terça-feira, 4 de março de 2014

A 100 dias da Copa, Blatter diz que problemas estão sob controle


  • 04/03/2014
  • Brasília
Da Agência Brasil Edição: Carolina Pimentel
Copa 2014.


Em entrevista que marca a contagem dos 100 dias para a Copa do Mundo, o presidente da Federação Internacional de Futebol (Fifa), Joseph Blatter, disse que as dificuldades relacionadas ao Mundial estão sob controle. 

Blatter ressaltou que o período que antecede a Copa pode ser considerado pouco se ainda há problemas, o que, segundo ele, não é o caso do Brasil. 

Agora todos os problemas estão sob controle e daqui a 100 dias haverá um início excepcionalmente bom para uma competição excepcional”, disse em vídeo divulgado no site da Fifa na internet sobre as expectativas para a Copa do Mundo.



O presidente espera que os brasileiros recebam o torneio de braços abertos e que haja fair play (jogo limpo). “Os torcedores brasileiros apoiarão a seleção desde o começo e esperam que o Brasil vá até o fim. 

Mas há outras 31 equipes que querem evitar que o Brasil esteja na final, e é por isso que o nível da competição será tão alto. 

Será como uma luta, mas com espírito esportivo, onde o futebol também transmitirá uma mensagem de jogo limpo, disciplina e respeito”.

O dirigente destacou ainda a paixão dos brasileiros pelo futebol."O país onde surgiu o futebol-arte é o Brasil", lembrou o presidente da Fifa. Segundo ele, o espírito brasileiro e a capacidade do país em jogar futebol fazem a próxima Copa especial."


Blatter mencionou a histórica derrota brasileira no estádio do Maracanã, há 64 anos. "A última Copa no Brasil foi organizada em 1950 e o país perdeu a decisão no Maracanã contra o Uruguai, então agora todos os brasileiros esperam que a seleção seja campeã em casa", disse.

Em sua conta no Twitter, a presidenta Dilma Rousseff destacou que a data de hoje, início da contagem regressiva, é muito especial para todos os brasileiros. 

"Faltam 100 dias para a Copa e o país está na reta final dos preparativos para a grande festa", escreveu a presidenta, ao lembrar a iluminação especial que as cidades-sede da Copa vão receber. 


Segundo ela, as cidades se iluminarão em verde e amarelo para lembrar que o momento esperado pelo mundo todo está chegando.  

"Os brasileiros estão prontos para mostrar que sabem receber bem os turistas e contribuir para que esta seja a Copa das Copas." 

De acordo com Dilma, a Copa das Copas tornou-se mais que um torneio de futebol. "Ela é a Copa pela Paz e a Copa contra o Racismo", destacou.

New York Times diz que eventos no Rio estão estressando prefeito



O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), estaria sob forte estresse e teria apontado a realização de dois grandes eventos na mesma cidade como algo desaconselhável, segundo perfil publicado pelo jornal norte-americano The New York Times no dia 28 de fevereiro. Possivelmente esse também seria o motivo para os acessos de raiva de Paes nos últimos tempos, disse o NYT.
 
"Nunca na sua vida faça uma Copa do Mundo e uma Olimpíada ao mesmo tempo", teria afirmado o prefeito em um debate, acrescentando que as manifestações populares de junho do ano passado tornaram tudo ainda pior. "Isso fará a sua vida praticamente impossível."

Segundo o NYT, o prefeito teria lançado um cinzeiro contra um dos seus assessores, um grampeador em outro e insultado uma vereadora em seu gabinete chamando-a de vagabunda, além de ter dado um soco em um rapaz dentro de um restaurante japonês. Tudo isso seguido de um pedido de desculpas e a justificativa de que estaria sob forte estresse, fruto de sua jornada diária de 15 horas de trabalho, descreveu o jornal.

O perfil diz ainda que políticos de todo o País devem ter pensado que acolher esses eventos poderia abrir um caminho para o Brasil fazer as reformas necessárias e se tornar uma potência entre os emergentes (inclusive para receber esse tipo de celebração). Mas, segundo o NYT, o próprio prefeito reconheceria que as coisas não funcionaram como o esperado.

O resultado, segundo a reportagem, envolve "embaraçosos" atrasos nas obras de estádios, aeroportos e demais sistemas de transporte nas cidades-sede. Tudo isso turbinado pela insatisfação crescente com os serviços públicos.

Enquanto isso, a população questiona por que o governo está financiando os eventos, enquanto escolas públicas e hospitais permanecem precários, destacou a publicação. Além disso, segundo o NYT, remoções de moradores de favelas também estariam estimulando ressentimentos em relação aos grandes projetos de desenvolvimento.

"Enquanto isso, o explosivo Sr. Paes, cuja sorte política estava crescendo antes dos protestos, se acha no centro de uma disputa cada vez mais feroz sobre em que tipo de cidade o Rio está se transformando", diz o NYT, mostrando que alguns populares entrevistados pela reportagem chegam a se referir ao prefeito como "171".

Apesar disso, o jornal norte-americano lembra que Paes é mais admirado fora do que em sua própria cidade. 

O NYT menciona que, em uma reunião de cúpula realizada na África do Sul em fevereiro, o prefeito do Rio sucedeu o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg como líder do C-40, uma rede de cidades que pretendem reduzir emissões de gases que provocam o efeito estufa.

O prefeito não deu entrevista para falar sobre o assunto.

Fonte: Agencia Estado Jornal de Brasília


Bebê de 9 meses morre em hospital com hematomas após festa,



Uma bebê de 9 meses morreu depois de ser encontrada pelos pais com hematomas no rosto após uma festa na casa deles, em Presidente Prudente (SP), na madrugada desta terça-feira. 

A menina chegou desacordada ao hospital regional da cidade e foi internada em estado grave. Ela foi entubada por volta das 2h e recebeu atendimento médico, mas não resistiu aos ferimentos e morreu às 4h20. 



A Polícia Civil em Presidente Prudente abriu inquérito para investigar a morte. 

Os pais da criança relataram em depoimento que dois amigos que participavam da festa na rua Estevam Peres Bomediano, no Jardim Paulista, encontraram o bebê desacordado e avisaram a família. Estranhando os hematomas pelo rosto, os pais levaram ela para o hospital. 

A causa da morte ainda não foi informada.


TERRA

Tragedia que se repete.Homem morre soterrado após forte chuva em Angra dos Reis



A casa da vítima foi levada pela terra após uma chuva Foto: Felipe de Souza/Prefeitura de Angra dos Reis / Reprodução
A casa da vítima foi levada pela terra após uma chuva 



Um homem morreu soterrado após um deslizamento de terra em Angra dos Reis, na Costa Verde do Rio de Janeiro, na noite do último domingo. 

Segundo informações da Defesa Civil de Angra, a terra atingiu três casas na rua Isidoro de Castro, no morro da Pedreira. O corpo de José Domingos Santos da Silva, 42 anos, só foi encontrado na manhã de segunda-feira. A Defesa Civil interditou seis casas e um trecho de rua.


Segundo vizinhos, José Domingos morava há mais dez anos no local. A casa dele foi levada pelo deslizamento, atingindo outras duas construções. Ontem, a prefeita de Angra, Conceição Rabha, e o vice-prefeito Leandro Silva, estiveram no local, acompanhados pelos secretários de Defesa Civil, Marco Oliveira; de Obras, Jefferson Deccache, e de Ação Social, Inês Tenório.


Na quinta-feira, a equipe da Defesa Civil voltará ao local, depois que o material assentar e estiver mais seguro andar pelos escombros. “Faremos uma nova avaliação para determinar se existe a necessidade de interditar mais residências. Por enquanto, preventivamente, esses moradores que vivem ao redor do deslizamento ficarão em casa de parentes”, explicou o secretário Marco Oliveira.


A prefeita garantiu à comunidade a realização de uma obra emergencial imediata, de contenção e novo sistema de drenagem. “A Prefeitura dará todo apoio. As famílias serão cuidadas, receberão apoio, alimento e depois da avaliação, serão incluídas no nosso programa de aluguel social. A obra emergencial na localidade será feita imediatamente, para manter os demais moradores da região seguros”, disse.


Segundo levantamento feito no local pelos engenheiros da Defesa Civil, a causa do deslizamento foi a combinação entre uma forte chuva e um acúmulo de lixo na encosta e na canaleta da rua Isidoro de Castro. Parte da água que deveria escoar pela rede de drenagem acabou desviando-se, atingindo a residência.


O secretário de Obras e Habitação, Jefferson Deccache, explicou que serão necessárias várias ações no local para assegurar a manutenção das moradias no local. Além da limpeza, uma obra de contenção será necessária.


TERRA

A fronteira da lavagem

ISTO É

Casas de câmbio improvisadas em cidades bolivianas lavam milhões de dólares do terrorismo, do tráfico e da corrupção


No nervoso mercado financeiro de Quijarro e Porto Suárez, cidades bolivianas a menos de 20 quilômetros de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, funciona a todo vapor uma feira livre de dólar e de outras moedas estrangeiras. 

Maltrapilhos e de chinelos, adolescentes e mulheres desfilam com bolsas cheias de dólares na frente de agências de turismo e dos bancos. Recrutados por doleiros clandestinos, esses mendigos transformados em laranjas do mercado financeiro tentam negociar as principais moedas do mundo com turistas e investidores estrangeiros.
A exemplo desses laranjas e de outras dezenas de instituições financeiras da avenida Simon Bolívar, em Porto Suárez, o Proden Oportunidad – Fondo Finaciero Privado S.A. – também faz questão de anunciar sua principal atividade com alarde: enviar qualquer quantidade de dinheiro, legal e ilegalmente, para qualquer lugar do mundo. “La manera más rápida de enviar dinero a todo el mundo”, anuncia o letreiro da Proden. 


Demonstrando interesse em enviar US$ 5 mil para o Líbano, os repórteres de ISTOÉ entram no banco e são atendidos pelo gerente Félix Ramos, que se esforça para provar a veracidade do anúncio. “Não tem burocracia nem controle do governo. Estamos acostumados a mandar dinheiro para o Oriente Médio e para qualquer parte do mundo. O senhor me paga US$ 215 dólares e, por intermédio do Banco Internacional Western Union, o dinheiro chegará lá imediatamente”, afirma Ramos.

Localizada do outro lado da fronteira, em Corumbá, a rua Vereador Edu Rocha não vive a mesma realidade. Considerada o coração financeiro do mercado livre do narcodólar, a Edu Rocha tornou-se o ponto de encontro de cambistas e laranjas. Estabelecimentos comerciais servem de fachadas para casas de câmbio, que funcionam sem a autorização do Banco Central. 

Na Edu Rocha, a reportagem de ISTOÉ também não encontrou dificuldade para negociar a compra de US$ 200 com o dono do Armazém Pantanal, que se identifica apenas como Paraná. 

Atuando como intermediário, Paraná revela que trabalha para outros dois cambistas da Edu Rocha: o libanês conhecido pelo nome de Ali, dono da loja Manara, e outro cujo primeiro nome é Carlos, proprietário da Vidros e Borracha Pantanal. “Mas se você precisar de dinheiro graúdo terei que apelar para o libanês Mohamed Mohamed, o atual homem forte do dólar em Corumbá”, revela Paraná.

Cenas como essas demonstram que os olhos atentos de agentes da CIA (o serviço secreto dos EUA) e da Polícia Federal, que investigam a conexão do narcotráfico com o terrorismo internacional, não têm intimidado as instituições financeiras e os cambistas de origem libanesa que atuam na fronteira do Brasil com a Bolívia. 

As suspeitas da PF começaram a vir à tona no final do ano passado, quando a Unidade de Inteligência Financeira da Bolívia (UIF) detectou remessas ilegais dos bancos da Bolívia para o Oriente Médio e para os EUA que totalizam US$ 280 milhões. 

O rastreamento da UIF boliviana responsabilizou o libanês naturalizado brasileiro Khaled Nawaf Aragi pelas transações financeiras. Condenado a oito anos de prisão por ter lavado US$ 17 milhões do traficante carioca Fernandinho Beira-Mar e por operar casas de câmbio em Corumbá sem a autorização do BC, Khaled está preso na Penitenciária de Segurança Máxima de Campo Grande. 

Ele se tornou peça principal de outro inquérito da PF que investiga as operações de lavagem e as supostas ligações do crime organizado com o terrorismo internacional.

Milícias árabes – Além de documentos que comprovam o envio de recursos para o Líbano e para outros países do Oriente Médio, as evidências das ligações de Khaled com o terrorismo são reforçadas pelas fotos de supostos guerrilheiros carregando fuzis AK-47 e outras armas usadas por milícias árabes, anexadas aos autos do processo. 

As fotos foram apreendidas em 1999 por agentes da Polícia Federal em duas empresas de fachada de Khaled na Edu Rocha – a agência de viagens HWS Rocha Turismo e o Atacado Cuiabá –, onde eram realizadas as operações de câmbio.

 A PF suspeita que as fotos foram tiradas no sul do Líbano durante o treinamento do Hezbollá. Segundo a assessoria da PF no Mato Grosso do Sul, a Justiça Federal tem dado ao inquérito um tratamento de segurança nacional a ponto de negar o acesso aos autos até dos advogados dos réus. Junto com Khaled foram presos duas dezenas de cambistas e laranjas, a maioria de origem libanesa, que o ajudavam a enviar dinheiro para o Exterior. Dois irmãos de Khaled e outros doleiros conseguiram fugir para o Líbano.

Carregando sacolas cheias de dólar, os laranjas atravessavam a fronteira até os bancos de Quijarro e Porto Suárez, que se encarregavam de executar a evasão. Disposto a apagar os rastros de suas operações, Khaled escolhia a dedo seus laranjas. 

A PF descobriu, por exemplo, que um deles, Hercílio Rosa, é surdo-mudo de nascença. “Não temos a menor dúvida de que o mesmo esquema da fronteira que está lavando o dinheiro do tráfico e do crime organizado está sendo usado para lavar o dinheiro do terrorismo internacional”, afirma Ramiro Rivas Montealegre, presidente do UIF da Bolívia. 

De acordo com boletins da CIA distribuídos ao governo boliviano, após o atentado de 11 de setembro nos EUA, muçulmanos fundamentalistas da tríplice fronteira do Brasil com a Argentina e o Paraguai estariam utilizando os bancos de Porto Suárez e Quijarro para enviar dinheiro para o Oriente Médio

Separada apenas por uma rua de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, o município paraguaio de Pedro Juan Caballero também teria se transformado em outra rota importante de remessa de dinheiro para o Exterior.

Conhecido por ter condenado mais de 200 traficantes, Odilon de Oliveira, juiz federal de Campo Grande (MS), acredita que, apesar dos esforços dos serviços de inteligência financeiros, criados em todo o mundo a partir de 1988 para rastrear o dinheiro do crime organizado, as máfias que operam nas fronteiras do Brasil nunca lavaram tanto.

A tese de Odilon é baseada em documentos do Banco Central sobre as transações irregulares, que colocam em dúvida o real funcionamento do Mercosul. 


Os levantamentos do BC apontam, por exemplo, que somente uma conta CC-5 (não residentes no Brasil) no Banco de Crédito Nacional (BCN) de Ponta Porã, movimentada pelo “fantasma” Pedro Paulo Velasques, lavou e enviou para o Exterior R$ 548.890.568, o que corresponde à metade do valor do saldo da balança entre o Brasil e o Paraguai no ano 2000, que, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, foi de R$ 1,1 bilhão. 

De acordo com investigações do Ministério Público de Dourados (MS), há fortes indícios de que o “fantasma” Velasques, inventado por traficantes da região, lavava também o dinheiro desviado da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) pelo empresário Osmar Borges, acusado de envolvimento com o ex-senador Jader Barbalho (PMDB), assim como o dinheiro desviado do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo pelo juiz aposentado Nicolau dos Santos Neto. 

De acordo com o BC, somente no BCN foram lavados e enviados irregularmente para o Exterior, em apenas dois anos, R$ 21 bilhões. 

Esse valor é 13 vezes maior que o das exportações do Brasil para o Uruguai em 2001 (de R$ 1,6 bilhão) ou 24 vezes maior que as exportações para o Paraguai, que, de acordo com dados da Câmara de Comércio Exterior (Cacex), foram de R$ 842 milhões.

Fim do sigilo – Os paraísos fiscais não estão nas Ilhas Virgens e sim em nossas fronteiras, onde a mesma máfia que lava o dinheiro do narcotráfico lava o dinheiro da corrupção e do terrorismo”, afirma o juiz Odilon. Pelos cálculos do juiz, cerca de US$ 10 milhões são enviados irregularmente para o Exterior pelos bancos das fronteiras do Brasil com o Paraguai e a Bolívia. 

Para Odilon, nem mesmo a aprovação da lei de lavagem de dinheiro, em 1998, e a criação do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) têm sido suficientes para impedir o crescimento assustador das operações de lavagem na fronteira. 

O juiz acredita que somente a quebra do sigilo bancário e o acesso do Ministério Público a todas as operações de transferências de crédito conseguirão conter as operações financeiras ilícitas na região. 

A lei de lavagem diz que todas as operações devem ser comunicadas ao Banco Central. Só que, quando o BC tem conhecimento da operação, o dinheiro já está longe. Foi o que aconteceu com os R$ 21 bilhões lavados do BCN de Ponta Porã. Os 60 laranjas e fantasmas nunca foram encontrados, e o dinheiro jamais será recuperado,” diz Odilon.

Um dos principais estudiosos do crime organizado, o juiz aposentado Walter Maierovitch, ex-secretário nacional Antidrogas, também coloca em dúvida os resultados práticos obtidos pelas organizações internacionais na luta contra a lavagem de dinheiro. 

Fundador e presidente de uma organização não-governamental que estuda problemas relacionados ao crime, o Instituto Brasileiro Geovanni Falconi, Maierovitch aponta a rede telemática, a internet dos bancos, como a grande vilã das operações financeiras ilícitas. 

Operado por meio de agências financeiras especializadas (no Brasil o mercado é controlado pela suíça Swift), o sistema permite transferências financeiras online entre bancos localizados em diferentes partes do mundo. 

Ao contrário das auditorias do Banco Central e das UIFs que tentam rastrear o dinheiro da corrupção e do crime organizado, a rede telemática é ágil e rápida. 

Por meio dela, basta um gerente de um banco digitar uma senha e a tecla enter do computador para, em segundos, o dinheiro do crime organizado estar em outra parte do mundo. 

É essa a mágica que permite a doleiros como Khaled e instituições financeiras bolivianas, como a Proden, que se ofereceu para enviar dinheiro para o Líbano aos repórteres de ISTOÉ, fazer remessas de dinheiro para qualquer parte do mundo.

Pode invadir que o governo financia, garante e aplaude



José Rainha Jr. é uma espécie de dissidência do MST, o Movimento dos Sem-Terra. 

Seus métodos de luta são tão heterodoxos que mesmo um grupo que não hesita em recorrer à violência e à destruição da propriedade privada o rejeita. 

Por isso, ele criou seu próprio MST, por ele batizado de Frente Nacional de Lutas (FNL). 

Neste fim de semana, durante o que chamou de “Carnaval Vermelho”, a tal frente invadiu nada menos de 24 fazendas em São Paulo — a Justiça já determinou a reintegração de posse de nove delas.

Ora, por que não faria isso? É o Palácio do Planalto que incita a invasão; é o governo; é Gilberto Carvalho. No dia 12 do mês passado, os sem-terra promoveram uma arruaça na Praça dos Três Poderes. Ameaçaram, entre outras coisas, tomar o Supremo Tribunal Federal. Trinta policiais ficaram feridos, oito deles com gravidade. 

No dia seguinte, por mais escandaloso que pareça e realmente seja, a presidente Dilma Rousseff recebeu os líderes do MST no Palácio do Planalto, e Carvalho compareceu à abertura do seminário da turma, em Brasília.

Descobriu-se depois que o BNDES, a Caixa Econômica Federal e a Petrobras haviam dado dinheiro para o evento do MST em Brasília, aquele mesmo que degenerou em pancadaria. 

Ora, se espancadores e arruaceiros são financiados pelo poder público e recebidos pela presidente no Palácio, por que os ditos sem-terra iriam se intimidar? É claro que não!

Em entrevista ao Estadão Online, afirmou Luiz Antonio Nabhan Garcia, presidente da União Democrática Ruralista: “Os sem-terra invadem porque o governo apoia, jogam todos no mesmo time. Estamos caminhando no mesmo rumo que a Venezuela”.

Exagero? Não! Ele está certo. Milícias armadas do oficialismo espancam hoje nas ruas os que protestam em favor da democracia na Venezuela. São grupos financiados pelo governo para se impor na base da pancadaria, da violência e da intimidação.

Questionado sobre o financiamento oficial aos eventos do MST, o que disse Carvalho? Reafirmou que o governo continuará a repassar dinheiro ao movimento e deu a entender que uma das funções do estado é financiar grupos ideológicos. 

É justamente essa a concepção de poder que vigora na Venezuela, que é, hoje, sem sombra de dúvidas, uma ditadura. Mais: há dias, num seminário no Ministério da Justiça, Carvalho, por palavras oblíquas, censurou a Justiça por conceder reintegrações de posse. 

Ele defendeu que os casos de invasão sejam sempre “resolvidos” por uma espécie de junta de conciliação. Ou por outra: para o ministro, invasor e invadido são partes igualmente legítimas do conflito.

Não custa lembrar: Rainha, o líder das invasões de São Paulo, já foi preso 13 vezes — nem sempre por questões ligadas à terra. É uma das ditas lideranças do petismo que estão empenhadas no movimento “volta Lula”. Há dias, esse patriota foi visitar na cadeia o ex-deputado presidiário João Paulo Cunha, um dos mensaleiros.
No país em que o crime compensa e é financiado por estatais, os criminosos se sentem livres par agir.
Texto publicado originalmente às 2h115
Por Reinaldo Azevedo

Policiais de UPP são baleados na Rocinha

Tiroteio ocorreu por volta das 5h, horas depois de policiais encerrarem um baile funk. Protesto fechou Autoestrada Lagoa-Barra no início da manhã

Passarela da Rocinha, projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer
Passarela da Rocinha, projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer 


Dois policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Polícia Militar (PM) na Rocinha, na Zona Sul do Rio, foram baleados na madrugada desta terça-feira, em confronto com um grupo armado. 

O clima ficou tenso na Rocinha até o dia amanhecer. Por volta das 5h, um protesto de moradores fechou a Autoestrada Lagoa-Barra, em São Conrado, na saída do Túnel Zuzu Angel. Os manifestantes colocaram fogo em lixo e teriam jogado pedras em carros que passavam pelo local.

Os policiais foram socorridos e passam bem, segundo a Coordenadoria de Polícia Pacificadora. Um deles foi atingido no braço, de raspão, e liberado após ser atendido. Já o outro policial ferido foi atingido no abdome, teve que ser levado ao Hospital Central da Polícia Militar, mas tem estado de saúde estável.

O confronto ocorreu na Estrada da Gávea, esquina com a Rua da Cachopa, na localidade da Rocinha conhecida como Macega. Segundo a assessoria de imprensa da PM, uma equipe da UPP circulava pela área quando se defrontou com um grupo de seis a oito homens armados de pistolas, dando início ao tiroteio, por volta de 4h.

Em seguida, um homem atirou num transformador de luz, deixando parte das casas da Rocinha sem energia elétrica. Alguns estabelecimentos comerciais também foram depredados, ainda de acordo com a PM.

Leia também: Depois da folia, bloco dos assaltados lota delegacias

Baile - O jornal comunitário Rocinha Notícias publicou em sua página no Facebook que policiais da UPP encerraram um baile funk na Via Ápia, principal rua da Rocinha, na parte baixa da comunidade, mas a PM descartou relação entre o caso e o protesto da madrugada. 

Segundo a assessoria de imprensa da Coordenadoria de Polícia Pacificadora, policiais foram ao local para encerrar o baile funk por volta de 3h. 

A ação contra a festa foi motivada por reclamações, por telefone, de moradores da Rocinha, incomodados com o barulho. O baile havia sido autorizado pela UPP, mas o horário máximo de tolerância era 1h.

Para conter a manifestação, os policiais da Rocinha receberam reforço de agentes de outras UPPs da Zona Sul e do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq). Os manifestantes foram dispersados com bombas de efeito moral e a via foi liberada.

Policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) também foram acionados. Até o fim da manhã, ninguém havia sido preso e a PM seguia fazendo buscas na Rocinha para encontrar o grupo armado.

(Com Estadão Conteúdo) VEJA Noticias


Brasil, 100 dias para a Copa do Mundo. Sem dias a perder


Na contagem regressiva para o torneio, confira 100 dúvidas em torno do evento

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Cerimônia de encerramento antes da final da Copa das Confederações da partida de futebol entre Brasil e Espanha, no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro

Cerimônia de encerramento antes da final da Copa das Confederações da partida de futebol entre Brasil e Espanha, no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro - Ivan Pacheco


O Brasil de 2014 não é tão diferente assim do país que ganhou a oportunidade de ouro de receber o Mundial, em 2007. Uma pena. Nessa reta final, restará aos anfitriões trabalhar duro para evitar algum vexame no evento 
A contagem regressiva para o pontapé inicial da Copa do Mundo entrou na reta final nesta terça-feira: são apenas 100 dias até Brasil e Croácia se enfrentarem no gramado do Itaquerão, em São Paulo, na tarde de 12 de junho. 

As seleções participantes estão definidas, os grupos estão montados e a tabela de jogos está pronta, com todos os doze estádios confirmados (ainda que alguns não tenham sido entregues até agora). 

Apesar de algumas certezas, o Mundial está cercado por muitas dúvidas – e, desta vez, elas não estão restritas ao desempenho dos atletas e seleções nos gramados. A partir de agora, os envolvidos no evento – dos craques observados a cada lance por bilhões de pessoas pela TV aos operários que trabalham de forma anônima nas últimas tarefas nos estádios –, têm todos uma coisa em comum: a certeza de que não há mais um dia sequer a se perder nos preparativos para o maior evento esportivo do planeta. 

São 100 dias que separam o país, sua seleção e seus concorrentes da glória ou do fiasco. Cem dias decisivos para começar a escrever a história da Copa do Mundo de 2014.


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O país do Mundial

O Brasil de 2014 não é tão diferente assim do país que ganhou a oportunidade de ouro de receber o Mundial, em 2007. Uma pena: apesar de ter sido confirmado como sede da Copa com um prazo mais do que suficiente para promover transformações radicais nos aeroportos, nos transportes e nas cidades, muitas promessas não saíram do papel. 

Nessa reta final, restará aos anfitriões trabalhar duro para que pelo menos o país não protagonize nenhum grande vexame no evento.






Protestos



As manifestações nas ruas contra os gastos excessivos com o evento serão tão grandes quanto as que paralisaram o país em junho de 2013 ou os protestos serão esvaziados pela euforia na Copa?

Os estádios, ainda

O país da Copa não precisava de doze estádios novos ou completamente reformados. Não precisava sequer de doze sedes – as edições passadas do torneio aconteceram num número menor de arenas. Ainda assim, o Brasil insistiu em erguer ou remodelar esse número exagerado de palcos para a competição. Quase não deu conta da empreitada – a 100 dias da abertura, quatro ainda estão incompletos, e ainda faltam as estruturas temporárias para a Copa em todos os estádios.


Itaquerão

O palco da abertura, em 12 de junho, estará completamente concluído, inclusive com arquibancadas provisórias, depois dos atrasos no financiamento e do acidente que matou dois operários?

As 12 cidades-sede

A briga foi acirrada para entrar no mapa da Copa. Sonhando com investimentos bilionários em infraestrutura e fartos lucros no período do evento, muitas capitais brasileiras concorreram a um lugar no torneio. Faltando pouco menos de três meses para a estreia, porém, é difícil apontar alguma sede que tenha aproveitado de verdade a chance de usar o evento para se modernizar e melhorar. Pelo contrário: a grande maioria chega às portas da Copa como incógnita.


Aeroportos

Haverá transtornos no embarque e desembarque de turistas, jornalistas, convidados e delegações nos sete aeroportos de cidades-sede que terão obras ainda inacabadas quando o Mundial começar?

E, enfim, o futebol

Se a organização e a infraestrutura do país preocupam, pelo menos no campo a torcida da casa tem motivos para se animar. Não será fácil, é verdade: seleções poderosas, como Alemanha, Argentina, Espanha e Itália, estão a caminho do Brasil, e supercraques como Lionel Messi e Cristiano Ronaldo estão escalados para o torneio. Mas a equipe do técnico Luiz Felipe Scolari vai brigar pelo título, apostando num empurrão da torcida, na experiência do treinador e no brilho de Neymar.


Neymar

Com a responsabilidade de vestir a camisa 10 da seleção e liderar o time na tentativa de conquistar o hexa, o jovem craque vai corresponder a todas as expectativas dos torcedores brasileiros?

Rebanhão,evento religioso, chega ao último dia

Evento reúne música e oração
O Rebanhão, evento religioso realizado pela Renovação Carismática Católica, acaba nesta terça-feira, com muita música e oração. 

A previsão é que durante os três dias de duração o encontro tenha reunido 35 mil pessoas no Ginásio Nilson Nelson. 

"Hoje está mais cheio e animado. Os palestrantes são muito bons. Estou achando ótimo", disse Milena de Sousa, de 16 anos, que participa do último dia do encontro. 

O Rebanhão, que já acontece há 28 anos em Brasília, é gratuito e aberto a qualquer religião. 

Nesta edição, o evento traz o tema "Reunidos num só corpo pela força da cruz". A animação fica por conta da Banda Arkanjos, de Goiânia, Vicente Machado e outros pregadores de Brasília. 

A programação inclui ambiente para as crianças. O "Rebanhinho", como é conhecido o lugar para os pequenos, é também um espaço de evangelização. 

O evento tem apoio das secretarias de Cultura e Esporte. 

Doações de alimentos não perecíveis são aceitas e serão encaminhadas à Comunidade Renovação Esperança e Vida Nova, que abriga 34 idosos em Planaltina.

Fonte: Agência Brasília


Porno-desperdício


 
 
A repórter Laura Capriglione mostra o que a Fifa e o governo africano varreram pra baixo do tapete durante a Copa da África do Sul

Durante a Copa do Mundo da África do Sul, o centro do Johannesburgo era o lugar perfeito para não estar. 

Naquele junho de 2010, guias turísticos faziam questão de advertir: “À noite, não vá!”

O normal ali é a polícia se retirar assim que o sol se põe e o comércio baixa as portas. Sem lei, os quarteirões ficam, então, entregues ao submundo do tráfico, a usuários em busca de droga, aos loucos, aos sem-teto, aos refugiados de tantos países africanos.

Naquele mês, não. O que não faltava era polícia. Vai que um turista desavisado resolvesse dar um rolé pelas ruas…

Mobilização do Exército para conter qualquer eventual tentativa de manifestação durante a Copa. A foto foi tirada no dia da abertura da Copa, a caminho do Soccer City.

Mobilização do Exército para conter qualquer eventual tentativa de manifestação durante a Copa. A foto foi tirada no dia da abertura da Copa, a caminho do Soccer City. 

Como repórter cobrindo a Copa do Mundo, eu tinha sido convidada com outros colegas pelo bispo da Igreja Metodista Sul-Africana, Paul Verryn, a conhecer uma situação que julguei impossível de ver exposta aos olhos da mídia de todo o mundo, em uma cidade-sede da Copa do Mundo.

Nem havíamos bem estacionado o carro, quando duas viaturas aproximaram-se ansiosas. De dentro de uma delas, saiu o sargento Nzama Ngobeni que foi logo advertindo: “Eu, se fosse você, não entraria aí. Tudo pode acontecer em um lugar como esse”. Fomos.

Acompanhados por um assistente de Verryn, entramos na escuridão do prédio, onde pelo menos 2.000 pessoas acotovelavam-se no chão, em um frio de 0ºC. 

No lugar de colchões, papelão.

O cheiro azedo de urina e suor, misturado a alguns restos de comida, criava uma atmosfera nauseante. Como faltasse espaço no chão, vários homens tinham de dormir nas escadarias do prédio. 

Mas os degraus estreitos não permitiam a acomodação na largura. O jeito era enrolar-se no cobertor fino e, como uma múmia, tentar se equilibrar –a cabeça em degraus mais altos, os pés nos mais baixos. Qualquer movimento em falso e o corpo escorregava; às vezes atropelando outro albergado no lugar.

Cercados pela polícia, os sem-teto da Igreja Metodista eram os últimos remanescentes da “faxina” promovida pelo governo de modo a retirar da cidade-sede da Copa do Mundo, os milhares de sem-tetos que vivem nas ruas de Johannesburgo, principalmente no centro. 

A maioria deles foi desovada em subúrbios, como Brixton e Illovo. Os renitentes 2.000 que permaneceram na igreja, boa parte refugiados zimbabuanos, moçambicanos e congoleses, não saíram por receio de perder em definitivo o contato com seus parentes distantes _a igreja de Verryn é referência internacional no acolhimento de refugiados.

Apesar dos gastos astronômicos com a construção dos estádios (R$ 5 bi), nenhum tostão foi endereçado pelo governo para os abrigados na igreja sitiada pela polícia. Sem víveres, sem remédios, eles acabariam “optando” por sair. Ressalte-se que também não havia, então, um só albergue público na cidade.
Cartaz símbolo da Copa, é parodiado: "FIFA é ladra".
Cartaz símbolo da Copa é parodiado: “FIFA é ladra”.

Mas eles ficaram, graças aos convênios da igreja com ONGs, como os Médicos Sem Fronteiras, que providenciaram também assistência médica e psicológica (a Aids é epidêmica nessa parte da África e muitos refugiados foram vítimas com suas famílias de massacres e perseguições).

Distância obscena

Apenas 13,5 km pela Oxford Road separam a igreja do bispo Verryn das Torres Michelangelo, de Sandton City, um luxuriante templo de consumo. Tão perto, tão longe. Como dizia o bispo Verryn, “a distância entre os ricos e os pobres neste país é mesmo obscena”. Ele explicava: “Apenas 4% tem 40% da riqueza da África do Sul; 60% vivem com menos de U$ 100 por mês”.

Sandton é o lugar menos africano de Johannesburgo. O hotel-âncora do lugar chama-se Michelangelo e parece apoteose de escola de samba, em seu estilo florentino fake, com estátuas de anjos renascentistas, afrescos no teto, colunatas e mármore falso. 

Quando se consegue ultrapassar as lojas Gucci, Cartier ou Montblanc, ah!, aí se encontra uma estátua de 6 metros de altura retratando um Nelson Mandela risonho. Sim, Mandela ou o Congresso Nacional Africano não metem mais medo nos brancos ricos da África do Sul.

Excluído o centro da cidade em horário comercial, em Johannesburgo não há pessoas andando nas calçadas. Aliás, quase nem calçadas há. Não há faixas de pedestres, porque pedestres não há. Medo da violência urbana. E de estupros. E das gangues de estupradores (o país é conhecido como campeão mundial nessa modalidade de crime).

O resultado é que as pessoas só andam de carro –uns carrões, aliás. É Volvo e Mercedes pra tudo quanto é lado. Os pobres andam de van –umas vans podres, estilo (hiper)lotação. Quase não tem ônibus também –as empresas providenciam o transporte de seus funcionários; pegam-nos de manhã em casa e levam-nos de volta à noite. 

Quem não estiver empregado, não sai do bairro. Simples. Não tem essa de mobilidade urbana.

Mas como assim? Não foi o Congresso Nacional Africano,  o principal movimento contra o regime racista do apartheid, depois transformado em partido de esquerda, que ganhou as eleições de 1994? Não eram eles que vinham governando o país fazia 16 anos então?

As coisas ficavam mais estranhas ainda quando se olhavam as casas. A África do Sul é o sonho de consumo das empresas de segurança privada. Em bairros lindos, como o que cerca a Universidade de Pretória, na cidade que é o centro administrativo do país, onde treinou a seleção argentina, tudo é arborizado, como se fossem os Jardins de São Paulo, e as sólidas casas térreas espalhadas em terrenos amplos ostentam placas sinistras: “Reação armada.” Como ilustração, uma arma apontando para você.


Tipo de cerca utilizada em Pretória.
Tipo de cerca utilizada ao redor da Universidade de Pretória.


As placas são afixadas em cercas que mostram toda a criatividade dos projetistas a serviço das empresas de segurança. Esqueça aquela cerca caretíssima, feita de arame farpado, ou mesmo as concertinas (espirais de aço com lâminas cortantes), já populares no Brasil. 

Johannesburgo tem cerca com milhares de pontas em formato de estrelas, de tesouras, de anzóis que se enfiam na pele do invasor (se o cara quiser escapar, só arrancando um naco da própria carne). Deve ser um luxo, porque essas só se vê em casas grandonas.

Mas, voltando às placas ameaçadoras, tem uma empresa de segurança que se chama Piranha –assim mesmo, como em português. O pessoal que trabalha lá diz que é uma mensagem para os bandidos: “Se você entrar nestas águas, prepare-se para ser jantado vivo.”

Quem não vive nessas casas, mas não é pobre, opta pelos condomínios fechados. Tem muitas alphavilles espalhadas pela cidade mesmo –e não só nos subúrbios. Segurança é o negócio lá.
Foi nesse cenário de paranoia com a violência, as cidades perdendo a característica de centros de convivência com o diferente, que a Fifa deitou e rolou em 2010 e nos anos anteriores de preparação. 


Moradores sem-teto da Cidade do Cabo foram removidos para uma favela improvisada com contêineres de zinco, bem longe da vista dos aficionados por futebol.

Cidade de latinha

A esse campo de concentração com 3.000 almas deram o nome de Blikkiesdorp, que, em afrikkans (dialeto derivado do holandês, desenvolvido pelos colonos brancos) significa “Cidade de Latinha”.

Exatos 30 km separam o bairro de contêineres do centro da Cidade do Cabo, outra sede da Copa, uma espécie de Rio de Janeiro sul-africana. Lá, em vez de Pão de Açúcar, a beleza natural local é a fabulosa Montanha da Mesa, ou Table Mountain, que domina todo o cenário.

Na cidade maravilhosa africana construiu-se o estádio Green Point, com capacidade para 55 mil torcedores, ao custo de US$ 600 milhões. Fica quase vizinho ao refinado shopping Victoria & Albert, onde se localiza o restaurante Green Dolphin, que à noite oferece jazz do bom, ao vivo.

A Copa do Mundo foi a chance de a cidade se ver livre dos pobres inconvenientes. Era para ser um abrigo provisório, enquanto se construíssem habitações dignas. Mas os pobres seguem no mesmo local, morrendo de frio no inverno e assando no verão.

Os banheiros são coletivos e grupos de mulheres denunciaram que eles se transformaram em armadilhas usadas pelas gangues de estupradores. O jeito foi derrubar as paredes de vários desses banheiros, para evitar as tocaias. Ia-se ao banheiro a céu aberto, embrulhada em mil panos, mas era melhor isso do que aquilo.

A África do Sul levou ao paroxismo o desperdício explícito com a Copa. Porno-desperdício. Lá, o esporte mais bem equipado é o rúgbi, o preferido da elite branca. Não por acaso, foi com o rúgbi que Nelson Mandela, em 1995, na final da Copa do Mundo da modalidade, selou a idéia de uma nação arco-íris, todas as cores, todas as etnias, todas as classes vivendo em paz e liberdade. Essa história é o tema do filme “Invictus” (2009), dirigido por Clint Eastwood.

Estádio de Durban.
Estádio de Durban. 

Em Durban, esquina do mundo, onde conviveram Gandhi e o adolescente Fernando Pessoa, se investiram U$ 350 milhões para construir o magnífico estádio Moses Mabhida, com capacidade para 69.957 torcedores, bem ao lado de um… estádio de rúgbi, o Kings Park Stadium, com capacidade para 55.000 espectadores.

Resultado: o estádio da Copa, hoje um verdadeiro elefante branco, vale a visita apenas por causa do passeio em um trenzinho, o SkyCar, preso ao arco que lhe sustenta a estrutura. “A vista da cidade é magnífica!”, descrevem os usuários do site TripAdvisor. Podiam ter construído apenas o arco!

Camelôs e artesãos proibidos de trabalhar

Ah!, mas sempre tem a possibilidade de os pobres se beneficiarem pelo impulsionamento do comércio de rua ou do artesanato, dirão alguns.

Bem, além de cuidar para que nada e nem ninguém estragasse a cenografia imaculada do show (o evento de 2010 na África do Sul foi transmitido para 204 países por 245 canais diferentes), a Fifa impôs, por exemplo, o monopólio de frases, como “África do Sul 2010”, ou “Copa da África”, ou “Copa do Mundo”.

O futebol, na África do Sul, historicamente, é coisa de proletário negro, trabalhador nas minas de ouro e diamantes. É por isso que um dos adereços principais dos torcedores sul-africanos são os capacetes de peão de obra, devidamente decorados com as cores dos times.

Chamados de marakapas, os capacetes são recortados e pintados. Transformam-se em adereços de cabeça. Naturalmente, fizeram-se capacetes com cata-vento, flor, bandeira sul-africana, miniatura de jogador. Mas ai do artesão que fizesse uma marakapa com as expressões monopolizadas pela Fifa. Tinha toda a produção apreendida.

Pap sendo preparado
Pap sendo preparado. 

Perto dos estádios, nas áreas reservadas aos torcedores, havia mais proibições. Por exemplo, barracas de comida e bebida só podiam vender as marcas patrocinadoras da Copa. 

Como nenhum vendedor ambulante de tripas de carneiro com papa de milho, os “boerewors” com “pap”, típicos da África do Sul, havia pago a cota de patrocínio, os turistas nas imediações dos elefantes brancos se viram privados de saborear as iguarias –assim como se tentou fazer com as baianas do acarajé na Bahia. Em vez disso, só Coca-cola, Budweiser, McDonald’s. Tudo devidamente autorizado.

Soccer City, estádio de Johannesburgo, em forma de cerâmica africana, com capacidade para 95 mil pessoas, chegou a ser apresentado pelo marketing da Fifa como uma forma de aproximar a Copa dos pobres do bairro negro de Soweto, sede de tantos combates contra o regime racista do apartheid.

Os moradores do bairro não se esquecem do chamado Levante de Soweto, do dia 16 de junho de 1976, quando a população negra insurgiu-se contra o assassinato pela polícia do menino Hector Pieterson, de apenas 12 anos. A repressão massacrou entre 30 e 500 pessoas, a depender da fonte. Todas negras, com certeza.

Em Soweto, sem som nas caixas

Mas a aproximação foi apenas física –Soccer City está a 19 km de Soweto. Excluída do estádio por conta do alto preço dos ingressos, a torcida pela seleção dos Bafana Bafana (moleques em zulu, apelido do time sul-africano, que jogaria contra o Uruguai) teve mesmo foi de se concentrar no parque Thokoza, perto de onde Pieterson foi assassinado. 

Aliás, o dia do jogo era inspirador, mesmo dia do sacrifício de Pieterson, 34 anos antes.

Soweto: durante os jogos, não havia caixa de som por lá, bem diferente das fan fests.
Soweto: durante os jogos, não havia caixa de som por lá, bem diferente das fan fests.

Não havia som nas caixas. Só mesmo os gritos dos torcedores. Umas poucas barracas ofereciam o ensopado de “boerewors” com “pap”. 

A qualidade da imagem era ruim. Soweto cantou o hino Nkosi Sikelel’I Afrika, ”Deus Abençoe a África”, o mesmo cantado em 1976, no protesto em que Pieterson caiu morto. 

Quando o atacante Forlán fez o primeiro gol, as vuvuzelas do parque silenciaram. Acabou a Copa para a África do Sul e sobrou muito pouco.

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