quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Seminário de Recuperação de Áreas Degradadas do Bioma Pantanal

 

Seminário de Recuperação de Áreas Degradadas do Bioma Pantanal

Há mais de duas décadas, a Sociedade Brasileira de Recuperação de Áreas Degradadas, pioneira no tema, se dedica a debater e estudar o assunto no Brasil. Em 2018, a SOBRADE criou uma série para explorar em profundidade cada um dos biomas brasileiros. Esse ano, excepcionalmente na modalidade on-line, é dedicado ao Pantanal.

O evento discutirá a problemática ambiental desse bioma e apontará medidas e alternativas para uma adequada gestão ambiental. Também contará com profissionais renomados na área e experientes  na região, buscando abranger as especificidades do tema.

Junte-se à nós, e conheça mais sobre as técnicas e práticas de recuperação ambiental do biodiverso Bioma do Pantanal.

Os participantes receberão certificados pela participação e as inscrições são limitadas.

Para inscrições acesse AQUI!

Confira a agenda do evento:

09/11 (segunda-feira)

14h00 – Abertura:  O papel da Sobrade na Recuperação Ambiental

Com Mauricio Balensiefer, presidente da Sobrade e professor na UFPR

14h20- Palestra: Fisionomias Florestais, Paisagens Físico-naturais, Referenciais para a Restauração da Biodiversidade

Com Geraldo Damasceno Júnior (UFMS) e Arnildo Pott (UFMS)  

15h20 – Palestra: Ocupação e Aspectos Socioculturais, Econômicos e Ambientais: Tendências e Perspectivas Futuras ao Bioma

Com Rafael Morais Chiaravalloti (Instituto de Pesquisas Ecológicas) e Domingos Sávio (UNEMAT)

16h20 – Intervalo 

16h35 – Palestra: Cenários de Uso do Solo, Serviços Ecossistêmicos e Inteligência Territorial

Com Angélica Guerra (UFMS), Flávia Araujo (WWF) e Fabio de Oliveira Roque (UFMS)

 17h45 – Palestra: Pantanal ameaçado: Vetores da degradação e Status da Gestão Ambiental

Com Silvia Santana – (LabuH (UCDBA), Clovis Vailant (Instituto Gaia) e Ricardo Valcarcel (UFFRJ e SOBRADE)

10/11 (terça-feira)

14h30 – Palestra: Pantanal como área de uso restrito desprotegida: relevância das salvaguardas socioambientais

Com Teodoro Irigaray (UFMT) e Dr. Luciano Furtado Loubet, promotor de Justiça do Mistério Público do Mato Gross

15h30 – Mesa redonda: Incêndios Florestais no Pantanal: Paradigmas do Uso do Fogo, Potencial e Limitações da Restauração Ecológica das Áreas Queimadas

Com a presença da equipe Técnica do Corpo de Bombeiros do Mato Grosso, tenente Coronel Leandro Arruda e Coronel Angelo P. Rabelo e Rodrigo Studart Corrêa (UNB)

17h00 – 17h15: Intervalo

17h15: Experiências e Estudos de Casos Empresariais/ Institucionais

Com Alexandre Ebert- SEMA/MT e Jonathan Gusso (RUMO Logística).

11/11 (quarta-feira)

14h30 – Palestra: Reabilitação/Restauração de Macrohabitats de Áreas Úmidas

Com Cátia Nunes da Cunha – (INCT- Áreas Úmidas/ UFMT) e Letícia Koutchin dos Reis (Doutoranda/UFMS)

15h45: Palestra: A Engenharia Natural e sua Aplicabilidade na Restauração de Ambientes Aquáticos

Com Fabricio Sutili (UFSM).

16h30: Intervalo

16h45:  Palestra: Restauração das Áreas de Nascentes e Cabeceiras

Com Ricardo Ribeiro Rodrigues- (LERF/LCB/ESALQ/USP) e Solange Ikeda (UNEMAT).

17h45: Palestra: Diversidade faunística Associada a Sistemas Produtivos e Conectividade: Corredores Ecológicos como Estratégia para a Conservação

Com Walfrido Tomas (Embrapa Pantanal)

12/11 (quinta-feira)

14h30 – Palestra: Invasões Biológicas: Conhecimento e Manejo

Com Sylvia Ziller (Instituto Horus)

15h15 – Palestra: SIG (Sistemas de Informação Geográfica) e Uso de Drones no Planejamento, Implantação e Monitoramento em PRADs

Com Gustavo Manzon Nunes (UFMT)        

16h15: Intervalo

16H30: Palestra: Áreas Protegidas/ Estrada Parque/ Dinâmica e Influência da Pesca

Com Thomaz Lipparelli – (LPAmbiental)

17h: Palestra: Status da Pesquisa, Perspectivas, Limitações e Desafios

Com Walfrido Tomas (Embrapa-Pantanal) e Leticia Couto Garcia (UFMS)

13/11 (sexta-feira)

14h30 – Mesa Redonda: Conhecimento Tradicional no Bioma: Agroecologia, Sistemas Agroflorestais/ILPF, Cultivo de Plantas Alimentícias não Convencionais e Produtos Florestais não Madeireiros

Com Ieda Maria Bortolotto (UFMS), Elenira Mendes (Instituto Via Chico Mendes), Mirjam Goring (Instituto Pantanal), Wagner dos Santos (Instituto Pantanal) e João Leôncio (Instituto Caianas).

16h30 –  Intervalo

16h45 – Palestra: Os rios voadores da Amazônia, mudanças climáticas e sua influência no Pantanal: perspectivas e oportunidades

Com Juarês Aumont (FURB) 

17h20 – Palestra: A década da restauração (ONU): como viabilizar as ações em campo, considerando o cenário econômico e político atual

Com Ricardo Ribeiro Rodrigues (LERF/LCB/ESALQ/USP)

18h – Sessão de encerramento

Fique atento

  • O evento é online e é obrigatório ter instalado no seu computador a plataforma ZOOM.
  • Seguiremos o horário de Brasília.
  • O acesso às palestras será enviado, no dia do evento, para o e-mail que foi cadastrado pelo participante.
  • O certificado será enviado por e-mail em até 10 dias, após a conclusão do evento.


Ficou alguma dúvida? Entre em contato conosco: cursos@sobrade.com.br

Para inscrições acesse AQUI!

Fonte: SOBRADE


Pássaros estão se chocando contra os edifícios da cidade de Nova York em número recorde

 

Pássaros estão se chocando contra os edifícios da cidade de Nova York em número recorde

Em caixas e em agasalhos, de bicicleta e metrô, os nova-iorquinos estão levando pássaros feridos ao único centro de reabilitação de animais silvestres da cidade.

Pássaros resgatados em uma unidade do centro Wild Bird Fund em Nova York, a única instalação de resgate e reabilitação de animais silvestres da cidade. Nos dias 2 e 3 de outubro, o centro recebeu uma quantidade recorde de aves que se feriram após se chocar contra o vidro durante a migração pela cidade.
FOTO DE JEFFERY JONES

Quando Genevieve Yue trouxe um pombo ferido ao Wild Bird Fund, centro de reabilitação de aves silvestres, em Manhattan, há alguns dias, ficou surpresa ao encontrar uma fila do lado de fora.

“Um casal na minha frente estava com um pássaro enrolado em um agasalho. Outras pessoas resgataram pássaros em caixas da Amazon. O meu levei em um saco de comida para viagem que tinha comprado”, contou ela. Um pedestre perguntou se aquela fila era para a sorveteria.

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Yue havia encontrado o pombo ferido na calçada em seu bairro Lower East Side e notou que o pássaro precisava de socorro. “Tenho grande afeição por pombos. Meu coração fica partido quando vejo pessoas tratando-os como pragas”, lamentou ela. Ela forrou o saco de papel com uma fralda extra de seu filho de dois anos, pegou carona em um Lyft e foi sentido norte até o Wild Bird Fund no Upper West Side.

É uma pequena operação sem fins lucrativos encarregada de atender toda a cidade de Nova York. “É como um pronto-socorro das aves”, conta Yue. “Nossas pequenas ambulâncias são basicamente sacos de compras de papel e caixas de sapatos.” Todos na fila sentiram uma conexão mútua por causa de seus pequenos resgates. “Começamos a conversar imediatamente. De onde veio o seu pássaro? E onde encontrou o seu? Quer ver o meu?’”

Ela não sabia na época que estava ocorrendo uma onda de colisões de aves em Nova York. Entre sexta-feira, 2 de outubro, e sábado, 3 de outubro, o Wild Bird Fund recebeu um recorde de 220 aves feridas, três quartos das quais eram pássaros migratórios incluindo a espécie Setophaga americana, a mariquita-de-mascarilha e muitas espécies de passeriformes.

Um chapim-de-cabeça-negra se esconde em um galho na “sala de preparação para soltura” do Wild Bird Fund, onde os pássaros mais saudáveis ficam pouco antes de estarem prontos para serem soltos. O recinto fica no porão do centro e recebe iluminação de lâmpadas solares durante o dia para imitar a luz natural. Há galhos vivos para os pássaros pousarem e larvas de bicho-da-farinha disponíveis para alimentação.
FOTO DE JEFFERY JONES
Tristan Higginbotham, reabilitador de aves silvestres do Wild Bird Fund, cuida de uma mariquita-de-mascarilha ferida. Estima-se que até um bilhão de aves morram anualmente nos Estados Unidos após bater em vidros durante a migração. No Wild Bird Fund, cerca de metade das aves se recuperam. A maioria das mortes é decorrente de concussões.
FOTO DE JEFFERY JONES

A migração anual de inverno de aves norte-americanas para o sul começou há algumas semanas e, com a migração, vêm sempre as colisões. Cientistas da Audubon, ONG da cidade de Nova York, estimam que até 240 mil aves morrem anualmente devido a colisões na cidade. Em todo o país, estima-se que a quantidade alcance a impressionante cifra de um bilhão.

Rita McMahon, fundadora e diretora executiva do Wild Bird Fund, afirma que as aves migratórias passam por Nova York (e Washington, D.C., Filadélfia, Boston e muitas outras grandes cidades da Costa Leste que compõem a rota de migração do Atlântico) e colidem com os vidros em edifícios. Luzes interiores atrás das janelas confundem as aves que migram à noite, perturbando sua capacidade de navegação e atraindo-as em direção à luz. Durante o dia, janelas refletem as árvores e o céu, criando um obstáculo invisível. Voar entre janelas de vidro é um campo minado para qualquer ave, mas a maioria das que se acidentam são “novatas”, afirma McMahon — têm menos de um ano de vida e nunca migraram por uma cidade.

A colisão de aves contra vidros não é um problema recente. E, apesar do número recorde de pássaros trazidos ao Wild Bird Fund no último fim de semana, não há nenhum indicativo de ter havido um agravamento em Nova York. Não significa que houve aumento nos acidentes com aves, explica McMahon. Na verdade, mais pessoas estão ajudando.

“Há maior conscientização sobre nosso trabalho. As pessoas vêm de muito longe, da periferia do Brooklyn ou de Rockaway Beach. Podem demorar duas horas para chegar até nós”, conta ela. “Se puser um pássaro no bolso ou em um saco de papel, poderá salvar a vida dele. Caso contrário, ele vai morrer de hipotermia na calçada.”

Desde abril, o centro tem acolhido mais animais feridos do que no mesmo período do ano passado. “Acredito que seja um lado positivo da covid. As pessoas estão valorizando mais a natureza. Estão mais atentas a aspectos que nunca haviam notado. É muito animador e reconfortante saber que os nova-iorquinos têm tamanha compaixão”, afirma ela.

O sabiá-de-óculos descansa em um galho dentro de um cesto macio —abrigo temporário para as aves em recuperação no Wild Bird Fund. A equipe geralmente utiliza cestos de roupa para abrigar seis pássaros em cada um. No último fim de semana, quando receberam um recorde de 222 pássaros feridos, uma única sala no centro continha 20 abrigos feitos desses cestos.
FOTO DE JEFFERY JONES

Um fim de semana especialmente ruim

McMahon e seus colegas aguardavam a chegada das aves. Funcionários e voluntários acompanham os relatórios do radar do birdcast.info, site que indica a passagem de migrações noturnas de aves. Observadores de pássaros utilizam o site para identificar oportunidades de avistamento; socorristas de pássaros o utilizam para localizar possíveis tragédias.

Na noite da quinta-feira, 1o de outubro, o radar previu uma migração de alta intensidade sobre todo o país. Calista McRae, patrulhadora voluntária de aves feridas e mortas na maioria das manhãs durante o ano, preparou sacos de papel (para aves feridas) e sacos plásticos de quase 4 litros (para as mortas).

“Quando cheguei ao primeiro prédio na manhã de sexta-feira, havia 30 aves caídas do lado, algumas vivas, outras mortas.” Ela contornou o prédio e encontrou mais 40. Ela passou várias horas na sexta-feira e no sábado recolhendo aves. Ao todo, recolheu 333 aves — 231 mortas e 102 feridas, que foram levadas ao Wild Bird Fund.

“Sabíamos que haveria muitas, mas não esperávamos tamanho extermínio”, afirma McMahon. O Wild Bird Fund publicou um apelo no Twitter, pedindo a voluntários para ajudar a transportar as aves à instalação. Um casal encheu o carro com 50 aves; uma mulher levou duas aves de bicicleta e quatro outras foram trazidas de metrô.

Higginbotham ri quando um pica-pau-mosqueado pula em sua cabeça. Higginbotham é reabilitadora de animais, uma dos 12 profissionais que atuam da organização sem fins lucrativos que cuida de aves feridas. Quando as aves chegam ao centro, os funcionários avaliam sua saúde e classificam a gravidade das lesões para posterior tratamento.
FOTO DE JEFFERY JONES

No Wild Bird Fund, os pacientes passam por uma triagem ao chegar. Cada ave é avaliada individualmente e a equipe as divide em categorias de acordo com a gravidade das lesões. Se uma ave começa a pular, é deixada na sala de “preparação para soltura”, onde pode voar, ficar empoleirada e é monitorada por 24 horas. Contudo a maioria das aves são mantidas em cestos de roupa feitos de pano, ficando entre seis e oito aves por cesto, onde há pequenos poleiros. No fim de semana passado, segundo McMahon, havia 20 cestos de roupa em uma única sala. Aves gravemente feridas são mantidas em incubadoras em uma sala silenciosa que serve como unidade de terapia intensiva.

Todas são alimentadas com larvas. As menores são ideais para que as aves não batam a cabeça com uma possível concussão ao tentar partir uma larva grande. No último fim de semana, as larvas no centro esgotaram e voluntários percorreram lojas de animais por toda a cidade, acabaram encontrando mais de trinta tonéis de larvas.

Das 220 aves que chegaram, 90 morreram ou foram sacrificadas. Mais de cem se recuperaram; muitas já foram soltas. Quando as aves se recuperam, voluntários as soltam no parque Prospect Park e em outros locais no Brooklyn, onde podem voar sentido sul — sobrevoando a água e longe da cidade. “Não sabemos o que acontece depois, mas se pudermos garantir que não passarão por mais nenhum edifício este ano, há mais chance de sobreviverem”, afirma McMahon.

Recolhendo aves mortas para evitar mais aves mortas

Em dezembro, a prefeitura de Nova York aprovou uma lei que determina que todo edifício recém-construído deve utilizar vidros à prova de aves. É uma boa medida, afirma McMahon, mas não se aplica aos prédios já existentes. Há vários que representam grandes riscos especialmente para as aves, como os prédios 3 e 4 do World Trade Center e, a um quarteirão de distância, o Brookfield Place. “É um centro espelhado muito convidativo para as aves”, afirma McMahon.

Colisões com vidros não são um problema exclusivo do centro da cidade: quase 45% das colisões ocorrem em prédios baixos, segundo a Audubon, ONG da cidade de Nova York.

É fácil e barato readequar construções que sejam seguras para as aves, ressalta McMahon. Embora algumas formas baratas de prevenção como a colocação de redes não sejam esteticamente agradáveis, outras estratégias comuns incluem adesivos em janelas, películas protetoras contra raios UV em janelas (invisíveis aos humanos, mas claramente visualizadas por diversas espécies de aves); e até cortinas simples. À noite, algo tão simples como apagar as luzes visíveis de fora do prédio pode ser uma medida eficaz, segundo a organização sem fins lucrativos American Bird Conservancy. Em edifícios novos, decisões sobre o tipo de vidro da janela, a posição e a quantidade de janelas e o estilo de iluminação externa podem fazer muita diferença.

Pássaro da espécie Setophaga pinus se alimenta de uma larva de bicho-da-farinha na sala de preparação para soltura. As larvas de bicho-da-farinha são o principal alimento das aves resgatadas no centro e assim, em 3 de outubro, quando as larvas esgotaram no centro, voluntários correram para procurar mais de trinta tonéis de larvas em lojas de animais da cidade de Nova York.
FOTO DE JEFFERY JONES

Reunir dados sobre acidentes com aves perto de um determinado edifício e entrar em contato com a administração sobre métodos de prevenção também são fatores importantes nessa equação, afirma McMahon. É o que motiva McRae a sair e recolher corpos de aves mortas pela manhã, registrando onde e quando foram encontradas.

“Se um proprietário de um prédio souber que seu prédio matou 350 pássaros no outono entre 6 e 9 da manhã — poderá refletir sobre como evitar isso”, é mais provável que uma abordagem assim deixe um impacto, diz ela.

Voluntariar-se para contar, recolher e resgatar aves feridas é uma ótima maneira de incentivar as pessoas a ajudar, especialmente em tempos tão turbulentos, afirma McMahon.

Yue, que resgatou o pombo, conta que sentiu um senso de propósito. Ela afirma que pratica o distanciamento social rigorosamente e, por isso, foi bom estar em um espaço público sem que a pandemia seja o assunto principal. “É como se estivéssemos todos em uma missão. Todos praticaram uma boa ação”, disse ela.

Após a entrada de seu pombo no centro de reabilitação, ela chorou atrás da máscara enquanto partia. “Foram vários sentimentos ao mesmo tempo. Fiquei comovida por encontrar um comportamento humano assim — ao ver um homem segurar um passarinho nas mãos — mas também me senti tão angustiada por existir tanta dor e sofrimento”, desabafa ela. “Foi uma espécie de libertação. Há tanta dor, mas também tanta dedicação.”

O pombo de Yue estava com a coluna quebrada e teve de ser sacrificado. Às vezes, “interromper o sofrimento é tudo o que está ao nosso alcance”, afirma McMahon, que cuidou pessoalmente do pássaro. O que Yue fez “foi um grande gesto”, afirmou ela.

Fonte: National Geographic Brasil

Cientistas pedem urgência no combate à extinção de anfíbios

 

Cientistas pedem urgência no combate à extinção de anfíbios

Um grupo de aproximadamente 50 cientistas pediu à comunidade internacional que tome medidas urgentes para evitar a extinção dos anfíbios, considerada um sinal da deterioração geral do ambiente.

No apelo publicado nesta sexta-feira (7) na revista “Science”, sob o título “Biodiversidade: Enfrentando as extinções dos anfíbios”, os especialistas defendem um investimento de US$ 400 milhões na conservação de várias espécies de batráquios – classe que inclui rãs, sapos e salamandras.

O objetivo do programa de cinco anos é recolher em lugares protegidos e zoológicos os anfíbios que correm maior risco de extinção.

Das 5.743 espécies de anfíbios conhecidas, um terço está em perigo de extinção, devido à mudança climática, perda de habitat, aumento na radiação ultravioleta que chega à Terra e contaminação por pesticidas. Desde 1980, pelo menos 122 espécies desapareceram.

Os anfíbios formam uma parte importante do ecossistema, já que comem insetos e são presas de animais de maior porte. Além disso, as secreções de sua pele interessam aos pesquisadores de remédios.

Os cientistas que assinam o apelo são de todas partes do mundo, mas principalmente dos Estados Unidos e países da América Latina, como o Brasil, México, Costa Rica, Panamá, Colômbia, Venezuela, Equador e Porto Rico. (Folha Online)

Dois quintos das plantas estão em risco de extinção, diz relatório

 

Dois quintos das plantas estão em risco de extinção, diz relatório

Uma das principais causas da extinção de plantas é a eliminação de habitats naturais. Fonte: GETTY IMAGES.

Os cientistas dizem que estão correndo contra o tempo para nomear e descrever novas plantas, antes que as espécies se extingam.

Plantas e fungos são promissores como medicamentos, combustíveis e alimentos do futuro, de acordo com o Royal Botanic Gardens, Kew.

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Mas as oportunidades para utilizar este “baú do tesouro de incrível diversidade” estão sendo perdidas conforme as espécies desaparecem, devido à destruição do habitat e às mudanças climáticas.

Novas estimativas sugerem que dois quintos das plantas do mundo estão em risco de extinção.

A avaliação da Situação Mundial das Plantas e Fungos é baseada em pesquisas de mais de 200 cientistas em 42 países.

O relatório foi divulgado no dia de uma cúpula das Nações Unidas, que pressionará por ações dos líderes mundiais para lidar com a perda de biodiversidade.

O número aumentado é parcialmente devido a avaliações mais rigorosas. Fonte: RBG, KEW.

Estamos vivendo em uma era de extinção, disse o diretor de ciência da Kew, Prof Alexandre Antonelli.

“É um quadro muito preocupante de risco e necessidade urgente de ação”, disse ele.

“Estamos perdendo a corrida contra o tempo porque as espécies estão desaparecendo mais rápido do que podemos encontrá-las e nomeá-las. Muitas delas podem conter pistas importantes para resolver alguns dos desafios mais urgentes da medicina e até mesmo talvez das pandemias emergentes e atuais que estamos vivendo hoje. “

O relatório revelou que apenas uma pequena proporção das espécies de plantas existentes são usadas como alimentos e biocombustíveis.

Mais de 7.000 plantas comestíveis têm potencial para safras futuras, mas apenas algumas são usadas para alimentar uma população mundial em crescimento.

E existem cerca de 2.500 plantas que poderiam fornecer energia para milhões em todo o mundo, enquanto apenas seis safras – milho, cana-de-açúcar, soja, óleo de palma, colza e trigo – geram a grande maioria dos biocombustíveis.

A Gundelia semelhante a um cardo pode ser frita ou deixada em conserva. Fonte: RBG, KEW.

O Dr. Colin Clubbe, chefe de ciência da conservação em Kew, disse à BBC News: “Atualmente estamos utilizando uma proporção tão pequena de plantas e fungos do mundo, seja para alimentos, remédios ou como combustível, ignorando o potencial tesouro de espécies selvagens que agora temos um maior conhecimento e técnicas para investigar para o bem da humanidade”.

Os cientistas estimam que o risco de extinção pode ser muito maior do que se pensava anteriormente, com uma estimativa de 140.000, ou 39,4% de plantas vasculares ameaçadas de extinção, em comparação com 21% em 2016.

Eles dizem que o aumento das estimativas se deve em parte a avaliações de conservação mais sofisticadas e precisas.

E estão pedindo que as avaliações de risco sejam feitas rapidamente, usando tecnologias como a inteligência artificial, e aumentem o financiamento para a conservação das plantas.

O Fonio é uma erva que cresce nas savanas da África Ocidental, usada como cultivo de cereais. Fonte: RBG, KEW.

A pesquisa descobriu que 723 plantas usadas para fins medicinais estão em risco de extinção, sendo a colheita excessiva um problema em algumas partes do mundo.

E 1.942 plantas e 1.886 fungos foram nomeados como novos para a ciência em 2019, incluindo espécies que podem ser valiosas como alimentos, bebidas, medicamentos ou fibras.

O relatório contém um capítulo sobre a flora do Reino Unido, que é mais bem estudada do que na maioria das partes do mundo.

No entanto, não há uma lista única de plantas com flores no Reino Unido e ainda mais incerteza sobre os fungos, com estimativas variando de 12.000 a 20.000.

Fonte: BBC News / Helen Briggs
Tradução: Redação Ambientebrasil / Maria Beatriz Ayello Leite
Para ler a reportagem original em inglês acesse:
https://www.bbc.com/news/science-environment-54344309

Por que os biomas brasileiros nunca estiveram tão ameaçados

 

Por que os biomas brasileiros nunca estiveram tão ameaçados

Com recordes de áreas degradadas nos últimos anos, ecossistemas do país dão sinais de que é urgente frear o desmatamento e preservar o que resta da nossa fauna e flora.

Biomas brasileiros estão mais ameaçados do que nunca (Foto: Felipe Dias/Unsplash)

Nos mais de 40 anos em que frequenta a Lagoa do Peri, localizada no sul da ilha de Florianópolis e conhecida por ser a maior lagoa de água doce da costa de Santa Catarina, o pescador Osni nunca havia visto tamanha estiagem. O rio que conecta a lagoa à casa da família, no alto de um morro por onde passam cachoeiras, está praticamente seco. Para sair de onde mora, Osni, que há alguns anos tornou a casa na lagoa sua residência permanente, precisa carregar a canoa por alguns metros de lodo até finalmente alcançar a água — são cerca de 20 minutos de remada até uma trilha que desemboca na estrada, que ele percorre de bicicleta.

Com pouco mais de 5 quilômetros de extensão e 11 metros de profundidade, a lagoa é cercada por vestígios de Mata Atlântica primária. Os cerca de 2 mil hectares que compõem o ecossistema são considerados unidade de conservação. Além da mata em regeneração, abriga animais típicos, como a lontra e o macaco-prego, e aves ameaçadas de extinção, caso da gralha azul. É fundamental também para o abastecimento de água de população da Ilha, atendendo entre 102 mil e 113 mil habitantes, principalmente nas regiões leste e sul.

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O desequilíbrio é preocupante. Em visitas técnicas, pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) já identificaram a morte de peixes, o aparecimento de gaivotas e gaviões que não fazem parte da fauna local e a proliferação de cianobactérias tóxicas. A proximidade com o Oceano Atlântico e a presença de um sangradouro entre o mar e a lagoa também aumentam o risco de que, se o processo de erosão continuar, a água salgada acabe contaminando a doce. Mas, além dos perigos locais, a situação na Lagoa do Peri serve de alerta para uma crise muito mais grave: os biomas brasileiros nunca estiveram tão ameaçados.

Segundo o primeiro Relatório Anual do Desmatamento do Brasil, divulgado no fim de maio pelo Map Biomas, o país perdeu em 2019 ao menos 1,2 milhão de hectares de vegetação nativa, área equivalente a oito vezes o município de São Paulo. Mais da metade (60%) de toda área desmatada está na Amazônia, com 770 mil hectares perdidos. No início de junho, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) constatou que entre agosto de 2018 e julho de 2019 foram desmatados 10.129 km² de floresta, área equivalente a mais de oito vezes a da cidade do Rio de Janeiro e maior índice desde 2008.

Mas a destruição também foi significativa no Cerrado (408,6 mil hectares), no Pantanal (16,5 mil hectares), na Caatinga (12,1 mil hectares) e na Mata Atlântica (10,6 mil hectares). Mesmo figurando como última da lista, a Mata Atlântica, bioma ameaçado desde o início do processo de colonização do país, teve um desmatamento significativo, com um crescimento de quase 30% entre 2018 e 2019 em relação ao ano anterior (2017-2018), de acordo com a Fundação SOS Mata Atlântica.

Os dados e o exemplo da situação da Lagoa do Peri evidenciam a gravidade de um efeito cascata generalizado da ameaça aos biomas brasileiros. “Pensar no estado de Santa Catarina não é só olhar para a Mata Atlântica. Ela está conectada com a Amazônia, por exemplo, não dá para pensar em uma coisa sem a outra”, explica o professor Lindberg Nascimento Júnior, do departamento de Geociências da UFSC. A bióloga Marlúcia Martins, pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, completa: “quando pensamos em respirar, beber água, comer e até se relacionar, precisamos lembrar que para cada uma dessas atividades existe algum serviço que os ecossistemas prestam.”

Caminho sem volta
Um bioma é o conjunto de ecossistemas animais e vegetais que têm um certo nível de homogeneidade ou características próximas entre si. No Brasil, há seis principais: segundo o IBGE, a Amazônia é o maior deles, ocupando 49,5% do território nacional; o Cerrado é o segundo mais extenso, correspondendo a 23,3% da área do país; em seguida vêm Mata Atlântica (13%) Caatinga (10,1%), Pampa (2,3%) e Pantanal (1,8%). Há ainda o Sistema Costeiro-Marinho, que ocupa 1,7% do território em sua parte continental (superpondo-se aos outros biomas).

Caatinga sofre degradação crônica mesmo em áreas sem desmatamento (Foto: Wikimedia Commons)

Embora possam ser separados conforme suas características, no fundo, todos estão interligados. Na questão das chuvas, por exemplo, tão importante quanto sistemas de ventos e nuvens nos oceanos é a trajetória da água pelos chamados “rios voadores”. Isso depende muito do equilíbrio dos biomas que abastecem a atmosfera com água — papel desempenhado especialmente pela Amazônia — e a retêm no solo.  É por isso que o desmatamento no norte tem efeito direto na estiagem do sul do país e, por sua vez, em ecossistemas locais.

É também nos biomas onde vivem bilhões de agentes polinizadores, como abelhas, vespas, formigas, moscas, borboletas, entre outros insetos. Esse conjunto das espécies que habitam sistemas, explica Martins, são fundamentais para a manutenção dos sistemas agrícolas. São eles que levam o pólen de um vegetal para outro, possibilitando reprodução e crescimento. Sem eles, o cultivo de soja, café, laranja e maçã, alguns dos principais produtos agrícolas do país, seria praticamente impossível, causando um grande prejuízo.

Um levantamento de 2019 da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos mostra que, em 2018, as culturas que dependeram desses agentes responderam por US$ 12 bilhões na economia brasileira. “O impacto da degradação de um bioma não é só ambiental, mas econômico”, explica Rubens Benini, líder da estratégia de restauração florestal da The Nature Conservancy (TNC) na América Latina. Desmatar a Amazônia, na visão do especialista, seria “matar a galinha dos ovos de ouro” do país.

“A curto prazo, o efeito negativo é termos nossa imagem internacional arranhada”, explica a pesquisadora do Emílio Goeldi. E isso já vem acontecendo: na última semana de junho, fundos internacionais de investidores, que gerenciam cerca de R$ 21 trilhões, cobraram do Brasil mais efetividade na área ambiental. “A médio prazo, precisaremos de um projeto de socorro. E, a longo prazo, perderemos a sustentabilidade natural, iremos à bancarrota, como muitas civilizações já foram, sem futuro mesmo para o agronegócio.”

É o que os especialistas chamam de tipping point, ponto a partir do qual um sistema não consegue mais se recuperar — em geral, estimado entre 20% e 25% de degradação. A Amazônia está hoje em 19%, segundo um artigo publicado em fevereiro de 2020 na revista Nature.

Como chegamos aqui
“A situação é mais grave do que parece”, diz Carlos Nobre, pesquisador aposentado do Inpe e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN). “Depois de grande sucesso nas políticas ambientais do país até 2012, voltamos a ter um aumento gradual no desmatamento, mas a partir de 2018 até o presente 2020 isso vem acontecendo com uma velocidade muito grande.”

Em junho, o sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou 1.034,4 km² de área com risco de ser desmatada. Esse número é o maior desde que o acompanhamento começou a ser feito, em 2015. No primeiro semestre deste ano, os alertas de desmatamento aumentaram 25% em comparação com o mesmo período de 2019, segundo o Inpe divulgou nesta sexta-feira (10).

Desmatamento na Amazônia (Foto: Ibama/Flickr)

Ao longo de 40 anos, principalmente a partir da Constituição de 1988, primeira a ter um capítulo específico para o meio ambiente e a impor o dever de defendê-lo e preservá-lo para gerações presentes e futuras, o Brasil vinha se posicionando bem nas questões ambientais, conforme avaliam os especialistas. Foram sendo criadas também leis e uma série de estruturas e aparatos para garantir que fossem cumpridas, como o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em 1989, e o próprio Ministério do Meio Ambiente, em 1992.

“Nos anos 1990, 1992, o Brasil liderou as discussões com o conceito de desenvolvimento sustentável, seguindo um tripé social, econômico e ambiental”, diz Benini, do TNC. Até 2012, foram instituídas também leis como a dos crimes ambientais, prevendo sanções penais e administrativas para atividades que prejudicam o meio ambiente, e a de unidades de conservação. O Estatuto das Cidades, de 2001, teve entre os objetivos permitir que o desenvolvimento dos municípios não ocorresse em detrimento do meio ambiente. 

Em 2012, porém, a situação começou a mudar. Um novo Código Florestal, mais permissivo que os anteriores, foi aprovado depois de cinco anos de discussões. De lá para cá, especialmente a partir de 2015, os índices foram aumentando gradualmente, até começarem a bater recorde atrás de recorde a partir de 2018. O que deu errado?

A primeira hipótese dos especialistas é a redução da fiscalização, que desde 2005 se tornou bastante rigorosa. Ainda que não prendessem diretamente os envolvidos, que em geral conseguiam escapar, os agentes capturavam e queimavam as ferramentas que eles deixavam para trás. “Os financiadores passaram a perder muito dinheiro com isso, pois o custo de cada trator daqueles [usados para derrubar árvores] é alto”, explica Nobre. Em 2019, no entanto, um dos principais órgãos fiscalizadores, o Ibama, teve o orçamento cortado em 24%. Com a redução das ações de controle, os criminosos ambientais voltaram a se sentir impunes.

O maior problema, concordam os estudiosos, foi a mudança drástica no discurso político, escancarado com a fala do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, durante a reunião ministerial de 22 de abril. Nas imagens divulgadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello, Salles falou sobre o que considerava ser uma oportunidade em meio à pandemia da Covid-19. Para ele, o governo deveria aproveitar o momento, em que o foco das notícias estava voltado para a saúde, e mudar regras que poderiam vir a ser questionadas na Justiça. “Precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos neste momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só se fala de Covid e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”, disse o ministro na ocasião.

“Está havendo um desmonte na estrutura nacional de proteção ao meio ambiente”, diz Marlúcia Martins. Esse desmonte, explica, vem ocorrendo com tentativas de rearranjos nas instituições que não poderiam ser feitos de forma “tão descarada”. “A legislação não pode ser tão alterada, mas todos os bons funcionários podem ser identificados, desautorizados e destituídos de suas funções”, diz. Um exemplo marcante foi a exoneração do chefe de fiscalização do Ibama e do responsável por operações contra crimes ambientais, que ocorreu em abril, após operações contra garimpos ilegais.

“O discurso adotado pelo Ministério do Meio Ambiente é como um sinal verde para o crime ambiental”, opina Nobre. “Por mais que a política ambiental do país tenha avançado muito, ela ganhou um ponto de vista conservador, no qual crescimento equivale a desenvolvimento econômico, colocando em xeque os recursos naturais”, completa o especialista da UFSC. “A natureza está hoje reduzida a ser fonte de recursos, não é exagero dizer que hoje o maior problema é político.”

Antes que seja tarde demais
Na tentativa de conter o desmatamento na Amazônia, o governo criou, em fevereiro, o Conselho Nacional da Amazônia Legal. Composto por militares e sem a participação de representantes do Ibama e da Fundação Nacional do Índio (Funai), o conselho não está atrelado ao Ministério do Meio Ambiente, e sim à vice-presidência da república, sob o comando do general da reserva Hamilton Mourão (PRTB). O objetivo é propor e acompanhar políticas públicas regionais, além de coordenar ações de prevenção, fiscalização e repressão a atos ilícitos.

Mas o conselho até o momento não teve o resultado esperado. Em entrevista à Agência Senado, a coordenadora do Observatório do Clima, Suely Vaz, criticou o modelo: as Forças Armadas, na sua visão, não substituem a atuação de agentes especializados na fiscalização e custam caro. “Manter até 2022, como o general Mourão está pretendendo, significa gastar R$ 60 milhões por mês só com os militares. Dois meses de ações, ou R$ 120 milhões, pagam o salário anual de 100 fiscais do Ibama. Esse é o déficit de fiscais para todo o Brasil”, disse. Procurados pela reportagem da GALILEU, tanto o Ministério do Meio Ambiente quanto a vice-presidência da república não retornaram as tentativas de contato.

Amazônia (Foto: Victor Caetano Andrade/Trends in Plant Science)

Para o especialista da RECN, a maioria das pessoas envolvidas com a causa ambiental está pessimista. “Não achamos que exército vai ganhar essa guerra [contra o desmatamento]”, diz Carlos Nobre. Para Benini, da TNC, é preciso tomar medidas efetivas o quanto antes. “Nem tudo está perdido, mas é importante agir agora, não é mais possível tapar o sol com a peneira”, opina.

A maior urgência é frear o desmatamento ilegal — o que é menos complicado do que parece, segundo os especialistas. “A curto prazo, precisamos acabar com o crime [99% do desmatamento é ilegal]. Isso não é difícil, os satélites veem na hora que está acontecendo. Leva de um a dois meses para desmatar fazendas de mil, 2 mil hectares, é facílimo achar o lugar da ilegalidade”, explica Nobre.

Mas a população também deve se atentar para a questão. Uma ferramenta de controle é praticar o consumo responsável, exigindo o certificado de origem dos produtos que consomem — hoje, cerca de 76% da carne produzida nas pastagens que tomam conta da Amazônia é destinada ao consumo interno, segundo Nobre. “Exigir o certificado de origem é dar uma vantagem para quem pratica a pecuária legal”, opina.

Afinal, por mais que pareçam imperceptíveis, as ações individuais têm impactos que não se limitam a proximidades geográficas. Assim como nos biomas, tudo está interligado. Por isso, não é exagero dizer que nossa própria sobrevivência depende da deles.

Fonte: Galileu


Fogo, grileiros e gado ameaçam terra de indígenas isolados que liderou desmatamento

 

Fogo, grileiros e gado ameaçam terra de indígenas isolados que liderou desmatamento

Em menos de três anos, 11% da terra indígena Ituna-Itatá foram desmatados. Quase todo o território que deveria ser protegido é sobreposto por registros feitos no Cadastro Ambiental Rural.

Sobrevoo pela Ituna-Itatá, em 2019, registra queimadas, desmatamento e campos para gado dentro da terra indígena

Terra indígena (TI) mais desmatada da Amazônia em 2019, a Ituna-Itatá concentra este ano mais de 600 focos de calor detectados pelo satélite S-NPP, monitorado pelo Inpe. Mais da metade desses focos foram registrados na primeira quinzena de outubro, em um processo de ocupação que envolve ainda esquemas de grilagem, criação e “lavagem” de gado.

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O território por onde o fogo avança vivencia uma investida sem precedentes de invasores não indígenas que pressionam toda a região do Médio Xingu, no Pará, afetando também outras terras indígenas nas proximidades, como as TIs Trincheira Bacajá, Cachoeira Seca e Apyterewa. Diferentemente desses outros territórios, a Ituna-Itatá abriga indígenas isolados, sobre os quais pouco se sabe, mas cuja presença foi descrita em dois pareceres técnicos da Fundação Nacional do Índio (Funai).

A Ituna-Itatá é uma terra indígena de 1.420 km² em fase de estudo e com restrição de uso, estágio que impede o ingresso e a permanência de pessoas sem autorização da Funai. No entanto, 94% dessa terra pública foi recentemente registrada no Cadastro Ambiental Rural (CAR) em nome de “proprietários” autodeclarados, segundo um levantamento realizado pelo Greenpeace.

O trânsito de forasteiros e a crescente pressão sobre o território faz com que esse grupo de indígenas precise se deslocar, afastando-se dos conflitos e também do contato.

“Os indígenas da região do Xingu, de vez em quando, trazem notícias sobre os grupos isolados que habitam a área. Em 2012, 2014, os relatos indicavam que estavam mais ao norte. Em 2016, os Asurini e os Araweté começam a relatar vestígios frequentes desses isolados um pouco mais ao sul da terra indígena. Esse conhecimento indígena sobre as dinâmicas territoriais desses grupos deve pautar as ações de monitoramento e fiscalização do Estado brasileiro”, considera Angela Kaxuyana, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).

Delimitada em portaria de 2011, como condicionante da hidrelétrica de Belo Monte, a TI fica localizada entre os municípios de Altamira, que teve um acréscimo substancial da população desde o início das obras da barragem, e Senador José Porfírio, que pode ser impactado pela instalação da maior mina de exploração de ouro a céu aberto da América Latina, empreendimento da empresa canadense Belo Sun.

O processo de ocupação da Ituna-Itatá por não indígenas começou a avançar em 2014, ainda no governo Dilma Rousseff. A partir de 2016, ano do início da operação de Belo Monte e do governo Michel Temer, avançaram os registros do CAR dentro da TI e também os índices de desmatamento.

“A pressão ali aumentou com o término das obras de Belo Monte, acho que por dois motivos: primeiro, pela disponibilidade de mão de obra oriunda do período de construção da usina; e segundo, porque os empresários da região, que estavam lucrando com atividades ligadas à obra, também acabaram ficando sem essa renda, voltando seus investimentos para atividades ilegais”, avalia um ex-servidor público que atuou na região e prefere não ser identificado.

Ocupação acelerada

Desde 2018, o Observatório De Olho no Xingu, da Rede Xingu +, monitora o desmatamento na Ituna-Itatá pelo sistema Sirad X. Entre janeiro de 2018 e setembro de 2020, foram detectados mais de 150 km² desmatados. Em menos de três anos, o desmatamento atingiu cerca de 11% do território.

Pelos dados do Prodes/Inpe, o desmatamento na TI se intensificou em 2017/2018 e explodiu em 2019, já no governo Jair Bolsonaro, apresentando um aumento de mais de 750%, em relação ao ano anterior. O período viu o desparecimento de 120 km² de cobertura florestal.

Com a realização de operações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), as taxas de desmatamento caíram no início deste ano, chegando a quase zero, em alguns meses. Agora, entre agosto e setembro, foi possível identificar pelo sistema Sirad X novos pontos de desmatamento, ainda pequenos. Mas, como a tendência de retirada de floresta na TI costuma crescer no final do ano – foi assim em 2018 e 2019 -, o reaparecimento de áreas desmatadas serve de alerta.

“Está havendo novos desmatamentos na região. Tem a abertura ainda de pequenas áreas, bem em um ramal que sai de um terreno na Ituna-Itatá e entra na terra indígena vizinha, a Koatinemo. No ano passado, a gente divulgou a abertura desse ramal, e, agora, estou vendo na imagem que os novos desmatamentos estão beirando esse ramal”, relata Thaise Rodrigues, analista de geoprocessamento do Observatório De Olho no Xingu. Além da TI Koatinemo, as pressões na Ituna-Itatá avançam também sobre a Trincheira Bacajá.

“Estão ocorrendo queimadas na Ituna-Itatá, tanto em propriedades que já haviam sido desmatadas há mais de um ano, acredito que para fazer uma limpeza do terreno, quanto em áreas que foram desmatadas no início do ano, acredito que para consolidar [a ocupação], porque são áreas em que ainda tinha sobrado muita vegetação, e agora, na imagem de setembro, eu estou vendo que colocaram fogo”, explica a analista da Rede Xingu+.

Queimadas e desmatamento dentro da Ituna-Itatá estão a reboque principalmente da especulação pela posse da terra e da invasão de atividades como a pecuária. Os pontos atuais de fogo na terra dos indígenas isolados muitas vezes coincidem com áreas desmatadas.
“Tem uma guerra ali pela regularização daqueles lotes, daquelas áreas invadidas. Como é autodeclaratório, a gente vê sobreposição de CAR, uma briga de facções que fazem vários cadastros, disputando aquele território”, diz o ex-servidor público.

O Cadastro Ambiental Rural (CAR) é um registro eletrônico da situação ambiental de imóveis rurais no país. Criado no âmbito do novo Código Florestal, em 2012, deveria servir para a regularização ambiental dessas propriedades, mas, pelo seu caráter autodeclaratório, por vezes é usado como instrumento para tentar validar a ocupação irregular de terras públicas.

Um levantamento feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR), divulgado em junho, identificou quase 10 mil registros no CAR sobrepostos a terras indígenas em diferentes fases de regularização ou com restrição de uso, em todo o país. O estado com mais casos do tipo é o Pará, com 2.325 registros, sendo 1.290 “propriedades” em TIs em processo de regularização e 1.035 em TIs com restrição de uso. 

Na Ituna-Itatá, até outubro, foram feitos 229 cadastros sobrepostos aos seus limites. Desses registros no CAR, 35,8% correspondem a áreas acima de mil hectares, o que indica que mais de um terço das sobreposições de terra são feitas por grandes proprietários e grileiros interessados na especulação de grandes terrenos, e não por pequenos posseiros.

A Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas) cancelou cadastros ambientais rurais sobrepostos à Terra Indígena Apyterewa recentemente. Questionado sobre a possibilidade de cancelamento de cadastros na Ituna-Itatá, Rodolpho Bastos, secretário adjunto de regularidade ambiental da Semas, informou que as ações de análise do CAR em TIs feitas pelo órgão são voltadas para terras indígenas regularizadas, o que não incluiria a Ituna-Itatá, ainda em fase de estudo. Bastos ressaltou que o CAR é um instrumento de regularização ambiental, e que a regularização fundiária de terras indígenas caberia à Funai e ao governo federal.

Pecuária abre caminho

O ciclo da grilagem na Ituna-Itatá se completa com a compra ou arrendamento de terra ocupada e desmatada para fazer pasto e criar gado. Em artigo publicado em junho deste ano, analistas ambientais que atuaram na região pelo Ibama citam que foram encontradas cerca de 2 mil cabeças de gado dentro da terra indígena. 

“O rebanho é comercializado por meio de guias de trânsito animal falsas ou enganosas, uma vez que é proibido aos frigoríficos adquirirem animais criados em áreas não autorizadas, o que inclui as áreas protegidas. As falsas declarações de origem do rebanho não oferecem garantias sobre o devido controle sanitário, o que, além de contribuir para o desmatamento, pode colocar em risco a saúde da população”, explicam os autores do artigo, entre os quais está Hugo Loss, ex-coordenador de operações de fiscalização do Ibama exonerado após realizar megaoperação contra crimes ambientais na região.

Para o Greenpeace, trata-se de prática de “lavagem de gado”. A ONG, em parceria com a Repórter Brasil, identificou “propriedades” na Ituna-Itatá registradas no CAR em nome de pessoas que vendem gado para outros pecuaristas que, por sua vez, comercializam os animais com grandes frigoríficos, como a Marfrig Global Foods, a Frigol e a JBS.

Em fevereiro, Edward Luz, conhecido como o “antropólogo dos ruralistas”, tentou impedir uma ação de retirada de gado realizada pelo Ibama na Ituna-Itatá. Ele dizia, em um vídeo-selfie, que estava fazendo cumprir ordem do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para que nenhum patrimônio da população fosse destruído. Luz acabou detido, mas foi solto horas depois.

Segundo o presidente da Associação dos Produtores Rurais e Agroindustrial do Vale do Bacajaí (Asprub), Pedro Ferreira do Nascimento, conhecido como Pedro Pintado, a Ituna-Itatá passou por cima de parte da Gleba Bacajaí, de propriedade do estado do Pará. Ele alega que a Asprub defende os produtores rurais que estavam na gleba antes de 2011, mas condena a presença de invasores posteriores à criação da TI.

“Tem parte da intenção da ‘reserva’ que os órgãos federais e os órgãos estaduais erraram e muito. Mas, em 80% da intenção de reserva, os órgãos federais fizeram a coisa certa, e quem tá lá dentro cometendo crimes, tá errado. Por isso que eu fui em Brasília pedir pra tirar 20%, recuar um pouco pra salvar pessoas que tinham direito lá dentro, o que ia evitar o esbulho que tá acontecendo agora”, defende Pedro Pintado.

Há ações de políticos e ruralistas que questionam a própria existência da Ituna-Itatá. Em projeto de decreto legislativo de março deste ano, o senador Zequinha Marinho (PSC-PA), que já foi vice-governador do Pará, tenta sustar portarias que restringem ingresso, locomoção e permanência de pessoas estranhas aos quadros da Funai na área da TI. No texto do projeto, o senador alega que “não há tribos isoladas na região” e que “sequer há um povo indígena ali habitando”. A matéria está na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal.

O InfoAmazonia questionou a Funai sobre o que tem sido feito pela Fundação para garantir a restrição de uso da Ituna-Itatá e proteger os indígenas isolados que lá estão. Em nota, o órgão informou que tem feito ações de proteção territorial na área em articulação com o Ibama, a Polícia Federal, o Centro Gestor e Operacional Ituna-Itatá do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) e a Secretaria de Segurança Pública do Pará. A nota diz ainda que a Funai está planejando uma série de expedições terrestres e sobrevoos no local, a fim de avançar na etapa de localização geográfica referente ao registro de povo indígena isolado na área.

Ao Ministério da Defesa, perguntamos por que não houve atuação preventiva da Operação Verde Brasil para evitar as queimadas na Terra Indígena Ituna-Itatá, considerando que, pelo ciclo do desmatamento, retiradas da floresta, como a registrada ano passado, costumam ser seguidas pelo fogo; e se haveria equipes da Operação atuando na TI para conter os focos de incêndio. Não houve resposta.

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Esta reportagem faz parte do Amazônia Sufocada, projeto especial do InfoAmazonia com o apoio do Rainforest Journalism Fund/Pulitzer Center.

Fonte: Deutsche Welle