espanha foi atingida por várias ondas de calor recorde neste verão. Na verdade, a Espanha é uma das regiões do mundo onde mais ondas de calor são registradas todos os anos e seus efeitos indicam um aumento no risco de mortalidade entre 10% e 20% durante esses períodos extremamente quentes.
Esta é uma das conclusões que podem ser obtidas de um estudo internacional, de que participou o Conselho Nacional de Pesquisa (CSIC) espanhol.


O estudo analisou as ondas de calor que ocorreram entre 1972 e 2012, em 400 cidades de 18 países, e seus efeitos sobre a saúde das pessoas, incluindo a mortalidade. Os resultados foram publicados na revista Environmental Health Perspectives .


“Embora, do ponto de vista da saúde, uma onda de calor seja descrita como um dia em que a temperatura excede um certo limiar, não existe uma definição acordada internacionalmente”, ressalta o cientista Aurelio Tobías, do Instituto de Avaliação Ambiental e Estudos da Água do CSIC. Dirigido pela Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres e trabalhando no âmbito do Programa de Rede de Pesquisa Colaborativa Multi-Cidade e País, este trabalho utiliza, pela primeira vez, uma metodologia comum para avaliar os efeitos desses feitiços mortalidade.


Entre as conclusões do estudo, verificou-se que quanto maior a temperatura, maior o risco para a saúde das pessoas. No entanto, depois de analisar os dados, os pesquisadores apontam que o risco é semelhante, quer sejam altas temperaturas em vários dias ou em um único dia. Além disso, o estudo considera que os efeitos na saúde podem durar até três a quatro dias após um período de calor excessivo.


“Nós também descobrimos que as pessoas que vivem em áreas de temperaturas relativamente suaves são mais sensíveis aos períodos de calor do que aqueles que vivem em regiões de temperaturas mais extremas. Isso sugere que haja alguma aclimatação a esses extremos de calor”, acrescenta Tobías.



Dado que as projeções de mudanças climáticas indicam um aumento nas temperaturas de cerca de 2 °C e, portanto, um aumento no número de ondas de calor, este estudo oferece informações úteis sobre como se adaptar melhor a períodos de calor excessivo, bem como sobre como desenvolver a migração estratégias.


Referência:
Yuming Guo, Antonio Gasparrini, Ben G. Armstrong, Benjawan Tawatsupa, Aurelio Tobias et al. Heat Wave and Mortality: A Multicountry, Multicommunity Study. Environmental Health Perspectives. DOI: 10.1289/EHP1026

* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 14/08/2017

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Alterações climáticas e impactos na saúde, por Rodrigo Berté e Ana Paula Weinfurter Lima



artigo

[EcoDebate] Quando se busca avaliar os efeitos das alterações climáticas e seus impactos na saúde humana, percebe-se que essa é uma tarefa complexa que exige uma abordagem interdisciplinar. A participação de profissionais da saúde, cientistas sociais, biólogos, físicos e epidemiologistas neste debate, torna possível a compreensão das relações entre os sistemas biológicos, ecológicos e socioeconômicos com as alterações climáticas.


De modo geral, a população humana exposta a essas alterações apresenta efeitos em sua saúde. Tais efeitos podem ser facilmente observados nas alterações de incidência de diversas doenças, como as transmitidas por vetores. Entre elas está a dengue, com maior número de casos no verão, sobretudo em locais de maior umidade, o que favorece o desenvolvimento do vetor.


No entanto, as doenças respiratórias costumam ter sua incidência mais fortemente influenciada pela qualidade do ar, como ocorre em áreas urbanas, nas quais a exposição a poluentes atmosféricos sofre grande interferências das alterações climáticas. Há uma relação já bem estabelecida entre o aumento das hospitalizações e dos atendimentos de emergência em situações que determinam elevação da concentração de poluentes na atmosfera.



De tal forma que, segundo a Organização Mundial da Saúde, 50% das doenças respiratórias crônicas e 60% das agudas têm associação com a exposição a tais poluentes. Essa condição pode ser observada sobretudo em grupos mais vulneráveis, como crianças com idade inferior a cinco anos e idosos, nos casos de doenças como asma, alergias, infecções bronco-pulmonares e infecções das vias aéreas superiores.


Variações na temperatura, na umidade e no regime de chuvas podem alterar as condições de exposição aos poluentes atmosféricos e, com isso, mudar a incidência de doenças do aparelho respiratório.


A dispersão de poluentes costuma ser prejudicada em dias com baixa umidade. A maior umidade relativa do ar gera um fenômeno chamado higroscopia, cujo principal efeito sobre os poluentes atmosféricos é a remoção de material particulado e gases solúveis, os quais se incorporam às gotículas de água e sofrem deposição úmida e carreamento para o solo. Portanto, a baixa umidade relativa está entre as condições atmosféricas com importância para a saúde humana, pois além de prejudicar a dispersão de poluentes, também favorece o desenvolvimento dos vírus Influenza. Há estudos que permitiram associar um maior número de internações de crianças com idade inferior a cinco anos, por infecções das vias aéreas, no período seco (de maio a outubro).


Infelizmente, nos dias de hoje, as infecções respiratórias agudas ainda são a principal causa de morbidade em crianças menores de cinco anos em todo o mundo, com cerca de dois milhões de mortes por ano (AZEVEDO et al., 2015). Verifica-se, portanto, que a qualidade do ar no inverno mostra piora e, segundo alguns autores, isso está relacionado a condições desfavoráveis de dispersão dos poluentes e às alterações do clima, o que preocupa especialistas e ambientalistas no cenário atual de seca no Brasil.


Autores:
Rodrigo Berté – Diretor da Escola Superior de Saúde, Biociências, Meio Ambiente e Humanidades do Centro Universitário Internacional Uninter;
Ana Paula Weinfurter Lima – Tutora dos cursos de Pós-Graduação da área da Saúde do Centro Universitário Internacional Uninter.

Colaboração de Lorena Oliva Ramos, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 14/08/2017
"Alterações climáticas e impactos na saúde, por Rodrigo Berté e Ana Paula Weinfurter Lima," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 14/08/2017, https://www.ecodebate.com.br/2017/08/14/alteracoes-climaticas-e-impactos-na-saude-por-rodrigo-berte-e-ana-paula-weinfurter-lima/.

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Congresso ressuscita pontos vetados por Temer nas MPs do Jamanxim


Por Daniele Bragança e Claudio Angelo*
Enquanto o Congresso discute reduz a proteção da Floresta Nacional do Jamaxim, no Pará, na área protegida a invasão já é realidade. Foto: Bernardo Câmara.
Enquanto o Congresso discute reduz a proteção da Floresta Nacional do Jamaxim, no Pará, 
na área protegida a invasão já é realidade. Foto: Bernardo Câmara.


Não foi por falta de aviso dos ambientalistas. Deputados federais voltaram a propor, num projeto de lei enviado pelo governo, o corte de mais de 650 mil hectares de unidades de conservação na Amazônia. As propostas, na forma de emendas a um projeto de lei enviado pelo Executivo à Câmara, devolvem à estaca zero uma discussão que o governo achava que já estivesse resolvida: a da redução da Floresta Nacional do Jamanxim, no Pará.


O acordo de cavalheiros entre o Executivo e o Congresso era que o presidente Michel Temer primeiro vetaria as Medidas Provisórias que diminuíam as áreas protegidas e enviaria mais tarde um projeto de lei em caráter de urgência para recortar apenas a Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim, a unidade de conservação mais desmatada do país. No primeiro semestre, o Congresso havia aprovado duas MPs que, somadas, cortavam 600 mil hectares de três unidades de conservação no Pará e em Santa Catarina. Somente a Flona Jamanxim perderia 486 mil hectares.

O PL prometido, batizado 8.107, foi enviado à Câmara em julho. Ele propunha cortar 349 mil hectares do 1,3 milhão da área da Flona, além de tentar congelar o desmatamento nas propriedades que viessem a ser regularizadas na área cedida. O governo contava com um acordo com o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) para aprovar o texto como estava e “pacificar” a região, palco de conflitos fundiários e de uma verdadeira guerra entre grileiros, madeireiros e o Ibama.

As emendas apresentadas pelos deputados ao projeto a ser votado no plenário da Câmara, porém, trouxeram a sensação de que já vimos esse filme. Elas voltam a ampliar a área a ser cortada da Flona do Jamanxim e incluem na redução de proteção unidades de conservação que não tem nada a ver com a história, como o Parque Nacional do Jamanxim e a Floresta Nacional de Itaituba II.

O parque perderia  31% da área de 862.895,27 para a criação das Áreas de Proteção Ambiental (APAs) de Rio Branco (101.270 hectares) e de Carapuça (102.270 hectares ou 172.460 hectares, dependendo da emenda). Outros 71 mil hectares do parque seriam incorporados à Floresta Nacional do Trairão. A Floresta Nacional Itaituba II perderia 153.130 ha transformando-se  na Área de Proteção Ambiental do Trairão.

APAs são a categoria de unidade de conservação com menor grau de proteção. Elas permitem propriedade privada, desmatamento, mineração e outros usos econômicos. A maior parte do território do Distrito Federal, por exemplo, é uma APA.
O deputado Chapadinha: corte sobre o corte. Foto: Câmara dos Deputados.
O deputado Chapadinha: corte sobre o corte. Foto: Câmara dos Deputados.

A APA de Trairão tem uma curiosidade: o deputado que propôs a emenda para sua criação, Francisco Chapadinha (PODE-PA), propôs ao mesmo tempo amputá-la já no nascimento em 28 mil hectares. A justificativa para tal desmembramento é a possibilidade, no futuro, do local ser alagado pelas Usinas Hidrelétricas de São Luiz e de Jatobá. “Desta forma evitar-se-á a sobreposição de áreas e possíveis problemas quando do licenciamento ambiental dos futuros empreendimentos”, explica o deputado.

Além de Chapadinha, propuseram emendas cortando as áreas protegidas os deputados José Priante (PMDB-PA), relator das MPs originais na Câmara, e Nílson Leitão (PSDB-MT), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária e novo melhor amigo de infância do presidente Michel Temer. Leitão é um dos grandes responsáveis por arrebanhar os votos que salvaram o Presidente da República de ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal por corrupção – e afastado. Um único parlamentar, o petista João Daniel (SE), propôs uma emenda para sustar a redução da Flona, argumentando que o PL estimularia a invasão de terras públicas e comprometeria os compromissos climáticos brasileiros.

Quase todas as emendas querem a Floresta do Jamanxim com 814 mil hectares, e não com 953,6 mil hectares, como proposto pelo governo. A APA do Jamanxim teria o tamanho do projeto aprovado pelo Congresso que foi vetado: 486 mil hectares.

Procurados, o senador Flexa Ribeiro, o deputado José Priante e o presidente do Instituto Chico Mendes, Ricardo Soavinsky, não puderam ser localizados até a conclusão deste texto.

*do Observatório do Clima.