Agora, a esperança de Christiane é que a ministra Carmem Lúcia,
presidente em exercício do STF durante as férias de Lewandowski, já em
curso, revogue a liminar e que Carli Filho vá a júri ainda esta semana.
“Ainda acredito que esse júri será um divisor de águas no país. País que não pune, não educa”, disse Christiane ao
Congresso em Foco. “Nós não vamos desistir e vamos levar o senhor Luiz Fernando Ribas Carli Filho ao banco dos réus”, insistiu a deputada.
Na última quarta-feira (14), a parlamentar e seu marido, Gilmar
Yared, receberam a notícia de que o ministro Ricardo Lewandowski,
presidente d o Supremo Tribunal Federal, havia suspendido o júri popular
do acusado, que estava marcado para esta semana.
Negado
Os advogados do ex-deputado tentam, no STF, por meio de recurso
especial com agravo, desclassificar o crime para duplo homicídio
culposo, recurso que, segundo Yared, já havia sido negado pelo ministro
Gilmar Mendes.
O ex-deputado estadual Carli Filho responde por homicídio
doloso eventual. Um exame detectou 7,8 decigramas de álcool por litro
de sangue de Carli. O exame foi desclassificado pela Justiça porque o
material foi colhido com o ex-parlamentar desacordado – portanto sem seu
consentimento, o que contraria a lei. O acusado dirigia um carro
blindado.
Na semana passada, a parlamentar conseguiu se reunir com o ministro
Lewandowski, em Curitiba. Depois do encontro no Palácio da Justiça, sede
do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), Christiane disse esperar que o
júri do ex-deputado seja marcado para daqui a dois ou três meses.
Yared entregou um memorial do caso para o magistrado, responsável
pela liminar que suspendeu o júri de Carli Filho. A deputada disse que
Lewandowski foi atencioso e explicou a ela que suspendeu o julgamento
porque há recursos impetrados pela defesa do ex-deputado que ainda não
foram avaliados. Se o júri ocorresse antes da avaliação desses recursos,
o julgamento poderia ser anulado, disse o ministro.
Música
A deputada é uma empresária curitibana do ramo de alimentação que
entrou para a política para buscar justiça contra a impunidade nos
crimes de trânsito. Filha de desembargador, nasceu em Curitiba, onde
estudou piano, tornou-se professora de música. Após a morte do filho,
criou uma ONG de apoio a vítimas e familiares de acidentes de trânsito.
Tornou-se a deputada mais votada no estado em 2014, em sua primeira
eleição, com mais de 200 mil votos.
Multa
O marido de Christiane, Gilmar Yared, recebeu nessa terça-feira uma
informação que pode mudar o rumo do caso. Um motorista que recebeu uma
multa de trânsito emitida por um radar instalado a poucos metros do
local das mortes enviou para a família uma cópia do auto de infração,
registrado quatro minutos antes do desastre, o que contraria as
informações da empresa responsável pelos radares de Curitiba.
Na época do caso, a empresa Consilux declarou que não podia fornecer
as imagens do trajeto percorrido pelo ex-deputado Carli Filho, porque
segundo ela os equipamentos estavam desligados naquele dia. A notícia
reforça as suspeitas da família de que as imagens tenham sido removidas.
Abaixo a entrevista exclusiva da deputada Christiane Yared.
Congresso em Foco – Deputada, alguma novidade quanto à suspensão do júri do ex-deputado Carli Filho?
Estamos numa briga, aqui, para
ver se conseguimos que a ministra Carmem Lúcia possa reverter essa
situação. Porque esperaram o ministro Gilmar Mendes sair de férias, o
ministro Lewandowski foi induzido a um erro, e vamos ver se a gente
consegue reverter, de modo a manter o júri para esta quinta, ainda, se a
ministra revogar a liminar.
Quem induziu o ministro Lewandowski a erro?
Ah, os próprios assessores. Você sabe como funciona isso, não é? Favor de um, favor de outro…
Mas, se tivesse sido mantida a data, o processo correria mesmo risco de ser anulado, conforme explicou o ministro Lewandowski?
Eu acho que não. Porque o pedido deles é para decidir se é culpa ou
dolo. Mas se é doloso ou culposo é o próprio júri quem decide, não o
STF. Esse recurso não suspende o júri. O MP do Paraná acredita que a
reversão é possível, a depender do entendimento da ministra. O ministro
Gilmar Mendes já havia negado esse recurso.
Como a senhora vê alguns tipos de manobras protelatórias que podem ser feitas junto a tribunais?
A Justiça precisa ser mais célere. A justiça, quando demorada, acaba
prejudicando o país todo. Esse clima de impunidade que reina no país é
uma coisa maligna. Já não é sensação de impunidade, é certeza mesmo.
Isso acaba dando ao infrator o direito de que ele pode matar no trânsito
que não será punido.
E o Congresso, o que se pode fazer? Quais as principais dificuldades que a senhora vê?
Nós, como legisladores, podemos rever algumas situações e fechar
essas brechas. Reunir os legisladores que entendam do assunto e ver a
necessidade da sociedade. Não adianta reunir notáveis que possam acabar
criando uma legislação mais retrógrada ainda. O novo Código Penal, por
exemplo, tem lá no artigo 21 uma emenda que a gente apelidou de “emenda
Carli Filho”, porque foi proposta pelo próprio advogado defensor da
família Carli, que é um ilustre jurista, chamado um dos notáveis.
É o
artigo 121 do novo CP, um artigo que beneficia todo aquele que mata
fazendo racha em alta velocidade, usando carro, jet ski, moto,
ultraleve, essas coisas que pobre não tem. Propõe que o ato só seja
considerado crime doloso se a pessoa confessar que assumiu o risco de
matar.
Ora, quem mata dirigindo em alta velocidade, drogado, bêbado,
disputando racha, vai dizer que quis matar cinco pessoas num ponto de
ônibus? Ora, não eu tenho mais dois filhos, tenho netos.
E no Legislativo, quais as dificuldades que a senhora vê, para acabar com a impunidade nos crimes de trânsito?
Precisamos fazer com que as leis sejam cumpridas. Tem muita brecha.
Em maio, vai fazer sete anos da morte do meu filho. Tudo pronto para o
julgamento. Aí a defesa arranja outro recurso. Essas brechas precisam
ser removidas. Também não se pode garantir à pessoa que bebeu e matou no
trânsito o direito de não produzir provas contra si.
O teste do
bafômetro tem de ser obrigatório. Por que um crime contra um passarinhou
ou uma árvore é inafiançável e o crime de trânsito, que mata filhos das
pessoas, não? Também é preciso reduzir a quantidade de 0,06 ml de
álcool permitida para motoristas pela Lei Seca. Dependendo da pessoa,
isso tira sua saúde mental, incapacita o indivíduo para dirigir.
Como está sua vida depois dessa mudança de empresária,
professora de música e filha de jurista, para o papel de parlamentar em
busca de justiça?
Sou uma pessoa muito temente a Deus e sinto que para tudo na vida há
um propósito. Nada acontece por acaso. Quando eu e meu esposo decidimos
plantar o meu filho – não gosto de falar que enterrei, eu o plantei -,
eu decidi deixar um legado para o meu país.
Eu sou mãe, estou deputada. E
quero fazer com quer esses quatro anos valham para todos os meus irmãos
brasileiros.
Eu não conseguia compreender isso, que estamos todos
ligados, até perder o meu filho. Cada vez que você
acende uma luz para outra pessoa, você está iluminando o seu caminho
também. O problema não é só na casa do vizinho, na Assembleia
Legislativa, no Congresso, na presidente. O problema é de todos. O país
que eu quero começa em mim.
E a possibilidade de uma reeleição?
Se as pessoas entenderem que posso ser útil em representa-las, estou à
disposição, já falei. Não vou desistir de lutar pelas coisas em que
acredito. Já tive propostas, em Brasília, de empresas grandes,
fabricantes de bebidas, me oferecendo recursos, propostas milionárias,
em troca de parar de bater em certos assuntos. Sempre respondi que a
conversa era muito desconfortável para mim.
Se o meu país começa em mim,
eu tenho de ser a primeira a dizer não. Não dá para eu deixar para o
meu sucessor essa tarefa. A hora da mudança é agora.
Qual sua opinião sobre a propaganda de bebida na TV?
Estamos preparando um projeto visando a proibir a veiculação da
cerveja. Como já não tem de cigarro. É uma briga enorme, vamos lutar
contra gigantes. Então, é preciso dar o primeiro passo. O que não posso
aceitar é o que vejo diariamente nos meios de comunicação: inocentes
morrendo,
filhos que enchiam as casas de alegria agora estão enchendo
cemitérios. Precisamos de campanhas massivas de conscientização das
pessoas.
Informar que o crime de trânsito gera prisão. Esta luta não é
só minha. É de todos nós, brasileiros.
Leia íntegra de matéria com cópia de multa
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