quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Ecocimento


Ecocimento, artigo de Roberto Naime


artigo

[EcoDebate] Uma das áreas que mais suscita inovações tecnológicas na direção de melhores 
resultados na gestão ambiental e na busca de parâmetros de sustentabilidade é a construção civil.

Proporcionalmente às grandes e originais iniciativas, muito disseminadas e incentivadas, ocorre grande inviabilização e descarte de novas ideias ou concepções, que se mostram inviáveis.

Site Inovação Tecnológica registra recentemente, matéria denominada “Ecocimento promete casas construídas por bactérias”. Indicando que uma massa pesquisada, produzida pelas bactérias é misturada com areia e cinza de palha de arroz para produzir o ecocimento.

O site registra então que “Engenheiros europeus desenvolveram uma nova tecnologia para fabricar biocimento cuja grande estrela é um tipo comum de bactéria que vive no solo (Sporosarcina pasteurii), que é cultivada em uma mistura de ureia e nutrientes a uma temperatura de 30º C.”

Complementam que “Dentro dessa mistura, a bactéria começa a se desenvolver; elas basicamente aumentam de número. A bactéria precisa alcançar, uma certa quantidade a fim de produzir o cimento. Depois de cerca de três horas de fermentação, nossa mistura está pronta para uso,” explica Piero Tiano, líder do projeto Eco-Cement, que segundo informação do site Inovação Tecnológica, é um projeto financiado pela União Européia.

Pelo que se depreende e continua sendo informado pelo site, “antes de poder ser usado para fazer paredes, a mistura produzida pelas bactérias precisa ser misturada com areia, resíduos de cimento industrial reaproveitado e cinzas de casca de arroz, para então virar o ecocimento pronto para ser aplicado sobre os tijolos”. Registros indicam que a mistura se mostrou apropriada na construção de paredes cm tijolos, mas não par a funcionalidade de substituir concreto.


As transformações e processamentos do calcário para fabricação de cimento, são feitas em unidades industriais que exigem temperaturas de 1.400 a 1.500º C. Já o biocimento feito pelas bactérias é produzido a meros 30º C. Isto ocorre, porque é usado um processo biológico para ligar as partículas do cimento. Testes iniciais em pequena escala foram promissores, sendo o ecocimento adequado para a construção de paredes, mas não resistentes para substituir os usos do concreto tradicional.


As altas temperaturas de produção dos agregados tradicionais de cimento, que favorecem a formação de gases incentivadores do efeito estufa, podem ser substituídas por agregados que tenham por base carbonatos de magnésio em vez do tradicional carbonato de cálcio.


John Harrison, de Hobart, na Tasmânia (Austrália), segundo dados informados por comunicação na internet (www.recriarcomvoce.com.br), calcula que seu cimento alternativo, baseado em carbonato de magnésio em lugar de carbonato de cálcio, seja capaz de reduzir o ritmo de alteração climática sem sacrificar o estilo de vida moderno. É uma proposição ambiciosa. Harrison baseado em trabalhos próprios ou de terceiros, indica que o Protocolo de Kyoto errou ao presumir que as árvores eram a única coisa capaz de absorver o carbono presente no ar. Em lugar disso, o plano que ele propõe é substituir o ubíquo cimento Portland por uma substância que ele chama de “ecocimento”.

Esse material a base magnésio, diz, “pode ser mais barato de fabricar do que o cimento Portland, mais durável e além disso seria também capaz de acumular CO2”. O proponente, Harrison manifesta que caso o setor de construção invista nesta nova tecnologia, as cidades e seus subúrbios poderiam se transformar em mecanismos de absorção de dióxido de carbono, tão eficientes quanto a grama e matas naturais, que precedem eventos de urbanização.

A produção de cimento Portland gera um volume imenso de dióxido de carbono. Isso se deve em parte à grande quantidade de energia necessária para elevar as temperaturas dentro dos fornos de cimento aos 1.450°C necessários para processar o carbonato de cálcio. O cimento Portland tem cerca de dois séculos, e foi inventado de forma meio casual pelo operário Joseph Aspdin, que em 1824 obteve uma patente para “um aperfeiçoamento nos modos de produção de pedra artificial”. A mistura deflagra uma complexa reação química que forma cristais de hidrato de silicato de cálcio que endurece a mistura e propicia a execução das paredes.

O cimento Portland é fácil e barato de fabricar e imensamente versátil, se tornando o ingrediente básico tanto do concreto quanto da argamassa, os materiais básicos de construção de todas as cidades do planeta. Se estima que a cada ano, cerca de 2 bilhões de toneladas de cimento Portland sejam produzidas no mundo, um total de cerca de 250 quilos por habitante do planeta, aproximadamente. Para cada tonelada de cimento Portland que é produzida, se estima que cerca de uma tonelada de CO2 é lançada na atmosfera, contribuindo para o incremento do efeito estufa. Desta forma, somente a produção de cimento convencional, contribui com quase 10% das emissões de dióxido de carbono.

O site (www.recriarcomvoce.com.br) registra que os cimentos com base em magnésio foram desenvolvidos inicialmente em 1867, pelo francês Stanislas Sorel, que produziu cimento com uma combinação de óxido de magnésio e cloreto de magnésio. No entanto, as misturas que ele criou não resistiam a uma exposição longa à água sem perder a força. Posteriormente foram desenvolvidos avanços no processamento do cimento à base de magnésio.

Os ecocimentos divulgados do especialista Harrison, com base em carbonato de magnésio, têm estrutura química bastante similar à do cimento Portland, e são muito mais robustos do que o material criado por Sorel. De acordo com Harrison, o material proposto tem diversas vantagens ambientais. Seus fornos de produção exigem temperatura muito mais reduzida.

O carbonato de magnésio se converte facilmente em óxido de magnésio a temperaturas de cerca de 650°C. Isso significa que as emissões de dióxido de carbono que estejam relacionadas com a energia necessária para acionar os fornos são reduzidas a valores muito menores e menos comprometedores do que as exageradas emissões atualmente verificadas.

Ocorre de se evoluir em várias frentes na busca de melhores condições de obtenção de parâmetros de gestão ambiental e índices de sustentabilidade no setor da construção civil. E este fato deve ser bastante saudado por todas as partes interessadas e pela sociedade em geral.


Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambien
tal. Aposentado do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 31/10/2019

Ecocimento, artigo de Roberto Naime, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 31/10/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/10/31/ecocimento-artigo-de-roberto-naime/.

Fundação SOS Mata Atlântica participa de Congresso internacional de áreas protegidas 28/10/2019

Fundação SOS Mata Atlântica participa de Congresso internacional de áreas protegidas
28/10/2019


De 14 a 18 de outubro aconteceu, em Lima, no Peru, o III Congresso de Áreas Protegidas da América Latina e Caribe. Mais de 2.500 pessoas, de 38 países estiveram presentes no Congresso compartilhando desafios, oportunidades e soluções para o financiamento, a implementação e consolidação da rede de áreas protegidas existentes nos países latino-americanos, uma das regiões mais ricas em biodiversidades e serviços ambientais do planeta.
Congresso-Areas-Protegidas (2) Erika Guimarães, gerente de áreas protegidas da Fundação SOS Mata Atlântica esteve no Congresso a convite da Aliança Latinoamericana para o Fortalecimento das Áreas protegidas (ALFA) e da ONG Pronatura (do Mexico). Ela compartilhou os dados sobre as UCs municipais da Mata Atlântica, no evento “Meta 11 de Aichi – Cerrando brechas al 2020″.


Os dados apresentados são do estudo “ICMS Ecológico e as Unidades de Conservação Municipais da Mata Atlântica“.   Nele, a ONG traz informações fundamentais para o debate sobre valorização dos parques e reservas brasileiros. Entre   as conclusões do estudo, estão informações que comprovam como além de não impedir que as cidades se   desenvolvam economicamente, a proteção de uma determinada área e o recebimento do ICMS Ecológico pode ser  mais vantajoso para alguns municípios de baixa renda do que investir em outras atividades produtivas. Além disso, o estudo constatou que parques e reservas ambientais municipais são as áreas protegidas mais próximas de 65 milhões de brasileiros e responsáveis pela proteção de 17,3 milhões de hectares no bioma.


Por outro lado, segundo a ONG, apenas 25,8% (266) das UCs municipais da Mata Atlântica registradas nesse estudo estão inseridas no Cadastro Nacional de Unidades de Conservação (CNUC). E somente 35% das UCs municipais possuem algum tipo de informação nos websites das prefeituras e/ou estão registradas no CNUC, evidenciando o desafio de sistematizar informações a respeito delas.
O evento que contou com a participação de Erika teve como objetivo dar visibilidade aos esforços, desafios e oportunidades, assim como Congresso-Areas-Protegidas (1)favorecer a colaboração para o cumprimento da Meta 11 Aichi, da Convenção da Diversidade Biológica (CDB) – da qual o Brasil é signatário -, e que trata da proteção de amostras significativas dos ambientes terrestre e marinho dos países para assegurar a conservação da biodiversidade, a oferta de serviços ambientais e bem estar para a população.

Ao todo são 20 metas que devem ser implementadas até 2020. Algumas delas estão diretamente relacionadas à implementação e consolidação de Unidades de Conservação (UCs), como reduzir em pelo menos a metade e na medida do possível levar a perto de zero a taxa de perda de todos os habitats naturais, inclusive florestas, e a degradação e fragmentação terão sido reduzidas significativamente. Além disso, pelo menos 17% de áreas terrestres e de águas continentais e 10% de áreas marinhas e costeiras, especialmente áreas de especial importância para biodiversidade e serviços ecossistêmicos, terão sido conservados por meio de sistemas de áreas protegidas geridas de maneira efetiva e eqüitativa, ecologicamente representativas e satisfatoriamente interligadas e por outras medidas espaciais de conservação, e integradas em paisagens terrestres e marinhas mais amplas.


“Acreditamos na criação, gestão e valorização de parques e reservas como algumas das ações mais importantes para a conservação da Mata Atlântica. Isso porque esses espaços resguardam diversos serviços prestados pela natureza à sociedade. Além disso, elas ajudam no ordenamento territorial das cidades e tem se revelado uma excelente oportunidade de arrecadação de recursos e de desenvolvimento de negócios sustentáveis para as cidades,“ acredita Érika Guimarães.


Organizações da sociedade civil alertam para fragilização das Áreas Protegidas Brasileiras 28/10/2019

Organizações da sociedade civil alertam para fragilização das Áreas Protegidas Brasileiras
28/10/2019


Análise de decisões e declarações públicas do governo federal apontam claramente à fragilização das Áreas Protegidas e das autarquias que trabalham para sua implementação no país    


Durante o III Congresso de Áreas Protegidas da América Latina e Caribe, a Coalizão Pró-UCs – coletivo que reúne 10 organizações comprometidas com a valorização e defesa das Unidades de Conservação (UCs) da natureza –, com o apoio de 15 organizações brasileiras presentes no evento, denunciaram a fragilização das áreas protegidas no Brasil. A partir de análise sobre os primeiros 10 meses de gestão federal e com base em dados produzidos por instituições oficias, o manifesto alerta que o governo brasileiro tem demonstrado uma falta de compreensão da relevância e potencial das Unidades de Conservação (UCs), terras indígenas e demais Áreas Protegidas do País. Nesse período não apresentou propostas e avanços significativos nessa agenda, apesar das inúmeras oportunidades e potencialidades existentes. Veja o documento na íntegra.


O Congresso, também foi marcado pela ausência de protagonismo e baixa representação governamental do Brasil, enquanto, ministros e representantes de alto nível de diversos países estiveram presentes, apresentando seus compromissos de investimentos e boas práticas nessa agenda.
“Um patrimônio de todos os brasileiros, construído em décadas – com benefícios tão tangíveis como a oferta de energia e água e com papel relevante nas condições de vida na Terra – nunca esteve tão ameaçado como agora“, destaca um ponto do manifesto.

Segundo as organizações, o desmonte ambiental também ameaça o desenvolvimento econômico e social, e o bem-estar dos brasileiros e das futuras gerações em todo o planeta.

Dados que comprovam estas afirmações constam no estudo “Quanto vale o verde?”, que destaca a importância dessas áreas para atividades econômicas relevantes para o desenvolvimento do Brasil. Como exemplo, mais de quatro a cada 10 megawatts de energia gerada em usinas hidrelétricas, que respondem por 65% da eletricidade produzida no país dependem das áreas protegidas, além de, aproximadamente, um a cada quatro litros de água consumidos no Brasil.

A visitação nas Unidades de Conservação continua tendo grande destaque como elemento de dinamização econômica. Cerca de 17 milhões de visitantes foram registrados em 2016, com impacto sobre a economia estimado de até R$ 6 bilhões anuais. De acordo com estudo cada US$ 1 investido nas UCs pode gerar US$ 40 de retorno para a sociedade. Além dos benefícios ambientais, esses dados indicam a enorme contribuição econômica dessas áreas, reforçando a importância de que o Brasil garanta a efetividade das suas Áreas Protegidas e o cumprimento das políticas públicas associadas.

Entre as decisões e declarações do governo consideradas como ameaças estão a criação de um “grupo de trabalho” para a revisão geral dos limites e categorias das 334 áreas de proteção federais, em todo o país, feita sem justificativa técnica. Desde então, 67 alterações em UCs foram propostas;  o Fundo Amazônia, que não teve nenhum projeto aprovado em 2019, sendo que em 2018, R$ 191 milhões foram revertidos a 11 iniciativas. E por fim, os valores alocados para as ações ambientais no Plano Plurianual 2020-2023, de apenas R$ 2,2 bilhões. O orçamento da pasta ambiental figura historicamente entre os mais baixos da Esplanada e, em 2019, foi de apenas R$ 2,8 bilhões.

Além da Coalizão Pró-UC assinam o Manifesto: Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), Fundação SOS Mata Atlântica, Fundação Vitoria Amazônica, Instituto Curicaca, Instituto de Manejo e Certificação Florestal (Imaflora), Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Instituto Mapinguari, Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), Movimento Conservatio – Cultura de Áreas Protegidas, Rede Pró-UC, Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, The Nature Conservancy (TNC-Brasil)  e WWF-Brasil.


Sobre a Coalizão Pró-UC
A Coalizão Pró Unidades de Conservação da Natureza (Pró-UC) é uma rede de instituições da sociedade civil, que tem como objetivo promover, junto à sociedade, o que consideramos as melhores e mais eficientes formas de proteger e conservar o patrimônio natural brasileiro, para essa e as futuras gerações. Para tanto, promove a articulação entre os setores, o debate junto à sociedade e desenvolve estratégias para o fortalecimento das Unidades de Conservação (UCs) em todo o território nacional.


Integram a Coalizão, Conservação Internacional (CI-Brasil), Fundação Grupo Boticário para a Conservação da Natureza, Fundação SOS Mata Atlântica, Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (IMAFLORA), Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPE), Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Instituto Semeia, Rede Nacional Pró Unidades de Conservação, The Nature Conservancy (TNC), União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN-Brasil) e WWF-Brasil.

Ato “Finados Ambiental” defende a vida e o meio ambiente 30/10/2019

Ato “Finados Ambiental” defende a vida e o meio ambiente
30/10/2019


Ação destaca os impactos causados pelo desrespeito e descaso ambiental na vida da população     


Neste sábado (02/11), às 11h, organizações da sociedade civil realizam o ato “Finados Ambiental“. A ação é realizada em memória às vítimas de crimes ambientais e em respeito e solidariedade às suas famílias, às florestas, ao mar, aos rios, à política socioambiental, aos ativistas socioambientais e toda população brasileira. Todos estes sofrem diretamente com os crimes ambientais cotidianos no país e nas mãos de quem insiste em enxergar o meio ambiente como entrave, seja flexibilizando leis ou destruindo a natureza. Em São Paulo, o ato acontecerá no vão livre do Masp e contará com um cortejo fúnebre na Avenida Paulista, com faixas e cartazes com mensagens alusivas aos últimos acontecimentos nacionais.


Entre os pontos destacados, por exemplo, estão casos mais recentes, como o derramamento de óleo que atingiu mais de 260 pontos. O petróleo cru ainda degrada as praias, os manguezais e ambientes marinhos na região nordeste e altera a vida de populações que dependem do mar para sobreviver. Além disso, afeta diretamente todas as comunidades e empreendedores locais que realizam atividades voltadas ao turismo, podendo impactar a economia local e até aqueles mais distantes desta região por conta do risco deste óleo chegar na cadeia alimentar brasileira.

“Temos alguns exemplos mais marcantes de crimes ambientais. Mas neste ato também queremos destacar como o Brasil sofre diariamente com desastres ambientais. É um rio poluído por falta de saneamento, um parque desprotegido, uma área verde desmatada ilegalmente ou uma lei flexibilizada. Tudo isso não acontece de um dia para a noite. É construído a partir de cada tomada de decisão dos nossos governantes, de setores atrasados e pessoas mal-intencionadas“, afirma Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica.

Desastres no cotidiano
O ato marcará os quatro anos do crime ambiental ocorrido na cidade de Mariana (MG), em 5 de novembro de 2015, quando o rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, deixou 19 mortos com o vazamento de 43,7 milhões de m³ de lama de rejeitos. O desastre ainda impactou o rio Doce e alguns afluentes, modificando a vida de milhares de pessoas por falta d’água ou trabalho.
Há nove meses, uma barragem da empresa Vale também se rompeu em Brumadinho (MG), deixando mais de 250 mortos – 18 pessoas ainda estão desaparecidas. Na ocasião, 12,7 milhões de metros cúbicos de rejeito de mineração atingiram funcionários e moradores da região, além daqueles que tiveram sua vida totalmente alterada. Os rejeitos praticamente mataram o rio Paraopeba, fonte de água e trabalho para muitas pessoas da região.

Coincidência ou não, nesta terça (29), ficou definida para 5 de novembro a votação do relatório final do deputado Rogério Correia (PT-MG), relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara dos Deputados sobre Brumadinho. O texto pede indiciamento da Vale e da empresa alemã Tüv Süd por crime socioambiental e corrupção empresarial, além do indiciamento de 22 pessoas por homicídio doloso e lesão corporal dolosa.

Além disso, biomas como Pantanal e Amazônia têm sofrido com o aumento expressivo no número de queimadas em 2019 – e a região amazônica também teve expressivo crescimento do desmatamento nos últimos meses, o que facilita os incêndios florestais.

Outro ponto de alerta é a flexibilização das leis ambientais no Brasil. A gestão federal, que acaba de completar 300 dias de governo, não promoveu nenhum avanço positivo na política ambiental do País. A partir de uma análise de decisões e declarações públicas do governo federal, por exemplo, a Coalizão Pró-UC trouxe um alerta para uma clara fragilização das áreas protegidas brasileiras. Em um manifesto, o grupo destaca que o governo brasileiro tem demonstrado uma falta de compreensão da relevância e potencial das Unidades de Conservação (UCs), Terras Indígenas e demais Áreas Protegidas do País.

Neste sábado, além do cortejo fúnebre na Avenida Paulista, outras manifestações devem ocorrer pelo país. Divulgaremos novas confirmações em breve.

“Este ato simboliza um chamado para a sociedade em prol da vida e dos patrimônios naturais do Brasil, por um ambiente melhor, mais seguro e sadio para as pessoas. É um momento de urgência e precisamos da participação e engajamento de todos nessa luta. É da vida de todos que estamos falando“, convoca Marcia Hirota, diretora-executiva da Fundação SOS Mata Atlântica.
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Precisamos falar sobre os riscos que a mancha de óleo traz à população brasileira

Precisamos falar sobre os riscos que a mancha de óleo traz à população brasileira
 

22/10/2019


Por Marcia Hirota*
Um velho ditado diz que a gente só dá valor às coisas quando as perde. Será que estamos percebendo a grave situação que nosso país enfrenta com a tragédia ambiental em curso – e ainda sem sinal de trégua – do petróleo cru que avança por mais de 200 pontos em todo o litoral nordestino?

Não se trata de uma crise do Nordeste, mas sim de país e que todos devem se envolver. Lembremos das diversas mobilizações pela Amazônia no Brasil e mundo afora. As autoridades devem agir, no mínimo, sob o princípio da precaução, mas as escolhas e esforços governamentais ainda não parecem estar proporcionais ou surtindo os efeitos que a “Amazônia Azul” merece. Além disso, o tema ainda parece distante geográfica e prioritariamente da maioria da população do País, pois falta informações sobre o que de fato está em jogo. É disso que precisamos falar.

Este é um desastre em uma área de aproximadamente 2.000 quilômetros, quase um quarto da costa brasileira – a segunda maior da América Latina, com aproximadamente 8 mil quilômetros.

Ecossistemas, como manguezais e corais, foram afetados, assim como ambientes importantes para a vida das comunidades humanas que vivem no litoral, além do impacto às espécies marinhas.
Já são 900 toneladas de resíduos de óleo retiradas das praias nordestinas, segundo o governo federal.

Boa parte disso coletado por voluntários, muitos deles se colocando em risco ao não utilizar Equipamentos Individuais de Proteção (EPIs), ficando expostos a substâncias perigosas que podem trazer riscos à saúde humana. Além de alergia, este petróleo cru pode entrar na corrente sanguínea e, segundo especialistas, trazer danos ainda mais graves, como o câncer.

Um estudo feito pelo grupo ‘SEPAR-Prestige’ e liderado pelo pesquisador Jan-Paul Zock, do Centro de Pesquisa em Epidemiologia Ambiental (CREAL), constatou que pescadores que participaram da limpeza do derramamento de óleo do navio-petroleiro Prestige, realizado em novembro de 2002 na costa da Espanha, continuaram com problemas respiratórios cinco anos após o acidente. Outro estudo, desta vez sete anos após o desastre da plataforma de perfuração offshore Deepwater Horizon, no Golfo do México, nos Estados Unidos, em 2010, constatou que pessoas envolvidas nas operações de limpeza de derramamento de óleo sofrem alterações persistentes ou piora de suas funções hematológicas, hepáticas, pulmonares e cardíacas.

Se estamos falando da maior tragédia ambiental da costa brasileira em termos de extensão, mesmo que seja difícil saber a origem, punir os verdadeiros culpados e evitar os danos, é urgente mitigar os impactos atuais e analisar o que está por vir. É importante neste momento também alertar para o risco à população, inclusive para o uso das praias pelos banhistas.

Governadores de estados nordestinos cobram por ações estratégicas e não improvisadas por parte da União, além de mais esforços na busca por respostas. Impressiona a falta de informação e transparência para a sociedade. Apesar de a juíza Telma Machado, da 1ª Vara da Justiça Federal de Sergipe, ter considerado que a União implantou o PNC – em resposta a uma das ações do MPF –, questões fundamentais ainda se encontram sem resposta, mesmo depois de quase dois meses do início do derramamento de óleo.

Nos últimos dias, o Ministério Público Federal (MPF) moveu ações em diversos estados contra a omissão do governo federal, ordenando o recolhimento do óleo nas praias e a proteção de áreas sensíveis, assim como o acionamento do Plano Nacional de Contingência (PNC), que define ações, atores e ferramentas a serem utilizados em incidentes de poluição por óleo em águas. A Fundação SOS Mata Atlântica alerta e cobra do Ministério do Meio Ambiente, desde o surgimento do Plano, que hoje (22) completa seis anos, explicações para diversas lacunas e informações sobre sua implementação, mas nunca obteve resposta. Desde então, foram sucessivas demonstrações de que o Plano não vinha sendo implementado a contento, como agora.

Coincidência ou não, nesta terça o Exército brasileiro iniciou os trabalhos para limpeza das praias. No total, 5.000 soldados devem reforçar as ações no Nordeste. Mas, segundo o presidente em exercício, general Hamilton Mourão, a ação “serve para dar mais visibilidade às ações do governo”. Ele admitiu que a medida é uma resposta a críticas da opinião pública.

Para alguns especialistas, como o professor Ronaldo Francini-Filho, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), um país que quer explorar petróleo em mar profundo, como o Brasil pretende fazer, deve ter seu plano de contingência ainda mais preparado. Além disso, se estivesse funcionando, o comitê do PNC poderia contribuir para identificar novas tecnologias para a contenção de óleo com reuniões e estudos constantes. Em vez disso, como tem dito o biólogo e professor Clemente Coelho Junior, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, o país está correndo atrás do óleo e não tentando pará-lo. Uma fala do próprio presidente em exercício general Hamilton Mourão, desta segunda (21), reforça a falta de ações eficazes. “O máximo que a gente pode fazer, hoje, é ter gente capacitada para recolher esse óleo que chega nas praias, e é isso que nós estamos fazendo”, destacou ele.

O Brasil tem mapeadas, por exemplo, suas áreas litorâneas nas Cartas de Sensibilidade Ambiental a Derramamentos de Óleo, alguns estados conhecem as áreas mais sensíveis há mais de uma década. Além disso, quando o PNC foi finalizado, havia a previsão de um orçamento de R$ 1 bilhão para custeio das ações de resposta. Porém, o discurso de falta de recursos volta à cena como justificativa para inação do Ministério do Meio Ambiente diante do maior desastre com petróleo no litoral brasileiro.

Um oceano saudável reflete um planeta sustentável e é essencial para o nosso bem-estar e das gerações futuras. O mar nos fornece alimento, lazer e energia, além de ser imprescindível para a estabilidade climática. 50,7 milhões de pessoas vivem no litoral e 4 milhões de famílias dependem economicamente dos recursos marinhos. Pescadores, marisqueiras, jangadeiros, guias de turismo e toda uma cadeia produtiva pode ser afetada por este desastre. Representantes do setor de viagens, por exemplo, temem redução do turismo no Nordeste na temporada de verão que se aproxima.

Temos observado sucessivos crimes ambientais, retrocessos em matérias de regulação e proteção, um discurso do século passado que privilegia a exploração e cria oposição entre meio ambiente e desenvolvimento. Mas o risco em ficar de costas para todo o ativo ambiental nacional é enorme e a sociedade brasileira precisa resistir. É hora de uma nova narrativa para a Mata Atlântica, seus ambientes costeiros e para toda a agenda ambiental do país.


*Marcia Hirota é diretora executiva da Fundação SOS Mata Atlântica.