quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Mais de mil golfinhos são avistados em um único dia em Fernando de Noronha


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Foto: Projeto Golfinho Rotador/Divulgação

Na manhã de ontem (29/11), no Arquipélago de Fernando de Noronha, os pesquisadores do Projeto Golfinho Rotador registraram 1010 golfinhos divididos em dois grupos. Um grupo de 190 indivíduos foi avistado na Baía dos Golfinhos, enquanto outro, formado por 820 golfinhos, foi visto nas Ilhas Secundárias. O arquipélago é protegido por duas unidades de conservação, a Área de Proteção Ambiental de Fernando de Noronha, Rocas, São Pedro e São Paulo (PE) e o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (PE).


Números como esse não são tão raros em Noronha, que é considerada a ilha oceânica com maior concentração regular de golfinhos do mundo. A espécie pode ser avistada o ano inteiro, mas, especialmente entre agosto e novembro, sua presença é abundante no arquipélago: em um único dia podem ser avistados mais de 2 mil golfinhos. Mesmo em outros meses, a probabilidade de avistar um golfinho é alta. Nos últimos 27 anos, eles aparecem em cerca de 95% dos dias do ano, numa média de 350 indivíduos por dia.


A estimativa é do Projeto do Golfinho Rotador que há quase três décadas se dedica à pesquisa e monitoramento da espécie em Fernando de Noronha. De acordo com o coordenador do projeto, José Martins, esse acompanhamento de longo prazo é essencial para detectar e entender os impactos das mudanças climáticas nas populações de golfinhos.
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Foto: Projeto Golfinho Rotador/Divulgação

O Projeto Golfinho Rotador

O projeto nasceu em agosto de 1990 e tem como missão sensibilizar a população sobre a importância da biodiversidade marinha e estimular a pesquisa, além de monitorar e preservar os golfinhos no arquipélago de Fernando de Noronha. A gestão do projeto é uma parceria entre a ONG local Centro Golfinho Rotador e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com o envolvimento da comunidade noronhense. O projeto é financiado através do Programa Petrobras Socioambiental, que patrocina a iniciativa.
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Foto: Projeto Golfinho Rotador/Divulgação

Extintas no estado, antas serão reintroduzidas em reserva no Rio de Janeiro


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Uma das antas durante a aclimatação na RPPN. Foto: Inea/Divulgação

O último registro de uma população de antas (Tapirus terrestris) no estado do Rio de Janeiro data de 1914. Mais de cem anos depois, o Projeto Refauna, em parceria com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), está prestes a trazer ela de volta às florestas do estado fluminense. A iniciativa irá soltar três indivíduos, uma fêmea e um macho adultos, e um filhote na Reserva Ecológica de Guapiaçu (RJ), uma reserva particular do patrimônio natural (RPPN) no município de Cachoeiras de Macacu.
A família de antas veio do criadouro conservacionista da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, situado em Araxá, Minas Gerais. Os animais passarão por um período de 30 dias de aclimatação em um viveiro dentro da RPPN antes de serem soltos. Até lá, serão alimentados diariamente enquanto se acostumam com seu novo habitat. Mesmo após a soltura, a suplementação alimentar continuará, caso as antas necessitem.
O gerente de unidades de conservação do Inea, Andrei Veiga, comemorou o projeto. “Após muito tempo, a anta será reintroduzida no nosso estado. Estamos trazendo as primeiras espécimes com a proposta de reprodução. Depois virão mais indivíduos para serem reintroduzidos no seu habitat natural, aqui no Rio. A RPPN foi cuidadosamente preparada para receber essa espécie, oferecendo todas as condições para ela se adaptar. A equipe do Inea está muito empenhada em apoiar esse processo de reintrodução e também no seu monitoramento”, explicou Andrei.
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Equipe do Projeto Refauna em ação checando e medindo uma das antas. Foto: Inea/Divulgação

Além da importância simbólica de trazer de volta uma espécie extinta no estado, o retorno da anta tem um papel essencial na natureza: o de dispersor de sementes. As antas são os maiores mamíferos terrestres do Brasil e conseguem dispersar até mesmo as grandes sementes que animais menores, como a cutia não conseguem. Além disso, elas são herbívoras generalistas e com isso evitam a predominância de uma determinada espécie de planta em detrimento de outras. Não é a toa que elas são consideradas jardineiras das florestas.
Reserva Ecológica de Guapiaçu
A RPPN Reserva Ecológica de Guapiaçu, também conhecida como RPPN Régua, foi criada em 2012. A área protegida, de caráter particular, corresponde a um território de 364 hectares em domínio de Mata Atlântica. A reserva está localizada no município de Cachoeiras de Macacu, no interior do estado do Rio de Janeiro.
Atualmente, de acordo com o Inea, existem 83 RPPNs no estado, o que corresponde a aproximadamente 7 mil hectares de área protegida.
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Uma das antas durante a aclimatação na RPPN. Foto: Inea/Divulgação

*Com informações Inea-RJ

Se fazemos algo na Amazônia, afetará a própria Amazônia, mas será a razão de haver secas em São Paulo e prejudicar safras no Uruguai

Sem o setor privado, não será possível restaurar florestas

Por Fabíola Ortiz
O engenheiro florestal Robert Nasi. Foto: Pilar Valbuena/Global Landscapes Forum.
O engenheiro florestal Robert Nasi. Foto: Pilar Valbuena/Global Landscapes Forum.

Bonn, Alemanha – O ano de 2017 viu ocorrerem graves incêndios florestais pelo mundo, furacões arrasarem as ilhas do Caribe e uma seca que rareou a produção de alimentos na porção oriental da África. Em termos de florestas, 2017 foi um ano mais do mesmo, do “business a usual”, admitiu o engenheiro florestal Robert Nasi, que lidera o Centro Internacional de Pesquisa Florestal (CIFOR).
Um mês depois da Conferência da ONU sobre Mudança do Clima (COP23) em Bonn, a mesma cidade alemã acolheu um fórum internacional para pôr em pauta projetos de conservação ambiental, restauração de florestas com gestão comunitária e uma abordagem mais holística sobre as paisagens naturais.

O Global Landscapes Forum (GLF), que ocorreu entre os dias 19 e 20 de dezembro, destacou pesquisas e projetos que pensassem os diferentes ambientes e paisagens na África, Ásia, América Latina e Pacífico, abordando desde conhecimentos indígenas tradicionais, comunidades nativas, tecnologia de ponta e pesquisas científicas.

A ideia era sair do “politicamente correto”, disse Nasi, um dos organizadores do fórum que reuniu, durante dois dias, dois mil participantes no Centro Mundial de Convenções de Bonn. O diretor executivo do Centro Internacional de Pesquisa Florestal conversou com ((o))eco sobre os desafios de fazer restauração de florestas em grande escala. “Já sabemos o suficiente que as florestas podem ser parte da solução”, disse. Não é o conhecimento técnico que precisamos, o que falta é o fator econômico que faça da restauração um atrativo para investidores privados.

Leia a entrevista com o engenheiro florestal francês:

((o))eco – Qual é a retrospectiva que podemos fazer de 2017? Foi um ano marcante para o planeta em termos ambientais?
Robert Nasi – Poderíamos pensar que entre os maiores eventos que afetaram as populações esse ano no planeta foi a temporada de furacões no atlântico norte. Vimos cada vez mais os furacões virem e virem. Os incêndios também atacaram vastas áreas, afetando zonas ricas do mundo. Ao longo dos anos, vemos tantas catástrofes que arrasam países na África e acabamos nos ‘acostumando’, mas quando vemos eventos impactarem o mundo rico, como os incêndios em Beverly Hills nos Estados Unidos, é algo novo para as pessoas. Esses eventos no mundo marcaram o imaginário coletivo esse ano. Em termos de florestas, eu diria que 2017 foi um ano mais business as usual. Não me lembro de ter visto nenhum avanço extraordinário nas negociações de clima das Nações Unidas que seguiram o mesmo ritmo. Implementar um acordo, como o de Paris de mais de 190 países, é realmente difícil.

Como é possível lidar com tantas crises? As florestas podem ser parte das soluções?
Já sabemos que as florestas podem ser parte da solução. Não é o conhecimento técnico que precisamos para restaurar, o que falta é o elemento econômico. Ainda continua sendo, em geral, mais lucrativo cortar as florestas que mantê-las em pé. Ainda vale mais a pena cortar as árvores em um pedaço de terra. Isso só vai mudar quando houver um verdadeiro incentivo econômico. Se não, vão continuar tirando as árvores para fazer dinheiro com a madeira e lucrar com plantações para fabricar óleo de palma.

“Como fazer com que o curto ganho financeiro em pouco tempo seja superado por uma ação duradoura”.
A questão é como aumentar a viabilidade de se manter as árvores em pé. Que manter a floresta faça sentido e seja economicamente viável para empreendedores pelos serviços ambientais e todos os benefícios que oferecem para o clima. Como fazer com que o curto ganho financeiro em pouco tempo seja superado por uma ação duradoura. O problema é a desconexão entre interesses que são de curto e de longo prazo. Se você pedir para um agricultor para manter 15% da sua terra preservada com árvores, ele vai dizer que o dinheiro que ganharia com a floresta em pé é muito menor que se usasse o espaço para plantação. Qual vai ser a minha compensação financeira por manter a floresta em pé? ele vai perguntar.


Você viu algum exemplo interessante de reflorestamento e recuperação de uma área degradada?
Sim, é possível fazer restauração florestal a um custo viável. Existe já uma regeneração natural se você não fizer nada e deixar o próprio ambiente se recuperar. Há muitos exemplos de restauração que poderiam ser aumentados em escala, como o projeto Katingan, na Indonésia. É uma iniciativa de restauração de ecossistema em uma floresta de pântano de turfa em Kalimantan. Após 30 anos, temos uma floresta que já está recuperada e reconstituída. Lá, as pessoas usaram árvores para fixar o nitrogênio e reabilitar uma área que foi usada para mineração, a vegetação agora retornou. Realmente há muitos projetos, o que falta é que pessoas interessadas invistam para fazer isso em uma escala maior. Precisamos convencer o dinheiro privado para investir nessas ações de restauro.


Como financiar a restauração florestal?
Não há recursos suficientes se formos depender do dinheiro público. Temos que restaurar 150 milhões de hectares no Desafio de Bonn até 2030, mas não há dinheiro público para isso. Precisamos trazer os recursos privados e, para isso, é preciso gerar atrativos econômicos e rentabilidade.


O que representam as metas de reflorestamento no Desafio de Bonn?
O grande mérito do Desafio de Bonn é o de levantar a necessidade de restauração de florestas em lugares que realmente precisam. Os países se comprometeram a restaurar determinadas áreas degradadas e isso já é bom. Mas agora o grande ‘desafio’ desse Desafio de Bonn é como incluir investidores privados e fazer com que os compromissos assumidos pelos países sejam realmente colocados em prática. Isso custará bilhões, mas o custo de não fazer nada será de trilhões, umas dez vezes mais que investir em plantar árvores. Se não houver retorno econômico para quem investir no restauro, o setor privado não vai realmente entrar neste esquema.


Os países tropicais deveriam ter um papel de liderança nos esforços de reflorestamento?
Foto: Pilar Valbuena/Global Landscapes Forum.
Foto: Pilar Valbuena/Global Landscapes Forum.

O esforço para restaurar as florestas deve ser global e não apenas de alguns países. O fato é que grande parte da degradação florestal está localizada nos trópicos. Por muitas razões ecológicas, as florestas tropicais são habitat para grande biodiversidade e armazenam muita biomassa.

O Brasil se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares até 2030 e fazer uma gestão mais sustentável de florestas nativas. Esse compromisso é uma meta razoável, ou deveríamos fazer mais?
O Brasil já mostrou liderança no combate ao desmatamento, grande parte, na Amazônia. Mas há outras localidades que também merecem atenção, como o cerrado. O Brasil tem a capacidade técnica, humana e financeira de fazer restauração florestal em áreas degradadas. Essas zonas são, em sua maioria, de pastos degradados que tiveram a floresta cortada.

O Brasil certamente tem a capacidade de realizar restauro, diferentemente de vários outros países que se comprometeram com o Desafio de Bonn. Mas não deveríamos esperar que o Brasil reabilite 12 milhões de hectares em áreas pristinas de florestas, isso não seria realístico. Algumas dessas áreas deveriam ser restauradas o mais próximo possível do habitat original, mas o principal, para mim, seria restaurar as margens dos rios. Se você quiser reconstituir o habitat dos rios, a mata ciliar é importante. Os estoques de peixes dependem da cobertura ciliar, da temperatura da água e das árvores.

Se esperaria que o Brasil conseguisse restaurar áreas tornando-as produtivas. É possível assumir que o custo de reabilitar uma área degradada seja de entorno de mil dólares por hectare. Para restaurar 12 milhões de hectares de terra, estaríamos falando em 1.2 bilhões de dólares. É possível ter investimento público, mas seria muito dinheiro para se depender apenas do governo. O contribuinte brasileiro tiraria do seu próprio bolso todo esse dinheiro? Para isso, teríamos que buscar um investidor privado que se interesse em restaurar, mas que obtenha um retorno econômico.

É ainda um sonho distante fazer uma restauração em grande escala uma vez que o Brasil ainda sofre com a dificuldade para frear o desmatamento?
“O próximo estágio seria frear a degradação em áreas que o desmatamento ainda avança. Onde há grande pressão econômica para devastar”.
Em algumas áreas no Brasil, as terras que já foram devastadas continuam degradadas e não são lucrativas. Então, seria por aí o melhor lugar para começar a restaurar. O próximo estágio seria frear a degradação em áreas que o desmatamento ainda avança. Onde há grande pressão econômica para devastar e um prospecto de continuar a ser rentável, realmente ainda é difícil acabar com o desmatamento.

Você sugere que haja uma mudança de cultura e mentalidade?
Precisamos olhar para todos os aspectos econômicos na hora de se pensar em uma gestão de recursos naturais e conservação da paisagem.

O que representa ter uma abordagem de paisagem para a conservação do meio ambiente?
A ideia é simples, quando você quer gerir um pedaço de terra, ela não existe sozinha em um vácuo. A terra é resultado de processos históricos, de decisões tomadas no passado e interação do que passa ao redor. Para gerir um pedaço de terra e mudar a sua trajetória no futuro, é preciso pensar em paisagens. Você tem que entender todo o panorama, histórica e geograficamente. É preciso gerenciar essas interações quando falamos em paisagens. É um conceito simples, não é uma unidade administrativa e não há um órgão de governança que faça a gestão de paisagem, é uma abordagem múltipla. A ideia de paisagem vai além das fronteiras geográficas.

Se fazemos algo na Amazônia, afetará a própria Amazônia, mas será a razão de haver secas em São Paulo e prejudicar safras no Uruguai. O que se tem em um lugar afeta, inevitavelmente, outras áreas. É como fazer uma barragem em um rio e cortar a provisão de água para quem está na jusante do rio. Isso é toda uma questão quando falamos de recursos transfronteiriços. Tudo isso complica muito quando os rios estão no céu (da evapotranspiração das árvores e chuvas). Se não fizermos essa abordagem de paisagem, as pessoas vão continuar a tomar decisões em um lugar e afetar outros.

O que é preciso para ir além do politicamente correto?
O politicamente correto é quando dizemos que o capital privado é o vilão e que índios são puramente bons, nem sempre é assim. Precisamos falar a verdade, aceitar que é preciso discutir, mas se continuarmos a falar coisas boas em convenções internacionais e não tocar nos problemas, não vamos avançar. A ideia não é apontar o dedo e culpar ninguém. Espero que, aqui neste fórum, tenhamos conseguido avançar para além do que é politicamente correto, trazendo líderes comunitários e jovens. Precisamos ter vozes que sejam diferentes e dissonantes.

Projeto libera 60 milhões de dólares para a Amazônia

Por Sabrina Rodrigues*
Ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, assinou contrato que destinará mais de 60 milhões de dólares que serão investidos em ações de sustentabilidade na Amazônia Legal. Foto: Neil Palmer/Wikicommons.
Ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, assinou contrato que destinará mais de 60 milhões 
de dólares que serão investidos em ações de sustentabilidade na Amazônia Legal. 
Foto: Neil Palmer/Wikicommons.

A gestão de áreas protegidas na Amazônia ganhou um reforço de peso essa semana com a assinatura do contrato que libera 60 milhões de dólares para o projeto Paisagens Sustentáveis da Amazônia, programa como foco a gestão de unidades de conservação no bioma. O contrato foi assinado entre o Banco Mundial, atuando como agência implementadora, a Conservação Internacional (CI) e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), esses dois participarão como executores. 

O programa é financiado pelo Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF, sigla em inglês de Global Environment Facility) e será coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) em parceria com os órgãos vinculados e os governos do Acre, Amazonas, Rondônia e Pará.

O “Paisagens Sustentáveis da Amazônia” trabalhará em políticas voltadas para paisagens produtivas sustentáveis e recuperação da vegetação nativa, fortalecendo planos e ações ligados à proteção e restauração do bioma, além da gestão das florestas. Além disso, o projeto apoiará o Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), que existe há 15 anos e abrange, hoje, 60 milhões de hectares em unidades de conservação (UCs). 

Sarney Filho vê a medida com otimismo. “Temos de agir de todas as maneiras possíveis para dar o fortalecimento adequado à vertente da sustentabilidade". Para o ministro, a promoção do desenvolvimento sustentável na região é fundamental para dar continuidade à redução do desmatamento, que caiu 16% neste ano.

*Com informações da Assessoria de Comunicação do Ministério do Meio Ambiente