terça-feira, 12 de setembro de 2017

Arco do fogo avança sobre o Amazonas

Arco do fogo avança sobre o Amazonas

Por Vandré Fonseca
Um ano quente no Amazonas. Foto: Prevfogo/Ibama.
Um ano quente no Amazonas. Foto: Prevfogo/Ibama.


Manaus, AM -- As queimadas seguem o rastro deixado pelo desmatamento e avançam no Amazonas. Nos oito primeiros meses deste ano, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) identificou 8.590 focos de calor no estado.


Os dados indicam que 2017 vai ser ainda pior do que os últimos três anos, que registraram os maiores números de queimadas no estado, desde que o monitoramento começou a ser realizado em 1998.
A estação de queimadas no estado começou em junho, quando o número de focos aumentou. Em agosto, foi registrado o recorde mensal de queimadas no estado, 6.266 focos. E os números de setembro continuam a indicar que existe muito fogo queimando no interior do estado.  Foram 1514 focos, em apenas onze dias.


A grande quantidade de queimadas no Amazonas, infelizmente, já era esperada, segundo a opinião do engenheiro florestal Mariano Colini Cenamo, pesquisador sênior do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam).


“O estado está abandonado”, afirma Cenamo. “O Amazonas foi o estado que mais aumentou a taxa de desmatamento nos últimos dois anos (54% em 2015 e 54% em 2016, de acordo com o pesquisador), fora a redução de orçamento que destacamos em nosso relatório de transparência”, completa. (Clique aqui para consultar o relatório).


Desmatamento
No ano passado, segundo dados do Prodes, o desmatamento no Amazonas aumentou 59% em relação a 2015. Foram desmatados 1.129 quilômetros quadrados de floresta, a maior taxa desde 2004.
Mariano Cenamo chama a atenção para o avanço do desmatamento ao longo do trecho Sul da BR-319, desde a divisa com Rondônia até a Vila Realidade, ao norte de Humaitá (AM). Na avaliação de Cenamo, a perspectiva de conclusão do asfaltamento da rodovia tem provocado a ocupação de terras ao longo da rodovia.
Área embargada pelo Ibama na BR-319. Foto: Ibama.
Área embargada pelo Ibama na BR-319. Foto: Ibama.


A geógrafa Ane Alencar, diretora científica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), concorda que o fogo segue a trilha deixada pelo desmatamento. Eles têm o mesmo padrão, segundo ela.


“Como o Sul do Amazonas é hoje a grande fronteira do desmatamento, então é possível que essas queimadas estejam associadas ao desmatamento”, afirma.


Mas ela considera que existem também fatores climáticos que contribuem para o avanço do fogo. Apesar do clima não estar sobre influência direta do fenômeno El Niño, que provoca secas na Amazônia, as consequências dele ainda podem ser sentidas, segundo Ane Alencar.


De acordo com ela, a longa duração da influência do El Niño mais recente, de 2014 a 2016, deixou a floresta mais seca do que o normal. Com isso, há perda de folhas pelas árvores, o que aumenta a matéria orgânica no chão e permite também a entrada do ar mais seco. A consequência é maior risco de fogo.


Amazônia
O número de focos de calor no bioma Amazônia até o mês de agosto é o maior já registrado na região desde 2010. E os números de setembro continuam a indicar um número elevado de queimadas.


Entre janeiro e agosto deste ano, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia identificados 41.885 focos de calor sobre o bioma, um aumento de 15,4% em relação ao mesmo período do ano passado, quando haviam sido registrados 36.279 focos de calor.


Desde que as queimadas passaram a ser monitoradas via satélite pelo Inpe, o pior ano foi 2004, com 59.800 focos de calor nos oito primeiros meses do ano. Em 2010, foram 45.559 registros durante o mesmo período.

Seminario Nacional do Cerrado

Exposição mostra as belezas do Cerrado

Exposição mostra as belezas do Cerrado



11 Setembro 2017   |  
O lançamento da exposição “Cenários e Riquezas do Cerrado de Guimarães Rosa”, organizado pelo WWF-Brasil e o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, acontecerá no auditório da Livraria Cultura do CasaPark, no dia 11 de setembro, às 11h, com a presença do Ministério do Meio Ambiente, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), lideranças agroextrativistas e representantes de organizações ambientais.

Fazem parte da programação, ainda, um debate sobre as riquezas socioambientais e a crescente devastação desse rico bioma, a apresentação da campanha de reconhecimento do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu como Patrimônio Mundial da Humanidade, a exibição de um vídeo com foco no extrativismo sustentável do Cerrado e a apresentação do Projeto “Como Pode um Peixe Vivo” do Instituto Brasília Ambiental (IBRAM-DF). Para encerrar as atividades comemorativas à data, um brunch com salada de guariroba, arroz com pequi, risoto de baru, entre outros pratos e petiscos à base de produtos típicos do Cerrado.

A exibição tem 15 fotos que mostram a flora, a fauna e as peculiaridades do Cerrado numa forma de apresentar ao visitante a riqueza do bioma e chamar atenção para necessidade de um modelo de produção mais sustentável, que promova o desenvolvimento com maior inclusão social e distribuição de renda, ao mesmo tempo que conserve o meio ambiente.

O Cerrado ocupa ¼ do país, abriga 5% de todas espécies no mundo e 30% da biodiversidade nacional. Entretanto, já perdeu mais da metade de sua cobertura vegetal e o processo de devastação continua acelerado. Entre 2013 e 2015, o bioma perdeu 18.962,45 km2 de área, ou seja, mais de três vezes o tamanho do Distrito Federal devastado em um período de dois anos, segundo os dados recém disponibilizados pelo Ministério do Meio Ambiente. O que significa também que dos biomas brasileiros, o Cerrado é o que registra o maior ritmo de desmatamento, sendo duas vezes maior que o na Amazônia.

Para o coordenador do Programa Cerrado Pantanal do WWF-Brasil, Julio César Sampaio, apesar de não ter muito a comemorar pelo seu dia, é necessário “ter esperanças e trabalhar em conjunto envolvendo todos os setores - governamental, o privado, os povos tradicionais, as organizações ambientais e o setor acadêmico - para tentar salvar o Cerrado e a humanidade de um futuro de escassez. O Cerrado pede socorro, já que os reflexos estão aparecendo com muitos impactos, como no caso do racionamento de água em Brasília, atingindo quase 4 milhões de pessoas”.

Após seu lançamento no CasaPark, a exposição segue para o Centro de Convenções Ulisses Guimarães, onde será exibida aos mais de 5 mil participantes do Congresso Brasileiro e Latinoamericano de Agroecologia, até o dia 15 de setembro. O destino próximo é o Centro de Excelência Cerratenses, no Jardim Botânico, ficando aberta para visitação do público até 15 de outubro.

WWF-Brasil no Cerrado

Desde 2010, o WWF-Brasil, por meio do Programa Cerrado Pantanal, implementa ações no bioma Cerrado com foco no Mosaico de Unidades de Conservação Sertão Veredas Peruaçu (MSVP), apoiando ações de conservação do meio ambiente e de espécies ameaçadas, e gerando agregação de renda para as populações locais.


Três cooperativas agroextrativistas foram criadas e fortalecidas, o que tem resultado na produção de quase 60 toneladas anuais de produtos agroextrativistas, beneficiamento de mais de 200 famílias. Também executa ações com grandes produtores, como no caso da primeira fazenda da região a ser certificada pelo Programa Nacional de Boas Práticas Agropecuárias (BPA) da Embrapa, além de contribuir para o cadastramento de 10 mil propriedades no Cadastro Ambiental Rural (CAR).


Outro destaque é o trabalho pelo fortalecimento da gestão e implementação das Unidades de Conservação, ressaltando  a avaliação da efetividade de gestão de mais de 80 Unidades de Conservação de Minas Gerais e Goiás, por meio da metodologia RAPPAM (Rapid Assessment and Prioritization of Protected Area Management), bem como a melhoria na gestão das UCs do Mosaico, realizando capacitações dos gestores, disponibilizando ferramentas Sistema de Informações Geográficas (SIG) para o monitoramento da região, e o apoio ao funcionamento dos Conselhos Consultivos do Parque Nacional Grande Sertão Veredas e do Mosaico Sertão Veredas Peruaçu.


Em parceria com uma organização local realizou-se o monitoramento da fauna no MSVP, que registrou 34 espécies sendo 6 ameaçadas de extinção, como o cachorro-vinagre, que era dado como extinto em Minas Gerais há mais 170 anos.    
© André Dib/WWF-Brasil Enlarge

WWF-Brasil atua para que o Pantanal continue sendo Reserva da Biosfera


WWF-Brasil atua para que o Pantanal continue sendo Reserva da Biosfera



05 Setembro 2017   |   0 Comments
O WWF-Brasil tomou posse no dia 31 de agosto no Comitê Estadual da Reserva da Biosfera, sediado em Campo Grande. O grupo, formado por 25 representantes do governo, da sociedade civil e do setor privado, tem por objetivo implementar ações de conservação do Pantanal em Mato Grosso do Sul para que a maior área úmida do planeta continue ostentando o título de Reserva da Biosfera, concedido pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) no ano 2000.

Desde 1998, o WWF-Brasil vem atuando em parceria com os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul na implantação de modelos de produção que garantam a proteção e a conservação do Pantanal, rico em biodiversidade e água doce, mas ao mesmo tempo em risco por conta do desmatamento, falta de saneamento básico e más práticas agropecuárias.

Pantanal quase perde o título
Por falta de execução de ações concretas, em fevereiro de 2017, o Pantanal quase perdeu o título de Reserva da Biosfera da UNESCO, o que motivou governos e sociedade civil dos dois estados a criarem um plano de ação emergencial, que previu, entre outros pontos, a criação de dois comitês, um em cada estado, para garantir o título, por meio da implementação de ações de conservação.

Júlia Boock, analista de conservação do WWF-Brasil, explica integrar o Comitê é ter a oportunidade de inserir os diversos trabalhos desenvolvidos no Pantanal pela ONG em um grupo diverso, o que permite somar esforços e aumentar a escala. “A grande meta desse grupo é servir como uma plataforma unificadora das atividades dos diversos setores que atuam no Pantanal, com objetivo de promover o equilíbrio do uso dos recursos naturais e ao mesmo tempo valorizar seus produtos e produtores que são os grandes responsáveis pela manutenção da tradição, costumes e biodiversidade pantaneira”, conta Júlia Boock. “Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, os dois estados que abrigam o Pantanal, trabalham sob uma visão integrada, quer dizer, independente de limites geográficos ou políticos, juntos pela mesma causa: a conservação da maior área úmida do planeta”, conclui a analista de conservação do WWF-Brasil.

Reserva da Biosfera da UNESCO
As Reservas da Biosfera foram criadas em 1972 e devem trabalhar para otimizar a relação entre o homem e o meio ambiente, o uso sustentável de seus recursos e a convivência com áreas vizinhas. O título de Reserva da Biosfera insere o Pantanal numa lista de 669 áreas em 120 países com a finalidade de promover a pesquisa, a conservação do patromônio natural e cultural, a promoção do desenvolvimento sustentável e a descoberta de soluções para problemas como o desmatamento das florestas tropicais, a desertificação, a poluição atmosférica e o efeito estufa. No Brasil, existem seis sete Reservas: Pantanal, Mata Atlântica, Cinturão Verde de São Paulo, Cerrado, Caatinga, Amazônia Central e Serra do Espinhaço. 
 

Manifesto convoca o mercado para atingir desmatamento zero do Cerrado

Manifesto convoca o mercado para atingir desmatamento zero do Cerrado



11 Setembro 2017   |  
 
 
Em manifesto, 40 organizações ambientais convocam os setores da soja e carne a impedir a destruição de mais de 30% do bioma que abriga as nascentes de 8 das 12 regiões hidrográficas brasileiras

Entre 2013 e 2015 o Brasil destruiu 18.962 km² de Cerrado. Isso significa que, a cada dois meses, o equivalente à área da cidade de São Paulo é destruída no bioma. Esse ritmo de destruição torna o Cerrado um dos ecossistemas mais ameaçados do planeta. Hoje, 11 de setembro, quando é celebrado o Dia do Cerrado, organizações ambientalistas se uniram e lançam o manifesto: Nas mãos do mercado, o futuro do cerrado: é preciso interromper o desmatamento. A principal causa da destruição do bioma é a expansão do agronegócio sobre a vegetação nativa. O quadro é grave: para se ter uma ideia já são mais de 10 anos com as taxas de desmatamento do Cerrado superando as da Amazônia. Por essa razão, no documento pede-se que as empresas que compram soja e carne do Cerrado, assim como os investidores que atuam nesses setores, defendam o bioma. Para isso, devem adotar políticas e compromissos eficazes para eliminar o desmatamento e desvincular suas cadeias produtivas de áreas recentemente desmatadas.

O manifesto reúne 40 organizações signatárias, entre elas WWF-Brasil, TNC (The Nature Conservancy), CI (Conservação Internaticional) Brasil, Greenpeace Brasil, IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola).

As organizações também cobram o cumprimento dos compromissos internacionais assumidos pelo governo e que ele crie instrumentos e políticas para uma produção mais responsável no Cerrado. Alertam que só cumprir a lei não é suficiente, pois ela autoriza que mais 40 milhões de hectares sejam legalmente desmatados no bioma. Pedem também que o governo e o setor privado desenvolvam incentivos e instrumentos econômicos para recompensarem produtores que conservem áreas de vegetação nativa.

Segundo Mauricio Voivodic, diretor executivo do WWF-Brasil, “o que precisamos no Cerrado é de um compromisso claro de todos os atores das cadeias de produção e consumo que impactam o bioma, principalmente da soja e da carne. A expansão agropecuária no Cerrado não pode continuar acontecendo a partir da destruição de ecossistemas naturais. Os estudos mostram que é possível expandir sob áreas degradadas, garantindo o aumento da produção e o desenvolvimento social e econômico que a região precisa”.

Lisandro Inakake de Souza, coordenador de projetos do Imaflora, afirma: “O fim do desmatamento no Cerrado é uma necessidade para conservar serviços ambientais fundamentais para a produção agropecuária e para a economia brasileira e pode ser uma oportunidade para a imagem do setor em todo o mundo. Mas é necessário haver politicas públicas e privadas para compensar os produtores que se comprometerem com o fim do desmatamento para além do cumprimento ao Código Florestal”.

O manifesto apresenta dados que justificam a urgência da tomada de ação em relação ao Cerrado, entre eles:

• O Cerrado abriga as nascentes de oito das doze regiões hidrográficas brasileiras e responde por um terço da biodiversidade do Brasil, com 44% de endemismo de plantas, mas está ameaçado, tendo perdido cerca de 50% de sua área original.

• É possível que haja aceleração ainda maior no desmatamento no bioma a partir 2017. Isso pode se intensificar se os lucros da produção recorde de soja em 2017 forem investidos em mais destruição de mata nativa para produção e se a lei de compra de terras por estrangeiros for aprovada.

• Se mantido o padrão de destruição do Cerrado observado entre 2003 e 2013, até 2050 serão extintas 480 espécies de plantas e perderemos mais 31-34% do Cerrado.

• As emissões de gases de efeito estufa decorrentes desse processo impedirão o Brasil de cumprir com seus compromissos internacionais.

• A redução do bioma pode alterar o regime de chuvas na região, impactando a produtividade da própria atividade agropecuária.

• Há um forte quadro de vulnerabilidade social nas fronteiras do desmatamento, com comunidades locais sem título da terra e muitas vezes expulsas de suas terras por grileiros e especuladores.

• A perda de direitos vai além da terra, com diminuição da vazão e contaminação dos rios, deriva de agrotóxicos sobre comunidades, redução de recursos extrativistas, inchaço de cidades com impactos sobre serviços públicos de saúde, educação e sanitários.

• Podemos nos desenvolver sem desmatar mais. Há cerca de 40 milhões de hectares já desmatados e com potencial para soja no Brasil, o suficiente para atender às metas brasileiras de expansão produtiva de soja dos próximos 50 anos.

• O governo se comprometeu a disponibilizar os dados oficiais do desmatamento do Cerrado anualmente. Um dos argumentos trazidos por parte do setor privado para justificar a falta de monitoramento de suas cadeias produtivas era a ausência do Prodes do Cerrado. O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações já publicou os dados oficiais até 2015 e afirma que o monitoramento começará a ser realizado anualmente, como ocorre no bioma Amazônia.

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O Estado de S. Paulo – Avião da FAB resgatará brasileiros no Caribe

Aeronave, que se encontra em Nova York, seguirá para Saint Martin

Lu Aiko Otta, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O Ministério de Relações Exteriores confirmou nesta segunda-feira que um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) seguirá amanhã para o Caribe para resgatar brasileiros afetados pela passagem do furacão Irma na quarta-feira. A aeronave, que se encontra em Nova York, pousará em Saint Martin, onde cerca de 30 brasileiros aguardam socorro.


No domingo, o governo contabilizava 65 brasileiros na região, sendo 32 em Saint Martin, 22 em Tortola e 11 nas Ilhas Turcas e Caicos. Ao longo do dia desta segunda-feira, porém, muitos conseguiram sair das ilhas por outros meios, como a ajuda dos governos de outros países.


Pessoas são retiradas da ilha de Saint Martin, uma das mais afetadas pelo Irma; FAB enviará na terça-feira avião para resgatar ao menos 60 brasileiros em ilhas no Caribe


Pessoas são retiradas da ilha de Saint Martin, uma das mais afetadas pelo Irma; FAB enviará na terça-feira avião para resgatar ao menos 60 brasileiros em ilhas no Caribe 


Na Flórida, onde o Irma passou em seguida, os funcionários do Consulado do Brasil foram deslocados para Orlando. Lá, trabalham em uma força-tarefa para prestar assistência aos cidadãos brasileiros.

The Economist / O Estado de S. Paulo – Fé e combustíveis fósseis


Investidores religiosos querem ajudar o meio ambiente, mas não sabem se devem abrir mão, imediatamente, de todas as participações em empresas de petróleo, gás e carvão



Tradução de Alexandre Hubner



Nos idos de 1988, um sacerdote de expressão modesta, pouco conhecido fora de sua cidade, Istambul, abençoou uma conferência ambiental realizada na ilha grega de Patmos, célebre por ter sido o lugar onde o autor do último livro da Bíblia teve a aterrorizante visão do apocalipse. Pouco tempo depois, o patriarca Dimitrios propôs que o 1.º de setembro se tornasse um dia anual de orações pelo destino da Terra.



Transcorridas três décadas, a iniciativa agora abrange um mês inteiro de atividades ecoespirituais e conta com o apoio de líderes religiosos que falam para centenas de milhões de pessoas. Foi encampada pelo Conselho Mundial de Igrejas, que congrega 345 corpos religiosos, e pelo Vaticano. E a uma virtuosa teoria teológica somou-se nova ênfase em formas concretas de ação — muitas vezes de natureza contenciosa.



Este ano, o papa Francisco e Bartolomeu I, sucessor de Dimitrios no Patriarcado de Constantinopla, que tem “primazia de honra” entre os cristãos ortodoxos, divulgaram em 1.º de setembro um comunicado conjunto, em que denunciam com veemência o abuso do planeta pelos seres humanos.


Com uma argumentação inteligente, combinando a preocupação com a Terra e a preocupação com a humanidade, os dois líderes afirmam: “A deterioração do meio ambiente humano é concomitante à do meio ambiente natural, e essa deterioração do planeta atinge principalmente as parcelas mais vulneráveis da população mundial. Em todos os cantos do planeta, o impacto das mudanças climáticas afeta sobretudo aqueles que vivem na pobreza.”



O ciclo de ações ecoespirituais, que os ativistas agora chamam de “tempo da criação” se encerra em 4 de outubro, que é o Dia de São Francisco de Assis, nome adotado pelo pontífice católico. Nessa data, organizações cristãs do mundo inteiro anunciarão a decisão de abandonar seus investimentos em empresas que se dedicam à exploração e produção de combustíveis fósseis.



E tem mais. Em 29 de outubro, grandes investidores vinculados a instituições religiosas se reunirão na cidade suíça de Zug. O encontro tem por objetivo discutir soluções que permitam não apenas evitar investimentos financeiros “condenáveis”, como também alocar recursos de maneira a promover a melhoria do meio ambiente.



Tendo em vista os bilhões de dólares em ativos que controlam (incluindo terras, imóveis, fundos de pensão e investimento), as igrejas influenciam o planeta tanto pelo poder edificante de suas palavras como por suas ações.



Mas que ações exatamente? Mesmo entre os que são de opinião de que é preciso mudar o mais rápido possível a matriz energética do planeta, não há consenso sobre como estimular a substituição dos combustíveis fósseis por fontes renováveis de energia.



Justin Welby, arcebispo que, além de comandar a igreja da Inglaterra, lidera os 85 milhões de fiéis da Comunhão Anglicana (reunião de diversas outras igrejas anglicanas nacionais e regionais) é um dos que defendem uma estratégia gradual. Em maio, soube-se que ajudou a convencer a empresa global de gestão de ativos BMO a reduzir progressivamente seu envolvimento na extração de combustíveis fósseis.



No entanto, para consternação dos ambientalistas mais radicais, a própria igreja de Welby e seus gestores financeiros insistem que usar a sua influência – e seus investimentos – para negociar com empresas de energia  uma alternativa mais apropriada do que vender imediatamente todos os ativos investidos no segmento.



Como disse um representante do fundo de pensão da igreja da Inglaterra, os economistas acreditam que “os combustíveis fósseis continuarão a ser, por várias décadas ainda, um componente importante no mix energético global”. Assim, o ideal seria orientar o setor a seguir na direção correta. Os ativistas mais aguerridos, incluindo os ligados a igrejas, não estão convencidos disso.




O fato de que os ministros de Deus estejam travando debate tão acalorado sobre como ser um bom cidadão global provavelmente é um sinal saudável. Significa que as palavras inspiradoras de prelados, padres e patriarcas estão chegando a um lugar onde é preciso alocar recursos finitos e fazer escolhas difíceis: a Terra onde todos nós vivemos.



Para 4 de outubro, organizações cristãs do mundo inteiro prometem anúncio histórico