terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Inventário florestal e formação de jovens será legado da bacia do Rio Doce

Por Redação Envolverde –


Inventário florestal e formação de jovens será legado da bacia do Rio Doce

 
O caminho para um futuro mais sustentável, com o engajamento dos jovens em toda a bacia do Rio Doce, vai muito além das reparações obrigatórias para a Fundação Renova 

O impacto do desastre ocorrido em Mariana em novembro de 2015 continua presente na vida das pessoas afetadas direta ou indiretamente nos 39 municípios ao longo do Rio Doce e seus afluentes.  Mas também é verdade que outra história começa a ser construída. Uma história que não quer apagar o passado, mas edificar um futuro mais sustentável para a região.

Por meio de diversos projetos a Renova realiza ações que permanecerão como um legado quando a fundação concluir suas ações de reparação socioambiental. A ideia é que, quando isso ocorrer, haverá muitas pessoas e organizações capacitadas a dar continuidade a projetos e planos que sejam, ao mesmo tempo, economicamente viáveis e estruturantes para o desenvolvimento da região.


Sementes da Vida


Um projeto que possui grande alcance é a Rede Sementes e Mudas, que começa seus trabalhos para atender as áreas degradadas na bacia do Rio Doce nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Neste início de programa, o objetivo é desenvolver mudas e sementes de espécies nativas da Mata Atlântica para a recuperação de 5 mil nascentes e 40 mil hectares de áreas que não foram diretamente atingidas pelo rejeito da barragem de Fundão. Mas a ideia é ir além, criando uma grande cadeia produtiva para a restauração ambiental de longo prazo promovendo, dessa maneira, oportunidades de geração de emprego e renda permanentes.



Rede de Sementes e Mudas lançada no fim de 2019 para recuperação florestal. 
crédito: Leonardo Morais/Fundação Renova
A Rede de Sementes engloba coletores de sementes e produtores de mudas e, além de fornecer para a Renova, também poderá trabalhar livremente com outros interessados. Entre os principais objetivos da iniciativa está o desenvolvimento de um mercado sustentável de valorização das espécies nativas, que sirva de exemplo para ser replicado em outras partes do país.


Entre as parcerias já firmadas está a com o Assentamento Liberdade, no município de Periquito (MG). Lá vivem 33 famílias assentadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e outras seis, que aguardam a conclusão de seus processos. “Com essa parceria, o desejo do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), que atua na área, é o de produzir e ao mesmo tempo proteger a natureza. Produzir água e comida de forma sustentável”, explica Agnaldo Batista, coordenador do setor de produção do MST em Minas e, completa: “A bacia do Rio Doce sofreu 200 anos de degradação ambiental, que só se agravou com o rompimento da barragem”.


Nos viveiros do Assentamento Liberdade são produzidas 11 espécies nativas da Mata Atlântica. “Elas são divididas em duas funções ecossistêmicas: as de recobrimento, para crescer rápido em solos pobres e formar copas para combater o capim, que é uma espécie exótica e invasora, e as espécies de diversidade, que vão durar mais tempo, chegando a 100, 200 ou mais anos e garantindo a perpetuação da floresta”, conta, com otimismo, Leandro Abrahão, engenheiro florestal e analista socioambiental da Fundação Renova. Segundo ele, o trabalho acaba sendo facilitado graças à organização das famílias e a boa capacidade de produção. “Temos um potencial grande. Atualmente possuímos em torno de 700 mil mudas nos seis viveiros espalhados pelo estado”, informa Leandro.



No Viveiro Periquito são produzidas plantas para afastar as espécies invasoras
 e árvores nobres, que viverão por décadas. – crédito: Guilherme Dutra
O Assentamento Liberdade busca entidades e empresas que possuem passivo ambiental ou iniciativas de recuperação e que possam se interessar em firmar convênio. Exemplo importante do trabalho do grupo é o convênio estabelecido com a Companhia Energética de Minas Gerais, a Cemig, que servirá para reduzir o passivo ambiental acumulado em várias obras da estatal mineira que causaram desmatamento. Serão reflorestadas áreas em diferentes regiões do estado, somando 116 hectares. Parcerias também estão sendo firmadas para a criação e o desenvolvimento de outros viveiros.


Patrimônio florestal mapeado
Talvez um dos mais importantes legados a ser deixado pela Fundação Renova será o Inventário Florestal. É um estudo inédito que está sendo realizado sobre as condições da vegetação e do solo em 86.715 km² da bacia do Rio Doce. Para o projeto, serão coletados dados dos indivíduos vegetais, como: altura, diâmetro à altura do peito, espécies, entre outros.



QRCode que é instalado nas árvores catalogadas para o Inventário Florestal. crédito: Arquivo Fundação Renova
Este será o mais completo Inventário Florestal já realizado no Brasil e deve ser concluído até o final do próximo ano (2020).  A complexa tarefa está sendo levada à frente com a fundamental colaboração dos produtores rurais. As conclusões do estudo servirão como base para as futuras ações de recuperação ambiental na região.

“O inventário é muito importante para saber quais espécies ocorrem naturalmente e quais se adaptam melhor em cada tipo de ambiente, como topos de morro, áreas de encosta ou em áreas suscetíveis a alagamentos sazonais, por exemplo. Dessa forma, teremos conhecimento dos ambientes de referência para que possamos comparar o avanço do processo da restauração florestal, tendo como base ambientes de regeneração natural em diferentes estágios de sucessão ecológica”, explica Leandro Abrahão, analista socioambiental da Fundação Renova.


Compartilhando conhecimento e experiências
Por fim, o projeto “O futuro do Rio Doce somos nós”, de Formação de Lideranças Jovens, faz parte da agenda da Renova para a bacia do Rio Doce. O projeto tem como principais objetivos o engajamento e o empoderamento das comunidades, por meio de seus jovens, na construção de soluções para melhoria da qualidade socioambiental em todos os territórios impactados pelo rompimento da barragem de Fundão. As ações são organizadas, em parceria com a Renova, pelo Instituto Elos, que é uma organização com experiência em ações em regiões de alta vulnerabilidade social para fortalecer a capacidade das pessoas de transformar a própria realidade.


Em 2018, o Instituto Elos selecionou 90 jovens de 22 municípios ao longo da bacia do Rio Doce para participar de processos de formação educacional e de liderança. Hoje, 23 projetos estão sendo implementados. Entre os projetos selecionados, estão ações para reflorestamento e revitalização de nascentes, intervenções culturais, desenvolvimento profissional de jovens em situação de vulnerabilidade social, empreendedorismo negro e oficinas artísticas.


Eles atuam com ações de articulação, mobilização, formação e engajamento que contribuem para alavancar o desenvolvimento sustentável da bacia do Rio Doce. No processo de implantação, os grupos foram assessorados pelas equipes da Fundação Renova e do Instituto Elos. Importante destacar que os projetos foram escolhidos pelos próprios jovens de acordo com suas realidades e necessidades em cada território e comunidade.

Entre os projetos contemplados estão vários que repensam os cuidados com a recuperação ambiental, como o Reviva Nascentes.



“Grupo de jovens de Tumiritinga (MG) criou o grupo Reviva Nascentes 
com o apoio do Instituto Elos”. Crédito: Lucas Santos
Voltado para os jovens moradores do Assentamento 1º de Junho, em Tumiritinga (MG), a ideia vai além do trabalho de recuperação das nascentes, promovendo mutirões comunitários para criação de Sistemas Agroflorestais – os SAFs –, que buscam fazer a integração da preservação da natureza com atividades de produção agrícola. Como explica Jamesson Alves Pereira, de 27 anos, um dos três coordenadores e idealizadores do Reviva Nascentes: “O projeto é muito bacana, pois mexe com a cabeça das pessoas, o modo como elas olham para a natureza, para a água e para as nascentes. É um processo muito transformador”.

Jamesson, assim como outros jovens que integram os vários projetos apoiados pela Renova e pelo Instituto Elos, acredita que o alcance e a dimensão das atividades têm a capacidade de serem maiores: “o ato de cercar uma nascente não vai ajudar só a comunidade, mas vai ajudar o mundo inteiro”, afirma o jovem. Ele ainda analisa outros benefícios obtidos com esse trabalho coletivo: “O projeto vai dando força para gente. Por meio dele as pessoas vão se unindo, conhecendo mais sobre o outro, acho isso bom demais”, diz ele, entusiasmado.


Tudo fica realmente mais fácil quando se entende que batalhar pelo bem comum é a melhor maneira de atingir uma vida plena e sustentável para si mesmo. (#Envolverde)

Retrospectiva de 2019 e perspectivas para 2020 na área ambiental

Retrospectiva de 2019 e perspectivas para 2020 na área ambiental

Confira os principais acontecimentos do ano e o que podemos esperar para 2020 em relação a questões ambientais



Por Rede de Especialistas em Conservação da Natureza

O ano de 2019 foi marcado por uma série de discussões voltadas à questão ambiental em todo o planeta, demonstrando a relação direta que a proteção da biodiversidade tem com o desenvolvimento econômico e com o bem-estar da população. No Brasil, a pauta ambiental foi conduzida principalmente por desastres que atingiram tanto o continente quanto os mares.

“O Brasil é um País muito truculento quanto ao uso de seus recursos naturais. Temos 500 anos de história de um extrativismo irresponsável e que segue muito forte. Exploramos como um bem grandioso  sermos o País das florestas, o País campeão em biodiversidade, mas não respeitamos isso na prática”, ressalta o diretor executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, Clóvis Borges.
Confira alguns dos fatos que marcaram 2019 e outros que devem direcionar os debates em 2020:

2019: Desmatamento da Amazônia

 

Em comparação com o ano anterior, a área desmatada na Amazônia registrou um aumento de 29,5%, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Em 2018, foram registrados cerca de 7,5 mil km² desmatados. A área aumentou para 9,7 mil km² em 2019.


desmatamento na Amazônia
Foto: Mayke Toscano | Gcom-MT
 

2019: Queimadas na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal

 

Segundo levantamento do Inpe, do dia 1º de janeiro ao dia 31 de agosto, cerca de 113 mil km² de áreas naturais foram queimadas na Amazônia, Cerrado e Pantanal. Em comparação com o ano anterior, essa área representa um aumento de 87%, o que equivale a duas vezes o estado da Paraíba. Pesquisadores identificaram que entre as principais causas para a ocorrência das queimadas estão o desmatamento, a preparação do solo para a agricultura e os incêndios acidentais.


queimada
Crédito: Erika Berenguer
 

2019: Brumadinho

 

Mais que um desastre ambiental, o rompimento de uma barragem da Vale, em Brumadinho (MG), foi uma tragédia humana que ocasionou 270 mortes – 13 vítimas seguem desaparecidas. Ao todo, 9,7 milhões de m³ de rejeitos vazaram do reservatório, atingindo uma área de 290 hectares ao longo de 9 quilômetros de distância até chegar ao Rio Paraopeba.


brumadinho

 

2019: Redução e extinção de áreas protegidas


Durante o ano, foi anunciada a extinção de algumas áreas de preservação brasileiras e a redução de mais de 60 unidades de conservação com estradas federais, ferrovias, portos e aeroportos dentro de seus limites. A justificativa dada foi eliminar “interferências” com estruturas existentes e dar “segurança jurídica” para os empreendimentos. Isso não se concretizou, mas o assunto deve continuar em pauta em 2020, já que a Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados aprovou recentemente um projeto que torna obrigatória a consulta pública e a realização de estudos técnicos para reduzir ou extinguir unidades de conservação. O projeto está em avaliação na Comissão de Constituição e Justiça.

 

2019: Recorde de concentração de gases do efeito estufa 


A Organização Mundial Meteorológica (OMM) divulgou que os níveis de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso (os três principais gases captadores de calor) atingiram concentração recorde, acelerando ainda mais os efeitos das mudanças climáticas. Entre as consequências estão condições climáticas extremas, escassez hídrica e aumento do nível do mar.


poluição do ar
Crédito: iStock

 

2019: Derramamento de óleo no litoral brasileiro


Pelo menos 900 praias foram atingidas pelo derramamento de óleo que teve início em agosto. Praias do Nordeste, além do Espírito Santo e Rio de Janeiro foram atingidas pelo desastre ambiental que afetou a biodiversidade marinha, o turismo, a economia local, a saúde e o bem-estar da população.


derramamento de óleo
Praias do Nordeste, Espírito Santo e do Rio de Janeiro foram atingidas
pelo derramamento de óleo em 2019. Créditos: Adema | Governo de Sergipe

 

Para 2020: Adaptação às mudanças Climáticas


“Em 2020, durante a COP 26, vamos fechar as regras do Acordo de Paris e apresentar de fato as ambições para conter o avanço das mudanças climáticas. Será um ano para os países darem o exemplo e os cientistas clamarem por metas mais ambiciosas. As negociações climáticas serão intensas durante todo o ano e devem ganhar grande espaço no noticiário, nas negociações bilaterais entre países, nas mobilizações sociais, nos eventos científicos e nos fóruns empresariais”, destaca o gerente de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, André Ferretti.

 

Para 2020: Mobilização dos jovens


“O fenômeno Greta Thunberg é muito interessante e afeta de uma forma bastante sensível alguns movimentos de jovens aqui no Brasil. Isso mostra uma sensibilidade e uma necessidade de protagonismo dos jovens, que reconhecem nos adultos uma incapacidade de tomada de decisão mais consistente com os desafios existentes, além de identificarem uma falta de propósitos mais sérios dos gestores atuais”, afirma Clóvis Borges.


Greta Thunberg
Foto: Anders Hellberg

 

Para 2020: Aumento das queimadas na Amazônia



“Em 2020, veremos novamente a questão ligada ao desmatamento e às queimadas. No ano que vem, próximo ao meio do ano, tudo indica que vamos ter um novo número de desmatamento na Amazônia, que tende a ser maior do que o de 2019. Como o fogo é utilizado para limpar o terreno depois de desmatar, há uma tendência também no aumento das queimadas”, relata André Ferretti, que também é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.

 

Para 2020: Chuvas intensas e adaptação urbana


“Temos de lembrar que todos os anos nós enfrentamos problemas com as chuvas de verão, em diferentes regiões do País. Registramos altas temperaturas e depois tempestades. Conforme os anos vão passando, a intensidade dessas chuvas aumentam e elas começam a atingir novos lugares. Precisamos exigir dos municípios planos de adaptação para diminuir essa impermeabilização das cidades com Soluções baseadas na Natureza, como o investimento na proteção e recuperação de áreas verdes, possibilitando o escoamento da água. Ao mesmo tempo, temos de reduzir as ilhas de calor nas grandes metrópoles, que atraem essas grandes tempestades”, reflete Ferretti.


raio e chuva
Créditos: iStock

Para 2020: De olho nas eleições municipais


Diante da necessidade de adaptação das cidades para minimizar os impactos de eventos climáticos extremos, Ferretti alerta que os eleitores devem ficar atentos aos planos de governo dos candidatos ao executivo municipal. É importante que os futuros prefeitos tenham em mente a necessidade de os centros urbanos serem resilientes a tempestades, períodos de estiagem, vendavais, calor e frio intensos. “Enquanto a crise climática é uma preocupação global, a adaptação e a resiliência aos eventos climáticos extremos devem ser uma preocupação local. Os futuros prefeitos devem estar atentos a isso”, diz Ferretti.

 

Para 2020: Década dos Oceanos


“Em 2020 estaremos às vésperas da Década do Oceano, definida pela ONU para o período de 2021 a 2030. As discussões sobre o tema tendem a aumentar, assim como a identificação de problemas e o desenvolvimento de soluções. É o momento do País intensificar o investimento na conservação e restauração da biodiversidade marinha, pensando em aspectos ambientais, econômicos, sociais e no bem-estar da população”, conclui Ferretti.


oceano
Créditos: iStock

Guarás são vistos em Floripa dois séculos após o último registro

Guarás são vistos em Floripa dois séculos após o último registro

O último registro oficial da espécie na região foi em 1763.
Em novembro, quem teve a oportunidade de visitar o Parque Natural Municipal do Manguezal do Itacorubi, na região central de Florianópolis, pôde observar a presença de uma ave diferente do habitual da cidade. Isso porque um bando com cerca de mil Guarás voltou a habitar os manguezais da Ilha. O último registro oficial da espécie na região foi em 1763, publicado no livro Aves de Santa Catarina.

A novidade reforça a importância para a proteção e preservação da biodiversidade nas Unidades de Conservação do Município, principalmente em áreas de mangues, pois estas aves costumam se alimentar de caranguejos presentes nos manguezais. A FLORAM (Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis), que gere a Unidade, ressalta que estas áreas servem de proteção para os bairros da região costeira, pois amenizam a força da maré em eventos climáticos extremos, evitando enchentes.

Fabrício Basílio Almeida, pesquisador do Observatório de Áreas Protegidas e do Laboratório de Gestão Costeira Integrada da UFSC, colaborou com as informações sobre o animal. Para ele, uma hipótese plausível é que as aves tenham vindo da região norte do Estado: “Nestes locais existem grandes bandos e um deles pode ter vindo para cá. Foi uma surpresa para nós este retorno e estamos muito felizes. É propício que ocorra a procriação e estamos torcendo por isso”.

Aviary of the Oceanogràfic in Valencia. | Foto: Rafa Esteve
Os Guarás vivem em grandes colônias e costumam se alimentar no período de maré baixa e em manguezais. Em seguida, realizam revoadas em grandes grupos no fim da tarde para dormirem em meio a vegetação. Infelizmente, sua plumagem chamativa e colorida chamava a atenção de caçadores, que utilizavam suas penas para exportações e adereços festivos.

guarás
Bando de guarás em Floripa. | Foto: Fabrício Basílio Almeida

Regiões naturais preservadas geram turismo sustentável e desenvolvimento econômico

Preservar grandes áreas naturais é uma oportunidade única para impulsionar a economia regional. Além disso, os patrimônios cultural e histórico dessas regiões também são ativos importantes para fomentar o turismo e despertar o interesse em proteger áreas naturais. É isso que tem sido provado em duas iniciativas em andamento em dois biomas brasileiros – Mata Atlântica e Pantanal.

A Grande Reserva Mata Atlântica e o Alto Pantanal têm como base o conceito criado pelo biólogo espanhol Ignácio Jiménez-Pérez, apresentada no livro Produção de Natureza: Parques, Rewilding e Desenvolvimento Local. A proposta defende que a produção da natureza seja a base para o desenvolvimento econômico e social de áreas que preservam importantes patrimônios naturais.

Dessa forma, a natureza passa a oferecer produtos e atrativos que podem ser aproveitados de forma sustentável pelo turismo. Nesse sentido, a gestão adequada de áreas naturais protegidas com a finalidade de uso público – como parques nacionais, estaduais e municipais – pode trazer oportunidades permanentes de renda, principalmente às comunidades locais, a partir do investimento na proteção da área e em infraestrutura adequada para receber os visitantes.


Grande Reserva Mata Atlântica é formada por dois milhões de hectares
localizados nos Estados do Paraná, São Paulo e Santa Catarina.
Créditos: Fundação Grupo Boticário
A força da biodiversidade
O Brasil abriga a maior biodiversidade mundial, cerca de 20% das espécies do planeta. Dessas, a Mata Atlântica – bioma cujo território foi reduzido a 7% da sua cobertura original, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente – concentra 35% da biodiversidade vegetal nacional, além de cerca de 850 espécies de aves, 370 de anfíbios, 200 de répteis, 270 de mamíferos e 350 de peixes.
A área da Grande Reserva abriga o maior remanescente de Mata Atlântica, formada por 2 milhões de hectares localizados nos estados do Paraná, São Paulo e Santa Catarina e conectados por um mosaico de áreas naturais protegidas públicas estaduais e federais e Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN).

A região conta com espécies endêmicas, como o mico-leão-da-cara-preta e o papagaio-de-cara-roxa, e animais ‘topo de cadeia’, como a onça-pintada, que indicam a qualidade ecológica do local. O objetivo da iniciativa é tornar a região um destino turístico de natureza como mecanismo para o desenvolvimento regional, envolvendo uma grande rede de atores do empresariado local, poder público, academia, gestores de unidades de conservação, ONGs e pessoas sensibilizadas,

“O patrimônio natural que temos é um importante ativo para o desenvolvimento econômico e social. É preciso fortalecer a imagem da Mata Atlântica como destino turístico e estimular a visitação para que todos compreendam a importância da conservação e que a comunidade local aprimore cada vez mais os serviços oferecidos”, afirma Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, que também está à frente da iniciativa.


Localizado no bioma mais bem preservado do país, Alto Pantanal foi criado para
pensar em oportunidades de negócios e melhorias para a cadeia do turismo regional.
Créditos: Lalo de Almeida | Folhapress

Egípcios plantam floresta no deserto usando efluentes de esgoto

Egípcios plantam floresta no deserto usando efluentes de esgoto

O trabalho teve início na década de 90, com o intuito de promover a ecologização de 36 pontos diferentes no deserto. A floresta Serapium é um dos frutos deste trabalho.


Plantar árvore no deserto já soa estranho, usando efluente de esgoto fica ainda mais confuso. Mas, essa é a estratégia usada por um programa de pesquisa no Egito. O trabalho teve início na década de 90, com o intuito de promover a ecologização de 36 pontos diferentes no deserto. A floresta Serapium é um dos frutos deste trabalho.

O processo de florestamento está localizado em uma bacia de drenagem para efluentes de esgoto a duas horas de Cairo. O local recebe o esgoto de mais de 500 mil habitantes, tornando-o ideal para abastecer todo o plantio que cresce em suas margens.
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Foto: Reprodução
Os pesquisadores criaram um modelo de floresta que mescla espécies nativas e exóticas de grande valor, como o eucalipto e o mogno. O solo é coberto por folhas e possui tubos de irrigação que levam água e nutrientes às árvores. O abastecimento é feito duas vezes ao dia e cada árvore recebe, em média cinco litros de água.
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
Como este é um recurso escasso no deserto nada de água potável é usado no processo. Todo o sistema é abastecido com os efluentes de esgoto, que passam por duas fases de tratamento antes de serem liberados na plantação. Na primeira etapa são retirados os resíduos sólidos e na segunda são incluídos micróbios e oxigênio, para decompor os materiais orgânicos.

O que chega às árvores é um líquido com alta concentração de fosfato e composto de azoto, que funcionam como excelentes fertilizantes naturais. Por conta disso, o processo deixa o crescimento das árvores muito mais rápido do que o tradicional, mesmo estando em condições climáticas tão adversas. Um eucalipto, por exemplo, leva 15 anos para crescer no Egito e alcançar o mesmo tamanho que na Alemanha levaria, em média, 60 anos.
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
Apesar de ser um processo com alto teor de nutrientes para o solo, ele não é adequado para o cultivo de alimentos. Neste caso, os efluentes teriam que passar por uma terceira fase de tratamento antes de seu usado nas hortas. Mas, esta é uma opção para tornar o deserto uma área produtiva, elevando a economia local, ao mesmo tempo em que colabora para o controle da desertificação. Já que, segundo a Organização para a Alimentação e Agricultura da ONU, a FAO, considera que os desertos se espalham a um ritmo de 23 hectares por minutos.

Para conhecer mais sobre este processo, assista ao vídeo abaixo, produzido pela agência alemã
Deutsche Welle:


https://youtu.be/EOSFKGay5Hg


Redação CicloVivo

Vivemos em um planeta finito, com recursos igualmente finitos, logo o desenvolvimento baseado na expansão infinita da economia não funcionará por muito tempo

Racismo ambiental. A emergência climática pode ser enfrentada por todos, ricos e pobres. Ou todos enfrentaremos um desastre em escala bíblica. Entrevista especial com Henrique Cortez

Por Patricia Fachin, IHU
O fracasso da COP25 realizada em Madri no mês de dezembro não é uma novidade, apesar do crescimento de manifestações globais e da Greve Global pelo Clima, realizada em vários países em setembro deste ano. “Com exceção do Acordo de Paris, as COPs são marcadas pelos fracassos. Ao longo do tempo, a sociedade civil vem aumentando sua compreensão e engajamento pelas mudanças necessárias diante da emergência climática, mas os países e seus negociadores caminham na direção contrária”, diz o jornalista Henrique Cortez à IHU On-Line.

Na avaliação dele, a falta de avanço nas Conferências Climáticas indica que “descarbonizar a economia é um desafio que as lideranças políticas e econômicas dos países não querem enfrentar, por diversas razões”. Entre elas, porque o comprometimento com a redução das emissões de gás carbônico “abalaria o atual modelo e sua estrutura de poder e, em segundo, porque é algo inédito, que ninguém sabe como realmente seria”, afirma. Segundo ele, o negacionismo climático que predomina em alguns setores da sociedade e atores políticos “é um dos aspectos de um evidente movimento anticiência e anti-humanista”, que implica em “retrocessos civilizatórios”.

Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, Cortez também comenta a agenda ambiental do primeiro ano do governo Bolsonaro e a proposta de elaborar uma Constituição da Terra, que tem sido discutida na Itália. “A ideia de um constitucionalismo universal é a mais correta, porque vivemos em uma casa comum e compartilhamos o mesmo futuro. É uma proposta lúcida e avançada, mas ainda longe de uma compreensão global”, conclui.
Henrique CortezHenrique Cortez (Foto: Arquivo pessoal)
Henrique Cortez é jornalista especializado em meio ambiente, consultor em comunicação ambiental e editor do sítio EcoDebate, um dos parceiros estratégicos do Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Que avaliação faz do ano de 2019 em termos ambientais?
Henrique Cortez – 2019 foi um ano dos mais trágicos em termos socioambientais nas últimas décadas.

IHU On-Line – Em 2019 assistimos ao desastre em Brumadinho, houve recordes de queimadas na Amazônia e vazamento de óleo no litoral brasileiro. Como o senhor interpreta esses desastres ambientais?
Henrique Cortez – As três tragédias a que se refere não estão diretamente associadas, mas têm em comum que nascem da lógica do desenvolvimentismo predatório e que deixarão sequelas por muito tempo. São três desastres amplamente conhecidos, então, não é necessário descrevê-los. Prefiro discutir a lógica do modelo de desenvolvimento que orienta e justifica terríveis danos socioambientais. O desenvolvimentismo a qualquer custo se esforça pelo maior lucro, mesmo com o maior dano possível. É um modelo predatório que favorece a poucos e prejudica a todos. É, na realidade, uma ganância estúpida, porque vivemos em um planeta finito, com recursos igualmente finitos, logo o desenvolvimento baseado na expansão infinita da economia não funcionará por muito tempo. Pena que reconhecer o óbvio nem sempre seja simples.

IHU On-Line – A agenda ambiental do governo Bolsonaro foi bastante criticada neste primeiro ano. Que balanço geral faz do modo como o governo conduziu a pauta ambiental e quais foram os erros e acertos na condução da política ambiental?
Henrique Cortez – Prefiro defini-la como agenda antiambiental do governo Bolsonaro. Este foi um ano marcado por retrocessos na legislação, na conservação e na agenda socioambiental. Bolsonaro, desde sempre, expressou seu desprezo pelas questões ambientais, não apenas pela sua notória ignorância no tema, mas porque possui uma visão de mundo da primeira metade do século XX.

É estranho, mas a atual versão tosca e bruta do desenvolvimentismo usa argumentos semelhantes aos que os capitães da indústria, mineradores, banqueiros e políticos populistas usavam na década de 30 do século passado. E já sabemos o que veio em seguida.
Mas é hora de parar com a desculpa esfarrapada de que o desenvolvimentismo a qualquer custo gera impostos, emprego e renda. O desenvolvimento predatório privatiza o lucro e socializa o prejuízo. Ou para quem precisa de desenho — poucos ganham e muitos perdem.

IHU On-Line – No Brasil e em alguns outros países têm havido um movimento político de contestação das mudanças climáticas e também de outras pautas ambientais no sentido de negá-las. Como o senhor compreende esse fenômeno e quais são os riscos ambientais, sociais e políticos desse tipo de postura?
Henrique Cortez – O negacionismo climático é um dos aspectos de um evidente movimento anticiência e anti-humanista, empenhado em diversos retrocessos civilizatórios, em alguns temas até antes do pré-iluminismo.
Negacionismo climático, terraplanismo, movimento antivacinacriacionismofundamentalismo religiososupremacismomessianismo político etc., que se acreditava superados, retornam com vigor e violência, em defesa de uma visão de mundo binária, maniqueísta, que, acima de tudo, é inimiga da diversidade biológica, etnocultural, ideológica, religiosa etc. Retrocessos civilizatórios são assustadores. Não importa se os retrocessos são justificados por razões políticas, ideológicas ou religiosas, porque eles nos fazem menos humanos do que poderíamos ser.

IHU On-Line – Muitos ambientalistas avaliam que a COP25 foi um fracasso. Compartilha desse diagnóstico? Se sim, a que atribui o resultado, num ano em que se intensificaram as manifestações sobre as mudanças climáticas?
Henrique Cortez – Com exceção do Acordo de Paris, as COPs são marcadas pelos fracassos. Ao longo do tempo, a sociedade civil vem aumentando sua compreensão e engajamento pelas mudanças necessárias diante da emergência climática, mas os países e seus negociadores caminham na direção contrária.
Em geral, os países são a favor de tudo, desde que o tudo se refira aos outros. Descarbonizar a economia significa uma imensa modificação no modelo econômico, ou seja, algo que nenhum líder político arriscará. Nada é mais importante para um político do que a sua própria sobrevivência política.

IHU On-Line – Neste ano, assistimos a algumas manifestações internacionais em prol do clima, denunciando os efeitos das mudanças climáticas e cobrando ações políticas dos governos. Figuras como o Papa Francisco e a ativista Greta têm sido tomados como referência na mobilização pela questão climática. Ao mesmo tempo, a Organização Mundial Meteorológica – OMM divulgou a informação de que os níveis de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso atingiram concentração recorde. Que efeito esse tipo de mobilização e de informação tem gerado? Qual é o impacto dessas figuras e dessas informações na luta pelo clima?
Henrique Cortez – Como disse, uma parcela da sociedade já compreendeu que caminhamos para o desastre e está se mobilizando, na tentativa de evitar o pior. Ainda é uma pequena parcela, mas luta para ser ouvida e ampliar a compreensão do que nos espera.
O Papa Francisco e Greta Thunberg são lideranças muito diferentes, mas compartilham a visão de futuro e a crítica de que estamos no caminho errado. Eles nos lembram de que a atitude ecocida também é suicida. E, exatamente por isto, enfrentam resistências e críticas desqualificadoras.
Espero que as manifestações aumentem e que mais e mais pessoas compreendam a dimensão da crise que se aproxima, permitindo, inclusive, que surjam novas lideranças políticas, realmente comprometidas com as mudanças necessárias, por mais difíceis que sejam. Não é possível discutir alternativas de futuro com lideranças políticas e econômicas presas ao passado.

IHU On-Line – Desde o Protocolo de Quioto, há uma dificuldade de os países chegarem a alternativas para enfrentar a crise climática. Por quê? Quais são as dificuldades de tratar essa questão?
Henrique Cortez – Descarbonizar a economia é um desafio que as lideranças políticas e econômicas dos países não querem enfrentar, por diversas razões. Em primeiro, porque abalaria o atual modelo e sua estrutura de poder e, em segundo, porque é algo inédito, que ninguém sabe como realmente seria.
Governos de países como EUARússiaAustráliaArábia Saudita, e agora o Brasil, são assumidamente negacionistas climáticos porque querem preservar a economia emissora de carbono. Descarbonizar a economia para estes governos é uma blasfêmia.
Apegar-se ao passado impede a compreensão do futuro e isto vale para governos e pessoas. No momento, poucos estão realmente comprometidos com um futuro minimamente aceitável. E não vejo que isto vá mudar na próxima década.

IHU On-Line – Qual a sua avaliação de movimentos como o Fridays for Future? Por que a Europa e os EUA aderiram às greves pelo clima com muito mais força que os países do Sul?
Henrique Cortez – Movimentos como o Fridays for Future são exemplos de uma sociedade civil cada vez mais consciente dos desafios e das necessidades de mudança, não apenas na questão climática, mas também por uma sociedade mais justa e igualitária. Os temas de fundo são variados, mas críticos ao modelo atual.
Não sei por que isto ainda é mais forte na Europa e nos EUA do que nos países do hemisfério Sul, mas acredito que seja pela grande disparidade nos problemas do cotidiano. Ainda estamos discutindo educação, saúde, saneamento, habitação, desigualdade, geração de emprego e renda, enquanto que vários desses temas já foram superados nos EUA e Europa.
Além da nossa histórica alienação, também estamos tentando melhorar a nossa vida hoje, sem conseguir como refletir no futuro. A sobrevivência do indivíduo ainda pesa mais do que a sobrevivência do coletivo.

IHU On-Line – A partir do resultado da COP25, quais são as expectativas em torno do anúncio das metas climáticas a serem anunciadas pelos países signatários do Acordo de Paris em 2020, na COP26 em Glasgow?
Henrique Cortez – Sinceramente, expectativa alguma. Ao contrário, com a crescente ascensão global do populismo, acho que os eventuais avanços serão milimétricos.
IHU On-Line – No atual cenário de crise migratória, crise econômica e tensões internas em vários países do mundo, qual a perspectiva de a pauta ambiental ganhar destaque no próximo ano?
Henrique Cortez – A sociedade aos poucos vai percebendo que a agenda socioambiental não é acessória e, por isto, deve estar no centro das discussões nacionais e internacionais. A distância entre a vontade da sociedade e as decisões de seus governos deve aumentar. Não sei se este distanciamento cada vez maior caminhará na direção de um rompimento, mas, cedo ou tarde, a sociedade se fará ouvir.
Não apenas no próximo ano, mas também na próxima década, não vejo mudanças significativas. As mudanças virão quando deixarem de ser consenso científico para tornarem-se consenso na sociedade, pouco importando se do hemisfério Sul ou Norte.

IHU On-Line – Em que medida a concepção de uma outra economia, como a que tenta inspirar o Papa Francisco, pode contribuir tanto para repensar a economia quanto a crise climática e social?
Henrique Cortez – Acho a reflexão proposta pelo Papa Francisco por uma ‘economia que dá vida e não mata’ importante e necessária, mas não acho que esteja sendo acolhida. Mesmo dentro da igreja e na maioria dos fiéis, as ideias do Papa Francisco ainda são relativizadas, quando não ignoradas.
A Encíclica Laudato Si’, por exemplo, é primorosa na defesa do cuidado da casa comum. Deveria ser pauta de discussão, mas é amplamente ignorada. Mudar é algo difícil para qualquer pessoa e, para sociedades e seus governos, é imensamente mais difícil. Mas acho importante que ele continue indicando novos caminhos. É o certo a fazer e ele parece comprometido com isto. “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!”.

IHU On-Line – Quais são as perspectivas na pauta ambiental para o próximo ano do governo Bolsonaro?
Henrique Cortez – Trágicas, não apenas no próximo ano, mas em todo o mandato. Transtorno delirante persistente, suposições conspiracionistas, achismo militante, desenvolvimentismo predatório e o racismo ambiental agora são orientadores de políticas públicas.
Na melhor das hipóteses, a agenda antissocioambiental deve evoluir ao longo do mandato. Na pior, deve se acelerar, na lógica de “Après nous le déluge” (Depois de nós, o dilúvio).

IHU On-Line – Qual deve ser o peso da agenda ambiental nas eleições de 2020?
Henrique Cortez – A agenda ambiental sempre foi ignorada em eleições municipais. As pessoas, em geral, pensam nos prefeitos como ‘síndicos’ municipais, essencialmente responsáveis pela zeladoria das cidades. Além disso, com tantos desafios na saúde, educação, habitação, transportes urbanos, parece que a questão ambiental é irrelevante. Não é, ao contrário, a ecologia urbana é central nesses temas, mas isto não é percebido pela população e menos ainda pelos políticos. Sintetizando, creio que a agenda ambiental não terá peso nas eleições de 2020.

IHU On-Line – Na Itália, alguns têm proposto uma Constituição da Terra como um instrumento para “salvar” o Planeta. Como vê essa possibilidade? Um constitucionalismo universal seria uma via alternativa para resolvermos os problemas de hoje?
Henrique Cortez – A ideia de um constitucionalismo universal é a mais correta, porque vivemos em uma casa comum e compartilhamos o mesmo futuro. É uma proposta lúcida e avançada, mas ainda longe de uma compreensão global.
A crescente postura soberanista e antiglobalista, compartilhada pelo governo Bolsonaro, caminha na direção contrária e ainda é a visão dominante. Uma visão equivocada, porque as crises socioambientais não reconhecem fronteiras ou bandeiras. É uma grave tolice egocêntrica, desconectada da realidade.

IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?
Henrique Cortez – Para muitos, um aquecimento de 2°C até o final do século está dentro dos limites do aceitável e, por isto, quaisquer ações só se justificam para um aquecimento potencial maior do que isto.
Mas isto supõe um evidente racismo ambiental, que acredita que os maiores impactos serão nos países mais pobres, concentrados no hemisfério Sul. De fato, os países pobres sofrerão mais e mais rápido, mas os países ricos também serão afetados. Os ricos poderão morrer por último, mas também morrerão.

Então, a emergência climática pode ser enfrentada por todos, ricos e pobres. Ou todos enfrentaremos um desastre em escala bíblica.

(EcoDebate, 23/12/2019) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Crescimento da floresta amazônica pós-desmate é bem mais lento do que se previa


Crescimento da floresta amazônica pós-desmate é bem mais lento do que se previa

Estudo revelou que, depois de 60 anos, partes da floresta que se renovaram após o desmatamento retinham apenas 40% do carbono em relação a florestas intocadas pelo homem

Floresta intacta no Acre: absorção de carbono substancialmente maior do que a floresta que cresce após um corte. Crédito: Gleilson Miranda/Governo do Acre/Wikimedia
O crescimento das árvores da floresta amazônica após o desmatamento tem acontecido muito mais lentamente do que se pensava, revela um novo estudo de pesquisadores brasileiros e britânicos publicado na revista “Ecology”. As descobertas podem ter impactos significativos nas previsões de mudanças climáticas, já que a capacidade das florestas secundárias de absorver carbono da atmosfera pode ter sido superestimada.
O estudo, que monitorou o crescimento da floresta ao longo de duas décadas, mostra que as mudanças climáticas e a perda maior de florestas podem estar prejudicando o crescimento das árvores na Amazônia.
Ao retirarem grandes quantidades de carbono da atmosfera, as florestas que cresceram após o desmatamento (comumente denominadas florestas secundárias) foram consideradas uma ferramenta importante no combate às mudanças climáticas causadas pelo homem. No entanto, o estudo mostra que, mesmo após 60 anos de crescimento renovado, as florestas secundárias estudadas retinham apenas 40% do carbono na comparação com florestas intocadas por seres humanos.
Se as tendências atuais continuarem, levará mais de um século para que as florestas se recuperem completamente. Isso significa que sua capacidade de ajudar a combater as mudanças climáticas pode ter sido superestimada.
Secas mais frequentes
O estudo também mostra que as florestas secundárias retiram menos carbono da atmosfera durante as secas. As mudanças climáticas, a propósito, estão aumentando o número de anos de seca na Amazônia.
O primeiro autor do trabalho, Fernando Elias, da Universidade Federal do Pará, explicou: “A região que estudamos na Amazônia registrou um aumento na temperatura de 0,1 °C por década, e o crescimento das árvores foi menor durante os períodos de seca. Com previsões de mais secas no futuro, devemos ser cautelosos com a capacidade das florestas secundárias de mitigar as mudanças climáticas. Nossos resultados sublinham a necessidade de acordos internacionais que minimizem os impactos das mudanças climáticas.”
Além de ajudarem a combater as mudanças climáticas, as florestas secundárias também podem fornecer um habitat importante para as espécies ameaçadas. No entanto, os pesquisadores descobriram que os níveis de biodiversidade nas florestas secundárias eram apenas 56% daqueles observados nas florestas locais não perturbadas, sem aumento na diversidade de espécies durante os 20 anos de monitoramento.
Muitos países fizeram grandes promessas de reflorestamento nos últimos anos, e o Brasil se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares de floresta sob o Acordo de Paris. Tomados em conjunto, esses resultados sugerem que essas grandes promessas de restauração florestal precisam ser acompanhadas por ações mais firmes contra o desmatamento de florestas primárias e uma consideração cuidadosa sobre onde e como reflorestar.
Apoio e investimento
A pesquisa foi realizada em Bragança, no Pará, a mais antiga região de fronteira de desmatamento da Amazônia que perdeu quase toda a sua cobertura florestal original.
“Nosso estudo mostra que, em áreas fortemente desmatadas, a recuperação florestal precisa de apoio e investimento adicionais para superar a falta de fontes de sementes e de dispersão de sementes”, afirmou a bióloga Joice Ferreira, pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “Isso é diferente de outros áreas que estudamos em que o desmatamento histórico é muito menor e as florestas secundárias se recuperam muito mais rapidamente sem nenhuma intervenção humana.”
Jos Barlow, professor da Universidade de Lancaster (Reino Unido), destacou a necessidade de mais estudos de longo prazo. “As florestas secundárias estão cada vez mais difundidas na Amazônia, e seu potencial de mitigação das mudanças climáticas as torna de importância global”, observou ele. “São necessários mais estudos de longo prazo como o nosso para entender melhor a resiliência das florestas secundárias e direcionar a restauração às áreas que irão funcionar melhor no sentido de combater as mudanças climáticas e preservar a biodiversidade.”

 https://www.independent.co.uk/news/world/americas/amazon-rainforest-climate-change-deforestation-drought-study-a9257631.html

Agricultores participam de cursos sobre manejo ecológico de insetos em espécies florestais


Agricultores participam de cursos sobre manejo ecológico de insetos em espécies florestais

 insetos na agricultura

 

Dividido em 3 aulas, curso faz parte do projeto Fortalecimento da Cadeia Produtiva de Sementes e Mudas na Amazônia


Com o objetivo de compartilhar conhecimentos sobre o papel ecológico de insetos e o seu manejo em agroecossistemas, a Embrapa Amazônia Ocidental promoveu nos dias 9, 10 e 16 de dezembro três cursos abordando o Manejo Ecológicos de Insetos em Espécies Agroflorestais.

As capacitações, coordenadas pela pesquisadora Elisa Vieira Wandelli, são voltadas para técnicos, integrantes de etnias indígenas, agricultores, profissionais e estudantes das áreas agrícolas, biológicas e florestais interessados em manejo ecológico de insetos.

Os cursos são parte do projeto Fortalecimento da Cadeia Produtiva de Sementes e Mudas na Amazônia – Mais Sementes / Fundo Amazônia.

Três aulas complementares

Segundo Elisa Wandelli, os insetos são um grupo de invertebrado de extrema importância para os processos ecológicos de agroecossistemas e só se transformam em praga se os princípios da sustentabilidade agrícola forem desrespeitados. A importância ecológica dos insetos e distinção entre insetos amigos da agricultura e os prejudiciais foram tratados no primeiro curso “Manejo ecológico de insetos em espécies agroflorestais: papel dos insetos nos agroecossistemas”, realizado dia 9, no Auditório Caiuaé, da Embrapa Amazônia Ocidental.

O curso teve dinâmica de grupo, visita ao campo e ao laboratório de Entomologia, onde os participantes puderam trocar informações com os instrutores e conhecer mais a respeito do comportamento, dos benefícios e malefícios dos insetos em suas plantações.

No curso “Manejo ecológico de insetos em espécies agroflorestais: quem é quem e manejo?”, realizado no dia 10, foram discutidas as práticas agroecológicas de insetos desde o  manejo da paisagem até os bioinseticidas, visando apresentar alternativas ao uso de agrotóxicos e estimular a restauração florestal e a implantação de sistemas agroflorestais, além de fortalecer a cadeia de valores de sementes e mudas.

“Para manejar adequadamente os insetos nos agroecossistemas é necessário compreender suas diferentes funções benéficas ou prejudiciais e reconhecer sua morfologia e habitat”, explica Elisa Wandelli,.

No curso realizado no dia 16, “Manejo ecológico de insetos em espécies agroflorestais: Práticas de controle”, foi realizada a troca de experiências sobre as técnicas de produção de biopreparos para manejo de insetos.

Contexto

O projeto “Fortalecimento da cadeia produtiva de sementes e mudas na Amazônia” (+ Sementes)” faz parte do Projeto Integrado para a Produção e Manejo Sustentável do Bioma Amazônia (PIA), financiado pelo Fundo Amazônia e operacionalizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O PIA busca promover a produção e a disseminação de conhecimentos e tecnologias voltadas para a recuperação, conservação e uso sustentável da Amazônia, por meio de apoio a projetos e ações de pesquisa, desenvolvimento, transferência de tecnologia, intercâmbio de conhecimentos e comunicação rural.

Brasil é o país com maior potencial de recuperação de floresta tropical, diz estudo

Brasil é o país com maior potencial de recuperação de floresta tropical, diz estudo

Pesquisa internacional liderada por professor da USP mostra que 11% das áreas tropicais destruídas no mundo têm boas condições para serem restauradas

Mata Atlântica é o bioma que mais apresenta oportunidade para restauração no Brasil –
 Foto: Kel Bis via Wikimedia Commons / CC BY-SA 3.0


RIO — Um dos compromissos assinados pelo Brasil no Acordo de Paris, firmado em 2016, era recuperar até 2030 pelo menos 12 milhões de hectares das nossas florestas tropicais que já haviam sido destruídas, já que esse tipo de vegetação é fundamental, entre outras coisas, para reduzir o nível de carbono do ar. Mas onde? Quais áreas exatamente devem ser priorizadas?

Essa é apenas uma das muitas respostas que um estudo inédito publicado hoje na revista especializada "Science Advances" busca trazer.

Liderado pela americana Robin L. Chazdon, da Universidade de Connecticut, e pelo pesquisador Pedro Brancalion, da USP, o projeto foi financiado pela National Science Foundation, uma das maiores agências de fomento americanas, e tinha como objetivo elaborar um mapa global com as regiões mais atraentes para restauração das florestas tropicais degradadas, tanto sob o ponto de vista ambienal quanto econômico e social.

A conclusão é que 11% ou 100 milhões de hectares ao redor do mundo (uma área equivalente à Espanha e à Suíça juntas) possuem boas condições para o reflorestamento, com altas relações de custo-benefício em termos de redução de emissões de carbono, preservação da água e da biodiversidade das espécies, além de vantagens econômicas.

O Brasil lidera esse ranking de áreas, seguido de Indonésia, Madagascar, Índia e Colômbia.
— Nos últimos cinco anos, surgiram várias metas globais com propostas de recuperação de florestas para enfrentar os principais problemas ambientais atuais, mas muitas delas estão num nível muito superficial. O que queremos propor com esse estudo é como operacionalizar essas metas. É uma etapa importante para atrair países, empresas e governos para essa agenda de restauração — acredita Brancalion.

Encontro com governo e criação de um app

Durante quatro anos, Brancalion e outros 11 pesquisadores avaliaram 66 países que possuem florestas tropicais em seus territórios, cruzando imagens de satélite de alta resolução e informações de bancos de dados.


 O mapa mostra as regiões com oportunidades de restauração de florestas tropicais no Brasil. A escala de pontuação vai de 0 a 1. Quanto mais próximo do 1, maior é a oportunidade – Mapa: cedido pelo pesquisador


A partir daí, definiram quatro prioridades a serem buscadas pelos benefícios da restauração: a conservação da  biodiversidade (quanto maior o número de espécies potenciais, maior a importância); o potencial de estoque de biomassa de carbono; a adaptação às mudanças climáticas (quanto maior a velocidade da mudança de clima, maior a relevância); e a capacidade de garantir a segurança hídrica.
Paralelamente, avaliaram a viabilidade do reflorestamento, como, por exemplo, os ganhos dos agricultores em determinada área (quanto mais altos, menores as chances de restauração) e as chances de persistência da floresta no longo prazo.

Num momento posterior, atribuíram "notas" às terras tropicais, chegando num índice de "oportunidade".

Os pontos mais promissores estão entre os 10% com melhor avaliação, ou seja, são aqueles que trariam mais benefícios com o menor custo e risco.

— Para efeitos de comparação, na fronteira de desmatamento da Amazônia, as pressões sociais e econômicas são na direção da perda de floresta. É muito arriscado e difícil investir dinheiro nessa região. Ao passo que, no interior de São Paulo, por exemplo, onde já existe uma governança ambiental mais bem consolidada e pressões no sentido inverso, tenho uma chance maior de que uma floresta com investimentos em recuperação persista no tempo — explica o pesquisador.
Além de um encontro no Ministério do Meio Ambiente para apresentar o estudo, no próximo dia 17, o próximo passo é o lançamento de um aplicativo, o GoFor, em fase final de desenvolvimento, para sistematizar o uso da base de dados.

— A ideia é que uma ONG possa mandar para seus investidores um relatório com nosso mapa, mostrando que atua em área com as melhores oportunidades. Para poder dizer: "Em vez de investir na Indonésia, invista aqui". Governos de outros países também podem acessar os dados, as aplicações são múltiplas — detalha Brancalion — Está provado que a restauração das florestas é a estratégia mais barata, uma das mais eficientes e com múltiplos benefícios associados para reverter a deterioração do meio ambiente. Não há outro caminho. Em algum momento, a gente vai ter que fazer um melhor uso das áreas que já foram degradadas.

 https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-ambientais/mapas-identificam-melhores-regioes-para-restaurar-florestas-tropicais-brasil-lidera-hotspots-para-recuperacao/?fbclid=IwAR0r64Zr_t7IHah65LZaAOOboOw7eJDStdGPbCMJQor8vCb33HC5AkfEL0s

Lençóis Maranhenses, Jericoacoara e Parque do Iguaçu privatizados pelo governo Bolsonaro

Lençóis Maranhenses, Jericoacoara e Parque do Iguaçu privatizados pelo governo Bolsonaro

Lençóis Maranhenses
A maior parte das áreas ainda preservadas no Brasil estão em Terras Indígenas (TI) ou em parques nacionais. É a garantia de que, nessas terras pertencentes à União, o interesse público prevaleça sobre o privado.

Entretanto, o atual governo federal inverteu essa lógica dando ao capital privado a oportunidade de intervir em terras públicas onde funcionam os parques nacionais mais importantes do Brasil: Lençóis Maranhenses (Maranhão), Jericoacoara (Ceará) e Parque do Iguaçu (Paraná).

O Decreto de Privatização e o Programa Nacional de Desestatização

Esses três parques, que são os mais visitados do país, acabam de ser incluídos em um decreto de privatização de parques nacionais, publicado no Diário Oficial semana passada.
O Decreto nº 10.147, de 2 de dezembro de 2019, é breve e, portanto, não explicita como se dará a concessão.
O programa de privatização de parques nacionais está na lista de privatizações do Programa Nacional de Desestatização (PND), para fins de concessão da prestação de serviços públicos de apoio à visitação, com previsão do custeio de ações de apoio à conservação, à proteção e à gestão, algo similar ao que ocorreu com as empresas de telefonia e com as concessionárias que administram rodovias.
O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) criticou a privatização dos três parques nacionais justificando que a razão não é falta de recursos, já que são os mais visitados do Brasil. Ele alega que o decreto revela um “entreguismo puro” dos bens brasileiros à exploração da iniciativa privada.
Os deputados federais Camilo Capiberibe (PSB-AP) e Bira do Pindaré (PSB-MA) também criticaram a medida:
“A proposta do governo muito nos preocupa, pois pretende dar uma destinação econômica para as unidades de conservação do meio ambiente, atualmente controlados pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), sem se preocupar com os impactos ambientais e sociais da região”.

Riquezas naturais em risco

Os três parques nacionais abrigam uma grande biodiversidade. Nos Lençóis Maranhenses há diversos ecossistemas fragilizados, como a restinga e o manguezal. Já o Parque Nacional do Iguaçu, considerado Patrimônio Natural da Humanidade e uma das Novas Sete Maravilhas da Natureza, é uma das unidades de conservação com a maior biodiversidade do país. O parque de Jericoacoara tem uma praia tida como uma das 10 mais bonitas do mundo.
Particularmente no caso do Parque Nacional do Iguaçu, onde estão as Cataratas do Iguaçu, a visitação atualmente já é administrada por uma empresa privada, cuja atuação é subordinada ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão que tem o controle da gestão do parque, de acordo com o Correio Braziliense.

A mais-valia econômica de Ricardo Salles

Ainda segundo o jornal, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, confirmou que as concessões visam dar destinação econômica às unidades de conservação, razão pela qual a bandeira sobre a preocupação com o meio ambiente está levantada.
“Você pode fazer o discurso mais bonito do mundo sobre o meio ambiente, mas, se não dermos uma mais-valia econômica para as unidades de conservação, estaremos sempre a reboque do orçamento federal”, disse Salles, em maio deste ano.
O ministro também confirmou que o objetivo do governo é repassar o máximo de controle para as empresas privadas.
Mais uma concessão deve ainda vir no pacote: a do Parque Aparados da Serra, no Rio Grande do Sul, que será organizada como “oferta em bloco”, junto com as unidades de Serra Geral, São Francisco de Paula e Canela.
É preocupante escutar do ministro do Meio Ambiente expressões como “mais-valia econômica”, quando a pasta que representa deveria defender a preservação e a conservação de unidades ambientais.
Os parques abrangidos pelo decreto precisam ser geridos não visando ao lucro obtido pela quantidade de visitantes, mas sim considerando a qualidade da experiência que estes podem ter de forma que a preservação dos ecossistemas seja garantida.

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Doutora em Estudos de Linguagem, Mestra em Linguística e Especialista em Ensino de Língua Portuguesa, escreve para GreenMe desde 2015.

Camapu: a planta que ajuda na recuperação de Alzheimer e Parkinson

Camapu: a planta que ajuda na recuperação de Alzheimer e Parkinson

Camapu
Camapu, fisalis ou juá-de-capote é muito comum aqui no nosso país, em diversas regiões. Na verdade, são duas as espécies: o Camapu (Physalis pubescens) e o Juá de capote (Physalis angulata), com diferentes características que podem ser facilmente cultivadas aqui.


Mas, o interessante é que a ciência está estudando esta planta pois, ela ajuda na recuperação dos neurônios e, portanto, das doenças neuro-degenerativas como o Alzheimer, o Parkinson e diversas outras.

Pesquisadores do Pará descobriram que uma das substâncias que o camapu (Physalis pubescens) contém no talo da planta tem a potencialidade de estimular a produção de novos neurônios no hipocampo – o hipocampo é a área do nosso cérebro que está ligada à memória – e buscam desenvolver medicamentos fitoterápicos que possam ser aplicados aos seres humanos pois, por enquanto a pesquisa se limita a outros animais. Esta pesquisa também aponta a possibilidade de que estes medicamentos possam ser usados para os que sofrem de depressão grave, onde há perda neuronal.
physalis angulata
Foto – Physalis angulata
physalis pulbescens
Foto – Physalis pulbescens
“A notícia é muito boa, principalmente pelo fato de esta substância estimular o crescimento neuronal na área do hipocampo. A gente está falando da criação de novos neurônios, algo que algum tempo atrás não se falava”, diz Milton Nascimento dos Santos, do Grupo de Pesquisas Bioprospecção de Moléculas Ativas da Flora Amazônica da da Universidade Federal do Pará.

Essas propriedades neurogênicas do camapu foram testadas em laboratório e em ratos e agora iniciam-se os testes clínicos e de produção a larga escala, para subsidiar a indústria farmacêutica nacional.

Mas, pelo visto, essa substância do talo do camapu é muito complexa e há dificuldades na sua sintetização, mas a planta é de fácil reprodução, com ciclo bianual. “A substância pode ser uma maravilha, mas se só é produzida pela planta uma vez por ano, a produção de fitoterápicos ficaria inviável”, diz Silva.

PROPRIEDADES MEDICINAIS DO CAMAPU

O camapu tem outras propriedades medicinais reconhecidas – é anti-inflamatório e anti-protozoário (inclusive há dados de que seu uso pode ajudar a tratar aqueles que sofrem de Mal de Chagas).
A descoberta da substância que faz com que os neurônios se regenerem foi uma casualidade da pesquisa, que apontava seus estudos para estes outros aspectos curativos do camapu.

Há mais estudos sobre as propriedades medicinais da Physalis angulata, que é conhecida como purificadora do sangue, fortalecedora do sistema imunológico e redutora das taxas de colesterol, dentre vários outros usos.

Aqui há uma tabela, com referências bibliográficas, que aponta o uso detalhado dessa espécie de fisalis, onde se mencionam qualidades calmantes, depurativas, desobstruintes, diurética, antioxidante, antibacteriana, antitumoral e outras.

CAMAPU NO JARDIM

Mas, caso você queira ter um pé de camapu, ou de juá-de-capote, a recomendação é de que não jogue as sementes na sua horta. Essa planta é bastante agressiva em seu crescimento e vai ocupar todo o espaço, passando por cima das outras plantas, com certeza. Então, faça um canteiro só para a sua fisalis, essa é a dica. Você pode comprar as frutinhas no mercado e separar as sementes, deixá-las secar e semear em terra fértil.

Outra fisalis que se encontra nos mercados é uma conhecida como Golden Berry a Physalis peruviana, cujo crescimento é tão agressivo quanto das outras espécies.

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