quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Fita dupla face inspirada em aranhas substitui suturas cirúrgicas

  

09/12/2019

Fita dupla face inspirada em aranhas substitui suturas cirúrgicas

Redação do Diário da Saúde
Fita dupla face inspirada em aranhas substitui suturas cirúrgicas
Para imitar o mecanismo das teias de aranha em um adesivo artificial, os pesquisadores projetaram um material que primeiro absorve a água dos tecidos úmidos e depois liga rapidamente os dois tecidos.
[Imagem: Felice Frankel]
 
Cola de aranha
Inspirados por uma substância pegajosa que as aranhas usam para capturar suas presas, engenheiros do MIT projetaram uma fita dupla face que pode selar rapidamente os tecidos do corpo humano.
Em testes em ratos e tecidos de porcos, os pesquisadores demonstraram que sua nova fita pode unir tecidos - como pulmões e intestinos - em apenas cinco segundos.

A fita dupla face também pode ser usada para conectar dispositivos médicos implantáveis aos tecidos, incluindo o coração. Além disso, ela funciona muito mais rápido do que as colas cirúrgicas tradicionais, que geralmente levam alguns minutos para se prenderem firmemente e podem pingar em outras partes do corpo.

A equipe espera que essa fita possa ser usada no lugar das atuais suturas cirúrgicas, que não funcionam bem em todos os tecidos e podem causar complicações em alguns pacientes.
"São mais de 230 milhões de cirurgias de grande porte em todo o mundo por ano, e muitas delas requerem suturas para fechar a ferida, o que pode realmente causar estresse nos tecidos e causar infecções, dor e cicatrizes. Estamos propondo uma abordagem fundamentalmente diferente para o selamento de tecidos," diz o professor Xuanhe Zhao.

Adesivo biológico natural
A formação de uma vedação perfeita entre os tecidos biológicos é considerada muito difícil porque a água na superfície dos tecidos interfere na adesão. As colas cirúrgicas existentes difundem moléculas adesivas através da água entre as duas superfícies para uni-las, mas esse processo pode levar vários minutos ou até mais.

Para criar uma fita dupla face que pudesse juntar rapidamente duas superfícies úmidas, a equipe se inspirou no mundo natural - especificamente, no material pegajoso que as aranhas usam para capturar suas presas em condições úmidas. Essa cola de aranha inclui polissacarídeos eletricamente carregados que podem absorver a água da superfície de um inseto quase instantaneamente, criando um pequeno pedaço seco ao qual a cola pode aderir.

Para imitar esse mecanismo em um adesivo artificial, os pesquisadores projetaram um material que primeiro absorve a água dos tecidos úmidos e depois liga rapidamente os dois tecidos. Para absorção de água, eles usaram ácido poliacrílico, um material muito absorvente usado em fraldas. Assim que a fita é aplicada, ela aspira água, permitindo que o ácido poliacrílico forme rapidamente ligações fracas de hidrogênio com os dois tecidos.

Essas ligações de hidrogênio e outras interações fracas mantêm temporariamente a fita e os tecidos no lugar, enquanto grupos químicos chamados ésteres NHS (N-hidroxissuccinimida), incorporados no ácido poliacrílico, formam ligações muito mais fortes, chamadas ligações covalentes, com proteínas no tecido. Isso leva cerca de cinco segundos.

Até cura natural
Para tornar a fita resistente o suficiente para durar dentro do corpo, dando tempo para uma recomposição definitiva natural, os pesquisadores incorporaram gelatina ou quitosana (um polissacarídeo rígido encontrado nas cascas de insetos). Esses polímeros permitem que o adesivo mantenha sua forma por longos períodos de tempo.

Dependendo da aplicação para a qual a fita está sendo usada, é possível controlar a rapidez com que ela se decompõe dentro do corpo variando seus ingredientes. A gelatina tende a se decompor dentro de alguns dias ou semanas no corpo humano, enquanto a quitosana pode durar mais, um mês ou até um ano.
Checagem com artigo científico:

Artigo: Dry double-sided tape for adhesion of wet tissues and devices
Autores: Hyunwoo Yuk, Claudia E. Varela, Christoph S. Nabzdyk, Xinyu Mao, Robert F. Padera, Ellen T. Roche, Xuanhe Zhao
Publicação: Nature
DOI: 10.1038/s41586-019-1710-5

As ONGs, a Amazônia e o general Augusto Heleno

As ONGs, a Amazônia e o general Augusto Heleno


Por Reinaldo Azevedo - Atualizado em 22 fev 2017, 22h57 - Publicado em 24 abr 2008, 14h19







Segundo manchete de hoje do Estadâo (aqui, link aberto), “o Planalto vai fechar o cerco às organizações não-governamentais (ONGs), na tentativa de coibir a biopirataria, a influência internacional sobre os índios e a venda de terras na floresta amazônica”. O texto informa: “A primeira ação de controle consta do projeto da nova Lei do Estrangeiro, que está na Casa Civil e será enviado ao Congresso até junho. Se a proposta for aprovada, estrangeiros, ONGs e instituições similares internacionais, mesmo com vínculos religiosos, precisarão de autorização expressa do Ministério da Defesa, além da licença do Ministério da Justiça, para atuar na Amazônia Legal. Sem esse procedimento, o ‘visitante’ do exterior terá seu visto ou residência cancelados e será retirado do País.”

Podem esperar que vem gritaria por aí. HÁ NADA MENOS DE CEM MIL ONGs atuando na Amazônia, e o projeto do governo indica que ninguém sabe quem é e o que quer essa gente. Cem mil? Quer dizer que, se cada organização tiver um único indivíduo, já serão cem mil pessoas só para cuidar da região? As outras contas, vocês fazem sozinhos, né? Como se vê, não existe área mais bem cuidada no Brasil…

Aí vem o ministro da Justiça, Tarso Genro, e manda ver: “Grande parte dessas ONGs não está a serviço de suas finalidades estatutárias. Muitas delas escondem interesses relacionados à biopirataria e à tentativa de influência na cultura indígena, para apropriação velada de determinadas regiões, que podem ameaçar, sim, a soberania nacional.”

Ah, é? Então o general Augusto Heleno, comandante geral da Amazônia, estava certo? Mas não foi este mesmo Genro quem disse que o STF, ao sustar a operação da Polícia Federal na reserva Raposa Serra do Sol, estava agindo em função do clamor criado pela “mídia”? Espero que o tribunal, ao julgar o caso, leve, então, em consideração as palavras do próprio ministro da Justiça.

Cem mil ONgs na Amazônia? Queremos saber quais são, quantas pessoas as integram, do que vivem e qual é o seu objeto. O governo estava prestes a expulsar brasileiros de terras brasileiras sem nem mesmo saber quantos são e o que fazem os estrangeiros que estão lá.

O lobby dessas organizações já começa a pressionar, acusando um viés “militarista” no debate. O onguismo, com raras exceções, é um meio de vida. Hoje, já deve “empregar” milhões de pessoas.

Parte considerável recebe dinheiro de fora; outro tanto mama nas tetas oficiais; outro pedaço ainda é só pretexto para abater pagamento de Imposto de Renda — já que o onguismo ligado a grandes grupos empresariais também prospera.

Estranho que o país não seja ainda um paraíso, com tanta gente para nos ensinar a ser verdadeiros patriotas. O Brasil é a velhinha cega do planeta. Todo mundo quer ajudá-lo a atravessar a rua.

Funai considera nulas vendas de terra indígena para estrangeiros

4/03/2012 14h03 - Atualizado em 14/03/2012

Funai considera nulas vendas de terra indígena para estrangeiros

Ao menos 36 contratos foram firmados entre índios e empresas estrangeiras.
AGU analisa casos; parecer preliminar julga ilegalidade em aquisição.

Eduardo CarvalhoDo Globo Natureza, em São Paulo
O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcio Meira, afirmou nesta quarta-feira (14) que 36 contratos firmados entre empresas estrangeiras e aldeias indígenas como negociação de crédito de carbono na Amazônia são considerados nulos e serão analisados individualmente pela Advocacia-Geral da União (AGU).


A compra de terras indígenas por empresas estrangeiras veio à tona no domingo (11) após reportagem do jornal “O Estado de São Paulo”. O texto informava que índios da etnia munduruku venderam uma área localizada em Jacareacanga (PA), equivalente a 16 vezes o tamanho da cidade de São Paulo, para a empresa irlandesa Celestial Green Ventures (CGV) por US$ 120 milhões.


Em entrevista concedida em Brasília, Meira disse que não existe regulamentação sobre a venda de terras por indígenas e por isso o governo vai verificar que medidas serão tomadas neste caso.
O contrato previa como garantia à CGV “benefícios” sobre a biodiversidade, além de acesso irrestrito ao território indígena. Em contrapartida, os indígenas teriam que se comprometer a não plantar ou extrair madeira das terras nos 30 anos de duração do acordo.
Mapa divulgado pela Funai mostra em verde escuro 36 territórios indígenas com proposta de Redd. Contratos firmados com empresas estrangeiras são considerados anulados, afirma presidente da instituição. (Foto: Divulgação/Funai)Mapa divulgado pela Funai mostra em verde escuro 36 territórios indígenas com propostas de contratos e projetos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação. Acordos de indígenas com empresas estrangeiras são considerados nulos, diz presidente da instituição. (Foto: Divulgação/Funai)
 
 
Em seu site, a empresa se apresenta como especializada em desenvolver o mecanismo Redd (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação) e informa que detém 17 áreas na Amazônia que vão contribuir para um mercado de compensação de carbono, no qual farão parte empresas emissoras de gases de efeito estufa da Europa.

A empresa Celestial Green Ventures, com sede em Dublin, foi procurada pela reportagem do Globo Natureza, mas informou que ainda não vai se manifestar sobre o assunto.


Irregularidades
De acordo com o Funai, ao menos 30 contratos como esse já foram firmados e estão sendo acompanhados pelos departamento jurídico da fundação há pelo menos um ano e meio. Juntas, essas áreas correspondem a 520 mil km² -- quase o tamanho total do estado da Bahia.

A instituição informa ainda que o principal risco deste tipo de acordo com indígenas é falta de proteção às populações, que podem ser enganadas ao assinar contratos de exploração em suas terras, além dar abertura para a biopirataria (exploração ilegal de recursos naturais da floresta).

Esse risco foi evidenciado na última semana pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. A pasta informou que o debate sobre o tema é responsabilidade da AGU e da Funai.

A assessoria de imprensa da AGU informou nesta quarta-feira que já existe um parecer preliminar do contrato firmado entre a Celestial Green Ventures e os índios Munduruku. O órgão se posiciona pela ilegalidade de qualquer acordo, “uma vez que as terras habitadas pelos índios pertence à União e não podem ser negociadas deliberadamente”.

Entretanto, a AGU ressalta que é um parecer preliminar, portanto, inconclusivo, e que foi encaminhado aos órgãos envolvidos na questão para que se posicionem no assunto.

Justiça de Rondônia anula venda de reserva indígena para organização irlandesa

Justiça de Rondônia anula venda de reserva indígena para organização irlandesa



A juíza substituta da 2ª Vara Cível Federal da Seção Judiciária de Rondônia, Laís Durval Leite, anulou um contrato entre a Associação Indígena Awo “Xo” Hwara e a organização irlandesa Celestial Green Ventures PL para venda de usufruto de reserva reserva indígena.
A determinação questiona a venda da propriedade de créditos de carbonos obtidos nas reservas indígenas Igarapé Lage, Rio Negro-Ocaia e Igarapé Ribeirão, situadas no Município de Guajará-Mirim/RO, configurando exploração comercial da terra indígena.

A demarcação dessas reservas indígenas foi homologada através do decreto nº 86.347, de 9 de setembro de 1981, assinado pelo então Presidente da República, João Batista Figueiredo. A área total corresponde a mais de 259.000.0000ha (duzentos e cinquenta e nove mil hectares).

A Celestial Green Ventures PLC pagaria a quantia de US$ 13 milhões de dólares americanos, em trinta parcelas anuais de US$ 445 mil, à Associação Indígena.

Em sua decisão, a magistrada ratifica que as terras indígenas são propriedade da União, portanto, ninguém pode dispor daquilo que não lhe pertence. A informação foi divulgada por Domingos Borges, do site NewsRondônia.  

Ainda conforme a decisão, a as duas partes devem se abster de negociar “quaisquer direitos sobre o usufruto de terras indígenas, em qualquer lugar do território nacional, sem anuência da União ou da FUNAI, sob pena de multa no valor de R$ 1.000.000,00). 

Alter do Chão: o que dizem polícia e ativistas sobre caso de prisão de integrantes de ONG na Amazônia

Alter do Chão: o que dizem polícia e ativistas sobre caso de prisão de integrantes de ONG na Amazônia

  • 27 novembro 2019




Uma operação da Polícia Civil do Pará que prendeu quatro voluntários da Brigada de Incêndio de Alter do Chão e apreendeu documentos da organização não-governamental Projeto Saúde e Alegria (PSA) tem gerado protestos de ativistas, entidades indígenas e grupos que atuam na Floresta Amazônica. 

A Brigada de Alter do Chão é um grupo de voluntários formado em 2018 pelo Instituto Aquífero Alter do Chão para ajudar no combate às queimadas na floresta e que atua em parceria com o Corpo de Bombeiros. Já a ONG PSA, fundada por médicos, atua há 30 anos na floresta fornecendo ajuda e serviços de saúde para a população local.
As prisões e a busca e apreensão na sede da ONG fizeram da parte de Operação Fogo de Sairé, lançada pela polícia para investigar incêndios em Alter do Chão. A Polícia Civil pediu a prisão preventiva dos voluntários e os acusa de iniciar focos de incêndio para depois combatê-los e arrecadar fundos enviados por entidades internacionais.

A detenção dos brigadistas gerou mobilização de grupos indígenas, movimentos sociais e ativistas pelo meio ambiente, que dizem que as prisões tiveram motivação política e são uma tentativa de criminalizar as ONGs, em meio à tensões fundiárias e pressões imobiliárias crescentes na região — que é valorizada por ser um dos principais destinos turísticos da Amazônia.

"Entendemos que essas acusações fazem parte de uma estratégia para desmoralizar e criminalizar as ONGs e movimentos sociais de forma caluniosa", diz em nota a associação indígena Iwipuragã, do povo Borari, uma das mais de cem entidades que saíram em defesa dos ativistas. "A Brigada de Alter sempre atuou em defesa do nosso território, conhecemos a seriedade do trabalho e honestidade dos nossos brigadistas."

Em coletiva de imprensa sobre o caso, o delegado José Humberto Melo Júnior disse que que prisões preventivas foram pedidas por existirem provas "robustas" da atuação dos voluntários, citando vídeos feitos pelo grupo mostrando os incêndios e áudios em que eles conversam sobre as queimadas. O inquérito ainda está em andamento.

'Grande perplexidade'

A Brigada, a ONG PSA, a defesa dos jovens presos e diversos ativistas contestam as acusações feitas pela polícia. "[A prisão] é incabível, e o que dizem ser provas não prova nada, é difamação", diz a arquiteta Bruna Bichara, moradora da cidade e integrante da brigada. "A gente está aqui para manter a floresta em pé."

A Brigada disse em nota que a prisão "causou grande perplexidade" e que os brigadistas desde o início contribuíram com as investigações da polícia, prestando depoimento e fornecendo documentos. "A verdade real dos fatos virá à tona e a inocência da Brigada será provada", diz a nota.

O advogado Wlandre Leal, um dos que atuam na defesa dos quatro jovens presos, disse que os critérios para a prisão preventiva não se aplicam ao caso e que vai entrar com um pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça do Pará.

Segundo a legislação, para a prisão preventiva é necessário que seja provado que há uma ameaça à segurança pública ou ao andamento do processo.

A investigação do Ministério Público Federal não apontou indícios de que os brigadistas tivessem iniciado o incêndio que começou no dia 14 em Alter do Chão.

"Na investigação federal, nenhum elemento apontava para a participação de brigadistas ou organizações da sociedade civil", disse a entidade em nota publicada na quarta (27).

A investigação apontou para outro caminho: a suspeita é de que ele teria começado em terras invadidas por grileiros investigados pelo MP desde de 2015. Um deles, Silas da Silva Soares, foi condenado pela polícia e está foragido, segundo nota publicada pelo MPF em setembro.

O MPF, em um documento assinado por dez procuradores, também pediu à Justiça acesso ao inquérito completo da Polícia Civil, para avaliar se há competência federal para assumir a investigação, já que se trata do mesmo incêndio sendo investigado.



O incêndio que devastou Alter do Chão

Um dos principais destinos turísticos da Amazônia, a floresta de Alter do Chão foi atingida por um incêndio devastador que começou em 14 de setembro e consumiu uma área de cerca de 650 mil m². Demorou quatro dias para o fogo ser controlado pelo Corpo de Bombeirose e pelos brigadistas.
A Polícia Civil afirmou que uma das provas contra os brigadistas é um vídeo feito pelo grupos onde "só estão eles" e o fogo.

As brigadas de incêndio atuam em parceria com o Corpo de Bombeiros, mas, segundo relatos feitos à BBC News Brasil, é comum que cheguem antes no local dos incêndios, pois estão espalhados e moram mais perto das regiões afetadas, que costumam ser de difícil acesso.

Uma equipe da BBC acompanhou o trabalho da Brigada de Alter do Chão no dia 19 de setembro, quando a maior parte do fogo já tinha sido controlado.

A reportagem presenciou o grupo recebendo a notícia de alguns focos restantes de incêndio, acompanhou a chegada ao local afetado antes do Corpo de Bombeiros e apagando o fogo. Os brigadistas também fizeram novas rondas pela região onde tinha ocorrido o incêndio para ver se não havia novos focos — porque a mata seguia muito seca.


A arquiteta Bruna Bichara diz à BBC News Brasil que o grupo não sai para fazer a detecção e o combate sem antes ter autorização do Corpo de Bombeiros.

No dia 14 de setembro, quando a fumaça na região foi vista pela primeira vez, o grupo acionou os bombeiros e dois integrantes da brigada foram de moto até o local onde a fumaça tinha sido vista, segundo ela.

Com a confirmação do fogo, diz a arquiteta, um grupo de brigadistas se reuniu em frente à delegacia da Polícia Civil de Alter do Chão e, dali, seguiu para o local com a própria Polícia Civil.

"Fomos na viatura da polícia até o ponto de fogo, onde a detecção havia sido feita, e eles voltaram para nos buscar à noite", conta ela. "No dia seguinte, subimos o drone e vimos a enorme linha de fogo que tinha na floresta. Foram três dias intensos de combate ao fogo."

A BBC News Brasil questionou a Polícia Civil sobre isso, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.

Acusações citam até Leonardo DiCaprio

Em entrevista coletiva sobre o caso, o delegado afirmou que a ONG criava focos de incêndio para depois fotografar e que tinha um contrato para vender fotos do incêndio por R$ 47 mil para a ONG WWF-Brasil.

Segundo ele, as fotos teriam sido usadas em campanhas para amealhar doações internacionais, incluindo uma do ator Leonardo de DiCaprio no valor de U$ 500 mil.

A WWF-Brasil disse que essas acusações são inverídicas. "A WWF-Brasil não adquiriu nenhuma foto ou imagem da Brigada, nem recebeu doação do ator Leonardo DiCaprio." A entidade diz que "fazer acusações sem provas é um desrespeito à Constituição".

A WWF também afirma que repassou o valor de R$ 70 mil para a ONG comprar equipamentos de combate ao fogo para os brigadistas, como abafadores, sopradores, coturnos e máscaras de proteção.
Segundo a entidade, a Brigada ainda estava dentro do prazo para a prestação de contas sobre o uso do dinheiro.

A Polícia Civil também afirmou que a Brigada teria recebido um financiamento de R$ 300 mil, mas prestado contas de apenas R$ 100 mil.

A Brigada, no entanto, diz que ainda estava em processo de prestação de contas sobre as verbas que foram recebidas. "A Brigada fez a devida declaração de doações no final do mês de setembro. Doações recebidas após essa data estão sendo consolidadas e serão declaradas apropriadamente."

O irmão de João Romano, um dos brigadistas que foram presos, publicou um vídeo nesta quarta em que afirma que seu irmão é inocente e que as acusações contra os brigadistas não são verídicas.
"Estão colocando esses quatro meninos como criminosos, mas eles são vítimas de alguma que eles mexeram lá, a gente não sabe direito o que acontece", disse Moreno Romano no vídeo. "Esses quatro meninos arriscavam a vida combatendo o fogo na Amazônia, defendendo a floresta"
"João mora lá há três anos. Deixou uma vida confortável aqui em São Paulo para morar numa cabana que nem parede tem no meio da floresta", diz.

Eugênio Scannavino, do Projeto Saúde e Alegria, diz que o destino dos recursos recebidos da organização internacional Rainforest Alliance foi decidido em conjunto com um grupo de trabalho composto pelas ONGs e por membros do Corpo de Bombeiros, da Secretaria do Meio Ambiente e do ICMBio.

"Tinhamos um recurso de R$ 140 mil e usamos para compra de material de combate e treinamento de três brigadas. O único dinheiro repassado para a brigada foi o que serviu para formação dos voluntários, que foi feita com o apoio do Corpo de Bombeiros".


A Polícia Civil divulgou transcrições de áudios com conversas de brigadistas dizendo que mais incêndios eram esperados, o que, segundo as autoridades, seria prova de que os voluntários colocaram fogo na floresta.

"É época de queimada, é claro que estavam prevendo que teria muito mais fogo", diz Scannavino. A Brigada afirma que os trechos de áudio estão sendo disseminados sem a devida contextualização e que não são prova de nenhuma atividade ilegal.

Defesa das ONGs

Um dos voluntários presos é Gustavo de Almeida Fernandes, que é gerente de logística do Projeto Saúde e Alegria, alvo da operação de busca e apreensão.

Segundo Eugênio Scannavino, os membros da ONG acertavam os últimos detalhes de uma ação com 30 médicos para levar atendimento e fazer cirurgia em um dos locais mais remotos do Pará quando cerca de dez policiais armados entraram na sede da entidade.

Os policiais, diz ele, levaram todos os equipamentos e documentos da ONG que estavam no local. "Levaram tudo, os computadores, todas as nossas notas fiscais, todos os documentos originais, o HD que tem o backup, bloquearam nosso acessos às nossas contas."

A ONG foi recentemente premiada pelo Prêmio Melhores ONGs do Brasil e é reconhecida pela Rede de Empreendedorismo Social da Folha de S.Paulo.

"São prêmios focados na gestão, na administração, que sempre foi impecável nos nossos 30 anos de trabalho", diz Scannavino. "Tivemos auditoria do Ministério Público Estadual e passamos com louvor, temos um monte de auditoria o tempo todo."

"Confio no trabalho dos brigadistas, tenho certeza que eles não botaram fogo", afirma ele. "A gente recebe ameaças veladas permanentes no nosso trabalho. Às vezes nossos carros são hostilizados, nosso vigia já foi ameaçado. É um clima de insegurança permanente."


Caetano Scannavino, irmão de Eugênio e coordenador do PSA, disse em coletiva de imprensa que a operação foi uma "situação kafkaniana", em refererência ao livro O Processo, de Franz Kafka, em que um homem inocente sofre um longo processo sem saber quais são as acusações. Ele disse também que foi uma "ação política para tentar desmoralizar as ONGs que atuam na Amazônia".

Mais de cem entidades assinaram um manifesto de apoio ao Projeto Saúde e Alegria, incluindo a Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Belém, parte da Igreja Católica, o Instituto Socioambiental (ISA), diversos sindicatos de trabalhadores rurais que dependem da preservação da floresta, diversos coletivos indígenas, redes de pesquisadores e instituições educacionais que atuam na amazônia.

"Queremos que a polícia investigue e prenda os grileiros e especuladores, as quadrilhas que (...) usam o fogo como estratégia para limpar a área. E não que acuse sem provas quem trabalha para defender a floresta", diz o manifesto. 

A Anistia Internacional também se posicionou sobre o caso. "Não há, até o momento, informações sobre as investigações ou os procedimentos adotados pelas autoridades contra os acusados que justifiquem a decisão pela prisão", diz a entidade.

Amazônia teve aumento de incêndios em 2019

Os incêndios são um problema crônico na Amazônia e costumam acontecer durante o período de seca.

Eles podem ocorrer naturalmente, mas especialistas afirmam que a maioria dos incêndios é causada pela atividade humana, como agricultores e madeireiros limpando terras para plantio ou pastagem.
"O fogo sinaliza a conclusão do processo de desmatamento", disse à BBC em setembro a ecologista Michelle Kalamandeen, que trabalha na floresta amazônica.

"As árvores gigantes da floresta tropical que frequentemente associamos à Amazônia são cortadas, deixadas para secar e, em seguida, o fogo é usado como ferramenta para limpar a terra para prepará-la para pastagens, plantio ou até mineração ilegal."

O número de incêndios foi o dobro entre janeiro e agosto de 2019 em comparação ao mesmo período do ano passado, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Área queimada na Amazônia brasileira


Questionado sobre o problema, o governo do presidente Jair Bolsonaro inicialmente desacreditou os próprios dados oficiais do Inpe, que é uma instituição governamental, depois passou a afirmar que os fogos eram causados por ONGs, sem apresentar evidências.

Depois das afirmações de ativistas de que a prisão dos quatro brigadistas em Alter do Chão tiveram motivação política, o governo do Estado do Pará soltou uma nota dizendo que "não interfere em investigações da Polícia Civil, que é autônoma".

Disse também que "não há nenhuma predisposição contra qualquer segmento social", que "as ONGs são fundamentais para a preservação das florestas no Estado" e que o governo "continua parceiro de todas as instituições e entidades que respeitam as leis brasileiras."

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Pacto lança desafio para restaurar mais 1 milhão de hectares de Mata Atlântica, até 2025


Pacto lança desafio para restaurar mais 1 milhão de hectares de Mata Atlântica, até 2025

07 Dezembro 2019     

Organizações-membro do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica anunciaram hoje que pretendem promover a recomposição de mais 1 milhão de hectares de mata nativa até 2025. O desafio foi apresentado por representantes dos 300 membros do movimento, que celebraram, em Belo Horizonte (MG), os 10 anos da iniciativa. 
 
A área que se espera recompor, ao longo dos próximos cinco anos, equivale a quase duas vezes a do Distrito Federal. Em 15 anos de movimento, o resultado acumulado será de 2 milhões de hectares de cobertura florestal recuperada no bioma.
 
Lançado em 2009, o movimento identificou, este ano, que já existem cerca de 740 mil hectares de mata em diferentes estágios de restauração, em todo o bioma. Até o ano que vem, as organizações esperam confirmar que esse número já esteja próximo de 1 milhão de hectares, com um estoque de, pelo menos, 30 milhões de toneladas de carbono.

“Esperamos anunciar o alcance de 1 milhão de hectares em 2020 e mais 1 milhão até 2025, acelerando o processo e concretizando uma contribuição efetiva do Brasil para o combate ao aquecimento global, com recuperação da biodiversidade e das paisagens florestais”, explica Renato Crouzeilles, pesquisador e associado do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS), membro do Pacto.

Composto por ONGs, como o WWF-Brasil, institutos de pesquisa, empresas, órgãos públicos e proprietários de terra, o Pacto Mata Atlântica é formado por unidades regionais, sendo o maior esforço coletivo para restauração de um bioma na América Latina. Para alcançar suas metas, no entanto, precisará contar com a participação dos mais de 140 milhões de brasileiros que vivem na área original da floresta atlântica.

“Precisaremos promover mais sensibilização e comunicação para demonstrar que a restauração traz benefícios para todos os setores da sociedade, incluindo agronegócio, indústria e turismo, além de melhorar a qualidade de vida da população urbana e rural”, diz Crouzeilles. 
 
“Não queremos a recuperação apenas por obrigação das leis, que existem, mas pelo reconhecimento dos benefícios para a economia e a produtividade rural”, completa. 
 
Resguardada pela Lei da Mata Atlântica e também pela Lei de Proteção da Vegetação Nativa, a recuperação de margens de rios, reservas legais, áreas de preservação permanente e outras áreas desmatadas ilegalmente tem também um grande potencial econômico. Envolvendo redes de coletores de sementes, viveiros de mudas e profissionais comprometidos com a restauração da floresta, a atividade gera trabalho e renda, melhorando os indicadores sociais nas regiões onde ocorre. 
 
Para acompanhar o andamento das atividades de restauração, o Pacto também lançou, o seu sistema de monitoramento online. A ferramenta, construída em parceria com o MapBiomas, permite a visualização dos locais de projetos e áreas em processo de recuperação no bioma Mata Atlântica, além dos viveiros e remanescentes florestais existentes. Atualmente, o mapa aponta 37 mil hectares de projetos em processo de restauração cadastrados e validados.
 
Segundo dados da Fundação SOS Mata Atlântica, também membro do Pacto, o bioma abrange cerca de 15% do território nacional, em 17 estados, sendo lar de 72% dos brasileiros e concentrando 70% do PIB nacional. Restam apenas 12,4% da floresta da qual dependem serviços essenciais como abastecimento de água, regulação do clima, agricultura, pesca, energia elétrica e turismo.
 
Compromissos internacionais
A divulgação das metas para 2025 também faz parte do movimento #6D Its Now, que aproveita a realização da 25a COP do Clima, em Madrid, esta semana, para promover ações concretas contra as mudanças climáticas.

Por isso, nos próximos dias, membros do Pacto, como o Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan), de Pernambuco, o Grupo Ambiental Natureza Bela, da Bahia, e a Associação Ambientalista Copaíba, de São Paulo, promoverão o plantio de cerca 5 mil mudas, contemplando mais de 60 espécies da Mata Atlântica. 
 
Ações de restauração de ecossistemas como essa são um dos compromissos assumidos pelo Brasil junto à comunidade internacional para limitar o aumento da temperatura do planeta a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Entre as ações voluntárias a serem conduzidas pelo país para colaborar com o esforço global de combate ao aquecimento está a restauração de 12 milhões de hectares de ecossistemas naturais, até 2025. 
 
“É um momento de importância estratégica muito grande, porque marca o vínculo com as agendas internacionais, como o Desafio de Bonn e os compromissos climáticos do Acordo de Paris, que têm uma ligação estreita com os processos de restauração, principalmente do bioma Mata Atlântica”, comenta Thiago Metzker, diretor-presidente do Instituto Bem Ambiental (IBAM), membro do Pacto. 
 
Entre os seis principais biomas brasileiros, a Mata Atlântica deve ser o que receberá mais ações para viabilizar o alcance de cerca de metade da meta nacional, totalizando aproximadamente 5 milhões de hectares restaurados no período. A área é pouco maior que o estado do Rio de Janeiro. 
 
Os ambiciosos objetivos nacionais foram reforçados quando o país aceitou o Desafio de Bonn, em 2011, ano em que foi projetada a restauração de 150 milhões de hectares de ecossistemas nativos até 2020, em todo o mundo. 
 
Para cumprir esses compromissos, o Estado brasileiro criou a Política Nacional de Recuperação de Vegetação Nativa, em 2015, que estrutura as ações de restauração, visando estimular e garantir a efetividade e verificação dos resultados em campo, em larga escala.
 
As articulações internacionais serão impulsionadas nos próximos anos pela Década da Restauração, declarada de 2021 a 2030, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) prevê a ampliação dos esforços de recuperação de ecossistemas terrestres e marinhos que se encontram em estágios críticos de degradação.

10 anos apoiando a restauração
Formado inicialmente por especialistas em restauração florestal, o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica priorizou o desenvolvimento e validação de metodologias, como forma de garantir a efetividade das ações, por meio de plantio de mudas ou regeneração natural acompanhada, entre outras técnicas.
 
“O Pacto construiu a governança e as ferramentas necessárias para estabelecer as bases do movimento, avançando em questões importantes, como o referencial teórico, o protocolo de monitoramento e um banco de dados de áreas que deram a consistência e a unificação do movimento”, explica Ludmila Pugliese, Coordenadora Nacional do Pacto e sócia-fundadora da KAWA Estratégias Sustentáveis.
 
Os estudos permitiram a identificação dos custos e técnicas para promover a restauração da forma mais eficiente, empregando cuidados simples ou integrados para o crescimento de espécies como pau-brasil, grumixama, ipê e jequitibá.
 
“Nos próximos 5 anos, esperamos continuar a fortalecer ainda mais nossa incidência política e expandir os nossos resultados, por meio das unidades regionais, ampliando as áreas recuperadas e engajando outros atores nessa cadeia da restauração”, projeta Pugliese. 
 
Raízes do Pacto
O objetivo de longo prazo do Pacto é restaurar 15 milhões de hectares de mata nativa até 2050, recuperando áreas identificadas como degradadas ou com baixa aptidão para agropecuária. 
 
Para o sucesso das ações e redução dos custos envolvidos neste processo, foi desenvolvido o ‘Referencial Teórico sobre Restauração Ecológica da Mata Atlântica’. Elaborado pelo Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal (LERF) da ESALQ/USP, documento que contém metodologias e informações técnicas sobre reflorestamento, apoiando o engajamento de atores importantes para o alcance das metas.
 
O Conselho de Coordenação do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica é formado por: ABRAMPA - Associação Brasileira do Ministério Público do Meio Ambiente, Associações e colegiados Rede de ONGs da Mata Atlântica, LASTROP - Laboratório de Silvicultura Tropical, LEPaC - Laboratório de Ecologia da Paisagem e Conservação, CEPAN - Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste, AES TIETE ENERGIA S/A, ARCPLAN SS Ltda, Florestal Maarin Ltda, KAWA Estratégias Sustentáveis Ltda, MADASCHI PERIGO E SOUZA LTDA, Mudas Florestais Camará, Nativus Sementes, Sig Ambiental, Sucupira Agroflorestal, Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Fundação SOS Mata Atlântica, IBAM - Instituto Bem Ambiental, Instituto ÇaraKura, IIS - Instituto Internacional para Sustentabilidade, ISA - Instituto Socioambiental, Mater Natura - Instituto de Estudos Ambientais, TNC - Instituto de Conservação Ambiental The Nature Conservancy Brasil, WeForest e WRI Brasil.
 
A restauração florestal traz vários benefícios para a biodiversidade e para a sociedade, entre eles: o aumento de conectividade entre os remanescentes florestais, viabilizando a troca genética e assim a proteção da biodiversidade; a regulação do clima e a mitigação dos efeitos de gases estufa; a proteção hídrica por meio das matas ciliares que filtram sedimentos e poluentes; a proteção do solo, minimizando a erosão e a sua degradação; além de garantir o fornecimento de diversos produtos, como madeiras, plantas medicinais e outros.

Protestos pedem mais ações para conter mudanças climáticas


Meio Ambiente

Protestos pedem mais ações para conter mudanças climáticas

Nova mobilização do movimento Greve pelo Futuro reuniu milhares de pessoas em Berlim, Varsóvia, Lisboa, Tóquio e Johanesburgo. Na França, manifestantes tentaram bloquear depósito do site Amazon.
Deutschland Klimaprotest Fridays for Future in Berlin (Reuters/H. Hanschke) Milhares de manifestantes se reuniram em frente ao Portão de Brandemburgo, em Berlim

Milhares de manifestantes pelo mundo saíram às ruas nesta sexta-feira (29/11) para exigir que líderes políticos adotem medidas concretas para combater o aquecimento global. O movimento ocorre três dias antes do início da Conferência sobre as Mudanças Climática (COP25) em Madri.  A mobilização mundial foi iniciada pelo movimento Greve pelo Futuro (Fridays for Future) e, segundo os organizadores, ocorreu em 2.400 cidades em 157 países.

Na Alemanha, o movimento levou às ruas habitantes de 500 cidades. Os organizadores calcularam que 100 mil pessoas aderiram aos protestos. Dezenas de milhares de estudantes concentraram-se em frente do Portão de Brandemburgo, em Berlim.

Ainda na capital alemã, cerca de duas dúzias de ativistas ambientais saltaram para as águas geladas do rio Spree em frente à sede do Bundestag (Câmara baixa do Parlamento) para protestar contra o pacote climático do governo alemão. Eles afirmaram que o conjunto de medidas não é suficiente para reduzir os gases que provocam o efeito de estufa no país. Parte do pacote foi bloqueado hoje pelo Bundesrat (Câmara alta do parlamento), que representa os 16 estados do país, por divergências sobre quem vai financiar algumas das medidas.
Alguns manifestantes em Berlim pularam nas águas geladas do rio Spree Alguns manifestantes em Berlim pularam nas águas geladas do rio Spree, em frente à sede do Bundestag

Os primeiros protestos do dia foram registrados na Austrália, onde pessoas afetadas recentemente pelos devastadores incêndios florestais que atingiram o país se juntaram a grupos de ambientalistas para protestar contra o governo, que é acusado de favorecer a energia fóssil.

A jovem ativista Greta Thunberg, que deu início ao movimento em 2018, não participou diretamente hoje. Ela ainda está atravessando o Atlântico num veleiro para participar da Conferência em Madri. A COP25 estava prevista para ocorrer originalmente no Chile, mas foi transferidapara a Espanha depois da eclosão de protestos no país sul-americano. Ela esperava chegar a tempo de participar dos protestos em Lisboa, mas a viagem foi atrasada pelo mau tempo no oceano.

À distância, Greta publicou uma mensagem de apoio aos manifestantes. "Todos são necessários. Todos são bem-vindos. Junte-se a nós", escreveu no Twitter.

Outras manifestações foram registradas na Coreia do Sul, na Polônia, na Inglaterra, na Turquia, na Itália, na Espanha, na França e em Portugal. Na África do Sul, manifestantes empunharam cartazes a com frases como "parem a poluição agora" em frente à bolsa de valores Johanesburgo.
Manifestantes em Turim, na Itália, com uma faixa com o slogan: “Não há um planeta B” Manifestantes em Turim, na Itália, com uma faixa com o slogan: “Não há um planeta B”

No Japão, centenas de pessoas protestaram no distrito de Shinjuku, em Tóquio, para demonstrar seu apoio ao movimento. Em Varsóvia, na Polônia, ativistas, alguns usando máscaras de gás, estenderam faixas com os dizeres: "Salve nosso planeta" e "Polônia sem carvão em 2030".
Já na França, ativistas protestaram em sedes da empresa Amazon para protestar contra o mega evento anual de compras da Black Friday, que foi acusado de agravar o consumismo desenfreado e aumentar a pressão sobre os recursos do planeta.

Algumas dezenas de manifestantes fizeram uma manifestação ao amanhecer em frente a um prédio administrativo da Amazon em Paris, segurando placas como "Não à Amazon e ao seu mundo". Outros ativistas em Lyon foram mais longe e tentaram bloquear o acesso a um centro de logística da empresa nos arredores da cidade. A polícia agarrou e arrastou vários manifestantes para liberar o acesso.

Na Nigéria, vários jovens marcharam em Lagos com mensagens como "Não há Planeta B" e "Parem de negar que a Terra está morrendo" enquanto veículos que passavam buzinavam, em apoio.
JPS/lusa/ap/dpa
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Brasil está entre países com piores políticas climáticas, diz índice

Meio ambiente

Brasil está entre países com piores políticas climáticas, diz índice

Apesar de subir uma posição no Índice de Desempenho perante as Mudanças Climáticas em relação ao ano passado, país deixa a desejar em termos de políticas ambientais. EUA são apontados como grandes vilões do clima.
Área desmatada perto de Porto Velho, em agosto de 2019 "Especialistas estão preocupados com as taxas de desmatamento e com os extensos incêndios florestais na Amazônia", diz relatório

O Índice de Desempenho perante as Mudanças Climáticas (CCPI, na sigla em inglês), divulgado nesta terça-feira (10/12) pelo Instituto NewClimate, pela ONG Germanwatch e pela rede Climate Action Network, destaca as economias com a maior intensidade de emissões de gases poluentes do mundo e indica quem está trabalhando mais em termos de proteção climática.

O estudo analisou e comparou os progressos feitos em prol da meta estabelecida pelo Acordo de Paris, de manter o aquecimento global abaixo de 2°C, em 57 países, além da União Europeia (UE) como um bloco. Juntos, esses Estados são responsáveis por mais de 90% das emissões globais de gases de efeito estufa.

Os países foram classificados em quatro áreas: emissões de gases de efeito estufa, parcela de energia gerada por fontes renováveis, consumo de energia per capita e política atual e climática.
Apesar de ter avançado uma posição no ranking em relação ao ano passado, passando do 22º para o 21º lugar, na classificação geral, o Brasil aparece com desempenho "médio" em relação à proteção climática.

Em termos de energia renovável, o desempenho do país foi classificado como "alto". Com mais de 70% de sua energia proveniente de hidrelétricas, o Brasil foi o líder mundial nessa área.

No entanto, o país ficou entre os últimos colocados (em termos de política climática. O relatório do CCPI aponta que, o Brasil tem uma parcela comparativamente alta de energias renováveis, mas falta planejamento para expandir essas fontes de energia.

Além disso, "especialistas apontam para a para a falta de políticas de redução de emissões no longo prazo e para a eliminação progressiva dos subsídios aos combustíveis fósseis", diz o texto.

"Especialistas estão preocupados com as taxas de desmatamento, as mais altas da última década, e com os extensos incêndios florestais na Amazônia, enquanto o governo do presidente Bolsonaro cortou o orçamento da agência ambiental de prevenção de incêndios", prossegue o relatório.
Infografik Klimaschutzranking PT
Assim como o Brasil, os Estados Unidos tiveram sua política climática avaliada como "muito baixa". Se houvesse uma segunda divisão para a ação climática, o país seria rebaixado imediatamente. Já em declínio no ranking de 2018, o país chegou neste ano ao fim da tabela.

"A política de proteção climática está em retrocesso", disse Höhne sobre os EUA. Sob o presidente Donald Trump, muitas regras ambientais foram descartadas e Washington deverá deixar o Acordo de Paris no próximo ano. O consumo energético per capita no país é mais que o dobro do da UE e dez vezes maior que o da Índia.

Além de Brasil e Estados Unidos, aparecem nas piores colocações em termos de política climática: Malta, República Tcheca, Hungria, Romênia, Polônia, Japão, Argélia, Bulgária, Turquia e Austrália.

Suécia no topo do ranking
Os cientistas envolvidos no estudo concordam que, até o final deste século, a temperatura do planeta deve ficar pelo menos 3°C mais alta do que era antes da Revolução Industrial – a menos que sejam reduzidas drasticamente e rapidamente as emissões de CO2 produzidas pelo ser humano.

Até agora, há pouco sinal disso, de acordo com o índice divulgado nesta terça. "Tradicionalmente, o índice de proteção climática deixa em aberto os três primeiros lugares", disse à DW Niklas Höhne, um dos autores do relatório. "E eles não foram ocupados novamente este ano, porque nenhum país fez o suficiente para cumprir o acordo climático."

Com nenhum país considerado digno de ouro, prata ou bronze, a Suécia ficou em quarto lugar no ranking. A nação nórdica obteve boa classificação em termos de política, na meta de alcançar o fornecimento de 100% de energia renovável até 2040 e no imposto mais elevado sobre emissões de carbono do mundo, com 114 euros por tonelada. Em comparação, a Alemanha planeja introduzir um imposto de 10 euros por tonelada de carbono emitido em 2021.

Atrás da Suécia, Dinamarca e Marrocos ficaram em quinto e sexto lugares. A Alemanha ocupou o 23º lugar. Atualmente, o maior perdedor climático da Europa foi a Polônia, em 50º lugar. A China subiu no ranking em relação ao ano passado, mas ainda está na metade inferior da tabela, na 30ª posição.

Um movimento sutil na direção certa
As emissões totais estiveram caindo em mais da metade dos Estados analisados, "particularmente os países industrializados menores e aqueles em desenvolvimento", disse à DW Ursula Hagen, coautora do relatório. "Esse é um aspecto positivo e nos dá esperança de uma reviravolta."

"Vemos movimentos sutis na direção certa", afirmou Höhne. Mas as maiores economias industrializadas do mundo, que fazem parte do G20, "infelizmente ainda estão com um desempenho muito ruim". "Mais da metade do G20 está na metade inferior do índice", apontou.

Logo atrás de seu vizinho nórdico, a vice-campeã Dinamarca é um país pequeno com grande pontuação em política climática. O objetivo é reduzir 70% de suas emissões de CO2 até 2030, quando planeja eliminar gradualmente o carvão.

O Marrocos também impressionou os pesquisadores. Já em 2015, ele se tornou um dos poucos países em todo o mundo a começar a cortar subsídios aos fornecedores de energia fóssil, diz o estudo. Também ganhou pontos pelo baixo consumo energético e pelo desenvolvimento de energia renovável, que deverá suprir 52% de sua demanda até 2030.

Neste ano, pela primeira vez, a Índia ficou entre os dez primeiros do índice de proteção climática, obtendo notas altas pelo consumo relativamente baixo de energia per capita e – ao contrário dos EUA e da Europa – pelas baixas emissões de gases de efeito estufa. A Índia também investiu pesado em energias renováveis, que deverão fornecer 40% de sua demanda até 2030. "Acho algo extremamente impressionante para um país nesse nível de desenvolvimento", afirmou Höhne.

Pontos foram retirados, no entanto, pelos planos da Índia de construir novas termelétricas a carvão, a fim de atender parte do restante de sua crescente demanda por energia.

"Em minha opinião, cabe à comunidade internacional ajudar a Índia a evitar esse desenvolvimento, mudando, em vez disso, para fontes alternativas de energia", acrescentou Höhne.

Europa e Alemanha precisam levar a sério
O relatório saudou os apelos da nova presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no sentido de que a União Europeia eleve suas metas de redução de emissões para 2030 de 40% para 55%.

"Essas metas são a razão pela qual atribuímos à UE uma boa classificação em política climática", observou Ursula Hagen. "Assim como o objetivo de neutralidade climática até 2050, isso agora deve ser alcançado com medidas concretas. Até agora, há pouca ou nenhuma estratégia de fato."

Atualmente, a UE não está a caminho de alcançar as metas climáticas de Paris. Nem a Alemanha, cuja política climática Hagen descreve como "inexpressiva" e "incompatível" com o Acordo de Paris.
Höhne descreveu o pacote de política climática adotado recentemente pela Alemanha como "um passo na direção certa, mas muito pequeno", acrescentando que o país precisaria de "um compromisso claro com a neutralidade climática". Até lá, ele ocupará uma posição mediana no índice, bem longe de um dos lugares vazios no pódio dos vencedores.

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