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quarta-feira, 26 de setembro de 2018
Morte acelerada
Morte acelerada
Estudo internacional com participação brasileira, mostra que os
riscos corridos pelas florestas tropicais do mundo estão se
intensificando em ritmo crescente
Desmatamento na Amazônia: só um dos fatores que estão destruindo a floresta (Foto: iStockphotos)
Como se o desmatamento já não fosse suficientemente ruim, uma
série de outras ameaças mata, num ritmo cada vez mais intenso, as
árvores da Amazônia e de outras florestas tropicais úmidas da Terra. Uma
revisão de artigos científicos feita por especialistas no tema,
incluindo o pesquisador brasileiro Paulo Brando, do Instituto de
Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), e publicada na revista “New
Phytologist” em fevereiro, indica que a taxa de mortalidade dessas
árvores mostra sinais de aceleração nos últimos anos.
Os motivos são o aumento da temperatura, secas longas e piores,
ventos mais fortes, incêndios mais extensos, mais cipós e até a
abundância de gás carbônico na atmosfera – uma das causas do efeito
estufa e elemento fundamental da fotossíntese. As mudanças climáticas
estão ligadas a todos os problemas apontados. “O trabalho mostra que há
indícios fortes que relacionam a mortalidade das árvores de florestas
tropicais úmidas às alterações esperadas para essas regiões, em escalas
global e regional”, afirma Brando.
O foco do estudo foram as florestas intactas, primárias ou antigas,
na América do Sul, África e no Sudeste Asiático. A Amazônia brasileira
aparece em destaque porque é o local mais estudado de todos. “Na
Amazônia, todas essas causas de mortalidade de árvores estão presentes”,
diz Brando. “Mas é difícil dizer que uma é mais relevante do que outra,
porque todas têm um papel. Secas causam picos de mortalidade, enquanto o
aumento de CO2 provoca mudanças de fundo. Já eventos de tempestades de
vento impactam mais áreas fragmentadas, e o fogo causa muitos danos no
sudeste da Amazônia.”
Equação letal
É impossível estabelecer qual desses ataques é pior. As secas têm se
tornado cada vez mais longas e severas – na Amazônia, episódios anômalos
ocorreram em 1997, 2005, 2010 e 2015. Como defesa imediata, as árvores
tomam atitudes extremas, como fechar os estômatos (células por onde
ocorre a respiração das plantas) e perder mais folhas. Essas folhas, por
sua vez, se acumulam em abundância no solo e servem de combustível para
incêndios florestais, que se alastram facilmente e por mais tempo.
As novas condições estão favorecendo a proliferação de cipós (Foto: iStockphotos)
Secas e temperaturas mais altas podem ainda levar as árvores a
definhar de fome, também num mecanismo de defesa que acaba se tornando
um algoz. Ao fecharem os estômatos para salvar água em seu interior,
elas deixam de capturar o CO2 do ar, sua fonte de alimentação, enquanto
consomem o que têm dentro. O regime forçado as deixa mais suscetíveis a
ataques de pestes, como insetos, ou à competição por comida com os cipós
– que, por sua vez, têm proliferado nesses ambientes. E, mesmo que a
dieta não aconteça, o excesso de CO2 no ar também não significa que as
florestas crescerão abundantemente.
“Quando há muito gás carbônico, algumas árvores podem dominar o
pedaço e roubar os recursos dos vizinhos. Assim, há um aumento esperado
na mortalidade de árvores, mas não necessariamente mudanças drásticas
nos estoques de carbono”, afirma Brando. “Outra explicação é que a
floresta se torna mais dinâmica com mais CO2; cresce e morre mais
rapidamente, tanto pelo metabolismo quanto por mudanças na sua
estrutura.” Tampouco o fato de estarem próximas à linha do equador traz
vantagem para as florestas tropicais úmidas num planeta mais quente: um
novo regime de temperatura, esperado para os próximos anos devido às
mudanças climáticas, pode mudar o metabolismo das árvores.
Segundo Brando, reduzir a taxa de mudança no clima e estabilizar o
processo o quanto antes, o que envolve tanto derrubar os níveis de
emissão de CO2 quanto os do desmatamento, são fatores essenciais para
manter as florestas tropicais. “Quanto menor a área de borda de
floresta, comum em paisagens fragmentadas, menor o impacto de seca, fogo
e ventos.” Ele ainda destaca a importância de aprofundar as análises:
“Precisamos saber o que realmente está ocorrendo, para fechar buracos
nas observações que ainda existem e nos preparar para os efeitos das
mudanças climáticas”.
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