terça-feira, 14 de novembro de 2017

Folha de S. Paulo – Desmatamento agrega ao PIB apenas 0,013% ao ano, diz estudo

FABIANO MAISONNAVE
EM BONN (ALEMANHA)

Descrito como o "avanço da fronteira agrícola", o aumento da área desmatada na Amazônia acrescentou, em média, apenas 0,013% por ano ao PIB brasileiro na última década, segundo estudo apresentado por oito ONGs ambientalistas nesta segunda–feira (13), durante a Conferência do Clima, em Bonn (Alemanha).

De acordo com o relatório, que propõe um "mapa do caminho" para zerar o desmatamento, a área média derrubada por ano entre 2007 e 2016 (7.502 km²) teve o potencial de acrescentar anualmente cerca de R$ 453 milhões em valor bruto de produção agropecuária.

Responsável por esse cálculo, o pesquisador Paulo Barreto, da ONG Imazon, explica que o valor bruto da produção estimada pelo governo foi dividido pela área total desmatada. Na média, cada hectare desflorestado produziu R$ 604/ano.

O grande vilão é a pecuária extensiva. Além de ser responsável por 65% do desmatamento na Amazônia, a atividade tem uma lotação média de menos de uma cabeça por hectare. São 100 mil km² de pastos degradados na região, segundo dado do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) de 2014, área pouco maior do que Portugal.

Para o relatório, uma das evidências do desempenho econômico ruim está no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) baixo dos municípios amazônicos, vítimas da lógica do "boom–colapso".
"Num primeiro momento, o acesso fácil aos recursos naturais produz uma explosão de riqueza no município. Essa riqueza, contudo, fica concentrada nas mãos de poucos e vai se esgotando em poucos anos. O resultado final são cidades inchadas, com infraestrutura deficiente, sem empregos de qualidade e com concentração de renda", diz o estudo.

Além do pouco retorno econômico, o desmatamento contribui para o aquecimento global: as mudanças no uso da terra foram responsáveis por 51% das emissões de gases de feito estufa do Brasil no ano passado. Com isso, o país mantém a posição de sétimo maior poluidor mundial, segundo o Seeg (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa).

As ONGs cobram do governo metas mais ambiciosas do que a apresentada no Acordo de Paris, em 2015, quando qual o Brasil se comprometeu a acabar com o desmatamento ilegal até 2030.

"Levado ao pé da letra, o compromisso internacional do Brasil se resume meramente a cumprir a lei (num prazo de 15 anos) e remete–se a apenas a um bioma. O cerrado, alvo de grandes desmatamentos, não foi incluído na atual NDC [a contribuição pretendida por cada país para combater a mudança climática]", diz o estudo.

No lugar, as ONGs propõem diversas medidas divididas em quatro eixos: políticas públicas ambientais efetivas e perenes; incentivo a usos sustentáveis da floresta e melhores práticas agropecuárias; a restrição drástica do mercado para produtos associados a novos desmatamentos; e engajamento de eleitores, consumidores e investidores contra o desmatamento.

Entre as medidas apontadas está a criação de unidades de conservação nos 700 mil km² de terras públicas não destinadas, o equivalente a duas Alemanhas. No ano passado, ao menos 24% do desmatamento se concentrou em terras com essa classificação, alvo preferencial dos grileiros.
"Todos os elementos para alcançar o desmatamento zero já existem, como mostram as quedas até 2012. Mas ainda estamos desmatando em média 5 mil km² por ano. É muito", diz Paulo Moutinho, pesquisador sênior do Ipam, durante a apresentação do relatório, em Bonn.

As ONGs que subscrevem o relatório são: Ipam, ISA, Greenpeace, Imazon, Imaflora, WWF, ICV e The Nature Conservancy.


Valor Econômico – China puxa novo recorde nas emissões de CO2 neste ano

Valor Econômico – China puxa novo recorde nas emissões de CO2 neste ano


As emissões de dióxido de carbono pela queima de combustível fóssil voltaram a subir após três anos. Serão lançados neste ano na atmosfera 37 bilhões de toneladas de CO2, aumento de 2% em relação a 2016, devido principalmente ao crescimento econômico mais forte da China, segundo relatório do Global Carbon Project, consórcio internacional de pesquisa, divulgado ontem na Alemanha.

"Já deveríamos estar reduzindo as emissões globais para podermos alcançar [emissão] zero a tempo de manter a mudança climática sob controle", disse Corinne Le Quéré, professor da Universidade de East Anglia e principal autor do estudo. "Todo ano em que as emissões aumentam significa que teremos de reduzir mais as emissões [no futuro], ou teremos níveis mais altos de mudança climática."

Gases de carbono representam apenas 0,4% da atmosfera, mas são os principais do efeito estufa.

"O mundo ainda não alcançou o pico de emissões", diz o relatório. Ele aponta que as emissões de CO2 caíram em 22 países que respondem por 20% das emissões globais, mas aumentaram em 101 países que juntos representam 50% da poluição. Estima–se que a China – maior poluidora global – aumentará suas emissões em 3,5% neste ano. Uma das explicações para isso é que a desaceleração econômica da China na primeira parte desta década foi mais acentuada dos que os dados oficiais sugeriram.

Incluindo as emissões provocadas pelo desmatamento, 2017 deverá se igualar o recorde de missão de 41 bilhões de toneladas de CO2 registrado em 2015. A China será responsável por 28% desse total.

Os EUA, segundo maior poluidor, com 15% do total, reduziram suas emissões em 1,2% ao ano por uma década. Neste ano, o ritmo vai desacelerar para 0,4%, refletindo a alta no uso de petróleo e carvão. Em 2017, o consumo de carvão nos EUA deverá crescer pela primeira vez em cinco anos, cerca de 0,5%.

A alta nas emissões de CO2 sugere que o mundo está se afastando do rumo estabelecido pelo Acordo de Paris há dois anos, no qual os países concordaram em limitar o aumento na temperatura global em 20 C em relação ao período pré–industrial. Cientistas alertam que as promessas de redução de emissões dos países não bastam para o cumprimento dessa meta.

"As emissões estão seguindo o que os países prometeram, mas o que os países prometeram não está nem perto do suficiente para cumprir os objetivos de Paris", disse Glen Peters, coautor do relatório e diretor do Centro para Pesquisa de Mudança Climática em Oslo.

Valor Econômico – Na era Trump, EUA promovem o carvão na conferência do clima

Valor Econômico – Na era Trump, EUA promovem o carvão na conferência do clima


Por Daniela Chiaretti | De Bonn

Pela primeira vez na história das conferências climáticas, os EUA não têm um pavilhão oficial no evento. O que existe, um grande iglu branco logo fora da entrada principal da CoP–23, em Bonn, na Alemanha, foi bancado pelo bilionário Michael Bloomberg, ex–prefeito de Nova York, e estruturado por organizações como o WWF e o WRI. É a materialização de um país dividido na questão climática.

A participação dos EUA na conferência (presidida por Fiji e sediada pela Alemanha) exibe dois polos opostos. A que vem sendo chamada de "delegação alternativa" tem empresários, religiosos, cientistas, senadores e governadores democratas como o californiano Jerry Brown, à frente de um Estado voltado para a economia limpa.

Na outra ponta, o único evento patrocinado por aliados do presidente Donald Trump ocorreu ontem e não podia ser mais provocador. Promovia o carvão – num evento que estimula energias renováveis – e energia nuclear, numa Alemanha que se esforça para banir este tipo de energia de sua matriz. "É um evento produzido para o público interno de Trump", disse ao Valor Alden Meyer, diretor da ONG americana UCS.

O painel "O papel de combustíveis fósseis mais eficientes e da energia nuclear na mitigação climática" ocorreu numa sala com 200 lugares. Duas horas antes, já havia mais de 300 pessoas na fila. Minutos antes dos painelistas falarem, Jay Inslee, governador do Estado de Washington, entrou na sala e dirigiu–se aos jornalistas: "Donald Trump não pode nos parar. Ele não tem autoridade constitucional para impedir que eu baixe um decreto colocando um teto para a poluição por carbono", disse.

Inslee lembrou que a US Climate Alliance, fundada no dia seguinte ao anúncio de Trump que os EUA sairiam do Acordo de Paris, tem governadores de 14 Estados e Porto Rico, mais de 400 prefeitos e mais de 2.500 cidades, Estados, empresas, instituições acadêmicas e grupos religiosos no movimento chamado "We Are Still In" (Ainda Estamos Dentro). "Se fôssemos um país, seríamos a terceira economia do mundo", disse. A governadora de Oregon, Kate Brown, também democrata, emendou: "Trump rejeita a economia do futuro. Somos o primeiro Estado que baniu a eletricidade gerada por carvão. Se você quer ampliar sua economia, foque nos empregos do futuro".

Francis Brooke, conselheiro do vice–presidente Mike Pence e moderador do painel, disse que "estamos felizes em discutir clima com qualquer um. Alguns dizem que nosso evento é provocativo. Prefiro dizer que é controverso. Queremos uma discussão honesta que proporcione segurança energética."

George David Banks, assessor especial de Trump para ambiente e energia, citou dados da Agência Internacional de Energia de que há 1.600 novas usinas de carvão em 62 países do mundo. "Quando os combustíveis fósseis serão usados, serão da forma mais limpa e eficiente possível. As renováveis têm futuro brilhante, mas dizer que é possível ter segurança energética com eólica e solar é ingênuo".

Barry K. Worthington, diretor executivo da United States Energy Association, disse que "o mundo continuará por muitos anos a usar combustíveis fósseis", que terão uma fatia não menor a 40% do mix energético global em 2050. Para ele, esse é o caminho inevitável para dar acesso a energia a mais de um bilhão de pessoas em países pobres. Nesse momento, quase toda a plateia o interrompeu e começou a cantar uma música de protesto contra o carvão.

Os jovens se retiraram, e o evento seguiu com a fala de representantes da empresa de carvão Peabody, da nuclear NuScale Power e da exportadora de gás Tellurian.

Nas discussões das regras de implementação do Acordo de Paris, os negociadores americanos, liderados até agora pelo veterano Trigg Talley, continuam seguindo os pontos que sempre foram caros aos EUA. Querem um sistema único de regras de transparência e contabilidade de emissões, que tenha flexibilidade, mas seja o mesmo para todos. Recusam a ideia de dois sistemas separados, para países desenvolvidos e em desenvolvimento. "Eles dizem que não têm nenhuma ordem de Washington e que seguem como vinham fazendo antes", diz um observador.

Em financiamento, contudo, os americanos seguem a ordem de Trump de que não haverá mais dinheiro americano para o clima. Nos próximos dias espera–se a chegada do diplomata americano Thomas Shannon para liderar os negociadores. Ele já foi embaixador dos EUA no Brasil e é subsecretário de Estado para Assuntos Políticos. "Isso pode ser bom para o Brasil", avalia um diplomata.

A jornalista viajou à CoP–23 a convite do Instituto Clima e Sociedade (ICS)

O Globo – Projeção indica que emissão de gases–estufa aumentará 2% em 2017

Liberação de poluentes no mundo volta a subir após três anos de estabilidade

As emissões mundiais de gases de efeito estufa devem registrar aumento em 2017, após três anos de estabilidade, revela um estudo apresentado ontem pelo Projeto Global Carbon durante a Conferência do Clima de Bonn (COP–23), na Alemanha.

De acordo com o levantamento, a liberação de poluentes relacionados à indústria e à queima de combustíveis fósseis deve aumentar 2% este ano na comparação com 2016 e alcançar o recorde de 36,8 bilhões de toneladas, após manter–se em níveis semelhantes desde 2014.
“O mundo não atingiu o ‘pico’ de emissões”, analisaram os autores do documento, que está em sua 12ª edição. “Isso mostra que é necessário atuar com mais resolução. Temos que esquecer qualquer autocondescendência”.

— É uma grande decepção — analisou Corinne Le Quéré, pesquisadora da Universidade East Anglia (Reino Unido) e membro da equipe de 76 cientistas que assinam o estudo. — Com a estimativa de 41 bilhões de toneladas de CO2 emitidas em 2017, pode faltar tempo para limitar o aumento da temperatura global em até 2 graus Celsius, e menos ainda em até 1,5 grau, como estabeleceu o Acordo de Paris há dois anos.

Responsável por 28% das emissões de gases–estufa, a China é apontada como a maior culpada pelo aumento dos poluentes. O país passou por forte crescimento industrial e, devido a episódios de seca, reduziu sua produção hidrelétrica, apelando para os combustíveis fósseis.

PATRIMÔNIOS EM RISCO A pressão contra os diplomatas reunidos em Bonn foi aumentada por outro relatório divulgado ontem pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). De acordo com o órgão, as mudanças climáticas duplicaram o número de sítios naturais com status de patrimônio da Humanidade considerados sob ameaça de extinção.

Dos 241 sítios naturais classificados no Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), 62 estão agora “ameaçados pela mudança climática” em comparação aos 35 registrados em 2014 (de um total de 228), ano em que se divulgou o informe anterior, intitulado “Horizonte do patrimônio mundial”.

Na lista estão Machu Picchu (Peru), as ilhas Galápagos e a Grande Barreira de Corais da Austrália. Em todos os casos, além das mudanças climáticas, há outros fatores influenciando, como turismo e poluição.

“Este informe envia uma mensagem clara para os delegados reunidos em Bonn: a mudança climática atua rapidamente e afeta os tesouros mais apreciados do nosso planeta”, comentou a diretora–geral da UICN, Inger Andersen, em um comunicado. “A amplitude e o ritmo com os quais se degrada nosso patrimônio natural acentuam a necessidade de ações e de compromissos nacionais urgentes e ambiciosos para aplicar o Acordo de Paris”.

Folha de S. Paulo – Brasil cobra ambição na COP, mas não faz 'lição de casa' climática

ANA CAROLINA AMARAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BONN (ALEMANHA)

Dono da maior floresta tropical do mundo, movido a hidrelétricas e ainda um país em desenvolvimento, o Brasil não tem inimigos nas negociações climáticas da ONU. Seu time de diplomatas é elogiado por todas as delegações pela atuação propositiva e conciliadora.
Da porta de casa para dentro, no entanto, a soma de decisões recentes do governo federal e projetos de lei que tramitam pelo Congresso resulta num saldo preocupante para a delegação brasileira na COP–23 do Clima, que abarca membros do Executivo, parlamentares, empresas e ONGs.

A percepção dos atores ouvidos pela reportagem é que o país, mais do que estar longe das suas metas climáticas, caminha na direção oposta a elas.

"Para cumprir sua meta climática, o Brasil precisa primeiro parar de retroceder no tempo", afirma Carlos Rittl, secretário–executivo do Observatório do Clima, ONG que reúne 35 organizações ligadas a questões do clima.

Ele cita uma série de projetos que tramitam pelo Congresso com mensagem contrária ao Acordo de Paris, como a apelidada "Lei da Grilagem" (lei 13.465/2017), que anistia invasões de terras públicas feitas entre 2004 e 2011 e o projeto de lei do Jamanxim (PL 8107/17), que visa a entregar 350 mil hectares da Floresta Nacional do Jamanxim, no Pará, a ocupantes que, em sua maioria, chegaram ao local após a criação da área protegida.

As decisões do governo também preocupam o grupo, como o corte pela metade no orçamento do Ministério do Meio Ambiente, que desde o ano passado depende do Fundo Amazônia para manter as fiscalizações do Ibama.

MP DO TRILHÃO
A mais recente delas pegou toda a delegação brasileira de surpresa: a MP 795, apelidada de MP do Trilhão, abre mão da arrecadação de impostos que podem chegar em R$ 1 trilhão até 2040 como incentivo a empresas interessadas na exploração de petróleo e gás a partir das reservas do pré–sal.

"A gente está andando na contramão da nossa história e da história das negociações climáticas", aponta Rittl.

Para além das contradições com as metas de redução de emissões de gases do efeito estufa, "a isenção às petrolíferas também não condiz com o maior apelo fiscal da história feito pelo governo com o teto dos gastos públicos", lembra o senador Jorge Viana (PT–AC). Para ele, neste momento "a maior ameaça às metas climáticas no país não é nenhum do setor da economia, é a política brasileira".

Nesta segunda, o ministro do Meio Ambiente Sarney Filho e um grupo de parlamentares que acompanha a COP decidiram em reunião trabalhar pela obstrução da MP 795 no Congresso. Como o projeto tramitou "às escondidas" por pelo menos dois meses entre Palácio do Governo e Câmara, o processo foi lento e deve expirar em 15 de dezembro.

O grupo de parlamentares na COP–23 conta com os feriados e a aproximação do recesso para que a MP não cumpra os prazos regimentais do Congresso.

METAS BRASILEIRAS
As metas enviadas pelo Brasil ao Acordo de Paris prometem reduzir as emissões de carbono em 37% (com relação a 2005) até 2025 e em 43% até 2030, com previsão de medidas em todos os setores da economia: do combate ao desmate ilegal, que deve ser zerado até 2030, até uma expansão de fontes renováveis como a solar e a eólica na matriz energética.

Marcelo Furtado, facilitador de um grupo de mais de 160 organizações –a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura–, aposta no potencial de medidas como o Cadastro Ambiental Rural, que mapeia os limites das propriedades e, assim, permitiria identificar desmatadores ilegais.

De acordo com ele, o cumprimento das metas climáticas brasileiras depende do fortalecimento dos marcos regulatórios. "O Brasil precisa mostrar que aqui se cumpre a lei; quem se esforça para estar dentro da lei não pode ser tratado igual ou pior do que quem trabalha na ilegalidade", aponta.

Da porta para fora, o negociador–chefe do Brasil na COP–23, embaixador Antônio Marcondes, exige que os países desenvolvidos cumpram seus compromissos com o Protocolo de Kyoto, estendido até 2020. E sopra da porta para dentro, em reunião da delegação brasileira, "apelo para que o Congresso também ratifique [a extensão do acordo], para que a gente possa avançar na ambição das metas climáticas".

O Estado de S. Paulo – Terremoto mais letal do ano mata mais de 400

Terremoto mais mortífero do ano destrói cidades em região que sofre há 40 anos com conflitos armados e desastres naturais

O mais mortal terremoto de 2017 deixou ao menos 407 mortos, 7 mil feridos e 70 mil desabrigados na fronteira entre Irã e Iraque, região que sofre com guerras e conflitos. O número de vítimas deve aumentar.

O mais mortífero terremoto de 2017 deixou ao menos 407 mortos, 7 mil feridos e 70 mil desabrigados na fronteira entre Irã e Iraque, região que sofre há 40 anos com guerras, conflitos armados e outros desastres naturais. O número de vítimas deve aumentar nos próximos dias, conforme as equipes de resgate cheguem a vilas e cidades isoladas.

Duas das cidades mais afetadas pelo terremoto de 7,3 graus na escala Richter ficam uma ao lado da outra, separadas pelas montanhas de Zagros, na fronteira entre os dois países. No local vivem ao menos 1,8 milhão de pessoas. Há 40 anos, as cidades da fronteira, onde fica o Curdistão iraniano e iraquiano, tentam se reerguer de conflitos.

Sarpol–e Zahab, a cidade mais afetada, foi uma das primeiras a ser invadida pelas tropas iraquianas de Saddam Hussein na Guerra Irã–Iraque, em 1980, o conflito que durou oito anos e deixou um milhão de mortos. Com cerca de 35 mil habitantes, Sarpol–e Zahab ficou em ruínas com o tremor do fim de semana, com bairros inteiros destruídos e carros esmagados pelos escombros.

O terremoto começou às 21h18 de domingo (15h48 em Brasília) e o epicentro foi em Halabja, do outro lado da fronteira, na região do Curdistão iraquiano. Halabja também sofreu com a Guerra Irã–Iraque e ficou conhecida por um ataque com gás mostarda lançado por Saddam, em 1988, que deixou cerca de 5 mil mortos – o mais letal ataque por armas químicas contra uma população civil da história.

Depois, durante a invasão do Iraque pelos Estados Unidos, em 2003, a cidade se tornou centro do combate entre tropas americanas e forças leais a Saddam. Nos últimos quatro anos, Halabja foi a linha de frente dos curdos contra os jihadistas do Estado Islâmico.

O terremoto matou apenas 7 pessoas na cidade, mas ao menos 500 ficaram feridas, a infraestrutura foi destruída e dezenas de prédios desabaram. “De repente, o tremor começou e as paredes desabaram sobre minha irmã e meu pai”, disse à BBC Mohamed Khosrow, que vive em um vilarejo perto do epicentro do terremoto. “Covas se abriram e muitos corpos saíram do chão. Muitos vilarejos vizinhos desapareceram.”

Moradores do lado iraniano, revoltados, reclamaram da demora no socorro às vítimas e culparam a qualidade dos edifícios populares construídos durante o governo de Mahmoud Ahmadinejad, há cerca de dez anos.

Na época, o governo iraniano construiu centenas de habitações populares no noroeste do país, em um programa de habitações para a população de baixa renda. “O prédio desabou assim que eu coloquei o pé para fora”, disse Kokab Fard, dona de casa de 49 anos, à Associated Press. “O prédio era novo. Outros mais antigos estão de pé até agora.”

Até ontem os moradores cavavam com as próprias mãos para tentar encontrar sobreviventes entre os escombros. O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, ordenou que todas as forças de segurança do país se deslocassem para região para ajudar no resgate.

Jornalistas estrangeiros e locais estão proibidos de seguir para a região. “Ainda há pessoas sob os escombros. Esperamos que o número de mortos e feridos não suba muito, mas vai subir”, disse o governador de Kermanshah, Mojtaba Nikkerdar.

Moradores de Darbandikhan, no Iraque, a cerca de 10 quilômetros da fronteira com o Irã, temem o rompimento da represa do Rio Diyala. O tremor danificou toda a estrutura da barragem. “Há rachaduras na horizontal, na vertical e na rua que dá acesso à barragem. Pedaços da represa rolaram rio abaixo”, afirmou Rahman Hani, diretor da represa.