segunda-feira, 9 de março de 2020

Flamingo Negro” é visto na Turquia

Flamingo Negro” é visto na Turquia

Este pássaro, que apareceu pela primeira vez na Zona de Desenvolvimento da Vida Selvagem de Tuzla em Adana 2017, foi visto em Israel e nas costas do sul do Chipre entre 2013-16

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“Flamingo Negro” é visto na Turquia
A Turquia hospeda o flamingo preto pela segunda vez raramente visto no mundo.
Este pássaro, que apareceu pela primeira vez na Zona de Desenvolvimento da Vida Selvagem de Tuzla em Adana em 2017, foi visto em Israel e nas costas do sul de Chipre entre 2013 e 16.
Os cientistas conseguiram capturar as imagens do flamingo preto com a ajuda de um drone.


Governo de Pernambuco diz que proposta federal de liberar cruzeiros em Fernando de Noronha “não respeita a natureza”

Governo de Pernambuco diz que proposta federal de liberar cruzeiros em Fernando de Noronha “não respeita a natureza”

Governo de Pernambuco diz que proposta federal de liberar cruzeiros em Fernando de Noronha "não respeita a natureza"
Não é de hoje que a atual administração federal quer mudar as regras de turismo de Fernando de Noronha, um dos destinos turísticos mais visitados do Brasil. Composto por 21 ilhas e ilhotas, o arquipélago foi declarado Patrimônio Natural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Por ser um local importantíssimo para a conservação marinha – diversas espécies ameaçadas de extinção vivem ali -, o arquipélago é protegido por duas Unidades de Conservação (UCs) Federais: o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha e a Área de Proteção Ambiental de Fernando de Noronha-Rocas-São Pedro e São Paulo.

Mas desde que assumiu o governo, Jair Bolsonaro já expressou, várias vezes, sua intenção de “incrementar” o turismo na ilha. Sempre muito criticado por biólogos e ambientalistas.
No ano passado, o presidente falou em acabar com taxa ambiental cobrada no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha e seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que pretendia liberar voos noturnos e a pesca de sardinha no local. 

A nova ameaça à vida selvagem e aos ecossistemas do arquipélago foi anunciada esta semana, através de um vídeo nas redes sociais, pelo senador Flávio Bolsonaro. Acompanhado do presidente da Embratur, Gilson Machado, ele afirmou que está trabalhando para liberar, novamente, a operação de cruzeiros marítimos na região. Já Machado anunciou que, junto à Marinha, conseguiu aprovar mais doze pontos de naufrágio artificial para estimular o mergulho.

Logo depois da divulgação do vídeo, o secretário do Meio Ambiente de Pernambuco*, José Bertotti, publicou uma nota criticando as propostas.

A informação de que o Governo Federal vai “autorizar” a entrada de cruzeiros marítimos em Fernando de Noronha deixa mais uma vez evidente a maneira como a União lida com o tema meio ambiente. Fernando de Noronha é Patrimônio Natural da Humanidade, as 21 ilhas do arquipélago abrigam uma biodiversidade única e não podem ser alvo do modelo de turismo predatório sugerido no video publicado pelo senador Flávio Bolsonaro e o presidente da Embratur, Gilson Machado.
As referidas autoridades desconhecem a existência da limitação do número de visitantes em Fernando de Noronha e as consequências de colocar na ilha mais de 600 pessoas de uma só vez, como acontece no caso dos navios de cruzeiro.

O Governo de Pernambuco, responsável pela administração do território estadual de Fernando de Noronha, tem investido em programas sustentáveis como o Plástico Zero, que impede a entrada de embalagens plásticas descartáveis na ilha e o Carbono Zero que, através de uma lei, determina a substituição gradativa dos veículos a combustão por elétricos no local.

Além disso, novas ações estão em processo de contratação como o novo estudo de capacidade de suporte, plano diretor e a lei de uso e ocupação do solo …

Fica claro como os representantes do Governo Federal se ocupam muito mais em querer impor um tipo de visitação que não respeita a natureza do que focalizar sua energia em iniciativas que respeitam o meio ambiente ou que ofereçam melhores condições de vida aos moradores do arquipélago.

Seguiremos firmes no propósito de manter Fernando de Noronha como uma referência de preservação ambiental e de boas práticas de sustentabilidade e de turismo”.

Cruzeiros em Fernando de Noronha

Em 2018, houve também uma polêmica envolvendo a questão da presença de navios turísticos na ilha. Na época, o fato provocou consternação nas redes sociais. Para esclarecer o assunto, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão do ministério do Meio Ambiente, que administra o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, afirmou que cruzeiros operavam na ilha há mais de 25 anos.

Entretanto, segundo a nota do instituto, na última década, a frequência dessa atividade havia diminuído muito. O órgão destacou que o Plano de Manejo para Fernando de Noronha coloca como limite máximo o número de 700 pessoas, permitidas a deixar o barco por vez, sendo que deste total somente 450 podem ficar em terra e outras 450 em atividades aquáticas.  

O ICMBio esclareceu ainda que é apenas responsável pela autorização ambiental e que a administração da ilha, no caso o governo de Pernambuco, fornece a autorização inicial para a chegada dos barcos.

“É preciso lembrar que um dos principais motivos que fazem os turistas irem para Fernando de Noronha é justamente por causa da natureza exuberante do local. E quando se tem uma super-população de visitantes, a biodiversidade é colocada em risco, pois ela pode ser muito impactada”, diz Angela Kuczach, diretora executiva da Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação. “Do ponto de vista econômico pode ser um erro gigantesco e do ponto de vista ambiental, um desastre”.

A lição tailandesa

A proposta de “estimular” o turismo em Fernando de Noronha nos remete a uma história que aconteceu na Tailândia e mostramos, nesta outra reportagem, em 2018. A baía de Maya, na ilha de Koh Phi Phi Leh, ficou mundialmente famosa depois de ser cenário do filme “A Praia”, estrelado pelo ator Leonardo DiCaprio, no ano de 2000.

Com isso, milhões de turistas viajavam até ali por ano. Eram cerca de 200 barcos aportando no local diariamente. Estimativas davam conta de 120 mil turistas por mês – quase 1,5 milhão de pessoas anualmente.

Pois o número assombroso e insustentável de turistas teve um impacto profundo na baía de Maya. Os recifes de corais foram destruídos e a vida marinha afetada.

A solução encontrada pelo governo da Tailândia foi fechar a baía. Segundo o Departamento de Parques Nacionais do país, a medida só seria suspensa quando o ecossistema conseguisse se recuperar plenamente. Até hoje, ela não foi reaberta.

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*O arquipélago de Fernando de Noronha é uma região geoeconômica, social e cultural do estado de Pernambuco, instituído sob a forma de Distrito Estadual. 
 
Leia também:
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Foto: Bruno Lima – MTUR/Creative Commons/Flickr
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.

(Há males que vem para o bem)Epidemia de coronavírus faz com que China proíba consumo de animais selvagens


Epidemia de coronavírus faz com que China proíba consumo de animais selvagens



Surto de coronavírus faz com que China proíba venda e consumo de carnes de animais exóticos
Enquanto médicos, pesquisadores e cientistas do mundo inteiro tentam entender ainda como começou a transmissão do novo coronavírus (COVID-19) e correm contra o tempo para encontrar uma vacina para controlar a doença, que já se espalhou pelo mundo inteiro e provocou milhares de mortes, a China decidiu acabar com hábito milenar (e polêmico) de seu povo: o consumo de animais selvagens.

No começo de janeiro, o governo do país já havia declarado a suspensão da comercialização desses produtos, mas agora decidiu proibir totalmente. A decisão inclui a caça, o comércio, o transporte e o consumo de todos os animais selvagens terrestres, criados em cativeiro ou capturados.

Entre as espécies que costumavam aparecer nos pratos dos chineses estavam burros, cachorros, veados, além de pangolins, um mamífero que tem o corpo recoberto por escamas. 

Alguns especialistas suspeitam, mas não há confirmação científica ainda, que o novo coronavírus pode ter sido transmitido de animais para humanos. Os primeiros casos da doença começaram justamente com pessoas que frequentavam um mercado de Hubei, na província de Wuhan, onde eram vendidos animais vivos.

“Há uma preocupação crescente entre as pessoas sobre o consumo de animais selvagens e os perigos ocultos que isso traz à segurança da saúde pública desde o novo surto da doença por coronavírus (COVID-19)”, afirmou Zhang Tiewei, porta-voz dos Assuntos Legislativos da China.
Entidades de conservação ambiental celebraram o anúncio da proibição. Todavia, enfatizaram que o uso desses animais para a extração de sua pele e na fabricação de remédios utilizados na medicina tradicional chinesa ainda continua liberado.

“Não existe comércio e consumo livre de risco de mamíferos e aves selvagens, sejam eles capturados ou criados na natureza. A Wildlife Conservation Society acredita que somente ao proibir o comércio de aves e mamíferos selvagens, o risco de futuras emergências virais pode ser evitado e, portanto, outras formas de comércio também devem ser incluídas nessa proibição”, declarou a organização internacional.

*Com informações da Agência de Notícias Reuters 

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Foto: Natalie Ng on unsplash/creative commons

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Recorde de temperatura no sexênio (2014-2019): prelúdio do colapso ecossocial, artigo de José Eustáquio Diniz Alves


Recorde de temperatura no sexênio (2014-2019): prelúdio do colapso ecossocial, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

A prosperidade da vida humana e das suas culturas é compatível
com um substancial decrescimento da população” (1984)
Arne Næss and George Sessions em 8 Princípios da Ecologia Profunda
[EcoDebate] Enquanto a roda viva dos eventos sociais gira de maneira alucinante e as atividades antrópicas crescem continuamente, há um desastre ecológico ocorrendo em câmara lenta (para os olhos humanos), mas que segue um ritmo aceleradíssimo para a escala geológica. Aquilo que os cientistas chamavam de maneira cautelosa de “mudanças climáticas” se transformou em “crise climática” ou “caos climático”, passando a representar um perigo existencial à civilização e uma ameaça concreta à sobrevivência da vida humana e não humana. Como disse Greta Thunberg: “Nossa casa está pegando fogo”. A crise climática é a ameaça mais urgente do nosso tempo. E o tempo para reverter o aquecimento global está se esgotando.

Depois de 5 anos (2014-2018) das temperaturas mais altas já registradas desde o início da série histórica que começou em 1880, o ano de 2019 marcou a vice-liderança e, mesmo não sendo um ano de El Niño, ficou 0,95º C acima da média do século XX. A atual década tem sido marcada por um calor excepcional, indicando uma tendência preocupante. O cenário climático está ficando cada vez mais perturbador, mais ameaçador e se agravando com muita rapidez e profundidade e os incêndios e queimadas da Austrália são apenas uma “amostra grátis” do que vem por aí. 

O gráfico abaixo, da NOAA, tendo como referência básica a temperatura média do período 1901-2000, mostra as temperaturas mensais entre 1880 e 2019 e a reta de tendência dos últimos 20 anos (1999-2019). Assim, em relação à média do século XX, a temperatura de 2019 foi 0,95º C mais alta (sendo que no mês de dezembro apresentou um aumento de 1,05º C). Mas em relação ao período pré-industrial a anomalia foi de cerca de 1,2º C. Na primeira metade do século XX as temperaturas estavam abaixo da média do século e passaram a ficar bem acima da média na segunda metade do século. Já no século XXI o aumento é ainda mais significativo, pois das 19 maiores temperaturas, 18 ocorreram entre 2001 e 2019 e 8 dos anos mais quentes ocorreram na atual década.

variação mensal da temperatura global 1880-2019


Nota-se que, não somente o ano de 2019 apresentou um calor excessivo, como o ritmo do aquecimento da série histórica aumentou para 0,22º C por década. A tendência do aumento da temperatura entre 1880 e 2019 foi de 0,07º C por década. A tendência entre 1950 e 2019 foi de 0,14º C por década e entre 1999 e 2019 foi de 0,22º C por década. Mas o mais surpreendente é que a tendência 2009 a 2019 apresentou um aumento de 0,36º C.


Desta forma, há, indubitavelmente, uma inquestionável aceleração do ritmo do aquecimento global. Isto quer dizer que o aquecimento pode atingir 1,5º C (o limite estabelecido no Acordo de Paris) até 2030 e pode atingir 2º C antes de 2050, abrindo a possibilidade de se chegar a algo em torno de 4º C no final do século. O mundo sairia da “emergência climática” para o “caos climático”.

Os seis anos mais quentes do Antropoceno aconteceram entre 2014 e 2019 e os dois gráficos abaixo mostram as variações mensais da temperatura. No primeiro gráfico são apresentadas as anomalias mensais e o valor de cada entre parênteses. No segundo gráfico são apresentas as variações mensais para todos os anos da série, sendo os anos mais frios em azul e os mais quentes em vermelho (2019 com os marcadores pretos).

variação mensal da temperatura nos seis anos mais quentes
GISTEMP seasonal cycle since 1880
Com os sucessivos recordes anuais, a atual década (2011-20) é a mais quente já registrada desde o início das medições em 1880. A temperatura média da atual década ficou 0,82º C acima da linha de base 1901-2000. Nota-se que a década de 1970 ficou 0,09º C acima da média do século XX, a década de 1980 ficou 0,30º C, a década de 1990 ficou 0,41º C e a década de 2001-10 ficou 0,63º C acima da média do século XX. 

variação anual e decenal da temperatura global


Todos os dados acima foram reforçados por estudo publicado dia 15 de janeiro de 2020 por James Hansen e colegas do Goddard Institute for Space Studies (GISS). Utilizando uma linha de base de 1880-1920 (início da série histórica), os autores mostram que a temperatura em 2019 ficou em 1,2º C acima. O estudo mostra que a emissão de CO2, em função da queima de combustíveis fósseis é o principal vetor de aumento da temperatura.
global surface temperature relative to 1880-1920 mean
De fato, a humanidade vive uma situação inusitada. Nunca, desde o surgimento dos primeiros hominídeos – há cerca de 3 milhões de anos – houve concentração tão alta de CO2 na atmosfera e nunca, desde o surgimento do Homo sapiens – há cerca de 200 mil anos – houve uma temperatura tão alta como a que se projeta para os próximos 30 anos. Na maior parte de sua história, o Homo Sapiens viveu em temperaturas menores do que as atuais. O clima atual é uma situação totalmente atípica e que a humanidade nunca conviveu desde que desceu das árvores e passou a derrubá-las. 

Acontece que esta súbita mudança climática pode levar a civilização ao colapso. Não é a natureza que está ameaçando o ser humano. O ser humano é que está se autodestruindo ao aquecer a temperatura do Planeta. E o pior é que muitas espécies inocentes podem desaparecer no Antropoceno devido à irresponsabilidade e ganância de uma espécie egoísta e que só pensa em aumentar o seu padrão de vida às custas das riquezas naturais.
O Acordo de Paris, de 2015, propõe limitar o aquecimento global preferencialmente até 1,5º C e, no máximo, em 2º C. Porém, a meta mais baixa já está praticamente impossível de ser atingida e a meta superior pode ser ultrapassada até meados do atual século. O resultado deste processo de aquecimento deve ser calamitoso. 

Artigo recente publicado na revista Geophysical Research Letters (Mark Zelinka, 03/01/2020) mostra que os modelos antigos subestimaram o ritmo do aquecimento global e novos estudos “representam as tendências climáticas atuais com mais precisão”. Segundo os autores, no ritmo atual o mundo caminha para uma temperatura de 5º C acima dos níveis pré-industriais, o que torna as metas do Acordo de Paris cada vez mais distantes.

O aquecimento global derrete o gelo dos polos, da Groenlândia e dos glaciares elevando o nível do mar e deixando bilhões de pessoas afetadas pela invasão da água salgada e escassez da água potável. A acidificação e a morte dos oceanos vai ter um impacto devastador para a humanidade. O aquecimento e a acidificação também vai afetar a agricultura e o preço dos alimentos deve subir, aumentando a insegurança alimentar e acendendo uma centelha capaz de incendiar grandes mobilizações de massa. 

O jornalista David Wallace-Wells tem escrito sobre a possibilidade de uma catástrofe ambiental. Seu influente livro “The uninhabitable Earth: life after warming” (2019), começa com a frase: “É pior, muito pior do que você pensa”. Ele mostra que o aquecimento global vai ser abrangente, terá um impacto muito rápido e vai durar muito tempo. Isso quer dizer que os efeitos danosos das mudanças climáticas vão se agravar com o tempo e, embora todas as gerações já estejam sendo atingidas, são as crianças e jovens que nasceram e vão nascer no século XXI que vão sentir as maiores consequências do colapso ambiental. A degradação ambiental vai ocorrer em várias áreas, com a acidificação dos solos, águas e oceanos, a precarização dos ecossistemas e os desastres climáticos extremos (secas, chuvas, furacões e inundações de grandes proporções), tornando muitos lugares da Terra bastante inóspitos ou inabitáveis (Alves, 2019)

Para mudar este quadro, libertar-se dos combustíveis fósseis é essencial. Porém, está cada vez mais evidente que não basta mudar a matriz energética, descarbonizar a economia e promover uma maquiagem verde no processo de produção e consumo. É preciso, urgentemente, colocar na ordem do dia o debate sobre os meios de se promover o decrescimento das atividades antrópicas. A meta de redução da pobreza deve ser alcançada pelo decrescimento das desigualdades sociais e não pelo crescimento demoeconômico desenfreado.

A destruição do meio ambiente e os efeitos deletérios da globalização vão provocar um agravamento das condições sociais de amplas parcelas da população mundial, gerando levantes populares e rebeliões. Análise da consultoria Verisk Maplecroft (16/01/2020) mostra que 47 países ao redor do mundo conviveram com distúrbios civis no ano passado, tais como Hong Kong, Chile, Nigéria, Sudão, Haiti e Líbano. E este número pode subir para 75 países em 2020.

Até a elite econômica de Davos, na Suíça, reconhece a gravidade da situação ecológica. O novo relatório do Fórum Econômico Mundial, de janeiro de 2020, afirma que a crise climática é o maior risco global, pois se nos anos anteriores os problemas econômicos eram considerados as maiores ameaças, agora os temores de colapso climático ficaram no centro do palco. As percepções de risco se desviaram para condições climáticas extremas, desastres ambientais, perda de biodiversidade, catástrofes naturais e falha na mitigação das mudanças do clima. Uma das estrelas do evento será Greta Thunberg que reforçará a demanda pelo fim do uso dos combustíveis fósseis.

Assim, não é possível mais negar a gravidade da situação. A 6ª extinção em massa das espécies e o agravamento do aquecimento global são apenas o prelúdio de um colapso ecossocial que se vislumbra no horizonte. No dia 22 de abril de 2020 se comemora os 50 anos do Dia da Terra e será uma boa oportunidade para as pessoas se manifestarem e se mobilizarem contra o caminho ecocida e suicida que a humanidade está seguindo.
 
Colunista do EcoDebate.

Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:
ALVES, JED. Os 25 anos da CIPD: Terra inabitável e o grito da juventude, R. bras. Est. Pop., v.36, 1-13, e0085, 2019 http://www.scielo.br/pdf/rbepop/v36/0102-3098-rbepop-36-e0085.pdf
ALVES, JED. A maior temperatura em 5 milhões de anos, Ecodebate, 19/09/2016
ALVES, JED. O clima na era dos humanos, Ecodebate, 27/07/2016
James Hansen et. al. Global Temperature in 2019, GISS, 15 January 2020
Mark D. Zelinka et. al. Causes of higher climate sensitivity in CMIP6 models, Geophysical Research Letters, 03 January 2020
Miha Hribernik and Sam Haynes. 47 countries witness surge in civil unrest – trend to continue in 2020. Political Risk Outlook 2020, Verisk Maplecroft, 16 January 2020

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/01/2020

Recorde de temperatura no sexênio (2014-2019): prelúdio do colapso ecossocial, artigo de José Eustáquio Diniz Alves, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/01/2020, https://www.ecodebate.com.br/2020/01/20/recorde-de-temperatura-no-sexenio-2014-2019-preludio-do-colapso-ecossocial-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/.

Emergência Climática: Governos precisarão quadruplicar esforços para cumprir meta do Acordo de Paris, alerta estudo


Emergência Climática: Governos precisarão quadruplicar esforços para cumprir meta do Acordo de Paris, alerta estudo

aquecimento global
O período de dez anos iniciado em 2010 foi uma “década perdida” em termos de ação climática. Por isso, os governos nacionais precisarão quadruplicar seus esforços (1) a partir de agora para viabilizar os objetivos de longo prazo do Acordo de Paris contra a mudança do clima. Estas são as conclusões de um artigo publicado na Nature Commentary que revisou dez anos do Relatório de Lacuna das Emissões (Emissions Gap Report) do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) (2).
Por Bruno Toledo, AviV, para o EcoDebate.


Quando esse relatório começou a ser divulgado, há dez anos, o mundo imaginava que tinha cerca de 30 anos para cortar pela metade as emissões globais de gases de efeito estufa. Hoje, sabemos que isso precisa acontecer em apenas dez anos para minimizar os efeitos da mudança do clima. Mudanças incrementais que poderiam facilitar esse trabalho não são mais suficientes. 


Se ações climáticas apropriadas tivessem sido implementadas a partir de 2010, os cortes de emissões necessários em 2020 para limitar o aquecimento global em 2oC seriam de 14%. Ao invés disso, as emissões cresceram e agora as reduções a partir deste ano precisam ser de cerca de 55% até 2030 para limitar o aquecimento em 1,5oC. Isso significa que as emissões globais precisam ser reduzidas em 7% ao ano (3).
Neste momento, os compromissos apresentados pelos países (4) estão distantes dessa necessidade. Em vez de cortar as emissões pela metade em 2030, as propostas nacionais nos levariam a um ligeiro aumento delas. 


A boa notícia é que mais países, regiões, cidades e empresas estão implementando transformações rápidas e profundas. Se isso obtiver escala maior, essas transformações podem viabilizar as metas definidas conjuntamente pelos países no Acordo de Paris.
Objetivos de redução de emissões já foram definidos ou vêm sendo considerados por 76 países ou regiões (a União Europeia é a maior delas) e 14 regiões e estados subnacionais (Califórnia, nos Estados Unidos, é a maior). Em algumas localidades, esses planos já avançaram para implementação prática. Juntos, esses territórios representam cerca de 21% das emissões globais de gases de efeito estufa. Enquanto isso, 26 bancos e instituições financeiras deixaram de financiar diretamente novas usinas elétricas a carvão.


Os autores apontam que a lacuna agora é tão grande que governos, setor privado e comunidades precisam entrar em “modo de crise”. Isso significa fazer compromissos climáticos mais ambiciosos, enfocando ações antecipadas agressivas, dando escala a soluções bem sucedidas e traduzindo tudo isso em progresso em todos os setores. Caso contrário, as metas de longo prazo do Acordo de Paris se tornarão inviáveis.


A ciência é clara: neutralização líquida das emissões o quanto antes é a meta de longo prazo que todos precisamos estar focados”, diz Richard Baron, diretor-executivo da 2050 Pathways Platform. “Compromissos para zerar emissões líquidas já estão direcionando ação imediata e mandando sinais importantes para países, empresas, regiões e cidades. No entanto, ter uma meta de longo prazo não é suficiente. Os governos precisam definir planos para viabilizar essas metas de neutralidade”.


Notas

(1) A análise mostra que a lacuna entre necessidades de corte de emissões e ações práticas aumentou até quatro vezes desde 2010. Existem três razões para isso. Primeiro, as emissões anuais de gases de efeito estufa cresceram 14% entre 2008 e 2018. Isso significa que as emissões agora precisa cair mais rapidamente do que o estimado anteriormente, porque são as emissões cumulativas que determinam o aumento de temperatura de longo prazo. Segundo, a comunidade internacional agora concorda que precisa garantir um limite para o aumento de temperatura ainda menor que o decidido dez anos atrás, já que os riscos climáticos estão mais claros agora. E, terceiro, os compromissos nacionais sob o Acordo de Paris são insuficientes.
(2) Os autores chegaram a essas conclusões a partir da síntese dos dez relatórios Emissions Gap produzidos pelo Pnuma. A cada ano na última década, o relatório examinou a diferença entre os compromissos nacionais de ação individual para reduzir emissões e o que eles precisavam fazer coletivamente para viabilizar as metas de temperaturas acordadas – logo, a lacuna (gap). 

(3) http://www.ipcc.ch/sr15/
 
(4) Os países sequer estão no caminho para cumprir os compromissos inadequados feitos em 2015. Das nações do G20, sete delas (Austrália, Brasil, Canadá, Coreia do Sul, Estados Unidos e Japão) precisam implementar políticas existentes ou avançar em novas ações. Os Estados Unidos estão em processo de saída do Acordo de Paris, que deve ser concluído em novembro de 2020. Rússia e Turquia definiram metas não ambiciosas que podem ser cumpridas sem novas políticas. 


Lista completa de autores
Niklas Höhne é associado do New Climate Institute (Colônia, Alemanha) e professor de mitigação de gases de efeito estufa na Universidade de Wageningen (Países Baixos), e associado ao Lawrence Berkeley National Laboratory (Califórnia, EUA). 

Michel den Elzen é pesquisador sênior no PBL Netherlands Environmental Assessment Agency (Haia, Países Baixos). 

Joeri Rogelj é professor de mudança do clima no Grantham Institute, Imperial College London (Reino Unido) e pesquisador acadêmico sênior no International Institute for Applied Systems Analysis (Laxenburg, Áustria). 

Bert Metz é ex-co-presidente do grupo de trabalho do IPCC sobre mitigação e fellow na European Climate Foundation (Haia, Países Baixos). 

Taryn Fransen é fellow sênior fellow no World Resources Institute (Washington DC, EUA). 

Takeshi Kuramochi é pesquisador sênior de política climática no NewClimate Institute (Colônia, Alemanha), e associado ao Copernicus Institute of Sustainable Development da Universidade de Utrecht (Países Baixos). 

Anne Olhoff é diretora estratégica de planejamento e política climática na UNEP DTU Partnership, Technical University of Denmark (Copenhagen, Dinamarca). 

Joseph Alcamo é professor de ciência dos sistemas ambientais e diretor do Sussex Sustainability Research Programme na Universidade de Sussex (Brighton, Reino Unido).
Harald Winkler é professor de política e energia climática na Universidade de Cape Town (África do Sul). 

Sha Fu é professor associado de economia climática na Energy Foundation China (Pequim, China). 

Michiel Schaeffer é diretor de ciência na Climate Analytics (Berlim, Alemanha) e associado ao Environmental Systems Analysis Group, Universidade de Wageningen (Países Baixos) 

Roberto Schaeffer é professor economia energética na Universidade Federal do Rio de Janeiro (Brasil). 

Glen P. Peters é diretor de pesquisa no CICERO Center for International Climate Research (Oslo, Noruega). 

Simon Maxwell é pesquisador sênior associado ao Overseas Development Institute (Londres, Reino Unido) 

Navroz K. Dubash é professor e coordenador da Initiative on Climate, Energy and Environment no Centre for Policy Research (Nova Deli, Índia).

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 06/03/2020
Emergência Climática: Governos precisarão quadruplicar esforços para cumprir meta do Acordo de Paris, alerta estudo, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 6/03/2020, https://www.ecodebate.com.br/2020/03/06/emergencia-climatica-governos-precisarao-quadruplicar-esforcos-para-cumprir-meta-do-acordo-de-paris-alerta-estudo/.

O futuro incerto das crianças e das novas gerações,

O futuro incerto das crianças e das novas gerações, artigo de José Eustáquio Diniz Alves