terça-feira, 9 de agosto de 2022

Arraias emitem som – mas a maneira como o fazem ainda é um mistério

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Arraias emitem som – mas a maneira como o fazem ainda é um mistério

NOVOS VÍDEOS FEITOS NA AUSTRÁLIA E NA INDONÉSIA REVELAM QUE PELO MENOS DUAS ESPÉCIES DE ARRAIAS FAZEM BARULHOS DE CLIQUES – MAS NÃO SE SABE COMO ELAS FAZEM ISSO.

Uma arraia desliza pela Ilha Heron, na Austrália, parte da Grande Barreira de Corais.
FOTO DE JOHNNY GASKELL

Baleias cantam, camarões estalam e peixes-sapo zumbem. Mas e as arraias? Até recentemente, cientistas acreditavam que o peixe chato era quieto como uma panqueca.

Agora, um estudo quebrou esse silêncio. Vídeos revelam que duas espécies de arraias – Urogymnus granulatus e Pastinachus ater, ambas nativas do Indo-Pacífico – produzem cliques impressionantes e inconfundíveis.

De fato, em um dos vídeos, o clique da arraia foi tão violento que fez o fotógrafo largar sua câmera, conta Lachlan Fetterplace, ecologista marinho da Universidade Sueca de Ciências Agrárias que liderou o estudo, publicado recentemente na revista Ecology.

Enquanto quase mil espécies de peixes ósseos fazem algum tipo de barulho, tubarões e raias eram, até agora, vistos como discrepantes silenciosos. E isso é surpreendente, porque cientistas e mergulhadores estão na água com esses animais o tempo todo.

“Isso é meio estranho”, diz Fetterplace. “Eu mergulho muito com algumas outras espécies de arraias, e agora estou me questionando. Eu poderia ter perdido isso?”

“Isso mostra que não sabemos tudo”, acrescenta. “Estamos no ano de 2022 e você pode descobrir algo que ninguém jamais viu, apenas saindo e fazendo observações na história natural.”

Como uma arraia faz um som?

Antes do novo estudo, a única evidência verificada de arraias emitindo sons veio de um estudo de arraias de cativeiro. Publicada em 1970, essa pesquisa registrou cliques curtos e nítidos vindos dos peixes, mas somente depois que os cientistas os cutucaram com força. Só em 2017 e 2018 que vários dos coautores do novo estudo gravaram vídeos de alta qualidade, enquanto mergulhavam na Indonésia e na Austrália, que capturaram os ruídos. 

Mesmo que o vídeo evidencie que essas arraias fazem ruídos pareça ser uma grande descoberta, os pesquisadores não têm certeza de como os animais produzem os sons. “Eles não têm cordas vocais e não há um mecanismo claro de como eles fazem isso”, explica Fetterplace.

Nos vídeos, os espiráculos das arraias – dois buracos em suas cabeças usados ​​para mover a água através de suas guelras – parecem se contrair quando o som do clique é emitido. Isso sugere que o peixe pode estar criando atrito entre os espiráculos e o tecido circundante, não muito diferente de quando estalamos os dedos. Também é possível que as arraias formem sons criando um vácuo, como quando estalamos nossas línguas, explica Fetterplace.

O que quer que esteja acontecendo, é provável que seja revelado em breve, já que outros cientistas já estão planejando estudos para analisar a anatomia das arraias mais de perto.

O que as arraias estão tentando dizer?

Para sua pesquisa, Fetterplace e seus colegas compararam a largura de banda e as frequências dos sons com o alcance conhecido da audição de arraias. Eles confirmaram que as arraias podem realmente ouvir esses sons, o que pode significar que são uma forma de comunicação.

Jovens arraias descansam sob árvores de mangue em Geoffrey’s Bay, parte da Reserva de Conservação da Grande Barreira de Corais da Austrália. Os cientistas gravaram as arraias produzindo um ruído de palmas que pode servir como um sinal de retorno ou de socorro para outros em seu grupo.
FOTO DE J. JAVIER DELGADO ESTEBAN

Ao mesmo tempo, o trabalho dos cientistas mostrou que os tubarões-de-recife e os tubarões-limão (predadores de ambas as espécies de raias) também podem ouvir os cliques. Isso sugere que as arraias podem emitir os sons quando sentem um predador se aproximando como um aviso, talvez para ficar longe das farpas venenosas das arraias.

Da mesma forma, os sons rápidos e altos podem ser simplesmente uma distração, que surpreende um predador e dá à arraia a chance de escapar. 

Há outra possibilidade, no entanto.

Quando o fotógrafo e coautor Javier Delgado Esteban testemunhou uma arraia de mangue selvagem fazendo sons em 2018, em Geoffrey Bay, Austrália, ele notou outro comportamento interessante. Depois de fazer os cliques, o jovem foi rapidamente acompanhado por uma série de outras arraias. 

“As outras vinham e se amontoavam ao redor dele, e todas tinham suas caudas com espinhos para cima”, relata Fetterplace, sugerindo que os cliques podem ser uma maneira de chamar reforços.

‘Realmente, muito emocionante’

Audrey Looby, doutoranda e ecologista da comunidade marinha da Universidade da Flórida, publicou recentemente uma revisão científica sobre ruído de peixes. Ela vasculhou mais de 800 referências que datam de 1874 e encontrou poucas informações sobre elasmobrânquios, o grupo que inclui tubarões e arraias. 

“Então, ver um estudo como esse, onde há um vídeo e uma descrição abrangente dos comportamentos associados a esses sons, é muito, muito emocionante”, comemora Looby.

Sobre como essa habilidade foi negligenciada por tanto tempo, Looby diz que pode ser explicada por vários fatores. Por exemplo, talvez as arraias emitam sons ocasionalmente, ou apenas certas espécies podem fazê-lo, ou os peixes são mais propensos a produzir ruído em um horário ou estação específica. 

“Eles também podem ser bastante difíceis de estudar porque geralmente são altamente móveis e evasivos”, destaca Looby.

Como muitas espécies de arraias estão ameaçadas de extinção, Fetterplace pede cautela. Embora ele e seus coautores esperem que sua pesquisa descubra mais exemplos de arraias produtoras de som, “não queremos que o público saia e se aproxime muito de uma arraia apenas para obter esse tipo de ruído”.

“Isso não é bom para a arraia”, alerta, “e é potencialmente perigoso”.

Fonte: National Geographic Brasil

Por falta de chuva, Amazônia está mais vulnerável do que se pensava

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Por falta de chuva, Amazônia está mais vulnerável do que se pensava

EFEITOS DA SECA PODEM OCASIONAR UM DESEQUILÍBRIO DO ECOSSISTEMA ÚNICO DA FLORESTA E MATAR ÁRVORES QUE NÃO ESTÃO LOCALIZADAS EM ÁREAS DE SECA

Imagem da Floresta Amazônica que atualmente sofre com constantes secas que prejudicam seu ecossistema (Foto: Antonio Campoy)

Uma nova análise liderada pelo pesquisador Nico Wanderling, do Instituto Potsdam de Pesquisa em Ação Climática, revela a situação alarmante da Amazônia. Publicada na última terça-feira (2) no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), a pesquisa analisou os efeitos causados pelas secas no bioma.

Um dos maiores sumidouros de carbono do planeta, a Amazônia vem enfrentando períodos de seca mais frequentes e severos. A preocupação do time de pesquisadores vem do fato de que a respiração da floresta é feita à base da água, e a falta dela afeta todo o ecossistema da floresta.

Quando chove, o solo absorve uma quantidade grande de água e tanto ele quanto as plantas devolvem, por meio de evaporação ou transpiração, uma quantidade dessa água para a atmosfera. Após a evaporação, inicia-se a condensação e assim se cria um clima único da floresta, gerando metade das chuvas sobre a Bacia Amazônica.

Outro fator preocupante são as análisespara o futuro conduzidas pela equipe. Cenários extraordinariamente secos, como em 2005 e 2010, podem se tornar frequentes a partir de 2050, com secas intensas ocorrendo a cada nove ou dez anos até 2060.

Portanto, para entender os impactos desses períodos na floresta, os pesquisadores utilizaram uma análise de rede com simulação de efeito dominó do período sem chuva. Por meio desse estudo, os pesquisadores conseguiram identificar que mesmo que a seca afetasse apenas uma parte específica da região, os danos podem se estender para outras áreas.

A pesquisa calcula que a cada três árvores que morrem por conta da seca na Amazônia, uma quarta árvore que não foi diretamente atingida também irá morrer. Isso ocorre porque a falta de chuva em um só local já contribui para a diminuição do volume de reciclagem de água, fazendo com que regiões vizinhas sejam afetadas.

Mas essa proporção também pode ser aplicada em outros cenários. “Embora tenhamos investigado o impacto da seca, essa regra também vale para o desmatamento. Isso significa essencialmente que, quando você derruba um acre de floresta, o que você realmente está destruindo é 1,3 acre”, explica, em nota, Wanderling.

Os autores chamam atenção para um outro fato. Na Amazônia, os sistemas florestais são adaptados de forma diferente aos períodos de seca e de abundância de água. Isso porque, por conta do território vasto, algumas áreas das florestas enfrentam mais secas do que as outras.

“Assim, descobrimos que mesmo as partes da Floresta Amazônica adaptadas à estação seca não sobreviverão necessariamente a um novo clima normal, e o risco virar uma savana ou nem haver árvores é alto”, acrescenta Boris Sakschewski, coautor do estudo do Instituto Potsdam.

Atualmente, o maior risco de se transformar em savana está localizado no sul da floresta. Esse local apresenta um desmatamento contínuo para pastagem ou soja. Em nota, Ricarda Winkelmann, coautora sênior do estudo e líder da pesquisa de elementos de tombamento no Instituto Potsdam, acredita que os efeitos da estiagem serão mais severos nessas regiões que já sofrem com a ação humana.

Entretanto, nem tudo está perdido. Para os pesquisadores ainda existem chances de salvar a Amazônia, cujos serviços ecológicos são de extrema importância, englobando questões climáticas locais, regionais e globais.

Uma das soluções é exposta pela coautora.”Sabemos como podemos fazer isso: protegendo a floresta tropical da extração de madeira e reduzindo rapidamente as emissões de gases de efeito estufa para limitar ainda mais o aquecimento global”, resume a climatologista.

Fonte: Galileu

Poluição plástica: pássaros em todo o mundo estão vivendo em nosso lixo

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Poluição plástica: pássaros em todo o mundo estão vivendo em nosso lixo

Gannets na Noruega nidificando em cordas plásticas e artes de pesca. Fonte: Simon Pierce.
Gannets na Noruega nidificando em cordas plásticas e artes de pesca. Fonte: Simon Pierce.

Aves de todos os continentes, exceto da Antártida, foram fotografadas nidificando ou emaranhadas em nosso lixo.

As fotos foram enviadas por pessoas de todo o mundo para um projeto online chamado Birds and Debris (Aves e detritos).

Os cientistas que executam o projeto dizem que veem pássaros presos – ou nidificando – em tudo, desde cordas e linhas de pesca até fitas de balão e chinelos.

Quase um quarto das fotografias mostra pássaros nidificando ou enredados em máscaras descartáveis.

O foco do projeto é capturar o impacto dos resíduos – principalmente a poluição plástica – no mundo das aves.

Mary Caporal Prior nos EUA capturou esta imagem de um pato-real com uma máscara no pescoço. Fonte: Mary Caporal Prior.
Mary Caporal Prior nos EUA capturou esta imagem de um pato-real com uma máscara no pescoço. Fonte: Mary Caporal Prior.

“Basicamente, se um pássaro constrói um ninho usando materiais fibrosos longos – como algas marinhas, galhos ou juncos – as chances são de que ele tenha detritos humanos em seu ninho em algum lugar”, disse Alex Bond, do Museu de História Natural de Londres e um dos pesquisadores envolvidos.

O projeto, que ele e seus colegas executam há quatro anos, visa chamar a atenção para o problema generalizado dos resíduos plásticos no meio ambiente.

Pombos que nidificam em um canteiro de obras em Sussex fazem uso de abraçadeiras descartadas. Fonte: Matthew Irish.
Pombos que nidificam em um canteiro de obras em Sussex fazem uso de abraçadeiras descartadas. Fonte: Matthew Irish.

“Quando você começa a procurar por essas coisas, você as vê em todos os lugares”, disse ele. “E isso realmente ilustrou o enorme escopo geográfico – tivemos relatórios do Japão, Austrália, Sri Lanka, Reino Unido, América do Norte – é realmente uma questão global”.

Em um estudo recente, a equipe analisou quantas das fotos enviadas apresentam equipamentos de proteção individual (EPIs) relacionados à pandemia. Eles descobriram que os materiais apareceram em quase um quarto das fotografias enviadas.

Máscaras, como esta em uma amarra preta em Cingapura, são os itens relacionados à pandemia mais comuns nas fotografias. Adrian Silas Tay.
Máscaras, como esta em uma amarra preta em Cingapura, são os itens relacionados à pandemia mais comuns nas fotografias. Fonte: Adrian Silas Tay.

“São quase todas as máscaras”, disse o Dr. Bond. “E se você pensar nos diferentes materiais de que uma máscara cirúrgica é feita – há o elástico que vemos enrolado nas pernas dos pássaros ou podemos ver pássaros feridos ao tentar ingerir o tecido ou o pedaço duro de plástico que o prende sobre seu nariz.

“Então, usamos esse termo abrangente de ‘plástico’, mas é toda uma gama de polímeros diferentes, e as máscaras são um bom exemplo disso.”

Muitos pássaros, como este tordo americano encontrado em abril de 2020, são vistos emaranhados nas tiras elásticas das máscaras. Fonte: Jake Kenny.
Muitos pássaros, como este tordo americano encontrado em abril de 2020, são vistos emaranhados nas tiras elásticas das máscaras. Fonte: Jake Kenny.

Os pesquisadores dizem que querem destacar o “problema sistêmico” que leva tantos detritos a acabarem no meio ambiente.

A pesquisadora líder Justine Ammendolia, da Universidade de Dalhousie, no Canadá, disse à BBC News que ver a amplitude do impacto sobre as espécies globalmente foi “devastador”.

“Em abril de 2020, o primeiro avistamento de um pássaro pendurado em uma máscara facial em uma árvore foi registrado no Canadá e os avistamentos se espalharam internacionalmente depois”, disse ela. “Isso realmente demonstra o dano que os humanos são capazes de impor ao meio ambiente em uma janela de tempo muito curta em todo o mundo”.

Este galeirão na Holanda é difícil de detectar em meio a todo o lixo em seu ninho. Fonte: Sam M.
Este galeirão na Holanda é difícil de detectar em meio a todo o lixo em seu ninho. Fonte: Sam M.

“Mudar para uma escova de dentes de bambu ou uma sacola de compras de lona não vai salvar o mundo, [porque] a maior parte da produção de plástico em larga escala hoje é comercial e industrial”, disse Bond.

“Portanto, é uma combinação de políticas de cima para baixo e pressão de baixo para cima para dizermos ‘basta’.”

Fonte: Malcolm Jolly.
Fonte: Malcolm Jolly.

A pesquisadora de doutorado Justine Amendolia acrescentou: “Para as pessoas que veem essas imagens pela primeira vez, não há problema em se sentir triste. Mas precisamos aprender com o sofrimento desnecessário e muitas vezes invisível que alguns animais selvagens experimentaram durante a pandemia.

“Espero que as pessoas usem sua tristeza para alimentar sua demanda por ação.”

Os pesquisadores dizem que precisamos aprender com o sofrimento muitas vezes invisível da vida selvagem. Fonte: Joe Chowaniec.
Os pesquisadores dizem que precisamos aprender com o sofrimento muitas vezes invisível da vida selvagem. Fonte: Joe Chowaniec.

O Dr. Bond comparou a ação global necessária para lidar com a poluição plástica ao Protocolo de Montreal que baniu os produtos químicos que destroem a camada de ozônio – um tratado amplamente considerado um dos acordos globais mais bem-sucedidos já assinados.

“Precisamos da mesma coisa com a poluição plástica, e estamos nos movendo nessa direção, mas muito, muito lentamente”.

Fonte: BBC News / Victoria Gill
Tradução: Redação Ambientebrasil / Maria Beatriz Ayello Leite
Para ler a reportagem original em inglês acesse: 
https://www.bbc.com/news/science-environment-62407026