sexta-feira, 13 de março de 2020

Valor Econômico – A mudança do clima e o aeroporto londrino

Governo Bolsonaro considera que problema ambiental do Brasil é comunicação
Daniela Chiaretti é repórter especial.

Na quinta-feira o Tribunal de Apelação do Reino Unido, uma das cortes mais altas do país, decidiu vetar a expansão do aeroporto de Heathrow, dos mais movimentados do mundo. O caso vai e volta há anos no debate britânico sobre infraestrutura. Trata-se de um investimento de US$ 18 bilhões para a construção da terceira pista do aeroporto -que já opera mais de 1.300 voos por dia-, o que vai ampliar a capacidade em 50%. Organizações socioambientalistas conseguiram paralisar a iniciativa várias vezes alegando aumento da poluição do ar e sonora para a população local. Desta vez, entretanto, o argumento foi inédito: foi a emergência climática que barrou os planos de ampliar o famoso hub londrino.

A conta econômica da iniciativa soa gloriosa: o investimento significaria 260 mil voos adicionais ao ano para o aeroporto e US$ 99 bilhões de impulso à economia britânica ao longo de 60 anos, nos cálculos do Ministério dos Transportes. Tudo lindo nas planilhas Excel e tudo péssimo considerando-se que o Parlamento decretou emergência climática no Reino Unido em maio, que o país se comprometeu com a meta do Acordo de Paris de manter o aquecimento da temperatura bem abaixo de 2°C neste século e que as emissões aéreas de gases-estufa estão em forte alta.

Governo acha que problema ambiental do país é comunicação

A decisão abre um precedente que pode inspirar outros casos no mundo. O que torna a decisão da corte britânica tão especial é que no minucioso planejamento da expansão do aeroporto não se levou em conta o compromisso climático do país. Em 2020 é inaceitável que uma coisa não esteja ligada à outra, alegam ativistas de ONGs que bloquearam o plano como Friends of the Earth e Greenpeace e os de uma organização especializada em litígios climáticos, a Plan B. “A expansão de Heathrow não é consistente com o compromisso do governo assumido no Acordo de Paris. O governo revelou nem sequer ter considerado mudança do clima no planejamento”, disse ao Valor Tim Crosland, diretor da Plan B.

“Ganhamos!” tuitou o prefeito de Londres, Sadiq Khan. “Grande notícia!”, celebrou o ministro do Meio Ambiente, Zac Goldsmith, fazendo o que se espera de um ministro desta pasta se planos do governo podem causar danos ambientais. Os executivos de Heathrow prometeram apelar, mas a administração de Boris Johnson disse que não. “Difícil prever o que irá acontecer”, diz Crosland. O primeiro-ministro britânico tem comportamento errático, foi contrário à expansão do aeroporto no passado e tem à frente a condução da mais crucial conferência do clima da ONU dos últimos tempos, a CoP 26, em Glasgow, em novembro. É ingênuo imaginá-lo como um grande líder climático, mas nada está claro. Por outro lado, a ampliação de Heathrow combina com a visão conservadora de se promover a “Global Britain”, o slogan que rebate a ideia de isolamento que o país pode ter com o Brexit.

É preciso aguardar os próximos rounds do capítulo climático inaugurado pela resistência à expansão do aeroporto inglês, mas é inegável que o entendimento do que a mudança do clima provoca na vida contemporânea extravasou das bolhas ambientalistas.

Leia-se este parágrafo: “Nos Estados Unidos, será que as cidades serão capazes de suprir as necessidades de infraestrutura à medida que o risco climático muda o mercado de títulos municipais? O que acontecerá com as hipotecas de 30 anos - pilar fundamental das finanças - se credores não puderem estimar o impacto do risco climático para um horizonte tão longo. O que acontecerá com áreas afetadas por enchentes ou incêndios se não houver um mercado de seguros viável para esses eventos? O que acontece com a inflação e, por sua vez, com as taxas de juros, se o valor dos alimentos aumenta devido à seca ou às inundações? Como podemos modelar o crescimento econômico se os mercados emergentes veem sua produtividade cair como resultado das temperaturas extremamente altas e outros impactos climáticos?”. É um trecho da carta a lideranças empresariais divulgada por Larry Fink, CEO da BlackRock, a maior gestora global de ativos. Ele dá uma aula sobre os impactos da mudança do clima na economia. Diz que se está “à beira de uma mudança estrutural nas finanças”. O agente transformador, defende, é a sustentabilidade.

Mais que comunicação

A questão não é mais lateral na tomada de decisão, empreendimentos têm que ter lastro ambiental adequado. No Brasil, contudo, o governo de Jair Bolsonaro acredita que seu grande problema na área ambiental é de comunicação. Não é. Não se trata de como vender a pílula, mas do que ela contém. É questão de conteúdo, de ação, de postura, de inteligência. Até agora o governo Bolsonaro passou recibo negacionista e inoperante na agenda climática. O Ministério do Meio Ambiente tinha quadros históricos que entendem de negociação climática, mas que foram desligados na semana passada. A Secretaria de Relações Internacionais, que não entregou nada em 14 meses de governo, mudou de batismo e de comando. O termo “clima” - vejam que avanço - voltou a figurar no nome da secretaria que terá “perfil mais executivo”, anunciou o ministro Ricardo Salles, seja lá o que isso quer dizer. O Valor tem pedido esclarecimentos ao MMA, mas não tem retorno.

Salles, conhecido em 2019 como o antiministro do Meio Ambiente, parece ter iniciado 2020 como ministro de fachada. Comanda pasta estratégica para o país, mas totalmente drenada de recursos e esquartejada a cada dia. O ministro não reclama do corte de recursos e de atribuições. Bolsonaro, que ameaçou extinguir o MMA ou fundi-lo à Agricultura, parece ter optado por deixar um ministério agonizante e fazer jogo de cena.

Atribuições do MMA foram distribuídas a outras pastas. A Agricultura é quem dá (ou não) muitas das cartas ambientais do país. O golpe final veio em janeiro, logo depois de o ministro Paulo Guedes voltar de Davos alarmado com a conexão entre ambiente e economia que se faz lá fora. Bolsonaro respondeu dedicando a coordenação do comando, controle e desenvolvimento da Amazônia ao vice-presidente Hamilton Mourão. Salles limitou-se a dizer que a ideia havia sido dele - como se isso tivesse alguma importância.

Zero Hora – Brasil atrapalha acordo e fica isolado em reunião da ONU sobre biodiversidade

Os países têm até outubro para chegar a um novo plano global.

Folhapress
Ana Carolina Amaral

A diplomacia brasileira estaria trabalhando para frear o progresso das negociações de um novo acordo global pela conservação da biodiversidade, segundo diplomatas de diversas nacionalidades ouvidos pela reportagem.

Os países têm até outubro – quando acontece a COP-15 da biodiversidade, na China – para chegar a um novo plano global, já que o atual, assinado em 2011, termina este ano. Os objetivos são conservar áreas protegidas, evitar extinção de espécies e promover o uso sustentável dos recursos naturais, com apoio financeiro aos detentores de grandes reservas ambientais.

O primeiro rascunho do documento apareceu na última semana, em negociação que foi até o sábado (29) com diplomatas de 140 países reunidos em Roma. O Brasil – um dos maiores detentores da biodiversidade do mundo – não estaria parecendo estar interessado em um acordo global, segundo negociadores. O país teria se recusado a discutir questões técnicas e optado por trazer discussões que não estavam em negociação, usando linguagem agressiva e propostas absurdas – que chegaram a ser respondidas com risadas.

A reportagem conversou sob condição de anonimato com diplomatas de três países de diferentes regiões e dois representantes de ONGs internacionais que acompanharam as negociações na condição de observadores. Em todos os relatos colhidos, a atuação brasileira foi descrita como uma clara estratégia de distração, com constante desvio de atenção para questões que não estavam na mesa.

A radicalização dessa postura afastou países que costumavam ser representados pelos pronunciamentos brasileiros, como a Argentina, países africanos e grandes detentores de florestas. Os depoimentos também apontam falta de embasamento técnico e linguagem agressiva como motivos para o isolamento do Brasil.

A representação brasileira chegou a gerar risos em uma reunião ao insinuar que a biopirataria seria a principal ameaça das áreas protegidas – apesar dos dados alarmantes sobre degradação e desmatamento.

O ministro Leonardo de Athayde também foi duramente criticado por causar confusão ao levar para a mesa questões da negociação de mudanças climáticas, que não caberiam no acordo de biodiversidade. Athayde é negociador-chefe do Brasil nos dois temas.

Segundo o Itamaraty, a estratégia brasileira tem como objetivo conseguir mais recursos financeiros para a conservação. "Historicamente, o pilar de distribuição de benefícios tem sido negligenciado", diz nota do Itamaraty enviada à reportagem. "O objetivo é fazer que se caminhe para maior efetivação desse pilar, o que poderia assegurar recursos e transferência de tecnologia para países em desenvolvimento."

No entanto, os pares internacionais têm outras interpretações sobre a conduta diplomática do Brasil, vista como um sinal de pouco comprometimento com a conservação da biodiversidade. Na opinião de um dos negociadores de um país desenvolvido, a estratégia do Brasil seria pragmática e econômica. O país visaria, no curto prazo, evitar mais condicionantes ambientais para acordos comerciais.

O acordo comercial negociado entre Mercosul e União Europeia – colocado sob suspense desde a crise das queimadas na Amazônia – já menciona como condicionante o cumprimento do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, pelo qual o Brasil se compromete com o desmatamento ilegal zero.

Embora não acreditem que a atuação brasileira possa impedir a assinatura de um acordo pela biodiversidade no próximo outubro, os diplomatas temem que as intervenções do país atrasem o processo, evitando o alcance de consensos mais significativos – o que resultaria em um acordo fraco.

Pará tem seis das dez áreas de proteção ambiental mais ameaçadas de desmatamento na Amazônia, revela Imazon Notícia


Pará tem seis das dez áreas de proteção ambiental mais ameaçadas de desmatamento na Amazônia, revela Imazon


Estudo que analisa índices de ameaça e pressão por desmatamento em Áreas Protegidas (AP) mostra ainda que a Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, é a mais ameaçada.

Por Stefânia Costa

Um novo estudo divulgado pelo Imazon mostra quais são as Áreas de Proteção da Amazônia mais ameaçadas e pressionadas por desmatamento. O relatório analisa os dados do sistema de monitoramento do Instituto e cruza as informações com células de desmatamento para medir o nível de ameaça e pressão nessas áreas.

A pesquisa analisa o período que compreende os meses entre novembro do ano passado e janeiro deste ano. Nesse intervalo, o Imazon detectou um total de 769 km² de floresta derrubada na Amazônia Legal. Das 2.802 células que tiveram ocorrência de desmatamento, 56% indicam Ameaça e 44% demonstram Pressão em APs. O número de células com ocorrência de desmatamento de novembro de 2019 a janeiro de 2020 é 143% superior ao registrado de novembro de 2018 a janeiro de 2019.

O estudo revela ainda que, no comparativo com o ano passado, seis APs se mantiveram na lista das mais ameaçadas. A Resex Chico Mendes (AC), que aparecia na terceira posição do ranking das APs mais ameaçadas, agora aparece no topo da lista. Já na relação das áreas mais pressionadas, a Terra Indígena Yanomami (PA) é a primeira colocada. A TI, que nem estava entre as dez APs mais pressionadas no período anterior, disparou no número de células de desmatamento que indicam que já houve a devastação no interior da unidade de proteção.

Ameaça – Ameaça é a medida do risco iminente de ocorrer desmatamento no interior de uma área protegida. O Imazon utiliza uma distância de 10 km para indicar a zona de vizinhança de uma AP, onde a ocorrência de desmatamento indica ameaça. Segundo o levantamento do Imazon, a AP mais ameaçada foi a Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre. Das dez áreas de proteção presentes na lista, seis estão no Pará: TI Trincheira/Bacajá, TI Parakaná, APA do Lago de Tucuruí, Flona do Tapajós, TI Arara e TI Cachoeira Seca do Arari.

Pressão – Pressão ocorre quando o desmatamento se manifesta já no interior da área protegida, o que pode levar à perdas ambientais e até mesmo redução ou redefinição de limites da Área Protegida. No estudo divulgado pelo instituto, as duas primeiras colocadas na lista das APs mais pressionadas sequer apareciam no ranking do ano anterior. As TIs Yanomami, no Pará, e Alto Rio Negro, no Amazonas, encabeçam a lista que traz ainda a Resex Chico Mendes, campeã nas APs ameaçadas e que também aparece na lista das mais pressionadas.

Estudo – Esse é o relatório trimestral do índices de ameaça e pressão de desmatamento em Áreas Protegidas publicado pelo Imazon. A pesquisa é produzida com base em dados de alertas de desmatamento do SAD, sistema de monitoramento desenvolvido pelo instituto. São utilizados apenas os indicadores de desmatamento para determinar ameaça e pressão em uma unidade de conservação, entretanto, outros fatores também oferecem risco para a área, como extração madeireira, atividades de garimpo e hidrelétricas.

Imazon – O Imazon é um instituto nacional de pesquisa, sem fins lucrativos, composto por pesquisadores brasileiros, fundado em Belém há 29 anos. Através do sofisticado Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD), a organização realiza, há mais de uma década, o trabalho de monitoramento e divulgação de dados sobre o desmatamento e degradação da Amazônia Legal, fornecendo mensalmente alertas independentes e transparentes para orientar mudanças de comportamento que resultem em reduções significativas da destruição das florestas em prol de um desenvolvimento sustentável.
Confira o estudo completo aqui.

ameaça e pressão de desmatamento em áreas protegidas

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 13/03/2020
Pará tem seis das dez áreas de proteção ambiental mais ameaçadas de desmatamento na Amazônia, revela Imazon, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 13/03/2020, https://www.ecodebate.com.br/2020/03/13/para-tem-seis-das-dez-areas-de-protecao-ambiental-mais-ameacadas-de-desmatamento-na-amazonia-revela-imazon/.

“O consumo humano, a população e a tecnologia alcançaram aquele estágio em que a mãe Terra não aceita mais nossa presença em silêncio” Dalai Lama

Os 40 países com maior decrescimento populacional entre 2020 e 2100, artigo de José Eustáquio Diniz Alves


“O consumo humano, a população e a tecnologia alcançaram aquele estágio em que
a mãe Terra não aceita mais nossa presença em silêncio”
Dalai Lama

[EcoDebate] A população mundial de 7,8 bilhões de habitantes em 2020 deve passar para 10,9 bilhões em 2100, segundo as projeções demográficas divulgadas pela Divisão de População da ONU (revisão 2019). Mas, a despeito do aumento global, um grande grupo de países vai ter a população reduzida nos próximos 80 anos, conforme mostra a tabela abaixo.

Os 40 países com maior decrescimento populacional entre 2020 e 2100

Os países que terão a maior queda relativa são os de baixo da tabela, com destaque para a Albânia que deve ter a população reduzida em quase dois terços, passando de 2,9 milhões de habitantes em 2020 para 1 milhão em 2100, uma redução de 1,8 milhão. Porto Rico – que é um território não incorporado dos Estados Unidos – tem visto a população declinar velozmente em função de uma grave crise econômica que tem enfraquecido o país nos últimos 15 anos e tem sido vítima de furacões intensos. A população porto-riquenha de 2,9 milhões de habitantes em 2020 deve cair para 1,2 milhão em 2100 (reduzindo o tamanho atual para 43%). A Sérvia com população de 8,7 milhões de habitantes em 2020 deve ter uma diminuição de 4,5 milhões de pessoas, atingindo um montante de 4,3 milhões em 2100 (redução de 52%).

A Bósnia e Herzegovina e a República da Moldova devem apresentar redução de exatos 50% da população nos próximos 80 anos. Croácia e Bulgária devem ficar próximas na redução relativa e ter redução de quase 50% no período. A Ucrânia que tinha uma população de 51,5 milhões de habitantes em 1990 já vai ter uma população de 43,7 milhões em 2020 e uma redução para 24,4 milhões em 2100.

No leste asiático o destaque do decrescimento são duas economias ricas. A Coreia do Sul com população de 51,3 milhões de habitantes em 2020 deve ter uma redução para 29,5 milhões em 2100 (ficando 58% do tamanho de 2020). O Japão com população de 126,5 milhões de habitantes em 2020 terá uma queda para 75 milhões em 2100, perdendo mais de 50 milhões de habitantes (41% do total de 2020).

Na América Latina, além de Porto Rico, outros países que vão ter grande declínio populacional são Cuba, Jamaica, Trinidad e Tobago e El Savador. Entre 2020 e 2100, a população de Cuba deve cair de 11,3 milhões para 6,7 milhões, a da Jamaica de 3 milhões para 1,8 milhão, Trinidad e Tobago de 1,4 milhão para 969 mil habitantes e El Salvador de 6,5 milhões para 4,8 milhões. Mas o país latino-americano que vai apresentar o maior declínio absoluto será o Brasil que passará de 212,6 milhões de habitantes em 2020 para 180,7 milhões em 2100, um decréscimo de 31,9 milhões (queda de 15%). A Colômbia terá queda de 11% da população nos 80 anos.

Contudo, a maior queda absoluta ocorrerá na China, que com população de 1,44 bilhão de habitantes em 2020 passará para 1,06 bilhão em 2100, uma redução de 374 milhões de pessoas (queda de 26%). A China perderá o primeiro lugar para a Índia em 2027 e depois vai ter uma grande redução no volume populacional, porém continuará sendo um país altamente povoado.

No total dos 40 países a redução será de 680 milhões de habitantes nos 80 anos, resultado de uma queda de 2,6 bilhões de habitantes em 2020 para 1,9 bilhão em 2100 (queda de 26%). Evidentemente, esta queda que ocorrerá nestes 40 países será facilmente compensada pelo crescimento que ocorrerá em 35 países de grande crescimento que devem passar de 3,27 bilhões de habitantes em 2020 para 6,43 bilhões em 2100, dobrando de tamanho, com acréscimo de 3,2 bilhões de pessoas.

Ou seja, embora os 40 países listados na tabela acima apresentem uma redução do volume da população de 680 milhões entre 2020 a 2100, apenas 35 países terão um aumento de 3,2 bilhões de habitantes (como mostrado em outro artigo). Desta forma, os desafios de uma população crescente estarão presentes ao longo do século XXI ao mesmo tempo que haverá decrescimento demográfico em alguns lugares.

O mundo está dividido demograficamente, sendo que o crescimento populacional deve agravar os problemas ambientais, ao mesmo tempo que o decrescimento pode dar um certo alívio ecológico em alguns países.

José Eustáquio Diniz Alves
 
Colunista do EcoDebate.

Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382


in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 13/03/2020

Os 40 países com maior decrescimento populacional entre 2020 e 2100, artigo de José Eustáquio Diniz Alves, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 13/03/2020, https://www.ecodebate.com.br/2020/03/13/os-40-paises-com-maior-decrescimento-populacional-entre-2020-e-2100-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/.

Derrubada de florestas em terras de povos indígenas isolados cresceu 113% em 2019

Derrubada de florestas em terras de povos indígenas isolados cresceu 113% em 2019

Derrubada de florestas em terras de povos indígenas isolados cresceu 113% em 2019
A explosão do desmatamento na Amazônia foi maior em territórios com a presença de povos indígenas isolados. Dados do Instituto Socioambiental (ISA) mostram que, em 2019, a derrubada da floresta nessas terras cresceu 113%. No total de todas as Terras Indígenas (TIs), o aumento foi de 80%.

Os números constam em relatório do ISA que será apresentado na terça-feira (3/3), na Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). O líder indígena Davi Kopenawa Yanomami participa da audiência em Genebra, na Suíça. Baixe aqui o relatório.

A sessão é promovida pelo ISA, Comissão Arns e Conectas Direitos Humanos e tem o objetivo de denunciar a frágil situação dos povos indígenas em isolamento no Brasil, e os crescentes riscos de etnocídio (quando a cultura tradicional é destruída) e de genocídio destas populações. O relatório detalha de maneira inédita o desmonte em curso das políticas ambientais e indigenistas do atual governo.

Os dados do desmatamento se baseiam no Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O levantamento aponta que seis Terras Indígenas que possuem dez registros de povos indígenas isolados estão entre os 13 territórios que respondem por 90% do desmatamento registrado em 2019 nas TIs localizadas na Amazônia brasileira.

O panorama para os povos indígenas isolados no Brasil, portanto, é devastador. Com a explosão do desmatamento e da destruição das florestas e o avanço de práticas ilícitas, como o garimpo, extração ilegal de madeira e grilagem de terras, a existência desses grupos está gravemente ameaçada.

Os povos indígenas isolados são populações que, para sobreviver ao contato promovido pelo homem branco, refugiam-se no interior das florestas e vivem em isolamento total ou sem contato significativo com a sociedade nacional.

Doenças, violência física, espoliação de recursos naturais e outras agressões dizimaram populações inteiras no passado. Hoje, são 115 registros de grupos indígenas isolados no Brasil, 28 deles confirmados.

O relatório apresentado na ONU demonstra, ponto a ponto, como o desmonte de políticas públicas e o discurso do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), e de seus ministros, estimulam as invasões de garimpeiros, madeireiros e grileiros ilegais nos territórios onde vivem esses povos.

O Ministério do Meio Ambiente (MMA) sofre cortes de orçamento, perseguição a servidores, deslegitimação dos dados de desmatamento e desautorização de orçamentos. No Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio), a gestão de Unidades de Conservação perdeu 29% no seu orçamento e a de fiscalização ambiental e combate a incêndios, 21%.

A Fundação Nacional do Índio (Funai ), no entanto, é o órgão que apresenta a pior situação. As atividades estão praticamente paralisadas com os cortes orçamentários e a alteração de quadros e coordenações. A instituição sofre influência de alas religiosas e ruralistas, como foi o caso da nomeação de um missionário para a Coordenação Geral dos Povos Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) e que pode colocar em risco a política de não contato, que nos últimos 30 anos evitou epidemias e massacres dos povos isolados.

Yanomami

A audiência na ONU conta com a presença e a voz de Davi Kopenawa, líder Yanomami e ganhador em 2019 do Prêmio Right Livelihood Award, o “Nobel Alternativo”. Os Yanomami enfrentam atualmente a maior invasão garimpeira desde a demarcação de sua terra, em 1992: cerca de 20 mil garimpeiros estão ilegalmente dentro do território em busca de ouro.

A atividade ilícita deixa um rastro de contaminação por mercúrio nos rios e peixes, doenças e toda sorte de violência causadas pelos garimpeiros. Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz realizada em 2014 na comunidade yanomami de Araça, em Roraima, constatou que 92% dos indígenas continham alto índice do metal no sangue.

A TI Yanomami possui oito registros de povos isolados, um deles confirmado. São os Moxihatëtëma, da Serra da Estrutura. A poucos quilômetros da região, foram rastreadas pistas de pouso de garimpeiros.

“Estou muito preocupado. Eu não queria que eles morressem sozinhos, sem ver quem um dia matou eles. É o garimpeiro que mata”, afirmou Kopenawa em depoimento ao livro Cercos e Resistências: Povos Indígenas Isolados na Amazônia brasileira. “Se um dia eu encontrar os Moxihatëtëma, vou dizer que é melhor não encontrar o napë (não indígena), melhor eles ficarem por lá. O napë não cuida do índio”.

Ameaças iminentes a povos isolados indígenas

YANOMANI
Localização: Terra Indígena Yanomami (RR/AM)
1 registro de povos isolados confirmado: Moxihatëtëma
6 em informação
1 em estudo
Ameaça: Invasão de 20 mil garimpeiros
Pista de pouso a poucos quilômetros de um registro de isolados
330 mil ha degradados em decorrência do garimpo
Principais rios contaminados por mercúrio
Lideranças ameaçadas de morte

AWÁ-GUAJÁ
Localização: Terra Indígena Araribóia, Caru, Awá (MA)
2 confirmados;
2 em estudo;
1 em informação
Ameaças: Invasão madeireira: degradação de 92% na TI Awá
Mais de mil quilômetros de ramais madeireiros detectados na TI Araribóia, onde vivem cerca de 60 Awá isolados.
Violência: Guardião da floresta na TI Araribóia Paulo Paulino Guajajara assassinado em 2019 por defender a floresta da invasão madeireira.

AVÁ CANOEIRO
Localização: Parque do Araguaia (Ilha do Bananal) (TO)
1 registro em estudo
Ameaça: Grupo de isolados foi avistado pela última vez por agentes do ICMBio fugindo das queimadas que castigam a Ilha do Bananal. Outra grave ameaça à existência do grupo é a construção de estrada no território que irá cortar a floresta onde esses indígenas vivem.

VALE DO JAVARI
Localização: Terra Indígena Vale do Javari (AM)
Terra Indígena com mais registros de isolados do país
10 registros confirmados,
3 em estudo,
3 em informação

Ameaça: Presença constante de missionários na região com intuito de evangelizar povos isolados e de recente contato

Violência: Ataque a tiros a uma base da Funai (ago/19), e o assassinato de um colaborador e ex-servidor da Funai em setembro, em Tabatinga/AM

*Texto publicado originalmente em 02/03/20 no site do Instituto Socioambiental 

Leia também:
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Foto: Marcelo Salazar/ISA
O ISA é uma organização da sociedade civil brasileira (OSCIP desde 2001), fundada nos anos 90 com o intuito de oferecer soluções para questões sociais e ambientais em prol dos bens e direitos coletivos e difusos relativos ao meio ambiente, patrimônio cultural, aos direitos humanos e aos povos originais. Recentemente, lançou a campanha “Menos Preconceito, Mais Índio” e o primeiro documentário em realidade virtual numa aldeia indígena: “Fogo na Floresta”.

Tartaruga resgatada presa em rede de pesca tem intestino cheio de lixo plástico

Tartaruga resgatada presa em rede de pesca tem intestino cheio de lixo plástico

Tartaruga resgatada presa em rede de pesca tem intestino cheio de lixo plástico
No últimos dias de dezembro de 2019, uma tartaruga verde (Chelonia mydas), espécie considerada em perigo de extinção pela Lista Vermelha, da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), foi encontrada presa, em uma rede de pesca, na praia de San Clemente, próximo a Buenos Aires, no litoral da Argentina.

Resgatada pela equipe da Fundação Mundo Marino, a tartaruga passou por uma série de exames, que detectaram que ela possuía uma enorme quantidade de lixo plástico em seu intestino.

“Através de radiografias, pudemos ver corpos estranhos. Portanto, iniciamos o tratamento com um medicamento que favorece seus movimentos peristálticos (do trato digestivo), que permitiu que ela eliminasse esses “corpos”, revelou Ignacio Peña, veterinário da Fundação Mundo Marino.
Em três semanas de tratamento, o animal defecou pedaços de bolsas e outras embalagens feitas de plástico – uma quantidade equivalente a duas sacolas e meia inteiras, quatro copos descartáveis ou 26 canudos.
“Não há apenas o risco de obstrução mecânica devido à ingestão de plástico. O acúmulo de elementos não nutritivos no sistema digestivo desses répteis marinhos pode causar uma sensação de falsa saciedade que os enfraquece gradualmente ”, explica Karina Álvarez, bióloga e gerente de conservação da Fundação Mundo Marino. “Além disso, uma grande quantidade de gás pode ser gerada em seus organismos, produto do plástico acumulado. O que afetaria sua capacidade de mergulhar, tanto para se alimentar quanto para encontrar temperaturas mais adequadas para sua sobrevivência”.
Agora a tartaruga resgatada está recebendo alimentação adequada: folhas verdes, principalmente alface e algas, e segundo os veterinários e biólogos que tratam do caso, sua evolução é favorável.
Em dezembro do ano passado também foi divulgado o resultado do Censo de Basura Costera Marina, que analisa os resíduos encontrados em praias argentinas. O levantamento apontou que 83,2% de todo o lixo coletado em 20 locais da costa de Buenos Aires é composto de plástico.

Leia também: Ao confundir plástico por água-viva, tartarugas encontram a morte
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Fotos: divulgação Fundação Mundo Marino
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.

Dez multinacionais, entre elas Coca-Cola, Pepsi e Nestlé, estão sendo processadas na Califórnia pelo descarte de embalagens plásticas

Dez multinacionais, entre elas Coca-Cola, Pepsi e Nestlé, estão sendo processadas na Califórnia pelo descarte de embalagens plásticas

Coca, Pepsi e Nestlé, estão sendo processadas pelo descarte de pástico
No final do ano passado, conforme mostramos nesta outra reportagem, a organização não-governamental Break Free From Plastic divulgou o resultado do levantamento feito durante o World Clean Up Day – Dia Mundial da Limpeza – , quando, em parceria com outras entidades e o trabalho de 70 mil voluntários, em 51 países, foram recolhidos 476 mil resíduos plásticos. 43% deles ainda continham de maneira clara, a marca de seus fabricantes. Dessa maneira, foi possível determinar quem são as maiores poluidoras globais de plástico.


O relatório da Break Free From Plastic revelou que dez empresas estão no topo de ranking de descarte de lixo plástico no meio ambiente. Coca-Cola apareceu em 1o lugar, seguida por Nestlé, PepsiCo, Mondelez International, Unilever, Mars, P&G, Colgate-Palmolive, Phillip Morris e Perfetti Van Mille.


Um total de 11.732 resíduos plásticos contendo a marca Coca-Cola foram achados em 37 países, em quatro continentes: mais do que os resíduos das outras três companhias juntas, que estão nos 2o, 3o e 4o lugares do ranking. O tipo de plástico mais observado foi o poliestireno e o PET. Ambos são provenientes do petróleo e tem enorme impacto ambiental, já que levam, no mínimo, 400 anos para se decompor na natureza.

Com esses dados em mão, o Earth Island Institute, da Califórnia, nos Estados Unidos, entrou com uma ação na justiça do estado contra essas dez multinacionais por sua responsabilidade em contribuir para o aumento da poluição nos oceanos do planeta.

“Fundamentalmente, o processo procura responsabilizar as empresas por sua parcela de poluição plástica e por suas alegações de que as embalagens de plástico são recicláveis”, diz Sumona Majumdar, consultora geral da Earth Island. “Por muito tempo, eles empurraram esses custos para o público, e isso inclui organizações sem fins lucrativos, como a Earth Island, que estão usando fundos de caridade para limpar sua bagunça”.

Ainda de acordo com a ONG americana, a indústria do plástico inundou o mercado com praticamente todos os tipos possíveis de produtos plásticos de uso único, incluindo sacolas, embalagens, talheres e muito mais. “Grande parte desses resíduos não biodegradáveis acaba em nossos oceanos, rios e áreas costeiras, enquanto ainda mais ocupará espaço em nossos aterros sanitários pelas gerações vindouras”, afirma.

A realidade é que quando o consumidor compra um produto, ele acredita que sua embalagem poderá ser reciclada. Mas na verdade, estudos demonstram que a grande maioria das embalagens plástica rotuladas como recicláveis nunca será reciclada, nem nos Estados e nem em outros países.
Estimativas indicam que das 8,3 bilhões de toneladas de plástico produzidas desde 1950, quando houve um boom desse setor, apenas 9% foi reciclado. E o que é feito com os demais 91% restantes? Ou são incinerados, processo que gera poluição no ar e emissão de gases de efeito estufa, ou são descartados em aterros sanitários ou lixões.

“Este é o primeiro processo contra esses traficantes de plástico que há anos espalham a narrativa falsa de que seus produtos podem ser reciclados quando sabem que em muitos casos isso simplesmente não é verdade”, acusa Josh Floum, presidente do Conselho de Administração da Earth Island.

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Foto: divulgação Break Free From Plastic

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.

Nasa divulga imagens de focos de incêndio “fora de hora” no Pantanal

Nasa divulga imagens de focos de incêndio “fora de hora” no Pantanal

Se estivéssemos em julho ou agosto – meses secos e típicos de focos de incêndio e queimadas -, as imagens divulgadas esta semana pelo site Earth Observatory, da NASA, não chamariam tanto a atenção. Mas elas foram capturadas há poucos dias, em 4 e 8 de março, no último mês do verão, época em que a umidade na mata deveria ser intensa devido às chuvas frequentes, comuns neste período, e o Pantanal já deveria estar alagado.

Num cenário considerado normal, incêndios provocados por raios ou por fazendeiros neste mês não encontrariam clima para se expandir, mas as chuvas de janeiro, fevereiro e março deixaram a desejar em muitas áreas do Mato Grosso do Sul.

E, em janeiro – apenas dois meses após a explosão dos incêndios na região e durante (o que deveria ser) a estação das chuvas -, os incêndios voltaram e invadiram o Parque Nacional do Pantanal Matogrossense.

As imagens capturadas pela NASA são um registro incomum da região. Elas mostram densa pluma de fumaça oriunda de um foco de incêndio à leste do parque, próximo de local de incêndio de grandes proporções em janeiro deste ano.

A maior parte dos focos de incêndio registrados este ano se concentra nos municípios de Corumbá (MS) e Poconé (MT), de acordo com um artigo publicado pelo site Mongabay). De acordo com o site da Nasa, o número de focos detectados na região pelo satélite Aqua/ MODIS – entre 1o. de janeiro e 9 de março -, representa apenas 5% do total do registrado no ano passado. Por isso, o cientista sênior do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Alberto Setzer, disse ao site que não vê motivo para preocupação: “Como a maioria dos incêndios no Pantanal ocorre entre julho e dezembro, não vemos nenhuma razão específica para alarme, neste momento”.

A foto abaixo foi feita em 4 de março e revela o incêndio de forma mais detalhada: dá pra ver a área já queimada.
Na imagem seguinte, que revela uma perspectiva mais ampla, é possível ver o fogo queimando ao norte das áreas unidas próximas do Rio São Lourenço.
Fotos: Divulgação/NASA (as imagens foram capturadas pelo satélite Terra, com o sensor MODIS – Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer, operado pela NASA
Fonte: Earth Observatory/Nasa


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