Governadora, que se disse surpreendida com atrocidades, participou de reunião com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo
Juntos,
eles anunciaram transferência de presos para unidades federais, criação
de comitê de gestão e mutirão da Defensoria Pública
CHICO DE GOIS (O GLOBO) – ENVIADO ESPECIAL
Reunião entre José Eduardo Cardozo e Roseana Sarney Hans von Manteuffel / O Globo
SÃO LUIS
– O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, reuniu-se nesta
quinta-feira com a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, para
discutir uma ação conjunta para tentar amenizar a situação nos presídios
do estado, onde foram registradas 60 mortes de detentos.
Em sua
primeira aparição pública em entrevista depois que criminosos atearam
fogo em ônibus, causando a morte de uma menina de seis anos, a
governadora disse que foi pega de surpresa pelas atrocidades e fez uma
análise curiosa para justificar o aumento da violência no estado e nos
presídios:
para ela, isso vem ocorrendo porque o Estado, um dos mais
pobres do país, está ficando rico.
- O Maranhão está atraindo
empresas e investimentos. Um dos problemas que está piorando a segurança
é que o Estado está mais rico, o que aumenta o número de habitantes –
justificou a governadora.
Roseana disse que em 2012 foram
registradas quatro mortes no sistema penitenciário maranhense e, até
setembro do ano passado, 39.
- Até setembro estava dentro do
limite que se esperava – declarou, argumentando que as mortes ocorreram
apenas em uma unidade do complexo de Pedrinhas, onde duas facções
disputam o domínio do tráfico e da cadeia, matando seus rivais,
inclusive decepando cabeças.
De acordo com a governadora, sua administração investiu em novas unidades prisionais e na melhoria ao atendimento ao preso.
-
Nosso sistema de saúde é muito bom para os presos – afirmou, para
complementar: – Nosso presídio feminino é um exemplo para todo o Brasil.(!!)
Roseana,
assim como o ministro da Justiça, fizeram questão de lembrar que outros
estados, como Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Alagoas e Rio
Grande do Sul também enfrentaram uma onda de violência comandada por
detentos e que o governo federal ajudou os outros governadores.
Segundo a
governadora, apesar das mortes, seu governo não cometeu nenhum ato
contra os direitos humanos.
A ONU, porém, pede uma investigação sobre o
assunto.
- Não cometemos nenhum crime de direitos humanos por parte do governo. Mas temos de ser mais atentos – admitiu.
Ao
ser perguntada sobre a intenção do procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, de pedir a intervenção no Estado por conta da violência,
Roseana afirmou que não acredita nessa hipótese e passou a enumerar uma
série de obras e ações que sua gestão tem feito.
- Eu não acredito
que ele vá pedir a intervenção porque estou cumprindo meu dever. O
Maranhão está indo muito bem. Talvez seja o único estado do Brasil que
vai ter todas as suas cidades interligadas por asfalto.
Ela se
irritou quando uma repórter perguntou ao ministro José Eduardo Cardozo
por que a presidente Dilma Rousseff e mesmo ele não haviam se
manifestado até o momento sobre os problemas no estado administrado pelo
clã Sarney.
José Eduardo disse que o governo se manifesta de
forma concreta e procura ajudar Estados administrados pela oposição e
por políticos que apoiam o governo. Mas Roseana, exaltada, disse que não
é certo falar em família.
- Não existe família. Eu sou a
governadora. Quem manda aqui não é a família, sou eu. Vocês querem
penalizar a família, mas eu, Roseana, sou a responsável pelo que
acontece no Maranhão – afirmou, sendo aplaudida por parte da mídia que
apoia seu governo.
As ações anunciadas pelo ministro da Justiça e
pela governadora, porém, não têm um impacto imediato – exceto pela
transferência de presos para penitenciárias federais, que José Eduardo
recusou-se a dizer quando se dará, quantos serão transferidos e para
onde.
Entre as ações está prevista a criação de um comitê de
gestão, comandado por Roseana, mutirão da Defensoria Pública para ver os
presos que podem deixar os cárceres, interligação do sistema de
inteligência, criação de um núcleo de atendimento prisional,
melhoramento no atendimento à saúde, capacitação de policiais e
implantação de alternativas penais e monitoramento eletrônico.
Apesar da intervenção da ONU o Governo do Maranhão continua gastando mais com comida do que com segurança:
BRASÍLIA - Mesmo tendo
adiado a compra de gêneros alimentícios, que incluía 70 quilos de
lagosta fresca, para abastecer a despensa da governadora Roseana Sarney
(PMDB), o cerimonial da chefe do Executivo realizará na sexta-feira, 17,
uma licitação para contratar uma empresa para organizar eventos e
serviços de buffet para atos públicos em todo o Estado ao longo de 2014.
Com custo estimado em R$ 1,4 milhão, o pregão prevê pagar R$ 103,61 por
convidado em almoços e jantares e exige, em um dos cardápios, servir
canapé de caviar.
Os gastos com a despesa do cerimonial do governo maranhense
são superiores, por exemplo, ao que o Ministério da Justiça, através do
Fundo Penitenciário Nacional, investiu em três presídios federais no ano
passado: Catanduvas (PR), R$ 1,2 milhão; Mossoró (RN), R$ 1,1 milhão;
Porto Velho (RO), R$ 1,3 milhão.
A gestão Roseana Sarney está sob pressão desde que foi
revelado o descalabro na Penitenciária de Pedrinhas, a cadeia da capital
maranhense onde foram registradas 60 mortes de presos no ano passado,
inclusive com decapitações de detentos. A Organização das Nações Unidas e
a Anistia Internacional cobram a atuação do Estado brasileiro diante
das atrocidades.
Na quarta-feira, 8, o governo estadual adiou, sem prazo para
relançar, duas licitações, que ocorreriam hoje e amanhã, para a compra
de alimentos para as residências oficiais. Estimadas em R$ 1,1 milhão,
as concorrências listavam, entre os itens para aquisição, 2,4 toneladas
de camarão, 80 quilos de lagosta fresca, 750 quilos de patinha de
caranguejo, 50 potes de foie gras e 300 unidades de panetone.
A lista de exigências para contratar os serviços do
cerimonial não difere das concorrências públicas que foram adiadas.
Cobram-se cinco tipos diferentes de buffet de almoços e jantares, dois
de coquetel, um de coffee break e um de brunch. Neles, têm de ser
servidos como bebidas uísque escocês 12 anos, vinho importado "de
primeira qualidade", tendo de ser francês, italiano, chileno, espanhol
ou português, e champagne também de primeira qualidade. Os copos e
taças, todos, precisam ser de cristal.
No cardápio de almoços e jantares, constam como entradas
canapés de caviar, salmão ou presunto, patinhas de caranguejo e, como
pratos principais, bacalhau com natas, pato com laranja, cabrito ao
vinho, risoto de camarão, lagosta e caranguejo. Nos eventos
classificados de "alta importância", a empresa terá de servir Roseana e
os convidados com réchauds e talheres de prata.
A governadora e os
demais convidados vão se sentar em cadeiras de madeira estilo Tiffany,
Dior ou similares e as mesas precisam ser forradas com toalhas novas de
linho e de fibras sintéticas.
Os eventos de visita aos municípios terão de contar com ampla
estrutura de organização, semelhante à de campanhas eleitorais. Somente
com os almoços e jantares, os 6 mil convidados devem consumir R$ 622
mil. O edital prevê ainda gastos de R$ 43 mil com mestre de cerimônias,
R$ 21,5 mil com recepcionista bilíngue, R$ 51 mil com cantores e outros
R$ 46 mil com músicos.
Na justificativa para a licitação, a Casa Civil do governo
maranhense, responsável pela concorrência, disse que cabe a ela assistir
"direta e imediatamente" a governadora no desempenho das suas funções.
"Em sua estrutura administrativa, a Casa Civil conta com o Cerimonial do
Governo que dentre suas atribuições está a de organizar e agendar os
eventos públicos e políticos além das cerimônias em que participará a
governadora e o vice-governador, tanto na capital quanto no interior do
Estado", afirmou.
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