quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Retrospectiva 2020: Amazônia segue sob forte pressão ambiental

 


Retrospectiva 2020: Amazônia segue sob forte pressão ambiental



21 dezembro 2020    
Bioma sofreu com desmatamento e queimadas, enquanto o garimpo, a violência e o novo coronavírus ameaçam os povos indígenas 

Por WWF-Brasil


Em 2020, a Amazônia continuou sob forte pressão ambiental, com aumento do desmatamento, recordes de queimadas, crescente ação do garimpo, violência contra povos da floresta e ameaças de novos projetos de infraestrutura. Esse cenário, associado à pandemia de Covid-19, deixou ainda mais vulneráveis as populações indígenas, principais guardiões da floresta Amazônica. 

Diante desse contexto crítico, o WWF-Brasil realizou diversas ações emergenciais, com parceiros locais, com o objetivo de amenizar os problemas que ameaçam a sobrevivência dos povos da região e auxiliar na conservação de suas áreas naturais.  

Além dessas ações em campo, ao longo do ano, nos posicionamos e colocamos em destaque a discussão sobre as ameaças à Amazônia, que foram objeto de diversos estudos, seminários e eventos. 

Desmatamento 
Em abril, a devastação da Amazônia já apresentava evidente trajetória de crescimento. Os alertas de desmatamento registrados entre agosto de 2019 e abril de 2020, em uma área de 5.666 km2, já apontavam um crescimento de 94% em relação ao mesmo período no ano anterior.   

Em junho, a maior devastação já registrada para os cinco primeiros meses de um ano na Amazônia legal: 2.032 km2 entre 1 de janeiro e 31 de maio.  

Os alertas apontavam, em agosto, para mais de 9 mil quilômetros quadrados de desflorestamento, indicando o fracasso do poder público em conter o crime ambiental na floresta. Tudo indicava que o desmatamento de 2020 seria ainda pior que o de 2019, foram desmatados 1,2 milhão de hectares, sendo 63% na Amazônia.  

O temor foi confirmado no fim de novembro, quando dados oficiais revelaram uma devastação de mais de 11 mil km2 em 2020, 9,5% a mais em relação ao dramático período anterior. O crescente desmatamento denunciou o quanto está ultrapassado o modelo de desenvolvimento da região. 

Ao longo do ano, atuamos em conjunto com diversos parceiros para denunciar e reverter os fatores que levaram ao crescimento do desmatamento no bioma. Em julho, o WWF-Brasil e um grupo de organizações da sociedade civil ingressou com pedido no TCU (Tribunal de Contas da União) para uma auditoria nas políticas do Governo Federal de combate ao desmatamento e queimadas na Amazônia.   

Em agosto, 60 organizações e coletivos da sociedade civil, incluindo o WWF-Brasil, entregaram a representantes do Congresso Nacional um pacote de ações emergenciais que incluía o estabelecimento de uma moratória ao desmatamento na Amazônia. 
 
O combate ao desmatamento e as queimadas também foi beneficiado por nosso projeto de utilização de drones para monitoramento de áreas remotas da Amazônia. O projeto doou 19 drones para 18 organizações de seis estados da Amazônia, totalizando cerca de R$ 300 mil, além de oferecer capacitações e outras ferramentas como GPS, celulares e notebooks.  

Queimadas 
Além do desmatamento, a Amazônia sofreu também com a crise das queimadas que assolou o Brasil em 2020. Em julho, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) já apontava que a Amazônia Legal havia perdido mais de 3 mil km2 de florestas no primeiro semestre do ano, 26% a mais que no primeiro semestre de 2019.  

Em agosto, o instituto divulgou que em julho mais de 6,8 mil focos de queimadas haviam sido detectados, aumento de 28% em relação ao mesmo período de 2019. Em outubro de 2020, foi registrado o maior número de queimadas na Amazônia em 10 anos:  17.326 focos de calor, um aumento de mais de 120% em comparação a outubro de 2019.  

O WWF-Brasil realizou diversas ações emergenciais para enfrentar essa crise, apoiando especialmente quem atuou na linha de frente de combate ao fogo. Em junho, doamos mais de 1.300 peças de combate ao fogo, como abafadores, sopradores, bombas-costais, e equipamentos de proteção individual ao Corpo de Bombeiros do Amazonas e à Sema (Secretaria de Meio Ambiente) do Acre.  

Em julho, um projeto em parceria com Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia), deu ao município de Apuí (AM) -que não possui unidade do Corpo de Bombeiros- autonomia no combate inicial a queimadas. O projeto capacitou pequenos produtores rurais para o manejo do fogo e forneceu equipamentos de combate a incêndios e de proteção individual para 15 brigadistas. Além disso, entregamos um drone à Prefeitura de Apuí para auxiliar nas atividades de monitoramento e combate às queimadas.  

Em março doamos mais de 1.440 itens, no valor de R$ 189 mil, para Sema (Secretaria Estadual de Meio Ambiente) do Amazonas que, em julho, recebeu mais 60 itens de combate ao fogo, em um novo investimento de R$ 52 mil. Em agosto, para contribuir na mitigação dos efeitos das queimadas sobre a fauna, apoiamos a SOS Amazônia na realização do seminário “Cuidados e Procedimentos de Resgate de Fauna Afetada pela Atividade do Fogo no Estado do Acre”. 

Povos indígenas: violência e Covid-19 
Em 2020, a crescente pressão de invasores sobre as Terras Indígenas da Amazônia resultou em episódios revoltantes como o assassinato de Ari Uru-eu-wau-wau, em Rondônia, em abril. A violência contra povos indígenas já havia marcado 2019, com os assassinatos de lideranças como Paulo Paulino Guajajara e Dorivan Soares Guajajara

Mas, além da violência, a presença cada vez maior de invasores deixou os povos indígenas mais expostos à pandemia de Covid-19. A vulnerabilidade à doença e a precariedade da assistência oferecida pelas autoridades públicas produziu um terrível quadro humanitário na região. Ao longo do ano, o WWF-Brasil atuou em diversas frentes para oferecer apoio emergencial aos povos da Amazônia. 

Em maio, foi traçado um plano emergencial para atender os afetados na Amazônia com doação de alimentos, produtos de higiene, EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) e outros materiais. No total, foram atendidas mais de 7 mil famílias indígenas e 100 trabalhadores de cooperativas agroextrativistas, com mais de 15 toneladas de alimentos e produtos de higiene, EPIs e outros equipamentos. 

Em julho, doamos 294 cestas básicas com alimentos e produtos de higiene para mais de 1.650 indígenas de aldeias localizadas nos estados de Mato Grosso, Pará e Rondônia, em uma ação que apoia mais de 30 mil pessoas na Amazônia e no Cerrado. Também em julho, doamos 233 cestas básicas e máscaras de proteção, beneficiando mais de mil agroextrativistas da Resex Ituxí e Médio Purus, em Lábrea, no sul do Amazonas. 

Em agosto, com apoio do ISPN (Instituto Sociedade População e Natureza), doamos cestas básicas para 412 famílias indígenas de 13 aldeias de povos Guajajara e Timbira no Maranhão. No total, foram doados 4.223 quilos de alimentos.   

Em setembro, em parceria com um grande grupo de organizações, sob liderança da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), ajudamos a instalar quatro Unidades de Atenção Primária Indígenas em quatro aldeias da Amazônia, nos estados do Pará, Acre e Amazonas. Entre junho e dezembro, uma outra parceria entre o WWF-Brasil, a Coiab e diversas outras organizações, levou insumos para garantir o sustento de 927 famílias e proteção contra a Covid-19 de 54 aldeias em oito Terras Indígenas do Amazonas. 

Em dezembro, mais de 50 organizações da área socioambiental, incluindo o WWF-Brasil, protocolaram manifestação na Assembleia Legislativa de Rondônia contra um projeto de lei (PLC 80/2020) que pretende diminuir duas Unidades de Conservação onde vivem indígenas isolados: a Reserva Extrativista Jaci-Paraná e o Parque Estadual Guajará Mirim. O projeto do governo estadual retiraria mais de 160 mil hectares das duas áreas protegidas, entregando-as a criadores de gado que expulsaram seringueiros com o uso de violência. 

Infraestrutura 
Os projetos de construção e pavimentação de estradas que ameaçam o meio ambiente na Amazônia também não deram trégua em 2020. Em maio, o WWF-Brasil se posicionou contra a proposta do senador Márcio Bittar (MDB-AC), que aproveitou a distração causada pela pandemia de Covid-19 para anunciar o planejamento de estudos para a construção de uma estrada em uma das áreas mais preservadas do bioma: o trecho da BR-364 entre Cruzeiro do Sul, no Acre e Pucallpa, no Peru. 

Em junho, nos mobilizamos junto a diversas outras organizações, com a participação de 156 lideranças indígenas, para que os povos tradicionais sejam ouvidos na discussão sobre a controversa pavimentação da BR-319. Defendemos a construção de um protocolo de consulta dos povos indígenas sobre questões de infraestrutura que impactem suas vidas - assim como determina a Convenção 169 da OIT. Em setembro, a questão do licenciamento da BR-319 foi discutida no cinedebate “Infraestrutura na Amazônia e invisibilidade dos povos indígenas”, promovido pelo WWF-Brasil em parceria com o MPF-AM e o Idesam.  
 
Estudos, eventos e mini-documentários 
Em maio, lançamos o documentário “Expedição Solar”, gravado durante uma viagem por 10 dias pelo Rio Purus, próximo à cidade de Lábrea (AM). O filme conta a história do projeto piloto Resex Solar, que leva energia solar a comunidades da região que não têm luz elétrica. Em junho, foi a vez do mini-documentário “Defensores da Floresta”, que mostra o cotidiano de uma comunidade ribeirinha do interior da Amazônia, dividida entre os benefícios de viver em meio à natureza, a constante tensão de defender seu território de invasores e grileiros 

Em agosto, estudo realizado por pesquisadores do WWF-Brasil, Fiocruz e outras instituições mostrou que, no Amapá, os peixes mais contaminados por mercúrio pelas atividades de garimpo são justamente os mais consumidos: o pirapucu, o tucunaré e o trairão. A concentração de mercúrio nos peixes coletados pelos cientistas excedeu o limite de segurança em 77,6% dos peixes carnívoros. Outro estudo de pesquisadores do WWF-Brasil e Fiocruz, divulgado em novembro, revelou os impactos do mercúrio na saúde do povo indígena Munduruku, no Pará: a contaminação chega a 90% em aldeias às margens dos rios. 

Em setembro, um estudo realizado por pesquisadores do WWF-Brasil, Universidade Federal do Acre, Embrapa Acre e Secretaria de Meio Ambiente do Acre, mostrou que os sistemas agroflorestais são a melhor alternativa para o desenvolvimento da Amazônia. Também em setembro, várias instituições da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, incluindo o WWF-Brasil, coordenou um estudo sobre a rastreabilidade da carne bovina no Brasil, mostrando que é possível monitorar a origem da carne na Amazônia, uma importante ferramenta para reduzir o desmatamento no bioma. 
 
 
© WWF-Brasil

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