terça-feira, 10 de agosto de 2021

Espécie em risco de extinção, jacutingas nascidas em cativeiro serão soltas em área protegida da Mata Atlântica

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Espécie em risco de extinção, jacutingas nascidas em cativeiro serão soltas em área protegida da Mata Atlântica

Espécie em risco de extinção, jacutingas nascidas em cativeiro serão soltas em área protegida da Mata Atlântica

No passado, as jacutingas (Aburria jacutinga) podiam ser vistas facilmente pela Mata Atlântica brasileira. Eram encontradas desde o sul da Bahia até o Rio Grande do Sul, norte da Argentina e Paraguai, todavia, infelizmente, aos poucos, essas lindas aves desapareceram de nossas matas por causa da caça ilegal e a perda de habitat. Atualmente a espécie é considerada em risco de extinção. Sua população é estimada em aproximadamente 2 mil indivíduos e com tendência de declínio.

Mas graças a diversos programas de reprodução em cativeiro e reintrodução, gradualmente, algumas jacutingas estão voltando a habitar nossas florestas.

Na semana passada, quatro filhotes nascidos no Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, no Paraná, foram levados para a Serra da Mantiqueira, na região de São Francisco Xavier, em São Paulo. O objetivo é que eles sejam soltos em uma área protegida de Mata Atlântica, sob os cuidados do Projeto Jacutinga, da Sociedade para Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil).

“Estas vão ser as jacutingas 7, 8, 9 e 10 que enviamos para o projeto. Em 2017, outras seis foram enviadas, e cinco foram consideradas aptas e reintroduzidas na região, juntando-se ao bando de mais de 30 animais reintroduzidos desde 2016”, revela Paloma Bosso, diretora técnica do Parque das Aves.

Iguaçu, Tinguinha, Jurema e Atlântica – esses são os nomes dados pela equipe do parque às jacutingas -, nasceram no ano passado. Depois de passarem por diversos exames para atestarem sua boa saúde, as aves foram transportadas de avião entre Foz e a capital paulista.

As jacutingas ainda precisarão passar por uma fase de adaptação antes de serem soltas na mata. Ficarão num recinto de reabilitação. “Já durante os treinamentos observamos se vão estar aptas a viverem sozinhas na natureza, reconhecendo predadores, alimentando-se do que a mata tem para oferecer, e voando pelas copas das árvores. Após a liberação, acompanhamos os sinais emitidos por seu transmissor e checamos se está desempenhando seu importante papel ecológico como dispersora de sementes”, explica Alecsandra Tassoni, coordenadora do Projeto Jacutinga.

Espécie em risco de extinção, jacutingas nascidas em cativeiro serão soltas em área protegida da Mata Atlântica

A especialista destaca que a soltura é gradual. Após três meses a porta do recinto é aberta. “Há um convite sutil para que os animais examinem a floresta do entorno, e podem escolher sair quando se sentirem confortáveis. Essa soltura gradativa é chamada de ‘soft release’, soltura branda em português, e é uma etapa que requer muita dedicação, monitoramento diário e uma preparação de toda a equipe”.

Em outubro do ano passado, também contamos, aqui no Conexão Planeta, que quatro casais de jacutinga foram reintroduzidos numa reserva de Mata Atlântica, na Reserva Ambiental do Ibitipoca, próximo ao município mineiro de Lima Duarte, em Minas Gerais. A soltura foi resultado do trabalho de três criatórios – o mineiro CRAX, o Tropicus de São Paulo e o Criadouro Guaratuba, do Paraná.

A jacutinga possui penas predominantemente negras com tons arroxeados, detalhes em branco nos ombros e na cabeça, bico azulado e nas barbelas as cores azul e vermelha. Outra característica que a difere dos representantes do gênero Aburria é a fronte negra e a região ao entorno dos olhos em branco. E quando fica em estado de alerta, ganha uma crista eriçada e branca.

A espécie não costuma fazer voos longos. Permanece a maior parte do tempo na copa das árvores. Quando vai ao chão, é sempre por pouco tempo. Sua dieta é muito diversificada, ingerindo sementes, frutos, folhas, flores e insetos.

Espécie em risco de extinção, jacutingas nascidas em cativeiro serão soltas em área protegida da Mata Atlântica

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Fotos: divulgação Parque das Aves

Caatinga: rica de gente, de natureza e de poesia




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Caatinga: rica de gente, de natureza e de poesia

Caatinga: rica de gente, de natureza e de poesia

Nem Amazônia, nem Cerrado. Singular mesmo é a Caatinga: único bioma exclusivamente brasileiro. Tão particular e tão imensa, compreende cerca de 11% do território nacional e 70% da região Nordeste.

Apesar do abandono secular dos governos aos sertanejos que ali fazem morada, a caatinga é rica, abundante. Segundo a Embrapa, apresenta cerca de 1.980 espécies de plantas. Está lá o mandacaru cantado Brasil afora na voz de Luíz Gonzaga.

Caatinga: rica de gente, de natureza e de poesia
Vaqueiro, na Caatinga, próximo a Curaçá, Bahia / Foto: Adriano Gambarini

Estão lá, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente, 178 espécies de mamíferos; 591 espécies de aves; 117 espécies de répteis; 79 espécies de anfíbios; 241 espécies de peixes; 221 espécies das tão ameaçadas abelhas.

Caatinga: rica de gente, de natureza e de poesia
A iguana é uma das espécies mais comuns da Caatinga / Foto: Adriano Gambarini

A Caatinga é exemplo de resiliência. Aguenta miúda longos períodos de seca para brotar farta e colorida ao menor sinal da chuva. Porém, se vê também vítima das mudanças do clima e do descaso do homem. Arde em fogo este ano, mais do que os biomas vizinhos.

Caatinga: rica de gente, de natureza e de poesia
Paisagem típica da Caatinga, proximo ao Sitio do Mocó e Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí
Foto: Adriano Gambarini

Dados do Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais apontam que houve, até 1º de agosto, 2.130 focos incêndio nas áreas de Caatinga, o maior número em nove anos e uma alta de 164% em relação ao mesmo período de 2020.

Quem vive na região e quem estuda a região sabe que o crescimento das queimadas vem como consequência da expansão das monoculturas e da antecipação do período seco, que tende a se intensificar. E é justamente por ela perder as folhas quando a seca engole o sertão que ganhou esse nome.

Caatinga, na origem tupi-guarani, significa floresta branca.

Enquanto não se age adequadamente para protegê-la ela segue eternizada nos repentes dos sertanejos, na prosa de Ariano Suassuna, de Itamar Vieira Júnior e de tantos outros artistas que enxergam beleza nos cenários mais áridos.

A Caatinga, como sua gente, sabe retirar do solo seco a esperança para desabrochar no tempo certo, de maneira poderosa e única.

A Caatinga da Serra das Confusões, no Piauí / Foto: Adriano Gambarini
A Caatinga do Raso da Catarina e Entorno, na Bahia / Foto: Adriano Gambarini

Foto (destaque): Adriano Gambarini (a ‘barriguda’ lembra o baobá de Madagascar, por isso é chamada de ‘baobá brasileiro’)

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Pesquisador encontra “Bob Esponja e Patrick da vida real!” durante expedição na costa de Nova York



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Pesquisador encontra “Bob Esponja e Patrick da vida real!” durante expedição na costa de Nova York

Pesquisador encontra "Bob Esponja e Patrick da vida real!" durante expedição na costa de Nova York

Ao avistar uma estrela do mar rosa e uma esponja amarela durante uma expedição a 1.855 metros de profundidade, o pesquisador Christopher Mah rapidamente se lembrou da dupla do desenho animado dos anos 90 ‘Bob Esponja e Patrick’.

A descoberta aconteceu na encosta de uma montanha subaquática, a 320 quilômetros da cidade de Nova York, nos Estados Unidos, durante expedição desenvolvida pela NOAA – Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos nas profundezas do Oceano Atlântico,.por intermédio de um equipamento controlado remotamente. E foi fotografada pelo Okeanos Explorer

Mah não só se surpreendeu com a semelhança dos animais com os personagens famosos – que são amigos -, mas também com a proximidade em que se encontravam. Segundo o biólogo do NOAA – Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos, a realidade não é tão bonita como no desenho animado: estrelas do mar, na essência, são carnívoras e apreciam esponjas. Opa!

Ele é especialista em estrelas do mar. Contou que a estrela – que identificou como Chondraster – consegue estender seu estômago até a presa e digeri-la com a ajuda de algumas enzimas. “Esse tipo de estrela do mar é um predador de esponjas” e, por isso, estava se aproximando da esponja – que identificou como do gênero Hertwigia -, não por amizade ou afeto, mas por outro tipo de interesse: “se alimentar”.

Muitas semelhanças e diferenças

Em 27 de julho, dia da descoberta, Mah publicou a foto da esponja e da estrela em seu perfil no Twitter e, em vez de comentar sobre os dois de uma forma séria, como sempre faz, não se conteve e compartilhou a primeira sensação ao vê-las: “Bob Esponja e Patrick na VIDA REAL!”.

Em poucos minutos o post ganhou curtidas e comentários. No dia seguinte, tinha 1,5 mil curtidas. Hoje, 10/8 – portanto, 13 dias depois – registra 13.500 coraçõezinhos e 174 comentários. E ainda levou o perfil do Bob Esponja a comentar o encontro inusitado, na mesma rede social. Reproduzo os dois no final do texto.

Ao jornal O Globo, o pesquisador declarou que as cores dos bichos são tão marcantes e parecidas com as cores dos personagens do desenho, que ele sentiu que “a comparação precisava ser feita”. Mas teve mais um motivo: todas as referências que vê sobre Bob Esponja e Patrick não correspondem à biologia real desses animais.

“Bob Esponja é obviamente modelado a partir de uma esponja de limpeza retangular e Patrick não tem nada a ver com uma estrela do mar real”, explicou. “Mas isso traz conscientização sobre esses habitats incomuns”, e revelou:

“Ainda que as cores sejam parecidas com as dos personagens famosos, é possível que a esponja e a estrela do mar não sejam registradas ainda, isto é, sejam novas espécies. Nós ainda não sabemos!”. Tomara!

E acrescentou que o tom de amarelo da esponja o impressionou muito por não ser comum “para uma criatura que vive em um habitat tão profundo”. De acordo com Mah, as mais encontradas naquela região exibem tons de laranja ou branco porque são cores que ajudam na camuflagem num local sem muita luz.

O mesmo acontece com a estrela: em geral, suas cores são rosa escuro, claro ou branco, mas esta era muito brilhante, lembrando ainda mais o Patrick.

A seguir, veja os tweets do biólogo Christopher Mah e do perfil do Bob Esponja. E duas reportagens de veículos americanos sobre a descoberta e os comentários do biólogo.

Foto (destaque): NOAA/Divulgação

“Mudanças climáticas podem inviabilizar soja e gado no Brasil”

 


“Mudanças climáticas podem inviabilizar soja e gado no Brasil”

EM ENTREVISTA, O CIENTISTA BRASILEIRO PAULO ARTAXO, MEMBRO DO IPCC, COMENTA NOVO RELATÓRIO DO PAINEL DA ONU. DOCUMENTO PREVÊ ALTA DE ATÉ 5,5°C E REDUÇÃO DE 30% DAS CHUVAS EM ÁREAS EXPLORADAS PELO AGRONEGÓCIO NO BRASIL.

“Áreas onde hoje são produzidas soja e carne podem não ter mais condições de produzir daqui a 10, 20, 30 anos”

A primeira parte do novo relatório do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC),  divulgada nesta segunda-feira (09/08), afasta quaisquer dúvidas sobre a causa do aquecimento do planeta. O modo de vida da humanidade, movido à base da queima de combustíveis fósseis, emite gases de efeito estufa que estão levando a um rápido aquecimento do planeta. Até a próxima década, a temperatura média global deve subir 1,5 °C, estima o IPCC.

Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e membro do IPCC, alerta para os impactos desse cenário no Brasil. Na região central do país, a temperatura pode subir até 5,5 °C, e as chuvas podem cair 30% até o fim do século.

“Esse cenário vai fazer com que áreas onde hoje são produzidas soja e carne possam não ter mais condições de produzir competitivamente daqui a 10, 20, 30 anos”, analisa em entrevista à DW Brasil.

O sexto relatório do IPCC (AR6) será composto por quatro partes. Além da ciência física, divulgada agora, as demais se ocuparão com os impactos, vulnerabilidade e adaptação, mitigação, programadas para serem publicadas em 2022.

DW Brasil: O novo relatório do IPCC reforça o entendimento de que o aquecimento do planeta, que provoca as mudanças climáticas, é causado pelas atividades humanas. Dos pontos abordados no documento sobre os quais não se tinha o mesmo grau de certeza nos relatórios passados, o aumento dos eventos climáticos extremos é um dos com mais avanços?

Paulo Artaxo: É muito claro que o aquecimento do planeta está sendo causado pelas atividades humanas. Não houve nenhum único país, durante os debates sobre aprovação do relatório, que tenha levantado dúvidas sobre essa questão. É um consenso, passamos dessa etapa. Agora é o que fazer, como fazer, quem paga a conta.

Esse relatório trata de vários aspectos que não foram tratados no passado. O primeiro deles, por exemplo, há uma quantificação dos eventos de extremos climáticos. Isso não existia antes.

A gente dizia antes que, aquecendo o planeta, iria aumentar a incidência de eventos climáticos extremos. Esse novo relatório diz que se a gente deixar o planeta aquecer 4 ºC, ondas de calor vão ocorrer 38 vezes mais frequentemente do que ocorreria sem o aquecimento global. É muita coisa.

O documento também faz a vinculação das emissões urbanas e clima global, o que é importante considerando que 80% da população vai viver em áreas urbanas em 2050. Precisamos de políticas públicas para tornar nossas cidades mais eficientes no uso de energia e transporte, mais sustentáveis.

Essa informação chega num momento em que eventos extremos estão trazendo impactos nos dois hemisférios, como as chuvas fortes na Alemanha e a crise hídrica no Brasil, o que já reforça a mensagem do relatório.

Exatamente. O Canadá, por exemplo, não registrava 48 ºC nos últimos 150 anos. Chover em um dia o que chove normalmente em um ano também é inédito.

As enchentes recentes que aconteceram na Alemanha, por exemplo, ocorreram depois de um nível de chuva recorde. Os alemães viram que o aumento de eventos extremos climáticos pode matar pessoas lá também. 

E para o Brasil? Os impactos podem ser considerados ainda mais severos?

Um aumento médio se temperatura de 4°C, que é para onde estamos indo com o cenário de emissões, vai fazer com que o Brasil central aumente de temperatura 5,5 °C, com uma redução de chuvas de 30%. Esse cenário vai fazer com que áreas onde hoje são produzidas soja e carne possam não ter mais condições de produzir competitivamente daqui a 10, 20, 30 anos.

Isso leva o Brasil a ter que repensar que economia nós queremos fomentar. Vamos continuar dependendo do agronegócio? Pode ser um péssimo negócio.

Por que essa região do país sofreria um aumento maior de temperatura em relação à média global?

Um aquecimento médio de 2 °C no planeta significa que as áreas continentais se aquecem 3,5 °C. Isso porque 70% da superfície do planeta é oceano, e a água tem uma capacidade térmica muito maior do que os ecossistemas terrestres. Então as áreas continentais se aquecem muito mais.

Um aquecimento médio de 4 °C significa um aquecimento nas áreas continentais de 5,5 °C. Esse aumento da temperatura vai fazer com que a chuva no Brasil central diminua muito. Pode não ser viável uma agricultura com eficiência como a que gente tem hoje.

A mensagem é clara. A questão é o que os governos vão fazer. Ou seja, é o mesmo problema de antes.

A Amazônia é outro destaque deste relatório. Ela armazena 120 bilhões de toneladas de carbono no ecossistema. Se isso for para a atmosfera, todo o cenário de aquecimento pode piorar muito. 

O relatório também traz mais clareza em relação às projeções voltadas para elevação do nível do mar?

A projeção até 2100 é de que o nível do mar suba em torno de um metro. E esse relatório faz pela primeira vez uma projeção para 2300. Isso porque, uma vez iniciado o processo de derretimento das geleiras, não há maneira de parar. E a parte do relatório Science for Policy Makers traz a projeção de elevação de até 16 metros até 2300.

As consequências disso para cidades como Rio de Janeiro, Nova York, Londres e para países como Bangladesh são catastróficas.

A palavra “irreversível” aparece muitas vezes no relatório. O que ainda é possível reverter com o corte significativo de emissões de gases do efeito estufa?

Muitos processos já iniciados são irreversíveis. A meia vida do CO2 na atmosfera é de alguns milhares de anos, ou seja, o CO2 que a gente já emitiu vai ficar lá.

A única maneira de tirar esse CO2 da atmosfera é através da fotossíntese. Mas como vamos plantar árvores onde hoje se cultiva comida? Isso traria um impacto gigantesco para a sociedade.

Há ainda um dado muito importante nesse relatório. Os aerossóis estão mascarando o aquecimento. A poluição emitida por partículas que resfriam o clima é responsável pelo resfriamento de 0,5 ºC. Isso foi calculado pela primeira vez.

A hora em que a gente parar de queimar carvão e petróleo, que a gente eletrificar os veículos do mundo inteiro – e isso vai ocorrer – o planeta será aquecido imediatamente em mais 0,5 ºC. Isso é 50% de tudo o que foi aquecido até agora desde a Revolução Industrial.

Isso significa que não será possível manter o aumento da temperatura “bem abaixo dos 1,5ºC”, como estipulado no Acordo de Paris, já que a temperatura média do planeta já subiu 1 ºC desde a Revolução Industrial?

O IPCC fala nesse relatório que vamos aquecer em média 1,5 ºC nesta década. Mas na verdade, isso é eufemismo. Vamos diminuir a redução dos aerossóis, isso vai acontecer na Índia, China, América Latina, com a eletrificação da frota e a desativação das usinas a carvão. E esse 0,5 °C que está mascarado vai ser somado de imediato.

Então parar de queimar combustíveis fósseis vai piorar o aquecimento do planeta?

Vai aumentar a temperatura no curto prazo. Mas, para a sociedade, ao longo dos anos, isso é vantajoso. Primeiro: vai reduzir as 3 bilhões de pessoas que morrem por ano por doenças causadas pela poluição do ar. E, segundo, vai tornar os nossos ecossistemas mais sustentáveis, diminuindo a deposição de substâncias tóxicas. Parar de queimar carvão e outros [combustíveis fósseis] vai deixar de mascarar um terço do aquecimento, mas é esse o caminho a seguir. 

Quais são as perguntas desafiadoras a serem respondidas nos próximos relatórios?

As principais perguntas estão associadas com o que a gente chama dos tipping points, os chamados pontos de não retorno. Onde estão eles?

Em que nível de subida de temperatura a gente altera a circulação oceânica? Em que nível de temperatura a Floresta Amazônica passa a emitir carbono em vez de absorver, como ela estava fazendo até há algum tempo? Qual é o impacto do feedback da liberação de metano pelo derretimento do permafrost [solo permanentemente congelado]? São todas questões ainda sem respostas.

Estudos recentes mostraram que a Corrente do Golfo está enfraquecendo. Mais um sinal dos impactos das mudanças climáticas?

Sim. Nós estamos alterando o principal canal de redistribuição de energia do planeta. Isso é extremamente preocupante.

Fonte: Deutsche Welle