quarta-feira, 12 de agosto de 2020

A relação entre o meio ambiente e a saúde em tempos de pandemia

A relação entre o meio ambiente e a saúde em tempos de pandemia

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O surgimento do novo coronavírus tem ligação direta com os problemas ambientais que o mundo enfrenta. O intenso avanço urbano, em conjunto com utilização desenfreada dos recursos naturais e a exploração dos biomas favorece muito o surgimento de doenças zoonóticas, aquelas transferidas de animais para humanos. Talvez esse seja o maior exemplo dos tempos atuais de como a ação ambiental tem papel fundamental na saúde pública.

Ainda assim, são poucas esperanças de que a lição sirva para mostrar a relação próxima entre saúde e meio ambiente. Pelo contrário: a pandemia da Covid-19 tem causado outros problemas ambientais que também geram grandes ameaças à saúde.

O foco total voltado à Covid-19 contribuiu para que o governo “passasse a boiada”, revertendo importantes medidas que ajudavam a proteger o meio ambiente brasileiro. Enquanto isso, a população, em isolamento social, sente mais do que nunca a falta que o contato com a natureza faz.
Sofia Vargas, editora do Guia de Bem Estar, ressalta as diversas pesquisas que relacionam a proximidade com a natureza e a amenização de transtornos mentais, como o estresse e a ansiedade:
“Na pandemia, a preocupação com a saúde mental cresceu exponencialmente, por conta do contexto favorável ao surgimento de transtornos. A falta do contato com a natureza, por conta do isolamento, ajuda a mostrar para a população e para o poder público como a manutenção de áreas verdes é uma questão de saúde pública e bem estar social”.
Outra consequência da pandemia para o meio ambiente que vai de encontro direto com a saúde da população é o aumento de resíduos. A falta de preparação de quase metade dos municípios brasileiros para lidar corretamente com o lixo se torna ainda mais perigosa em um período em que a população, por passar maior parte do tempo em casa, gera muito mais detritos. A consequente contaminação do solo e das águas tende a ser um ponto determinante no surgimento e disseminação de novas doenças.


Em longo prazo, as consequências ambientais da pandemia podem ser ainda mais desastrosas para a saúde pública. Devido à enorme recessão econômica, a tendência é que a atividade industrial volte com muita força, visando recuperar o tempo perdido, aumentando a emissão de poluentes e contribuindo para as diversas doenças causadas por este processo.

Com todas as atenções voltadas ao enfrentamento da Covid-19, e com a retomada econômica ficando em segundo plano, a exploração ambiental, que é a raiz do problema, acaba ficando ofuscada, perdendo espaço nas pesquisas. O desenvolvimento de tecnologias sociais eficazes também fica esquecido. Com isso, o ciclo se renova e o mundo todo continua constantemente com a saúde ameaçada, na iminência de uma nova pandemia.

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Geoglifos da Amazônia pré-histórica foram aterrados para plantio e pasto

Geoglifos da Amazônia pré-histórica foram aterrados para plantio e pasto



Geoglifo
Geoglifos da Amazônia pré-histórica foram aterrados para plantio de milho e para pasto (Foto: Marcos Vicentti/Folhapress)

Por Reinaldo José Lopes, da Folhapress
SÃO CARLOS – O paleontólogo Alceu Ranzi, da Universidade Federal do Acre, levou um susto ao observar imagens de satélite atualizadas de um sítio arqueológico que conhecia há vários anos. Os desenhos geométricos no chão da Fazenda Crixá II – indícios da presença de grandes centros rituais criados por grupos indígenas antes da chegada dos europeus à Amazônia – tinham sido parcialmente apagados.


“Revendo as imagens, dei de cara com o estrago”, contou Ranzi ao jornal Folha de S.Paulo. Representantes do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) constataram que os desenhos, conhecidos como geoglifos, tinham sido aterrados para o plantio de milho e pasto. Segundo o proprietário da fazenda, o aterramento teria acontecido por descuido de seus empregados, que haviam sido avisados da presença dos geoglifos no local.


Nas últimas décadas, pesquisadores como Ranzi e a arqueóloga Denise Schaan, que morreu em 2018, realizaram um intenso trabalho de mapeamento e análise dos geoglifos. Esses estudos colocaram as estruturas, que podem medir algumas centenas de metros de comprimento e são detectadas com facilidade por sobrevoos, entre os elementos arqueológicos mais importantes da Amazônia pré-histórica.


Existem cerca de 800 deles no Acre e em regiões vizinhas do Amazonas, com formatos como quadrados, círculos e losangos, às vezes sobrepostos, formando figuras mais complexas. São delimitados por valas que podem alcançar 10 metros de comprimento e mais de um metro de profundidade.


As escavações realizadas até hoje em alguns deles mostraram poucos sinais de presença humana permanente no perímetro deles, com raros restos de cerâmica e outros artefatos. Por isso, a hipótese mais aceita hoje é de que as estruturas fossem construídas periodicamente como grandes centros rituais -terreiros para danças religiosas, por exemplo-, os quais congregavam boa parte da população pré-colombiana da região.


Trata-se, portanto, de mais um indício importante em favor da ideia de que, antes do contato com os europeus, os grupos indígenas da Amazônia tinham sociedades mais populosas e complexas do que as de seus descendentes de hoje.


Assuero Veronez, o dono da fazenda, afirma que os funcionários que trabalhavam na área, diante da necessidade de desviar constantemente das valas do monumento pré-histórico com o trator, obtiveram autorização do gerente da propriedade para aterrar as estruturas.


“O Iphan me notificou formalmente, embargou a área e me deu 15 dias para prestar esclarecimentos. Assumi a responsabilidade e me coloquei à disposição deles para reparar ou mitigar o dano -não sei o que é possível fazer tecnicamente para isso”, diz. Veronez argumenta também que não houve dano permanente a possíveis artefatos arqueológicos no local, já que bastaria apenas retirar a terra das valas em futuras escavações.


Em nota oficial, o Iphan destaca que já há geoglifos tombados em outros locais do Acre e que “está avaliando as medidas que serão solicitadas para mitigação e compensação do irreparável dano causado”. O Ministério Público Federal e a Polícia Federal também foram acionados pelo órgão.

Amazônia ganha secretaria própria no Ministério do Meio Ambiente

Amazônia ganha secretaria própria no Ministério do Meio Ambiente


Amazônia Legal
Mudança no MMA dá maior relevância à Amazônia e a áreas protegida (Foto: Valter Campanato/Abr)
Da Agência Brasil
BRASÍLIA – Na manhã desta quarta-feira, 12, o Diário Oficial da União publicou o decreto com a nova estrutura do MMA (Ministério do Meio Ambiente). O número de secretarias permanece o mesmo, mas traz alterações para maior transparência, agilidade e eficiência na gestão ambiental. As mudanças entram em vigor em 21 de setembro para a devida transição entre as áreas.


Com a redução de níveis hierárquicos, o órgão procurou estar mais alinhado às boas práticas de gestão, com mais agilidade e eficiência na execução dos projetos estratégicos para a defesa Meio Ambiente, assim como melhor atender às necessidades do ministério em cumprir suas competências.
Ganha maior relevância temas importantes para o meio ambiente como a criação da Secretaria da Amazônia e Serviços Ambientais, a criação de uma secretaria para tratar de áreas protegidas e uma outra para tratar do Clima. Também foi criado um departamento específico para coordenar a política de educação ambiental e uma coordenação de Proteção e Defesa Animal.


Com a competência de coordenar as políticas de prevenção e controle do desmatamento ilegal, dos incêndios florestais, das queimadas, de recuperação, de uso sustentável e de redução da degradação da vegetação nativa em todo o bioma brasileiro, a Secretaria da Amazônia e Serviços Ambientais tem a missão de fomentar o mercado de pagamentos por serviços ambientais. Além disso, vai poder contar com investimentos privados nacionais e estrangeiros para estimular economicamente aqueles que protegem a vegetação nativa.

Com foco no desenvolvimento sustentável, as áreas protegidas deixam de ser um departamento e ganham status de secretaria. A antiga Secretaria de Ecoturismo passa a ser denominada Secretaria de Áreas Protegidas. Entre as atribuições estão a implementação de políticas públicas de áreas protegidas, as concessões de unidades de conservação federais e o turismo sustentável.


A Secretaria de Biodiversidade vem com duas novidades. A criação da Coordenação-Geral Nacional de Proteção e Defesa Animal, ligada ao Departamento de Espécies, visa proteger e defender animais que estão em situação de risco, especialmente animais como cães e gatos que vivem em situação precária e abandono. E a criação do Departamento de Educação e Cidadania Ambiental, que vai coordenar, acompanhar e avaliar a implementação da Política Nacional de Educação Ambiental.

Pressionado, Ministério do Meio Ambiente muda estrutura


Três secretarias passarão por mudanças com o objetivo de trazer verbas para preservar parques e também a Amazônia

12 ago 2020 05h10
atualizado às 07h43


BRASÍLIA - Pressionado a apresentar ações contra o desmatamento, o governo promoverá alterações na estrutura do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Três secretarias serão reestruturadas em uma tentativa de mostrar que temas como mudanças no clima, preservação de áreas protegidas e proteção da Amazônia são prioridades da pastas.
Ministro Ricardo Salles
09/10/2019
REUTERS/Adriano Machado
Ministro Ricardo Salles 09/10/2019 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters
As mudanças estavam previstas para serem publicadas na edição de hoje do Diário Oficial da União. Ao Estadão, o ministro Ricardo Salles disse que a estrutura havia sido pensada durante a transição e, que após um ano e meio de governo, foi preciso alterar as prioridades da pasta. Ele admite que o novo organograma é resultado da pressão de investidores e entidades da área ambiental. 

"Percebemos que algumas áreas precisavam ser modificadas para responder algumas demandas que são importantes e nós entendemos que passam a ser prioridade do ministério. Fomos entendendo isso ao longo desse último um ano e meio a partir dos desafios que a gente vislumbra não só em relação à Amazônia, mas também com o tema ambiental em todo o território nacional", disse Salles.

A Secretaria de Relações Internacionais passa ser nominada Secretaria de Clima e Relações Internacionais. Com isso, segundo Salles, a área passa a dar ênfase maior em intervenções para diminuir impactos ambientais, adaptação às mudanças climáticas e desertificação. "Todas essas ações com viés de ampliar o aspecto econômico. Precisa trazer dinheiro. O Brasil tem crédito, sobretudo, créditos florestais e aí temos mecanismos que agilizem isso."

A reestruturação também cria a Secretaria de Áreas Preservadas, em substituição à do Ecoturismo, que cuidará das 334 unidades de preservação do ICMBio. O órgão, que antes se resumia a um departamento, cuidará também das concessões de parques e englobará as ações voltadas para o turismo sustentável. "De um lado a preocupação ambiental, mas do outro agrega fatores econômicos para ter recursos para cuidar da área protegida."

A secretaria será responsável pelo projeto Adote Um Parque, que está sendo elaborado pela pasta, e propõe que cada empresa ou pessoa física possa ajudar a manter cada uma das 132 unidades de conservação federais na Amazônia. O valor de uma "adoção" foi fixado em 10 euros por hectare. Em troca, pelos termos ainda em discussão, o patrocinador usa a iniciativa como marketing, mas não pode explorar a área. Pelo projeto, o recurso seria aplicado em ações de fiscalização, brigada de incêndio, entre outros.

Já a Secretaria de Florestas passa a ser intitulada Amazônia e Serviços Ambientais, que junto com a área de Clima e Relações Internacionais buscará recursos em acordos internacionais e venda de carbono. Caberá ao setor a destinação das verbas na região dos nove Estados que compõem a Amazônia Legal. Criado há um mês, o Programa Floresta+, que prevê a remuneração para quem mantiver a conservação de áreas protegidas, será gerido por esta secretaria. "O projeto piloto é a Amazônia, mas a ideia é ampliar", disse Salles.

Veja também:

A verdade do desmatamento, por Xico Graziano
Estadão