A maior planície alagada do planeta, o Pantanal, enfrenta uma das piores secas de sua história. As consequências são devastadoras para a fauna e a flora locais, resultando em grande número de espécies à beira da extinção e um ecossistema em colapso.
Conhecido pela exuberância de seus rios e pela vasta biodiversidade, o bioma está agonizando, e especialistas alertam para a possibilidade de perdas irreversíveis.
Hoje, isto é o Pantanal...
Foto: Diego Baravelli/GRAD Brasil
A seca intensa, combinada com os efeitos das queimadas frequentes – a maioria criminosa -, está transformando o Pantanal em um cenário de desolação. Enquanto governos negam a realidade e ajuda, animais em situação de risco caminham quilômetros em busca de água e alimentos.
Sem áreas alagadas suficientes, a fauna pantaneira luta a cada minuto pela sobrevivência. Jacarés, onças-pintadas, aves e outras espécies que dependem diretamente dos cursos d’água agora se veem encurralados por uma paisagem árida. E alguns não resistem.
Foto: Acervo GRAD Brasil
Liminar da Justiça
Aves, abelhas, mamíferos e até grandes predadores como a onça-pintada, desesperados por água, têm contado com áreas de dessedentação, pontos que oferecem água potável, instalados pelo GRAD Brasil (Grupo de Resposta a Animais em Desastres), que vem desempenhando papel crucial na tentativa de mitigar os efeitos da seca no Pantanal (ajude a manter esse trabalho participando da vaquinha, que termina em 13/10, ou doações pelo PIX doe@gradbrasil.org.br e outras formas)
Para isso, a organização precisou lutar por uma liminar na Justiça – por meio de uma ação civil pública - para poder atuar ao longo da rodovia Transpantaneira, que liga o município de Poconé, no Mato Grosso, ao distrito de Porto Jofre, na divisa com o Mato Grosso do Sul, e tem cerca de 150 km de extensão.
Nela, o GRAD vem instalando pontos de água potável para suprir os animais e evitar que morram de sede como já aconteceu com muitos deles, por negligência do poder público. “Sem medidas de socorro”, alerta a equipe do GRAD, “muitas espécies podem não sobreviver aos próximos meses”.
De outubro a abril é o período de chuvas, mas não há nenhum sinal de que ele vá começar. Este ano está tudo anormal por lá: o período de seca, que se inicia geralmente em maio, foi precoce e se manifestou em janeiro. Talvez esse seja o novo normal pantaneiro nesta crise climática, ao qual os animais sucumbirão sem apoio.
A luta para manter os bebedouros
Até o momento, o GRAD instalou 15 pontos de dessedentação entre as pontes 21 e 89 da Transpantaneira - nas redondezas do município de Poconé -, equipados com dois cochos de 500 litros de água cada.
Em cada ponto de dessedentação, dois cochos de 500 litros de água cada
Foto: Acervo GRAD Brasil
Galhos, folhagens, troncos são utilizados nos bebedouros
para torná-los mais atraentes aos animais
Foto: Acervo GRAD Brasil
Diariamente um caminhão com capacidade de 7 mil litros de água atua no reabastecimento desses cochos em parceria a equipe do GRAD, que utiliza uma caminhonete equipada com um tanque de mil litros, mais acessível aos bebedouros. Os brigadistas e veterinários fazem a higienização dos cochos, os reabastece e ainda atua no resgate de animais debilitados.
A ajuda às vezes chega tarde demais
Foto: Diego Baravelli / GRAD Brasil
Macaco tentando beber água no lamaçal
Foto: Diego Baravelli / GRAD Brasil
Durante apenas oito dias de monitoramento, o grupo registrou imagens de cerca de 800 animais, pertencentes a pelo menos 20 espécies, sendo cinco delas classificadas como vulneráveis à extinção e duas como quase ameaçadas na lista vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza).
Foto: Acervo GRAD Brasil
Foto: Acervo GRAD Brasil
Não são apenas os animais silvestres que sofrem com a sede no Pantanal
Foto: Acervo GRAD Brasil
Não só mamíferos, aves e répteis foram fotografados e filmados pelas câmeras trap, como também uma grande quantidade de invertebrados: insetos como abelhas nativas sem ferrão, abelhas de outras espécies e marimbondos.
Com suas bacias secas e rios que outrora transbordavam vida, o Pantanal está sendo transformado em um cemitério silencioso pela seca.
Com 43% de sua área impactada diretamente pelas queimadas e escassez de água, o bioma está à beira do colapso. A falta de chuvas e o aumento das temperaturas tornam a situação ainda mais crítica. Se nada for feito, o bioma pode perder boa parte de sua biodiversidade em questão de (poucos) anos.
Mesmo com recursos limitados e um desafio imensurável pela frente, o GRAD Brasil luta contra o tempo para salvar o que resta da fauna.
Carla Sassi, médica veterinária e presidente do GRAD Brasil
em campo com um dos membros do grupo
Foto: Acervo GRAD Brasil
Todos os dias, o monitoramento com armadilhas fotográficas revela um cenário cada vez mais assustador, em que até os animais mais resilientes se encontram em situação de extrema vulnerabilidade. Por isso, a organização tem solicitado apoio governamental (governo do Mato Grosso) e da sociedade civil para ampliar as operações de resgate e mitigação. E conseguido muito pouco (em agosto, o GRAD Brasil participou de audiência pública com Secretaria do Meio Ambiente, Ibama, ICMBio, entre outras instituições, na qual o secretário declarou ser contra a dessedentação devido ao conhecimento que o governo tem do Pantanal: assista aqui, a partir de 1h32').
"Este cenário catastrófico evidencia a urgência de uma ação coordenada e rápida. A crise no Pantanal não é um evento isolado; é um reflexo dos impactos severos da mudança climática e da gestão inadequada dos recursos hídricos na região", lembra o GRAD Brasil.
Se não houver uma resposta eficaz agora, o bioma pantaneiro, conhecido por sua beleza e diversidade, logo poderá se tornar um deserto.
Como ajudar
O GRAD Brasil é um grupo de voluntários com mais de 80 membros, de diferente áreas de atuação - médicos veterinários, zootecnistas, agrônomos, engenheiros, educadores físicos, biólogos, advogados, oceanógrafos, fotógrafos, bombeiros civis, entre outros... -, que atua em 15 estados brasileiros além do Distrito Federal.
Sua missão é promover ajuda humanitária aos animais e pessoas - famílias multiespécies -em circunstâncias de vulnerabilidade em desastres e comunidades isoladas. "Já conduzimos mais de 60 operações, resgatamos mais de 20 mil animais e atendemos mais de dez mil famílias em todo o Brasil. Mais do que uma equipe, somos uma família unida por um único propósito: salvar vidas", destaca o grupo em seu Instagram.
Para tornar sua missão possível, conta com o apoio de voluntários e médicos veterinários locais e atua alinhado com órgãos oficiais como Defesa Civil, Corpo de Bombeiros Militar, Polícia Militar, Guarda Municipal, Poder Executivo, entre outros. E ainda recebe apoio de Conselhos Regionais de Medicina Veterinária dos estados atingidos, do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), do Fórum Nacional de Defesa e Proteção Animal (FNDPA) e do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV).
Sua equipe técnica está qualificada e capacitada para atuar em diferentes situações. Resiliência, empatia e compaixão norteiam as ações do trabalho desenvolvido por todos da equipe.
Para manter sua estrutura e a missão de proteger e salvar vidas, o GRAD depende de doações, que podem ser feitas pelo PIX doe@gradbrasil.org.br e por doações únicas, mensais ou internacionais.
Até o próximo dia 13 de outubro, você também pode participar da vaquinha online lançada para cobrir os custos dos caminhões pipa e de alimentos na atual empreitada do GRAD no Pantanal. A meta é chegar a R$ 350 mil. Até agora (11/10, às 18h57), foram arrecadados R$ 162.440,61.
A seguir, veja dois posts que selecionei do Instagram do GRAD Brasil para você entender a dimensão do trabalho por seus integrantes:
- no primeiro, em vídeo, a veterinária Carla Sassi, líder do grupo, mostra a situação de uma das pontes da Transpantaneira, que não existe mais, como o corixo (curso d'água de diversos tamanhos e larguras, como se fosse um braço de rio, que se forma durante a cheia na planície pantaneira), que atendia diversos animais. "O contraste do antes e depois é alarmante, e serve como alerta para a necessidade urgente de equilibrar desenvolvimento e preservação, antes que seja tarde demais para a biodiversidade que depende dessa região", o GRAD destaca;
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