terça-feira, 17 de março de 2020

Muito além do entretenimento, zoos e aquários têm função educativa e de pesquisa da vida selvagem


Muito além do entretenimento, zoos e aquários têm função educativa e de pesquisa da vida selvagem

Muitos de nós sabemos que o animal estampado na cédula de R$ 20 é o mico-leão-dourado. O que poucos conhecem, contudo, é a fabulosa história de recuperação desse pequenino primata, endêmico da Mata Atlântica.

Carismático e muito dócil, o mico-leão-dourado, Leontopithecus rosalia, já esteve criticamente ameaçado de extinção, uma das categorias mais severas de ameaças. No final dos anos 1960, restavam pouco mais de 150 animais vivendo livres em matas ao norte do estado do Rio de Janeiro. O desmatamento para retirada de madeira, agricultura e pecuária – junto da caça para o comércio ilegal – contribuíram para a drástica redução das populações do mico-leão.

O destino desse animal começou a mudar graças aos alertas do primatólogo Ademar Coimbra-Filho, que na década de 1970 atraiu a atenção da comunidade científica para a necessidade da conservação da espécie. Os esforços de Coimbra-Filho culminaram na criação da Reserva Biológica de Poço das Antas e em um bem sucedido programa de reprodução em cativeiro.

Atualmente, a população do mico-leão-dourado chega a 3.200 indivíduos, resultado do esforço de uma rede de colaboradores, liderados pela Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD), que inclui parceiros como o WWF. O resultado do esforço é, hoje, modelo de conservação para o mundo todo.
No centro dessa iniciativa, está o trabalho do Smithsonian National Zoological Park . Esse zoo, localizado em Washington DC, coordena o manejo de animais nascidos em cativeiro e reintroduzidos em fragmentos de florestas. Os trabalhos de reprodução da espécie em diferentes zoológicos no mundo, combinados com animais da natureza, resultam na variabilidade genética necessária para a viabilidade das populações de mico-leão-dourado.

Esse é apenas um exemplo de como zoológicos e aquários modernos mudaram seu foco nas últimas décadas. Frequentemente, zoológicos e aquários públicos se associam a instituições de pesquisa ou conduzem seus próprios programas de investigação e, habitualmente, se especializam em ecossistemas regionais ou espécies emblemáticas.

Quando sintonizados com normas de bem-estar animal, zoos e aquários constroem recintos que buscam recriar aspectos básicos dos ambientes naturais, que geram conforto aos animais cativos. Há, evidentemente, diferenças técnicas entre manter uma baleia orca, um pequeno réptil ou uma ave. Um grande cetáceo nunca encontrará no cativeiro as condições ideais de vida como aquelas com que ele se depara nos oceanos. Entretanto, um viveiro amplo entremeado por árvores e abrigos pode prover condições adequadas para uma arara-azul viver e, até mesmo, se procriar, por exemplo.
Visando promover a qualidade de vida e o bem-estar animal, as necessidades das espécies cativas são estudadas por equipes multidisciplinares, incluindo biólogos, médicos veterinários, nutricionistas, tratadores, engenheiros e arquitetos.

Educar para a compreensão do mundo natural  

Hoje, zoológicos e aquários públicos têm funções diferentes daquelas do passado, de apenas manter os animais enclausurados para exibição pública. Essas instituições deixaram de ser “apenas” um local de lazer e entretenimento, assumindo um papel muito mais ativo na conservação da vida selvagem e na promoção do aprendizado de conservação entre seus visitantes. Têm a função de educar a sociedade, mostrando a riqueza faunística que compõe nosso planeta, nos direcionando à compreensão e reflexão sobre o mundo natural.

Ao permitir que pessoas que moram em cidades tenham “encontros reais” com a vida selvagem, zoos e aquários contribuem fortemente para o aprendizado em conservação. Isso inclui a sensibilização e a oferta de oportunidades para que mais e mais pessoas conheçam a fauna silvestre de localidades longínquas. Afinal, não são todos que podem viajar para a África – ainda mais agora, com o dólar a R$ 4,40 – para observar uma girafa ou um leão em seu habitat natural.

Além disso, pesquisas sobre a percepção e o interesse do público em zoológicos e aquários fornecem uma base de extremo valor para o campo emergente do turismo da vida selvagem. Lições valiosas sobre o possível impacto dos encontros de humanos com os animais silvestres, incluindo atitudes e comportamento dos visitantes, podem ser extraídas de pesquisas em zoológicos e aquários. Revertido para o ecoturismo, esse conhecimento reduz os eventuais impactos da visitação em áreas naturais e ajuda a promover a conservação da biodiversidade.

Por isso, refuto o Projeto de Lei que tramita na Câmara dos Vereadores de São Paulo, que restringe fortemente a atuação de zoológicos e aquários na capital paulista. A lei se origina no movimento do direito dos animais, mas – ao que parece – se embasa pouco no conhecimento científico vigente.

Avanços civilizatórios sim, mas com base no conhecimento científico

Em muitos países, incluindo o Brasil, ainda persiste a percepção dos zoos e aquários como locais de mero entretenimento e, em alguns casos, essa impressão é justificada. Um setor frequentemente hostil aos zoos e aquários é o dos grupos de direitos dos animais, que dão ênfase aos interesses dos animais como indivíduos em detrimento da conservação de espécies ou de ecossistemas. Outra oposição vem de parte do movimento de conservação, que discorda da justificativa de retirar animais do meio selvagem. Em alguns casos, os opositores podem ter razão.

Se zoos e aquários pretendem exercer um papel ativo na conservação, deverão enfrentar a oposição de modo transparente, compreendendo as críticas e explicando suas ações de maneira a ganhar o apoio da sociedade. Devem também deixar claro que a sua missão é de conservação, conduzida em conjunto com padrões elevados de bem-estar animal. Sem dissimular ou criar dúvidas de que seus esforços de conservação são legítimos.

No mundo atual, virtualizado ao extremo, perdemos vertiginosamente a capacidade de interagirmos com a realidade e de vivenciarmos experiências (escrevi sobre esse tema, aqui, no Conexão Planeta). Como contraponto, zoos e aquários estão em uma posição única para educar o público sobre questões de conservação. Por meio deexposições educativas, zoos e aquários podem trabalhar para estimular as pessoas a se preocuparem com o estado de nossos ambientes. Se bem conduzidas, essas experiências influenciam o aprendizado e a experiência dos visitantes. Promovem a educação e habilitam os visitantes a fazer escolhas de estilo de vida que sejam amistosas à natureza.

A busca de interlocução com os especialistas deveria ser a essência da tomada de decisão para os legisladores. Bem fundamentada, a legislação pode ajudar a estabelecer padrões de referência de bem-estar animal e sustentabilidade cada vez mais exigentes, desde o controle da origem até a fiscalização do transporte e aclimatação dos animais.

Não é de hoje que o conhecimento científico tem contribuído muito para o aperfeiçoamento da sociedade. Ao gerar informações sobre comportamento animal, história de vida, manejo de fauna, gestão da qualidade dos recintos, tratamento de doenças e reprodução, zoos e aquários contribuem para o avanço da biologia da conservação. De outro lado, legisladores têm muito a ganhar ao ampliar suas relações com especialistas, recorrendo aos seus conhecimentos e participando de iniciativas de parceria. Como resultado, ganham a natureza e a sociedade, profundamente preocupada em apoiar iniciativas integrada de conservação da biodiversidade, bem-estar e sustentabilidade.
Foto: Daiga Ellaby (abertura) e Uwe Conrad / Unsplash

“Um Porto chamado Grilagem” mostra abusos e corrupção em projeto de construção de porto em frente à Ilha do Mel, no Paraná

“Um Porto chamado Grilagem” mostra abusos e corrupção em projeto de construção de porto em frente à Ilha do Mel, no Paraná

“Um Porto chamado Grilagem” mostra abusos e corrupção nos bastidores da possível construção de porto em frente à Ilha do Mel, no Paraná
Foi lançada dia 12 de março a “parte 2” do documentárioUm porto chamado grilagem”. Ela está disponível para ser assistida no YouTube e nas redes sociais do Observatório de Justiça e Conservação (OJC).

A continuação da primeira parte do filme, tornada pública em novembro de 2019, agora revela os bastidores da intenção de construção de um complexo industrial portuário em frente à Ilha do Mel, no município de Pontal do Paraná, no litoral do Estado. Trata do histórico de grilagem (roubo de terras públicas) relacionado à intenção e da coleção de ilegalidades públicas, privadas e particulares que se acumulam ao longo dos anos, desde o início das tentativas de construção do porto no litoral, há décadas.

A Ilha do Mel é uma Estação Ecológica e um importante Parque Estadual e já foi reconhecida pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como um Patrimônio Natural da Humanidade, tendo em vista as características únicas no mundo que acumula. O porto seria instalado a poucos metros do local.

Só a primeira etapa das obras para a construção do complexo custaria quase R$ 400 milhões aos cofres públicos. Além disso, elas podem ser feitas para beneficiar um empreendimento privado que ocuparia áreas que, antes das décadas de 1940 e 1950, foram dos paranaenses.

Mais de 27 milhões de metros quadrados de Mata Atlântica – um bioma ameaçado de extinção – seriam derrubados ou prejudicados. Comunidades tradicionais e indígenas que vivem há séculos na região, em área por onde passaria parte das obras, seriam expulsas. A biodiversidade do local também acabaria afetada de modo irreparável e a vocação turística do litoral do Estado terminaria condenada para sempre.

A proposta do complexo industrial inclui a chamada “Faixa de Infraestrutura”, que é o conjunto de obras que viabilizariam e atenderiam ao porto. Ela inclui uma estrada que derrubaria mais de cinco milhões de metros quadrados de Mata Atlântica e, no trajeto como foi pensada, seria feita para atender ao aumento do fluxo de caminhões que passariam a trafegar rumo ao porto.

Também inclui um canal de navegação de 50 metros de largura que, assim como a estrada, de modo bastante questionável, já está em processo de licenciamento. Os danos gerados pelos processos de dragagem envolvidos na construção desse canal seriam imensuráveis.

Soluções alternativas de desenvolvimento para a região foram apresentadas em 2019 ao Governo do Paraná por meio da campanha #SalveAIlhaDoMel. Um financiamento coletivo arrecadou quase R$ 40 mil da sociedade e, com os recursos, foi possível desenvolver uma proposta feita por arquitetos e engenheiros especializados, que estimulasse o turismo, investimentos públicos em infraestrutura e garantisse vantagens, especialmente a moradores, comerciantes e turistas.

Até agora, ela foi ignorada pelo governo, que também não respondeu nenhuma das mais de 390 mil mensagens enviadas pela população por meio do site salveailhadomel.com.br.
Para pressionar o Governo, acesse www.salveailhadomel.com.br.

Assista aqui a parte 2!
Leia também: Artistas protestam em clipe contra implantação de complexo industrial na Ilha do Mel, no litoral do ParanáParanaenses pedem proteção da Ilha do Mel e condenam construção de agressivo complexo industrial no litoral do estado
Imagem: reprodução vídeo

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https://envolverde.cartacapital.com.br/fundacao-grupo-boticario-distribui-r-2-milhoes-para-boas-ideias-para-o-turismo-em-areas-naturais/

Fundação Grupo Boticário quer envolver toda a sociedade para encontrar soluções que aprimorem o turismo em áreas naturais. Qualquer pessoa pode participar, respondendo a apenas três perguntas

Foram abertas nesta segunda-feira (9) as inscrições para a primeira fase da “teia – soluções para a proteção da natureza”, processo de cocriação que envolverá diversos atores da sociedade para apontar os desafios para aprimorar o turismo em áreas naturais. Ao final de quatro etapas, o objetivo é viabilizar inovações com o propósito de aliar o turismo com a proteção da biodiversidade brasileira. As soluções selecionadas receberão, ao todo, R$ 2 milhões da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, realizadora da chamada.

Na fase inicial, que segue até 29 de março, qualquer pessoa que tenha identificado desafios a serem superados para o desenvolvimento do turismo em áreas naturais poderá participar, como estudantes, professores, pesquisadores, empresas, startups, organizações do terceiro setor e todo cidadão. A inscrição é gratuita e deve ser feita no site www.fundacaogrupoboticario.org.br. Basta preencher o cadastro e responder três perguntas simples.

“Com a inscrição dos desafios, queremos que toda a sociedade indique quais são os principais gargalos para desenvolvermos no País um turismo responsável em áreas naturais. Uma atividade que, além de gerar renda e desenvolvimento para comunidades locais, contribua com a proteção do nosso patrimônio natural. Acreditamos que o contato com a natureza desperta o interesse em cuidá-la”, explica a diretora-executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes.

Próximas etapas
Depois de selecionados os principais desafios, a teia dará sequência à segunda fase do processo: a proposta de soluções. De 7 a 21 abril, qualquer pessoa – mesmo aquelas que não se inscreveram na primeira fase – poderá sugerir ideias de como os desafios poderão ser solucionados, integrando a proteção da biodiversidade com o desenvolvimento econômico das regiões a partir do turismo.
Já na terceira fase, que ocorre de 7 a 24 de maio, as melhores soluções serão desenvolvidas com acompanhamento on-line de consultores voluntários e especialistas da Fundação Grupo Boticário para que se tornem economicamente viáveis e replicáveis em grande escala.

A instituição, que completa 30 anos em 2020, tem experiência com ações de turismo em áreas naturais a partir do trabalho que desenvolve desde 1994 na Reserva Natural Salto Morato, em Guaraqueçaba (PR), que é aberta à visitação e protege 2.253 hectares da Mata Atlântica.
Etapas:
  • De 9 a 29 de março: inscrição de desafios.
  • De 7 a 21 de abril: inscrição de soluções.
  • De 7 a 24 de maio: cocriação de ideias e mentoria.
  • Dia 27 de maio: divulgação das soluções que serão apoiadas.
(#Envolverde)

Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis

Por Luiz Carlos Aceti Junior[1], Maria Flavia Curtolo Reis[2], Lucas Reis Aceti[3]

Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis

O cidadão que vai ao supermercado e compra um produto, qualquer que seja, talvez não entenda o que significa consumo e produção responsáveis. Ele pode achar que essa conversa nada tem a ver com sua vida.

Aí começa o problema.

A informação é elemento fundamental para que a sociedade como um todo passe a agir com responsabilidade e sustentabilidade.

Responsável, segundo o Dicionário Aurélio, ”é aquele que responde pelos próprios atos ou pelos de outrem, responde legal ou moralmente pela vida, bem-estar de alguém”.  E que tem a noção exata das implicações de seus atos.

Quando o cidadão não sabe ou não entende porque seus atos são prejudiciais, ele não os modifica. Daí porque a informação faz toda a diferença. Informação séria e de qualidade, que esclareça o consumidor e não promova alarmismos.

Um exemplo simples que presenciamos por toda a sociedade: plásticos (e lixo em geral) jogados nas ruas e rios. Será que as pessoas entendem que esse lixo vai ajudar a água das chuvas de verão invadirem suas casas? Ou que o plástico vai se decompor em minúsculos pedaços nas águas de rios e mares e parar no estômago de peixes que serão consumidos mais tarde?

Escolas, empresas, poder público, cada um nas suas atribuições, devem proporcionar informação às pessoas.
E falando em info
rmação, o SEBRAE possui em seu site https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/ap/artigos/conheca-a-cartilha-producao-e-consumo-responsavel,8e077ad8d4570610VgnVCM1000004c00210aRCRD uma cartilha sobre produção e consumo responsável. Informações do tipo: os “erres” do consumo responsável, práticas de sustentabilidade e diversas outras informações podem auxiliar o consumidor a entender os desafios que todos têm pela frente.

Com relação à postura do consumidor que já está mais consciente e que cobra a mesma postura das empresas, o Instituto Akatu realizou em 2014, portanto há algum tempo, uma pesquisa que demonstrou que o consumidor espera que as empresas façam mais do que a lei determina. Em primeiro lugar, a empresa não deve utilizar trabalho forçado ou infantil, em segundo, proporcionar oportunidades a contratação de mulheres, negros e pessoas com deficiência e depois seguem remuneração justa aos trabalhadores, minimizar riscos à segurança e à saúde dos consumidores.
Isso demonstra que se as empresas, não importa o seu porte, quiserem continuar existindo, deverão adotar políticas internas que levem realmente a sério as questões socioambientais, formas de produção e produtos cada vez mais sustentáveis.

Uma reportagem da revista Safra, publicada em 04/09/2019, apontou que o Brasil é o maior produtor de soja responsável. Isso significa que 85% de toda a soja certificada pela RTRS- Associação Internacional de Soja Responsável é brasileira. (https://revistasafra.com.br/cresce-producao-de-soja-responsavel-no-mundo/)

A Instrução Normativa Conjunta INC nº 2, de 07 de fevereiro de 2018, editada pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) em conjunto com a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) define os procedimentos para a aplicação da rastreabilidade ao longo da cadeia produtiva de produtos vegetais frescos, nacionais e importados, destinados à alimentação humana, para fins de monitoramento e controle de resíduos de agrotóxicos, em todo o território nacional. Até fevereiro de 2020 todos esses produtos deverão se enquadrar na Instrução Normativa.

Cadeia produtiva começa nas etapas de produção primária, armazenagem, consolidação de lotes, embalagem, transporte, distribuição, fornecimento, comercialização, exportação e importação. Portanto, desde a horta até a mesa do consumidor, vai ser possível aos órgãos responsáveis monitorar, por exemplo, se o alimento que chega à mesa do consumidor foi tratado dentro das exigências fitossanitárias, se os insumos aplicados nas plantas estão adequados e geram produtos de boa qualidade.

São exemplos do que tem sido feito em termos de sustentabilidade e responsabilidade.
As propostas do ODS 12 são as seguintes:
  1. Implementar o Plano Decenal de Programas sobre Produção e Consumo Sustentáveis, com todos os países tomando medidas, e os países desenvolvidos assumindo a liderança, tendo em conta o desenvolvimento e as capacidades dos países em desenvolvimento.
  2. Até 2030, alcançar a gestão sustentável e o uso eficiente dos recursos naturais. (Os recursos naturais são fonte primária para o desenvolvimento de civilizações e de produção, por consequência. Rios são essenciais para o abastecimento de indústrias e promovem o sustento de inúmeras pessoas locais. Portanto, o uso ineficiente destes recursos acarreta problemas incalculáveis, diretos e indiretos, aos residentes locais e vizinhos como, por exemplo, o desastre ocorrido em Mariana e Brumadinho
  3. Até 2030, reduzir pela metade o desperdício de alimentos per capita mundial, nos níveis de varejo e do consumidor, e reduzir as perdas de alimentos ao longo das cadeias de produção e abastecimento, incluindo as perdas pós-colheita. (Dados lançados no próprio site da ONU apontam que, diariamente, 1,3 bilhão de toneladas de comida são desperdiçadas. Um prejuízo incalculável, pois 01 em cada 09 pessoas no mundo ainda é subnutrida.)
  4. Até 2020, alcançar o manejo ambientalmente saudável dos produtos químicos e todos os resíduos, ao longo de todo o ciclo de vida destes, de acordo com os marcos internacionais acordados, e reduzir significativamente a liberação destes para o ar, água e solo, para minimizar seus impactos negativos sobre a saúde humana e o meio ambiente. (Os produtos químicos são, em variadas situações, importantíssimos para a limpeza de locais, produção de alimentos e máquinas, porém seu descarte inadequado acarreta poluição de ambientes, contaminação de indivíduos e perda de material reaproveitável. Por isso, manejá-los adequadamente representa proteção e consciência.)
  5. Até 2030, reduzir substancialmente a geração de resíduos por meio da prevenção, redução, reciclagem e reuso.
  6. Incentivar as empresas, especialmente as empresas grandes e transnacionais, a adotar práticas sustentáveis e a integrar informações de sustentabilidade em seu ciclo de relatórios.
  7. Promover práticas de compras públicas sustentáveis, de acordo com as políticas e prioridades nacionais.
  8. Até 2030, garantir que as pessoas, em todos os lugares, tenham informação relevante e conscientização para o desenvolvimento sustentável e estilos de vida em harmonia com a natureza. (Conforme já dito anteriormente, não adianta o poder público criar uma infinidade de leis sem promover políticas públicas de conscientização da sociedade. Afinal, ela é parte essencial no processo.)
  9. Apoiar países em desenvolvimento a fortalecer suas capacidades científicas e tecnológicas para mudar para padrões mais sustentáveis de produção e consumo. (Nenhuma nação consegue prosperar sem desenvolvimento tecnológico. Assegurar os padrões de produção e consumo responsáveis requer conhecimento, capacidade de adaptação aos novos desafios.)
  10. Desenvolver e implementar ferramentas para monitorar os impactos do desenvolvimento sustentável para o turismo sustentável, que gera empregos, promove a cultura e os produtos locais.
  11. Racionalizar subsídios ineficientes aos combustíveis fósseis, que encorajam o consumo exagerado, eliminando as distorções de mercado, de acordo com as circunstâncias nacionais, inclusive por meio da reestruturação fiscal e a eliminação gradual desses subsídios prejudiciais, caso existam, para refletir os seus impactos ambientais, tendo plenamente em conta as necessidades específicas e condições dos países em desenvolvimento e minimizando os possíveis impactos adversos sobre o seu desenvolvimento de uma forma que proteja os pobres e as comunidades afetadas.
Torna-se claro, agora, o impacto, direto e indireto, acarretado pelo descuido no consumo e descarte irresponsável de produtos. Todas estas propostas, não apenas focando no cenário brasileiro, são planejadas visando a adaptação mundial.

E como começar, já que não apenas as empresas devem mudar, mas todas as pessoas? Adaptar o cotidiano a essas ideias e agir de maneira mais consciente do que antes? Há inúmeras possibilidades. Uma delas é consumir e reciclar, isto é, separar os resíduos gerados por categorias (vidro, papel, plástico, orgânicos, metais, tecidos).

Outra forma, também, é conhecer aquele de quem você compra. “Esta empresa adota medidas ecológicas?”, e conforme o instituto Akatu: ‘essa empresa faz mais do que a lei determina?’. Identificando, dessa forma, aquelas empresas que estão e as que não estão de acordo com políticas mais ecológicas, basta apenas substituir seus produtos pelos de uma empresa que se preocupa com fatores socioambientais.

Consumo responsável significa agir e consumir de forma cidadã e consciente, preocupando-se não apenas com o meio ambiente, mas também com todo o processo de produção, com as pessoas envolvidas e com os possíveis danos que aquele material pode causar.
As campanhas de conscientização devem e precisam continuar existindo, levando conhecimento a toda a sociedade, além de legislação que norteie o comportamento adequado com relação ao consumo e à produção responsáveis.

Sobre os autores:
[1] Advogado. Pós-graduado em Direito de Empresas. Especializado em Direito Ambiental, Direito Empresarial Ambiental, Direito Agrário Ambiental, Direito Ambiental do Trabalho, Direito Minerário, Direito Sanitário, Direito de Energia, Direito em Defesa Agropecuária, e respectivas áreas afins. Mestrado em Direito Internacional com ênfase em direito ambiental e direitos humanos. Professor de pós-graduação em direito e legislação ambiental de várias instituições de ensino. Palestrante. Parecerista. Consultor de empresas na área jurídico ambiental. Escritor de livros e artigos jurídicos em direito empresarial e direito ambiental. Consultor de portal www.mercadoambiental.com.br . Diretor da Aceti Advocacia www.aceti.com.br



[2] Advogada. Pós-graduada em Direito de Empresas. Especializada em Direito Empresarial Ambiental, Direito Contratual e Obrigações Financeiras. Integrante da Aceti Advocacia www.aceti.com.br


[3] Graduando em direito pela UNIFEOB. Estagiário da Aceti Advocacia www.aceti.com.br
#Envolverde

“Nossa casa ainda está pegando fogo e vocês estão jogando gasolina nas chamas!” Greta Thunberg em discurso no WEF de Davos em 2020


O ano de 2020 está a caminho de ser o mais quente do Antropoceno, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

“Nossa casa ainda está pegando fogo e vocês estão jogando gasolina nas chamas!”
Greta Thunberg em discurso no WEF de Davos em 2020

[EcoDebate] Não há dúvida. O aquecimento global é para valer. E o ritmo de aumento anual da temperatura está ocorrendo de forma inédita e ultrapassando, de maneira preocupante, as previsões mais pessimistas. Desde a década de 1970, a temperatura do Planeta sobre de forma contínua e com taxas crescentes, sendo que a atual década (2010-20) é não só a mais quente do Antropoceno, como também é aquela que apresenta a maior variação decenal.

O gráfico abaixo da NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA) mostra que até cerca de 1940 as temperaturas anuais (em azul) estavam abaixo da média do século XX e depois de 1970 as temperaturas anuais (em vermelho) ficaram consistentemente maiores do que a média do século XX.

Em meados do século passado, as variações decenais oscilaram. Na década de 1930 houve uma variação positiva de 0,22º C, que foi seguida de uma variação negativa de -0,36º C, na década de 1940. Na década de 1950 houve uma variação positiva de 0,12º C que também foi seguida por uma variação negativa de -0,04º C na década de 1960.

Mas a partir dos anos 70, o aquecimento global iniciou uma subida espetacular. Na década de 1970 a variação decenal da temperatura foi de 0,23º C. Nas três décadas seguintes a variação decenal ficou em torno de 0,15º C. Mas na atual década (2010-19) o aumento decenal saltou para 0,38º C, um ritmo nunca visto no Holoceno (últimos 12 mil anos).

temperatura anual entre 1880 e 2019

O ano mais quente do século XX foi 1998 com uma anomalia de 0,65º C em relação à média do século XX. Este nível foi aproximadamente igualado em 2005 e superado apenas em 2010 e 2014. Os anos de 2011 e 2012 apresentaram temperaturas inferiores do que as de 1998 e isto gerou muito questionamento sobre o aquecimento global, inclusive com muitos cientistas falando em “hiato climático”.

Porém, a partir de 2014 os aumentos anuais da temperatura extrapolaram todas as tendências, marcando 0,99º C em 2016 e 0,95º C em 2019, em relação à média do século XX (mas que representa cerca de 1,2º C em relação ao período pré-industrial). Os 6 anos entre 2014 e 2019 foram os mais quentes da série histórica.

O ano de 2020 começou batendo todos os recordes para o mês de janeiro, mesmo quando comparados com o mesmo mês de janeiro de 2016, quando houve um forte fenômeno El Niño e se atingiu temperaturas extremamente altas. Janeiro de 2020 é o primeiro mês mais quente da série histórica. O mês de fevereiro, com 1,17º C, foi o segundo mais quente da série, ficando ligeiramente abaixo de fevereiro de 2016 que tinha apresentado 1,26º C.

os sete anos mais quentes do antropoceno

Os dados acima mostram que o aquecimento global entrou em outro patamar. Isto é confirmado pela média dos dois primeiros meses (janeiro + fevereiro) na série histórica. O gráfico abaixo mostra a média do primeiro bimestre de 2016 foi de 1,19º C. e a média do primeiro bimestre de 2020 ficou em 1,16º C, ambos os números muito acima das demais médias. A tendência bimestral da atual década apresentou um crescimento de 0,70º no aquecimento. Um número impressionante e que indica que o limite de 1,5º C colocado pelo Acordo de Paris deve ser atingido antes de 2030 e o limite de 2º C deve ser atingido antes de 2040.

temperatura para os dois primeiros meses do ano - 1880-2020

Estas preocupantes tendências do aumento da temperatura global aumentam a urgência de reduzir as emissões de CO2 e de abandonar o uso generalizado de combustíveis fósseis. Até a elite econômica reunida no WEF de Davos, na Suíça, reconheceu a gravidade da situação ecológica. Uma das estrelas dos dois últimos eventos em Davos foi Greta Thunberg tem falado sobre a necessidade de descarbonizar a economia e, em janeiro de 2020 disse: “Nossa casa ainda está pegando fogo e vocês estão jogando gasolina nas chamas!”.

O ano de 2020 começou com um evento inesperado que é a pandemia de coronavírus, que já infectou mais de 160 mil pessoas e matou mais de 6 mil infectados. A pandemia de Covid-19 também está tendo um efeito muito dramático na economia, fazendo com que as atividades econômicas sejam suspensas em todo o mundo. O quadro na saúde pública e na saúde da economia é inédito e tende a se agravar durante o primeiro semestre de 2020.

Um impacto da pandemia na redução das atividades antrópicas é tão forte que reduziu significativamente as emissões de CO2 e até contribuiu para a redução da poluição do ar nas grandes cidades do mundo. A economia internacional tende a entrar em recessão no primeiro semestre de 2020. Para o meio ambiente este quadro vai trazer um certo alívio.

Porém, para quem defende uma redução planejada da pegada ecológica global esta crise não é a solução. Existe uma expressão que retrata as contradições do momento: “Tua recessão não é o meu decrescimento”.

Os teóricos do decrescimento econômico e do decrescimento demoeconômico consideram que deve haver uma redução das atividades antrópicas no longo prazo de maneira planejada. O tem que começar imediatamente pela redução das atividades mais poluidoras, assim é fundamental decrescer a produção e a queima de combustíveis fósseis (mas é fundamental crescer as energias renováveis e de baixo carbono), é preciso decrescer o consumo de carne (e crescer a produção de alimentos orgânicos), é preciso diminuir a circulação de carros particulares com motor à combustão e avançar no transporte coletivo e nos veículos elétricos, é preciso decrescer os gastos militares e de guerra (e crescer os investimentos na restauração ambiental, recuperando solos, plantando árvores, limpando a poluição, etc.), decrescer o consumo conspícuo e aumentar o consumo cidadão (mais educação, mais democracia, mais solidariedade comunitária, etc.) e assim por diante.

O aquecimento global deve ser combatido por meio da mudança do modelo insustentável de produção e consumo e não apenas ser um efeito colateral de uma crise econômica e financeira que vai impactar de maneira mais forte as populações mais pobres do mundo. Assim como existe uma emergência de saúde pública (por conta do coronavírus), existe também uma emergência climática por conta do aumento da temperatura global. O mundo precisa acordar para os desafios sociais e ambientais do século XXI.

José Eustáquio Diniz Alves
 
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382


in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 16/03/2020

O ano de 2020 está a caminho de ser o mais quente do Antropoceno, artigo de José Eustáquio Diniz Alves, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 16/03/2020, https://www.ecodebate.com.br/2020/03/16/o-ano-de-2020-esta-a-caminho-de-ser-o-mais-quente-do-antropoceno-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/.