sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Cientistas pedalam 400 km pela conservação do Cerrado

 IPAM Amazônia -

Cientistas pedalam 400 km pela conservação do Cerrado

27.09.2021  Notícias
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Registro do pedal na edição 2019 do TransCerrado. Foto: Janine Moraes

Uma expedição científica de bicicleta irá percorrer 400 quilômetros nas mais belas trilhas do Cerrado para falar sobre a prevenção de incêndios e a necessidade de conservação do bioma. Dois ciclistas do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) – um cientista e um engenheiro florestal – e um ciclista especialista em navegação saem de Brasília na quarta-feira, 29, em direção a Alto Paraíso de Goiás, no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Com chegada prevista para 5 de outubro, o projeto TransCerrado 2021 quer destacar a beleza única do bioma, seus recursos naturais e seu potencial de ecoturismo para essa e futuras gerações.

“Uma das melhores maneiras da gente preservar e conhecer o Cerrado é estando na estrada, a bordo de uma bicicleta, pois assim você interage com as pessoas que vivem nesse bioma. São elas que podem ajudar a promover o desenvolvimento sustentável da região”, diz Paulo Moutinho, cientista sênior e cofundador do IPAM. Paulo é um dos ciclistas que compõem a equipe. “A expectativa é reforçar a importância do Cerrado para os brasileiros e alertar, por meio da ciência, para se evitar as queimadas. Será uma expedição científica de bike.”

Paisagens e riquezas da fauna e da flora emaranhadas no Cerrado, além das histórias e as experiências que encontrarem nos locais, serão compartilhadas no Instagram @bike_transcerrado.

O TransCerrado teve sua primeira edição em 2019, quando mais de 700 quilômetros foram percorridos de bicicleta, de Goiás Velho até o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, falando sobre conservação e desenvolvimento de agricultura sustentável no Cerrado.

Sobrevoos confirmam que sul do Amazonas é a nova fronteira do desmatamento

 IPAM Amazônia -

Sobrevoos confirmam que sul do Amazonas é a nova fronteira do desmatamento

23.09.2021  Notícias
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Vista aérea de um desmatamento na Amazônia para expansão pecuária, em Lábrea, Amazonas. © Victor Moriyama/Amazônia em Chamas

Por cinco dias, entre 13 a 17 de setembro, a Aliança Amazônia em Chamas comprovou que o sul do Amazonas, o maior e mais conservado estado em meio à floresta, é a nova fronteira do desmatamento. “Essa região tem se destacado pelo avanço veloz do desmatamento, que adentra cada vez mais em territórios bem conservados e vitais para mitigar a crise climática e evitar o colapso da biodiversidade no planeta”, explica Cristiane Mazzetti, do Greenpeace, organização que compõe a aliança ao lado de Amazon Watch e Observatório do Clima.

Participaram da expedição pesquisadores, jornalistas e três artistas brasileiros — Rafael Cardoso (ator), Giovanna Lancellotti (atriz) e Vitão (cantor e compositor). A rota partia de Porto Velho, segundo município em quantidade de queimadas — com 2.700 focos, de 1º de janeiro a 18 de setembro, de acordo com dados do Inpe — e seguia até Lábrea, recordista em queimadas no país, com 2.946 focos no mesmo período. Depois de passar pela Terra Indígena Jacareúba (AM) e pelo Parque Nacional Mapinguari (AM e RO), foi possível observar extensas áreas desmatadas, de 1.550 a 2.450 hectares, equivalentes a 2.012 e 3.181 campos de futebol respectivamente, e que estão entre os cinco maiores desmatamentos do Amazonas.

Sob o governo Bolsonaro, o Amazonas superou Rondônia como o terceiro estado com o maior desmatamento, segundo o sistema Prodes, do Inpe. “Presenciamos a destruição da floresta em larga escala, incluindo grandes polígonos de desmatamentos, focos ativos de calor e pistas de pouso clandestinas. Em Porto Velho, avistamos grandes áreas para o cultivo de grãos, atividade que está se consolidando cada vez mais no norte de Rondônia e adentrou recentemente o sul do Amazonas, com plantio de soja em Humaitá”, conta Mazzetti, que acompanhou as atividades.

Na parte terrestre, a expedição passou por Candeias do Jamari, segundo município mais desmatado em Rondônia, entre agosto de 2020 e julho de 2021, ficando atrás apenas de Porto Velho. Lá, o grupo encontrou serrarias e muitos caminhões carregados de toras de árvores gigantes, além de gado pastando junto a áreas recém queimadas. “Vimos lado a lado todas as etapas do processo de desmatamento: a extração da madeira mais valiosa, o desmatamento e posterior queima da vegetação que fica secando ao sol para o plantio de pasto e o gado ocupando áreas que até pouco tempo eram cobertas pela floresta. É uma incongruência derrubar e queimar a floresta com o maior biodiversidade do mundo, para dar lugar a duas espécies: o gado e a grama”, diz Rômulo Batista, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil.

Nessa região, ficam duas Unidades de Conservação (UCs), a Flona Jacundá e a Estação Ecológica de Samuel, que já apresentam registros de invasão. Para os especialistas, a aprovação pelo governador Marcos Rocha do projeto de lei que reduziu em 80% os limites da reserva extrativista (Resex) Jaci-Paraná pode ter impulsionado as invasões às UCs. A Resex foi a Unidade de Conservação que mais queimou em Rondônia neste ano – situação deve se agravar ainda mais nos próximos meses.

Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), integrava o grupo e se surpreendeu com a ocupação indiscriminada de terras públicas. “Desmatar grandes áreas requer muito investimento em maquinário e logística, o que mostra que os invasores estão indo com tudo para cima das terras públicas e ocupando de forma indiscriminada e altamente capitalizada”, afirma. Segundo a pesquisadora, uma das maiores conhecedoras da dinâmica do fogo em florestas do país, outro ponto de destaque é que algumas áreas desmatadas nos anos anteriores estão abandonadas, sem nenhuma atividade agropecuária implementada. “Ou seja, estão usando o desmatamento para especular com terra pública”.

Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima, também acompanhou a expedição e destacou o impacto da perda da floresta. “Enquanto as demais nações se desenvolvem com menos carbono, o Brasil corre na contramão, apostando em desmatamento, que é sua principal fonte de emissão de gases de efeito estufa. Desmatamento, queimadas, grilagem e garimpo acontecem na ilegalidade, não geram desenvolvimento para a região nem distribuem riqueza para os povos da floresta. Estamos queimando o futuro a troco de nada.”

 



Cientistas alertam para a importância da recuperação de florestas degradadas

 IPAM Amazônia -

Cientistas alertam para a importância da recuperação de florestas degradadas

06.10.2021  Notícias
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Victor Moriyama/Amazônia em chamas

A área de floresta amazônica degradada por ação humana – com uso de fogo, corte seletivo de algumas espécies de árvores e deterioração de matas próximas de pastos e clareiras – já é superior à superfície totalmente desmatada. Os dados foram divulgados por pesquisadores no dia 2 de setembro na revista Nature. Para os cientistas, a degradação de florestas já é a principal responsável pelo empobrecimento socioambiental dos ecossistemas.

Como forma de combater as alterações do clima de maneira eficiente, o documento alerta para a necessidade da criação de políticas públicas focadas na regeneração dessas áreas degradadas e da ampliação do debate sobre o tema, especialmente, durante a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-26), a ser realizada em novembro de 2021 em Glasgow, na Escócia.

Entre os anos de 2003 e 2015, a emissão de carbono nas áreas degradadas atingiu 88% do valor emitido pelas áreas desmatadas no mesmo período. Como agravante para este cenário, as emissões de dióxido de carbono (CO2) causadas por áreas degradadas não são apenas imediatas. Florestas deterioradas podem emitir uma quantidade de gás carbônico superior à sua absorção durante anos, o que dificulta a quantificação de suas emissões.

Para a diretora de Ciência do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e coautora da carta, Ane Alencar, é preciso rever as decisões internacionais que tratam do combate às emissões de carbono. “Historicamente, os governos amazônicos têm tentado reduzir as emissões decorrentes do desmatamento por meio da fiscalização e de incentivos às boas práticas produtivas. No entanto, outras formas de emissão, como a degradação florestal, têm sido negligenciadas”, explica.

Vista do alto

Com o intuito de obter medições mais precisas a respeito da degradação ao longo do tempo, tanto em área quanto em emissão de gases de efeito estufa, os cientistas utilizaram uma combinação de análises de campo e uma série de dados de monitoramento em grande escala, obtidos por satélites. Dessa forma, foi possível desenvolver modelos mais realistas, capazes de contribuir com a preservação de outras diversas regiões, bem como guiar a tomada de decisão.

Segundo Alencar, “a melhoria do monitoramento por satélite e o aperfeiçoamento das técnicas de coleta em campo nos ajuda a ter resultados muito mais completos sobre o impacto de um distúrbio no processo de degradação. Podemos monitorar as emissões das florestas degradadas e relacionar esse mapeamento à incidência de incêndios e à perda de biodiversidade de maneira bem mais clara.”

Devido ao impacto em sua vegetação, florestas degradadas também se tornam mais vulneráveis a novos incêndios, sejam eles acidentais ou não. Por esse motivo, áreas degradadas também podem influenciar no processo de deterioração de outras áreas próximas, facilitando o avanço do desmatamento e o aumento das emissões de gases naquela região.



Com novos contratos, CONSERV soma 8.410 hectares protegidos

IPAM Amazônia -

Com novos contratos, CONSERV soma 8.410 hectares protegidos

28.05.2021  Notícias
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O programa CONSERV acaba de fechar dois novos contratos com produtores em Sapezal, em Mato Grosso. Com isso, são nove contratos que, somados, chegam a 8.410 hectares conservados com floresta em imóveis rurais no município.

O CONSERV é um mecanismo privado e de adesão voluntária que remunera financeiramente produtores rurais da Amazônia Legal que se comprometam a conservar a mata nativa que, por lei, poderia ser suprimida. Lançado em outubro de 2020, ele começou em Mato Grosso, mas tem potencial de ser expandido para toda a região.

De acordo com Jaime Muraro, um dos novos produtores rurais a aderir ao programa, os esforços para proteger a vegetação nativa são necessários tanto para a preservação da biodiversidade quanto do clima. “Mesmo quando chove bastante na nossa área, não há enchentes, pois a mata ciliar da região está bem preservada e absorve a água”, diz Muraro. “A floresta tem tudo a ver com isso, com a preservação do clima, com a manutenção do ciclo da água. Tudo isso é ponto positivo para nós.”

Segundo ele, o CONSERV chegou em boa hora, ao conciliar produção e conservação. “É assim que conseguiremos manter a floresta em pé. Não precisamos abrir novas áreas; já há muita terra por aí”, avalia Muraro.

O programa é resultado de três anos de estudo e diálogo com produtores, num esforço coordenado pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) em parceria com o Woodwell Climate Research Center e o EDF (Environmental Defense Fund).

Atualmente, a equipe técnica do CONSERV estuda outras áreas para o mecanismo operar. A previsão do IPAM é chegar a até 30 contratos em municípios pré-selecionados, englobando pelo menos 20 mil hectares.

Como o CONSERV funciona

De acordo com o Código Florestal, os imóveis rurais da Amazônia Legal devem preservar entre 35% e 80% de sua área na forma de reserva legal. O foco do CONSERV é a mata além desses percentuais.

Os proprietários rurais que escolhem participar recebem pagamentos semestrais pela manutenção da vegetação, após análise periódica da área contratada. A previsão do IPAM é chegar a até 30 contratos em municípios pré-selecionados, englobando pelo menos 20 mil hectares, nos próximos meses.

Nesta fase, o instituto vai testar o mecanismo de compensação em condições reais, a partir de doações dos governo da Noruega e dos Países Baixos. Aproximadamente R$ 24 milhões serão pagos aos produtores durante esta etapa. Com o modelo aprovado, a intenção é transformar o projeto em um sistema que possa contemplar diferentes fontes de recursos, incluindo aportes privados.

Só em Mato Grosso, os imóveis rurais guardam 7 milhões de hectares de vegetação nativa, que correspondem de 140 milhões a 910 milhões de toneladas de carbono estocado, e que por lei podem ser suprimidos.

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