terça-feira, 12 de novembro de 2019

Ceará instala barreiras para evitar que óleo atinja praias e mangues

Foto: Secretaria do Meio Ambiente (Sema)/Ceará

Ceará instala barreiras para evitar que óleo atinja praias e mangues

Governo do estado instalou redes de contenção na foz do rio Jaguaribe como medida preventiva.

Na última semana, o governo do Ceará instalou redes de contenção para a mancha de óleo na foz do rio Jaguaribe – o maior e principal rio do estado. A área é rodeada de mangues e a gestão espera conter o vazamento de óleo, protegendo a vida marinha.

Segundo o governo, foram instaladas três redes em pontos estratégicos. Somadas elas possuem 1.200 metros de extensão, mas optou-se por criar três redes para não bloquear a navegação da área, bastante usada para pesca e turismo.

Cada rede possui boias na superfície e malha de até quatro metros de largura. ”Como a mancha é densa, ela pode vir a se posicionar até meio metro abaixo da superfície. Por isso, a rede precisa desta profundidade”, explicou o Secretário do Meio Ambiente do Ceará, Artur Bruno.
Fotos: Secretaria do Meio Ambiente (Sema)/Ceará
Em comunicado à imprensa, o governo afirmou que a medida é uma estratégia preventiva para “preservar uma área sensível, rica em manguezais, pesca artesanal e que é usada inclusive no abastecimento d’água da população”.

Orientações

Em campanha nas redes sociais, o governo do Ceará também está orientando os moradores sobre o que fazer em diversas situações que envolvem as manchas de óleo:

Mangues

Os mangues são ecossistemas férteis situados na fronteira entre ambientes aquáticos e terrestres. Eles sustentam uma rica biodiversidade e oferecem um valioso berçário para peixes e crustáceos.

“Charcos, pântanos, várzeas e mangues não são tão populares como as florestas tropicais, mas são tão importantes quanto elas para a vida em nosso planeta”, ressalta a organização WWF Brasil.

“O manguezal é um dos mais eficientes sistemas de transformação de matéria orgânica em nutrientes para o meio. A confluência de características específicas dos ambientes terrestres, marinho e de água doce define uma estrutura única no planeta. Ela abriga elevada diversidade biológica, se auto-regula, e oferece trabalho, renda, alimento e proteção, mantendo a qualidade de vida para muitos”, afirma a Dra. Ana Maria Torres Rodrigues, ex-Coordenadora do Núcleo de Educação Ambiental (NEA) do CEPSUL (Centro Especializado do ICMBio). Saiba mais sobre os mangues no ebook “Educação ambiental sobre manguezais”.

Políticos e ambientalistas protestam contra liberação do plantio de cana no Pantanal

Políticos e ambientalistas protestam contra liberação do plantio de cana no Pantanal

Ambientalista afirma que os agrotóxicos usados em plantações de cana-de-açúcar podem prejudicar a saúde da população

Discussões entre ambientalistas e políticos sobre o plantio de cana-de-açúcar no Pantanal continuam movimentando o cenário agrícola e ambiental de Mato Grosso do Sul. Tudo começou com um decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), que libera a plantação de cana-de-açúcar no Pantanal e outros biomas sensíveis.

O documento que revoga o decreto 6.961/ 2009, que garantia a produção do etanol de forma sustentável, motivou o ato “Cana no Pantanal Não”. A manifestação organizada pela Frente Parlamentar de Vereadores Ambientalistas acontecerá na próxima terça-feira (12), considerado o “Dia Nacional do Pantanal”, em homenagem a Francisco Anselmo dos Santos, mais conhecido como Francelmo.

Francelmo morreu em 13 de novembro de 2007 após não resistir às queimaduras que atingiram 100% de seu corpo. No dia anterior, o ativista ambiental ateou fogo no próprio corpo como forma de protesto contra a instalação de usinas de álcool e açúcar na região do Pantanal, durante uma manifestação em Campo Grande.

Após 14 anos, o bioma do Pantanal volta a ser visto como possibilidade para o comércio agrícola. O ato público “Cana no Pantanal Não” irá se manifestar contra a decisão da liberação do plantio de cana-de-açúcar na região pantaneira. “Com a revogação do decreto, ou seja, com o agora tudo pode, acendemos o alerta, porque podem abrir brechas contra lei estadual que proíbe cana no Pantanal. Começaram derrubando um decreto e agora o que mais pode vir? O que mais pretendem fazer de ato político, inclusive em nível estadual, que vai afetar a identidade do patrimônio Pantanal, que vai além de lugar paisagístico, berço de espécies?”, questiona o vereador Eduardo Romero (Rede), representante da manifestação.

Os perigos da cana


O diretor executivo da Ecoa, Alcides Faria afirma que grande parte do Pantanal não é propícia para o plantio de cana-de-açúcar e ressalta que esta monocultura faz uso de grandes quantidades de agrotóxicos. “Um dos ingredientes, o nitrogênio, ele é extremamente prejudicial para os rios e lagoas. Ele provoca o desenvolvimento muito rápido de algumas espécies que competem com outras, como as algas e micro-organismos, são danosos, destroem o ecossistema completamente”.

O ambientalista comenta sobre a declaração do presidente da Biosul, Roberto Hollanda, que afirmou que o decreto diz respeito apenas na bacia do Alto Paraguai e que esta área não faria parte do Pantanal. “A bacia do Alto do Paraguai é tanto a planície de parte baixa, como a parte alta, então os problemas estão nos dois. Mesmo na parte alta, quando se planta cana, os agrotóxicos escorrem para a parte baixa”, explica. 

Ainda sobre o uso dos agrotóxicos, Faria destaca que os grandes canaviais usam a pulverização por aviões. “Venenos de avião são uma desgraça, a começar pelas pessoas, pois atingem até quem não está próximo e grande parte desses agrotóxicos são cancerígenos”. Ele informa que mesmo num raio de um quilômetro de distância é possível ser atingido pelos efeitos prejudiciais dos agrotóxicos. 

O presidente da organização ambiental não governamental afirma que é possível relacionar o cultivo de cana com o desmatamento. “Se ela não se faz diretamente, faz indiretamente. Pois ela ocupa áreas que são de agricultura e de pastagem, aí vai ser desmatada outra área, pois o boi vai ser levado para outro lugar, e ele é um desmatador”.

Serviço

“Cana no Pantanal Não”
Data: 12 de novembro
Horário: 09h30
Local: Calçadão da Rua Barão do Rio Branco, entre as Ruas 13 de Maio e 14 de Julho.

Já ultrapassamos o número de habitantes que o planeta suporta. E agora?


Já ultrapassamos o número de habitantes que o planeta suporta. E agora? artigo de Bruno Versiani dos Anjos


artigo de opinião

[EcoDebate] Frente às nada animadoras perspectivas ambientais e climáticas de um planeta futuro, têm sido recorrentes e inúmeros os artigos e discursos que pregam mudanças nos hábitos de consumo, mudanças em matrizes energéticas e a própria mudança no padrão de crescimento econômico do regime capitalista. Por outro lado se vislumbra justamente o contrário na prática: países superpopulosos, como Índia e China, entre outros, levando contingentes humanos da ordem de dezenas de milhões de pessoas anualmente para um padrão de consumo mais elevado. Ou seja, dezenas de milhões de pessoas são retiradas de um modo de vida em que a “pegada ecológica” era baixa para um padrão de consumo ocidental.

Não critico esse fato, pois todo ser humano tem direito às benesses da sociedade tecnológica. E questiono os argumentos daqueles ambientalistas que, que dentro de seus escritórios climatizados nas grandes cidades e circulando dentro de seus carros que emitem gases efeito estufa, pregam o retorno a um padrão de consumo pré-capitalista (para não falar naqueles indigenistas que pregam que os índios devam permanecer em algum estágio neolítico de desenvolvimento em nome da “preservação cultural”).

Deixo claro que não estou fazendo apologia do consumo e do modo de vida capitalista perdulário, mas é uma demanda mais do que justa e digna de que as pessoas tenham acesso a serviços além dos quesitos básicos para a sobrevivência, ou seja que as pessoas desfrutem (assim como eu desfruto) de conforto e segurança proporcionados pelas sociedades modernas. Tirando de lado alguns abnegados e idealistas, em termos realistas apenas uma ínfima fração abrirá mão de fato dessas benesses em nome de alguma ideologia. (quando digo abrir mão, ressalto o fato de não se ater apenas ao discurso) Os exemplos de países que têm revertido a emissão de gases do efeito estufa e têm realmente adotado posturas ambientalmente viáveis são esparsos e proporcionalmente ínfimos, estando restritos a algumas sociedades com altíssimo nível educacional e IDH (por ex. Europa nórdica). A imensa maioria tem seguido o caminho inverso: aumento vertiginoso da pegada ecológica e aumento populacional.

Por mais que os profetas e prosélitos do “desenvolvimento sustentável” bradem e produzam toneladas de argumentos a favor de uma mudança nos padrões de consumo, acredito que o aumento dos padrões de consumo (e necessariamente o custo ambiental associado) em vastos contingentes humanos (principalmente Ásia e América do Sul) é um fato irreversível e até certo ponto justificado e legítimo.

Há outra linha argumentativa que clama que a ciência e tecnologia sempre trarão a solução, ou seja, por mais que a população e os níveis de consumo aumentem, sempre teremos soluções ambientalmente menos impactantes (por exemplo, maior produtividade por hectare). Apesar de eu ser um entusiasta do conhecimento humano e da ciência, acredito que haja limite.

Sem dúvida a chamada “revolução verde” , a “biorrevolução” e as técnicas de engenharia genética salvaram milhões da fome (isso vai um alerta para os defensores da agroecologia: apesar de ambientalmente correta, é incapaz de sustentar vastos bilhões de habitantes), porém acredito que estamos perto de um limite em que seja realmente impossível produzir quantidades que satisfaçam o aumento da ordem de bilhões de seres humanos na mesma área agricultável (lembrando o fato de a nível mundial, afora as últimas florestas naturais, existe proporcionalmente pouca terra agricultável a ser expandida).

Acredito que, dada a atual população terrestre e dadas as perspectivas de mudanças climáticas e alterações na superfície de terras agricultáveis, dificilmente a ciência e a tecnologia reverterão o perigoso limite da segurança alimentar e de suprimento de água a nível global para o qual estamos avançando a cada década.

Conferências intermináveis a cada ano geram toneladas de papel escrito e tratados inócuos, poucos consensos genéricos e vagos, e quase nenhuma ação prática. Líderes se reúnem , segmentos da sociedade civil fazem “barulho” e raramente se debate algo que me parece óbvio: um mundo que está caminhando para uma dezena de bilhões de habitantes, e em que essa dezena de bilhões viva além das meras condições de sobrevivência e tenham as benesses da sociedade tecnológica me parece AMBIENTALMENTE INVIÁVEL.

Para se ter uma ideia prática do que estou falando: tenho 36 anos, e quando nasci a população da terra tinha cerca de 3,5 bilhões de habitantes; até hoje se acrescentaram cerca de mais 3,5 bilhões de habitantes. Conclusão: o planeta levou milhões de anos para atingir a cifra de 3,6 bilhões e apenas 36 anos para atingir os outros 3,5 bilhões. Qualquer pessoa racional com alguma noção matemática (e ambiental) deveria enxergar que isso é simplesmente ABSURDO. Por mais que as estatísticas e estudos da ONU e demais entidades digam que o ritmo de crescimento da população está diminuindo e que haverá uma estabilização, já passamos há muito o limite de sustentabilidade de um planeta ecologicamente viável, e o crescimento populacional de vastas regiões da África e Ásia ainda assusta.


Acredito que seja hora de pensar não apenas no decréscimo da taxa de crescimento da população, mas no decréscimo do número absoluto da própria população a patamares em que não apenas nossa espécie possa sobreviver aos séculos, mas também e sobretudo as outras espécies. Não apenas como ambientalista, mas como humanista, acho incongruente viver em um planeta onde existe quase uma dezena de bilhões de habitantes e menos de mil exemplares de espécies como rinoceronte branco, tigre siberiano, só para citar os casos mais emblemáticos.

Já ultrapassamos em muito o número de habitantes que o planeta suporta, e digo não em relação a um padrão de consumo perdulário, mas em uma situação em que todos tivessem um padrão de consumo suficiente para suas necessidades com dignidade. Sendo assim, em nome da saúde planetária, e pensando nas gerações futuras, a colocação em pauta na ordem do dia do controle populacional a nível planetário é um tema de extrema urgência.
Por Bruno Versiani dos Anjos, Mestre em Ecologia e Analista Ambiental do IBAMA.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 11/11/2019

Floresta Amazônica: desmatamento afeta a rica biodiversidade e causa impactos no planeta



Floresta Amazônica: desmatamento afeta a rica biodiversidade e causa impactos no planeta



Floresta Amazônica: Depredação gera desequilíbrio ambiental e afeta a rica biodiversidade

A maior biodiversidade do mundo espalhada em cerca de sete milhões de quilômetros quadrados – essa é a Floresta Amazônica, que está presente no Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. No país, a área é chamada de Amazônia Legal, com 5.217.423 km², e abrange os Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e pequena parte dos Estados do Maranhão, Tocantins e Mato Grosso. “A Amazônia é de longe o bioma mais diverso do planeta, com 10% de toda a flora. Para se ter uma ideia, enquanto a Amazônia possui 5.000 espécies de árvores, a América do Norte inteira possui apenas 650”, compara Magno Botelho Castelo Branco, doutor em Ecologia e Recursos Naturais e presidente da organização Iniciativa Verde.

“Com toda essa diversidade de climas, solos, relevos e ambientes distintos, conectados geograficamente ou não, a Amazônia é considerada a maior floresta tropical e maior banco genético do planeta, com mais de 1,5 milhões de espécies vegetais catalogadas, além de três mil espécies de peixes e 950 espécies de aves, e uma rica diversidade de répteis, anfíbios, mamíferos e insetos, muitos deles ainda nem catalogados pelos cientistas”, complementa Adriana Maria Imperador, doutora em Ciências da Engenharia Ambiental e professora da Universidade Federal de Alfenas (Unifal).

Há ainda muitos “tesouros” guardados na Floresta Amazônica. “É importante ressaltar que, devido a sua extensão, parte de sua biota (conjunto de seres vivos de um ecossistema) ainda não foi identificada, o que aumenta ainda mais sua importância para a biodiversidade mundial”, diz Branco. De acordo com Adriana, muitas destas espécies podem trazer benefícios imensuráveis ao homem, como a cura de doenças, servir como fonte de alimento, para a produção de remédios e cosméticos, além trazer benefícios ecológicos e ambientais.

A Amazônia, segundo a pesquisadora, também apresenta grande diversidade étnica com comunidades tradicionais indígenas, ribeirinhas e de seringueiros, que vivem dos produtos extraídos da floresta e são possuidoras de conhecimento empírico hoje muito valorizado e resgatado por estudiosos do mundo todo.

Desmatamento
Mas por que uma área tão rica em recursos naturais não recebe a proteção adequada e tem o desmatamento como sua maior ameaça? Conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 2011, a taxa de desmatamento da Amazônia Legal foi de 6.238 km². Já o acumulado de 1988 a 2011 chegou a 392.021 km². “O desmatamento realizado para a agropecuária ainda é a maior ameaça à floresta primária da Amazônia. Isto se deve principalmente ao tamanho das áreas desmatadas para a formação de pastagens e produção de grãos. Intervenções de minerações e de hidrelétricas são mais drásticas, porém a escala é sempre bem menor do que da agropecuária”, explica Niro Higuchi, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Para o pesquisador, a exploração seletiva de madeira também representa uma importante ameaça à integridade da Amazônia. “Há uma lógica perversa que indica que os Estados da Amazônia que mais produzem madeira são também os que mais a desmatam”, ressalta.

Branco, por outro lado, acredita que atribuir à criação de gado o papel de grande vilã do desmatamento é injusto. “Outros vetores são também importantes. A pecuária se expande para as áreas de floresta por ser literalmente empurrada para essas áreas, visto que é uma das atividades que menos remunera a terra. Quando ocorreu a expansão da cultura da cana-de-açúcar no Sudeste para a produção de etanol, por exemplo, tivemos um deslocamento da pecuária e de outras culturas para as áreas de terra com menor custo de oportunidade, o que inclui a Amazônia”, esclarece. O desmatamento é uma consequência de várias forças que resultam na ocupação sem planejamento da floresta. “A construção de estradas de rodagem é uma delas, pois as rodovias fomentam o desmatamento ao longo de seus eixos, o que ocorreria em intensidade muito menor se construíssemos ferrovias”, defende.

Já Adriana destaca as origens históricas do desmatamento: “a Amazônia ficou esquecida durante mais de quatro séculos e as populações que habitavam este ambiente permaneceram praticamente isoladas. Durante o governo de Getúlio Vargas (1930-1945), a ocupação foi estimulada por um programa de avanço das fronteiras”, aponta. Somente na década de 1970, expõe ela, a ocupação se deu de forma mais efetiva com a política de “integrar para não entregar”. “Desde então, muitos brasileiros migraram para o norte do país com a intenção de ganhos imediatos à custa da derrubada da floresta. Esta ocupação desordenada repercutiu no desmatamento com vistas à urbanização, à criação de gado e às práticas agrícolas”, destaca.

Impactos
O desmatamento reduz a biodiversidade, causa erosão dos solos, degrada áreas de bacias hidrográficas, libera gás carbônico para a atmosfera, reduz a umidade do ar, causa desequilíbrio social, econômico e ambiental. “A redução da umidade na Amazônia pode reduzir as chuvas na região centro-sul brasileira e até mesmo de outros países. Em 2005, quando a região amazônica sofreu com uma das maiores secas já registradas, o impacto atingiu áreas distantes e acarretou a perda de diversas culturas agrícolas no sul do Brasil e norte Argentina, com um prejuízo incalculável e perdas irreversíveis”, exemplifica Adriana.

Além das questões climáticas, o desmatamento causa também muitos prejuízos para a biodiversidade. “Com a perda de habitat, as espécies desaparecem, e com elas se perdem os serviços ambientais que nos prestam: metade da farmacopeia conhecida tem origem em extratos naturais e em substâncias presentes em diversos seres vivos. Compostos medicinais de origem natural são descobertos regularmente e, como parte da biodiversidade amazônica ainda é desconhecida, estamos perdendo esse patrimônio mesmo antes de conhecê-lo”, lamenta Branco.

Para Higuchi, as emissões causadas pelo desmatamento são irracionais. “Eu diria que o desmatamento na Amazônia contribui com 2/3 das emissões brasileiras. É difícil aceitar estas emissões como racionais porque a Amazônia contribui com menos de 8% na formação do produto interno (ou doméstico) bruto do Brasil”. Branco explica que a Floresta Amazônica se comporta como um enorme reservatório de carbono atmosférico: “Durante o seu crescimento, as árvores removem enormes quantidades de CO2 da atmosfera – metade da biomassa das árvores é constituída de carbono. Com o desmatamento, todo esse carbono é reemitido para a atmosfera, o que contribui ainda mais para o aumento do efeito estufa”, realça.

Como combater
Para coibir o desmatamento, de acordo com o pesquisador do Inpa, é necessário simplesmente cumprir as legislações vigentes. Ele acredita que as ações tomadas até agora não têm sido suficientes por falta de gente para impor as leis. Branco concorda: “As ações tomadas pelo poder público são vitais, mas não bastam. A grande iniciativa do governo consiste nas metas adotadas pela Política Nacional de Mudança do Clima, que prevê a redução do desmatamento para cerca de 20% dos níveis observados no período 1996-2005”, sinaliza. Para ele, é importante que a sociedade exija garantia de origem nos produtos que consome, por exemplo questionando as redes de supermercados se a carne que vendem é oriunda de área de desmatamento ilegal.

Adriana cita medidas adotadas no Acre em que a prática do manejo florestal é uma alternativa ao padrão de exploração dos recursos naturais na região. “Minha pesquisa de doutorado pela Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Embrapa, abordou aspectos da Certificação Florestal Comunitária para Produtos Florestais não Madeireiros e apontou que é possível desenvolver e ao mesmo tempo cumprir critérios que indiquem uma postura sustentável que seja ecologicamente correta e viável, e socialmente justa”. Ela destaca também a criação de unidades de conservação de uso sustentável, determinada pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC, 2000), que estimula o uso sustentável da floresta.

Créditos de carbono
Segundo Branco, ações de preservação na Floresta Amazônica podem gerar créditos de carbono. “Já existem alguns projetos demonstrativos em andamento. Em uma escala maior, há diversas propostas de como as empresas e mesmo unidades federativas podem cumprir metas de redução de emissões de carbono em parte financiando projetos que contribuam para a redução do desmatamento na região. Todas essas iniciativas estão em fase preliminar e, em um futuro próximo, teremos boas notícias sobre o assunto”, acredita.

Adriana pontua que a existência da floresta não confere ao Brasil hoje o direito de utilizar este grande mérito como crédito de carbono. “Porém, seria uma estratégia interessante do governo investir na inclusão de suas áreas florestais nessa proposta, pois serviria como incentivo à manutenção da Floresta Amazônica e demais áreas florestais contidas em seu território.”

Entretanto, Higuchi lembra que, quando o crédito de carbono surgiu como mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL), em 1997, no Protocolo de Quioto, houve grande expectativa para a proteção das florestas tropicais por meio, principalmente, da recuperação das áreas desmatadas. “No entanto, de 1997 até os dias atuais não há nenhum MDL-florestal aprovado na Amazônia. O crédito de carbono funcionou como ‘ouro de tolo’ naquela região”, lamenta.

Em relação à nova alternativa para proteger as florestas conhecidas como Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (Redd, em inglês), Higuchi defende que são necessários projetos consistentes. “O fracasso do MDL-florestal pode ser atribuído à falta de bons projetos. O mesmo pode ocorrer com o Redd se não houver bons projetos, porque esse mercado é muito exigente. Isso significa a utilização de métodos confiáveis, replicáveis e auditáveis”, finaliza.
Floresta Amazônica não é o pulmão do mundo

O mito de que a Floresta Amazônica é o pulmão do mundo surgiu associado ao mecanismo de fotossíntese e respiração das árvores, que têm capacidade de absorver o dióxido de carbono (CO2) e liberar o oxigênio (O2). Já o pulmão, ao contrário, absorve o oxigênio durante a inspiração e libera o dióxido de carbono durante a expiração. “Para enterrar de vez este mito, temos que pensar em escala também: na atmosfera há 21% de oxigênio e 0,04% de dióxido de carbono. Por mais que a Floresta Amazônica tivesse uma troca gasosa favorável com a atmosfera, a quantidade seria insignificante”, detalha Niro Higuchi, do Inpa.

“A grande maioria do oxigênio presente na atmosfera é produzida por algas nos oceanos, de modo que a contribuição das florestas em geral para a produção líquida desse elemento é pequena. Mas a Amazônia tem um papel importantíssimo para o clima global, que é a estocagem de enormes quantidades de carbono atmosférico”, acrescenta Magno Branco, da Iniciativa Verde.
Matéria de Patricia Piacentini, no pré-Univesp – Número 19 – Florestas, publicada pelo EcoDebate, 20/08/2012

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Estudo revela aumento nos impactos de carbono devido a perdas de florestas tropicais intactas entre 2000 e 2013

Estudo revela aumento nos impactos de carbono devido a perdas de florestas tropicais intactas entre 2000 e 2013


Wildlife Conservation Society, Global Conservation Program*
  • LEIA O ESTUDO:  https://advances.sciencemag.org/content/5/10/eaax2546
  • Novos números revelam um aumento impressionante nos impactos de carbono – 626% a mais do que se pensava anteriormente – devido a perdas de floresta tropical intacta entre 2000 e 2013
  • O valor é equivalente a aproximadamente dois anos de emissões globais de mudanças no uso da terra
  • O aumento dramático nos números vem do fatoramento da contabilidade total de carbono a longo prazo, incluindo extração seletiva de madeira, efeitos de borda e perda de vida selvagem
  • O estudo também considerou as remoções de carbono perdidas – o seqüestro de carbono que ocorreria se a floresta desmatada ou degradada permanecesse intacta após o ano 2000.
  • Os autores alertam que os benefícios da mitigação da mudança climática por permanecerem intactas na floresta tropical diminuirão em breve se a taxa de perda continuar a acelerar.
  • Ainda existem 549 milhões de hectares de florestas tropicais intactas, mas a extensão está diminuindo rapidamente.
Áreas de floresta tropical que permaneceram intactas em 2013 ou foram perdidas entre 2000 e 2013
Áreas de floresta tropical que permaneceram intactas em 2013 ou foram perdidas entre 2000 e 2013.
( A a C ) Mapas inseridos com bordas alaranjadas mostram parcelas remanescentes e perdidas de floresta intacta na América Latina, África Central e Ásia-Pacífico. A segunda linha de mapas inseridos (bordas pretas) mostra a distribuição espacial de atividades que causam emissões de carbono e impedem a remoção de carbono em áreas florestais intactas. As áreas registradas seletivamente foram simuladas dentro de parcelas perdidas aplicando um buffer de 1 km em torno das estradas mapeadas no conjunto de dados do OpenStreetMap ( www.openstreetmap.org ). Novas margens da floresta foram simuladas aplicando tampões de 500 m ao redor de pegadas da área queimada e do desmatamento.

Um novo estudo na revista Science Advances diz que os impactos de carbono causados ​​pela perda de florestas tropicais intactas foram subnotificados.
O estudo calcula novos números relativos à floresta tropical intacta perdida entre 2000 e 2013 que mostram um aumento impressionante de 626% nos impactos líquidos de carbono a longo prazo até 2050. O total revisado equivale a dois anos de todas as emissões globais de mudanças no uso da terra .
Os autores do estudo, da WCS, Universidade de Queensland, Universidade de Oxford, Sociedade Zoológica de Londres, Instituto de Recursos Mundiais, Universidade de Maryland e Universidade do Norte da Colúmbia Britânica, descobriram que o desmatamento direto de florestas tropicais intactas resultou em apenas 3,2% das emissões brutas de carbono de todo o desmatamento nos pan-
trópicos. No entanto, quando consideraram a contabilização completa do carbono, que considera as remoções de carbono perdidas (sequestro de carbono que ocorreria anualmente no futuro se a floresta desmatada ou degradada permanecesse intacta após o ano 2000), extração seletiva, efeitos de borda e declínios de árvores densas espécies devido à caça excessiva de animais dispersantes de sementes, eles descobriram que o número disparou por um fator mais de seis vezes.

Disse o autor principal do estudo, Sean Maxwell, da WCS e da Universidade de Queensland: “Nossos resultados revelaram que a destruição contínua de florestas tropicais intactas é uma bomba-relógio para as emissões de carbono. Há uma necessidade urgente de proteger essas paisagens, porque elas desempenham um papel indispensável na estabilização do clima. ”

Segundo as estimativas de 2013, restam 549 milhões de acres de florestas tropicais intactas. Apenas 20% das florestas tropicais podem ser consideradas “intactas”, mas essas áreas armazenam cerca de 40% do carbono acima do solo encontrado em todas as florestas tropicais.

Os autores dizem que a retenção intacta de florestas raramente atrai financiamento de esquemas projetados para evitar emissões de mudanças no uso e cobertura da terra nos países em desenvolvimento.

Notavelmente, a abordagem Reduzir Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD +) permite que os países em desenvolvimento recebam incentivos financeiros para melhorar os estoques de carbono ou evitar a perda de carbono que de outra forma seria emitida devido ao uso e alteração da cobertura do solo. Entre outras atividades, o REDD + cobre o apoio à conservação de florestas que não estão sob ameaça imediata e foi formalmente adotado pelas partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em 2008 na 14ª Conferência das Partes na Polônia. Desde então, no entanto, o apoio financeiro e a implementação se concentraram predominantemente em áreas com altas taxas históricas de desmatamento (ou seja, ‘fronteiras do desmatamento’).

Acredita-se que isso proporcione reduções de emissões mais imediatas e mais claramente demonstráveis ​​do que a conservação de áreas florestais intactas. Estes últimos tendem a ser tratados como fontes insignificantes de emissões como resultado dos prazos curtos e das premissas conservadoras sob as quais o REDD + opera – premissas que o presente estudo sugere que estão fazendo com que as principais oportunidades sejam perdidas.

Tom Evans, co-autor do estudo, disse à WCS: “O valor relativo de reter áreas de florestas tropicais intactas aumenta se alguém adota uma visão de longo prazo e considera o provável estado das florestas do mundo em meados do século – uma data importante para o Acordo de Paris. A expansão agrícola, a extração de madeira, a infraestrutura e os incêndios reduziram a extensão global das florestas intactas em 7,2% entre 2000 e 2013, mas as eventuais emissões de carbono bloqueadas por essas perdas não foram estimadas de forma abrangente. ”

Os autores continuam dizendo que é necessária uma análise comparável para florestas intactas fora dos trópicos, como as florestas boreais do Canadá e da Rússia, dado que aproximadamente metade a dois terços das remoções de carbono nos ecossistemas intactos da Terra ocorrem fora dos trópicos. Sem esse serviço de limpeza global, o CO 2 das atividades humanas se acumularia na atmosfera notavelmente mais rápido do que atualmente.

Disse o co-autor James Watson, da WCS e da Universidade de Queensland: “Claramente, o potencial de mitigação climática de reter florestas intactas é significativo, mas sem uma ação proativa de conservação dos governos nacionais, apoiada pela comunidade global, esse potencial continuará a diminuir.

Pelo menos 35% das florestas intactas estudadas abrigam e são protegidas por povos indígenas. As florestas intactas também fornecem níveis excepcionais de muitos outros serviços ambientais – por exemplo, protegem as bacias hidrográficas muito melhor do que as florestas degradadas, devolvem a umidade ao ar que cai em regiões distantes como a chuva e ajudam a manter um grande número de espécies a salvo da extinção. W galinha em comparação com as florestas que foram degradadas por atividades humanas em larga escala, florestas intactas são mais resistentes a choques, tais como incêndios e à seca e, geralmente, menos acessíveis à exploração madeireira e conversão agricultura, tornando-os um dos nossos melhores apostas de conservação em face da um clima que muda rapidamente.
Referência:
Degradation and forgone removals increase the carbon impact of intact forest loss by 626%
BY SEAN L. MAXWELL, TOM EVANS, JAMES E. M. WATSON, ALEXANDRA MOREL, HEDLEY GRANTHAM, ADAM DUNCAN, NANCY HARRIS, PETER POTAPOV, REBECCA K. RUNTING, OSCAR VENTER, STEPHANIE WANG, YADVINDER MALHI
Science Advances 30 Oct 2019:
Vol. 5, no. 10, eaax2546
DOI: 10.1126/sciadv.aax2546

* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 12/11/2019
Estudo revela aumento nos impactos de carbono devido a perdas de florestas tropicais intactas entre 2000 e 2013, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 12/11/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/11/12/estudo-revela-aumento-nos-impactos-de-carbono-devido-a-perdas-de-florestas-tropicais-intactas-entre-2000-e-2013/.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Coworking vira floresta urbana com 6 mil plantas

Projeto é uma interpretação contemporânea das residências do tipo bangalô.
Parece uma ilha tropical cercada por vegetação, mas se trata de um espaço de coworking em Los Angeles, Califórnia, que abriga 60 escritórios curvilíneos com telhados amarelos. Cada espaço funciona como uma cápsula envolvida pela farta natureza circundante.
Batizado de Second Home, trata-se de uma filial de um coworking (de mesmo nome) que já existe em Londres desde 2015. Deste primeiro se manteve principalmente o uso de curvas, que inclusive é uma marca do escritório espanhol SelgasCano, responsável por ambos os projetos. Mas, o maior diferencial é, sem dúvidas, a vegetação: são 6.500 plantas e árvores plantadas.
As espécies são do sul da Califórnia, portanto adequadas às condições locais. Mas, quem vai regar tanta planta? Para isso, a empresa instalou um “controlador inteligente” que faz o serviço conforme a necessidade. O local mais verde e mais bonito melhora a experiência dos trabalhadores, que habitam a segunda cidade mais populosa dos Estados Unidos.
Cada escritório varia em tamanho, sendo que o maior tem capacidade para 25 pessoas. Em formato oval, eles são feitos com madeira laminada cruzada e parcialmente enterrados no subsolo -, o que otimiza suas qualidades isolantes. Já as paredes transparentes de acrílico permitem a contemplação do verde exterior.
Foram projetados ainda caminhos de madeira, que incentivam a interação entre os profissionais de cada escritório. Pátios ao ar livre com decks de madeira também contribuem para tal socialização.
Entre as áreas abertas ao público, há livraria, restaurante e salas de reuniões, que poderão ser usadas, gratuitamente, por instituições de caridade locais. Espaço ainda inclui auditório para 200 pessoas onde serão realizadas palestras, exibições, música e apresentações em geral.

11 mil cientistas alertam para “sofrimento incalculável”

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Crise climática já chegou e avança mais rápido do que a maioria dos cientistas esperava.
Por
Redação CicloVivoPor NHK – Emissora pública de televisão do Japão


Para marcar os 40 anos da primeira conferência mundial sobre o clima, realizada em Genebra em 1979, mais de 11 mil cientistas de 153 países alertaram para o “sofrimento incalculável” que as alterações climáticas irão provocar, a menos que haja grandes transformações na sociedade.
“Declaramos clara e inequivocamente que o planeta enfrenta uma emergência climática”, dizem os cientistas na revista BioScience, em artigo publicado na última terça-feira (5). “Para garantir um futuro sustentável, precisamos mudar a forma como vivemos”.

“Isso implica grandes transformações no modo como a sociedade global funciona e interage com os ecossistemas naturais”, acrescentam os cientistas, alertando ainda que não há tempo a perder.

“A crise climática já chegou e avança mais rápido do que a maioria dos cientistas esperava. É mais grave do que se pensava e ameaça ecossistemas naturais e o destino da humanidade”.

As medidas sugeridas pelos especialistas passam por deter o crescimento populacional – atualmente há mais 200 mil pessoas no mundo a cada dia -, reduzir a utilização de combustíveis fósseis por meio da aplicação de taxas e substituindo-a por energias renováveis, impedir a destruição de florestas e diminuir o consumo de carne.

Áreas da terra inabitáveis

Outra prática que traz “sinais profundamente perturbadores” em termos de clima é a atividade aérea, com o número de passageiros aumentando significativamente. “A crise climática está ligada ao excessivo consumo de um estilo de vida rico”, defendem os especialistas.

“Essas reações climáticas em cadeia podem causar perturbações significativas nos ecossistemas, na sociedade e nas economias, tornando vastas áreas da terra inabitáveis”, advertem.

“A boa notícia é que uma mudança, com justiça social e econômica para todos, levará a um bem-estar muito superior àquele que sentimos atualmente”.

Os mais de 11 mil cientistas de 153 nacionalidades colaboraram para a elaboração dessa mensagem. O professor William Ripple, principal autor do comunicado, diz ter sentido a necessidade de passar a mensagem para que sejam entendidas todas as causas e efeitos dessa crise, e não apenas os problemas mais abordados como as emissões de carbono e o aumento da temperatura global.


Tradução: Agência Brasil

País tem emissões estáveis em 2018; desmatamento cresceu na Amazônia



05.11.2019 • Notícias

As emissões brasileiras de gases de efeito estufa se mantiveram estáveis em 2018, segundo nova estimativa do SEEG, o Sistema de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima.
No ano passado, o país teve emissões brutas de 1,939 bilhão de toneladas de CO2 equivalente (CO2e), um valor 0,3% maior do que o 1,932 bilhão de toneladas verificado em 2017. 
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Os dados serão apresentados nesta quarta-feira (6) em Recife, durante a 1a Conferência Brasileira de Mudança do Clima.

Apesar dessa estabilidade, as emissões por mudança de uso da terra, por outro lado, cresceram 3,6% em 2018 – percentual que corresponde a 845 milhões de toneladas de CO2, 29 milhões de toneladas a mais que o ano anterior. O resultado pode ser explicado pelas emissões decorrentes da alta de 8,5% no desmatamento da Amazônia no ano passado que foram, em parte, compensadas por uma redução de cerca de 10% na destruição do Cerrado.

“Esse aumento foi capitaneado pelo Pará, onde o desmatamento explodiu principalmente nas regiões da rodovia BR-163 e na Terra do Meio”, explicou a diretora de Ciência do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Ane Alencar.

 
Ajuste

Neste ano, o SEEG fez um ajuste em sua metodologia que mudou de forma significativa as emissões de uso da terra – um setor que foi responsável por 44% das emissões do Brasil – e acabou levando a alterações em toda a série histórica do Sistema.

O motivo está nos dados publicados pelo Terceiro Inventário Nacional  de emissões, do Ministério da Ciência e Tecnologia. O documento, que fornecia o parâmetro de comparação ano a ano, apresentou emissões superestimadas por desmatamento da Mata Atlântica – de forma que, mesmo com uma taxa de desmatamento 98% menor do que a da Amazônia, o bioma ainda tinha emissões na casa das dezenas de milhões de toneladas de CO2 equivalente. Usando dados do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, publicado pela Fundação SOS Mata Atlântica, o SEEG recalculou as respectivas emissões desse bioma.

Queda x meta
No setor de energia, registrou-se queda de 5% nas emissões, ocasionada por um aumento expressivo (13%) no uso de etanol no transporte de passageiros, pela adição obrigatória de biodiesel ao diesel e pelo incremento de renováveis na geração de eletricidade. Nessa área, houve também crescimento da energia eólica e aumento das chuvas, que fizeram o governo desligar termelétricas fósseis e acionar usinas hidrelétricas. Devido ao menor acionamento de usinas térmicas, as fontes não-hídricas ultrapassaram as fósseis pela primeira vez e, em 2018, foram a segunda maior fonte de eletricidade para o país.

Já as emissões de agropecuária, processos industriais e resíduos tiveram pequenas variações: queda de 0,7% no primeiro setor e aumento de 1% nos outros dois.

Mesmo com a aparente boa notícia, o perfil das emissões brasileiras indica que o país – que é o sétimo maior poluidor climático do planeta – ainda não incorporou uma trajetória consistente de redução de emissões. “Manter as emissões brasileiras estáveis num mundo que continua aumentando as emissões é importante, mas não suficiente. O planeta precisa que as emissões sejam reduzidas com vigor nos próximos anos, e infelizmente nosso cenário de emissões para 2020 é de aumento”, afirmou Tasso Azevedo, coordenador-técnico do OC e coordenador do SEEG.

Nos dois anos anteriores (2016 e 2017), as emissões vinham em queda (0,4% em 2016 e 4,2% em 2017). Em 2019, elas deverão sofrer crescimento importante, devido à explosão no desmatamento na Amazônia e no Cerrado. “O desmatamento deste ano ainda não está capturado nesta estimativa”, salientou Azevedo.

O país não cumprirá a meta estabelecida para 2020 em sua lei nacional de clima de reduzir em 80% a taxa de desmatamento na Amazônia. Mesmo que todo o desmatamento parasse hoje, a elevação detectada pelo sistema de monitoramento do Inpe nos últimos meses já nos coloca num patamar superior aos 3.925 km2 estabelecidos na lei. Com a meta de 2020 prejudicada, o país parte de uma posição pior para cumprir sua NDC, a meta do Acordo de Paris.

“Nós já vínhamos numa situação delicada antes do desmonte da governança ambiental brasileira promovido pelo governo atual”, disse Carlos Rittl, secretário-executivo do OC. “Em 2019, os planos de combate ao desmatamento na Amazônia e Cerrado foram engavetados e não temos nem mesmo um esboço de plano para a implementação da NDC, que deveria ocorrer a partir do ano que vem. Na verdade, até os órgãos que deveriam implantar a NDC foram extintos pela atual administração.”
O desmatamento, que respondeu por 44% de todo o carbono lançado na atmosfera pelo país em 2018, também causa distorções no perfil brasileiro de emissões: é em grande parte por causa das mudanças no uso da terra que o Brasil emite mais per capita do que a média mundial (9,3 toneladas brutas contra 7,2 toneladas em 2018). Um cidadão do Pará, estado campeão de emissões (e de desmatamento), emite quatro vezes mais do que um norte-americano.

Outros setores
AGROPECUÁRIA: O setor respondeu por 25% das emissões do Brasil em 2018, com 492 milhões de toneladas de CO2e. Trata-se de uma ligeira queda de 0,7% em relação a 2017, causada por uma redução no rebanho bovino, principal fonte de gases de efeito estufa do setor. Desde 2016, a agropecuária tem tido pequenas quedas nas suas emissões devido a variações de conjuntura. “O agro é um dos setores com maior potencial de aumentar sua ambição de corte de emissões e de aumento do sequestro de carbono com aumento de receita, mas ele vem reduzindo essas emissões em mais ou menos 1% ao ano. Estamos perdendo a oportunidade de um ganha-ganha entre redução de emissões, aumento de sequestro e aumento de produtividade”, observou Marina Piatto, coordenadora de Clima e Cadeias Agropecuárias do Imaflora.

ENERGIA e PROCESSOS INDUSTRIAIS: O setor de energia, no qual são computadas as emissões por queima de combustíveis fósseis, foi o destaque positivo do SEEG 7, com uma queda de 5% em 2018 – para 408 milhões de toneladas de CO2e. Ele respondeu por 21% das emissões brasileiras. A queda foi causada por uma combinação de três fatores principais: o aumento do uso de biocombustíveis, em especial, o salto de 13% no uso de etanol nos transportes, com uma redução idêntica no consumo de gasolina; uma temporada de chuvas regular, o que reduziu o uso de termelétricas na matriz de eletricidade; e um aumento das renováveis, sobretudo, a eólica. “Pela primeira vez as fontes renováveis não-hídricas se tornaram a segunda principal forma de gerar eletricidade no Brasil, superando as fontes fósseis”, afirmou Felipe Barcellos e Silva, analista de projetos do IEMA (Instituto de Energia e Meio Ambiente).

O setor de processos industriais e uso de produtos, que reúne as emissões da indústria, teve em 2018 um aumento em seus gases-estufa de 1%, puxado pelo ligeiro reaquecimento da economia – de 99,9 MtCO2e para 101,2 MtCO2e. Ele responde por 5% das emissões nacionais.

RESÍDUOS: O setor responde por 5% das emissões do Brasil. Seu crescimento acompanha mais de perto o aumento da população e a urbanização. Em 2018, as emissões por resíduos cresceram 1,3%, com 91,9 milhões de tCO2e. “Historicamente, a principal contribuição de emissões do setor é decorrente da disposição resíduos sólidos em aterros sanitários, controlados e lixões. No entanto, observa-se uma contribuição cada vez mais significativa dos subsetores de tratamento de efluentes líquidos, tanto domésticos quanto industriais”, explicou Íris Coluna, assessora de projetos do ICLEI – Governos Locais pela Sustentabilidade. “A busca pela universalização dos serviços de saneamento pode impactar significativamente o setor. Portanto, é importante se valer de soluções que também contribuam para reduzir emissões.”

Sobre o Observatório do Clima: rede formada em 2002, composta por 47 organizações não governamentais e movimentos sociais. Atua para o progresso do diálogo, das políticas públicas e processos de tomada de decisão sobre mudanças climáticas no país e globalmente. Site: www.observatoriodoclima.eco.br.

Sobre o SEEG: O Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa foi criado em 2012 para atender a uma determinação da PNMC (Política Nacional de Mudanças Climáticas). O decreto que regulamenta a PNMC estabeleceu que o país deveria produzir estimativas anuais de emissão, de forma a acompanhar a execução da política. O governo, porém, nunca as produziu. Os inventários nacionais, instrumentos fundamentais para conhecer em detalhe o perfil de emissões do país, são publicados apenas de cinco em cinco anos.

O SEEG (www.seeg.eco.br) foi a primeira iniciativa nacional de produção de estimativas anuais para toda a economia. Ele foi lançado em 2012 e incorporado ao Observatório do Clima em 2013. Hoje, em sua sétima coleção, é uma das maiores bases de dados nacionais sobre emissões de gases estufa, compreendendo as emissões brasileiras de cinco setores (Agropecuária, Energia, Mudança de Uso da Terra, Processos Industriais e Resíduos).

As estimativas são geradas segundo as diretrizes do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), com base nos Inventários Brasileiros de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases do Efeito Estufa, do MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações).
Atuaram no SEEG 7 pesquisadores das ONGs: Ipam e Imazon (Mudança de Uso da Terra), Imaflora (Agropecuária), Iema (Energia e Processos Industriais) e ICLEI – Governos Locais pela Sustentabilidade (Resíduos).