Fato: boa parte da imprensa aderiu a um
pessimismo exacerbado de que a Copa no Brasil seria um fiasco, em termos
de organização e infraestrutura. Alguns chegaram a endossar a campanha
“não vai ter Copa”, o que nunca foi aceito por este blog (apesar de,
após as últimas pesquisas eleitorais, ter sido reforçada a tese de que o
“pão & circo” pode render alguns votos extras ao governo sim).
Pois bem: os defensores do governo
ficaram em polvorosa com o “sucesso” da Copa. A animação é contagiante,
muitos acabaram sucumbindo ao clima dos jogos, colocaram bandeiras nos
carros, os estádios funcionam e a infraestrutura não foi um caos, apesar
de um viaduto, provavelmente pela pressa das obras, ter despencado e
matado duas pessoas, ganhando as manchetes internacionais.
A celebração parece precipitada, porém. O
principal alvo das críticas – ao menos de muitos críticos como esse que
vos escreve – nunca foi a capacidade de realizar uma Copa animada, ou a
“Copa das Copas”, o que já é um slogan marqueteiro ufanista. O alvo
prioritário era o custo disso, as “estranhas prioridades”, como
coloquei em um título da coluna na Veja impressa, o uso político que o
governo faz do evento, a corrupção.
Sobre isso, nada mudou. Ao contrário:
todas as críticas continuam válidas. E para jogar um balde de água fria
nos Zés de Abreu da vida, ninguém melhor do que Guilherme Fiuza, que com
sua fina ironia descascou todos os ufanistas bobocas em sua coluna de hoje no GLOBO. Seguem alguns trechos:
Os
pessimistas e a elite branca deram com os burros n’água: a Copa do Mundo
no Brasil é um sucesso. A bola está rolando redondinha, os gramados
estão todos verdinhos e o país chegou até aí batendo mais um recorde:
gastou com os estádios da Copa mais do que Alemanha e África do Sul
juntas. Com brasileiro não há quem possa.
Aos
espíritos de porco que ainda têm coragem de reclamar do derrame sem
precedentes de dinheiro público promovido pelos faraós brazucas, eis a
resposta definitiva e acachapante: a Copa no Brasil tem uma das maiores
médias de gols da história. Fim de papo. De que adianta ficar
economizando o dinheiro do povo, evitando os superfaturamentos e as
negociatas na construção dos estádios, para depois assistir a um monte
de zero a zero e outros placares magros? Fartura atrai fartura. Depois
da chuva de verbas, a chuva de gols. É a Copa das Copas. Viva Messi,
viva Neymar, viva Dilma.
[...]
Além de
jegue e jabuticaba, o Padrão Brasil tem feriado. Muito feriado. Quantos o
freguês desejar. Pode haver melhor legado que esse para a mobilidade
urbana? Se todo mundo andar de jegue e ninguém precisar ir trabalhar,
acabaram-se os problemas viários. Poderemos ter Copa todo mês. E os
brasileiros não precisarão mais correr riscos com obras perigosas como
os viadutos — que, como se sabe, desabam.
A Copa vai acabar dia 13. O que vem
depois? A euforia, o clima de alegria, isso passa. A realidade fica. Os
estádios superfaturados e desnecessários continuam lá. A infraestrutura
não terá melhoria significativa. O legado da Copa, em termos concretos e
permanentes, será pífio, quiçá nulo.
A festa está bonita, os jogos têm muitos
gols. Mas desde quando isso é o único parâmetro para medir seu sucesso?
Quero crer que os brasileiros são mais inteligentes do que isso, que
saberão perfeitamente separar as coisas.
De um lado, uma torcida alegre fazendo
uma festa contagiante; do outro, um governo incompetente e corrupto, que
não soube aproveitar a oportunidade para deixar um legado positivo, e
que ainda tenta fazer um uso político abjeto dessa festa toda.
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