247 - O senador Aécio Neves (PSDB-MG) chega ao dia
de votação no primeiro turno vivendo sentimentos opostos. Em Minas
Gerais, a vitrine do seu "choque de
gestão",
ele e seu candidato Pimenta da Veiga devem sofrer uma derrota
acachapante para o petista Fernando Pimentel, provável vencedor no
primeiro turno. No entanto, a ultrapassagem sobre Marina Silva, na
última curva da corrida presidencial, transforma aquilo que seria um
fiasco completo para os tucanos numa possibilidade real e concreta de
poder.
Afinal, nas simulações de segundo turno, a distância que o separa da
presidente Dilma é relativamente pequena: 53% a 47% para ela, segundo o
Datafolha.
Aécio terá, a seu favor, o apoio maciço dos
meios de comunicação
tradicionais e também de grande parte do setor empresarial, que, nos
últimos anos, se distanciou da presidente Dilma Rousseff. O escândalo da
Petrobras, com as delações premiadas de Paulo Roberto Costa e Alberto
Youssef, será mais um combustível a impulsioná-lo.
No entanto, ele terá o desafio de explicar por que os mineiros não
renovaram o apoio a seu grupo político e também de enfrentar um debate
que, nas últimas três eleições foi favorável ao PT: o da comparação
entre os governos Lula e FHC. Aécio jamais escondeu FHC – ao contrário,
fez questão até de saudá-lo,
ao vivo,
no debate da TV Globo. Embora diga que a disputa será entre ele e a
presidente Dilma Rousseff, o embate também terá FHC e Lula em campo.
Hoje, o jogo está 3 a 2 para o PT. Enquanto os petistas tentarão
transformar o placar em goleada, Aécio busca o empate no confronto
PT-PSDB.
Leia, abaixo, o perfil de Aécio escrito por Eduardo Simões, da Agência Reuters:
Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) -
Apontado como futuro candidato do PSDB ao Planalto desde que ganhou
destaque nacional como presidente da Câmara dos Deputados em 2001, o
senador mineiro Aécio Neves vive agora uma situação inusitada para
qualquer candidato tucano desde 1989: a possibilidade de ser derrotado
sem sequer chegar ao segundo turno.
Visto por aliados como um gestor eficiente capaz de fazer auxiliares
entregarem resultados e o homem certo para levar adiante a herança
política do avô Tancredo Neves, é criticado por adversários por ser um
político que controla a imprensa com pulso firme e um representante de
Minas Gerais que passa tempo demais em festas no Rio de Janeiro.
“Eu acho que o Aécio combina uma extraordinária habilidade política,
para a política partidária, para as composições eleitorais, com uma
clareza muito grande de objetivos, do que ele quer atingir", disse o
senador paulista Aloysio Nunes (PSDB), candidato a vice na chapa de
Aécio, em entrevista recente à Reuters na qual também rebateu a fama de
"playboy" do presidenciável tucano.
“Ele é um sujeito que gosta da vida. Gosta de comer bem, gosta de
amigos, gosta de tomar os seus aperitivos. É uma pessoa normal. Agora, é
extremamente disciplinado. O Aécio é um sujeito muito disciplinado e
trabalhador. Não apenas na política mas na administração. Foi um
excelente governador de Minas Gerais.”
Independentemente da opinião que desperte, o fato é que Aécio, aos 54
anos, finalmente chegou à posição que parecia que seria sua, mais cedo
ou mais tarde: a candidatura à Presidência da República.
Mas um fato inédito em disputas presidenciais no Brasil --a morte do
então candidato do PSB, Eduardo Campos, e sua substituição por Marina
Silva-- ameaça frustrar os planos do tucano.
"Nós estamos tendo, na verdade, uma nova eleição em razão de tudo o
que ocorreu, inclusive, com mudança de candidaturas", tem repetido Aécio
desde que Marina se tornou candidata e o ultrapassou nas pesquisas de
intenção de voto.
Às vésperas da eleição de domingo, o tucano voltou a ganhar terreno,
ao passo que a candidata do PSB perdeu força, e o que parecia distante
nos primeiros levantamentos feitos após a morte de Campos, a ida de
Aécio ao segundo turno, que ele gosta de chamar de "a onda da razão",
parece agora uma possibilidade real.
GOVERNADOR DE MINAS
Aécio governou Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do
Brasil, por dois mandatos, assumindo em 2003 e deixando o cargo em 2010
com altíssimos índices de popularidade, para disputar uma vaga no
Senado.
Acabou sendo uma espécie de "prêmio de consolação" para o tucano, que
com uma grande aprovação no governo mineiro era apontado como
postulante natural do PSDB ao Planalto naquela eleição, depois das
derrotas de José Serra, em 2002, e de Geraldo Alckmin, em 2006. Mas
Serra impôs seu nome mais uma vez e acabou derrotado pela presidente
Dilma Rousseff (PT).
Eleito senador, conseguiu fazer seu sucessor em Minas com uma vitória
no primeiro turno do até então pouco conhecido Antonio Anastasia, que
era seu vice e assumiu o governo com a saída de Aécio. Com isso,
credenciou-se como candidato natural à Presidência da República em 2014 e
principal nome da oposição.
"Ele forma a equipe, estabelece o planejamento estratégico, fixa
metas objetivas, supervisiona, descentraliza a gestão e cobra
resultados", disse o deputado federal Marcus Pestana, presidente do
diretório mineiro do PSDB, que foi secretário de Saúde do governo Aécio.
O tucano foi eleito no primeiro turno nas duas vezes que disputou o
governo do Estado --teve 58 por cento dos votos em 2002 e 77 por cento
em 2006-- e foi o governador melhor avaliado do Brasil, segundo o
Datafolha, que no final de 2009 mostrou que 73 por cento dos mineiros
consideravam seu governo ótimo ou bom.
Com a marca do "choque de gestão", programa pelo qual enxugou a
máquina pública, Aécio buscou o carimbo de gestor eficiente, que também
procurou propalar na disputa presidencial. Mas em seu Estado, nem todos
parecem concordar com esta marca.
"Indicadores colocam Minas Gerais com os maiores índices de
desigualdade no país", disse a cientista política da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Helcimara de Souza Telles.
Críticos do senador mineiro afirmam ainda que ele estabeleceu uma
"censura" na imprensa do Estado, eliminando os espaços para opositores e
garantindo que somente reportagens favoráveis fossem publicadas.
E, segundo esses adversários, a ferramenta escolhida foi o controle
das verbas publicitárias, por meio da criação do Grupo Técnico de
Comunicação, no qual Andrea Neves, a irmã de Aécio, é quem daria as
cartas.
"Os órgãos de comunicação de Minas Gerais são mantidos com mãos de
ferro", disse o deputado estadual Pompílio Canavez (PT), líder do bloco
"Minas Sem Censura", que faz oposição ao governo tucano na Assembleia
Legislativa do Estado.
RIO DE JANEIRO: "FOLCRORE"
Integrante da terceira geração de uma família de políticos --além de
Tancredo, o outro avô, Tristão Cunha, era político, assim como o pai,
Aécio Cunha-- Aécio é elogiado por sua capacidade de articulação, que o
colocou à frente de uma aliança improvável na eleição de 2008, quando PT
e PSDB se uniram para eleger Márcio Lacerda (PSB), prefeito de Belo
Horizonte.
A decisão de Campos de romper a aliança do PSB com o governo Dilma
para lançar-se ao Palácio do Planalto e a necessidade de um palanque
para chamar de seu em um Estado importante como Minas, provocaram o fim
da aliança entre socialistas e tucanos no Estado.
Ainda assim, a relação entre Aécio e o PSB manteve-se boa. O tucano, aliás, declarava-se amigo de Campos.
"O Aécio é um grande político. Teve excelente gestão no governo de
Minas", disse o deputado federal Júlio Delgado, presidente do PSB
mineiro.
Divorciado e pai de uma filha, Aécio casou recentemente com a modelo
Letícia Webber, 20 anos mais nova que ele e com quem recentemente teve
gêmeos --um menino e uma menina.
Amigo de
celebridades,
como o ex-jogador Ronaldo e o apresentador Luciano Huck, em 2011 foi
parado numa blitz da Lei Seca, no Rio, com a carteira de habilitação
vencida. Se recusou a fazer o teste do bafômetro e, à época, argumentou
que não fez o teste porque não poderia seguir guiando, já que estava com
o documento vencido.
Durante a campanha deste ano, teve por várias vezes de responder
sobre este episódio. Em uma delas, no jornal O Estado de S. Paulo,
chegou a sugerir que a plateia checasse a validade de suas habilitações.
Em outra, ao ser entrevistado pelo Jornal da Record, reconheceu que
errou ao não fazer o teste.
"Foi um erro, e no meu caso porque a carteira estava vencida há 30
dias, então não tinha como eu fazer e voltar dirigindo. Mas um erro. Eu
sou um homem do meu tempo, reconheço erros, tenho uma vida pública de 30
anos de serviços prestados ao país", justificou-se.
A presença frequente do tucano no Rio de Janeiro é, inclusive, um dos alvos prediletos de seus adversários políticos.
"O pessoal brinca que ele fez a Cidade Administrativa no meio do
caminho para Confins para ficar mais fácil" as viagens para o Rio de
Janeiro, disse o deputado estadual Sávio Souza Cruz (PMDB), um dos
integrantes do "Minas Sem Censura", numa referência à nova sede do
governo estadual, construída durante a gestão Aécio na mesma rodovia que
leva ao aeroporto de Confins.
Para o deputado tucano Pestana, no entanto, as críticas às viagens de Aécio ao Estado vizinho não passam de "folclore".
"A resposta para isso está nos resultados das últimas eleições",
disse, referindo-se à reeleição de Aécio em 2006, à eleição de seu
sucessor, Antonio Anastasia, em 2010, e à de Lacerda à prefeitura da
capital em 2012, quando foi apoiado pelo senador contra um candidato do
PT.
(Reportagem adicional de Maria Carolina Marcello, em Brasília)