segunda-feira, 1 de abril de 2019

Planta do Cerrado floresce apenas um dia depois de queimada


 

Espécie conhecida como cabelo-de-índio foi estudada por pesquisadora da Unesp de Rio Claro.

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Por José Tadeu Arantes | Agência FAPESP

As plantas do Cerrado evoluíram na presença do fogo. E, quando usado com inteligência, como método de manejo criterioso, o fogo é fator indispensável para a preservação desse formidável ecossistema, que constitui a mais biodiversa savana do mundo. Segundo uma nova pesquisa, bastam dois meses para que o Cerrado queimado se transforme em um jardim exuberante.

O estudo From ashes to flowers: a savanna sedge initiates flowers 24 hours after fire, publicado na revista Ecology na última segunda-feira (25/03), confirmou essa teoria. O artigo deu enfoque em uma espécie vegetal que inicia sua floração apenas 24 horas após a queima. “Trata-se da Bulbostylis paradoxa, uma erva perene da família Cyperaceae, conhecida popularmente como cabelo-de-índio”, disse a autora do artigo, Alessandra Fidelis, à Agência FAPESP.

Alessandra é professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no campus de Rio Claro, e investigou o assunto com apoio da FAPESP no âmbito do projeto “Como a época do fogo afeta a vegetação do Cerrado”.

 

Nossa savana

 

 

O Cerrado é uma savana peculiar. E sua capacidade de rebrotar e florescer depois de queimada é um importante diferencial em relação às savanas africanas e australianas. Isso já havia sido relatado, desde o século 19 e início do 20, por naturalistas que visitaram o Brasil, como o francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853) e o dinamarquês Eugenius Warming (1841-1924). E, mais tarde, foi tema da tese de livre-docência do professor Leopoldo Magno Coutinho (1934-2016), da Universidade de São Paulo (USP). A própria Fidelis vem estudando essa regeneração pós-fogo do Cerrado desde 2009, mas o que chamou sua atenção, e constitui o ineditismo do artigo em pauta, é a rapidez com que a Bulbostylis paradoxa floresce. “É o único evento desse tipo descrito até o momento no mundo”, disse.

Bulbostylis paradoxa é uma planta amplamente difundida na América do Sul, desde a Venezuela até o sul do continente. E só floresce em escala significativa após o fogo. “Em nossos experimentos com queima criteriosa como prática de manejo, verificamos que as plantas dessa espécie, reduzidas pelo fogo à condição de tocos carbonizados, começam a apresentar pontinhos brancos 24 horas depois de queimadas. Esses pontinhos são as inflorescências despontando. Em pouco mais de uma semana, as flores se encontram completamente formadas e aptas à polinização. A rapidez da resposta constitui uma grande vantagem para a planta, porque possibilita que ela floresça, frutifique e disperse suas sementes por meio do vento em um espaço livre, com o solo descoberto, sem barreiras nem competidores. Apenas 40 dias depois do fogo já é muito difícil encontrar sementes, porque elas se disseminaram”, contou Fidelis.

De maneira geral, a grande oferta de sementes após a queima do Cerrado constitui um importante recurso para animais predadores, como formigas ou aves. A rebrota também oferece folhas mais tenras e palatáveis para mamíferos de grande porte, como veados e bois. O grande problema em relação ao fogo são os incêndios criminosos ou mesmo incêndios espontâneos que acabam assumindo proporções desastrosas devido ao acúmulo de material combustível depois de anos sem queima adequada.

“O Cerrado evoluiu com o fogo. Por isso, sua vegetação se regenera facilmente, inclusive com a manifestação de espécies que antes não ocorriam em determinadas áreas. A fauna, porém, pode sofrer perdas, pois muitos animais ficam presos nos incêndios. E, em relação à flora, é preciso lembrar que, no meio da vegetação do Cerrado, existem matas de galeria, matas de vale e veredas. Nesse caso, algumas espécies sensíveis ao fogo podem não se recuperar após os grandes incêndios. Por isso, é preciso haver um manejo criterioso do fogo. A queima preventiva, nas épocas certas, com zoneamento da área total e rodízio das parcelas a serem queimadas, constitui a melhor defesa contra os incêndios desastrosos”, explicou a professora.


Ameaças ao Cerrado

A expansão da fronteira agrícola, com monoculturas em grande escala e uso intensivo de maquinário e herbicidas, que deixam o solo completamente limpo e sujeito à ação de plantas invasoras como braquiária e capim-gordura, constitui atualmente a maior ameaça à sobrevivência do Cerrado. A segunda principal ameaça é o uso inadequado do fogo. Conjugados, esses dois fatores põem em risco a manutenção de todo o ecossistema. Alguns dos mais importantes rios do Brasil nascem no Cerrado.


Entre eles, o Xingu, o Tocantins, o Araguaia, o São Francisco, o Parnaíba, o Gurupi, o Jequitinhonha, o Paraná e o Paraguai. Além da irreparável perda de biodiversidade, a destruição do Cerrado compromete as bacias desses rios, com seu formidável aporte de água doce e potencial hidrelétrico.



Participaram ainda do estudo Patrícia Rosalem, Vagner Zanzarini, Liliane Santos de Camargos e Aline Redondo Martins, todos da Unesp. O artigo From ashes to flowers: a savanna sedge initiates flowers 24 hours after fire pode ser lido, em inglês, aqui.

Avanço da agropecuária, estradas ilegais e floresta no chão. Assim começa o ano no Xingu

por ISA – 
 
Destruição da vegetação nativa na bacia do Xingu nos dois primeiros meses de 2019 superou em 54% o desmatamento no mesmo período em 2018. Em média, 170 mil árvores foram derrubadas por dia


Nos dois primeiros meses do ano, mais de 8.500 hectares de floresta, o equivalente a 10 milhões de árvores, foram derrubados na bacia do Xingu. O avanço da agropecuária, grilagem e abertura de estradas ilegais explicam esses índices, que superaram em 54% o total desmatado no mesmo período em 2018, quando foram detectados pouco mais de 5 mil hectares.


No porção mato grossense da bacia, essa porcentagem atingiu 204%, impulsionada por três municípios: Santa Carmem, com 1.119 hectares e Feliz Natal, com 755 hectares. Em União do Sul, os 1.139 hectares de floresta destruídos nos dois primeiros meses de 2019 representam 30% do total desmatado em 2018.

Avanço do desmatamento no Xingu.
Devido às fortes chuvas em dezembro, houve uma redução no desmatamento em Terras Indígenas (TIs) em comparação com os últimos meses de 2018. O aumento dos índices em relação ao ano anterior, no entanto, é significativo: em janeiro, a destruição da floresta cresceu 221% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Já em fevereiro, a taxa atingiu 361% a mais do que o detectado em 2018.


Estrada ilegal ameaça isolados
A TI Ituna/Itatá, no Pará, foi a mais desmatada nos dois primeiros meses do ano, com 453 hectares. Nesse período foi detectada uma estrada no interior da TI, que se espalhou criando ramificações e segue em direção à vizinha TI Koatinemo, do povo Assurini. O ramal, localizado no meio da floresta, provavelmente está sendo utilizado por grileiros e madeireiros. A abertura de uma estrada para retirada ilegal de madeira na região é sem precedentes.


O território é uma área com restrição de uso, que impede a circulação de não-indígenas e destina seu uso exclusivo aos grupos isolados que ali vivem. Em 9 de janeiro, uma Portaria renovou a restrição de uso da área por mais três anos. Apesar disso, foi constatada a inscrição de CAR em dezenas de propriedades dentro da área interditada, que muitas vezes se sobrepõe. Algumas áreas dentro da TI chegam a ter cinco registros, o que indicaria que o território está sendo disputado por vários grupos de grileiros.

A TI localiza-se a menos de 70 quilômetros do sítio Pimental, principal canteiro de obras da hidrelétrica de Belo Monte, e a destruição da floresta vem aumentando exponencialmente desde 2011, início da construção da usina. A implantação de um plano de proteção à Tis é uma condicionante de Belo Monte, mas nunca foi integralmente cumprida. [Saiba mais]

Desmatamento na Terra Indígena Ituna/Itatá, no Pará, ameaça 
indígenas isolados| Juan Doblas – ISA
Na rota da Ferrogrão

A expectativa da construção da Estrada de Ferro 170, conhecida como Ferrogrão, vêm aquecendo o mercado de terras na região oeste do Mato Grosso. No ano passado, 17.685 hectares foram desmatados nos municípios de Cláudia, Feliz Natal, Marcelândia, União do Sul e Santa Carmem, todos na área de influência do projeto. Em União do Sul, município campeão de desmatamento em fevereiro, foram produzidos mais de 196 mil toneladas de soja em uma área de 59 mil hectares, segundo dados do IBGE/2017.
Se sair do papel, a obra vai conectar a região produtora de grãos do Mato Grosso aos portos de exportação no Pará, consolidando um novo corredor logístico de exportação do Brasil pela Amazônia. A construção da ferrovia deve potencializar os impactos socioambientais das áreas protegidas nas proximidades do seu trajeto, além de acirrar os conflitos fundiários da BR-163, rodovia paralela à Ferrogrão.
As áreas foram detectadas pelo Sirad X, o sistema de monitoramento de desmatamento da Rede Xingu +. Por meio da tecnologia de radar, é possível detectar o desmatamento através das nuvens que cobrem a região entre setembro e maio. Os boletins são publicados na Plataforma Rede Xingu +. Clique aqui para acessar a edição nº11.

ONU defende educação sobre florestas para preservar recursos naturais

No Dia Internacional das Florestas, lembrado nesta quinta-feira (21), a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) defende a educação sobre esses ecossistemas como estratégia para preservar os recursos naturais do planeta. Cerca de 90% de todas as espécies terrestres de seres vivos são encontradas nas florestas, que oferecem não apenas um habitat para a biodiversidade, mas também uma série de serviços ecossistêmicos para os humanos.

“As florestas ajudam a manter o ar, o solo, a água e as pessoas saudáveis. E elas desempenham um papel vital no combate a alguns dos maiores desafios que enfrentamos, tais como a luta contra as mudanças climáticas e a erradicação da fome”, afirmou em mensagem para a data o chefe da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva.

Em 2019, a ONU comemora o dia internacional com o tema Florestas e educação. “A educação é um passo crítico para proteger os recursos naturais para as gerações futuras. É essencial que as crianças aprendam sobre as florestas desde cedo”, acrescentou Graziano.

Embora os benefícios trazidos pelas florestas sejam amplamente documentados, a integridade e a sustentabilidade dessas formações vegetais, alerta a FAO, estão ameaçadas pelos efeitos cumulativos do desmatamento, degradação da terra e competição por usos alternativos do solo.

De 1990 a 2015, a proporção da superfície do planeta coberta com florestas passou de 31,6% para 30,6%. Os dados são do último Panorama Ambiental Global, divulgado na semana passada pela ONU Meio ambiente.


Mata fechada na Amazônia peruana. Foto: Flickr (CC)/Joseph King
O relatório alerta ainda que, conforme o desmatamento avança na Floresta Amazônica, o volume de chuvas tem diminuído — um sintoma da interação entre as florestas, o clima e as necessidades humanas. Estimativas recentes indicam que, caso o desflorestamento destrua de 20 a 25% da cobertura vegetal original da bacia amazônica, o bioma chegará a um “ponto sem retorno”, com prejuízos irreversíveis para o ciclo hidrológico. Nos últimos 50 anos, 17% da extensão original da Amazônia foi devastado, de acordo com dados da WWF citados no panorama da ONU.

Talvez o maior desafio dos esforços de conservação, aponta a FAO, seja a falta de entendimento sobre os modos como as florestas contribuem com a sociedade global. Parte das lacunas nessa compreensão se deve à crescente desconexão entre as pessoas e a natureza, em particular nas áreas urbanas. A FAO ressalta que esse problema precisa ser encarado e revertido — e que a educação pode ajudar a superar esse cenário.

O organismo internacional destaca, porém, que a educação sobre florestas é frequentemente inadequada e não é capaz de abordar desafios emergentes. Menos jovens estão estudando o uso dos recursos florestais nas universidades e um número ainda menor de escolas dos ensinos fundamental e médio inclui a educação sobre florestas em seus currículos. Quando o tema é inserido na formação de crianças e adolescentes, nem sempre o assunto é trabalhado de maneira a explicar o papel multifuncional das florestas.

A FAO tem trabalhado com parceiros para conscientizar os jovens e a população em geral sobre as ameaças às florestas. A agência empreende esforços na criação de programas educativos abrangentes e também no estabelecimento de escolas vocacionais rurais, que possam capacitar profissionais do setor de silvicultura.

Nesse dia internacional, o organismo liderado por Graziano anunciou a implementação de dois projetos de “alfabetização florestal” para crianças de nove a 12 anos, na Tanzânia e Filipinas. Financiados com mais de 1 milhão de dólares do governo da Alemanha, os programas terão duração de três anos e vão envolver a elaboração de módulos educativos que sejam práticos e interativos. A iniciativa prevê a divulgação posterior desse material por meio online, para todo o mundo.

Tanto nas Filipinas quanto na Tanzânia, as florestas são vitais, especialmente para a nutrição das populações rurais, para as necessidades de energia e para os meios de subsistência.

Quase metade da população tanzaniana e um terço da população filipina têm menos de 15 anos de idade. A FAO acredita que educar estudantes do fundamental I sobre o uso sustentável e conservação das florestas é uma porta de entrada para a saúde a longo prazo das florestas dos dois países.

Também com financiamento alemão, a FAO, a Organização Internacional de Madeira Tropical (ITTO) e a União Internacional da Organização de Pesquisa Florestal (IUFRO) estão cooperando para realizar, com outras instituições, um inventário da educação florestal. O levantamento deve catalogar e analisar o estado de práticas de aprendizado sobre o tema em todo o mundo, a fim de identificar lacunas e propor recomendações. O projeto prevê ainda o lançamento de uma plataforma virtual que deverá ser a principal referência global em educação florestal.


Florestas e biodiversidade

Em mensagem para a data, a secretária-executiva da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica, Cristiana Pasca Palmer, afirmou que as florestas, com as suas complexas interações entre seres vivos, são “grandes professoras” para os humanos.

“Elas nos ensinam sobre as variadas formas pelas quais todos os organismos no planeta estão interconectados e, de muitas maneiras, dependem uns dos outros para sobreviver”, disse a dirigente.


“A educação florestal deve incluir tanto a pesquisa científica de ponta como também os conhecimentos tradicionais dos povos indígenas, que vivem lado a lado da biodiversidade das florestas por inúmeras gerações.”


Cristiana enfatizou ainda que os conhecimentos sobre os benefícios das florestas devem ser acessíveis para crianças, jovens e também para homens e mulheres, sem discriminação de gênero. (#Envolverde)

Pesquisadores explicam os reflexos das mudanças climáticas para a economia brasileira

Pesquisadores explicam os reflexos das mudanças climáticas para a economia brasileira


Especialistas explicam como as mudanças climáticas podem trazer prejuízos na agricultura, pecuária, geração de energia e, consequentemente, ao Produto Interno Bruto


aquecimento global

Reduzir a emissão de poluentes na atmosfera, diminuir os impactos à biodiversidade e ao clima e intensificar ações de preservação ambiental para garantir que a economia brasileira prospere nas próximas décadas. Esse é o caminho apontado por pesquisadores da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza. Sem essa preocupação estratégica, tudo indica que haverá impacto da produção agropecuária e industrial, com produtos ainda mais caros para a população. É possível, contudo, adotar medidas para que as consequências do aquecimento global não prejudiquem o setor econômico do país.


O climatologista Carlos Nobre, doutor pelo Massachusetts Institute of Technology e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, alerta que caso o Acordo de Paris, que visa frear as emissões de gases de efeito estufa no contexto do desenvolvimento sustentável, não seja cumprido, o Brasil deixaria em pouco tempo de ser a potência agrícola que é hoje.


“Se a temperatura subir entre 3°C e 4°C, o Brasil não terá mais condições de manter uma expressiva produção agrícola. Talvez apenas a Região Sul tenha alguma condição. A pecuária também vai cair muito”, afirma Nobre. O Brasil sofreria, portanto, impactos significativos na produção de alimentos e, por consequência, nas exportações.


O secretário-executivo do Observatório do Clima e membro da Rede de Especialistas, Carlos Rittl, ressalta que pode ocorrer uma mudança na geografia agrícola do país pela perda de aptidão de solos agrícolas a determinadas culturas devido às mudanças nos padrões de temperatura e pluviosidade a geográfica agrícola brasileira. “Algumas regiões terão perda de aptidão para diferentes culturas, gerando até a inviabilidade de produção. Há casos de produtores de café em Minas Gerais que já estão migrando para outros cultivos”, relata.


Com a agricultura e a pecuária sofrendo os impactos decorrentes do aquecimento global, o PIB brasileiro também será afetado. O agronegócio representa cerca de 23% do PIB nacional. Seria, portanto, um círculo vicioso que afetará toda a sociedade. Como consequência da escassez de produção agrícola, os preços das mercadorias em supermercados e feiras deverão se tornar mais caros para o consumidor final e perda de competitividade nos mercados internacionais.


A alteração climática gerará ainda outros impactos. Um deles é que terá maior tendência em aumentar o fluxo migratório de pessoas que deixarão o interior para morar em capitais. Afinal, com a produção agrícola em queda, as pessoas buscarão outras fontes de renda. “Este êxodo rural tem uma série de implicações, inclusive para a capacidade das cidades de oferecer serviços públicos adequados para aqueles que fogem das regiões cujo clima se tornou impróprio para a subsistência das famílias”, ressalta Rittl.


Ainda conforme Rittl, a possibilidade de escassez de água é outro efeito que merece atenção. “Além de afetar diretamente a população, a falta de água impacta setores econômicos importantes, como a produção de alimentos e a geração de energia. A agricultura brasileira consome cerca de 2/3 da água produzida no país. E as hidrelétricas dependem das chuvas que abastecem os rios que movem as turbinas. Em determinados cenários, há rios da Amazônia, onde se planeja a construção de grandes hidrelétricas que podem perder 30% ou mais da vazão pela perda de chuvas em suas bacias. Isto torna os empreendimentos inviáveis”, ressalta. Para compensar os baixos reservatórios, usinas termoelétricas serão mais acionadas, gerando mais poluentes e mais caras para operar. “Hoje, quando os reservatórios das hidrelétricas, estão em baixa, são acionadas termelétricas que emitem gases de efeito estufa, agravando o problema do aquecimento global, e que têm um custo elevado para as famílias e para a economia” completa o especialista.


Saúde
A saúde é outra área que terá impacto decorrente da mudança climática e ambiental. Quanto mais emissão de poluentes, mais pessoas ficarão doentes, especialmente crianças e idosos. “Temperaturas muito elevadas podem gerar graves problemas de saúde para a população, em especial os mais idosos e bebês, em especial doenças cardiorrespiratórias. Mas as doenças transmitidas por mosquitos, como zika, dengue, Chikungunya, febre amarela e malária, entre outras, podem ter sua área de ocorrência ampliada e levar a muito mais casos. Além disso, a falta ou o excesso de chuvas leva ao consumo de água impropria ou contaminada pela população, o que aumenta os riscos de outras doenças. Além do impacto para a saúde do ser humano, os custos para a saúde pública também irão aumentar”, afirma Rittl.


Adaptação
A mudança climática já é uma realidade. Para isso, é necessário que haja um processo de adaptação. Uma das estratégias, como explana Nobre, é a restauração florestal. “As árvores são essenciais para retirar o excesso de gás carbônico que produz o aquecimento global pelo efeito estufa da atmosfera”, afirma. Além disso, estudos recentes confirmam que a restauração florestal em bacias hidrográficas é uma estratégia para garantir a segurança hídrica e reduzir os custos com o tratamento da água. Nesse caminho, é fundamental o Brasil cessar o processo de desmatamento.

Outro ponto que Nobre ressalta é a necessidade de uma redução na emissão de poluentes na atmosfera. Para tanto, a matriz energética e o transporte devem ser revistos. “Para o transporte a saída é utilizar carros, caminhões e ônibus movidos à eletricidade. O Brasil está atrasado neste sentido. Mas isso irá acontecer no país”, afirma. Atualmente, a maioria dos meios de transporte no Brasil usa gasolina ou diesel, que emitem gás carbônico e vários poluentes que impactam a saúde.

Ele também acredita ser fundamental apostar em fontes de energia renováveis, como a solar e a eólica. “O Brasil tem potencial para isso. As usinas hidrelétricas existentes funcionariam como uma espécie de enorme bateria que seria acionada quando necessário. É preciso apostar nisso até chegar a condição que todas as pessoas tenham uma pequena usina em casa, gerando sua própria energia elétrica”, aponta Nobre. Isso já é realidade para cerca de 40 mil brasileiros, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 01/04/2019
"Pesquisadores explicam os reflexos das mudanças climáticas para a economia brasileira," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 1/04/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/04/01/pesquisadores-explicam-os-reflexos-das-mudancas-climaticas-para-a-economia-brasileira/.

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Aquecimento Global: Um bilhão de pessoas serão expostas a doenças como a dengue com o aumento da temperatura mundial



Aquecimento Global: Um bilhão de pessoas serão expostas a doenças como a dengue com o aumento da temperatura mundial



Até um bilhão de pessoas poderiam ser expostas a mosquitos portadores de doenças até o final do século devido ao aquecimento global, diz um novo estudo que examina mensalmente as mudanças de temperatura em todo o mundo.

Georgetown University Medical Center*



Aedes albopictus



Aedes albopictus. Segundo a Organização Mundial da Saúde, os mosquitos são
um dos animais mais letais do mundo, portadores de doenças que causam
milhões de mortes todos os anos. (Imagem: James Gathany, Centros de Controle
e Prevenção de Doenças)


Os cientistas dizem que a notícia é ruim mesmo em áreas com um pequeno risco de ter um clima adequado para mosquitos, porque os vírus que carregam são notórios por surtos explosivos quando aparecem no lugar certo, sob as condições certas.

“A mudança climática é a maior e mais abrangente ameaça à segurança sanitária global”, diz o biólogo de mudança global Colin J. Carlson, PhD, um pós-doutorado no departamento de biologia da Universidade de Georgetown e co-autor do novo estudo. “Mosquitos são apenas parte do desafio, mas depois do surto de zika no Brasil em 2015, estamos especialmente preocupados com o que vem a seguir.”

Publicado na revista de acesso aberto PLOS Neglected Tropical Diseases (“Global expansion and redistribution of Aedes-borne virus transmission risk with climate change”), a equipe de pesquisa, liderada por Sadie J. Ryan da Universidade da Flórida e Carlson, estudou o que aconteceria se os dois mosquitos transmissores de doenças mais comuns – Aedes aegypti e Aedes albopictus – seguirem e se moverem à medida que a temperatura muda ao longo de décadas.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, os mosquitos são um dos animais mais letais do mundo, portadores de doenças que causam milhões de mortes todos os anos. Tanto o Aedes aegypti quanto o Aedes albopictus podem conter os vírus da dengue, chikunguyna e zika, bem como pelo menos uma dúzia de outras doenças emergentes que, segundo os pesquisadores, podem ser uma ameaça nos próximos 50 anos.

Com o aquecimento global, dizem os cientistas, quase toda a população mundial pode ser exposta em algum momento nos próximos 50 anos. À medida que a temperatura aumenta, eles esperam transmissões durante todo o ano nos trópicos e riscos sazonais em quase toda parte. Uma maior intensidade de infecções também é prevista.

“Essas doenças, que consideramos estritamente tropicais, já apareceram em áreas com climas adequados, como a Flórida, porque os seres humanos são muito bons em mover os insetos e seus patógenos em todo o mundo”, explica Ryan, professor associado de geografia médica na Flórida.
“O risco de transmissão de doenças é um problema sério, mesmo nas próximas décadas”, diz Carlson. “Lugares como a Europa, a América do Norte e altas elevações nos trópicos que costumavam ser muito frias para os vírus enfrentarão novas doenças, como a dengue.”

Mudanças climáticas mais severas produziriam proporcionalmente piores exposições populacionais para o mosquito Aedes aegypti . Mas em áreas com o pior aumento do clima, incluindo o oeste da África e sudeste da Ásia, são esperadas reduções sérias das condições para o mosquito Aedes albopictus , mais notadamente no sudeste da Ásia e no oeste da África. Este mosquito transporta dengue, chikunguyna e zika.

“Entender as mudanças geográficas dos riscos realmente coloca isso em perspectiva”, diz Ryan. “Embora possamos ver mudanças nos números e achar que temos a resposta, imagine um mundo quente demais para esses mosquitos.”

“Isso pode soar como uma boa notícia, cenário de más notícias, mas é tudo uma má notícia se acabarmos no pior cronograma para a mudança climática”, diz Carlson. “Qualquer cenário em que uma região se torne quente demais para transmitir a dengue é aquele em que também temos ameaças diferentes, mas igualmente severas, em outros setores da saúde.”

A equipe de pesquisadores analisou as temperaturas mês a mês para projetar o risco até 2050 e 2080. A modelagem não previa qual tipo de mosquito migraria, mas sim um clima em que sua disseminação não seria evitada.

“Com base no que sabemos sobre o movimento do mosquito de região para região, 50 anos é um tempo considerável, e esperamos uma disseminação significativa de ambos os tipos de insetos, particularmente o Aedes aegypti , que prosperam em ambientes urbanos”, explica Carlson.

“Este é apenas um estudo para começar a entender os desafios que enfrentamos rapidamente com o aquecimento global”, diz Carlson. “Temos uma tarefa hercúlea à frente. Precisamos descobrir o patógeno por patógeno, região por região, quando os problemas surgirão para que possamos planejar uma resposta global à saúde ”.

Referência:
Global expansion and redistribution of Aedes-borne virus transmission risk with climate change
Sadie J. Ryan , Colin J. Carlson , Erin A. Mordecai, Leah R. Johnson
Published: March 28, 2019
DOI https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0007213

* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/03/2019
"Aquecimento Global: Um bilhão de pessoas serão expostas a doenças como a dengue com o aumento da temperatura mundial," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/03/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/03/29/aquecimento-global-um-bilhao-de-pessoas-serao-expostas-a-doencas-como-a-dengue-com-o-aumento-da-temperatura-mundial/.

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O desmatamento da floresta amazônica pode acelerar como resultado da guerra comercial EUA-China, alertaram os pesquisadores

O desmatamento da floresta amazônica pode acelerar como resultado da guerra comercial EUA-China, alertaram os pesquisadores


Desmatamento da floresta amazônica

O aumento das tarifas fez com que as exportações de grãos de soja dos EUA para a China caíssem pela metade em 2018, criando um enorme déficit que poderia desencadear um extenso corte de árvores no Brasil, dizem especialistas.
University of Edinburgh, School of Geosciences*

desmatamento

O estudo, da Universidade de Edimburgo e Instituto de Tecnologia de Karlsruhe, adverte que o Brasil estará sob pressão para fornecer até 38 milhões de toneladas de soja – usada principalmente como ração animal – para a China a cada ano.


Desflorestamento em grande escala
A pressão para preencher o déficit pode fazer com que o Brasil aumente suas terras usadas para a produção agrícola em até 39% – 13 milhões de hectares – segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. Duas décadas de crescimento no mercado global de soja já levaram ao desmatamento em grande escala nas florestas tropicais brasileiras.

Controles políticos e legais que impediram a expansão da produção de soja na Amazônia foram recentemente enfraquecidos, dizem os pesquisadores.

Eles alertam que o desmatamento aumentou 29% entre 2015 e 2016. O recém-eleito presidente do Brasil também removeu os direitos fundiários de muitos povos indígenas.

As importações brasileiras da China aumentaram em 2.000% nas últimas duas décadas.

Pesquisadores dizem que é muito provável que o apetite da China por ração animal e bioenergia leve a novos aumentos.

No final de 2018, 75 por cento das importações de soja da China vieram do Brasil, o que significa que todo o déficit americano foi substituído por culturas brasileiras.

Medidas de redução
Com poucas perspectivas de que a China reduza a ingestão de grãos de soja, o estudo, publicado na Nature, sugere uma série de medidas para garantir que não haja mais perda da floresta amazônica.
Pesquisadores dizem que a China e os EUA deveriam reconhecer seus papéis na condução do desmatamento tropical e remover as tarifas de comércio da safra.

A China também pode buscar uma gama maior de fornecedores, incluindo Argentina e Europa.
Os pesquisadores também pedem que o Brasil melhore seus esquemas de proteção ambiental recompensando financeiramente os desenvolvedores e empresas por não desmatarem as florestas.
Governos, produtores, reguladores e consumidores devem agir agora. Se não o fizerem, a floresta amazônica pode se tornar a maior vítima da guerra comercial EUA-China. Dr. Alexander, Escola de Geociências, a Universidade de Edimburgo
Referência:
Why the US–China trade war spells disaster for the Amazon
Nature 567, 451-454 (2019)
doi: 10.1038/d41586-019-00896-2
https://www.nature.com/articles/d41586-019-00896-2

* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 01/04/2019
"O desmatamento da floresta amazônica pode acelerar como resultado da guerra comercial EUA-China, alertaram os pesquisadores," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 1/04/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/04/01/o-desmatamento-da-floresta-amazonica-pode-acelerar-como-resultado-da-guerra-comercial-eua-china-alertaram-os-pesquisadores/.

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