quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Alimentação Natural, artigo de Roberto Naime

Alimentação Natural, artigo de Roberto Naime


alimentação natural
Foto: EBC

[EcoDebate] Até pouco tempo atrás, a função da alimentação natural integral, era pouco conhecido pela população e pelos profissionais da saúde. Este procedimento era visto como parte de uma concepção de vida adotada principalmente por públicos alternativos, como os famosos “naturalistas”. Mas anteriormente, faltavam apenas estudos científicos que comprovassem eficácia destas substâncias para a saúde humana.

Hoje em dia, com o avanço da nutrição, já existem diversos estudos conclusivos sobre o assunto. A alimentação natural deixa de ser vista como uma “alternativa saudável” simplesmente, e ganha uma nova dimensão, ao ser reconhecida como uma estratégia fundamental, para melhorar e manter a saúde.

É necessário entender o que é um alimento natural e integral. É aquela substância que sofre as menores alterações e os mais restritos processamento industriais ou beneficiamentos simples. E desta forma preserva as características mais próximas de sua origem, sendo isenta de aditivos químicos intencionais, como corantes artificiais, conservantes, espessantes, aromatizantes, entre outros.
As substâncias, particularmente os cereais classificados como integrais, mantém praticamente intactas suas principais camadas. Que têm funções específicas, tanto para o alimento, quanto para a ocorrência de uma dieta equilibrada.

No caso dos grãos naturais integrais por exemplo, ocorre a preservação não apenas da camada interna que é o endosperma, onde estão os carboidratos, proteínas e alguns micronutrientes do grão, mas também do farelo e do gérmen, onde se concentram as vitaminas, minerais e outros nutrientes, que são pouco encontrados nos produtos refinados.

Desta forma, a alimentação natural com grãos integrais, é fundamentada em alimentos mais próximos de sua natureza, que se preocupam em preservar o equilíbrio original dos nutrientes e das substâncias que são bioativas.

É importante evidenciar, que os alimentos naturais integrais também não têm aditivos intencionais, como os popularmente chamados de “fortificantes” ou enriquecimentos, usados principalmente para adicionar vitaminas ou minerais no produto. Estudos mostram que esses aditivos intencionais tendem a diminuir a biodisponibilidade da vitamina ou do mineral utilizado para “fortificar” o produto em comparação com o mesmo nutriente presente naturalmente no alimento.
Atualmente são muito comuns alimentos enriquecidos em nutrientes e todas as pessoas acreditam que estão realizando uma proeza. Mal sabem elas que as relações bioquímicas podem cobrar elevado preço por tal apanágio.

Outra característica comum desses aditivos é a de dificultar a absorção de outros nutrientes, como é o caso de alguns produtos “fortificados” ou enriquecidos com ferro, por exemplo, que podem diminuir a absorção de zinco pelo organismo.

Um estudo publicado pelo “American Journal of Clinical Nutrition”, de autoria de KATCHER (2008) mostra que os alimentos integrais podem favorecer, não apenas a perda de peso que também acontece no caso de tratamentos com dietas hipocalóricas em geral, mas favorecem especificamente a perda de gordura na região abdominal.

É lícito ressaltar que, a gordura localizada na região abdominal, é responsável pela produção de substâncias pró-inflamatórias, que aumentam o risco de problemas como o diabetes do tipo 2, chamada de “diabetes mellitus” e doenças cardiovasculares.

Além desses efeitos, os alimentos naturais integrais também ajudam a tratar e prevenir problemas como hipertensão, excesso de peso, a osteoporose feminina, problemas respiratórios e alguns tipos de ocorrências de neoplasias e cânceres de diversos tipos, conforme asseveram KATCHER (2008), MUNTER et al (2007), LOBO et al. (2004), ANAND et al (2008) e ADA (2008).

Estes estudos citados e outros mostram que os alimentos naturais integrais são os que melhor preservam as fibras, vitaminas, minerais e substâncias bioativas originais do alimento, além da vantagem de não conterem têm aditivos químicos intencionais.

Estas substâncias são fundamentais na prevenção e no tratamento de diversas doenças crônicas não transmissíveis, como o diabetes tipo 2, obesidade, hipertensão, osteoporose conforme referido e ainda certos tipos de câncer. Estas são doenças cada vez mais disseminadas na população mundial dos dias de hoje, que ainda tem hábitos de saúde inadequados.

Além do que, a agricultura orgânica propicia equilíbrio nos ecossistemas e maior homeostase ambiental, favorecendo a qualidade ambiental e a qualidade de vida de todas as populações consideradas.

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.

Referências:
MUNTER, J. S. L. e col. Whole grain, bran, and germ intake and risk of type 2 diabetes: a prospective cohort study and systematic review. Plos Med, v. 4, n.8, p. 1385-1395, 2007.
KATCHER, H. I. The effects of a whole grain-enriched hypocaloric diet on cardiovascular disease risk factors in men and women with metabolic syndrome. Am J Clin Nutr, v. 87, p. 79-90, 2008.
LOBO, A. S. e TRAMONTE, V. L. C. Efeitos da suplementação e da fortificação de alimentos sobre a biodisponibilidade de minerais. Rev Nutr, v. 17, n.1, p.107-113, 2004.
MELANSON, K.J. Consumption of whole-grain cereals during the weight loss: effects on dietary quality, dietary fiber, magnesium, vit-B6, and obesity. J Am Diet Assoc, v. 106, p. 1380-1388, 2006.
KATCHER, H. I. The effects of a whole grain-enriched hypocaloric diet on cardiovascular disease risk factors in men and women with metabolic syndrome. Am J Clin Nutr, v. 87, p. 79-90, 2008.
DONALDSON, M.S. Nutrition and cancer: A review of evidence for an anti-cancer diet. Nutr J, v. 3, n. 19, p. 1-21, 2004.
ANAND, P e col. Cancer is a preventable disease that requires major lifestyle changes. Pharm Res, v. 25, n.9, p. 2097-2116, 2008.
ADA (American Diabetes Association). Nutrition recommendations and interventions for diabetes: a position statement of the American Diabetes Association. Diabetes Care, v. 31, p. 61-78, 2008.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/01/2019

"Alimentação Natural, artigo de Roberto Naime," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/01/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/01/29/alimentacao-natural-artigo-de-roberto-naime/.

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Tudo a ver: crimes da mineração e usinas nucleares, artigo de Heitor Scalambrini Costa



Tudo a ver: crimes da mineração e usinas nucleares, artigo de Heitor Scalambrini Costa


artigo de opinião

[EcoDebate] A cada nova tragédia humana, ambiental e econômica em nosso país, vivenciamos a vulnerabilidade da população mais pobre, da população nativa e tradicional, diante da força e da crueldade do capitalismo, da ganância do setor privado, enaltecidos por alguns como a “salvador da pátria”. A este, recai toda responsabilidade dos últimos acontecimentos, e que poderiam ser evitados, em que centenas de pessoas perderam suas vidas. E o meio ambiente totalmente devastado e contaminado por dezenas de anos.

Obviamente não se pode omitir a responsabilidade dos políticos, prefeitos, governadores, ministros, juízes, desembargadores, técnicos de órgãos ambientais, analistas, investidores, burocratas, que contribuíram para a matança verificada em Minas Gerais.

Me refiro ao crime que atingiu o município de Brumadinho, localizado a menos de 60 km de Belo Horizonte. Lembrando que há mais de três anos, no dia 5 de novembro de 2015, o rompimento da barragem do Fundão, da mineradora Samarco (controlada através de uma joint-venture entre a Vale S.A. e a anglo-australiana BHP Billiton), deixou 19 mortos e causou uma enxurrada de lama que inundou várias casas e contaminou o Rio Doce, no distrito de Bento Rodrigues, do município de Mariana.

Agora se repete um crime semelhante ao que a empresa Vale cometeu em Mariana, com o rompimento da Barragem 1 da mina do córrego do Feijão, no município de Brumadinho. Esta barragem, cuja construção foi iniciada em 1976, tinha 86 metros de altura e 720 metros de comprimento, com volume estocado de rejeitos da mineração de ferro de 11,7 milhões de metros cúbico. Mais de 300 desaparecidos, que com o tempo a grande maioria serão, lamentavelmente, declarados como mortos, devido ao tamanho devastador do evento. Muitos deles funcionários da própria empresa e terceirizados.

Riscos de ocorrer acidentes sempre existem em obras de engenharia, e não devem ser menosprezados para que tragédia como esta aconteçam. Dai o enorme acervo tecnológico disponível para minimizar a ocorrência de riscos de acidentes. Mas que pela cobiça pelo lucro fácil, negligência, certeza da impunidade não foram utilizados pela empresa. A mineração, sem dúvida, constitui em uma das atividades cujos desastres quando acontecem, tem uma capacidade extraordinária de destruição da vida.

Outra atividade danosa é o uso da energia nuclear para fins de produção de energia elétrica, de força motriz de submarinos, e de uso bélico. Principalmente, pelo fato de que não precisamos desta fonte de energia para garantir a segurança energética, e nem para o desenvolvimento sustentável que tanto almejamos.

Esta comparação hoje é necessária diante da discussão do uso da energia nuclear no Brasil, e diante de seu potencial destrutivo com a liberação de resíduos radioativos. 


Os pronunciamentos e ações dos responsáveis pela politica energética, tanto o presidente da república, quanto o seu ministro de minas e energia, são, no mínimo, preocupantes. Estas autoridades têm declarado que o país não pode prescindir da nucleoeletricidade para diversificar sua matriz energética, e garantir energia elétrica ao país; e que a construção e a ampliação do parque de usinas nucleares será prioritário no atual governo. 


Hoje 2 usinas nucleares funcionam, ambas na praia de Itaorna, município de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Uma terceira, também em Angra, contratada em 1983, parou as obras poucos anos depois, reiniciada em 2010, e novamente interrompida em 2016, por dificuldades financeiras e pela corrupção, Angra 3, é prometida para ter suas obras reiniciadas . Além do plano de construir entre quatro e oito novas usinas nucleares no país sendo (4 usinas no nordeste e 4 no sudeste), previstas no planejamento energético nacional para os próximos anos.


Movimentos sociais, cientistas, sindicatos, igrejas, personalidades públicas, especialistas têm denunciado os fatores de risco, e mesmo o perigo eminente que esta decisão significa, particularmente no caso das usinas nucleares do Nordeste, que seriam instaladas a beira do Rio São Francisco, que atende mais de 500 municípios nordestinos. 


A definição do atual governo em relação a energia nuclear na verdade é motivada por interesses que não são explicitados claramente à sociedade. O que fica claro e cristalino, mostrado em distintos estudos, é que caso se amplie o uso da eletricidade nuclear as tarifas serão majoradas para todos os consumidores do país, para remunerar os custos astronômicos de tais empreendimentos. Além de aumentar a probabilidade de ocorrer tragédias catastróficas, devido à irresponsabilidade e insanidade de alguns. Tal perigo tem levado vários países a rever seus planos de construção de novas usinas nucleares.


A lama assassina derramada pela Vale, e que ceifou a vida de mais de 300 pessoas, deve servir de exemplo para que a construção de novas usinas nucleares pelo poder público seja abandonada. Tem tudo a ver o sofrimento da população atingida pela Vale, com o que poderá acontecer em um futuro breve provocado pelas usinas nucleares, caso a sociedade brasileira não se rebele frente a decisões equivocadas, que representam riscos trazidos ao meio ambiente e a vida dos brasileiros pelo novo governo.

O Brasil e o Nordeste não precisam de usinas nucleares.


Heitor Scalambrini Costa
Professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco
Membro da Articulação Antinuclear Brasileira

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/01/2019
"Tudo a ver: crimes da mineração e usinas nucleares, artigo de Heitor Scalambrini Costa," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/01/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/01/29/tudo-a-ver-crimes-da-mineracao-e-usinas-nucleares-artigo-de-heitor-scalambrini-costa/.

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

O Estado de S. Paulo – Mesmo após Mariana, projetos buscam afrouxar legislação


Pelo menos 6 propostas que chegaram ao Congresso desde 2015 buscam flexibilizar o licenciamento ambiental

Marcelo Osakabe

Desde a tragédia ambiental do rompimento da Barragem do Fundão em 2015, no município de Mariana (MG), em 2015, ao menos seis novos projetos apresentados na Câmara e no Senado propuseram flexibilizar, de alguma maneira, o licenciamento ambiental no Brasil. É o que mostra um levantamento feito na plataforma Inteligov.

O mais recente deles, o 168/2018, foi proposto pelo senador Acir Gurgacz (PDTRO), e dá nova redação ao licenciamento ambiental. Entre as mudanças que foram alvo de críticas por parte de movimentos ambientalistas estão a supressão do parágrafo que obriga Estados a adotarem as mesmas regras de aplicação nacional. O PL também limita o alcance do licenciamento ao fazê-lo se ater somente a área de influência direta dos empreendimentos e não também as indiretas, como consta no texto original.

Gurgacz também foi autor, em 2016, da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 65, que ficou conhecida como “PEC da Samarco” por ser apresentada apenas seis meses depois da tragédia ambiental em Mariana. Relatado pelo então senador Blairo Maggi (PRMT). O texto estabelecia que uma obra não poderia ser embargada a partir da apresentação do Estudo Impacto Ambiental (EIA).

Como o EIA é feito pelo próprio empresário e apresentado no início de qualquer obra, nenhum processo seria interrompido e o licenciamento ambiental perderia o sentido. O texto chegou a ser aprovado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ), mas foi engavetado posteriormente.

Deputados. Na Câmara, outros quatro projetos foram apresentados desde o episódio envolvendo a barragem da Samarco, empresa ligada à Vale. Um deles, o 4429/2016, de autoria do deputado Wilson Filho (PTB-PB), cria um “licenciamento ambiental especial” para obras de infraestrutura considerados estratégicos e de interesse nacional. A classificação, que seria concedida pelo Poder Executivo, poderia beneficiar todo tipo de obra de grande porte: desde transporte de todos os modais a portos até obras de energia, telecomunicações e exploração de recursos naturais.

O PL 7143/2017, apresentado por Beto Rosado (PP-RN), isenta de licença a exploração de campos marginais de exploração de petróleo e gás por produtores independentes. Já o PL 7143/2017, de Francisco Floriano (DEM-RJ), prevê “procedimentos diferenciados” para o licenciamento de atividades de baixo impacto ambiental por pequenas e médias empresas. O 9177/2017, de autoria de Lucio Mosquini (MDB/RO), isenta de licenciamento obras de manutenção em aeroportos, portos, e estradas.

Os quatro PLs que tramitam na Câmara estão apensados ao 3729/2004, nova versão da Lei Geral do Licenciamento Ambiental, que tramita em regime de urgência e teve sua última redação apresentada pelo deputado Mauro Pereira (MDB/RS). Entre outras medidas, o texto, que contou com apoio da Frente Parlamentar Agrícola (FPA), impõe restrições a demarcações de terras indígenas, abre espaço para que o empreendedor questione ações de compensação ambiental e libera Estados e municípios para criarem as próprias regras de licenciamento.

O Estado de S. Paulo – Tragédia sem ideologia / Coluna / Eliane Cantanhede


Em entrevista à Rádio Eldorado, o ministro Ricardo Salles disse que o meio ambiente “não é questão de direita e esquerda” e “não pode ser capturado por barreiras ideológicas”. Quem haveria de discordar? O ministro tem toda razão, mas nem por isso deixou de jogar pesadas críticas sobre a esquerda.

Segundo ele, a esquerda tem mania de se apossar da defesa do ambiente como se fosse a única preocupada com a preservação do planeta, mas, ora, ora, tanto a tragédia de Mariana quanto a de Brumadinho ocorreram ou durante ou em seguida aos governos da petista Dilma Rousseff em Brasília e Fernando Pimentel em Minas.

Logo, o ministro não quer que a discussão seja entre esquerda e direita, mas ele bem que deu um empurrãozinho para que assim seja. E lembrou que, logo no início, o presidente Jair Bolsonaro sobrevoou a região mineira e sete ministros foram pessoalmente lá. Tomara que esse empenho no calor dos acontecimentos decante em medidas realmente eficazes. Já imaginaram uma terceira Mariana?

Quem também foi pessoalmente a Brumadinho foi ex-ministra Marina Silva, que é uma das principais referências brasileiras do setor no cenário internacional, mas foi bastante criticada por omissão no desastre de Mariana e desta vez ficou esperta.

Em outras palavras, ela também disse à Rádio Eldorado que a questão não é de direita ou esquerda e apontou o dedo em várias direções. Segundo Marina, “é um erro demonizar os agentes ambientalistas” e há três culpados no rompimento de represas: a ganância do setor privado, a falta de ética na política e a flexibilização oportunista de regras pelo setor público.

Como ministra de Lula, e ainda no PT, Marina vivenciou intensos debates e embates com Dilma, chefe da Casa Civil. Uma exigia rigor nos licenciamentos e na fiscalização. A outra, pretendendo-se mais pragmática, queria apressar licenças e agilizar empreendimentos.

A questão central, portanto, não é ideológica, é o velho embate entre ambientalistas, chamados de “puristas” (ou “sonháticos”?), e os que defendem “passar o trator” e dar toda a prioridade a represas, plantações, pecuária. O “desenvolvimento” a qualquer custo.

Como novo ingrediente, o governo Bolsonaro demonstra desdém pelo meio ambiente, quase empurrou a pasta para a Agricultura e abriga um chanceler que acusa o “ambientalismo” de ser uma espécie de facção da esquerda mundial para destruir o Ocidente.

Para Marina, Brumadinho é um alerta para o governo Bolsonaro, que “sucateou e diminuiu o ministério de alto a baixo”. Ela exemplificou: a Agência Nacional de Águas e o Serviço Florestal saíram da pasta e os contratos com ONGs ambientalistas foram suspensos. E cutucou: “Pela primeira vez um ministro do Meio Ambiente assumiu com discurso de interesse dos ruralistas”.

Para Salles, o alerta é “para toda a sociedade”. Mas, com tantos mortos e centenas de desaparecidos, que Brumadinho sacuda os poderosos, provoque debates, gere punições e, sobretudo, relembre a todos, principalmente ao novo governo, sim, que Meio Ambiente não é uma questão supérflua, diletante nem coisa de esquerdopatas. Assim como mata pessoas e destrói famílias inteiras, ameaça o próprio futuro do planeta e da humanidade.

Discutam muito senhores e senhoras de esquerda e de direita, mas que o setor privado não privilegie a ganância em detrimento da vida, os governos não flexibilizem regras para favorecer negócios e os políticos tenham ética e respeitem seus mandatos e seus eleitores.

Utopia? Pode ser. Mas não há alternativa: é salvar ou salvar o futuro da humanidade. Quem ameaçá-lo e quem for culpado por tragédias e mortes não apenas deve, mas tem de ser punido pesadamente. Aliás, e os culpados por Mariana, por onde andam?

Em Brumadinho, setores público e privado destruíram famílias e atingiram o futuro

Correio Braziliense – A sociedade exige respeito / Editorial


A tragédia provocada pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho torna premente que os Três Poderes — Executivo, Judiciário e Legislativo — deem respostas rápidas à sociedade. Não é possível que, com tantos mortos e tantas famílias destruídas, se repitam o descaso, o protelamento, o jogo de empurra e os conchavos nos bastidores que sempre imperaram no país para proteger o poder econômico. A população não mais tolerará esse tipo de comportamento.

Espera-se, do Judiciário, agilidade no julgamento dos processos contra a mineradora. Como se sabe, passados mais de três anos do desastre provocado pela companhia em Mariana, ninguém foi punido. As indenizações às vítimas continuam empacadas. Com uma banca de advogados caríssimos, a Vale adia ao máximo as decisões nos tribunais. Acredita que, dessa forma, o crime prescreverá e nada será pago.

A sensação de impunidade, por sinal, está por trás da repetição da tragédia, agora, muito mais violenta — é possível que os mortos no vale de lama passe dos 300. Como domina os meandros da Justiça, a mineradora não se preocupou em adotar medidas de segurança que pudessem evitar o rompimento da barragem de Brumadinho. É essa postura arrogante — não só da Vale, ressalte-se — que precisa ser defenestrada pelos tribunais.

Do Legislativo, a demanda é simples: pede-se agilidade na votação dos projetos que estão parados pelo lobby fortíssimo das mineradoras. Há várias propostas no sentido de se apertar as regras para a concessão de exploração do solo do país e de tornar ainda mais rígida a fiscalização. Mas nada anda. Todas as tentativas nesse sentido são frustradas pelos movimentos de deputados e senadores, sob a alegação de que mais amarras podem inviabilizar as empresas, grandes geradoras de empregos e impulsionadoras do Produto Interno Bruto (PIB).

Em relação ao Executivo, é importante que se saia do discurso para a prática. E que um caso tão dramático não seja tratado com viés ideológico. É notório que os integrantes do atual governo sempre se mostraram contrário à adoção de mecanismos mais rígidos para a proteção do meio ambiente. Falou-se muito, inclusive, sobre a retirada de poderes do Ibama, apontado como um entrave para o desenvolvimento ao dificultar a concessão de licenças ambientais.

O que se está vendo em Brumadinho não só reforça a importância de órgãos reguladores fortes, como exige ações concretas para punir, de forma efetiva, todos os que transgridem as leis. Não é possível que o país continue sendo obrigado a assistir, de tempos em tempos, a pessoas morrerem vitimadas pela omissão do Estado. O Brasil precisa dar mostras efetivas de que os interesses da sociedade, da maioria, estão acima de tudo.