quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Um governo em chamas

por Samyra Crespo, especial para a Envolverde – 
 
Trabalhei quase uma década numa ONG do Rio de Janeiro, o ISER, dirigindo o Programa Meio Ambiente e Desenvolvimento, em dialogo constante com diferentes governos e cores partidárias.
Sempre, todo governo, seja de direita ou de esquerda, não gosta de crítica e reage mal, e a prática política mais minúscula – quase cotidiana – é desqualificar a crítica e o seu autor.

Ah, isto são dados chapa branca (sociedade e ONGs referindo-se a dados e estatísticas comunicados por governos). Ah, isso é coisa de ONGs e esquerdistas dizem os governos de direita. E a esquerda vai chamar de direitistas, oposicionistas, etc.

O que nos salva desse mútuo ataque a que somos submetidos é a transparência, a credibilidade não de instituições neutras (talvez não existam) mas confiáveis porque TODOS podem rastrear os dados e fazer suas próprias contas. Instituicoes com lastro científico. Elas existem e trabalham com protocolos internacionalmente aceitos. E melhor: tomar suas próprias decisões com base em procedimentos autônomos, sem interferência dos interesses políticos de curto prazo. Por isso a censura ou a manipulação de dados é tão odiosa. E deve ser temida por democratas.

A batida fala “A Amazônia é nossa” foi cantada e repetida por todos os governantes antes e agora por Bolsonaro. É de fácil apelo. É emotiva. Funciona em quase todas as direções.
Esses líderes (sic) sabem que a “consciência planetária” é incipiente quase no mundo todo. Coisa de verdes, de ambientalistas, de cientistas do IPCC (parece até facção criminosa). Eles não tem faro para o futuro. São animais do presente e seu amanhã é a próxima eleição.
Governos, com raras exceções, são medianos e conservadores. Se a sociedade não grita sempre optam pelo menor esforço.

Por isso movimento nas ruas é tão importante.

Por isso a imprensa livre e independente, fundamental. O governo quer sempre que você acredite que está fazendo muito, quando na realidade faz pouco ou se entrega à inércia.

Mas este governo, que plantou uma das piores safras de queimadas que já se viu, não agiu fazendo pouco ou entregando-se à inércia.

Foi copioso em ações intencionais e anunciadas: 

recusou sediar a COP do Clima, 

ameaçou sair do Acordo de Paris, 

nomeou um ministro que não tem credibilidade nem afinidade com a Pasta do Meio Ambiente, 

contingenciou os recursos para prevenção e combate aos incêndios e

desmobilizou o IBAMA.

Desautorizou os dados e indispôs-se com a ciência.

E mais “tocou fogo no mato” ao dizer inúmeras vezes que a Amazônia precisava ser desenvolvida e que as reservas indígenas ou federais seriam revistas.

Ele foi ativo. Ele acendeu o rastilho de pólvora e agora colhe os resultados funestos da fogueira – que repercute no mundo todo. Com resultados ainda não de todo previsíveis.

O que diferencia este governo dos demais é a completa FALTA DE DIÁLOGO entre os diversos agentes públicos e privados.

Quando trabalhei no MMA (de 2008 a meados de 2013) assisti inúmeras reuniões entre o INPE, técnicos do Ministério, IPAM e IMAZON (ambas ONGs seríssimas) para apresentar e debater os dados do desmatamento e das queimadas. Estes dados eram acompanhados pela propria Casa Civil. Uma performance inadequada era motivo de demissão sumária. De técnicos a ministros.

Izabella Teixeira (secretaria executiva em 2008 e depois ministra até 2014) costumava dizer que cada ministério tinha seu próprio pesadelo. O do MEC ocorria quando tinha que anunciar as taxas de analfabetismo e evasão escolar. O do MAPA (Agricultura) quando tinha que mostrar os dados das safras de grãos e alimentos. O do MMA eram as taxas de desmatamento. Nestas reuniões participavam o Ministério de Ciência e Tecnologia e também os preparadíssimos quadros do Itamaraty (agora afastados).

Nenhum governo é incensado por suas políticas ambientais. Esta área carrega tradicionalmente uma pauta negativa (os chamados passivos ambientais, acumulados historicamente) e pouco dinheiro.

Mas o Brasil, por sua importância estratégica – tanto no clima quanto na biodiversidade, saía-se bem pelo ESFORÇO DE CONSTRUÇÃO, pela seriedade, reconhecidos mundialmente.

Agora tudo isto está em risco.

Sem credibilidade, Salles e seu chefe, o Capitão Motosserra (autodenominação) estão deixando queimar, junto com a Amazônia, seu próprio governo imprudente.

E nós estamos indo às ruas e batendo panelas.

Não é só fumaça e fogo. É explosão.
Samyra Crespo 

é cientista social, ambientalista e pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins e coordenou durante 20 anos o estudo “O que os Brasileiros pensam do Meio Ambiente”.
(#Envolverde)
Este texto faz parte da série que publico semanalmente para o site ENVOLVERDE/CARTA CAPITAL sobre o ambientalismo brasileiro.

A água queima na Amazônia

por Dal Marcondes, especial para a Envolverde –

Pouco mais de 12% de toda a água doce de superfície escorre pela Amazônia. Há ainda aquíferos subterrâneos de grandes dimensões que se escondem sob suas matas, e sobre elas os rios voadores, que crescem sobre suas árvores e são bombeados para encher o pantanal brasileiro e o chaco boliviano e paraguaio, para depois fazer chover no Sul/Sudeste Brasileiro. Graças à combinação da imensa bomba d’água amazônica e a cordilheira do Andes a região de São Paulo/Paraná é uma das mais férteis do mundo. Em outros pontos do planeta, na mesma latitude de São Paulo/Paraná floresceram desertos. É o caso do Atacama, no Chile, o Kalahari, na África do Sul e o Deserto de Vitória na Austrália.
A floresta tropical da Amazônia é uma imensa bomba d’água que puxa umidade do Atlântico, circula essa umidade através da evapotranspiração das árvores e empurra a água em direção ao Sul através de Rios voadores. O desmatamento e o fogo retiram força dessa bomba d’água, reduzindo sua capacidade de oferecer os volumes de água necessários para o Pantanal e para o agronegócio pujante do Centro-Oeste e Sudeste do Brasil.

O que o Brasil, governo e sociedade precisam compreender é que o papel da Amazônia no desenvolvimento do país é muito maior através de seus serviços ambientais do que como terra de pecuária ou de madeira barata. O país se beneficia diretamente através do clima ameno e da rica economia das regiões ao Sul da Amazônia, onde se produz mais de 75% do Produto Interno Bruto do Brasil.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) oito unidades da federação concentram 77,8% da geração do PIB brasileiro: São Paulo (33,1%), Rio de Janeiro (10,8%), Minas Gerais (9,3%), Rio Grande do Sul (6,7%), Paraná (5,8%), Bahia (4,1%), Santa Catarina (4,0%) e Distrito Federal (4,0%). São justamente esses os Estados que recebem da Amazônia os serviços ambientais necessários para essa produção de riquezas.


Em contrapartida os estados da Amazônia Legal respondem por apenas 8,6% do PIB. Esse é um dado preocupante sob o ponto de vista do desenvolvimento social e da desigualdade. No entanto mostra, também, que os esforços para melhorar o desempenho econômico da região passam necessariamente por mais pesquisas e inovação em direção ao melhor aproveitamento da biodiversidade da região, considerada uma das mais importantes do mundo.

As práticas tradicionais de ocupação do território através do desmatamento, da criação extensiva de gado e da mineração não deixaram grandes dividendos. Há, sem dúvida experiências de sucesso, como o Polo Industrial de Manaus, que é um dos principais responsáveis pelo crescimento da grande metrópole manauara, e políticas públicas de desenvolvimento sustentável, principalmente no Pará, onde o Programa Municípios Verdes vêm dando bons resultados.

O economista Ignacy Sachs, um dos grandes pensadores de uma economia baseada na Biodiversidade afirmou quando da descoberta do petróleo no pré-sal, que o Brasil tinha recebido mais um presente do planeta e que os recursos da exploração do petróleo poderiam ser a grande alavanca de desenvolvimento para uma economia amazônica baseada em ciência e biotecnologias.  O investimento é necessário para a formação de cientistas e pesquisadores que se dediquem à formação de uma base de conhecimentos em biotecnologia e biodiversidade capaz de rivalizar com centros de excelência em outras áreas do conhecimento, como a NASA em questões espaciais e MIT em temas de inovação.
Fonte: Planeta Sustentável
Desmatar e queimar é uma opção pelo atraso que pode a curto prazo abrir espaço para barreiras ao comércio global brasileiro, mas a médio e longo prazos o dano será ainda maior, com reflexos no tempo de difícil recuperação. A destruição da capacidade de ofertar serviços ambientais pela floresta tropical da Amazônia vai impactar diretamente a economia do Sul/Sudeste, e de quebra, do Centro-Oeste, que sobrevivem graças às chuvas regulares e ao regime climático que os rios voadores garantem.


A Amazônia tem um papel global na discussão climática, no entanto quem vai pagar o maior preço por sua devastação será o Brasil e suas futuras gerações, com a perda da oportunidade histórica de ascender ao clube dos países desenvolvidos a partir de uma nova visão econômica e social baseada em ciência, biodiversidade e conhecimentos de populações tradicionais.
A economia tem uma visão de curto prazo, por isso cabe aos governos estabelecer compromissos com o futuro. (#Envolverde)

Liberação de cana na Amazônia joga contra as florestas e o etanol brasileiro

Liberação de cana na Amazônia joga contra as florestas e o etanol brasileiro



26 Março 2018   |   1 Comment
 
BRASÍLIA – A onda de retrocessos socioambientais promovida pela bancada ruralista durante o governo Temer é tão grande que agora ameaça o próprio setor produtivo. O Senado deve votar, nesta terça-feira (27), um projeto de lei que autoriza o cultivo de cana-de-açúcar na Amazônia Legal, proibido há oito anos. Se aprovado, o projeto será trágico para as florestas e também para a indústria de biocombustíveis do Brasil – que sofrerá um dano de imagem difícil de reparar num período crítico para o sucesso do etanol.

O Projeto de Lei do Senado nº 626/2011, do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), é antes de mais nada desnecessário para a indústria sucroalcooleira. O zoneamento da cana, aprovado por decreto em 2009, autoriza a expansão do cultivo em 70 milhões de hectares. Isso é dez vezes mais área do que a expansão projetada da lavoura até 2020. Portanto, não falta terra para plantar cana de forma sustentável.

Permitir o cultivo na Amazônia, mesmo que em áreas degradadas, significa acrescentar mais um motor ao desmatamento na região: a pecuária será empurrada para novas áreas para dar lugar à lavoura, estimulando a devastação onde hoje deveria haver aumento de produtividade. Toda a infraestrutura de processamento precisaria se instalar ali, o que aumenta a pressão sobre a floresta. Cria-se um problema onde hoje ele não existe, e sem nenhuma justificativa consistente.

Além do risco ambiental, a proposta também joga na lama a imagem dos biocombustíveis do Brasil. O zoneamento da cana, afinal, foi feito exatamente como resposta a ameaças de imposição de barreiras comerciais não-tarifárias às exportações de álcool do Brasil. Revertê-lo atesta a nossos compradores que o Brasil não é um país sério, já que é incapaz de manter uma salvaguarda ambiental num tema discutido com o setor e pacificado há quase uma década. Isso fez a União da Indústria Sucroalcooleira, a Unica, manifestar-se, em 2017, contrariamente à proposta.

Prejudicar a indústria dos biocombustíveis significa prejudicar também o clima. Além de ter sua meta no Acordo de Paris para o setor de energia baseada, entre outros, na produção sustentável do etanol, e viabilizada com a lei do RenovaBio, o Brasil também lidera esforços internacionais de desenvolvimento de biocombustíveis para a descarbonização rápida do setor de transportes. Essa liderança é ferida de morte pelo projeto de Flexa Ribeiro.

Já para nossos concorrentes, em especial os produtores de etanol de milho dos Estados Unidos, trata-se de uma grande notícia: o álcool brasileiro é mais barato e energeticamente muito mais eficiente, e tirá-lo de circulação é o sonho da concorrência – principalmente em tempos de escalada protecionista promovida pelo governo de Donald Trump.

O PLS 626/2011, pautado de surpresa no último dia 21, atende a alguns interesses privados e acaba beneficiando estrangeiros enquanto impõe graves ameaças à Amazônia e ao setor de biocombustíveis. Repudiamos qualquer tentativa de votá-lo em plenário. Em respeito aos interesses maiores do país, cabe ao presidente Michel Temer e ao presidente do Senado, Eunício Oliveira, darem a esse projeto de lei o único destino aceitável: o arquivamento.
 
ASSINAM ESTA NOTA:
Amazon Watch
Amigos da Terra Amazônia Brasileira
Associação Alternativa Terrazul
Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi)
Associação de Proteção a Ecossistemas Costeiros (Aprec)
Centro de Ação Comunitária (Cedac)
CI-Brasil – Conservação Internacional
Comissão Pró-Índio de São Paulo
Conselho Nacional das Populações Extrativistas - CNS
Ecoa – Ecologia e Ação
Engajamundo
Fórum da Amazônia Oriental (FAOR)
Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social
Fundação SOS Mata Atlântica
Fundación Avina
Gambá – Grupo Ambientalista da Bahia
Greenpeace
Rede GTA
Instituto BV-Rio
Idesam
Instituto Amazônia Solidária (IAMAS)
Instituto Centro de Vida (ICV)
Instituto ClimaInfo
Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia – Idesam
Instituto Ecoar
Instituto de Manejo Florestal e Certificação Agrícola (Imaflora)
Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé)
Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon)
Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB)
Instituto Socioambiental (ISA)
IPAM Amazônia
Laboratório de Gestão de Serviços Ambientais-UFMG
Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais
Observatório do Clima
Projeto Hospitais Saudáveis
Projeto Saúde e Alegria
Rede de Cooperação Amazônica (RCA)
Rede ODS Brasil
Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS)
SOS Pantanal
Uma Gota no Oceano
WRI Brasil
WWF-Brasil


Instituto alerta para ‘invasão’ de capital chinês por terras na Amazônia

 

Por Maurício Angelo, do Inesc – 
Entre 2012 e 2017, o PIB per capita da China cresceu 48% enquanto o brasileiro ficou estagnado. Esse crescimento potencializa a demanda chinesa por soja, milho e carne, entre outros produtos em que a China é um dos principais importadores, e aumenta o interesse estratégico em terras cultiváveis. Em 2016, o Brasil exportou US$ 37,4 bilhões em produtos para a China.
Para Song Yang, cônsul geral da China em São Paulo, “a China e o Brasil são altamente complementares”. A capacidade brasileira de entregar uma oferta estável de produtos em que a China tem escassez – como soja e produtos lácteos – faz com que os dois países sejam “irmãos gêmeos”. Na visão dos chineses, claro.
Em um investimento importante anunciado no fim de 2017, na esteira das várias aquisições de empresas brasileiras por chineses, o grupo chinês Citic Agri Fund Management comprou a operação de sementes de milho da Dow AgroSciences Sementes e Biotecnologia Brasil por US$ 1,1 bilhão.
A nova empresa, rebatizada de LP Sementes, já surge com cerca de 20% do mercado nacional de sementes de milho – terceira no ranking – e com planos ambiciosos para ir além. A Yuan LongPing High-tech Agriculture – subsidiária do Citic Agri Fund – é a líder de mercado de sementes na China e líder global de sementes de arroz híbrido. Com a compra, terá acesso total ao banco de germoplasma de milho brasileiro e à marca Morgan.
Os planos de expansão incluem a busca de novos mercados na América Latina e a promessa de trazer sementes de arroz híbrido para o Brasil. O gerente geral do fundo chinês, Shi Liang, não fez rodeios: “no Brasil, desejamos investir cada vez mais na biotecnologia, e estamos apenas no começo”, declarou. Hoje, a China já é o maior importador dos produtos agrícolas brasileiros, com 24,5% do total.
Em 2016, a Hunan Dakang Pasture Farming, unidade do grupo chinês Shanghai Pengxin Group, investiu cerca de US$ 200 milhões na aquisição de 57% das ações da trading e processadora de grãos brasileira Fiagril Ltda. O investimento tem como principal interesse a área de soja e milho e está localizado em Lucas do Rio Verde, Mato Grosso. “Isso marca a estratégia chinesa de compra de tradings menores no exterior com vistas a ter maior controle sobre o escoamento de produtos agrícolas, sobretudo grãos, para a China”, afirma o relatório “Investimentos Chineses no Brasil 2016” do Conselho Empresarial Brasil-China.
A soja brasileira, outro expoente do segmento, alcançou 50,9 milhões de toneladas exportadas para a China no acumulado de 2017, alta de 33,3% em relação a 2016. Em valores, a soja gerou receita de US$ 25,718 bilhões, alta de 34,1% em relação a 2016.
O Brasil é responsável por cerca de 60% das importações totais de soja pela China, o maior importador global do produto. No total, a safra 2016/2017 de soja brasileira chegou a 114 milhões de toneladas. Em um contexto mais amplo, o embarque total do agronegócio brasileiro para a China aumentou expressivos 577% de 2005 a 2016. Em nenhum outro mercado agrícola no qual o Brasil tem relevância como exportador há um grau de dependência tão elevado.
A carne bovina acompanha. Em 2016, a China importou 736.576 toneladas de carne – atrás apenas de Hong Kong – um total de 1,75 bilhão de dólares. Com um consumo ainda módico frente a outros países, o chinês come hoje 4,07 quilos de carne por habitante/ano. Mas a tendência é de inequívoco crescimento: entre os anos 2000 e 2017 a alta acumulada é de 39,3% ou cerca de 2,0% ao ano, em média. No total, o consumo per capita de carne chinês ultrapassou os 50 quilos anuais.
E o crescimento da população urbana no país, de cerca de 20 milhões de pessoas ao ano, reforça a tendência, já que moradores de cidades tendem a comer mais carne.
Não bastasse isso, a Ásia emergente está comendo mais carne de frango e de porco, e a soja que confere músculos às aves e suínos se espalhou pelas fazendas do planeta em ritmo mais rápido que o de qualquer outra safra, cobrindo área 28% maior do que a ocupada uma década atrás.
Nos próximos 10 anos, a soja terá área plantada superior a um bilhão de hectares (10 milhões de quilômetros quadrados) em todo o mundo, com expansão maior que a cevada, milho, arroz, sorgo e trigo, de acordo com projeções do Departamento da Agricultura dos Estados Unidos, mostra reportagem especial do Financial Times.
O jornal lembra que o triunfo da soja depende da China. As importações da safra pelo país triplicaram nos 10 últimos anos, para um total estimado em 93 milhões de toneladas no ano que vem, o equivalente a 66 quilos de soja por habitante/ano. Projeções mostram que esse número pode chegar a 121 milhões de toneladas de soja ao ano, dentro de uma década, mais de 30% acima do total atual.
Com o custo doméstico de produção de soja muito alto, a China produz somente 15 milhões de toneladas anuais. Sabiamente, a China proíbe o uso de soja geneticamente modificada em alimentos de consumo diário. Mas a restrição não se aplica à soja usada para ração animal e para a produção de óleo de cozinha, e por isso os insumos usados nessas atividades hoje vêm principalmente de safras estrangeiras com traços alterados por bioengenharia – do qual o Brasil é disparado o principal fornecedor.
Soja, carne e minério de ferro são os principais vetores de expansão da fronteira agromineral, desmatamento, conflitos fundiários e violência no campo, especialmente nos estados da Amazônia Legal e no Matopiba (fronteira entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
O rebanho bovino na Amazônia Legal saltou de 37 milhões de cabeças em 1995 – equivalente a 23% do total nacional – para 85 milhões em 2016, cerca de 40%. A pecuária para a criação de gado é a atividade que mais contribui para o desmatamento na Amazônia, ocupando 65% da área desmatada, afirma um estudo recente do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia).
Em 2016, o Brasil desmatou 7.893 km2 na Amazônia e, no ano anterior, 6.207 km2. A taxa ainda é muito mais alta do que a meta proposta pelo próprio governo, em 2009, de chegar a 3,5 mil km2 em 2020. Com isso, também fica em xeque a capacidade do país de cumprir sua parte no Acordo de Paris, compromisso global de redução de emissão de gases estufa: são mais 330 milhões de toneladas de CO2 emitidos pelo desmatamento em 2017, quando deveríamos reduzir de 36% a 39% essas emissões até 2020, em relação aos níveis de 1990.
Compra de terras por estrangeiros é ponto chave
Um fator preponderante que pode potencializar muito o apetite chinês para a produção agrícola no Brasil é a autorização da compra dessas terras por estrangeiros, hoje travado por um parecer de 2010 da Advocacia-Geral da União (AGU), que veta essas aquisições.
O governo Temer tem encaminhado um projeto que libera a compra de até 100 mil hectares de terras brasileiras por multinacionais – e esse total pode chegar a 200 mil hectares por meio de arrendamento. A expectativa era de que o projeto fosse votado ano passado, mas permanece na gaveta até o momento.
Para se ter uma ideia, 100 mil hectares correspondem a cerca de 1 mil quilômetros quadrados ou três vezes a área de uma cidade grande como Belo Horizonte. Atualmente, mais de três milhões de hectares de terras brasileiras já estão nas mãos de 20 grupos estrangeiros, uma média de 137 mil hectares por grupo, segundo dados da ONG canadense Grain.
Para Charles Tang, presidente da Câmara Brasil China, há grande interesse de investidores orientais pela compra de terras no Brasil para produção agrícola. Segundo ele, os chineses poderiam já ter investido cerca de 90 bilhões de dólares no país se fossem liberados para comprar terras. Entretanto, mesmo que a legislação permaneça como está, com restrições – muitas vezes burladas – o interesse dos chineses pelo agronegócio brasileiro é crescente e não deve diminuir. “Eles têm muito acesso a capital e mais de 1,3 bilhão de bocas para alimentar”, lembrou Tang, em referência à população chinesa.
Ao contrário do que pensa o senso comum, a China tem uma disponibilidade de terras aráveis e de recursos hídricos bem abaixo da média mundial, lembra o relatório “O Agronegócio Brasileiro: China e Comércio Internacional”, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Indicando cerca de 9,6 milhões de km de área, o censo mais recente das terras aráveis na China registrou cerca de 135,2 milhões de hectares de terras agrícolas, 14,3% do território nacional. Contudo, subtraindo-se as áreas reservadas para a restituição de florestas e pastagens, bem como os terrenos considerados impróprios (poluídos) para o cultivo, a extensão das terras realmente agricultáveis fica apenas pouco acima do nível mínimo defendido pelo governo, 120 milhões de hectares, o que equivale a menos de 0,1 hectare per capita, ou 40% da média mundial.
Esse percentual continua diminuindo devido à expansão rápida da urbanização, à degradação do solo, ao uso excessivo de fertilizantes, bem como por conta dos inúmeros problemas ambientais, tais como: inundações, erosão do solo e desertificação. Além disso, a população da China continuará a crescer até cerca de 2030. Com isso, estima-se que, em 2050, a demanda total de terras aráveis supere a oferta em mais de 12%. Além das restrições de terras próprias para o cultivo, a escassez e a poluição da água também podem limitar a produção de grãos no futuro.
Apesar de a China ser dotada da quarta maior oferta total de recursos hídricos no mundo, a quantidade per capita era de 2.059m em 2013, ou um quarto da média global. De acordo com a World Wildlife Fund (WWF), 13% dos lagos da China desapareceram nos últimos 40 anos, assim como metade de suas zonas úmidas costeiras. Entre as principais causas, podem-se citar: a grande demanda gerada pela agricultura, o processo de industrialização e urbanização, a distribuição desigual dos recursos hídricos e o alto nível de poluentes depostos nas reservas hídricas.
A falta de água já afeta seriamente a produção de grãos, em especial nas regiões áridas e semiáridas da planície do norte da China, área potencial para a expansão da produção de grãos no futuro. Além da escassez, problemas com o sistema de irrigação poderão complicar a capacidade produtiva do agronegócio, pois a China usa tanto os rios como os aquíferos subterrâneos para irrigar suas plantações. Metade das terras cultivadas é irrigada e produz cerca de 75% dos cereais e mais de 90% da produção de algodão, de frutas, de legumes e de outros produtos agrícolas. O Banco Mundial, no entanto, estima que, ao ritmo atual de exploração, os aquíferos no norte do país podem secar em menos de 30 anos.
As consequências disso e a busca chinesa por terras e recursos fora do seu país podem ser trágicas também para o Brasil. Por exemplo, na Amazônia brasileira, cada quilômetro de estrada legal aberta é frequentemente acompanhado por três quilômetros de estradas ilegais. Esse fluxo intensificado e mais rápido, por si só, já traz consequências terríveis para a flora e fauna nativas, além, claro, dos impactos socioambientais para as cidades e comunidades atingidas. Estima-se que o desmatamento da Amazônia aumentará 950 mil hectares até 2032 devido aos projetos rodoviários já em andamento.
Maurício Angelo é jornalista e escritor e participa do Inesc – Instituto de Estudos Socioeconômicos. (#Envolverde)

A revelação estarrecedora do general Villas Boas: “O rei da Noruega foi flagrado dentro da área Ianomâmi”

A revelação estarrecedora do general Villas Boas: “O rei da Noruega foi flagrado dentro da área Ianomâmi” (Veja o Vídeo)




O rei da Noruega certa feita veio ao Brasil silenciosamente, sem que ninguém soubesse ou fosse avisado, tudo isso por intermédio de um acordo sigiloso realizado por aquele país com o Ministério da Justiça, a Funai e o Ministério das Relações Exteriores.
O destino do rei em nosso país: uma área Ianomâmi na Amazônia.
Na época, quando o general Eduardo Villas Boas, que comandava o Exército na Amazônia, recebeu a informação sobre a presença de um rei naquele local, chegou a imaginar que se tratava de alguma ‘piada’ e até questionou o emissário da informação: “Você bateu a cabeça?”.Não! O sujeito não havia batido a cabeça. A informação era absolutamente verdadeira.
O rei não estava nu, mas estava lá entre os indígenas.
A revelação feita no programa de entrevista do jornalista Pedro Bial, na época nem foi muito comentada. Passou até despercebida...
Presentemente, vemos a gravidade do ocorrido e o verdadeiro atentado dos governos petistas contra a nossa soberania.
O PT foi o governo mais entreguista da história do Brasil.
da Redação