sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Semente de esperança no Cerrado

Semente de esperança no Cerrado



10 Janeiro 2019   |   
Por Taís Meireles

O ano já começou cheio de esperança para a bacia do Descoberto, principal reservatório do Distrito Federal, que abastece 60% da população de Brasília.

Isso porque voluntários, proprietários rurais e instituições locais e nacionais se mobilizaram para um mutirão de restauração logo na primeira segunda-feira útil do ano.

Cerca de 75 pessoas ajudaram a plantar sementes em 1 hectare de terra em Brazlândia (DF). A ação aconteceu na chácara Roda d’ Água, uma das 12 propriedades localizadas às margens do lago Descoberto que participam do Projeto Descoberto Coberto, coletivo que luta pela conservação da bacia e é liderado pela Adasa DF.

A ação desta segunda (7) foi organizada pelo WWF-Brasil e o Na Praia, da R2 Produções, que encerrou sua 4ª temporada de eventos na cidade neutralizando as emissões de carbono com o mutirão.

Além do que foi arrecadado nos eventos, recursos do Programa Água Brasil, parceria entre Banco do Brasil, WWF-Brasil, Agência Nacional de Águas e Fundação Banco do Brasil, foram utilizados para a compra de mais de 4 toneladas de sementes nativas do Cerrado, além dos serviços de preparação do solo.

Trabalho de várias mãos

“Essa é a segunda ação de restauração com a semeadura direta que fazemos na bacia com o apoio de um lindo mutirão de voluntários, que cedem uma segunda-feira de suas vidas para, de algum modo, transformar o mundo a sua volta”, comemora Vinícius Pereira, do WWF-Brasil.

Participaram do mutirão os parceiros Adasa, Caesb, Ibram, Emater, ICMBio, Rede Sementes do Cerrado, Seagri, Grupo Zago, Associação Pró-Descoberto e UnB. Ao todo, o projeto já recuperou 33 hectares de terra na bacia do Descoberto.

Semeadura direta

A técnica utilizada no mutirão é a de semeadura direta, em que sementes nativas do Cerrado passam por um processo de “muvuca”, ou seja, são espelhadas no solo manualmente. São usados diferentes tipos de árvores, gramíneas e arbustos, como cajuzinho do Cerrado, angelim, capitão do campo e jatobá. Tudo para chegar o mais próximo possível à vegetação original da bacia.

“Essa é uma técnica muito eficiente do ponto de vista custo-benefício, já que não depende da produção de mudas para a restauração de áreas degradadas”, explica Vinícius.

Para quem participa de um evento como esse, fica a felicidade de ver o Cerrado com mais cara de Cerrado:

“Eu vejo de uma forma cada vez mais evidente que as pessoas querem fazer as coisas, querem botar a mão na massa, então esse tipo de atividade é uma forma de a gente se engajar e ver que podemos contribuir para a conservação da natureza”, comenta Osvaldo Gajardo, do WWF-Brasil, que participou como voluntário do evento.

“Apesar do projeto ser uma parceria entre instituições, é importante também sentir o envolvimento da sociedade. Preservar e restaurar o Cerrado é um papel de todos, e colocar a mão na massa foi a melhor forma de passar essa mensagem a todos”, complementa Silvia Rodrigues, do Na Praia.

E você? Já participou de algum mutirão como esse? Conta pra gente como foi a experiência!
© Thamires Santiago Enlarge
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Adaptar nosso jeito de viver aos meios ecológicos, artigo de Marcus Eduardo de Oliveira


Adaptar nosso jeito de viver aos meios ecológicos, artigo de Marcus Eduardo de Oliveira
by Redação - 10/01/20190
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Por uma nova economia baseada em uma racionalidade ambiental

uma nova economia baseada em uma racionalidade ambiental
[EcoDebate] Falando com simplicidade, nunca é demasiado asseverar que o “funcionamento” de toda a economia, isto é, a capacidade de produzir qualquer coisa, exige recursos materiais e energia da única (vale o grifo) fonte existente, a natureza. Daí a necessidade de pormenorizar ao menos dois pontos cruciais que, não raras vezes, passam despercebidos: i) o sistema econômico é um subsistema do ecossistema global; portanto, trata-se de incomensurável risco afetar o sistema maior, o meio ambiente; ii) sem exceção, estamos todos dentro de um mesmo sistema, e basicamente devemos ter em conta que tudo o que é extraído da natureza a ela retorna em forma de lixo (alta entropia); logo, quanto mais aumentarmos a extração/produção, mais aumentaremos a entropia (grau de desordem de um sistema).


Fazendo uso de uma linguagem de fácil compreensão, vale registrar dois pontos importantes: Primeiro – se estamos usando de forma intensa e extensivamente os recursos da natureza (vista como um “almoxarifado da economia”), então parece óbvia a dedução de que seguimos por trilhas perigosas, colocando em apuro a civilização moderna. Desse modo, vamos aumentando as tensões estruturais no relacionamento historicamente conflituoso entre a economia, a sociedade civil e o seu meio natural; Segundo – gostemos ou não, já não é mais possível negar que nossa conduta nos condena. Diante disso, e de forma perceptível, parece mesmo que vale tudo em prol do aumento da escala de produção material; inclusive devastar os ecossistemas. 


Logo, não é de se estranhar que permaneçamos cegos aos débitos ecológicos e visivelmente obcecados pela conquista material; tão obcecados que o gênero humano parece que foi contaminado pela pleonexia (apetite insaciável de possuir bens materiais). Grosseiramente fazendo mea-culpa, a verdade é que nossa espécie Homo sapiens-imprudentis segue com devotado vigor destruindo os ecossistemas naturais numa velocidade assustadora, assim como também o faz em relação às formas de vida conhecidas (vide, por exemplo, o avanço da defaunação, i.e., a extinção de espécies, e a morte das florestas e de tudo o que nela existe). Aos mais céticos, serve de exemplo o que segue:


(1) metade das florestas tropicais e temperadas do mundo já sumiu de nossas vistas;
(2) de 1970 a 2008, houve a perda de 28% de toda a biodiversidade da Terra;
(3) nas últimas cinco décadas, o número de espécies de vertebrados teve um declínio de 30% em todo o mundo;
(4) mais de 50% do habitat selvagem foi completamente destruído em 49 dos 61 países tropicais do Velho Mundo;
(5) entre 1970 e 2010, os sapiens-imprudentis destruíram 52% da fauna do planeta (notadamente as espécies de mamíferos, pássaros, répteis, anfíbios e peixes);
(6) trinta e cinco por cento dos mangues do mundo e 20% dos recifes de coral foram totalmente destruídos desde o início dos anos 1980;
(7) trinta e três por cento dos solos do mundo estão degradados, o que equivale a afirmar que perderam fertilidade, por isso não mais captam carbono da atmosfera, interferindo assim nas mudanças climáticas;
(8) pelo sistema das águas, já atingimos o ponto crítico de despejar nos mares, todos os anos, 10% das 100 milhões de toneladas de plásticos produzidas no mundo. A estimativa para o ano de 2050, pasmem, chega a ser odiosa: haverá mais plásticos do que peixes nos mares.


Uma nova economia baseada em uma racionalidade ambiental
Sejamos claros e objetivos: o estágio atual de devastação do mundo natural exige que a comunidade humana se esforce no sentido de elaborar uma nova economia baseada em uma racionalidade ambiental, estabelecendo para tanto um novo modo de produção material adaptado ao equilíbrio climático e ambiental; portanto, longe do modelo de economia que hoje nos direciona que sequer respeita a capacidade de recuperação da Terra, isto é, a sua resiliência (do latim resiliens, a capacidade de voltar ao normal). 


Com isso se quer destacar que o mais importante valor da economia, contrariando assim o senso comum, é a natureza (matriz de nossa existência). Sob essa inspiração, e abusando um pouco mais de uma linguagem cotidiana, deve ser devidamente esclarecido que está em jogo diversas consequências econômicas e sociais que são acarretadas por uma série de descompassos que o modo econômico de produção global termina por levar ao meio ambiente. 


Essa série de descompassos – que tem peso significante, frisa-se – pode ser traduzida na alteração das condições climáticas (devido à queima de combustíveis fósseis; ou seja, na maneira como “funciona” a economia global); no empobrecimento biológico da Terra (resultante do aumento da perda de biodiversidade, como já mencionado) e na preocupante diminuição dos serviços ecossistêmicos, incluindo entre outros a captura de CO2, a prevenção a erosão e desertificação, e a melhora da qualidade do ar. 


Todo esse descompasso, ou seja, esse drama ecológico (se cabível for o termo), é mais bem percebido quando são lançados olhares ao que ocorre na fronteira entre a economia e a ecologia; não deixando ainda de observar com redobrada atenção o que se passa pelo lado social, em especial junto às populações carentes (vulneráveis), reconhecidamente as mais afetadas pela crise ambiental. Nessa direção, é dado saber que a comunidade humana permanece numa situação completamente desconfortável. 


O calamitoso quadro social de necessidades humanas básicas ainda não atendidas atualmente é bem conhecido. Citemos apenas dois dos casos mais gritantes que saltam à vista: um bilhão de habitantes do mundo sofre diuturnamente o drama da subalimentação, e 2,5 bilhões de pessoas não têm acesso a saneamento básico. 


Voltando nossa atenção à narrativa central aqui contextualizada, é o caso de perguntarmos se o crescimento econômico, traduzido na expansão da oferta de bens e serviços, pode colaborar promovendo a emancipação desse contingente de necessitados e, a reboque, levar em consideração a necessidade de preservação do mundo verde? Partindo para uma rápida resposta, mas não deixando de observar a celeuma que envolve o crescimento (inovação tecnológica), a preservação da natureza (quando combinado ao termo crescimento sustentável) e a imediata possibilidade de melhorar a vida social, ouso levantar ao menos cinco pontos-chave que merecem reflexão:


1) o crescimento sustentável – seja dito, um oximoro – simplesmente é irreal, dado que a expansão da produção material colide, e também contraria, com a necessidade de preservar a natureza (recursos materiais e energéticos). Fora isso, é impossível repetir o ritmo de crescimento que o século 20 assistiu, uma vez que a dimensão desse “movimento”, vale notar, já não mais se limita a ficar aquém das fronteiras ecossistêmicas (isso implica em dizer, grosso modo, que a economia se tornou maior que as condições ecológicas); 

2) a chamada ecoeficiência (fazer mais com menos), mesmo que seja intensificada e passe a contemplar de uma vez por todas um novo modo de produção econômica combinando a substituição de energias fósseis por renováveis e reduzindo o uso de recursos por unidade de produto, não traz garantia alguma de que compensará no curto e longo prazos os efeitos do crescimento econômico acelerado;

3) no confronto entre o alto crescimento econômico e a baixa preocupação ecológica, tão comum nos dias de hoje, é preciso estar atento ao aparecimento dos “custos do crescimento”, isto é, àquela situação em que os prejuízos ambientais superam os benefícios econômicos, condição que deve ser interpretada na convidativa expressão “crescimento deseconômico”, termo criado por Herman Daly;

4) embora tenhamos nos acostumado a medir desempenho econômico pelo nível de consumo material – erro grotesco, diga-se – é preciso não se desprender da compreensão de que há sim distinção entre o crescimento e o desenvolvimento, frisando, nesse estrito sentido, que crescer nada mais é do que promover o aumento da produção (ou seja, é atingir quantidade; ficar maior), ao passo que desenvolver se refere basicamente a conquistar bem-estar/bem-viver (logo, é atingir qualidade; ficar melhor);

5) por fim, e guardando certa proximidade com o item anterior, sempre que possível devemos evitar um mal-entendido: o aumento da riqueza de um País, quase sempre percebido no crescimento da economia, não corresponde em imediata melhoria da vida social; daí a constatação de que o crescimento, visto no mais das vezes como o beijo do Príncipe que desperta a Bela Adormecida, não é a solução de todos os males; e nem mesmo a elevação do PIB (reduzido a sinônimo de sucesso), cujos erros de interpretação são tão flagrantes quanto numerosos, pode ser apresentado, na prática, como um indicador supremo de prosperidade/felicidade. O crescimento, cumpre realçar, pode até nos fazer mais ricos, mas certamente não nos deixará mais felizes. 

“A escolha é nossa”
Concluindo e falando ainda com certa simplicidade: tudo o que temos a fazer em prol da conquista de um mundo ecologicamente mais equilibrado (e socialmente próspero), consoante à relação existente entre o comportamento humano, a economia, e o meio ambiente, é colocar nosso jeito de viver dentro dos meios ecológicos conhecidos, partindo da orientação máxima de que cabe à comunidade humana, com muita prudência, organizar todo o aspecto da economia produtiva que facilita, no todo, a condição de vida humana. 

Portanto, a dedução feita aqui se refere sobretudo ao processo de mudança associado à consciência. Indo direto ao assunto: diante de tudo o que temos presenciado, no mínimo é cabível dizer que a história da relação entre o Homem, a Economia, e a Natureza, não mais pode continuar avançando pelo “lado ruim”. Inocência analítica à parte, a verdade é que temos tido pouco cuidado com o planeta que nos acolhe. Caso queiramos realmente marcar um novo tempo, precisamos agir ao menos em três direções: i) construir uma nova economia que dialogue com os princípios da ecologia; ii) organizar os serviços ecossistêmicos de modo benfazejo em relação ao trato humano; iii) estabelecer estratégias civilizatórias na radical defesa de uma postura favorável à natureza e ao projeto maior que o ser humano conhece, o sistema-vida. 

Vale enfatizar: nada pode ser superior à defesa da vida. Se o aumento produtivo dos dias de hoje vem ocorrendo na contramão do equilíbrio ecológico, afetando sobremaneira a qualidade social da vida humana e aproximando-nos assim de um perigoso colapso ambiental, acelerando de vez o impasse civilizatório, somente nos resta com alguma coragem engendrar um percurso diferente de tudo o que fizemos até agora. Sem mais, para o pleno sucesso dessa ação, me posiciono ao lado daqueles que ousam acreditar que a comunidade humana, antes de mais nada, carece de assimilar com muita responsabilidade o que disse John Sawhill (1936-2000), ex-presidente da The Nature Conservancy: 


“No final, nossa sociedade será definida não somente pelo que criamos, mas pelo que nos recusamos a destruir. A escolha é nossa”.

Marcus Eduardo de Oliveira, Economista e ativista ambiental.
Mestre em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo (USP)
Autor de “Civilização em desajuste com os limites planetários” (ed. CRV).
prof.marcuseduardo@bol.com.br

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 10/01/2019


"Adaptar nosso jeito de viver aos meios ecológicos, artigo de Marcus Eduardo de Oliveira," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 10/01/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/01/10/adaptar-nosso-jeito-de-viver-aos-meios-ecologicos-artigo-de-marcus-eduardo-de-oliveira/.

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Engenharia da biodiversidade – Manipular a composição de comunidades ecológicas e garantir a permanência das funções de um ecossistema

Engenharia da biodiversidade – Manipular a composição de comunidades ecológicas e garantir a permanência das funções de um ecossistema


Ecossistemas poderão ser restaurados por meio da engenharia da biodiversidade

Por Elton Alisson | Agência FAPESP

(Trochilus polytmus)
(Trochilus polytmus / foto: Sharp Photography – Wikimedia)

Muitos cientistas consideram que as atividades humanas começaram a ter, a partir do fim do século 18, um impacto tão significativo no clima e nos ecossistemas da Terra a ponto de der dado origem a uma época geológica que denominaram Antropoceno.

As eliminações de espécies nesse período mais recente da história do planeta Terra podem rivalizar com as grandes extinções em massa registradas ao longo de outras eras geológicas. A fim de restaurar essa perda de biodiversidade e o funcionamento do ecossistema terrestre seria preciso aplicar, urgentemente, o conhecimento ecológico existente.

Um estudo de autoria de pesquisadores brasileiros e britânicos indicou que há condições teóricas, metodológicas e tecnológicas sem precedentes para enfrentar esse desafio.

Resultado de uma pesquisa apoiada pela FAPESP e de um pós-doutorado realizado com Bolsa da FAPESP, o trabalho teve resultados publicados na revista Trends in Ecology & Evolution.
“Estamos a apenas alguns passos de possibilitar a realização da ‘engenharia da biodiversidade’, ou seja, manipular a biodiversidade para projetar a composição de comunidades ecológicas e garantir a permanência das funções de um ecossistema”, disse Rafael Luís Galdini Raimundo, professor do Departamento de Engenharia e Meio Ambiente da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e primeiro autor do estudo, à Agência FAPESP.

“Temos agora todas as condições teóricas e metodológicas para entender e prever melhor as consequências da inclusão ou da retirada de uma espécie de uma comunidade para fim de manejo na diversidade funcional de um ecossistema”, avaliou.

De acordo com os autores do estudo, a manipulação de comunidades ecológicas para restauração tem uma longa história científica e é feita há mais de um século, principalmente em países da Europa e nos Estados Unidos.

Tradicionalmente, contudo, as iniciativas de restauração têm sido focadas na inclusão ou na remoção de espécies com o intuito de resgatar padrões de riqueza de plantas e animais, sem se concentrar nas interações ecológicas entre populações, espécies e predadores e presas, por exemplo.

Essas interações ecológicas são determinantes para os padrões de biodiversidade e de funcionamento de um ecossistema por moldar a força e os modos de seleção natural. Eventuais mudanças nos padrões dessas interações provocadas pela extinção de espécies ou pela entrada de espécies invasoras, por exemplo, afetam a evolução de características funcionais ecologicamente relevantes, como o tamanho do bico de aves que se alimentam de frutos (frugívoras) e o tamanho dos frutos que dispersam.

Na Mata Atlântica, a perda de grandes espécies de aves como tucanos (Ramphastidae) e jacutingas (Pipile jacutinga) tem levado à diminuição da dispersão de árvores com sementes grandes. Já a diminuição de espécies dispersoras do palmito-juçara (Euterpe edulis) tem feito com que suas sementes passem a ser distribuídas por poucas áreas do bioma. Consequentemente, tem diminuído o tamanho das sementes da planta, dizem os autores do estudo.

“As interações entre espécies representam a ligação entre processos ecológicos e evolutivos e também podem ser vistas como a conexão entre a estrutura da biodiversidade e o funcionamento do ecossistema”, disse Galdini Raimundo.

Condições propícias
O desenvolvimento de modelos matemáticos de redes adaptativas permitiu a ecólogos compreender melhor como mudanças nos padrões de interações ecológicas – que definem a estrutura de uma rede de interações – são seguidas por mudanças na dinâmica e nas propriedades das populações de cada espécie, como sua abundância e características.

Essas mudanças ecológicas e evolutivas nas propriedades das espécies podem desencadear novas reconfigurações no nível da rede de interações, fechando um ciclo.

“A aplicação da abordagem de rede à ecologia permite gerar previsões para o que acontece com processos evolutivos e ecológicos nessas redes de interações complexas e criar hipóteses testáveis de diferentes estratégias de manejo”, disse Galdini Raimundo. “Com isso, é possível construir comunidades estáveis, com todas as funções ecossistêmicas operando normalmente.”

Apesar do potencial dos modelos de redes adaptativas na gestão de ecossistemas, até recentemente os dados necessários para alimentá-los impediam sua aplicação como uma ferramenta preditiva na ecologia da restauração.

As técnicas de sequenciamento do genoma desenvolvidas nos últimos anos permitiram obter dados de interação de espécies em uma escala sem precedentes, dando origem ao big data da biodiversidade.
Segundo os pesquisadores, essas técnicas de sequenciamento possibilitaram não apenas obter dados da estrutura ecológica de redes, mas também sobre as relações filogenéticas entre espécies dentro de uma comunidade – o que é fundamental para prever como uma rede ecológica irá reconectar sua estrutura e como novas dinâmicas irão remodelar características e a abundância de espécies.

“Fundir técnicas de sequenciamento de genoma de última geração com redes ecológicas fornece novas ferramentas para estudar a resiliência de comunidades interagentes às mudanças ambientais, ao mesmo tempo que incorpora importantes atributos, como a diversidade funcional”, disse Darren Evans, professor da Newcastle University, na Inglaterra, e coautor do estudo.

Alguns dos gargalos para o uso desses modelos ecológicos evolutivos e preditivos são ampliar as colaborações em pesquisa, de modo a permitir monitorar locais para fazer as previsões de rede adaptativas, e aumentar a interação entre pesquisadores que realizam os trabalhos em campo e implementam as práticas de restauração e os teóricos.

“A aplicação desses modelos depende do estabelecimento de uma via de mão dupla entre o pesquisador que faz os modelos e gera as predições e quem está em campo, testando as práticas de restauração nessa escala de comunidade, para aprimorar os modelos, gerar predições mais acuradas e, com o tempo, em longo prazo, conseguirmos refinar essa engenharia da biodiversidade”, disse Galdini Raimundo.

O artigo Adaptive networks for restoration ecology (doi: doi.org/10.1016/j.tree.2018.06.002), de Rafael L. G. Raimundo, Paulo R. Guimarães Jr e Darren M. Evans, pode ser lido por assinantes da revista Trends in Ecology & Evolution em www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0169534718301393

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 10/01/2019

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Com projetos de restauração ecológica de larga escala, a área florestal total da China aumentou 74,3 milhões de hectares


Com projetos de restauração ecológica de larga escala, a área florestal total da China aumentou 74,3 milhões de hectares



Restauração Ecológica

Na década de 1980, a região montanhosa de Qianyanzhou, na província de Jiangxi, sul da China, enfrentou uma severa erosão do solo devido ao desmatamento e a práticas agrícolas insustentáveis. O solo vermelho fértil estava desaparecendo, o que fez com que os rendimentos das colheitas caíssem.
Mas uma mudança notável ocorreu nos últimos 30 anos graças a um plano de uso da terra apoiado pelo governo chinês que reflorestou montanhas superiores, plantou pomares cítricos em declives moderados e arrozais nos fundos dos vales. Em poucos anos, esse mosaico de uso sustentável da terra passou a gerar rendas mais altas.

As florestas são uma importante e necessária frente de ação na luta global contra as mudanças climáticas catastróficas, graças à sua incomparável capacidade de absorver e armazenar carbono. As florestas capturam dióxido de carbono a uma taxa equivalente a cerca de um terço da quantidade liberada anualmente pela queima de combustíveis fósseis. Parar o desmatamento e restaurar as florestas danificadas, portanto, poderia fornecer até 30% da solução climática. O relato é da ONU Meio Ambiente.

ONU
Na década de 1980, a região montanhosa de Qianyanzhou, na província de Jiangxi, sul da China, enfrentou uma severa erosão do solo devido ao desmatamento e a práticas agrícolas insustentáveis. O solo vermelho fértil estava desaparecendo, o que fez com que os rendimentos das colheitas caíssem.


Mas uma mudança notável ocorreu nos últimos 30 anos graças a um plano de uso da terra apoiado pelo governo chinês que reflorestou montanhas superiores, plantou pomares cítricos em declives moderados e arrozais nos fundos dos vales. Em poucos anos, esse mosaico de uso sustentável da terra passou a gerar rendas mais altas. A biodiversidade e a qualidade ambiental, assim como o microclima, melhoraram.

No início de novembro de 2018, o chefe do setor de água doce, terra e clima da ONU Meio Ambiente, Tim Christopherson, juntamente com sua colega Xiaoqiong Li, visitou vários locais na região para entender melhor como funciona a restauração ecológica em larga escala.

Huimin Wang, diretor de uma estação de pesquisa ecológica em Ji’an, na região de Qianyanzhou, informou às Nações Unidas sobre o problema existente anteriormente e o papel do centro na restauração da paisagem.

“Trinta anos atrás, essa área estava desnudada de árvores e vulnerável a deslizamentos de terra. Os barrancos de erosão lavaram o solo vermelho fértil”, diz Wang.

“Montamos essa estação de pesquisa ecológica para descobrir a melhor forma de restaurar a terra. Reunimos especialistas de todo o mundo, inclusive da Agência Federal para a Conservação da Natureza da Alemanha.”

A pesquisa focou na otimização da estrutura da floresta e em como melhorar seus serviços ecossistêmicos; na estrutura e funções da ecologia florestal; na promoção do ciclo de carbono, de água e nutrientes em ecossistemas florestais sob as mudanças climáticas; e em um modelo de atualização de Qianyanzhou a ser alcançado, melhorando os benefícios ecológicos e econômicos na bacia hidrográfica.

Outro elemento-chave do processo de restauração foi o agro-florestamento, apoiado pelo governo local: os agricultores continuaram a cultivar grãos como amendoim, gergelim e legumes entre os pomares restaurados e criaram galinhas Silkie (de ossos pretos e plumagem fofa) em pomares e plantações florestais. Isso garantiu o retorno econômico nos estágios iniciais do projeto e ajudou a melhorar a fertilidade do solo. Além de construir represas e lagoas, as agências governamentais forneceram empréstimos às famílias para ajudá-las a começar.

História de sucesso

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), cerca de 21,9%, ou 206.861.000 hectares da China, foram reflorestados em 2010. Em apenas uma década, a iniciativa de restauração de Qianyanzhou e ações semelhantes em todo o país aumentaram a área florestal total da China em 74,3 milhões de hectares. A cobertura florestal de Qianyanzhou aumentou de 0,43% para quase 70%.

“Qianyanzhou é uma história de sucesso de restauração em larga escala que vale a pena aprender”, diz Tim Christophersen, da ONU Meio Ambiente. “Espero que o governo da China continue compartilhando as lições aprendidas aqui e em outras províncias e continue investindo na restauração do clima, da biodiversidade e nos benefícios econômicos”.

Os esforços de restauração de Qianyanzhou ajudaram a região e o país a dar um grande passo na implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em particular os Objetivos 1 (erradicação da pobreza), 6 (água e saneamento), 8 (trabalho decente e crescimento econômico), 12 (consumo e produção responsáveis), e 15 (vida terrestre), bem como o Desafio de Bonn e a Declaração de Nova Iorque sobre Florestas, todos os quais se enquadram no programa de trabalho da ONU Meio Ambiente.

As florestas são uma importante e necessária frente de ação na luta global contra as mudanças climáticas catastróficas, graças à sua incomparável capacidade de absorver e armazenar carbono. As florestas capturam dióxido de carbono a uma taxa equivalente a cerca de um terço da quantidade liberada anualmente pela queima de combustíveis fósseis. Parar o desmatamento e restaurar as florestas danificadas, portanto, poderia fornecer até 30% da solução climática.

O Programa Colaborativo das Nações Unidas para Redução de Emissões do Desmatamento e Degradação Florestal em Países em Desenvolvimento (Programa UN-REDD) foi lançado em 2008 e se baseia no papel de convocação e perícia técnica da FAO, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e ONU Meio Ambiente.


a área florestal total da China aumentou 74,3 milhões de hectares
O chefe do setor de água doce, terra e clima da ONU Meio Ambiente, 
Tim Christopherson, visitou vários locais na região chinesa
Da ONU Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 11/01/2019

"Com projetos de restauração ecológica de larga escala, a área florestal total da China aumentou 74,3 milhões de hectares," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 11/01/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/01/11/com-projetos-de-restauracao-ecologica-de-larga-escala-a-area-florestal-total-da-china-aumentou-743-milhoes-de-hectares/.

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Anuário Estatístico do Patrimônio Espeleológico Brasileiro traz dados sobre 18 mil cavernas





Anuário Estatístico do Patrimônio Espeleológico Brasileiro traz dados sobre 18 mil cavernas


Anuário Estatístico do Patrimônio Espeleológico Brasileiro acaba de ser lançado pelo Cecav, centro de pesquisa do ICMBio, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente.
MMA


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Parque Nacional Cavernas do Peruaçu no norte de Minas Gerais
 
Brasília – O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (Cecav), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autarquia do Ministério do Meio Ambiente (MMA), acaba de lançar a primeira edição do Anuário Estatístico do Patrimônio Espeleológico Brasileiro.

O estudo traz dados sobre 18.358 cavernas brasileiras registradas no Cadastro Nacional de Informações Espeleológicas (Canie) até dezembro de 2018. As informações são divididas por temas como localização, bacias hidrográficas, biomas, solos, unidades de conservação, rodovias, ferrovias, assentamentos rurais, mineração, petróleo, usinas hidrelétricas e linhas de transmissão.

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Na elaboração do anuário, o Cecav cruzou os números do Canie com a base de dados dos órgãos e agências reguladoras do governo federal que atuam com cada tema, como a Agência Nacional de Águas (ANA), Ibama, ICMBio, Embrapa e Serviço Geológico do Brasil (CPRM), entre outros. O resultado é um panorama detalhado das cavernas conhecidas no Brasil.


VISÃO AMPLA
“Por ser uma análise estatística, o Anuário nos ajuda na leitura dos dados, a visualizá-los melhor, nos dando uma visão ampla de como está distribuído o patrimônio espeleológico brasileiro frente a diversas tipologias de empreendimentos e áreas protegidas”, diz o coordenador do Cecav, Jocy Cruz.


O estudo pode ser útil para vários setores da sociedade que lidam, de forma direta ou indireta com cavernas, entre eles, gestores ambientais, academia, estudantes e empreendedores. No caso de licenciamento ambiental de empreendimentos potencialmente impactantes ao patrimônio espeleológico, o cadastramento dos dados no Canie é obrigatório.

Na sua primeira edição, o Anuário apresenta um crescimento significativo das cavernas cadastradas. Em 2006, eram cerca de 4.500. Isso se deve, segundo Cruz, ao fortalecimento do trabalho de catalogação motivado pelo Decreto 6.640/2008, que regulamentou a gestão das cavernas.

“O decreto obrigou que empreendimentos potencialmente impactantes ao patrimônio espeleológico realizassem estudo espeleológico no âmbito do licenciamento ambiental, o que praticamente triplicou o número de cavernas conhecidas. Saímos de 6.280, em 2009, para 18.358 em 2018”, explica ele.

 DADOS
Em relação às unidades da federação, o Anuário mostra que Minas Gerais, com 7.622 cavernas, é o estado brasileiro que detém o maior número de cavidades naturais subterrâneas, seguido pelo Pará com 2.630, Bahia com 1.367 e Rio Grande do Norte com 1.047.

No que se refere às regiões hidrográficas, os números apontam que 6.995 cavernas estão inseridas na bacia do Rio São Francisco e 4.531 na bacia do Tocantins. Juntas, abrigam 63% das cavidades naturais. Já as regiões hidrográficas do Uruguai e Atlântico sul possuem a menor quantidade de cavernas, não passando de 3%.

Com relação à localização por biomas, o estudo constata que 9.177 das cavernas conhecidas no Brasil encontram-se no Cerrado, o que equivale a praticamente metade delas. Já o Pampa e o Pantanal, juntos, têm menos de 1%, com 59 e 16 cavernas, respectivamente.

No cruzamento de dados do Canie com as informações de unidades de conservação (UC) federais, estaduais, municipais e particulares, observou-se que, das 2.644 UCs, apenas 215 delas, ou seja, 8% abrigam 6.380 das cavernas. Dessas, 54% encontram-se em unidades classificadas como de uso sustentável e 46% de proteção integral.

MAPA O Cecav também acaba de lançar o Mapa de Ocorrências de Cavernas Brasil. O material foi elaborado a partir da sobreposição da base de dados do Canie de 18 de abril de 2018 e contém 17.875 cavernas.

O mapa traz a visualização de cavernas cadastradas no Brasil e ainda apresenta o tipo de solo e rocha em cada uma delas. O usuário pode, ainda, fazer o download no formato pdf e os dados vetoriais com as regiões de ocorrência de cavernas em formato shapefile.

Por: Ascom MMA, com informações do Cecav/ICMBio/MMA.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 11/01/2019


"Anuário Estatístico do Patrimônio Espeleológico Brasileiro traz dados sobre 18 mil cavernas," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 11/01/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/01/11/anuario-estatistico-do-patrimonio-espeleologico-brasileiro-traz-dados-sobre-18-mil-cavernas/.

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