quinta-feira, 10 de junho de 2021

Áreas conservadas no planeta crescem, mas biodiversidade segue ameaçada

 


Áreas conservadas no planeta crescem, mas biodiversidade segue ameaçada

RELATÓRIO GLOBAL ALERTA PARA A NECESSIDADE DE MEDIDAS QUE PROMOVAM O USO INTEGRADO DA TERRA E O PLANEJAMENTO DO ESPAÇO MARINHO

Apesar de aumento de áreas conservadas, relatório aponta que um terço das principais áreas de biodiversidade do planeta ainda não estão protegidas de nenhuma forma (Foto: Meri Vasilevski/Unsplash)

De um lado, um planeta que conseguiu atingir a meta quantitativa de territórios verdes conservados. De outro, um grave déficit de biodiversidade impulsionado pela má administração de muitas dessas ecorregiões. Este é o atual panorama do mundo segundo a edição mais recente do relatório Planeta Protegido, assinado pelo Centro de Monitoramento da Conservação Mundial do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep-WCMC) e pela União Internacional para a Conservação da Natureza, com apoio da National Geographic Society.

Publicado nesta quarta-feira (19), o documento apresenta a avaliação final da Meta 11 de Aichi, estipulada em 2011, que incluía o objetivo de proteger pelo menos 17% das zonas terrestres e de águas continentais do planeta, além de 10% das zonas costeiras e marinhas. A análise deve influenciar a meta universal que a sucederá – o Marco Global Pós-2020 de Biodiversidade –, que será definida em outubro de 2021 na Conferência sobre Diversidade Biológica da ONU em Kunming, na China.

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Atualmente, pelo menos 16,64% de ecossistemas terrestres e águas interiores estão dentro de áreas protegidas e conservadas documentadas, o que equivale a 22,5 milhões de km². Embora não tenha alcançado a meta de 17%, o relatório considera que o objetivo foi cumprido, uma vez que muitas áreas protegidas ainda não foram documentadas.

Segundo a investigação, foram as regiões marinhas e costeiras que registraram o maior crescimento em áreas protegidas ao longo dos últimos dez anos: o índice chegou a 18,01%, superando, assim, a meta de 10%. O mesmo não foi observado no percentual de conservação das áreas oceânicas (7,74%), que ficou aquém da Meta de Aichi. O estudo, no entanto, afirma que “a designação pendente de várias grandes áreas marinhas protegidas pode aumentar esse número”.

O outro lado

Embora esses números demonstrem que a comunidade internacional fez consideráveis progressos em direção à meta global de conservação, o relatório alerta que essas áreas representam menos da metade (44,5%) de todas as ecorregiões terrestres e apenas 47,4% das ecorregiões marinhas.

Pior: de acordo com o documento, um terço das principais áreas de biodiversidade do planeta ainda não estão protegidas de nenhuma forma e menos de 8% da terra está conectada – muito abaixo dos quase 17% de área que agora está sob proteção –, o que prejudica a movimentação de espécies.

Apesar de aumento de áreas conservadas, relatório aponta que um terço das principais áreas de biodiversidade do planeta ainda não estão protegidas de nenhuma forma (Foto: Alenka Skvarc/Unsplash)

Por isso, segundo o relatório, um dos principais objetivos que deverão guiar o planeta nos próximos anos é aumentar a “qualidade” dessas áreas, o que significa melhorar a eficácia de sua administração. “Designar e contabilizar áreas mais protegidas e conservadas são [medidas] insuficientes, elas precisam ser administradas de forma eficaz e governadas de forma equitativa se quiserem realizar seus muitos benefícios em escalas local e global e garantir um futuro melhor para as pessoas e o planeta”, diz, em comunicado, Neville Ash, diretor do Unep-WCMC.

O relatório sugere que o uso integrado da terra e o planejamento do espaço marinho são medidas necessárias para facilitar a conexão entre os territórios, da qual “depende a persistência da biodiversidade no longo prazo”. Além disso, o documento recomenda que as regiões circundantes sejam geridas de forma adequada e que os países prestem apoio aos esforços de conservação de grupos indígenas, comunidades locais e instituições privadas.

Em comunicado, o diretor-geral da IUCN, Bruno Oberle, reconhece o progresso feito na última década, mas, diante do declínio da biodiversidade global, antecipa a sugestão de uma “meta ambiciosa” a ser discutida na Conferência sobre Diversidade Biológica da ONU. ”Pedimos que as Partes da Conferência da ONU sobre Biodiversidade em Kunming estabeleçam uma meta ambiciosa que irá garantir a cobertura de área protegida de 30% da terra, água doce e oceanos até 2030 – e essas áreas devem ser colocadas da melhor maneira para proteger a diversidade da vida na Terra e ser geridas de forma eficaz e governadas de maneira equitativa “, afirma.

Fonte: Galileu

Amazônia: indígenas viveram na floresta por 5 mil anos sem destruir bioma, mostra estudo

 








Amazônia: indígenas viveram na floresta por 5 mil anos sem destruir bioma, mostra estudo

A INVESTIGAÇÃO ANALISOU CAMADAS DE SOLO EM BUSCA DE EVIDÊNCIAS FÓSSEIS MICROSCÓPICAS DE IMPACTO HUMANO E LANÇA LUZ SOBRE UM LONGO DEBATE SOBRE O QUANTO A PAISAGEM LOCAL FOI TRANSFORMADA POR SEUS PRIMEIROS HABITANTES.

Pesquisadores estudaram uma área de floresta em um ponto remoto do nordeste do Peru — Foto: Alvaro Del Campo

Os povos indígenas viveram na floresta amazônica por milênios “sem causar perdas ou distúrbios detectáveis de espécies”, concluiu um estudo publicado na revista PNAS.

Cientistas que trabalham no Peru pesquisaram camadas de solo em busca de evidências fósseis microscópicas de impacto humano. Eles descobriram que as florestas não foram “desmatadas, cultivadas ou de outra forma significativamente alteradas na Pré-História”.

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Dolores Piperno, do Smithsonian Tropical Research Institute em Balboa, no Panamá, que liderou o estudo, disse que as evidências podem influenciar o debate moderno sobre conservação — revelando como as pessoas poderiam viver na Amazônia enquanto preservam sua biodiversidade.

Dolores Piperno trabalha no Museu de História Natural do Smithsonian em Washington DC e no Tropical Research Institute no Panamá — Foto: Smithsonian

As descobertas de Piperno também informam um longo debate sobre o quanto a paisagem da Amazônia foi moldada por povos indígenas.

Algumas pesquisas sugeriram que a paisagem foi formada de forma ativa e intensa pelos povos indígenas antes da chegada dos europeus à América do Sul. Estudos recentes demonstraram que as espécies de árvores que hoje dominam a floresta foram plantadas por habitantes humanos pré-históricos.

Piperno disse à BBC News que as novas descobertas fornecem evidências de que o uso da floresta tropical pela população indígena “foi sustentável, não causando perdas ou distúrbios detectáveis de espécies, ao longo de milênios”.

Para encontrar essa evidência, ela e seus colegas realizaram uma espécie de arqueologia botânica — escavando e datando o solo para construir um quadro da história da floresta tropical. Eles examinaram três locais, em uma parte remota do nordeste do Peru.

Fitólitos são fósseis de plantas microscópicas — Foto: Dolores Piperno/Smithsonian

Todos estavam a pelo menos 1 km de cursos de rios e várzeas, conhecidas como “zonas interfluviais”. Essas florestas representam mais de 90% da área territorial da Amazônia, portanto, estudá-las é fundamental para entender a influência indígena na paisagem como um todo.

Em cada camada de sedimento, cientistas procuraram fósseis de plantas microscópicas chamados fitólitos — registros minúsculos do que cresceu na floresta ao longo de milhares de anos.

“Encontramos muito poucos sinais de modificação humana ao longo de 5 mil anos”, disse Piperno.

“Portanto, acho que agora temos muitas evidências de que essas florestas próximas ao rio foram menos ocupadas e menos modificadas.”

Suzette Flantua, da Universidade de Bergen, é pesquisadora do projeto Humanos no Planeta Terra (Humans on Planet Earth, ou Hope). Segundo ela, este é um estudo importante sobre a história da influência humana sobre a biodiversidade na Amazônia.

“É como montar um quebra-cabeça de extensão enorme, onde estudos como este estão lentamente construindo evidências que apoiam ou contradizem a teoria de que a Amazônia de hoje é uma grande floresta secundária após milhares de anos de manejo humano”, disse ela. “Será fascinante ver qual lado do debate acabará tendo as evidências mais conclusivas.”

Pesquisadores coletaram amostras de solo da floresta tropical — Foto: Corine Vriesendorp

Cientistas afirmam que suas descobertas também ressaltam o valor do conhecimento indígena para ajudar a preservar a biodiversidade da Amazônia, por exemplo, orientando a seleção das melhores espécies para replantio e restauração.

“Os povos indígenas têm um conhecimento tremendo sobre sua floresta e seu meio ambiente”, disse Piperno, “e isso precisa ser incluído em nossos planos de conservação.”

Flantua concorda: “Quanto mais tempo esperamos, mais provável é que esse conhecimento se perca. Agora é a hora de integrar conhecimento e evidências e estabelecer um plano de gestão sustentável para a Amazônia”.

Fonte: G1

Grilagem de florestas públicas responde por um terço do desmatamento

 


Grilagem de florestas públicas responde por um terço do desmatamento

12.05.2021 • Notícias
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Sobrevoo durante operação de fiscalização contra o desmatamento no Pará. Foto: Vinícius Mendonça:/bama

Um novo estudo do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) mostra que a invasão de florestas públicas não destinadas impulsiona o desmatamento ilegal e as queimadas na região. No primeiro trimestre de 2021, um terço da derrubada registrada na Amazônia aconteceu nessas áreas, segundo dados do sistema Deter.

Um dos indícios da grilagem é o aumento do Cadastro Ambiental Rural (CAR) sobre essas florestas: a área pública declarada como imóvel rural particular aumentou 232% desde 2016, chegando a 18,6 milhões de hectares em 2020. É mais que três vezes o território do Distrito Federal e 32% de todas as florestas públicas não destinadas na Amazônia.

No primeiro trimestre de 2020, 75% do desmatamento registrado nessas áreas aconteceu onde existe CAR; em 2021, o índice foi para 79%. A quantidade de focos de calor também é superior, 2,2 vezes maior, nos terrenos declarados irregularmente como propriedade particular.

Os números reforçam a conexão entre invasão por particulares e derrubada da floresta. “Como o CAR é um registro eletrônico e autodeclarado, é frequentemente usado para simular uma titularidade da terra que não existe na realidade”, explica o pesquisador sênior do IPAM, Paulo Moutinho. “É uma grilagem institucionalizada, que usa sistemas oficiais para legitimar a invasão de um patrimônio natural coletivo e que deveria ser preservado.”

Ilegalidade

As florestas públicas não destinadas da Amazônia somam 57,5 milhões de hectares, uma área maior do que o território da Espanha e 14% do bioma. Espalhadas na região, elas são patrimônio público e deveriam ser designadas para conservação ou uso sustentável, como regra uma lei desde 2006. O atraso nesta destinação abre caminho para a grilagem.

A maior parte das florestas estão sob responsabilidade estadual (56%). Contudo, é naquelas de domínio federal que a grilagem mais avança, com 73% dos cadastros irregulares, ou 13,6 milhões de ha, em 2020, e 93% do desmatamento registrado no mesmo ano.

“O combate ao desmatamento ilegal na Amazônia começa nas florestas públicas. É preciso avaliar e cancelar imediatamente o CAR nessas áreas, sem prejudicar as comunidades tradicionais”, diz a diretora de Ciência do IPAM, Ane Alencar, principal autora do estudo.

O projeto de lei 510/2021, sobre regularização fundiária, atualmente em discussão no Senado, pode ter impacto direto sobre a situação dessas florestas. Se aprovado, ele pode anistiar ocupações realizadas até 2014, mas principalmente dar a indicação de que a grilagem vale a pena. “De tempos em tempos, as leis no Brasil são reformadas para acomodar irregularidades passadas. Esse é o tipo de incentivo positivo que a grilagem entende, e que precisamos combater”, afirma Moutinho. “Os impactos do desmatamento e do fogo para o clima são terríveis, assim como a redução de chuvas para o agronegócio. É hora de tratar as florestas como ativos, que precisam ser conservados.”

Leia o estudo completo.

Povos indígenas começam a sentir os efeitos da mudança do clima

 


Povos indígenas começam a sentir os efeitos da mudança do clima

09.06.2021 • Sem categoria
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Rio Itacoaí, na Terra Indígena Vale do Javari. Foto: Bruno Kelly

A alta na temperatura, uma das consequências do desmatamento, tem alterado o funcionamento da floresta amazônica e a vida dos povos que fazem do bioma a sua morada, especialmente a dos indígenas. O assunto foi o foco do episódio de estreia do segundo ciclo do Amazoniar, transmitido na última semana.

Segundo a presidente do Comitê Regional do IMC (Instituto de Mudanças Climáticas) e GCF (Comitê Regional para Parcerias com Povos Indígenas e Outras Populações Tradicionais), Francisca Arara, uma das convidadas do evento, os povos indígenas já sentem no dia a dia os efeitos das mudanças climáticas.

“Temos visto alagações inesperadas, que levam toda a plantação, pragas que acabam com a roça, além do aumento da temperatura, que afeta a produção e faz com que os animais desapareçam”, explica Arara.

A diretora do programa de água do Woodwell Climate Research Center, Márcia Macedo, destacou a importância da floresta para o processo de mudanças climáticas e o papel dos indígenas para a sua conservação. “As árvores armazenam uma grande quantidade de carbono, além de retirá-lo da atmosfera, e esses povos são muito eficazes em manter a floresta em pé e valorizar todos os seus serviços ecossistêmicos.”

Durante a transmissão, Macedo citou um estudo publicado em 2020 pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) que comprova que onde há mais demarcação de terras na América Latina e mais respeito aos direitos indígenas, menor é o desmatamento. “Essas florestas só existem hoje, na Amazônia, por conta da ação desses povos”, complementou.

Integrante do povo Shawãdawa, no estado do Acre, Arara explicou que a relação entre os indígenas e o meio ambiente é diferente. “Temos outro jeito de pensar o uso do nosso território, das nossas florestas. Procuramos preservar a biodiversidade como um todo”. Ela afirmou que para usar a terra há um plano de gestão territorial e ambiental. “Temos também o trabalho dos agentes agroflorestais indígenas, que ajudam no reflorestamento, cuidam das nascentes das águas e das matas ciliares, além das hortas medicinais e orgânicas.”

Macedo endossou o discurso e defendeu que é necessário, ainda, combater a narrativa de que povos/terras indígenas e a manutenção da floresta são barreiras para o progresso. “Além de ser uma questão de direitos humanos e de legalidade, ao desmatar, o processo de mudanças climáticas é acelerado e o setor agrícola, que precisa de chuvas, é afetado”, alertou a pesquisadora.

Como lembrete, Arara reforçou a importância da presença indígena em debates deliberativos e que se referem aos seus direitos. “Precisamos levar nossa voz, sermos ouvidos e respeitados, pois o tema nos afeta direta e indiretamente. Não é errado desenvolver, mas precisamos pensar como fazer uso da floresta de uma forma organizada”, ponderou.

Amazoniar

O projeto surgiu como um canal de diálogo global para discutir a Amazônia, dar visibilidade aos impactos sentidos pela floresta e refletir de que modo eles afetam as relações entre o Brasil e o mundo.

A nova temporada aborda as comunidades indígenas e suas perspectivas sobre os direitos humanos, a conservação florestal, a mudança do clima e o desenvolvimento sustentável da região amazônica.

As transmissões serão ao vivo, em português (com tradução para o inglês) e acontecerão duas vezes por mês. Confira o calendário dos próximos episódios e quais temas serão debatidos:

2 de Junho – Ep 07: Clima em mudança: os efeitos sobre os direitos dos indígenas da Amazônia.

17 de Junho – Ep 08: O papel dos povos indígenas na conservação da floresta.

1º de Julho – Ep 09: O que podemos aprender com as ciências tradicionais?

15 de Julho – Ep 10: Integração Pan-amazônica: inúmeras culturas em um só bioma.

Assista aos episódios anteriores

O primeiro ciclo temático da série focou nas relações comerciais entre Brasil e Europa. Você pode conferir todos os episódios no canal do IPAM no YouTube.


Pesquisa aponta que brasileiros não confiam no Estado para proteger a Amazônia