quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Desmatamento na Amazônia cresce pelo 3º ano; grilagem toma florestas públicas

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Desmatamento na Amazônia cresce pelo 3º ano; grilagem toma florestas públicas

30.11.2020Notícias
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Os dados preliminares do sistema anual Prodes anunciados hoje pelo vice-presidente Hamilton Mourão mostram que, pelo quarto ano consecutivo, a taxa de desmatamento na Amazônia cresceu em relação ao ano anterior; é o número mais alto já registrado nos últimos 12 anos.

Entre agosto de 2019 e julho de 2020, o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registrou 11.088 quilômetros quadrados derrubados de floresta, ou 9,5% a mais do que foi observado no período anterior. Esse número ainda tende a subir na versão final no monitoramento, a ser liberada no primeiro semestre de 2021.

Segundo Mourão, tal qual em 2019, 30% do desmatamento aconteceu em florestas públicas não destinadas, áreas que não foram ainda designadas para conservação ou uso privado e estão sob a tutela dos governos federal e estaduais. É um sinal claro de grilagem, que exige uma ação urgente do poder público.

Até 2018, 23% dos quase 500 mil km2 de florestas não destinadas, aproximadamente 116 mil km2, estavam registrados irregularmente como de uso particular no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (SICAR). É uma tentativa de grileiros forjarem propriedade sobre uma área invadida e buscar a regularização.

O desmatamento acumulado, até 2018, nessas florestas públicas somava 26 mil km2, a maior parte justamente nas áreas griladas. Os dados são parte de um artigo científico publicado neste ano por pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e da Universidade Federal do Pará.

“As florestas públicas não destinadas devem ser preservadas, pois elas são fundamentais para manter o equilíbrio climático e hídrico da Amazônia. É urgente que o desmatamento ali seja interrompido e que essas áreas sejam protegidas”, afirma o pesquisador sênior do IPAM, Paulo Moutinho, que estuda essas áreas. “Mas temos observado o crescimento do desmatamento nessas florestas públicas nos últimos anos, sem que ações efetivas sejam tomadas para coibir a invasão ilegal do erário e a dilapidação de um patrimônio público de todos os brasileiros.”

Boa parte da ocupação das florestas não destinadas é voltada para a especulação imobiliária. Com frequência, quem invade inicialmente vende aquela terra, com todos os passivos ambientais, para continuar lucrando com novas grilagens.

“As estratégias para controlar o desmatamento estão postas e testadas. É preciso colocar em curso ações de comando e controle para coibir a ilegalidade; destinar as florestas públicas para conservação, e assim tirá-las do mercado; e ao mesmo tempo estimular o bom uso das terras consolidadas e hoje abandonadas, onde é possível expandir as atividades agropecuárias”, diz o diretor-executivo do IPAM, André Guimarães. “Com investimento e planejamento, é possível acabar com o desmatamento na Amazônia.”


Declínio de aves em áreas intocadas da Floresta Amazônica surpreende cientistas

 

Declínio de aves em áreas intocadas da Floresta Amazônica surpreende cientistas

Declínio de aves em áreas intocadas da Floresta Amazônica surpreende cientistas

Há décadas pesquisadores monitoram a rica biodiversidade da maior floresta tropical do mundo, a Amazônica. Mas em levantamentos recentes, cientistas da Louisiana State University (LSU) descobriram uma redução no número de aves em áreas preservadas da região, ainda intocadas pelas atividades humanas.

A queda na população se dá sobretudo para pássaros que vivem próximo ao solo da floresta, onde buscam seus alimentos, principalmente insetos.

“Achamos que o que está ocorrendo é uma erosão da biodiversidade, uma perda de riqueza de espécies em um lugar onde nós esperaríamos que a biodiversidade pudesse ser mantida” diz Philip Stouffer, professor do departamento de Recursos Naturais Renováveis da LSU e principal autor de um artigo publicado na revista Ecology Letters.

Stouffer faz estudos de campo na Amazônia desde a década de 90. Todavia, por volta de 2008, ele e sua equipe começaram a notar que havia ficado mais difícil observar alguns tipos de aves. Os pesquisadores decidiram então fazer uma análise abrangendo uma linha do tempo mais longa, com informações que começassem ainda nos anos 80.

Depois de avaliarem os dados de 55 localidades diferentes, nos últimos 35 anos, eles tiveram a certeza que algumas espécies de pássaros deixaram de ser encontradas em áreas pristinas da Floresta Amazônica.

“É um conjunto de dados muito robusto de uma variedade de lugares coletados ao longo de muitos anos. Não é apenas um acaso. Parece que existe um padrão real e pode estar relacionado a coisas que sabemos que estão acontecendo com as mudanças climáticas globais e estão afetando até mesmo este lugar primitivo ”, alerta Stephen Midway, um dos co-autores do artigo.

Stouffer concorda que, se os padrões desses animais estão mudando na ausência de alteração na paisagem, isso sinaliza um aviso sério de que simplesmente preservar as florestas não manterá a biodiversidade da mata tropical.

Aves mais impactadas

Pesquisas preliminares apontaram o declínio no número de pássaros que estão mais frequentemente no solo da floresta, por ser ali que encontram suas presas.

Um exemplo é o o pinto-do-mato-carijó (Myrmornis torquata), que busca seus alimentos embaixo de folhas, que caem das árvores. Outro pássaro que os cientistas descobriram que se torna cada vez mais raro de ser avistado na Amazônia é o uirapuru-verdadeiro (Cyphorhinus arada), que possui um dos cantos mais icônicos da floresta (na imagem que abre este post).

Declínio de aves em áreas intocadas da Floresta Amazônica surpreende cientistas

O pinto-do-mato-carijó

Entretanto, algumas aves, mesmo aquelas que comem insetos no chão, não parecem ter sido afetadas. É o caso do papa-formiga-de-topete (Pithys albifrons). Como ele se alimenta de formigas de correição, que se deslocam pelo solo da floresta predando tudo o que encontram pela frente, o pássaro não fica limitado a um território fixo.

Os pesquisadores americanos também notaram que as aves frugívoras, que tem a dieta baseada em frutas, apresentaram um aumento de sua população. Eles suspeitam que as espécies com hábitos alimentares mais variados terão maior resiliência para sobreviver à crise climática.

“A ideia de que há mudanças até mesmo nas partes mais intocadas de nosso planeta sem que nós as percebamos, nos mostra que precisamos estar ainda mais atentos a estas transformações,” ressalta Stouffer.

Declínio de aves em áreas intocadas da Floresta Amazônica surpreende cientistas

O papa-formiga-de-topete se alimenta de frutas e pesquisadores notaram que ele continua abundante na floresta

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Fotos: Philip Stouffer, LSU (abertura), Hector Bottai/Wikimedia Commons (pinto-do-mato-carijoó) e Francisco Enríquez/NBII Image Gallery/Wikimedia Commons (papa-formiga-de-topete)

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Câmera registra sucesso de passarela para animais construída sobre estrada nos Estados Unidos

 

Câmera registra sucesso de passarela para animais construída sobre estrada nos Estados Unidos

Câmeras registram sucesso de passarela para animais construída sobre estrada nos Estados Unidos

Em 2018, o Departamento de Transportes de Utah, nos Estados Unidos, decidiu construir uma passarela para animais sobre uma rodovia interestadual que passa pelo Canyon de Parsley. O estado fica numa região montanhosa, com uma diversidade enorme de espécies vivendo em suas florestas. Mas muitos eram atropelados ao tentar cruzar esse trecho da estrada.

Inicialmente, previa-se que levaria alguns anos para que os animais se acostumassem com a nova travessia e começassem a utilizá-la. Todavia, câmeras revelaram que o viaduto é um enorme sucesso e uma quantidade enorme de bichos o usa diariamente.

Recentemente, o Utah Division of Wildlife Resources, órgão que cuida da vida selvagem no estado, divulgou em suas redes sociais um vídeo em que mostra os animais atravessando a passarela: aparecem veados, ursos, pumas, raposas…

Passarelas para travessias de animais têm se revelado uma ótima solução para evitar o atropelamento de animais.

No ano passado, escrevi sobre um viaduto gigantesco que estava sendo construído em Los Angeles na US Highway 101. Com um custo de US$ 87 milhões, o corredor vai conectar áreas da cadeia de montanhas Santa Mônica. A abertura da passarela, que tem aproximadamente 60 metros e terá ao longo dela vegetação e árvores nativas, está prevista para 2023. Ela ficará acima de dez pistas da rodovia, por onde passam, diariamente cerca de 300 mil veículos. O principal objetivo é proteger o cougar, um leão das montanhas (leia mais aqui).

No Brasil, um projeto semelhante foi feito para preservar uma espécie simbólica do país, o mico-leão-dourado. Conforme mostramos nesta outra reportagem, várias passagem de fauna foram erguidas ao longo da BR-101, no Rio de Janeiro, região onde ficam áreas de preservação que são habitat desse primata.

Pela extensão de proximadamente 80 km da estrada, foram colocados 15 túneis subterrâneos, passagens de copa (passarela que liga copas de árvores) e viadutos – o primeiro deles já está pronto, o segundo será viabilizado após a concessionária, a Autopista Fluminense, se certificar da eficiência do projeto.

Segundo o Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), 15 animais morrem atropelados, a cada segundo, no Brasil. Por dia, o número chega a quase 1,3 milhão. E por ano, o resultado final fica próximo de 475 milhões.

Um urso flagrado usando a passarela construída em Utah

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Sistema de radar detecta animais e alerta motoristas para evitar atropelamentos

Fotos: reprodução vídeo

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O cuidador das florestas alemãs

 

O cuidador das florestas alemãs

Guarda florestal na Alemanha
“Förster” é profissão com raízes na Idade Média

Ele é especialista em regeneração das florestas e conhece cada espécie que vive entre os troncos e galhos. Com uma lata de spray, identifica as árvores em risco de queda que precisam ser derrubadas, assim como as que devem permanecer fortes e saudáveis no futuro e as que pássaros usam para fazer ninhos. O Förster – guarda florestal alemão – tem a missão de proteger as florestas e os animais que nelas habitam.

Alguns ainda mantêm o tradicional modo de se vestir ao desbravar a floresta: uma jaqueta verde, um chapéu com pena e uma espingarda nas costas. A profissão com raízes na Idade Média exige conhecimentos complexos, de conservação florestal à economia.

O responsável pelas florestas estatais da Alemanha não está focado no lucro com a venda de madeira. Mais do que ter habilidades para ver oportunidades de negócios, o Förster é, acima de tudo, um ambientalista preocupado em promover a diversidade de espécies e manter o equilíbrio da natureza.

Muitos guardas florestais também têm habilidades de caça. Eles precisam saber quais animais podem ameaçar árvores jovens e controlar o número de populações. O cão é um amigo fiel do Förster nas andanças pelas florestas. O companheiro encontra animais feridos e identifica esconderijos.

A profissão de guarda florestal tem uma antiga tradição na Alemanha. Na Idade Média, os chamados guardiões florestais tinham como uma de suas funções a de proteger as árvores de ladrões de madeira.

Além de conhecer a alma da floresta, o Förster precisa ter conhecimentos em direito civil e florestal e administração. Na verdade, na maior parte do tempo, o guarda florestal fica no escritório. É preciso fazer relatórios sobre a implementação de diretrizes da União Europeia (UE) e gerenciar corte e venda da madeira, entre outras funções.

Para se tornar Förster, é necessário ter formação acadêmica em ciências florestais ou ensino técnico em engenharia florestal. Entre as disciplinas obrigatórias estão botânica, zoologia e climatologia. As mulheres ainda estão subrepresentadas nessa profissão clássica.

Fonte: Deutsche Welle, Karina Gomes

Árvores de ginkgo quase foram extintas, mas esses ‘fósseis vivos’ se salvaram

 

Árvores de ginkgo quase foram extintas, mas esses ‘fósseis vivos’ se salvaram

Essas primitivas árvores perduraram por cerca de 200 milhões de anos até seu desaparecimento quase completo. Atualmente, elas adornam paisagens urbanas.

Uma árvore de ginkgo no outono com sua folhagem amarelo-viva. Ao contrário da maioria das árvores, que perdem gradualmente as folhas, as ginkgos geralmente perdem as folhas todas de uma vez.
FOTO DE WERNER LAYER, MAURITIUS IMAGES GMBH/ALAMY

NAS RUAS de Manhattan e Washington, D.C., nos EUA, em bairros de Seul e parques em Paris, as árvores de ginkgo perdem gradualmente as folhas amarelo-vivas após a primeira onda de ar frio do inverno.

Todos os anos, essa queda das folhas, inicialmente gradual e depois súbita, forma um tapete de folhas douradas em formato de leque sobre as ruas. Contudo, no mundo todo, os cientistas estão documentando evidências desse fenômeno cada vez mais tardio, uma possível indicação das mudanças climáticas.

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“Quando nos perguntavam: ‘quando será possível ver o auge das cores de gingko?’, nossa resposta era 21 de outubro”, conta David Carr, diretor da Fazenda Experimental Blandy da Universidade da Virgínia, que abriga o Bosque de Ginkgos, um viveiro com mais de 300 árvores de ginkgo.

Carr, que estuda o Bosque de Ginkgos desde 1997, afirma que a tendência de outonos mais quentes e as mudanças tardias na coloração das folhas são nítidas. “Atualmente, a mudança de cores ocorre no fim de outubro ou na primeira semana de novembro.”

Mas não é a primeira vez que espécies antigas enfrentam grandes mudanças climáticas. E a história das ginkgos não é aquela velha história conhecida de destruição da natureza pela ação humana.

Por meio dos fósseis encontrados na Dakota do Norte, os cientistas sabem que a espécie Ginkgo biloba existe em sua forma atual há 60 milhões de anos e possui ancestrais geneticamente semelhantes que remontam a 170 milhões de anos no Período Jurássico.

Ao longo de sua existência de quase 200 milhões de anos, “foram gradualmente reduzidas. Quase foram extintas. Seu ressurgimento se deve a sua associação com humanos”, afirma Peter Crane, autor do livro Gingko e um dos maiores especialistas mundiais em ginkgo.

A União Internacional para a Conservação da Natureza, organização que monitora a sobrevivência das espécies da Terra, classifica a árvore como ameaçada de extinção na natureza. Acredita-se que existam apenas esparsas populações na China. Quando alguém anda sobre o tapete de leques dourados espalhados sobre uma calçada escurecida pela chuva no outono, tem um encontro próximo com algo raro: uma espécie resgatada do esquecimento pelos humanos e dispersada pelo mundo. É “uma ótima história evolucionária”, conta Crane, “e também uma ótima história cultural”.

A última da família

Atualmente na Terra existem cinco tipos diferentes de plantas que produzem sementes: plantas floríferas, as mais abundantes; coníferas, plantas com estruturas cônicas; gnetáceas, um grupo diversificado formado por cerca de 70 espécies, como arbustos do deserto, árvores tropicais e trepadeiras; cicadáceas, outro grupo primitivo de árvores semelhantes a palmeiras — e a solitária ginkgo. Na família ginkgoácea do reino vegetal, há apenas uma espécie viva: a Ginkgo biloba.

Os cientistas acreditam que já existiram inúmeras espécies distintas de ginkgo. Plantas fossilizadas encontradas em uma mina de carvão na região central da China datadas de 170 milhões de anos atrás revelam árvores semelhantes à ginkgo com apenas discretas variações no formato das folhas e no número de sementes.

Um arranjo de folhas de ginkgo, que são verdes antes de adquirir a tonalidade amarelo-viva no outono.
FOTO DE DARLYNE A. MURAWSKI, NAT GEO IMAGE COLLECTION

É comum descrever a espécie como um fóssil vivo — uma categoria que também inclui caranguejos-ferradura e samambaias-reais, entre outros — porque é uma sobrevivente de um grupo anteriormente diversificado que existiu há milhões de anos. Devido à sua antiguidade, a ginkgo conserva características raramente observadas nas árvores mais modernas.

As árvores de ginkgo são masculinas ou femininas e se reproduzem quando um gameta de uma árvore masculina, carregado por grãos de pólen transportados pelo vento, se conecta a uma semente de uma árvore feminina e a fertiliza, de modo bem semelhante ao processo da fertilização humana. Também há sinais de possíveis mudanças de sexo, de árvores machos para fêmeas. O fenômeno é raramente observado em ginkgos e não é totalmente compreendido, mas acredita-se que os machos às vezes produzam ramos femininos como um sistema de segurança para garantir a perpetuação da espécie.

Uma teoria indica que o declínio das espécies de ginkgo no mundo começou há 130 milhões de anos, com o início da diversificação e proliferação das plantas floríferas. Na atualidade, existem mais de 235 mil espécies de plantas floríferas. Sua evolução e proliferação ocorreram em um ritmo acelerado porque crescem mais rápido e produzem frutos para atrair herbívoros e pétalas para atrair mais polinizadores do que as ginkgos.

“É possível que as ginkgos tenham sido deixadas para trás ao competir com plantas mais modernas”, explica Crane.

Já em plena competição por sua sobrevivência, as ginkgos começaram a desaparecer da América do Norte e da Europa durante a Era Cenozoica, uma época de resfriamento global iniciada há cerca de 66 milhões de anos. Ao fim da última Era do Gelo, há 11 mil anos, as sobreviventes restantes ficaram relegadas à China.

Adoção humana

Árvores de ginkgo são famosas por seu mau cheiro. As fêmeas produzem sementes com uma camada carnosa externa que contém ácido butírico, com odor característico igual ao vômito humano.

Quanto ao motivo de terem desenvolvido um mau cheiro tão forte, Crane esclarece: “acredito que eram consumidas por animais que apreciavam esses odores. Após o consumo, as sementes passavam pelo intestino e germinavam”.

Essas mesmas sementes podem ter contribuído para que a ginkgo fosse apreciada por humanos há mil anos. Após a retirada da camada externa, o sabor das sementes de ginkgo lembra o pistache. Muito tempo após o desaparecimento dessas árvores em outros locais, as pessoas na China devem ter começado a plantá-las e se alimentar de suas sementes, presume Crane (as sementes de ginkgo são comestíveis somente após a remoção da camada externa tóxica).

Acredita-se que a planta tenha sido levada à Europa por Engelbert Kaempfer, naturalista alemão, após uma viagem ao Japão no fim do século 17, quando se supõe que tenha adquirido ginkgos da China. Atualmente, a ginkgo é uma das árvores mais comuns ao longo da Costa Leste dos Estados Unidos. Aparentemente, é resistente a insetos, fungos e altos níveis de poluição atmosférica e possui raízes capazes de se desenvolver sob o concreto.

A espécie foi considerada extinta na natureza até o início do século 20, quando uma população supostamente não domesticada foi encontrada no oeste da China. Um artigo publicado em 2004 contestou essa versão e sugeriu que as árvores haviam sido cultivadas por antigos monges budistas — mas também que outros refúgios de ginkgo podem ser encontrados no sudoeste do país.

Posteriormente, em 2012, um novo artigo citou evidências de que de fato existia uma população silvestre nas montanhas Dalou, no sudoeste da China.

“Acredito que possam existir também algumas populações silvestres de ginkgo em refúgios na China subtropical. Mas é preciso explorar mais”, afirma Cindy Tang, ecologista da Universidade de Yunnan e autora do artigo de 2012. Essas populações silvestres são um possível tesouro rico em diversidade genética para o melhoramento genético das espécies domesticadas.

No entanto Crane não está preocupado com seu futuro: a popularidade da espécie contribuirá para sua sobrevivência. “Embora sua situação na natureza seja atualmente precária e de difícil acesso, é uma planta que dificilmente será extinta”, afirma Crane.

Fonte: National Geographic Brasil

Mudanças climáticas: ‘tinta de resfriamento’ pode reduzir as emissões de edifícios

 

Mudanças climáticas: ‘tinta de resfriamento’ pode reduzir as emissões de edifícios

Fonte: GETTY IMAGES.

Um novo tipo de tinta branca tem potencial para resfriar prédios e reduzir a dependência do ar condicionado, dizem os pesquisadores.

Em um estudo, o novo produto foi capaz de refletir 95,5% da luz solar e reduzir a temperatura em 1,7 °C em comparação com as condições do ar ambiente.

Os engenheiros envolvidos dizem que o resultado é obtido pela adição de partículas de carbonato de cálcio de diferentes tamanhos.

Edifícios de todos os tipos são uma das maiores fontes de emissões de CO₂.

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De acordo com o World Green Building Council, a iluminação, o aquecimento e o resfriamento de edifícios são responsáveis ​​por cerca de 28% do CO₂ global.

Isso porque, o aquecimento e o resfriamento de edifícios são alimentados principalmente por carvão, óleo e gás – Na Europa, cerca de 75% dessa necessidade energética vem de combustíveis fósseis.

Um pesquisador da Purdue usa uma câmera infravermelha para comparar o desempenho do resfriamento de amostras de tinta branca. Fonte: UNIVERSIDADE DE PURDUE /JARED PIKE.

Durante décadas, os pesquisadores vêm tentando apresentar ideias para aumentar a eficiência do resfriamento e do aquecimento.

Uma série de tintas reflexivas foram desenvolvidas para o exterior de casas e escritórios que refletem a luz solar e reduzem as temperaturas internas.

Até o momento, nenhum desses produtos foi capaz de desviar os raios do Sol o suficiente para tornar a temperatura do prédio mais baixa do que as condições ambientais.

Agora, pesquisadores nos EUA afirmam ter desenvolvido uma tinta branca com fortes propriedades de resfriamento.

“Em um experimento em que colocamos uma superfície pintada do lado de fora sob a luz direta do sol, a superfície resfriou 1,7 °C abaixo da temperatura ambiente e durante a noite resfriou até 10 °C abaixo da temperatura ambiente”, disse o Prof Xiulin Ruan, da Universidade de Purdue em Indiana , que é o autor do estudo.

“Esta é uma quantidade significativa de energia de resfriamento que pode compensar a maioria das necessidades de ar condicionado para edifícios típicos.”

O ar condicionado possui alta contribuição para as emissões de carbono. Fonte: GETTY IMAGES.

Então, como funciona a nova pintura?

De acordo com os pesquisadores, a chave foi adicionar carbonato de cálcio à mistura.

Os cientistas descobriram que usando altas concentrações dessa substância calcária, com diferentes tamanhos de partículas, eles foram capazes de desenvolver um produto que refletia 95,5% da luz solar.

“A luz solar é um amplo espectro de comprimentos de onda”, disse o professor Xiulin Ruan.

“Sabemos que cada tamanho de partícula pode espalhar apenas um comprimento de onda de forma eficaz, então decidimos usar diferentes tamanhos de partícula para espalhar todos os comprimentos de onda. Este é um contribuidor importante, resultando em uma refletância muito alta.”

Os pesquisadores afirmam que a tinta pode ter uma ampla gama de aplicações – principalmente em centros de processamento de dados, que exigem grande refrigeração.

Como a pintura não tem componentes metálicos, é improvável que interfira nos sinais eletromagnéticos, a tornando adequada para resfriar equipamentos de telecomunicações.

Há uma série de etapas a serem seguidas antes que este produto esteja disponível comercialmente, pois ele precisa ser testado quanto à sua confiabilidade e eficiência de longo prazo.

Mas os pesquisadores estão otimistas; patentes foram registradas e há grande interesse dos principais fabricantes.

Os detalhes da nova abordagem foram publicados na revista Cell Reports Physical Science.

Fonte: BBC News / Matt McGrath


Tradução: Redação Ambientebrasil / Maria Beatriz Ayello Leite


Para ler a reportagem original em inglês acesse:
https://www.bbc.com/news/science-environment-54632523


PF faz operação para prender suspeito de desmatar, queimar, lotear e vender glebas de Terra Indígena em Rondônia

 

PF faz operação para prender suspeito de desmatar, queimar, lotear e vender glebas de Terra Indígena em Rondônia

Operação Kawyra foi deflagrada nesta quarta-feira (2). Crimes ocorriam dentro da Terra Indígena (TI) Karipuna, distrito de União Bandeirantes, em Porto Velho.

Operação Kawyra investiga invasão de terra indígena, em Porto Velho — Foto: PF/Divulgação

A Polícia Federal (PF) realiza uma operação, nesta quarta-feira (2), para prender um suspeito de desmatar, queimar, lotear e vender glebas ilegalmente dentro da Terra Indígena (TI) Karipuna, distrito de União Bandeirantes, em Porto Velho.

A operação, chamada de Kawyara, visa cumprir um mandado de busca e apreensão e um de prisão preventiva, ambos expedidos 3ª Vara da Justiça Federal.

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Segundo a PF, o alvo do mandado de busca de prisão é um dos principais suspeitos de invadir a TI Karipuna. O nome do suspeito não foi divulgado.

O nome da operação, Kawyra, tem origem na língua indígena Karipuna e significa “floresta”. O alvo da operação nesta quarta-feira, caso seja localizado, será ouvido na sede da PF e depois levado ao sistema prisional estadual da capital.

Fonte: G1

Florestas tropicais estão demostrando resistência surpreendente ao aumento das temperaturas

 

Florestas tropicais estão demostrando resistência surpreendente ao aumento das temperaturas

Cientistas constataram que existe um percentual das florestas tropicais capaz de sobreviver ao aquecimento global — se não forem desmatadas.

Um futuro mais quente para florestas como a Amazônia, mostrada na imagem, não significa necessariamente o fim das árvores, segundo novas pesquisas.
FOTO DE MALTE JAEGER, LAIF/REDUX

A floresta tropical mais quente do mundo não está localizada na Amazônia nem em nenhum outro local previsível, mas dentro da Biosfera 2, instalação experimental de pesquisa científica no deserto perto de Tucson, no Arizona. Um estudo recente de árvores tropicais plantadas nesse local no início da década de 1990 gerou um resultado surpreendente: as árvores resistiram a temperaturas mais elevadas do que qualquer temperatura prevista para as florestas tropicais neste século.

O estudo se soma a um número crescente de descobertas que estão proporcionando aos cientistas especializados em florestas algo que está em falta ultimamente: esperança. As plantas podem dispor de recursos inesperados que facilitam sua sobrevivência — e talvez até lhes assegure um bom desenvolvimento — em um futuro mais quente e repleto de carbono. E embora as florestas tropicais ainda enfrentem ameaças humanas e naturais, alguns pesquisadores acreditam que as conclusões assustadoras de seu declínio iminente devido às mudanças climáticas podem ter sido exageradas.

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“A vida é engenhosa”, afirma Scott Saleska, ecologista da Universidade do Arizona em Tucson e um dos líderes do estudo da Biosfera 2. “É muito mais engenhosa do que as representações de nossos atuais modelos.”

Nos últimos anos, foi publicada uma infinidade de relatórios alarmantes sobre florestas e os efeitos das mudanças climáticas sobre elas. Os cientistas anunciaram que a floresta amazônica não é mais um sumidouro de carbono confiável; a floresta amazônica pode estar se aproximando de um ponto crítico; florestas tropicais em todo o mundo já se aproximam das temperaturas mais altas toleradas por elas e as mudanças climáticas está matando árvores antigas.

Um ponto é incontestável: nossas emissões de combustíveis fósseis estão criando um clima inédito à humanidade e não vivenciado pelas árvores há muito tempo. “Estamos aquecendo as florestas tropicais a temperaturas inexistentes desde o Cretáceo — desde a época dos dinossauros”, afirma Abigail Swann, ecologista e cientista climática da Universidade de Washington em Seattle.

Mas é difícil prever qual será a reação das árvores. Submeter florestas inteiras a um experimento de simulação de um futuro mais quente é uma tarefa dispendiosa e logisticamente complexa. A maioria dos cientistas foi obrigada a traçar extrapolações a partir de experimentos em pequena escala ou observações de campo, muitas vezes recorrendo a modelos de computador para realizar projeções sobre as próximas décadas.

Uma instalação singular

A Biosfera 2 ofereceu uma rara oportunidade para testar o clima em uma floresta em tamanho real. Embora mais conhecida pelas equipes que ficaram isoladas no local entre 1991 e 1994, a instalação também abriga ecossistemas artificiais. Entre eles está uma floresta tropical com cerca de dois mil metros quadrados dentro de uma estrutura feita de vidro em formato de pirâmide cujo ponto mais elevado ergue-se a uma altura de 30 metros do solo do deserto. As copas das árvores plantadas no local no início da década de 1990 atualmente tocam o teto.

As temperaturas no interior da estrutura ultrapassam as temperaturas previstas até mesmo para a Amazônia — a floresta tropical mais quente do mundo — neste século. Sob essas condições sufocantes, as plantas de estudos anteriores ao ar livre quase interromperam a fotossíntese, o processo bioquímico utilizado pelas plantas para transformar o dióxido de carbono em açúcares simples para obter energia.

A Biosfera 2 em Oracle, no Arizona, possui uma floresta tropical em miniatura na qual as árvores crescem a 37,8 graus Celsius, muito mais quente do que o normal para essa vegetação.
FOTO DE JESSICA LEHRMAN, THE NEW YORK TIMES/REDUX

Os dados sobre o crescimento das árvores sob diferentes condições ambientais foram registrados no início da década de 2000 e armazenados em servidores e discos rígidos. Marielle Smith, ecologista e pós-doutoranda na Universidade Estadual de Michigan, considerou esses registros uma rara oportunidade de estudar uma floresta em um clima futuro.

Seu objetivo era analisar os efeitos de duas variáveis relacionadas: a temperatura e o déficit de pressão de vapor ou VPD (na sigla em inglês) — ou seja, a diferença entre a quantidade de água que o ar pode reter e quanto de fato retém em um determinado local e período. Quando o VPD é alto, as plantas perdem água mais rápido.

Normalmente, o aumento do VPD acompanha a temperatura porque o ar quente retém mais umidade. Contudo, na Biosfera, os pulverizadores mantinham o ar úmido, criando uma rara combinação de calor intenso e VPD baixo. O teor de CO2 se manteve estável em pouco mais de 400 partes por milhão, apenas discretamente acima do que no ar exterior naquela ocasião.

O ritmo de fotossíntese das árvores da Biosfera permaneceu igual até as temperaturas atingirem cerca de 38 graus Celsius, conforme publicado por Smith e seus colegas no mês passado no periódico Nature Plant. Por outro lado, em florestas naturais no Brasil e no México, o ritmo de fotossíntese despencou a partir de apenas 28 graus Celsius.

Segundo Smith e outros especialistas, o resultado é um grande golpe na teoria difundida de que o calor intenso interrompe a fotossíntese — a noção de que o processo seria diretamente desativado.

No entanto tudo indica que as altas temperaturas prejudicam a vegetação indiretamente com o aumento do VPD e, em seguida com a elevação da aridez do ar. As folhas das plantas absorvem dióxido de carbono por meio de células foliares com uma cavidade, denominadas estômatos, mas essas células também liberam água — até 300 moléculas de água para cada molécula de CO2 que entra. Quando o VPD aumenta em resposta a uma elevação na temperatura, as plantas fecham os estômatos para reter a água que lhes é vital, ainda que essa ação lhes obrigue a renunciar a seu alimento.

No mundo real, não são apenas as temperaturas que estão aumentando, o dióxido de carbono também está subindo rapidamente. Isso pode ajudar a proteger as plantas do calor: no futuro quente e com alto teor de CO2, os estômatos podem absorver dióxido de carbono e, em seguida, fechar-se para conservar água, afirma Smith.

“É um resultado de certa forma animador, e não é sempre que obtemos resultados desse tipo”, conta Laura Meredith, ecologista da Universidade do Arizona que lidera pesquisas sobre a floresta tropical da Biosfera 2, mas que não participou do estudo. “É uma ótima notícia a existência de estratégias de adaptação e manutenção da eficiência das florestas.”

Smith admite, entretanto, que ainda há “um grande porém”: o experimento da Biosfera 2 não incluiu altos teores de CO2, portanto, não foi possível provar que de fato o gás será utilizado pelas plantas para conservar água. “Ainda não se sabe se esse mecanismo poderia realmente existir”, ressalta ela.

Mais CO2? Ótimo.

Pesquisadores no Panamá estão avançando nos estudos e testando se elevados teores de dióxido de carbono de fato protegem as plantas do calor. Até o momento, a resposta parece ser um sim com algumas ressalvas.

O botânico Klaus Winter construiu seis cúpulas geodésicas na estação de pesquisa do Instituto Smithsoniano de Pesquisa Tropical perto do Canal do Panamá. As cúpulas de Winter são muito menores do que as da Biosfera 2 e abrigam apenas árvores pequenas, porém dispõem de controle de temperatura e de dióxido de carbono. No estudo apresentado em encontros científicos, mas ainda não publicado, ele concluiu que, sob temperaturas acima das previstas para este século, plantas com bastante irrigação e abundância de dióxido de carbono apresentam um bom desenvolvimento. O crescimento de uma espécie, o pau-de-balsa, até disparou.

No Instituto Smithsoniano de Pesquisa Tropical em Gamboa, no Panamá, a vegetação é cultivada em estufas na forma de cúpulas, onde é possível controlar a temperatura e a umidade. No interior das cúpulas, as árvores bem irrigadas e expostas a um grande volume de CO2 apresentam um bom desenvolvimento sob temperaturas acima do previsto para este século.
FOTO DE LUIS ACOSTA, AFP/GETTY IMAGES

O experimento não testa diretamente o mecanismo proposto por Smith, mas confirma que algumas árvores podem suportar altas temperaturas se receberem um grande volume de CO2 — e água, afirma Winter. “As árvores são menos suscetíveis do que esperado.”

Martijn Slot, colega de Winter, investigou uma questão paralela: seriam as plantas capazes de se adaptar a temperaturas maiores? Cada planta possui uma faixa de temperatura ideal, identificada pelos pesquisadores por meio de sensores de gás para medir a fotossíntese na folha conforme é aumentada a temperatura.

Slot constatou que é alcançada a fotossíntese ideal quando as mudas são cultivadas a 25 graus Celsius. Mas quando foi aumentada a temperatura para 35 graus Celsius, esse ponto ideal passou para cerca de 30 graus Celsius. A capacidade das plantas de adaptar sua fisiologia interna é um exemplo de “plasticidade”, cada vez mais observada como uma defesa botânica contra a mudança das condições.

“Considerar a reação das plantas às condições ambientais como sendo estática e rígida leva a previsões imprecisas ou provavelmente equivocadas”, esclarece Slot. “A plasticidade deve ser considerada” em modelos de computador que geram as previsões climáticas.

Outro indício recente de resistência oculta vem do campo. Flavia Costa, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia em Manaus, no Brasil, analisou 20 anos de dados obtidos em lotes das florestas brasileiras monitoradas. Foram incluídas florestas em planícies com acesso fácil a lençóis freáticos, o que lhes proporcionava plena irrigação, assim como as plantas de Winter. A equipe de Costa constatou que essas florestas com “lençóis freáticos superficiais”, que compõem, segundo estimativas, mais de um terço de toda a Amazônia, se desenvolveram sem alterações e continuaram absorvendo carbono durante estiagens severas em 2005, 2010 e 2015.

Artigos anteriores alertaram que as secas provocadas pelo clima e as taxas de crescimento e mortalidade acelerados das árvores estavam eliminando a vegetação e prejudicando a capacidade da floresta amazônica de continuar atuando como sumidouro de carbono. Se as florestas úmidas em toda a Amazônia são tão resistentes quanto as dos lotes pesquisados, “a perda de produtividade e o aumento da mortalidade estão provavelmente superestimados”, presume Costa.

Oliver Phillips, cientista ambiental da Universidade de Leeds que lidera uma das principais redes de pesquisa da Amazônia, concorda que florestas úmidas e de planícies parecem ser mais resistentes à seca do que as demais. Mas seus estudos analisam apenas essas florestas e ele não sabe se adicionar outras mudaria drasticamente as conclusões. Atualmente, ele e Costa estão conduzindo uma análise conjunta dos dados dos lotes a fim de obter maior representatividade das florestas amazônicas.

Mas há um problema

Todos esses estudos possuem ressalvas e advertências.

Futuramente, as florestas podem enfrentar secas ainda mais severas do que qualquer outra já existente, o que pode afetar até mesmo as florestas úmidas em planícies que resistiram até hoje, afirma Costa. Por outro lado, os estudos que simulam florestas procuram reproduzir a diversidade impressionante de florestas tropicais reais, que poderiam abrigar tanto árvores especialmente vulneráveis quanto mecanismos de resistência ainda não descobertos, acrescenta ela. Apenas a Amazônia contém cerca de 16 mil espécies de árvores, muito mais do que as representadas na Biosfera 2, nas cúpulas de Winter e em qualquer modelo de computador.

Além disso, as plantas de Winter ainda são novas e ele as mantém com irrigação constante. É possível que seu desenvolvimento não seja o mesmo durante estiagens — algo que Winter planeja estudar em suas cúpulas assim que forem suspensas as restrições devido ao coronavírus.

Para Nate McDowell, cientista da Terra no Laboratório Nacional do Noroeste do Pacífico em Richland, Washington, que alertou, no início deste ano, na revista científica Science que as mudanças climáticas já estão reduzindo o crescimento das árvores e o armazenamento de carbono, os resultados de Smith são “animadores”, mas uma pergunta importante permanece sem resposta: o dióxido de carbono elevado poderá mesmo ajudar as plantas a suportar o ar mais seco previsto futuramente? “É uma ótima questão científica”, afirma McDowell — “uma questão científica urgente”.

Ainda que um alto teor de COmantenha as plantas vivas, é possível que sua reação ao calor reduza a altura das plantas, mas deixe-as mais resistentes, acrescenta Smith, tornando os estudos dela e de McDowell possivelmente complementares e não contraditórios. Aliás, a floresta da Biosfera 2 passou por alterações ao longo de suas três décadas, talvez devido às condições extremas enfrentadas. As árvores nessa instalação que produzem uma substância química denominada isopreno, que parece contribuir com a fotossíntese sob altas temperaturas, sobreviveram mais do que aquelas que não produziram a substância: uma mudança que envolve implicações ainda desconhecidas.

“Podemos estar inadvertidamente construindo uma Amazônia mais resistente”, afirma Smith, “mas que talvez não seja capaz de armazenar a mesma quantidade de carbono”.

Fonte: BBC


Documentário Solo Fértil – ‘Kiss the Ground’

 

Documentário Solo Fértil – ‘Kiss the Ground’

 

Documentário Solo Fértil – ‘Kiss the Ground’

Quando as aves falam com as pedras e as rãs com as águas –

é de poesia que estão falando”.

Manoel de Barros (1916-2014)

Documentário Solo Fértil - 'Kiss the Ground'

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

[EcoDebate] O documentário “Solo Fértil” (“Kiss the Ground”) da Netflix, narrado pelo ator Woody Harrelson e tendo a modelo brasileira Gisele Bündchen como produtora-executiva, faz uma denúncia da agricultura química e industrial e da pecuária de confinamento, que degradam os solos e aceleram a emissão de gases de efeito estufa (GEE) e, tudo isto, agravando o fenômeno do aquecimento global. Mas o documentário apresenta uma alternativa esperançosa de uma agropecuária regenerativa, que sequestra e armazena o dióxido de carbono em vez de liberar e acumular CO2 na atmosfera.

O filme começa examinando como o cultivo e o uso de fertilizantes químicos e pesticidas levaram à erosão do solo e, em seguida, traça os danos causados ​​à nossa ecologia, saúde e clima.

Em contraposição, o documentário mostra uma solução alternativa, com base na agricultura regenerativa, uma prática ética projetada para restaurar terras degradadas e facilitar a retirada de carbono.

Viajando ao redor do mundo, os diretores frequentemente empregam a justaposição de imagens para mostrar a beleza da saúde do solo. Em Dakota do Norte, um fazendeiro regenerativo fica na fronteira entre sua exuberante área cultivada e as terras desertas de seu vizinho. Imagens impressionante do Platô Loess, na China, mostram como as áreas degradadas e desérticas foram completamente reavivadas depois dos métodos restauradores, transformando as nuvens de poeira em quase um Jardim do Éden.

Usando o conceito de bioeconomia, o documentário defende, em vez de fontes fósseis para a produção agrícola, o uso de recursos biológicos renováveis e a regeneração do solo como forma de revigorar a vida e de retirar carbono da atmosfera.

Sequências pedagógicas sobre ciência e agricultura são pontuadas por perfis curtos de celebridades envolvidas no ativismo climático, incluindo Jason Mraz, Patricia Arquette e Ian Somerhalder e servem para fundamentar o documentário enquanto se alterna de um tópico para outro. O lançamento do documentário “Kiss the Ground” semanas antes da eleição presidencial americana, mesmo sem citar Donald Trump, serviu para denunciar a ausência dos EUA das iniciativas climáticas sem citar nomes. A administração Trump aparece como o elefante na sala.

A despeito de toda a denúncia apresentada, o filme defende, de forma persuasiva e otimista, o poder de cura do solo, argumentando que sua capacidade de sequestrar carbono pode ser a chave para reverter os efeitos das mudanças climáticas.

Os problemas discutidos no filme “Kiss the Ground” estão em sintonia com o relatório “Climate Change and Land”, do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, publicado no dia 08 de agosto de 2019, onde aborda a relação entre o uso da terra e seus efeitos sobre a mudança climática. O IPCC mostra que os solos têm se aquecido duas vezes mais rápido que o Planeta. A Terra como um todo aqueceu apenas 0,87º Celsius (em relação à média do século XX), enquanto a parte terrestre do Planeta aqueceu 1,5º Celsius e pode chegar a 3 graus Celsius rapidamente. Mais de 70% da terra sem gelo do planeta já é moldada pela atividade humana. À medida que as árvores são derrubadas e as fazendas tomam seu lugar, essa terra gerada por humanos emite cerca de um quarto da poluição global por gases do efeito estufa a cada ano, incluindo 13% de dióxido de carbono e 44% do metano.

O relatório do IPCC relacionou o crescimento da população mundial e o aumento do consumo per capita de alimentos (ração, fibra, madeira e energia) ao aumento sem precedentes do uso de terra e da água doce para a produção comida. O aumento da produção e consumo de alimentos contribuíram para o aumento das emissões líquidas de gases de efeito estufa (GEE), perda de ecossistemas naturais e diminuição da biodiversidade. Ou seja, para alimentar um número crescente de humanos toda a base natural do Planeta tem sido danificada ou destruída.

A humanidade já ultrapassou a capacidade de carga da Terra e o mundo precisa de um decrescimento demoeconômico para colocar as atividades antrópicas dentro da biocapacidade do Planeta. Isto é inegável e urgente.

Mas o que o documentário “Solo Fértil” mostra é que ter uma agricultura e uma pecuária fundamentadas na regeneração do solo é uma possibilidade de produzir alimentos de forma sustentável e sem agravar as mudanças climáticas. Como se diz, o sonho que se sonha junto pode se transformar em realidade.

José Eustáquio Diniz Alves
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

ALVES, JED. Re-ge(ne)ração: a geração azul, Ecodebate, 13/08/2010

http://www.ecodebate.com.br/2010/08/13/re-generacao-a-geracao-azul-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

ALVES, JED. Um terço do solo do planeta está severamente degradado, Ecodebate, 22/09/2017

https://www.ecodebate.com.br/2017/09/22/um-terco-do-solo-do-planeta-esta-severamente-degradado-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

ALVES, JED. Para além da sustentabilidade: decrescimento demoeconômico com regeneração ecológica, Ecodebate, 06/06/2018

https://www.ecodebate.com.br/2018/06/06/para-alem-da-sustentabilidade-decrescimento-demoeconomico-com-regeneracao-ecologica-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

ALVES, JED. Mais árvores e menos gente, Ecodebate, 02/10/2019

https://www.ecodebate.com.br/2019/10/02/mais-arvores-e-menos-gente-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

ALVES, JED. Relatório do IPCC sobre clima, população e fome no mundo, Ecodebate, 11/10/2019

https://www.ecodebate.com.br/2019/10/11/relatorio-do-ipcc-sobre-clima-populacao-e-fome-no-mundo-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

ALVES, JED. Decrescimento demoeconômico com prosperidade e regeneração ecológica, Ecodebate, 14/08/2020

https://www.ecodebate.com.br/2020/08/14/decrescimento-demoeconomico-com-prosperidade-e-regeneracao-ecologica/

Loess Plateau: Policies and Practices for Regenerating Farmland and Revitalizing Rural Economies, 2017

https://www.propagate.org/ag-environment/2017/11/17/loess-plateau-policies-and-practices-for-regenerating-farmland-and-revitalizing-rural-economies

Kiss the Ground Film Trailer (2020)

https://www.youtube.com/watch?feature=youtu.be&v=K3-V1j-zMZw&app=desktop

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 02/12/2020

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