quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Finalmente uma alternativa verde para as garrafas PET

Finalmente uma alternativa verde para as garrafas PET

Finalmente uma alternativa verde para as garrafas PET
O "PET verde" superou as especificações do PET à base de petróleo. [Imagem: ChemSusChem/University of Groningen]
 
Poder econômico
O PET (sigla em inglês para tereftalato de polietileno) é um dos plásticos de maior sucesso comercial.
Ele é usado para fazer garrafas de bebidas gasosas porque ele tem excelentes propriedades de barreira, o que significa manter o gás lá dentro.

Contudo, sua pegada ambiental é enorme - o PET é feito à base de petróleo e é muito pouco reciclado. Infelizmente, ele é usado por indústrias poderosas - você já deve ter ouvido falar muito sobre o banimento de sacolas plásticas de supermercado, mas provavelmente não ouviu nada sobre banimento das garrafas PET.

Já é possível fabricar uma alternativa ao PET a partir de moléculas de furano de origem biológica. Mas, para polimerizar esses furanos, você precisa de catalisadores tóxicos e altas temperaturas, o que não melhora muito o balanço.

Agora, químicos da Universidade de Groningen, na Holanda, desenvolveram uma rota de polimerização baseada em enzimas, que torna essa alternativa ao PET realmente verde.

Bio-PET
O curioso é que a equipe não precisou desenvolver um novo catalisador enzimático: Eles encontraram um disponível no comércio que funcionou perfeitamente.

Os polímeros são feitos combinando furanos com monômeros lineares, sejam dióis alifáticos ou ésteres etílicos diacídicos. A enzima CALB (Candida antarctica lipase B) é uma lipase que quebra as ligações éster, mas a polimerização requer a criação dessas ligações. Isso pode parecer contra-intuitivo, mas não é: "Enzimas catalisam reações de equilíbrio, e nós simplesmente empurramos o equilíbrio para a formação de ligações éster," explicou a pesquisadora Katja Loos.

Ela conseguiu aumentar o teor de unidades aromáticas no poliéster a um ponto que excede as propriedades do PET à base de petróleo. A polimerização enzimática, portanto, parece ser uma alternativa viável à atual polimerização catalítica.

Os furanos, caracterizados por um anel aromático com quatro átomos de carbono e um átomo de oxigênio, podem ser produzidos a partir de açúcares derivados da biomassa e polimerizados para criar não um PET, mas um PEF (2,5-furanodicarboxilato de polietileno).

"Em nossos experimentos, usamos o éter como solvente, o que você não quer em um ambiente de fábrica. Mas, como o ponto de fusão dos furanos é bastante baixo, estamos confiantes de que a polimerização enzimática funcionará também em monômeros líquidos," disse Loos.

Alternativas verdes ao PET
Como a enzima CALB está comercialmente disponível, é surpreendente que ninguém tenha pensado em usá-la antes para criar um "bio-PET". A única explicação que Loos encontrou para isso foi que a maioria das linhas de produção de poliéster é voltada para o uso dessas reações clássicas, em vez da alternativa enzimática. E mudar uma linha de produção é caro.

"No entanto, nosso processo de polimerização enzimática seria ideal para novas empresas que trabalham com alternativas verdes ao PET," concluiu.
Bibliografia:

Furan-Based Copolyesters from Renewable Resources: Enzymatic Synthesis and Properties
Dina Maniar, Yi Jiang, Albert J.J. Woortman, Jur van Dijken, Katja Loos
ChemSusChem

Folhas artificiais na natureza

Folhas artificiais poderão finalmente sair dos laboratórios
Na folha artificial bioinspirada, o CO2 (bolas vermelhas e pretas) entra na folha quando a água (bolas brancas e vermelhas) evapora do fundo da folha. Um fotossistema artificial (círculo roxo no centro da folha), feito de um absorvedor de luz revestido com catalisadores, converte CO2 em CO e quebra as moléculas de água (mostradas como bolas vermelhas duplas) usando a luz solar. [Imagem: Meenesh Singh]
 

Folhas artificiais na natureza
Pesquisadores da Universidade de Illinois, nos EUA, propuseram uma solução que pode trazer as folhas artificiais para fora dos laboratórios.

Eles criaram uma folha artificial biomimética que absorve o dióxido de carbono (CO2) do ar com uma eficiência pelo menos 10 vezes maior do que as folhas naturais, e então converte o gás de efeito estufa em combustível.

Folhas artificiais são dispositivos projetados para imitar a fotossíntese, o processo pelo qual as plantas usam a água e o dióxido de carbono do ar para produzir carboidratos usando a energia solar.
Contudo, mesmo as folhas artificiais de última geração, que prometem reduzir o dióxido de carbono da atmosfera, só funcionam em laboratório porque só conseguem absorver dióxido de carbono ultrapuro, obtido em tanques pressurizados, mas não no ar ambiente.


Funcionamento da folha artificial
Meenesh Singh e Aditya Prajapati propuseram resolver esse problema encapsulando uma folha artificial tradicional dentro de uma cápsula transparente feita de uma membrana semipermeável de resina de amônia quaternária preenchida com água.

A membrana permite que a água do interior evapore quando aquecida pela luz solar. À medida que a água passa pela membrana, ela retira seletivamente o dióxido de carbono do ar.

A unidade fotossintética artificial dentro da cápsula é composta por um absorvedor de luz revestido com catalisadores, que convertem o dióxido de carbono em monóxido de carbono, que pode então ser coletado e usado como base para a criação de vários combustíveis sintéticos. Também se produz oxigênio, que pode ser coletado ou liberado no meio ambiente.

"Envelopando a tecnologia tradicional de folhas artificiais dentro dessa membrana especializada, a unidade inteira é capaz de funcionar do lado de fora, como uma folha natural," disse Singh.
Folhas artificiais poderão finalmente sair dos laboratórios
Estrutura da folha artificial. [Imagem: Aditya Prajapati/Meenesh R. Singh]


Árvore artificial
De acordo com os cálculos da dupla, 360 folhas artificiais, cada uma com 1,7 metro de comprimento e 0,2 metro de largura, produziriam cerca de meia tonelada de monóxido de carbono por dia, que poderia ser usado como base para combustíveis sintéticos. Cobrindo uma área de 500 metros quadrados, em um dia essas 360 folhas artificiais seriam capazes de reduzir os níveis de dióxido de carbono em 10% no ar circundante em um raio de 100 metros da "árvore artificial".

"Nosso projeto conceitual utiliza materiais e tecnologia prontamente disponíveis que, quando combinados, podem produzir uma folha artificial pronta para ser implantada fora do laboratório, onde pode desempenhar um papel significativo na redução de gases de efeito estufa na atmosfera," disse Singh.

Um inconveniente do projeto é o uso da amônia quaternária, que é um composto altamente tóxico, embora seja largamente utilizado pela indústria como desinfetante.
 

Bibliografia:

Assessment of Artificial Photosynthetic Systems for Integrated Carbon Capture and Conversion
Aditya Prajapati, Meenesh R. Singh
Sustainable Chemistry & Engineering
DOI: 10.1021/acssuschemeng.8b04969

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Espécie de macaco recém-descoberta já corre risco de extinção

A nova espécie, que existe apenas no município de Alta Floresta (MT), foi descrita em pesquisa lançada em janeiro e está ameaçada pela perda de habitat

Coloração amarela clara no cabelo das bochechas, contrastando com o cabelo castanho avermelhado brilhante nas laterais do rosto, coroa cinza e barriga vermelho-marrom brilhante. Assim é descrita a nova espécie de macaco da família Callicebinae, popularmente conhecida como Titi, no artigo científico publicado na revista Science Direct em janeiro deste ano.

Nova espécie faz parte do gênero Callicebus, como o da foto, mas possui características morfológicas únicas. © Valdemir Cunha / Greenpeace
A espécie, batizada de Plecturocebus Byrne, é encontrada apenas no município de Alta Floresta, no Mato Grosso, e, infelizmente, já foi classificada como criticamente ameaçada. A classificação é a última na escala da lista vermelha de espécies ameaçadas da International Union for Conservation of Nature’s (IUCN) antes que uma espécie seja definitivamente considerada extinta na natureza.


De acordo com o artigo, a principal ameaça para a espécie é a perda de seu habitat. Os pesquisadores estimam que em 24 anos 86% de seu habitat natural terá sido destruído, caso o desmatamento não pare de avançar na região

A cidade de Alta Floresta fica no norte do Mato Grosso e é famosa por dois motivos: por ser a porta de entrada de um dos mais cobiçados destinos de pesca esportiva do país e por sua produção pecuarista.

Em destaque, no centro do mapa, o município de Alta Floresta (MT). 
As manchas vermelhas representam o desmatamento acumulado.
Ao invés de aproveitar todo o potencial turístico da região, a cidade foi crescendo baseada no agronegócio e, hoje, tem literalmente mais bois do que habitantes – são 15 cabeças de gado para cada habitante da cidade, segundo dados do SIDRA – IBGE.

O desmatamento tem um impacto brutal e imediato na vida das espécies que dependem diretamente das florestas para viver. Mas também impacta o futuro de espécies mundo afora, devido ao agravamento dos efeitos das mudanças climáticas, já que, no Brasil, o desmatamento é a principal fonte de emissões de gases do efeito estufa. Uma pequena cidade da Rússia, por exemplo, foi invadida por ursos polaresfamintos que perderam seus locais de sobrevivência graças a diminuição do gelo polar.

A forma como a Amazônia vem sendo desmatada coloca todos em risco, até nós mesmos. Isso precisa mudar. Por isso, pedimos que o novo governo brasileiro se comprometa com o que consideramos o mínimo para garantir que o desmatamento não volte a avançar no Brasil.
(#Envolverde)

5 plantas que funcionam como repelentes naturais

 Mayra Rosa


Ter uma horta caseira é algo muito prazeroso e que traz inúmeros benefícios. No entanto, o pacote também inclui alguns percalços, como os insetos, atraídos por alguns tipos de cultivos. Para ajudar a minimizar este problema, o CicloVivo separou uma lista com cinco plantas que ajudam a manter os insetos longe de casa:


Citronela
Esta planta medicinal é um dos repelentes naturais mais famosos. Mesmo quando está no jardim, ela ajuda a manter moscas, mosquitos e formigas distantes. O ideal é que ela esteja plantada no caminho do vento, para espalhar o cheiro e aumentar a eficácia.


Outro jeito interessante de usar essa planta é criar uma solução com água. Basta usar as folhas como se fosse fazer um chá. O líquido pode ser passado no corpo ou usado para limpar chão e janelas. O cheiro é agradável aos humanos e odiado pelos insetos.

Foto: ©iStock/Banprik Lavanda
As lavandas são pequenos arbustos, que podem ser plantados em vasos e usados como decoração ou para aromatizar ambientes. Além dessas utilidades e de ter uma flor muito bonita, a lavanda também ajuda a espantar os mosquitos naturalmente.

Foto: ©iStock/Anskuw Manjericão
Assim como outras plantas de cheiro forte, o manjericão também é eficiente para afastar insetos. Além do plantio, ele também pode ser transformado em uma solução repelente. Para isso, faça um chá com as folhas, usando 120 ml de água. Depois, coe a mistura e acrescente 120 ml de vodka. Essa solução pode ser borrifada sobre as plantas.

Foto: ©iStock/MargoeEdwards
Crisântemo
O crisântemo possui piretrina, uma espécie de inseticida natural. A substância repele os mosquitos e outros insetos, como: baratas, besouros e moscas. Para usá-lo como repelente natural é possível até mesmo esfregar as flores na pele e assim evitar as picadas.

Foto: ©iStock/Noppharat05081977
Alecrim
O alecrim é ótimo para ter em casa. Além de dar um toque especial às receitas culinárias, ele espanta mosquitos e ajuda a manter os gatos longe das hortas, jardins e quintais. Uma boa sugestão é colocar folhas de alecrim também nas caixas de areia de crianças, para evitar a presença de gatos.

Foto: ©iStock/Coramueller

Brasileira ganha prêmio internacional por trabalho em ecologia de estradas

Fernanda Abra atua na Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB).


A bióloga Fernanda Abra é uma das vencedoras do Prêmio Future for Nature 2019, pelo seu trabalho com Ecologia de Estradas. Fernanda atua como voluntária na INCAB-IPÊ – Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira, do Instituto de Pesquisas Ecológicas.

A premiação é da organização holandesa Future for Nature (FFN), que apoia jovens conservacionistas comprometidos com a conservação de espécies animais e vegetais. O reconhecimento exalta o compromisso desses indivíduos com o futuro da conservação da natureza em nosso planeta. “Por meio de sua liderança, esses indivíduos inspiram e mobilizam comunidades, organizações, governos, investidores e o público em geral”, segundo a FFN.

Oito conservacionistas de vários países do mundo foram selecionados para a final e três deles levaram o prêmio: Fernanda (Brasil), Divya Karnad (Índia) e Olivier Nsengimana (Ruanda).
O prêmio oferece aos vencedores reconhecimento internacional, um apoio financeiro de 50 mil euros para realizar um projeto que faça parte de seu trabalho e os apresenta a uma rede internacional de conservacionistas e oportunidades adicionais de financiamento. A cerimônia de entrega acontecerá em maio, em Arnhem, na Holanda.

“Eu me sinto muito feliz em trabalhar pela conservação de espécies incríveis, como a anta, o tamanduá-bandeira, o lobo-guará, a onça-pintada e outros canídeos e felídeos brasileiros, e ser orientada e apoiada por pesquisadores e conservacionistas tão respeitados. Estou muito emocionada e honrada em receber o Prêmio Future for Nature. Isso ajudará muito a expandir meus esforços e fazer a diferença na conservação da incrível biodiversidade brasileira”, agradece Fernanda.

Trabalho público e privado

A bióloga, de 32 anos, se interessa pela área de Ecologia de Estradas desde 2009. Reduzir os impactos das rodovias nas espécies de mamíferos brasileiros é seu principal objetivo de vida. Fernanda também é co-fundadora da empresa ViaFAUNA, uma empresa de consultoria ambiental especializada no manejo da fauna silvestre em rodovias, ferrovias e aeroportos. Fernanda está na fase final de terminar seu doutorado na Universidade de São Paulo. Sua pesquisa é focada na problemática dos atropelamentos de fauna nas rodovias do estado de São Paulo e suas implicações para a conservação biológica, a segurança humana e a economia.


Além de seu trabalho acadêmico e de consultoria, Fernanda também é voluntária como especialista em Ecologia de Estradas em alguns projetos de conservação como a INCAB-IPÊ e o Projeto Bandeiras e Rodovias (IPÊ e ICAS – Instituto de Conservação de Animais Silvestres), bem como também é responsável pela coordenação de Grupos de Trabalhos ligados ao impacto de transportes nos Planos de Ação Nacionais do ICMBIO para canídeos, felinos e ungulados ameaçados de extinção, incluindo espécies icônicas como o lobo-guará, raposa-do-campo, onça-pintada, onça-parda e anta brasileira.
“Fernanda desempenha um papel fundamental na conservação das espécies brasileiras de mamíferos, pois sabe medir a extensão do impacto dos atropelamentos e, mais importante, sabe como criar estratégias para a mitigação desses impactos. Fernanda realiza trabalhos de campo em condições adversas ao longo das rodovias e também participa de reuniões técnicas e políticas com profissionais e autoridades de agências ambientais e de transporte. Ela é extremamente versátil e sabe manter essa ligação entre o mundo lá fora e as salas de reuniões”, afirma Patrícia Medici, coordenadora da INCAB-IPÊ, Presidente do Grupo de Especialistas em Anta da IUCN/SSC e uma das primeiras vencedoras do Prêmio FFN, em 2008.


Na INCAB, Patrícia e Fernanda trabalham em parceria para a mitigação dos impactos dos atropelamentos de anta nos biomas Pantanal e Cerrado no estado do Mato Grosso do Sul. Desde 2015, vêm compilando informações sobre os atropelamentos de antas no estado e desenvolvendo Planos de Mitigação para rodovias nos âmbitos estadual e federal. Fernanda também prestou assessoria à equipe em Inquérito Civil e Ação Civil Pública requerendo ao Estado a urgente implementação de medidas de mitigação ao longo da rodovia MS-040.

Pesquisa comprova que rejeitos da Samarco contaminaram Abrolhos

Um estudo conduzido pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) comprovou que os corais do Parque Nacional dos Abrolhos, na Bahia, sofreram impactos significativos decorrentes da contaminação por rejeitos da Samarco. Após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG) em 2015, os resíduos do beneficiamento de minério se espalharam rapidamente pelo Rio Doce e, em seguida, começam a atingir a região costeira.

Em um relatório de quase 50 páginas, os pesquisadores apresentaram análises detalhadas sobre a presença de metais nestas estruturas, demonstrando notória incorporação de zinco e cobre, entre outros elementos.

A pesquisa envolveu seis laboratórios da UERJ e também contou com a colaboração da UFF e da PUC-Rio. O coordenador do trabalho, Heitor Evangelista, do Laboratório de Radioecologia e Mudanças Globais (LARAMG), criou uma página no facebook, a Abrolhos Sky Watch, para observar a dispersão da lama do Rio Doce até o mar. “Eu e meus alunos checávamos diariamente as imagens de satélite e colocávamos na internet para o público ir acompanhando o desenrolar do problema”.

O monitoramento acendeu o alerta de que os rejeitos poderiam chegar ao parque marinho, localizado a cerca de 250 km da foz. “A gente já desenvolvia um trabalho em Abrolhos com corais. Então entrei em contato com o ICMBIO (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), em Brasília, e programei uma coleta de duas colônias no arquipélago. Através de técnicas químicas, constatamos que, no meio do crescimento dos corais, houve um pico enorme de metais pesados, que coincide exatamente com a cronologia da chegada da pluma de sedimentos da Samarco”, explicou o professor.
Amostra de coral analisada mostrou presença de metais pesados.
Evangelista afirma que o dano é irreparável, devido à extensão atingida. “Nosso papel é saber em que medida aquela área foi impactada. E a partir daí deflagrar mecanismos de monitoramento para descobrir qual vai ser a resposta biológica diante desse fato. Não há como remediar, mas nós precisamos aprender com esse processo”.

 O professor acrescenta que a preservação já vinha sendo ameaçada pela temperatura mais alta da água dos oceanos. “Agora, precisamos monitorar levando em conta este novo fator, para antever o que pode acontecer”.

O relatório foi encaminhado ao ICMBIO, órgão do Ministério do Meio Ambiente, e vai integrar os autos da multa ambiental aplicada à Samarco. “Até agora não havia nada provando um sinal claro da pluma da mineradora em Abrolhos. Esse trabalho é conclusivo nesse sentido”, finalizou o pesquisador.

Tragédia de Brumadinho, Minas Gerais: uma reflexão, um aprendizado, por Augusto Lima da Silveira, Ivana Maria Saes Busato e Rodrigo Berté

Tragédia de Brumadinho, Minas Gerais: uma reflexão, um aprendizado, por Augusto Lima da Silveira, Ivana Maria Saes Busato e Rodrigo Berté


Tragédia de Brumadinho
Foto: Divulgação/Corpo de Bombeiros de Minas Gerais

[EcoDebate] Há menos de três anos, a cidade de Mariana e o Distrito de Bento Rodrigues, ambos em Minas Gerais (MG), agonizavam na tragédia que seria uma das maiores que o Brasil teria vivenciado: o rompimento de uma barragem de rejeitos da Samarco. Muitas vidas ceifadas, muitas pessoas sem ter onde morar e o meio ambiente, mais uma vez, sofrendo com a inércia do poder público e os desmandos de gananciosos pelo lucro a qualquer preço.

E a tragédia logo se repete, com as vidas perdidas, os danos patrimoniais, ambientais e sociais com a tragédia de Brumadinho (MG). Tudo isso deixa mais distante do Brasil o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS, cujas metas buscam concretizar os direitos humanos de todos e equilibram as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental.


Desde que o ser humano surgiu no planeta, entre 350 a 500 mil anos atrás, a relação com o ambiente tem se transformado a partir do desenvolvimento das civilizações. A dependência da nossa espécie pelos recursos naturais estava inicialmente clara, pois os primeiros agrupamentos humanos migravam em busca de disponibilidade de alimentos, água e abrigo. O desenvolvimento da agricultura e de outras tecnologias permitiu que fixássemos residência, já que as nossas necessidades começaram a ser atendidas com a produção de alimentos e a oferta de bens de consumo e serviços.

Conforme caminhamos para condições mais confortáveis de vida, a nossa dependência pelos recursos naturais fica menos evidente, demandando a reflexão a respeito do quanto somos vulneráveis. Atraídos pelas tentações do consumo e de padrões de vida que exigem a substituição e o descarte de materiais, já não enxergamos o quanto estamos impactando o ambiente. Poucas pessoas compreendem, por exemplo, que os meios de transporte e os eletrodomésticos que utilizam diariamente são o resultado de processos produtivos como a mineração, que extraem os recursos naturais e geram resíduos perigosos.

Os processos produtivos ganharam dimensões inimagináveis, para atender um maior número de pessoas no planeta e o consequente aumento na demanda por bens e serviços. Além disso, a questão da lucratividade tem grande influência para o quadro atual de degradação.


Em busca de maiores ganhos, algumas empresas inclusive colocam em risco a vida de muitos seres vivos ao “economizarem” com estruturas de segurança e por não investirem o suficiente em gestão de resíduos. Ressalta-se que o desenvolvimento sustentável somente será alcançado com os princípios da Agenda ODS para 2030, que prevê um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade.

Todo esse cenário torna ainda mais graves as questões expostas com o rompimento da barragem de rejeitos na cidade de Brumadinho, que tirou a vida de centenas de pessoas e causou impactos ambientais incalculáveis. A busca pelo lucro a qualquer custo fica evidente quando nos encontramos em um contexto no qual há três anos a cidade de Mariana esteve inserida: quando foi atingida por rejeitos produzidos pela empresa pertencente ao mesmo grupo que contaminou Brumadinho. Por que não investir em um processo mais seguro para a destinação dos resíduos de mineração? A resposta é simples: investir em destinação de resíduos resulta em menor lucratividade. Entretanto, a tragédia nos mostra o quanto essa afirmação está equivocada.

Esse contexto só reforça o imperativo do comprometimento global com a conservação dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentável. Iniciativas como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) contribuem para repensar o modelo de desenvolvimento vigente, que negligencia as questões ambientais e não reflete sobre a igualdade social, saúde e bem-estar da população.

Acidentes como os observados em Mariana e Brumadinho seguramente não ocorreriam se as metas, estabelecidas nos ODS, estivessem de fato fazendo parte da agenda dos países signatários, como o Brasil, e houvesse um real comprometimento com essas causas. A nossa comodidade frente ao atual sistema produtivo é outro fator que dificulta ainda mais atingir as metas propostas nos ODS.


Fica cada vez mais evidente a necessidade de dialogar com a sociedade sobre a complexidade dessas questões, pois o modelo de consumo, de descarte e de lucro a qualquer custo já mostrou que não tem sustentabilidade. Temos a opção de repensar as nossas escolhas diárias ou sofrer as consequências pela falta de água segura, de solo fértil e do ar limpo para respirar. Os recursos naturais pertencem a toda humanidade, e a cada crime ambiental, a cada nova contaminação, a cada nova espécie extinta, a cada ser humano que morre para outro lucrar, toda a humanidade perde. Não se olvidem, se tantas outras, passarem por tragédias semelhantes, pois o dever de casa e o aprendizado se tornou algo secundário para esses empreendedores.

Augusto Lima da Silveira – coordenador do Curso Superior Tecnologia em Saneamento Ambiental na modalidade a distância do Centro Universitário Internacional Uninter. Atualmente é doutorando em Ecologia e Conservação.

Ivana Maria Saes Busato – coordenadora dos Cursos Superiores de Tecnologia em Gestão Hospitalar e Gestão de Saúde Pública do Centro Universitário Internacional Uninter, ambos na modalidade a distância. Tem atuado na área de Saúde Pública, Gestão Pública e possui doutorado em Odontologia.

Rodrigo Berté – diretor da Escola Superior de Saúde, Biociências, Meio Ambiente e Humanidades do Centro Universitário Internacional Uninter. Atua na área de Meio Ambiente e Sustentabilidade. É Pós-Doutor em Educação e Ciências Ambientais pela Universidade Nacional de Ensino à Distância – Madrid (Espanha).

Colaboração de Giulia El Halabi, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/02/2019

"Tragédia de Brumadinho, Minas Gerais: uma reflexão, um aprendizado, por Augusto Lima da Silveira, Ivana Maria Saes Busato e Rodrigo Berté," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/02/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/02/22/tragedia-de-brumadinho-minas-gerais-uma-reflexao-um-aprendizado-por-augusto-lima-da-silveira-ivana-maria-saes-busato-e-rodrigo-berte/.

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NUEVO ESTUDIO: La exposición a sustancias químicas del Roundup aumenta el riesgo de cáncer




NUEVO ESTUDIO: La exposición a sustancias químicas del Roundup aumenta el riesgo de cáncer



pulverização aérea de agrotóxicos

Por Graciela Vizcay Gomez

La exposición al glifosato, el herbicida de amplio espectro más utilizado del mundo y el ingrediente principal en el herbicida
Roundup, aumenta el riesgo de algunos tipos de cáncer en más del 40 por ciento, según una  nueva investigación  de la Universidad de Washington.

Varias revisiones y evaluaciones internacionales han llegado a diferentes conclusiones sobre si el glifosato conduce al cáncer en los seres humanos.


El equipo de investigación realizó un metanálisis actualizado, una revisión exhaustiva de la literatura existente, y se centró en los grupos más expuestos en cada estudio. Encontraron que el vínculo entre el glifosato y el linfoma no Hodgkin es más fuerte de lo que se informó anteriormente. Sus hallazgos fueron publicados este mes en la revista en línea  Mutation Research / Reviews in Mutation Research .


“Nuestro análisis se centró en proporcionar la mejor respuesta posible a la pregunta de si el glifosato es carcinógeno o no”, dijo la autora principal  Lianne Sheppard , profesora de los departamentos de Ciencias Ambientales y Ciencias de la Salud Ocupacional y Bioestadística de la UW. “Como resultado de esta investigación, estoy aún más convencido de que lo es”.

Al examinar los estudios epidemiológicos publicados entre 2001 y 2018, el equipo determinó que la exposición al glifosato puede aumentar el riesgo de linfoma no Hodgkin hasta en un 41 por ciento. Los autores centraron su revisión en la investigación epidemiológica en humanos, pero también consideraron la evidencia de animales de laboratorio.

“Esta investigación proporciona el análisis más actualizado del glifosato y su relación con el linfoma no Hodgkin, incorporando un estudio de 2018 a más de 54,000 personas que trabajan como aplicadores de pesticidas con licencia”, dijo la coautora Rachel Shaffer, doctora de la Universidad de Washington. Estudiante en el Departamento de Ciencias Ambientales y de Salud Ocupacional.

“Estos hallazgos están alineados con una evaluación previa de la Agencia Internacional para la Investigación del Cáncer, que clasificó al glifosato como un” probable carcinógeno humano “en 2015”, dijo Shaffer.

El glifosato se introdujo por primera vez como herbicida en 1974. El uso en la industria agrícola se ha disparado, especialmente desde mediados de la década de 2000, cuando se introdujo la práctica de la “quema verde”, en la que se aplican herbicidas a base de glifosato a los cultivos poco antes de la cosecha. Como consecuencia, es probable que los cultivos ahora tengan residuos más altos de glifosato.

Los investigadores dicen que se necesitan más estudios para explicar los efectos del aumento de la exposición a causa de la quema verde, que puede que no esté totalmente plasmada en los estudios existentes revisados en esta nueva publicación.

Los coautores incluyen a Luoping Zhang e Iemaan Rana en la División de Ciencias de la Salud Ambiental de la Universidad de California, Berkeley, y Emanuela Taioli en la Escuela de Medicina de Icahn en Mount Sinai, Nueva York.

Los fondos fueron proporcionados por el premio T32ES015459 de los Institutos Nacionales de Ciencias de la Salud Ambiental   y la Beca para el Envejecimiento de la Asociación de Retiro de la Universidad de Washington.-

Fuente ZERO BIOCIDAS 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/02/2019

"NUEVO ESTUDIO: La exposición a sustancias químicas del Roundup aumenta el riesgo de cáncer," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/02/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/02/22/nuevo-estudio-la-exposicion-a-sustancias-quimicas-del-roundup-aumenta-el-riesgo-de-cancer/.

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Combustão de combustíveis fósseis é o principal contribuinte para o carbono negro em todo o Ártico



Combustão de combustíveis fósseis é o principal contribuinte para o carbono negro em todo o Ártico



Carbono Negro – Uma equipe internacional conduziu o estudo em locais na Rússia, Canadá, Suécia e Noruega, com pesquisadores da Universidade de Baylor contribuindo com medições para o Alasca.
Por Terry Goodrich*, Baylor University

Combustão de combustíveis fósseis é o principal contribuinte para o carbono negro coletado em cinco locais ao redor do Ártico, o que tem implicações para o aquecimento global, de acordo com um estudo de um grupo internacional de cientistas que incluiu uma equipe da Baylor University.
O estudo de cinco anos, para descobrir fontes de carbono negro, foi feito em cinco locais remotos ao redor do Ártico e foi publicado na revista Science Advances , uma publicação da Associação Americana para o Avanço da Ciência.

A equipe de Baylor usou radiocarbono para determinar as contribuições de queima de fósseis e biomassa para o carbono negro em Barrow, no Alasca, enquanto seus colaboradores usaram a mesma técnica para locais na Rússia, Canadá, Suécia e Noruega.

A pesquisa de Baylor foi liderada por Rebecca Sheesley, Ph.D., professora associada de ciência ambiental na Faculdade de Artes e Ciências, e Tate Barrett, Ph.D., ex-aluna de Sheesley e agora pesquisadora de pós-doutorado na Universidade do Norte do Texas. Seu interesse pela pesquisa resultou de um desejo de entender por que o Ártico está mudando e quais poluentes devem ser controlados para mitigar essa mudança.

“O Ártico está aquecendo a uma taxa muito maior do que o resto do globo”, disse Sheesley. “Essa mudança climática está sendo impulsionada por poluentes atmosféricos, como gases de efeito estufa e partículas na atmosfera. Um dos componentes mais importantes deste material particulado atmosférico é o carbono preto, ou fuligem. O carbono negro absorve diretamente a luz do sol e aquece a atmosfera. Em locais nevados, também pode se depositar na superfície, onde aquece a superfície e aumenta a taxa de derretimento ”.

Os resultados mostraram que a combustão de combustíveis fósseis (carvão, gasolina ou diesel) é responsável pela maior parte do carbono negro no Ártico (cerca de 60% ao ano), mas que a queima de biomassa (incluindo incêndios florestais e madeira) se torna mais importante no verão.
O local, em Barrow, no Alasca, que era o foco da equipe de Baylor, diferia de outros locais, pois tinha maior contribuição de combustível fóssil para o carbono negro e era mais impactado pelas fontes norte-americanas de carbono negro do que o resto do Ártico.

Desde 2012, Sheesley vem expandindo este trabalho para investigar como as fontes de combustão e não-combustão impactam diferentes tipos de partículas atmosféricas em todo o Ártico do Alasca.



Medição de Radiação Atmosférica em Barrow, Alasca
Medição de Radiação Atmosférica em Barrow, Alasca, local de pesquisa da equipe 
Baylor em estudo internacional de carbono negro dentro e ao redor do Ártico.

Referência:
Source apportionment of circum-Arctic atmospheric black carbon from isotopes and modeling
BY P. WINIGER, T. E. BARRETT, R. J. SHEESLEY, L. HUANG, S. SHARMA, L. A. BARRIE, K. E. YTTRI, N. EVANGELIOU, S. ECKHARDT, A. STOHL, Z. KLIMONT, C. HEYES, I. P. SEMILETOV, O. V. DUDAREV, A. CHARKIN, N. SHAKHOVA, H. HOLMSTRAND, A. ANDERSSON, Ö. GUSTAFSSON

Science Advances 13 Feb 2019: Vol. 5, no. 2, eaau8052

DOI: 10.1126/sciadv.aau8052
http://advances.sciencemag.org/content/5/2/eaau8052

* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/02/2019

"Combustão de combustíveis fósseis é o principal contribuinte para o carbono negro em todo o Ártico," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/02/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/02/22/combustao-de-combustiveis-fosseis-e-o-principal-contribuinte-para-o-carbono-negro-em-todo-o-artico/.

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Mudanças Climáticas: Equilíbrio entre predadores e presas será afetado pela temperatura, com consequências desastrosas para os ecossistemas


Mudanças Climáticas: Equilíbrio entre predadores e presas será afetado pela temperatura, com consequências desastrosas para os ecossistemas



Mudança climática em curso pode alterar interação ecológica entre espécies

Por Peter Moon | Agência FAPESP


Tigre e caça
foto: Mythili Badam/Wikimedia Commons

Herbívoros, onívoros, carnívoros, insetívoros, frugívoros, carniceiros e decompositores. Os ecossistemas da Terra funcionam em uma formidável teia de interações entre plantas, animais, insetos, fungos e microrganismos. Uma parte fundamental dessas interações reside no equilíbrio da cadeia alimentar entre predadores e herbívoros, que regula a produção vegetal do planeta.

Esse equilíbrio entre predadores e presas que se alimentam de plantas pode ser alterado em decorrência das futuras mudanças climáticas. A conclusão é de uma pesquisa apoiada pela FAPESP e publicada na revista Nature Climate Change.

“No estudo, traçamos as causas dessas mudanças e demonstramos que elas são explicadas por componentes do clima, especialmente da temperatura, que serão alterados no futuro”, disse Gustavo Quevedo Romero, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e autor principal do artigo.

Segundo pesquisador, as mudanças climáticas podem redistribuir a força das interações ecológicas entre as espécies de presas e predadores. Os resultados mostram que temperaturas mais altas e um clima mais estável e menos sazonal levam a uma maior pressão de predação. Porém, a maior instabilidade no clima que acompanha as mudanças climáticas em curso, especialmente nas regiões tropicais, levará a uma diminuição geral na pressão de predação nos trópicos. Em contraste, algumas regiões de zonas temperadas sofrerão aumento da pressão de predação.

“Essa reorganização das forças de interação entre espécies poderá ter consequências desastrosas para o funcionamento dos ecossistemas terrestres e afetar os serviços ecossistêmicos que eles oferecem, como o controle biológico e o ciclo de nutrientes”, disse Romero.

Os agricultores orgânicos nos trópicos, por exemplo, dependem do controle biológico exercido pelos inimigos naturais das pragas de lavoura. No entanto, as mudanças climáticas previstas poderão diminuir a efetividade desses predadores no controle de pragas.

O novo estudo se baseou em dados previamente coletados em uma pesquisa publicada na revista Science em 2017, sob a coordenação de Tomas Roslin, da Universidade Sueca de Ciências da Agricultura, de Uppsala, na Suécia, e também da Universidade de Helsinque, na Finlândia.

Nesse trabalho anterior, os pesquisadores avaliaram a impressão de mordidas em lagartas artificiais para mostrar que, quanto mais aumenta o gradiente latitudinal dos ecossistemas (em direção às regiões temperadas e polares), a probabilidade de um herbívoro ser comido por um predador é apenas uma fração do que ocorre nas regiões equatoriais.

O estudo foi feito a partir da mensuração do risco de predação de 2.879 lagartas artificiais moldadas com massa de modelar verde. Elas foram monitoradas em 31 locais do planeta ao longo de um gradiente latitudinal que se estendeu desde o paralelo 30,4° sul, na altura do Rio Grande do Sul, da África do Sul e do centro da Austrália, até o paralelo 74,3° norte, na altura do Ártico canadense, da Groenlândia e do extremo norte da Sibéria.

Os 31 locais estavam distribuídos em um gradiente de elevação que ia desde o nível do mar até 2.100 metros de altitude, ou seja, pouco abaixo da altitude da Cidade do México (2.240 metros).

As lagartas artificiais foram coladas na parte superior de folhas inteiras em plântulas ou arbustos com no máximo 1 metro de altura. Com base na análise das marcas de dentadas e bicadas preservadas na massa de modelar, os pesquisadores avaliaram que seis grupos de predadores foram afetados: aves, lagartos, mamíferos, artrópodes e gastrópodes (caracóis ou lesmas).

Ajuste climático
No artigo da Science, os autores confirmaram a hipótese de que a pressão de interação biótica aumenta em direção ao Equador e diminui em direção aos polos. No trabalho agora publicado na Nature Climate Change, o que se fez foi confrontar os dados de predação das lagartas e suas localizações com dados bioclimáticos do presente e do futuro, com base em diversos modelos climáticos que preveem as alterações no clima a partir das emissões de dióxido de carbono.


“Utilizamos modelagem de nicho para estudar interações bióticas, método originalmente desenvolvido para prever a distribuição espacial de espécies”, disse.

Para o novo estudo, os autores usaram a WorldClim 2, uma base de dados de 19 variáveis bioclimáticas aplicadas globalmente em uma grade com resolução espacial de 1 quilômetro quadrado.
Em seguida, foi aplicado o método de modelagem de equações estruturais para determinar a importância relativa dos efeitos diretos e indiretos da latitude absoluta, elevação e do clima local subjacente (incluindo componentes climáticos da precipitação e temperatura) na pressão de predação.

Segundo Romero, esses modelos revelaram que os dados de predação foram mais explicados pelas variações nos componentes da temperatura.

Projeções futuras
Os pesquisadores foram capazes de prever a redistribuição da pressão de predação em todo o globo, projetada para o cenário climático de 2070. “De maneira geral, o que pudemos constatar foi que, para 2070, a pressão de predação poderá ser sensivelmente afetada pela variação de temperatura, mas possivelmente não será afetada pelas mudanças na precipitação”, disse Romero.

Segundo ele, a pressão de predação será afetada tanto pelo aumento quanto pela instabilidade da temperatura (elevações e reduções bruscas) em determinados ecossistemas.

“A instabilidade de temperatura, mais do que o seu aumento, diminuirá a pressão de predação. E esse impacto será exacerbado em regiões tropicais, onde se prevê que o clima se tornará mais instável”, disse Romero.

Os dados sugerem que, com a elevação das temperaturas, o nível de pressão de predação se elevará moderadamente nas regiões temperadas, que se espalham por América do Norte e Ásia. Nos países escandinavos, no Reino Unido e no Alasca, o aumento da pressão de predação entre artrópodes será maior.

A pressão de predação será reduzida justamente nas regiões equatoriais, que concentram os ecossistemas mais biodiversos do planeta, ou seja, a África equatorial, o Sudeste Asiático, a Indonésia e as regiões tropicais da América do Sul, América Central e Caribe.

Os dados sugerem que, juntamente com a Colômbia, o Brasil será particularmente afetado. Talvez o Brasil seja o país mais afetado, devido à sua posição nos trópicos e à grande extensão da Floresta Amazônica.

“A mudança climática não se reflete apenas nas mudanças de distribuição das espécies, mas também nas mudanças de interação entre elas”, disse Romero. “Nos trópicos poderá surtir efeitos sobre o rendimento da agricultura tropical, com o consequente aumento das ameaças à segurança alimentar, devido a uma diminuição na eficiência do controle biológico em áreas mais vulneráveis às mudanças climáticas”, disse.

Além de Romero e de Roslin, também participaram do trabalho o biólogo Thadeu Sobral-Souza, do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Rio Claro; Thiago Gonçalves-Souza, da Universidade Federal Rural de Pernambuco; Nicholas Marino, da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Pavel Kratina, da Queen Mary University of London, no Reino Unido, e William Petry, do Institute of Integrative Biology, na Suíça.

O estudo também contou com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Financiadora de Inovação e Pesquisa (Finep).

O artigo Global predation pressure redistribution under future climate change (doi: https://doi.org/10.1038/s41558-018-0347-y) pode ser lido em www.nature.com/articles/s41558-018-0347-y.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/02/2019

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O LUCRO NÃO PODE CONTINUAR DITANDO AS REGRAS. Flexibilizar as regulações envolvidas nas temáticas ambientais atenta contra a vida de todos.



O problema não é o licenciamento ambiental: O PROBLEMA É FAZER LICENCIAMENTO DE FACHADA! artigo de Roberta Pohren



artigo de opinião


[EcoDebate] O problema são os interesses….é a forma como algumas pessoas envolvidas na cadeia do licenciamento atuam (desde o responsável técnico, consultor, empreendedor, servidor, advogados, políticos, cidadãos, etc.): desde a omissão até à ganância…o problema é a FALTA DE ÉTICA!

De forma muitíssimo simplificada, desde o responsável técnico que omite informações, atende dezenas de empresas sem ao menos conhecer e visitar seus processos; consultor que ingenuamente preenche os dados com “algum errinho”; empreendedor que “justificadamente” quer diminuir custos, e que nunca sabe das implicações socioambientais – mas, das tributárias sabe bem; servidor que está sobrecarregado com centenas de processos e acaba não podendo investir o tempo e dedicação devidos; fiscais que nem sempre têm viaturas e autonomia e/ou vontade para efetivamente exercerem seu poder de polícia; advogados que usam do direito ambiental para que seus representados não cumpram a legislação ambiental e não assumam as multas de suas infrações; políticos, etc.)……as enumerações não acabariam.

O LICENCIAMENTO É SIM A FERRAMENTA QUE MAIS ASSEGURA ALGUM NÍVEL DE PROTEÇÃO E CONTROLE AMBIENTAL DENTRO DA NOSSA TÃO DESRESPEITADA POLÍTICA AMBIENTAL!

Será que adianta mudar o nome do instrumento, criar uma “nova modalidade de autorização”, copiar protocolos europeus de controle e concessão de uso de recursos ambientais? 

Não é enfraquecendo essa importante conquista das ultimas décadas que iremos avançar: há sim que se atuar no fluxo envolvido!

A expedição de uma licença não é um simples ato burocrático/documental!

Não pode simplesmente ser apressada e simplificada: avaliar a complexidade do ambiente requer sim estudos qualificados e pode implicar em tempo maior, em complementação de dados – entregues muitas vezes propositalmente incompletos e falhos!

Não há que se falar em celeridade quando implica ignorar potenciais custos ambientais e sociais!
Sim, nem todas as atividades podem ser realizadas em quaisquer lugares: uma licença pode e deverá ser negada quando não houver viabilidade ambiental para realização da atividade!

Sim, não é o mercado e suas pressões políticas que deve regular essas decisões: QUALQUER MOTIVAÇÃO PARA EMISSÃO DE UMA LICENÇA AMBIENTAL REQUER PARECER TÉCNICO QUALIFICADO E IMPARCIAL! E que deverá ser respeitado – não desqualificado.

E o LICENCIAMENTO há que ser sustentado pelo MONITORAMENTO das condições de operação dos empreendimentos e a FISCALIZAÇÃO periódica. 

Esse ciclo tem que ser mantido – mesmo que implicando em eventuais suspensão de atividades, embargos, etc.

Temos todo o aporte jurídico necessário, falta que se cumpram suas implicações, que todos órgãos assumam efetivamente suas responsabilidades, que as administrações públicas não descredibilizem seus órgãos ambientais, mas, sim, INVISTAM NA SUA ESTRUTURA e QUEIRAM QUE AS FISCALIZAÇÕES, EXIGÊNCIAS E APLICAÇÃO de MULTAS SEJAM DE FATO REALIZADAS, e que ALGUMAS EMPRESAS ACEITEM QUE SIM OS CUSTOS AMBIENTAIS DEVEM SER INCORPORADOS POR ELAS, SIM PRECISAM REDUZIR SUAS MARGENS DE LUCROS!]


Sim, isso pode ir contra toda perspectiva de modelo econômico que existe! E ESTE É O PONTO: HÁ QUE SE ASSUMIR QUE O ATUAL MODELO ECONÔMICO NÃO SE SUSTENTA!

Sim, muitos podem dizer que é discurso de ambientalista…não importa.

Sim, isso tudo é óbvio! Sim, muitos podem não gostar disso.

Não se trata de gostar disso ou não, de concordar ou não: tecnicamente e termodinamicamente é um fato.

Nada muda o fato de que explorar recursos neste planeta não pode seguir uma ótica capitalista, predatória, egoísta e mercantilista. Precisamos aprender a produzir, a sobreviver com uma nova perspectiva.

Temos que assumir a centralidade das questões ambientais em todas decisões atuais, e treinar o olhar e os punhos para exigir a implementação de políticas públicas que promovam proteção ambiental e qualidade de vida:
  • Qual valor de todas vidas perdidas? De todo sofrimento e desespero das famílias?
  • Qual o preço de um rio inteiro morto? De todos animais e plantas morrendo aos poucos?
  • Como compensar os danos de toda uma bacia hidrográfica multidiversa?
  • Como afrouxar as leis do licenciamento ambiental?
  • Como permitir auto-licenciamento?
  • Como aceitar a impunidade diante de tantos crimes ambientais?
  • Como aceitar que todos esses danos ambientais não sejam evitados nem reparados?
  • Como conviver com todos os passivos ambientais pós-exploração sem garantia de segurança nenhuma?
  • Como liberar mais agrotóxicos perigosos em nosso território?
  • Como ignorar a gravidade do aquecimento global?
  • Como cogitar liberar a caça?
  • Como desrespeitar direitos adquiridos de todas as minorias?
O LUCRO NÃO PODE CONTINUAR DITANDO AS REGRAS.

Flexibilizar as regulações envolvidas nas temáticas ambientais atenta contra a vida de todos.

É PRECISO REVER, FREAR, PROCURAR CONVERGÊNCIAS, COOPERAR.

Há limites pra se respeitar!! E já deveríamos estar fazendo isso há séculos.
ÉTICA E RESPEITO, é simples.

Roberta Pohren
Professora universitária federal – Dra. em Ecologia

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/02/2019

"O problema não é o licenciamento ambiental: O PROBLEMA É FAZER LICENCIAMENTO DE FACHADA! artigo de Roberta Pohren," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/02/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/02/22/o-problema-nao-e-o-licenciamento-ambiental-o-problema-e-fazer-licenciamento-de-fachada-artigo-de-roberta-pohren/.

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