sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Ao aliar ecoturismo e pesquisa científica, o Onçafari trabalha pela preservação do maior felino das Américas

 

Ao aliar ecoturismo e pesquisa científica, o Onçafari trabalha pela preservação do maior felino das Américas

Ao aliar ecoturismo e pesquisa científica, o Onçafari trabalha pela preservação do maior felino das Américas
Seja pela força, agilidade ou simplesmente, beleza e porte majestoso, a onça-pintada é considerada o “leão” do continente americano, em referência ao seu parente mais famoso, o rei das selvas africanas.
Terceiro maior felino do mundo e o maior das Américas, a espécie Panthera onca, também chamada de jaguar, originalmente era encontrada desde o sudoeste dos Estados Unidos até o norte da Argentina. Atualmente, ela está oficialmente extinta em território americano, mas ainda pode ser vista em alguns países da América do Sul, entre eles, o Brasil.

Neste último, não há números oficiais de sua população, mas estima-se que sejam aproximadamente 11 mil indivíduos, espalhados por fragmentos de Mata Atlântica, na região Sul e Sudeste, na Caatinga e Amazônia e no Pantanal.

Seu desaparecimento se deu, como para outras espécies da fauna mundial, devido ao desmatamento, à expansão agropecuária e também, a uma crença muito forte de que a onça-pintada valia mais morta do que viva. “A cultura antiga era matar porque a onça causava danos ao rebanho e ao lucro do fazendeiro”, diz o biólogo José Sabino, professor e pesquisador da Universidade Anhanguera-Uniderp, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

Todavia, há cerca de uma década esta visão começou a mudar. E entre os motivos está o trabalho realizado pela Associação Onçafari, desde 2011, um projeto que alia ecoturismo à pesquisa científica e conservação, no Refúgio Ecológico Caiman, uma área de quase 53 mil hectares no Pantanal.

O fascínio de seu criador pela vida selvagem é antigo. Depois de décadas como piloto de automobilismo no exterior, o paulista Mario Haberfeld tinha uma certeza: queria trabalhar com preservação. “Eu tinha 12 anos na primeira vez que fui para a África. Lembro de estar na caçamba de um caminhão com meu pai em Serengeti (o mais famoso parque nacional da Tanzânia)”, conta. “Quando parei de correr em 2018, passei dois anos viajando pelo mundo e aprendendo mais sobre o ecoturismo”.

Haberfeld cita experiências bem sucedidas como as realizadas na Uganda, onde hoje a atividade é a segunda maior receita econômica no país, e na minúscula Churchill, no Canadá – com menos de 1 mil habitantes -, que apesar de distante, atrai turistas ansiosos para poder ver um urso polar de perto.
De volta ao Brasil, o empreendedor se decidiu pelo Pantanal. “É o melhor lugar para ver bicho”, explica. “Além da Amazônia já ter alguns projetos de ecoturismo, é mais difícil a observação dentro da mata fechada”, explica.
Ao aliar ecoturismo e pesquisa científica, o Onçafari trabalha pela preservação do maior felino das Américas
Estimativas indicam que sejam cerca de 11 mil onças-pintadas no Brasil

Habituação das onças-pintadas

Patrimônio da Humanidade e Reserva da Biosfera, o Pantanal é a maior planície alagável de água doce do mundo. Uma vez por ano, o ciclo das águas provoca mudanças drásticas na paisagem. De savana seca e árida, entre maio e novembro, torna-se um enorme pântano nos meses seguintes. Jacarés, capivaras, ariranhas, onças e aves vêm e vão, seguindo o ritmo das águas.

Mas nem todos conseguem ser vistos facilmente pelo turistas. “Quando fizemos uma visita pelas pousadas pantaneiras, reparamos que nos livros em que os hóspedes deixavam mensagens, sempre elogiavam muito a estadia, mas relatavam que infelizmente não tinham visto uma onça”, revela Haberfeld.

É por esta razão que a onça-pintada é a grande estrela dos passeios do Onçafari. Entretanto, para que sua observação se tornasse mais frequente entre os turistas foi necessário “treiná-las”. O processo chamado de habituação, que vale frisar – não tem relação nenhuma com domesticação -, faz com que os animais se familiarizem com os veículos do safari e não os vejam como uma ameaça.
O método, aprendido com especialistas da África, faz com que, os bichos percebam a presença do carro, mas não se intimidem com ele.
Ao aliar ecoturismo e pesquisa científica, o Onçafari trabalha pela preservação do maior felino das Américas
O veículo fica distante e a onça não mais o percebe como uma ameaça

A fêmea Esperança foi a primeira onça a ser familiarizada com o veículo do Onçafari. É considerada a “mãe” do projeto e todos têm um enorme carinho por ela. Já teve diversos filhotes, que a seu lado, também se acostumaram com as visitas do safari.

Graças à habituação, os avistamos, que no passado eram de duas a três onças por ano, passaram para cerca de 900 em 2019.

“Hoje em dia as onças nem olham mais os veículos”, diz o criador do Onçafari.
Ao aliar ecoturismo e pesquisa científica, o Onçafari trabalha pela preservação do maior felino das Américas
Esperança, com um de seus filhotes

Monitoramento da espécie

Além do ecoturismo, o trabalho do Onçafari é dividido em outros cinco braços: Ciência, Educação, Reintrodução, Social e Florestas.

Na parte científica, os biólogos monitoram e estudam cerca de 30 onças-pintadas que vivem na região da Caiman (algumas já morreram). Todas foram batizadas. Assim como Esperança, a lista conta com nomes criativos como Flor, Fera, Gatuna, Gaia, Felino e Fantasma.

Os profissionais acompanham a movimentação de alguns indivíduos que recebem colar GPS e assim, podem estabelecer o padrão de deslocamento desses felinos.

“Entre os grandes felinos, a onça-pintada era a menos estudada. Relatos sobre a espécie eram baseados em animais de zoológicos ou cativeiro, mas aqui conseguimos conhecer a espécie de perto”, afirma Haberfeld.
Ao aliar ecoturismo e pesquisa científica, o Onçafari trabalha pela preservação do maior felino das Américas
Durante a captura, as onças são sedadas e passam por diversos exames


Coordenadora geral dos biólogos, Lilian Elaine Rampim explica que pelo menos duas vezes por ano acontece a captura de três onças. Sedadas, elas passam por um check up físico, que inclui, por exemplo, exames de sangue e de seus dentes, importantíssimos aliados na busca de alimentos.

Foi em razão dessas análises que a equipe do Onçafari já conseguiu publicar alguns artigos científicos sobre a Panthera onca. Um deles demonstrou que as onças-pintadas que vivem no Pantanal norte apresentam uma maior concentração de mercúrio na raiz do pelo, no bulbo, devido à maior atividade de mineração que aconteceu naquela área no passado.

“O mercúrio é um mineral cumulativo e as onças se alimentam de presas que moram na água, como jacarés e capivaras. Com isso, ela acaba sendo um indicativo que esse é um problema que também pode acometer os humanos, já que comemos peixe”, ressalta Lilian.

Em outro artigo, os pesquisadores relataram a relação entre onças-pintadas e queixadas. Apesar dos primeiros serem predadores dos segundos, percebeu-se que muitas vezes, as queixadas podem se juntar, em grupos, e conseguem repelir e amedrontar esses felinos.

Desde 2011, os biólogos do projeto já publicaram 17 artigos científicos e outros 20 estão em processo de finalização. Além disso, já foram lançados três livros e dois documentários, um deles, o da BBC, citado abaixo.
Ao aliar ecoturismo e pesquisa científica, o Onçafari trabalha pela preservação do maior felino das Américas
Mario Haberfeld, segurando uma antena com receptor de sinal VHF, que capta uma onda emitida pelo colar de monitoramento colocado nas onças

Sucesso na reintrodução da onça-pintada na vida selvagem

Uma das histórias mais marcantes dessa quase uma década de atuação do Onçafari envolve duas onças-pintadas que ficaram orfãs, em 2015. Naquele ano, por causa do alto volume das águas, uma fêmea levou seus dois filhotes para o alto de uma árvore, no quintal de uma casa, em meio a um povoado.

Uma equipe de resgate tentou tirar os animais do local, mas a onça adulta caiu no chão e morreu. Os filhotes, batizados mais tarde de Isa e Fera, foram encaminhados para o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

No ano seguinte, após passarem por um cuidadoso processo de adaptação à vida selvagem, feito pelo time do Onçafari, em conjunto com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), as fêmeas foram soltas novamente no Pantanal – as primeiras onças-pintadas no mundo a serem reintroduzidas com sucesso na natureza.

Hoje Isa é mãe de Aurora e Aracy e Fera também deu à luz a um casal de gêmeos, Olympia e o macho Ferinha.

“Eu encho meu peito de orgulho de falar sobre essa história. Já havia uma tentativa anterior à nossa de reintrodução da onça-pintada, mas que deu errado. Quando aventamos a possibilidade de tentar o mesmo, fomos muito criticados”, conta a coordenadora do Onçafari. “Mas observamos os erros da primeira tentativa para não repeti-los. Não tivemos contato nenhum com as onças para que elas não ficam apegadas a nós e elas nunca nem perceberam que éramos nós que colocávamos presas vivas no recinto para que elas aprendessem a caçar”.
O sorriso no rosto da bióloga Lilian revela a paixão pelo projeto

A história comovente dessas duas onças sobreviventes de um acidente e do trabalho inédito de reintrodução da espécie foi contado em um documentário da rede inglesa BBC, que você pode assistir mais abaixo.

“Elas não apenas se adaptaram super-bem e se estabeleceram no território, caçando e convivendo com outras onças, como se nunca tivessem saído da natureza, mas também estão procriando. E o mais legal é que no mês passado a gente já viu a filha da Fera copulando, ou seja, logo ela vai ser avó”, comemora a bióloga. “Cada vez que eu encontro elas em campo, meu coração se enche de alegria”.

Geração de renda e o surgir de uma nova mentalidade

A presença da onça-pintada em seu ambiente é muito importante porque ela é um predador de topo de cadeia. No caso do Pantanal, sem elas, haveria um crescimento exacerbado da população de outros animais, que são suas presas, como porcos-do-mato, capivaras, jacarés e veados. “Com a onça presente, não teremos desequilíbrio ambiental”, assegura Lilian.

Atualmente, após muito trabalho, que incluiu a conscientização da comunidade local, todos sabem que a onça-pintada não tem apenas uma importância para o meio ambiente, mas para o ecoturismo local e a consequente geração de renda que ele produz.

“O ecoturismo, desde que conduzido com boas práticas, como limites de visitantes, distanciamento dos animais, não oferta de alimento, entre outras atitudes, é uma excelente ferramenta para conservação da biodiversidade. A prática de observação de onça-pintada no Pantanal sempre foi um desejo, tendo em vista o caráter majestoso desse grande felino”, concorda José Sabino.
O sonho de qualquer turista no Pantanal: ver de perto uma onça-pintada

Devido à repercussão do Onçafari, houve um aumento surpreendente – e mais do que bem-vindo -, na ocupação das pousadas da região, sobretudo naquelas parceiras do projeto. Nesses últimos nove anos, o Refúgio Ecológico Caiman teve um crescimento de 270% em seu movimento. E a grande maioria dos hóspedes, aproximadamente 70% deles, são estrangeiros.

Muitas famílias que antes trabalhavam na lavoura ou na pecuária, agora atuam na área do turismo. Mulheres deixaram de ficar em casa e estão nas pousadas, nas mais diversas funções. E ao ver pai e mãe trazendo mais dinheiro para casa graças a um animal que é um dos símbolos do Pantanal, as novas gerações já crescem com uma visão diferente.

“Entre nossas ações está a visita a escolas para falar da onça e pelo menos uma vez por mês levar os funcionários e a criançada para ver as onças em campo”, conta Haberfeld. “No começo, o sonho dessas crianças era ser peão de boi, como o pai, hoje em dia elas querem ser biólogos, veterinários, guias de turismo”.

Do Pantanal, o Onçafari agora alça voos por outros biomas brasileiros e inclui outros animais, como o lobo-guará. Cerrado, Mata Atlântica e Amazônia são os próximos a abrigar este lindo projeto de conservação, que surgiu inspirado num modelo africano, mas já conquistou o coração pantaneiro.
A equipe do Onçafari: ao centro a bióloga Lilian Rampim e sentado no carro, do lado esquerdo, está Mario Haberfeld

Fotos: divulgação Onçafari/Adriano Gambarini (abertura), Edu Fragoso (veículo com turistas e onça mais a frente), Adam Bannister (Esperança e filhote)

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Governo Trump volta a autorizar uso de bombas de cianureto para matar animais silvestres

Governo Trump volta a autorizar uso de bombas de cianureto para matar animais silvestres

Governo Trump volta a autorizar uso de bombas de cianureto para matar animais silvestres
A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês) anunciou nos últimos dias que irá liberar novamente o uso de bombas de cianureto de sódio para matar animais selvagens.

Os dispositivos químicos, conhecidos como M-44, são colocados no solo, como bombas terrestres. Quando o animal é atraído por eles por uma isca, um ejetor de molas libera o gás tóxico e letal.
As bombas são utilizadas por fazendeiros e pecuaristas para proteger seus animais do ataque de lobos, coyotes, raposas e outras espécies predadoras.

Todavia, em 2017, uma dessas armadilhas matou um cachorro doméstico e feriu seu dono, um garoto, no estado de Idaho. A família processou o governo.

Em outro caso, a bomba química matou um lobo no Oregon. O animal fazia parte de uma espécie ameaçada em extinção.  

No final do ano passado, a EPA suspendeu a venda das bombas de cianureto de sódio e abriu uma consulta pública sobre o problema. Apesar de ter recebido mais de 20 mil cartas – a maioria delas pedindo que o produto fosse banido de vez -, a agência decidiu liberar novamente o dispositivo, mas com algumas novas restrições e modificações no rótulo.

“As bombas são perigosíssimas para as pessoas, seus bichos de estimação e animais selvagens ameaçados”, alertou Collette Adkins, diretora de Conservação de Carnívoros do Centro para a Diversidade Biológica dos Estados Unidos, em entrevista à AFP.
 
De acordo com dados do governo americano, em 2018, 6.579 animais morreram por causa da armadilha, incluindo 200 que não eram tidos como alvo, entre eles guaxinins, gambás e um urso.
Em 2018, o governo do presidente Donald Trump também anunciou sua intenção de “flexibilizar” uma lei de 100 anos de proteção a aves migratórias e alguns meses antes, já tinham sido feitas mudanças nas regras para a caça, com a volta de métodos cruéis contra ursos e lobos.

Ou seja, sob a administração Trump, cada vez mais os animais nos Estados Unidos deixam de ser protegidos e se tornam alvo fácil para caçadores. Triste, muito triste.

*Com informações da CNN 


Foto: domínio público/pixabay
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.

Trump finaliza planos para permitir exploração de petróleo e gás em reserva de vida selvagem no Alaska

Trump finaliza planos para permitir exploração de petróleo e gás em reserva de vida selvagem no Alaska


Trump finaliza planos para permitir exploração de petróleo e gás em reserva de vida selvagem no Alaska
Há 60 anos o Arctic National Wildlife Refuge é uma área protegida de mais de 7 milhões de hectares na região nordeste do Alaska. Por décadas, representantes do partido democrata têm conseguido manter esse enorme refúgio de vida selvagem preservado. Mas desde que assumiu o governo dos Estados Unidos, o presidente Donald Trump expressou publicamente sua intenção de permitir a exploração de gás e petróleo no Ártico.

Esta semana, seu governo anunciou que finalizou os planos para a abertura de parte da área para ser explorada por companhias do setor.

Esse refúgio natural é uma das últimas áreas de vida selvagem intocada dos Estados Unidos e é importante rota migratória de diversas espécies. É habitat de lobos, ursos polares e de caribus (renas), entre outros tantos animais.

Segundo comunicado do Departamento de Estado de Trump, até o final de ano devem ser realizados os primeiros leilões para exploração e perfuração na busca de petróleo e gás.

Organizações de proteção ambiental afirmaram que entrarão na justiça contra a decisão.

“Nosso clima está em crise, os preços do petróleo despencaram e os principais bancos estão retirando financiamento do Ártico. E ainda assim a administração Trump continua sua corrida para acabar com o último grande refúgio de natureza selvagem, colocando em risco os povos indígenas e a fauna icônica que dela dependem”, afirmou Adam Kolton, diretor executivo da Alaska Wilderness League Action.

“Cientistas têm sido silenciados e marginalizados. Leis ambientais estão sendo pisoteadas. E comunidades indígenas desrespeitadas, ignoradas e informadas que sua cultura e segurança alimentar são irrelevantes. Continuaremos a lutar contra isso nos tribunais, no Congresso, nas empresas e em salas de reuniões. Qualquer empresa de petróleo que busque perfurar no Refúgio Ártico enfrentará enormes riscos reputacionais, jurídicos e financeiros”, ameaçou Kolton.

Trump finaliza planos para permitir exploração de petróleo e gás em reserva de vida selvagem no Alaska
Dois ursos polares descansando no Arctic National Wildlife Refuge
Desde que assumiu o cargo, Donald Trump assinou uma série de decretos que derrubaram leis de preservação ambiental e de combate às mudanças climáticas criadas por seu antecessor, Barack Obama, entre elas, a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris, compromisso assinado por quase 200 países em 2015, que se comprometiam a reduzir suas emissões de carbono.

No ano passado, um estudo internacional apontou que Brasil e Estados Unidos lideravam um ranking de retrocesso ambiental. O levantamento analisou a extinção, a redução de tamanho e a diminuição de restrições de áreas protegidas em 73 países.

A torcida agora é para que Trump perca as eleições presidenciais americanas, que serão realizadas em novembro. O presidente concorre à reeleição contra o candidato do partido democrata, Joe Biden, que já anunciou um plano de U$ 2 trilhões contra a crise climática e garantiu que o refúgio selvagem do Alaska continuará preservado.

*Com informações do The New York Times

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Trump quer “flexibilizar” lei de 100 anos de proteção a aves migratórias


Fotos: D. Brigida (caribu) e A. Zuelke (ursos polares/USFWS

Leonardo DiCaprio critica Bolsonaro devido às queimadas na Amazônia e Mourão reage: “a floresta não está queimando!”


Leonardo DiCaprio critica Bolsonaro devido às queimadas na Amazônia e Mourão reage: “a floresta não está queimando!”



Em 15 de agosto, o ator e ativista Leonardo DiCaprio usou seus perfis nas redes sociais para comentar uma notícia publicada pelo jornal britânico The Guardian sobre o desmatamento na Amazônia. A reportagem revelava informações do Inpe que apontava crescimento de 28% na quantidade de queimadas na Amazônia Brasileira, em julho, em relação ao mesmo mês no ano passado. E ainda: que os primeiros números de agosto já mostravam aumento de 7%.

“O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, está sob pressão internacional para inibir as queimadas, mas duvidou publicamente delas no passado, culpando oponentes e comunidades indígenas”, criticou, acrescentando:

“Os incêndios florestais na Amazônia no ano passado foram devastadores o suficiente, mas com o clima mais seco este ano até agora, assim como a pandemia do Coronavírus, que matou mais de 99 mil brasileiros, há uma preocupação crescente de que o desmatamento em curso não esteja recebendo atenção suficiente”.

Para ilustrar a publicação (que você pode ver no final deste post), ele ainda compartilhou vídeo produzido pelo The Guardian que mostra quilômetros da Amazônia queimando em agosto.
Ontem, durante encontro da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o general Hamilton Mourão, vice-presidente do país – que chefia o Conselho Nacional da Amazônia Legal, comentou a declaração do ator, chamando-o de “o nosso mais recente crítico”.

Mourão disse que gostaria de convidar Di Caprio para ir com ele “à São Gabriel da Cachoeira e fazemos uma marcha de oito horas pela selva, entre o aeroporto de São Gabriel e a estrada de Cucuí. Assim, ele vai aprender, em cada socavão que ele tiver que passar, que a Amazônia não é uma planície e aí entenderá melhor como funcionam as coisas nesta imensa região”.

Para o vice-presidente, o ator engajado está equivocado pois “a Amazônia não é uma coisa única. Existem 22 tipos de floresta diferente aqui dentro, não é uma floresta única. E muito menos é uma planície”.

Bolsonaro e Mourão, a Amazônia não está queimando

Na semana passada, 11/8, em encontro com líderes de governo da América Latina, para nossa vergonha, Bolsonaro disse que o Brasil só é criticado por desmatamento por ser uma “potência no agronegócio” e que “essa história de que a Amazônia arde em fogo é uma mentira”.

Pois Mourão reiterou a fala do presidente, chamando os dados divulgados sobre as queimadas de “desinformação” e disse que “a floresta não está queimando”, porque as queimadas acontecem na área humanizada. E reclamou: “No entanto, a imagem que é passada para o resto do Brasil e para comunidade internacional é que tem fogo na floresta. E não adianta vocês mostrarem mapa da Nasa, mostrar o mapa do Inpe que a turma não aceita o dado”. Que turma? O governo?

O vice também se revelou angustiado: “Seremos julgados por nossos resultados e não por nossas intenções. E essa é minha maior angústia: o tempo. Temos que apresentar resultado”. Sim, mas cadê bons resultados que refutem os dados? Não adianta, Mourão! O que se vê é a mais completa falta de fiscalização e de combate ao desmatamento.

Como noticiamos aqui, no início deste mês, o Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais anunciou que mais de 9 mil km2 foram devastados na Amazônia e que alertas aumentaram 34,5% em um ano. Com tantos dados sobre desmatamento e queimadas no Brasil, alguém ainda duvida sobre quem está, de fato, mentindo?

Infelizmente, Di Caprio tem razão em divulgar esses dados e comentar sobre as queimadas da Amazônia! E não se trata de cismar com o Brasil. É só acompanha-lo nas redes sociais pra ter certeza disso. Todos os dias, ele critica países, empresas e pessoas que não se alinham com preservação e desenvolvimento sustentável. 


Mata Atlântica: desmatamento cresce 27,2%, após dois anos de queda, revela estudo

Mata Atlântica: desmatamento cresce 27,2%, após dois anos de queda, revela estudo

Caminho da Mata Atlântica vai ligar 3 mil km de trilhas no Brasil
A Mata Atlântica é considerada um hotspot mundial da biodiversidade, ou seja, é uma das áreas mais ricas em diversidade biológica do planeta: abriga mais de 15 mil espécies de plantas e mais de 2 mil de animais vertebrados, isto sem contar insetos e outros animais invertebrados. A foto acima, que mostra um trecho do Caminho da Mata Atlântica (entre o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro), é apenas um exemplo dessa riqueza. Mas, também é o bioma mais devastado no país: restam apenas 12,4% da vegetação dos 1.315.460 km2 originais.


Pra se ter ideia do perigo dessa realidade, os princípios que regem a conservação de biodiversidade definem que um ponto percentual abaixo de 20% – apenas um! – coloca as espécies que vivem no bioma em perigo de extinção. Você consegue imaginar o que pode acontecer se ele for extinto por completo? As últimas noticias sobre a Mata Atlântica indicam que é para esse cenário que caminhamos.


Neste 27 de maio, dia em que todos os anos falamos da importância de sua proteção, o Atlas da Mata Atlântica, estudo divulgado, desde 1989, pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), alerta para o aumento do desmatamento.
Após dois períodos consecutivos de queda, foram desflorestados cerca de 14.502 hectares, entre 1º de outubro de 2018 e 30 de setembro de 2019, o que representa 27,2% mais do que o índice registrado no período anterior (2017-2018), que foi de 11.399 hectares (1 hectare equivale a 10 mil m²). 


Repare que o período em que o desmatamento se agravou coincide com o final do governo Temer, as eleições, a vitória de Bolsonaro e os primeiros meses de sua gestão. O presidente nunca escondeu sua visão desenvolvimentista e a intenção de flexibilizar leis e multas, abrindo espaço para a devastação. Não foi à toa que escolheu Ricardo Salles para assumir o ministério do meio ambiente e que este Falamos disso mais adiante.

Veja, abaixo, o histórico do desmatamento no bioma, desde o início do monitoramento:

Piauí e Santa Catarina desmatam menos

O estado campeão de desmatamento no bioma continua sendo Minas Gerais, que perdeu quase 5 mil hectares de floresta nativa, com aumento de 47%. seguido pela Bahia, com 3.532 hectares (78%) e pelo Paraná, com 2.767 hectares (35%). Os motivos? O carvão vegetal, a soja, e os grandes agricultores, respectivamente.

Piauí e Santa Catarina ficaram em quarto e quinto lugares, registrando redução de 26% e 22% da devastação – ou 1.558 hectares e 710 hectares. respectivamente -, em comparação com 2017-1018.
“A ampliação do desmatamento da Mata Atlântica observada mostra que a destruição do meio ambiente não tem ocorrido apenas na Amazônia. E o fato é preocupante, já que restam apenas 12,4% da Mata Atlânticao bioma é o que mais perdeu floresta no país até hoje”, destaca Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica.

Para Marcia Hirota, diretora executiva da SOS Mata Atlântica e coordenadora geral do Atlas, é decepcionante verificar que o desmatamento segue curso nas mesmas regiões. “Observamos vários desmatamentos em áreas interioranas e nos limites da Mata Atlântica com o Cerrado em Minas Gerais, na Bahia e no Piauí, além de regiões com araucárias no Paraná”.

A executiva destaca que, como estas são áreas já mapeadas anteriormente, “os desmatamentos poderiam ter sido evitados com maior ação do poder público. É lamentável que sigam destruindo nossas florestas naturais, ano após ano”.

Desmatamento zero, ou quase

Esta edição do Atlas da Mata Atlântica, que mede desflorestamentos acima de 3 hectares, destaca que nove estados – Alagoas, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo – estão entre os que apresentam desmatamento zero, ou seja, com desflorestamento abaixo de 100 hectares (1 Km²).

Oito já apareciam no estudo do ano passado: a novidade é Goiás, que já demonstrava seguir esse caminho. Com ele, os estados do Mato Grosso do Sul e do Rio Grande do Sul também eram promessas, mas que não se concretizaram. E Sergipe, que era lanterninha nessa lista, com 98 hectares, saiu dela.

O Atlas destaca os estados de Alagoas e Rio Grande do Norte, como celebra Hirota: “Pela primeira vez, dois estados conseguiram zerar os desmatamentos acima de 3 hectares“. E ela acrescenta: “Entre 2017-2018, Alagoas havia registrado 8 hectares de desmatamento, enquanto o Rio Grande do Norte teve 13 hectares”.

Contudo, Hirota pondera que esse cenário positivo também pode alertar para a possibilidade de pequenos desmatamentos aumentarem de forma a enfraquecerem a floresta. “Em muitos estados, que chegaram ao nível do desmatamento zero, pode ocorrer o chamado efeito formiga: pequenos desmatamentos que continuam acontecendo em várias regiões e o satélite não enxerga. É a floresta nativa sendo derrubada aos poucos, principalmente pelo avanço de moradias e da expansão urbana”.

Governo ataca a Lei da Mata Atlântica

Enquanto o mundo está dedicado ao combate à pandemia do novo coronavírus, o governo brasileiro parece viver em outro planeta. Não só pela conduta irresponsável para lidar com essa realidade – negando sua gravidade e orientando a sociedade de forma relapsa -, mas também por tomar medidas autoritárias em várias frentes, incluindo o meio ambiente.

Bolsonaro e seu ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, não estão interessados em preservação. E, apesar de a atenção de ambos estar voltada, principalmente, para a Amazônia, outros biomas, como a Mata Atlântica, têm sido atacados para favorecer interesses econômicos. Acima de tudo e de todos.

Este ano, os ataques à Mata Atlântica começaram com uma solicitação feita pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA) à Advocacia Geral da União (AGU): os ruralistas pediram alterações nas regras referentes a multas e à recuperação de áreas devastadas de forma ilegal, desde 1993, nesse bioma. Essas multas foram determinadas com base na Lei da Mata Atlântica, proposta pelo então deputado federal Fábio Feldmann e sancionada em 2006, após 14 anos de tramitação no Congresso (nunca foi fácil!). Pois a AGU aceitou o pedido da CNA.

Como se não bastasse, em abril, por meio de despacho publicado no Diário Oficial da União, Salles determinou que, a partir daquela data, os desmatamentos irregulares feitos na região, até 2008, seriam anistiados ou teriam obrigatoriedade menor de recomposição, obedecendo as regras do Novo Código Florestal (Lei 12.651, de 2012) e ignorando a lei que rege o bioma. É exatamente o que diz o texto assinado por Salles. que indica que “aos órgãos ambientais (Ibama, ICMBio e Instituto de Pesquisas Jardim Botânico) que desconsiderem a Lei da Mata Atlântica (nº 11.428/2006) e apliquem regras mais brandas constantes do Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) para áreas ditas consolidadas nas regiões de domínio da Mata Atlântica”. 

A medida teve resposta rápida das organizações ambientais, que repudiaram a alteração. O Ministério Público Federal, a Fundação SOS Mata Atlântica e a Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público do Meio Ambiente (Abrampa) protocolaram ação civil pública para anular o despacho. A Rede de ONGs da Mata Atlântica e o Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica também fizeram um parecer contra o mesmo despacho.
Na ocasião, Mantovani, da SOS Mata Atlântica, ressaltou: “É óbvio que estão se aproveitando deste momento para fazer as maldades que sempre quiseram, pois apenas 5% das multas ambientais são pagas de fato, não é esse o objetivo. O desrespeito à legislação ambiental é flagrante nesse governo de retrocessos e desmandos. Não vamos permitir danos à Mata Atlântica, casa de mais de 140 milhões de brasileiros. Temos denunciado que continuam tirando o verde da nossa Terra e contra atos criminosos como esse temos que agir”.

O ambientalista acrescentou: “A Lei da Mata Atlântica é uma conquista da sociedade e assim precisa permanecer. Proteger o meio ambiente é cuidar de vidas e, neste momento, precisamos disso ainda mais. Qualquer ato que não privilegie essa lógica é irresponsável”.

O processo corre, ainda sem desfecho. Mas Salles mostrou que se ressentiu desse movimento da sociedade civil. Tanto que o citou na reunião fatídica de 22 de abril, cuja gravação veio ao conhecimento do público (por conta de investigações contra Bolsonaro em relação à Polícia Federal) e revelou, ainda mais, os objetivos do ministro.

Como contamos aqui, ele propôs que todos os ministérios aproveitassem que a imprensa estava distraída com a pandemia para flexibilizar e alterar leis. Em dado momento, destacou o papel da AGU nesse processo: “Temos que deixar a AGU de stand by pra cada pau que tiver, porque vai ter. Esta semana, mesmo, nós assinamos uma medida a pedido do Ministério da Agricultura, que foi a simplificação da Lei da Mata Atlântica, pra usar o Código Florestal. Hoje, já está nos jornais dizendo que vão entrar com medidas, com ações judiciais e ação civil pública no Brasil inteiro contra a medida. Então, pra isso, nós temos que estar com a artilharia da AGU preparada, pra cada linha que a gente avança ter uma coisa”.

Vídeo-manifesto e petição online

Por tudo isto e para alertar para os riscos do desaparecimento do bioma, a Fundação SOS Mata Atlântica escolheu o Dia da Mata Atlântica para lançar a campanha Continuam tirando o verde da nossa terra, que se compõe de um vídeo-manifesto, abaixo, e uma petição online a integridade da Lei da Mata Atlântica.
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Foto: Ernestro Castro
 
Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.

Mata Atlântica sofre com queimadas e número de focos de incêndio no começo do ano já superam os de 2019

CONEXÃO PLANETA 

 

Mata Atlântica sofre com queimadas e número de focos de incêndio no começo do ano já superam os de 2019

Mata Atlântica sofre com queimadas e número de focos de incêndio no começo do ano já superam os de 2019
Nos quatro primeiros meses deste ano, foram registrados 2.437 focos de incêndios na Mata Atlântica. Durante o mesmo período do ano passado, este número chegou a 2.152. A diferença representa um aumento de 13% do número de queimadas de 2019 para 2020. Os dados, obtidos com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), preocupam e acendem um alerta sobre os perigos que a biodiversidade brasileira enfrenta diariamente.


Segundo a organização não governamental SOS Mata Atlântica, restam cerca de 12% de Mata Atlântica em bom estado de conservação, em relação ao que existia originalmente no país.
Esse bioma abrange cerca de 15% do território nacional e está localizado em 17 estados (Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe), dos quais 14 são costeiros. Representa o lar de 72% dos brasileiros e concentra 70% do PIB nacional. Milhões de pessoas dependem dela para obter serviços essenciais, como abastecimento de água, regulação do clima, agricultura, pesca, energia elétrica e turismo.


A Mata Atlântica, além disso, é o bioma que soma o maior número de espécies ameaçadas, tanto em números absolutos quanto em proporcionais à riqueza dos demais ecossistemas do país. Do total de espécies em risco no Brasil, 50,5% se encontram na região, sendo que 38,5% são nativas dali. A informação foi publicada no Livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção, de 2018, resultado de um estudo que contou com a participação de 1.270 pesquisadores e que foi divulgado no ano passado pelo Instituto de Conservação da Biodiversidade Chico Mendes (ICMBio).

O aumento da incidência de queimadas e incêndios eleva o risco para a fauna e a flora, que já vivem tão pressionadas. “Como a Mata Atlântica é o segundo bioma em riqueza de espécies e o que detém o maior número delas em risco, cada fator de ameaça afeta um número ainda maior do que em qualquer outro bioma”, aponta a publicação.

Só em 2019, ao todo, foram detectados pelo Inpe 18.177 focos de incêndio na Mata Atlântica. Foi o maior índice desde 2010, quando o órgão identificou 20.610 focos por meio de monitoramento via satélite.

Segundo o pesquisador do tema e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Antônio Carlos Batista, “criar políticas públicas bem consolidadas sobre o uso e a proibição do uso do fogo é uma maneira de mitigar os efeitos e reduzir as ocorrências de incêndios antrópicos”, isto é, aqueles provocadas pelo ser humano.

Incêndios no Paraná

O cenário no Paraná não difere da situação vivida pelo resto do bioma. Um levantamento feito a partir do site do Inpe indica que foram detectados, de janeiro a abril deste ano, quase o dobro de focos de incêndios no estado comparando com o mesmo período de 2019. Até abril do ano passado, o instituto detectou 220 focos de queimadas. Já os dados até abril de 2020 apontam que esse número salta para 544. É a maior taxa desde 2004, quando os satélites do instituto registraram 639 focos nos quatro primeiros meses do ano.

“A principal explicação para esse aumento é a estiagem no Paraná, que é a maior dos últimos 30 anos. Existe uma forte relação e correlação entre a precipitação (quantidade e número de dias chuvosos) e a frequência e intensidade dos incêndios”, ressalta Batista. Para ele, todos os modelos e índices de perigo de incêndios florestais são calculados mediante o uso das variáveis “precipitação e umidade relativa do ar” – que é uma variável dependente da nebulosidade e precipitação.
Mata Atlântica sofre com queimadas e número de focos de incêndio no começo do ano já superam os de 2019
Multas por incêndios florestais podem chegar a R$ 50 milhões dependendo da área afetada. Foto: Geraldo Bubniak

Seca agrava situação

As denúncias de queimadas devem ser direcionadas aos órgãos competentes, como Polícia Ambiental, Corpo de Bombeiros e no caso do Paraná, o Instituto Ambiental (IAP), atual Instituto Água e Terra. No entanto, segundo o diretor executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), Clóvis Borges, assim como outros órgãos de proteção ambiental da esfera federal, no estado há também um violento desmonte nessa área.

Borges destaca que, nos últimos anos, esses órgãos tiveram um déficit no quadro de profissionais e isso levou à perda de capacidade de gestão. “Perderam força para estar atentos aos desastres ambientais”, afirma. Afinal, desde 1992, nunca foi realizado um concurso público para repor os funcionários aposentados, exonerados ou afastados do IAP. Desde então, estima-se que o órgão perdeu mais de 60% de servidores efetivos. 

“Essa seca terrível que está acontecendo é porta aberta para o mundo pegar fogo. Tudo está muito seco. Soma-se a isso o fato de o Paraná também nunca ter tido um programa específico contra incêndios”, ressalta Borges.

Em todo o país, o Inpe registrou, de janeiro a abril deste ano, 13.520 focos de incêndios ambientais. Comparando com o mesmo período do ano passado, foram registrados 13.950 focos. Em todo o ano de 2019, o órgão computou 197.634 focos de queimadas. Em 2018, a título de comparação, foram registrados 132.872 focos.
Criar políticas públicas bem consolidadas sobre o uso do fogo é uma maneira de mitigar os efeitos e reduzir as ocorrências de incêndios. Foto: Gilson Abreu

Diferença entre queimada e incêndio

Em 2019, a região Sul do Brasil registrou um índice preocupante de focos de queimadas. Foram detectados por meio dos satélites do Inpe 8.314 ocorrências. Esse número é 33% superior aos 5.543 focos de 2018. O total de focos de incêndios ambientais da região em 2019 só fica atrás dos dados computados em 2016, quando foram detectados mais de 10 mil focos. Até abril deste ano, os três estados que compõem a região registraram 1.860 focos de incêndios.

O chefe de Planejamento da Polícia Ambiental do Paraná, capitão Álvaro Gruntowski, explica que para se levar um cidadão em flagrante ou para prestar informações ao Ministério Público para responder a um inquérito, é necessário que o crime em questão seja um incêndio, e não uma queimada controlada.

“Queimada é fogo sob controle. Incêndio é quando se perde o controle e ocorre em mata ou floresta. Pouco importa se é de preservação ambiental, se é pública ou privada. Mas é difícil constatar a autoria. Quando somos acionados, o autor geralmente se evade do local”, revela.
De acordo com dados do Batalhão de Polícia Ambiental, no primeiro trimestre de 2019 foram constatadas seis ocorrências com crime de incêndio em mata ou floresta no Paraná. A penalidade para esses crimes é de multa e prisão.

“É uma situação que está prevista na lei de crimes ambientais, cuja pena é reclusão de dois a quatro anos, ou seja, é um dos crimes ambientais mais graves”, diz. Segundo ele, pode acontecer por ação direta, com a intenção de causar um desastre, ou por uma negligência ou imperícia, quando a pessoa não toma os cuidados necessários e a manipulação do fogo acaba causando um incêndio.
Na infração administrativa, a multa varia de acordo com o tamanho da área atingida. “O valor mínimo da multa é de R$ 5 mil e pode chegar até R$ 50 milhões, dependendo de quantos hectares foram afetados”, complementa.

Infográficos

Confira os anos e os focos de incêndios identificados em cada um deles:
Mata Atlântica sofre com queimadas e número de focos de incêndio no começo do ano já superam os de 2019
*Até abril – Fonte: Programa queimadas (Inpe)
*Esta reportagem faz parte da última edição do jornal online e gratuito do Observatório de Justiça e Conservação. Para acessar os demais textos clique aqui.


Foto: Welington Pedro de Oliveira/Fotos Públicas

Brazil vice president invites DiCaprio to see reality of Amazon rainforest

Brazil vice president invites DiCaprio to see reality of Amazon rainforest

by Reuters

The invitation came as the government faces criticisms for rising destruction in the world's largest rainforest

By Ricardo Brito and Jake Spring
BRASILIA, Aug 19 (Reuters) - Brazilian Vice President Hamilton Mourao on Wednesday called on actor Leonardo DiCaprio to visit the Amazon to see the reality of the situation there, as the government faces criticisms for rising destruction in the world's largest rainforest.

Mourao invited DiCaprio, an environmental campaigner, to go with him personally on a journey along a notoriously ill-maintained road in the remote far western Amazon near the town of Sao Gabriel da Cachoeira.

"I would like to invite our most recent critic, Leonardo DiCaprio, to go with me to Sao Gabriel da Cachoeira to do an eight-hour ride through the jungle between the Sao Gabriel airport and the Cucui highway," Mourao said

"He will learn with each big pothole that he has to pass that the Amazon is not a flat land and understand better how things work in this vast region."

Representatives for DiCaprio did not immediately respond to request for comment.
Last year, as surging fires in the Amazon provoked global outcry, Brazilian right-wing President Jair Bolsonaro accused DiCaprio of funding fires in the Amazon, without presenting any evidence. DiCaprio denied the allegation.

This year, the number of fires rose in June and July compared to a year ago, but in the first 15 days of August, fires were down 17% compared to a year ago, according to government data.
Deforestation is up 34.5% in the 12 months through July, compared to the same period a year ago, preliminary government data shows.

DiCaprio has a foundation dedicated to the environment and has called for Amazon preservation. Scientists say the Amazon is vital to curbing climate change, because of the vast amount of greenhouse gas that the forest absorbs.

In July, DiCaprio on Twitter praised the Brazilian government's 120-day ban on fires in the Amazon, an attempt to rein in the destruction.

(Reporting by Ricardo Brito and Jake Spring Editing by Alistair Bell)