sexta-feira, 20 de julho de 2018

Aumento de temperatura global de 2°C duplica a população exposta a múltiplos riscos climáticos em comparação com um aumento de 1,5°C

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Aumento de temperatura global de 2°C duplica a população exposta a múltiplos riscos climáticos em comparação com um aumento de 1,5°C

International Institute for Applied Systems Analysis (IIASA)*


Novas pesquisas identificando hotspots de vulnerabilidade climática descobriram que o número de pessoas afetadas por múltiplos riscos de mudança climática poderia dobrar se a temperatura global aumentasse em 2°C, comparado a um aumento de 1,5°C.

A equipe, liderada pelo pesquisador Edward Byers, do Programa de Energia do IIASA, investigou a sobreposição entre múltiplos riscos de mudança climática e desenvolvimento socioeconômico para identificar os hotspots de vulnerabilidade se a temperatura média global deve subir em 1,5°C, 2°C e 3°C até 2050, em comparação com a linha de base pré-industrial. Uma vez que aqueles em situação de pobreza são muito mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas, é importante saber onde e quantas pessoas vulneráveis estão em alto risco para criar políticas para mitigar a situação.

Os pesquisadores do IIASA, do Global Environment Facility (GEF), da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO), da Universidade de Oxford e da Universidade de Washington desenvolveram 14 indicadores de impacto em três setores principais: água, energia e alimentos e meio ambiente. – usando uma variedade de modelos de computador. Os indicadores incluem um índice de estresse hídrico, sazonalidade do abastecimento de água, acesso limpo à cozinha, eventos de estresse térmico, degradação do habitat e mudanças no rendimento das culturas. Eles compararam os riscos potenciais nas três temperaturas globais e em uma série de caminhos socioeconômicos, para comparar o desenvolvimento mais justo e sustentável com caminhos caracterizados por falhas de desenvolvimento e alta desigualdade.

Em 2011, cerca de 767 milhões de pessoas viviam com menos de US $ 1,90 por dia, classificadas como pobreza extrema, e a equipe de pesquisa estimou que mais 3,5 bilhões de pessoas são “vulneráveis à pobreza”, vivendo com menos de US $ 10 por dia.

“Poucos estudos têm consistentemente investigado tantos desafios sobrepostos no clima e no desenvolvimento”, diz Byers. “A pesquisa considera os diferentes aumentos de temperatura média global, como as diferenças entre 1,5°C e 2,0°C, e usa novos conjuntos de dados socioeconômicos de níveis de renda e desigualdade para identificar onde e em que medida os mais vulneráveis na sociedade estão expostos esses desafios de desenvolvimento climático ”.

O risco multissetorial é aquele em que o risco vai além do tolerável em, pelo menos, dois dos três principais setores. Em temperaturas mais baixas, os hotspots ocorrem principalmente no sul e leste da Ásia, mas com temperaturas globais mais altas, os hotspots se espalham ainda mais para a América Central, a África ocidental e oriental, o Oriente Médio e o Mediterrâneo. A massa terrestre real afetada é relativamente pequena, em 3-16%, dependendo do cenário. No entanto, as áreas de maior risco tendem a ser densamente povoadas. A 1,5°C de aquecimento, 16% da população do mundo em 2050, 1,5 bilhão de pessoas, terá níveis moderados a altos de risco multissetorial. A 2°C de aquecimento, isso quase duplica para 29% da população global, 2,7 bilhões de pessoas. A 3°C de aquecimento, esse número quase dobra novamente, para 50% da população, ou 4,6 bilhões de pessoas.

Dependendo do cenário, 91-98% da população exposta e vulnerável vive na Ásia e na África. Cerca de metade destes vive apenas no sul da Ásia, mas a África provavelmente enfrentará riscos maiores como a região menos desenvolvida com alta desigualdade social.

Com o mundo já em torno de 1,0°C mais quente do que as médias pré-industriais, em 2015 os líderes globais concordaram em Paris em limitar o aquecimento médio em 2°C, com a intenção de limitar o aquecimento a 1,5°C, se possível. As grandes diferenças, observam os pesquisadores, mesmo entre o aquecimento de 1,5°C em comparação aos 2°C, são notáveis e destacam os riscos multidimensionais da mudança climática e a necessidade de manter o aquecimento o mais baixo possível.

Segmentar o desenvolvimento socioeconômico em áreas de hotspot é particularmente importante para reduzir a vulnerabilidade em lugares onde os impactos serão mais graves. O desenvolvimento sustentável em áreas de hotspot poderia reduzir o número de pessoas expostas e vulneráveis em uma ordem de grandeza, de 1,5 bilhão para 100 milhões, em comparação com o cenário de alta desigualdade. Os mais pobres da sociedade provavelmente serão impactados desproporcionalmente pelas mudanças climáticas e maiores esforços para reduzir a desigualdade e promover a adaptação são urgentemente necessários.

“A pesquisa será mais relevante para os formuladores de políticas e outros que buscam entender os benefícios de manter a temperatura média global subindo para 1,5°C em vez de 2°C, além de fornecer insights sobre as regiões de maior risco em diferentes setores. Os países mais pobres e vulneráveis correm mais riscos e esse trabalho ajudará a identificar abordagens integradas e intersetoriais, além de direcionar recursos para o máximo impacto ”, diz Astrid Hillers, especialista ambiental sênior do GEF.

Keywan Riahi, diretor do programa IIASA Energia, acrescenta: “A pesquisa indica locais onde o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) é importante, mas também muito desafiador, e mostra a importância substancial da redução da pobreza que é necessária em algumas regiões para reduzir vulnerabilidade.”




Referência:

Byers E, Gidden M, Leclere D, Balkovic J, Burek P, Ebi KL, Greve P, Grey D, et al. (2018). Global exposure and vulnerability to multi-sector development and climate change hotspots. Environmental Research Letters [pure.iiasa.ac.at/id/eprint/15235/] DOI:10.1088/1748-9326/aabf45.

Fonte: EcoDebate

Defensor público fala sobre o desafio do combate ao uso de agrotóxicos em São Paulo e em todo o Brasil, por Sucena Shkrada Resk

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Defensor público fala sobre o desafio do combate ao uso de agrotóxicos em São Paulo e em todo o Brasil, por Sucena Shkrada Resk

O advogado Marcelo Carneiro Novaes, defensor público do Estado de São Paulo, que integra a coordenação do Fórum Paulista de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos e Transgênicos, que começou a se reunir em novembro 2016, é o entrevistado desta semana do Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk.


Neste bate-papo, ele trata da questão da pulverização aérea, que é um tema emergente no estado, como aspectos polêmicos da desoneração fiscal no setor de agrotóxicos (pesticidas). Ao mesmo tempo, analisa agendas de âmbito nacional, como o Projeto de Lei (PL) 6.299/2002 (PL dos Agrotóxicos), de autoria do então senador Blairo Maggi, que facilita o processo de aprovação e utilização dos produtos no país, cujo parecer do relator Luiz Nishimori foi aprovado recentemente em Comissão especial da Câmara dos Deputados. A proposta antagoniza com a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNaRA) – PL 6670/2016, que está em processo de tramitação em outra Comissão Especial na Casa, da qual Novaes participou de audiência pública.

Blog Cidadãos do Mundo – Quais são as prioridades hoje de pauta do Fórum Paulista de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos e Transgênicos?

Marcelo Novaes – O fórum está em fase de estruturação e entre as principais prioridades, está a de agregar instituições e autoridades do setor preocupadas com o assunto. Desde a sua criação, foram formadas comissões temáticas, como na área de saúde.  Atualmente também temos acompanhado o PL dos Agrotóxicos versus da PNaRA, que é uma política que promove uma reflexão sobre o uso dos agrotóxicos no país, com a proposta de medidas para mitigar impactos negativos, mantendo a transparência e governança para promover a agroecologia.

No campo estadual, discutimos projetos de lei relacionados à pulverização e neonicotinoides, que são inseticidas com restrições na Europa, e extremamente nocivos aos agentes polinizadores. Temos dados coletados de 2015, pela Defensoria Pública, sobre a pulverização, cuja área total pulverizada (desconsiderando eventual sobreposição de áreas) totaliza 11,82% do território do estado. Mais de 80% direcionados à cultura de cana-de-açúcar e há o indicativo de que 60% eram inseticidas. Nossas bases de dados foram levantamentos de documentos junto ao Ministério da Agricultura. Entre as localidades, estão principalmente regiões de geração de commodities. Desafios são encontrados no Vale do Ribeira, na Serra da Mantiqueira, em municípios como Ribeirão Preto, e de entrada de grãos (Ourinhos, Itapetininga), entre outros. Mais uma pauta nestas áreas são os transgênicos.

O Fórum pesquisa a relação de doenças crônicas e de casos de câncer com a utilização de agrotóxicos e possível agravamento com o aumento da produção de grãos no estado. O Observatório de Saúde Ambiental constatou uma correlação significativa, por meio de dados epidemiológicos. Estas informações podem ser encontradas na página da Ouvidoria, na seção de audiência pública. Outra fonte importante recente é o livro Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com União Europeia, publicado pela pesquisadora Larissa Bombardi.

Blog Cidadãos do Mundo – O que o senhor tem a dizer sobre a desoneração de produtos agrotóxicos e o que de fato pode ser feito juridicamente quanto a esta questão?

Marcelo Novaes – O mercado de agrotóxicos obteve no país US$ 10 bilhões em 2015, e contribuiu com pouco mais de R$ 500 milhões de arrecadação. Menos de um e meio por cento de arrecadação é algo diminuto. No Tribunal de Contas da União (TCU), em acórdão de abril, se verificou que a desoneração de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Programa de Integração Social (PIS) e imposto de importação (tributos federais), fez com que cerca de R$ 1 bilhão deixasse de entrar nos cofres da União. No estado de SP, a desoneração também chega a R$ 1 bilhão quanto ao ICMS. Neste caso, alcança tanto os agrotóxicos extremamente perigosos como o de menor potencial, de uso terrestre e aéreo, que podem provocar enorme prejuízo. O problema é não haver a seletividade. Alguns países utilizam o imposto verde. Podemos reger isso de forma mais inteligente. Atualmente existem algumas tentativas de impugnar parte da desoneração do ICMS e dos tributos federais, com apoio da Procuradoria Geral da União (PGR).

Além dessa desoneração, existe perda de receita significativa, porque o produtor rural abate o gasto com agrotóxicos nos tributos sobre a renda, considerados insumos agrícolas. O desenho do sistema tributário incentiva a produção de commodities para exportação. Se alterar o modelo, muda o consumo dos agrotóxicos. O Brasil exportou US$ 86 bi em 2016 e arrecadou em imposto de exportação R$ 44 mil. Ao mesmo tempo, importamos US$ 12 bilhões de produtos agrícolas – arroz, feijão, trigo e frutos, entre outros. Como também  importamos os insumos na ordem de US$ 7 bilhões em agrotóxicos por ano.

Mais um aspecto que ilustro é sobre a necessidade de se rever a Lei Kandir, pela qual há R$ 25 bilhões de desoneração fiscal anual decorrente de exportações no estado de SP de diferentes eixos econômicos (São Paulo). No setor da agricultura, este modelo não consegue sobreviver sem o uso de agrotóxico.

Blog Cidadãos do Mundo – Como o Fórum pretende envolver mais a sociedade civil neste debate? E como é possível ter mais participação e acesso aos informes do Fórum?

Marcelo Novaes – Envolver por meio da fomentação do debate, e coletando informações. Reunindo estas instituições que estavam espalhadas pelo Estado. Estamos em processo de formatação. Tirar o manto de invisibilidade do custo humano e ambiental que envolve o modelo de utilização do agrotóxico e tentar criar soluções para mitigar. Agora houve uma ampliação da discussão do PL. Podem participar tanto instituições jurídicas, como pessoas físicas pesquisadores. Para obter mais informações o meio de contato é o email forumpaulistaciat@gmail.com . Integramos o Fórum Nacional, que está sob a coordenação do Ministério Público do Trabalho.

Blog Cidadãos do Mundo – Comparativamente a outros estados brasileiros, como São Paulo se encontra quanto ao uso de agrotóxicos? Quais os desafios num universo de praticamente 700 municípios?

Marcelo Novaes – O estado é o segundo mercado consumidor, só perde atualmente para o Mato Grosso. Representa 20% do consumo do agrotóxico do país, que consome 4% de todo no mundo. Aqui a tendência é aumentar a produção de soja transgênica e entrada de diferentes grãos no estado. O desafio é buscar um meio de produção menos lesivo ao meio ambiente, como a agricultura orgânica, além de enfrentar a questão da pulverização aérea e buscar os banimentos dos já banidos.

Blog Cidadãos do Mundo – Quais são os pontos nevrálgicos desta agenda no país, segundo sua avaliação?

Marcelo Novaes – Hoje existe uma discussão política sobre qual país queremos. A opinião pública tem de ser alertada sobre um modelo que produz riqueza que não está sendo distribuída para a população e que produz externalidades negativas. O agronegócio é vendido como salvação, mas só nos mostram a sala de visita.

Outro ponto é que as próprias entidades representativas das empresas de pesticidas, em audiência pública, também afirmaram que 30% dos agrotóxicos consumidos no país entram de contrabando, porque não são permitidos no país, sendo que muitos nem são para uso agrícola. É importante definir a responsabilidade sobre esta questão. O proprietário rural não pode usar estes produtos.

Um segundo eixo é que muitas pessoas excedem na quantidade de uso dos agrotóxicos. Existe um trabalho do Ministério Público, na região de Paranapanema, por exemplo, que cruzou dados com os das estações metereológicas, e chegou à conclusão de que mais de 80% das pulverizações aéreas foram feitas desrespeitando as bulas dos fabricantes dos agrotóxicos. O proprietário e a empresa que financiou a aquisição do produto são responsáveis.

Mais um ponto é que um terço do agrotóxico consumido no país é aplicado por via aérea. Imagine se os números de Presidente Prudente se repetirem no país, significa mais de 80% acima das normas apontadas pelo fabricante.

E um complicador a mais nesta agenda é a utilização dos banidos nos outros países serem utilizados aqui. O problema é que foram banidos por conta de efeitos nocivos à saúde e ao meio ambiente. Não há justificativa plausível, racional a não ser o desejo de se esgotar os estoques daquela substância.

Como pano de fundo, se trata do poder de um complexo econômico – agroindústria, mineração, hídrico e financeiro – voltado para exportação. Só o setor de agronegócio representa um terço do Produto Interno Bruto (PIB). É preciso uma atuação permanente dos órgãos de fiscalização. A governança é a função de executar a política. Do debate surge a luz.

Quanto ao PL dos Agrotóxicos, eu me detive na questão da possibilidade de se obter o registro do agrotóxico no período de dois anos. O problema é possibilitar a utilização de moléculas não testadas em outros países e não se ter capacidade científica apta para fazer estes testes. A História mostra que o inventor do DDT recebeu o prêmio Nobel na década de 40 e depois se descobriu seus malefícios. Há que se ter cautela quanto à utilização de novos produtos, pois existe o prejuízo à proteção da saúde pública e ambiental. É importante que o governo se mobilize e fique menos permeável ao poder econômico.

* Sucena Shkrada Resk é jornalista, formada há 26 anos, pela PUC-SP, com especializações lato sensu em Meio Ambiente e Sociedade e em Política Internacional, pela FESPSP, e autora do Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk (http://www.cidadaosdomundo.webnode.com), desde 2007, voltado às áreas de cidadania, socioambientalismo e sustentabilidade.

Fonte: EcoDebate

Comunidades rurais são fadadas a respirar veneno, conclui relatório

Sociedade

Agrotóxicos

Comunidades rurais são fadadas a respirar veneno, conclui relatório

por Giovanna Costanti publicado 20/07/2018 06h02, última modificação 19/07/2018 15h14
Estudo da Human Rights Watch pede que a pulverização aérea e terrestre de agrotóxicos não passe incólume pelo governo
Agência Brasil
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Dentre os 10 agrotóxicos mais usados no Brasil, quatro não são autorizados na Europa



Jakaira vive em uma comunidade indígena Guarani-Kaiowá localizada a poucas horas de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. O homem, na faixa dos 40 anos, sofreu uma intoxicação aguda depois de uma pulverização aérea de agrotóxicos em uma plantação  de soja e milho que fica a 50 metros da entrada principal de sua comunidade. 


"Dava para ver o líquido branco [no ar]. Mesmo cheirando, vai para o seu cérebro. Você sente uma amargura na garganta. Você não quer mais respirar veneno - você quer respirar outro tipo de ar - mas não tem nenhum", lembra Jakaira.


Moradora da mesma comunidade, Panambi, uma mulher de 20 anos, conta que, em março deste ano, ela e sua filha de quatro anos começaram a sentir os olhos queimarem após uma pulverização na plantação vizinha. “Sentimos um gosto ruim, uma sensação de queimação”, contou ela.


Os relatos acima estão presente no documento "Você não quer mais respirar veneno - As falhas do Brasil na proteção de comunidades rurais expostas à dispersão de agrotóxicos", que acaba de ser lançado pela Human Rights Watch. O novo relatório alerta para o perigo da pulverização de agrotóxicos, que acomete pequenos produtores rurais, quilombolas e indígenas em todas as regiões do País.


“Agrotóxicos pulverizados em grandes plantações intoxicam crianças em salas de aula e outras pessoas em seus quintais em zonas rurais espalhadas por todo Brasil", declarou o pesquisador Richard Pearshouse, autor do relatório. 


A questão tem pouca repercussão entre as autoridades e o momento para quem sofre diretamente com o uso de agrotóxicos, não é dos melhores. Uma comissão especial do Congresso aprovou recentemente o Projeto de Lei 6299/02, também conhecido como Pacote do Veneno.


Não é para menos: o Projeto flexibiliza as regras para a aprovação, fiscalização e utilização dos agrotóxicos no País. Com a mudança na Lei, que ainda aguarda votação em plenário, apenas o Ministério da Agricultura teria poder de decisão sobre os agrotóxicos. Além disso, o termo seria alterado para “defensivo fitossanitário", suavizando-o.


O Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos no mundo, com vendas anuais girando em torno de 10 bilhões de dólares. Segundo o relatório, muitos dos agrotóxicos utilizados em plantações de cana, milho, soja e algodão em todo o país usam agrotóxicos altamente perigosos à saúde humana. "Dentre os 10 agrotóxicos mais usados no Brasil no ano de 2016, quatro não são autorizados para uso na Europa, o que evidencia quão perigosos eles são para outros governos", afirma a ONG.
Nas 73 entrevistas feitas pela HRW, os moradores descreveram sintomas da intoxicação aguda após verem pulverização de agrotóxicos nas proximidades, ou sentirem o cheiro de agrotóxicos recentemente aplicados em plantações próximas. Os sintomas mais descritos foram sudorese, frequência cardíaca elevada, vômitos, náusea, dor de cabeça e tontura.


O relatório ainda alerta que a exposição a longo prazo pode causar infertilidade, impactos negativos no desenvolvimento fetal, câncer e outros efeitos graves à saúde. Principalmente quando se trata de pessoas mais vulneráveis, como grávidas, idosos e crianças.


Segundo a HRW, nas poucas localidades em que existem zonas de segurança para a pulverização terrestre, as regras e regulamentações são frequentemente desrespeitadas. Há uma regulamentação nacional que proíbe a pulverização aérea de agrotóxicos a 500 metros de povoações e mananciais de água, mas ela é ignorada pelos grandes agricultores e sua fiscalização é quase inexistente.


Como medida de urgência, o autor do relatório defende que o Brasil deveria imponha a suspensão à pulverização aérea e crie zonas de segurança para a pulverização terrestre nas proximidades de locais sensíveis. Além da rejeição do Congresso ao Pacote de Veneno. “Em vez de enfraquecer ainda mais as leis existentes, o Brasil precisa de regulamentações mais rígidas e de um plano de ação nacional para diminuir o uso de agrotóxicos,” afirmou Pearshouse.


Silenciamento das vítimas Em 2010, o agricultor rural e ativista contra o uso de agrotóxicos Zé Maria do Tomé foi morto com 21 tiros após pressionar o governo local do Ceará a proibir a pulverização aérea. O caso foi um dos primeiros nos Brasil a expor o problema. Mas são raras as vezes em que os casos de intoxicações vêm à tona por meio de denúncias.


Durante as conversas com os personagens que compõem o relatório, a HRW percebeu que as comunidades rurais temem sofrer represálias e retaliações caso denunciem intoxicações sofridas. O medo é justificável: muitos já foram vítimas de ameaças de grandes proprietários de terra com poder político e econômico em suas regiões.


Para Pearshouse, que também é diretor associado da Divisão de Meio Ambiente da ONG, é dever das autoridades brasileiras proteger aqueles que denunciam ou se opõem aos danos causados pelos agrotóxicos às suas comunidades.

Leia também:
A resistência da agricultura familiar e orgânica ao 'Pacote do Veneno'
As sequelas dos agrotóxicos para trabalhadores rurais


 
Pedrina, moradora de uma comunidade quilombola em Minas Gerais, há 20 metros de uma plantação de cana-de-açúcar, disse que teme a retaliação caso denuncie às autoridades a intoxicação aguda que a acometeu em uma das pulverizações. Segundo os relatos dos moradores, descritos no relatório, os aviões que realizam a pulverização passam sobre suas casas e plantações.


“O avião sobrevoa a comunidade. Diversas vezes agrotóxicos caíram sobre mim enquanto eu trabalhava na terra. Não há nada que possamos fazer”, revela Estevo, morador da mesma comunidade.


Segundo a ONG, o Ministério da Saúde reconhece que a subnotificação de intoxicações é uma preocupação e a falta de dados oficiais subestimam a gravidade deste problema. Mas quando alguns moradores ultrapassam o medo e resolvem falar, muitas vezes, o problema passa incólume. “Fizemos várias ocorrências no quartel, delegacia [de polícia civil]. Ninguém resolve - não existe Justiça”, revela Bernardo, que também vive na mesma comunidade quilombola.


O relatório também revela que no Pará, um morador de uma comunidade rural entregou às autoridades estaduais do meio ambiente um abaixo-assinado pedindo a redução da pulverização de agrotóxicos na região.


Segundo ele, o fazendeiro proprietário da plantação vizinha o ameaçou fazendo o gesto de uma arma quando se cruzaram em público. Apesar do medo, ela denunciou as ameaças à polícia civil, mas a polícia não tomou nenhuma medida para investigá-las. 

De Olho nos Ruralistas lança canal no Instagram

In De Olho na Imprensa, Em destaque, Principal, Últimas
Observatório pretende ter mais independência na divulgação das reportagens, em relação à hegemonia do Facebook, e conversar com novos públicos

Diante da redução paulatina do potencial de compartilhamento gratuito no Facebook, De Olho nos Ruralistas começou a reproduzir suas notícias no Instagram. A rede criada em 2010 pelo norte-americano Kevin Systrom e pelo brasileiro Mike Kriger especializou-se no compartilhamento de fotos e vídeos. Possui mais de 800 milhões de usuários ativos por mês. A conta do observatório – que ainda estava em fase de testes – já está com quase mil seguidores.



O De Olho já possuía uma conta no Telegram, uma rede de mensagens instantâneas em nuvem parecida com o Whatsapp, mas com a possibilidade de os usuários terem um canal temático próprio. A rede fundada pelos irmãos russos Nikolai e Pavel Durov possui criptografia de ponta a ponta. O leitor poderá acompanhar o canal do Telegram pelo seu smartphone, tablet ou pelo desktop. A rede conta com 200 milhões de usuários por mês.


OBSERVATÓRIO ESTÁ DESDE 2013 NO TWITTER

 

 

O perfil do De Olho nos Ruralistas no Twitter está no ar desde 2013, quando o observatório ainda não tinha um portal (inaugurado em setembro de 2016, após uma campanha de arrecadação) e transmitia programas jornalísticos quinzenais, ao vivo. Foi pelo Twitter, por exemplo, que foi feita uma cobertura do Leilão da Resistência, no Mato Grosso do Sul, organizado pelos ruralistas com o objetivo de arrecadar dinheiro para combater os povos indígenas no estado.



A conta no Facebook foi criada em julho de 2014. Três anos antes, portanto, da primeira campanha de assinaturas do observatório, lançada no ano passado, que consolidou o projeto jornalístico. No mês passado foi lançada a segunda etapa da campanha De Olho nos Mil Parceiros, que visa a meta de mil assinantes – necessária para que seja feita uma cobertura ampla, no que se refere à bancada ruralista, das eleições 2018.


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Novo defensor dos agrotóxicos, Nizan Guanaes tem casa de campo com horta orgânica

com horta orgânica

Novo defensor dos agrotóxicos, Nizan Guanaes tem casa de campo com horta orgânica

In Agrotóxicos, De Olho na Comida, De Olho no Agronegócio, Em destaque, Principal, Últimas
Publicitário contratado para melhorar imagem do agronegócio vendeu touros e promoveu o Canal Rural; ele tem imóvel na Fazenda Boa Vista, condomínio rural da aristocracia de SP


Por Alceu Luís Castilho


Um dos publicitários mais badalados do país, Nizan Guanaes tem seu pé no agronegócio há pelo menos 15 anos, quando – mesmo sem ter fazenda – entrou no mercado da venda de touros Angus.


Pelo sistema Top Class: metade do investidor, metade da empresa agropecuária. Um dos maiores entusiastas desse sistema, e colega de leilões de Guanaes, era o locutor Galvão Bueno, da Globo.



Guanaes acaba de entrar no noticiário por ter sido contratado como consultor pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Sua missão, promover o agronegócio. Em particular, os agrotóxicos, no momento em que a Câmara discute o chamado PL do Veneno, o PL 6.299/02, agora recheado de aditivos, que flexibiliza o uso dos pesticidas no Brasil.


A notícia dada pelo blog de Andréia Sadi, no G1, pegou os socioambientalistas de surpresa. Mas a relação do publicitário com o agronegócio vem de longe. Ele tem participado de inúmeros encontros do setor, com o mantra de que o modelo precisa vender melhor sua imagem.


“Só chamar agrotóxico já mostra que o setor se comunica mal”, afirmou Guanaes à repórter. Ele disse que não gosta de ser associado à bancada ruralista. Principal interessada, observou Andréia, no projeto em debate no Congresso. “Meu papel é fazer o setor se comunicar melhor, nem canonização nem satanização”.


Guanaes não fala como um contratado distante, apenas um assalariado a serviço de uma classe à qual não pertence. Habitué das altas rodas, ele também é empresário – foi dono de várias agências de publicidade – e está acostumado a conviver com aqueles que contratam seus préstimos. Alguns deles são seus vizinhos.

NA BOA VISTA, A FINA FLOR DA ELITE PAULISTANA

Campo de golfe com 18 buracos na Fazenda Boa Vista. (Foto: Divulgação)
O condomínio rural Fazenda Boa Vista tornou-se mais conhecido após a inauguração do Hotel Fasano, no ano passado, em sua versão rural. Mas o complexo de 1.200 hectares já atraía desde 2007 os endinheirados de São Paulo, quando foi lançado pelo mesmo grupo que construiu o Shopping Cidade Jardim – onde a elite paulistana torra parte de seus cobres.


O lançamento contou com a cantora jamaicana Grace Jones. Entre os condôminos de primeira viagem (banqueiros, empresários, grandes advogados) está Nizan Guanaes. Em Porto Feliz, a 100 quilômetros da capital, eles têm suas casas de campo, rodeados por 4 mil funcionários. “Onde os ricos descansam”, como definiu O Globo.


Segundo a VejaSP, a Fazenda Boa Vista tem um campo de polo, dois campos de golfe e doze quadras de tênis. Uma delas, em 2012, recebeu a russa Maria Sharapova para um  jogo-exibição. Nas instalações hípicas, quatro picadeiros. As cocheiras têm piso de borracha e, relata a revista, “bordas arredondadas para que os cavalos não se machuquem em quinas traiçoeiras”.
Seu Djalma, hortelão dos endinheirados. (Foto: Reprodução)
A fazenda tem área de preservação ambiental e uma horta orgânica. “Lá, você vai ver coisas lindas, como tomate cereja, mini berinjela, papaia, cebolinha, cenoura”, descrevia em 2014 o blog Magali Viajante. “Tudo orgânico e cultivado com muito carinho pelo seu Djalma”. A horta é destinada tanto aos cozinheiros do Fasano como aos condôminos.


De Olho nos Ruralistas identificou pelo menos dez imóveis à venda na Boa Vista, por preços que vão de R$ 3,5 milhões (“linda vista do vale com mata nativa preservada”) até R$ 13 milhões. Nenhum desses moradores se esqueceu de assinalar nos anúncios os itens “fazendinha e horta orgânica para consumo próprio do condomínio”.


Nesta terça-feira (20/06), no Twitter, o jornalista André Trigueiro lembrou que, em 2014, Guanaes escreveu estas palavras – as frases foram aqui agrupadas – na Folha: “A comida do futuro é orgânica. As pessoas estão cada vez mais preocupadas em comer e em dormir livres de substâncias químicas. Ninguém pode nos salvar a não ser nós mesmos”.

DO FASANO AO AGRONEGÓCIO, O “EMBAIXADOR”

Nem todos os moradores da Fazenda Boa Vista têm seus nomes divulgados. O do publicitário Nizan Guanaes, porém, sempre aparece nas reportagens. Seu nome é, em si, uma marca, assim como o sobrenome Fasano. Ele e Rogério Fasano são parceiros no projeto Reserva Trancoso, na Praia de Itapororoca, que será lançado em 2019 no município baiano. Guanaes é o “embaixador”.


A palavra serve para ilustrar o que ele tem feito pelo agronegócio nos últimos anos. A figura sorridente de Guanaes aparece em diversos pontos do país, a promover o modelo – não custa lembrar, não exatamente o único na relação com as propriedades e os recursos naturais.


“Se o Brasil fosse um terreno, na frente do Atlântico, com uma vasta extensão de terra, exploraríamos agricultura e turismo, porque é o óbvio”, afirmou o publicitário, durante fórum sobre agronegócio da revista Exame. “No Brasil, o agronegócio é muito bom em fazer, mas é péssimo em se vender”.



O empresário prosseguiu:

– É impressionante que o setor do agronegócio seja um vencedor por ele mesmo, com suas próprias forças, a despeito do estado e da legislação. Somos um país capitalista que tem horror a lucro. Esse setor já faz muito pelo Brasil, muito mais do que o Brasil faz por ele.

ELE VÊ AGRONEGÓCIO COMO MARCA GLOBAL

Guanaes enxerga o agronegócio brasileiro como marca global. “Se o agronegócio quisesse dominar todos os principais aeroportos do mundo, ele conseguiria”, definiu.


Em reunião da Comissão Nacional de Bovinocultura de Corte, da CNA, em maio, o publicitário disse que o setor agropecuário precisa contar suas histórias de sucesso para o Brasil e para o mundo. (Esse debate específico acontece no contexto da crise de exportações para a Europa, após a Operação Carne Fraca.)
Consultor empolgado da CNA. (Foto: Reprodução)
Ele trabalha duro para emplacar suas teses. A repórter Andréia Sadi, da Globo, contou no G1 que Guanaes procurou ambientalistas nesta semana para defender ideias do projeto de lei dos agrotóxicos.


O publicitário é bem relacionado. Durante a posse do pecuarista João Martins da Silva Junior – seu conterrâneo – como presidente reeleito da CNA, em dezembro, em Brasília, ele falou sobre agronegócio brasileiro. Da cerimônia participaram ministros, parlamentares e o presidente Michel Temer.


Um ano antes, em dezembro de 2016, Temer ouviu de Guanaes o seguinte conselho: “Aproveite sua impopularidade para fazer o que precisa ser feito”.


Em julho daquele ano, ainda durante a interinidade do atual presidente, ambos participaram do Global Agribusiness Fórum 2016, em São Paulo. Um evento promovido pela Sociedade Rural Brasileira, pela Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) e pela Associação Brasileira dos Criadores de Gado Zebu.


A Abramilho é uma das mantenedoras do Instituto Pensar Agro (IPA), por sua vez financiadora da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que banca projetos como a revisão da lei de agrotóxicos. Mais da metade dos votos que salvaram Temer, em agosto e outubro de 2017, saíram de membros da FPA: “55% dos novos votos a favor de Temer saíram da Frente Parlamentar da Agropecuária”.

AS VACAS DE GUANAES E GALVÃO

Quinze anos atrás, a Folha noticiava a migração de investidores do asfalto para o campo. Os exemplos citados eram os de Nizan Guanaes e Galvão Bueno. O publicitário estivera em Barra Bonita, no interior paulista, em leilão promovido pela Chalet Agropecuária, do pecuarista Luiz Eduardo Batalha – fornecedor mundial do Burger King.


Os dois lances mais caros foram arrematados por Guanaes: 50% da vaca FLC Canyon, por R$ 93,8 mil, e 50% da mimosa Três Marias, por R$ 77 mil. Sempre metade do preço, pois, por esse sistema, os animais continuam com a empresa agropecuária. Na ocasião o publicitário fazia planos para comprar uma fazenda, “provavelmente em São Paulo”.


O paranaense Galvão Bueno, ele mesmo promotor de leilões em Londrina (PR), também é um entusiasta da raça Angus. Naquele leilão, em junho de 2003, o locutor gastou R$ 63,4 mil em compras e R$ 29,4 mil em vendas de gado.


No ano seguinte, após um leilão de Batalha no Copacabana Palace, Guanaes informou em entrevista à revista Época que tinha “umas 20 vaquinhas”, sempre Angus. Ele ainda se considerava um novato no negócio. Em São Paulo, vendera uma vaca – ou meia vaca – por R$ 37,8 mil. “Meus amigos me estimularam, achei divertido participar dos lances”.


Em 2005, o leilão ocorreu no DirecTV Music Hall, em São Paulo. Lá estavam, de novo, Galvão e Guanaes. O publicitário vendeu duas novilhas por R$ 18.200. O locutor, uma, por R$ 9.100. Outro investidor era o então presidente da Ford no Brasil – coincidentemente uma das empresas que, nos últimos anos, patrocinaram a campanha “O Agro é Pop”, da Globo.


Essa campanha – igualmente de promoção do agronegócio – não foi feita por Guanaes. Mas ele já teve uma relação direta com uma afiliada da emissora, a RBS. Em 2006 ele começou a prestar consultoria para a RBS para mudar a identidade visual e a linha editorial do Canal Rural. Seu objetivo era fazer do canal “a CNN do campo”.


O Canal Rural foi vendido em 2013 para a J&F Investimentos, a holding da JBS – outra patrocinadora da campanha “O Agro é Pop”. Em processo de venda de ativos após a deflagração da Operação Lava-Jato, o grupo tenta há alguns meses vender o canal.

DE OLHO NO PARAGUAI

Foi no Hotel Fasano Boa Vista que se casou Manuela Jacintho Ferraz, neta de Jacintho Honório da Silva Filho (ele é réu no caso do assassinato do cacique Marcos Veron, liderança Guarani Kaiowá assassinada no Mato Grosso do Sul em 2003) e filha de Marcelo Bastos Ferraz, dono de terras no Chaco. Confira essa história na série De Olho no Paraguai: “’Barão da carne’ avança em terra Ayoreo; no MS, família é ré no caso Marcos Veron”.

Imobiliária põe Ilha das Couves à venda por R$ 31 milhões e será notificada pela União

Imobiliária põe Ilha das Couves à venda por R$ 31 milhões e será notificada pela União

In De Olho no Ambiente, Em destaque, Principal, Últimas
Informada pelo De Olho nos Ruralistas sobre o anúncio, SPU diz que comercialização de ilhas é proibida pela Constituição; anúncio foi feito no Mercado Livre e no site da Riccio Imóveis

 

Por Alceu Luís Castilho e Igor Carvalho

Destino paradisíaco no litoral paulista, a Ilha das Couves, em Ubatuba, está à venda por R$ 30,9 milhões. Característica do imóvel: “de frente para o mar”. A responsável pelo anúncio é a Riccio Imóveis, com sede em São José dos Campos (SP). A oferta está também no no Mercado Livre, site de compras online. A Constituição Federal determina que todas as ilhas do litoral brasileiro são propriedades da União e não podem ser comercializadas.
Paraíso para mergulhadores seria “de um holandês”. (Foto: Reprodução)
A imobiliária no Vale do Paraíba informa que o imóvel possui seis fontes de água doce, “potável”, e um pequeno lago no topo da ilha. Uma estrada que a circunda com 3,5 quilômetros de extensão. Uma caixa d’água subterrânea com 60 mil litros de armazenamento e muros de contenção de pedras nas duas praias – a Praia da Terra (ou das Couves) e a Praia de Fora (ou do Japonês).


A lista de atrativos continua: uma base aterrada para a construção de um píer. “Milhares de plantas exóticas como palmitos Jussara e vários animais silvestres bem protegidos”, informa a imobiliária. A Riccio Imóveis oferece uma dica adicional aos eventuais interessados: “Local excelente para construção de um resort, hotéis 5 estrelas”.

SPU: “PROPRIEDADE É DA UNIÃO”

Com 68,7 hectares, a Ilha das Couves está sob jurisdição da Secretaria do Patrimônio da União (SPU), órgão vinculado ao Ministério do Planejamento. Informada pelo De Olho nos Ruralistas sobre a venda, a SPU enviou uma nota oficial condenando o anúncio de venda do território:

–  A ilha é de propriedade da União e, portanto, não pode ser comercializada. A empresa responsável pelo anúncio será notificada hoje pela Superintendência do Patrimônio da União em São Paulo.


O anúncio no Mercado Livre – identificado há mais de um mês pelo observatório – é idêntico ao disponível no site da Riccio Imóveis. “Toda documentação em ordem com escritura”, informa a imobiliária. Os corretores informam ainda que estudam a possibilidade de aceitar até 20 % do valor – cerca de R$ 6 milhões, portanto – em imóveis localizados no estado de São Paulo.


Um corretor da Riccio informa aos interessados detalhes sobre a venda e oferece uma visita ao local. Ela pode ser feita de helicóptero, com a companhia do “proprietário”. Ele é identificado apenas como “um holandês”.


O Brasil não tem prevista a compra de terras por estrangeiros, um tema em discussão no Congresso.

ILHA É DESTINO DE MERGULHADORES

A Ilha das Couves possui uma vegetação típica da Mata Atlântica, com grande variedade de fauna e flora. Turistas são atraídos ao local pela beleza e pelas boas condições para a prática de mergulho. A atividade é oferecida em dezenas de empresas turísticas em Ubatuba, um dos pontos de partida para se chegar à ilha, a partir da Vila de Picinguaba e da Praia do Estaleiro.


A definição do lugar como um paraíso – além de muito comum entre quem lá esteve – foi dada também pelo Ministério do Turismo, em abril, no perfil da pasta no Instagram.
Anúncio da Riccio Imóveis: “boa para resort”. (Imagem: Reprodução)
A exploração desordenada do turismo no local preocupa o Ministério Público Federal. Localizada na Área de Proteção Ambiental Marinha do Litoral Norte, a Ilha das Couves foi alvo de uma série de ações do MPF em São Paulo. Isso porque o fluxo de turistas no local chega a 5 mil pessoas todas as semanas, entre sexta-feira e domingo. O MPF sugeriu aos barqueiros que levem à ilha no máximo 600 pessoas por fim de semana.

Conflitos por terra: áreas em disputa no Brasil superam o tamanho da Alemanha

Conflitos por terra: áreas em disputa no Brasil superam o tamanho da Alemanha

CPT aponta violência em regiões que somam mais de 37 milhões de hectares, mais da metade em terras indígenas; Amazônia concentra 85% do território em conflito

Por Igor Carvalho 

Mais de 4% do território brasileiro – 37 milhões de hectares – teve conflitos de terra no ano passado, conforme o relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT) sobre conflitos no campo em 2017. Essa área equivale ao tamanho do Japão, pouco mais que o território da Alemanha.


Em 2016 as terras em conflito somavam 21 milhões de hectares. Em 2008 eram 8 milhões. Os números do ano passado mostram que o tamanho do território em disputa aumentou mais de quatro vezes em dez anos.
Massacre de Pau D’Arco, no Pará, em 2017. (Foto: Reprodução)
A região Norte concentrou 85% das áreas em conflito em 2017, ou 31 milhões de hectares. Em 2016, também de acordo com o relatório anual da CPT, esses estados da Amazônia registraram disputa por terras em 18 milhões de hectares.


Em resumo: o território em conflito no Brasil quase dobrou, entre 2016 e 2017. A mesma proporção registrada nos estados do Norte – mesmo sem contar os demais estados da Amazônia Legal.


Mais da metade – 54% – da área total em conflito no Brasil fica em terras indígenas. A foto principal desta notícia – de maio de 2018 – mostra uma pista de pouso de garimpeiros sendo explodida na Terra Indígena Yanomami, um dos territórios invadidos em 2017. A imagem foi divulgada pelo Exército.


O ano de 2017 foi marcado também pelo retorno, após 20 anos, dos grandes massacres. Em Pau D’Arco, no Pará, foram dez camponeses mortos, em maio. No mês anterior outros nove camponeses foram assassinados no Massacre de Colniza, em Mato Grosso.


Os estados com a maior quantidade de ocorrências de conflitos agrários em 2017 foram Amazonas (11,5 milhões), Roraima (9,6 milhões), Pará (8,3 milhões), Mato Grosso (3,1 milhões) e Rondônia (1,1 milhão). Confira a lista completa:
Seis estados da Amazônia Legal lideram o ranking dos territórios em conflito. (Imagem: CPT/DeOlho)

CRESCE A TENSÃO EM ÁREAS INDÍGENAS

Embora a CPT atribua o crescimento dos conflitos na Amazônia ao projeto Terra Legal, que tem legalizado áreas griladas na região, os dados mostram um papel decisivo dos conflitos em terras indígenas, por causa do avanço de garimpeiros e madeireiros.


Em 2016, o estado de Roraima registrou violência em disputas por terra em apenas 9 mil hectares. No ano passado esse número saltou para 9,6 milhões de hectares, por causa de um flagrante de garimpos ilegais na Terra Indígena (TI) Yanomami, em abril de 2017.


Foi uma operação conjunta da Polícia Federal, Fundação Nacional do Índio (Funai), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Exército. Os agentes destruíram 20 acampamentos ilegais de garimpeiros, quatro balsas, seis motores, cinco geradores e 200 metros de mangueira para garimpo.
Garimpo ilegal na TI Yanomami, em 2018. (Foto: Exército)
 
A Terra Indígena Yanomami possui 9,6 milhões de hectares, exatamente a área registrada no relatório da CPT.

O problema continua: em maio deste ano foram apreendidos ouro e até mercúrio na TI Yanomami, durante a Operação Curaretinga XI.

Em setembro de 2017, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) denunciou massacre de indígenas na Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas. Os crimes – ainda não confirmados pela Polícia Federal – teriam sido cometidos por garimpeiros que atuam ilegalmente na reserva.

Esse conflito fez o estado do Amazonas saltar de 3,3 milhões de hectares com registros de violência, em 2016, para 11,4 milhões de hectares, no ano passado. A TI Vale do Javari possui 8,5 milhões de hectares.

Ainda no Amazonas, as terras do povo Waimiri Atroari, que somam 2,5 milhões de hectares, estão em disputa judicial com o consórcio Transnorte Energia S.A. (TNE), que quer construir uma linha de transmissão de 750 quilômetros no meio do território indígena.

Somadas, as Terras Indígenas Yanomami, Waimiri Atroari e Vale do Javari possuem 20,6 milhões de hectares. O valor representa 54% do total de áreas em que a CPT registrou conflitos por disputa territorial no Brasil em 2017.

ENTRE OS MOTIVOS, TERRA LEGAL E GOLPE DE 2016

Um dos membros da Coordenação Nacional da CPT, Ruben Figueira, associa o aumento dos conflitos no campo ao golpe de 2016:

– É o golpe. É importante dizer que nos governos petistas já havia um estímulo para o avanço do agronegócio. Com a chegada do governo Temer a prática fica indiscriminada. Houve um afrouxamento na fiscalização da expansão do agronegócio.

Ele diz que Legislativo, Executivo e Judiciário têm facilitado o acesso às terras, principalmente de povos indígenas e quilombolas. “Com a crise financeira, há uma busca de base real para especulação e o agronegócio está buscando ativos no mercado”, completa.

Sobre a participação da Amazônia no total de conflitos, ele observa que na Amazônia Legal – que inclui Mato Grosso e o oeste do Maranhão – encontra-se o arco do desmatamento:

– Ali estão os madeireiros e os pecuaristas. Na região amazônica é onde você tem a precariedade da posse e boa parte são terras públicas. Porém, o governo Lula, por pressão das empresas e do capital financeiro, criou o programa Terra Legal, que facilita o acesso dessas terras pela iniciativa privada e no final acaba servindo para regularizar a grilagem.

O programa Terra Legal tornou-se uma política permanente em junho de 2009, no segundo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, por meio da MP 759. O projeto localiza terras públicas na região amazônica, regulariza e entrega para os futuros proprietários – em boa parte grileiros.

Subordinado à Subsecretaria da Regularização Fundiária na Amazônia Legal (Serfal), o projeto faz parte das políticas públicas da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário, ligada à Casa Civil desde a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), no início do governo Temer.

De Olho nos Ruralistas mostrou, no início de fevereiro, que naquele mês o governo Temer já tinha ultrapassado a marca de 100 mortes por conflitos agrários no campo.

Pesquisadora da USP monta mapa da contaminação por agrotóxico no Brasil

terça-feira, 17 de julho de 2018

Pesquisadora da USP monta mapa da contaminação por agrotóxico no Brasil

Essa matéria foi publicada originalmente no site “De olho nos Ruralistas”, em 2016. Achamos importante relembrar porque o debate sobre a flexibilização das regras para venda e uso de agrotóxicos está na pauta da sociedade e do Congresso


Os mapas produzidos por Larissa Mies Bombardi são chocantes. Quando você acha que já chegou ao fundo do poço, a professora de Geografia Agrária da USP passa para o mapa seguinte. E, acredite, o que era ruim fica pior. Mortes por intoxicação, mortes por suicídio, outras intoxicações causadas pelos agrotóxicos no Brasil. A pesquisadora reuniu os dados sobre os venenos agrícolas em uma sequência cartográfica que dá dimensão complexa a um problema pouco debatido no país.

Ver os mapas, porém, não é enxergar o todo: o Brasil tem um antigo problema de subnotificação de intoxicação por agrotóxicos. Muitas pessoas não chegam a procurar o Sistema Único de Saúde (SUS); muitos profissionais ignoram os sintomas provocados pelos venenos, que muitas vezes se confundem com doenças corriqueiras. Nos cálculos de quem atua na área, se tivemos 25 mil pessoas atingidas entre 2007 e 2014, multiplica-se o número por 50 e chega-se mais próximo da realidade: 1,25 milhão de casos em sete anos.

Além disso, Larissa leva em conta os registros do Ministério da Saúde para enfermidades agudas, ou seja, aquelas direta e imediatamente conectadas aos agrotóxicos. As doenças crônicas, aquelas provocadas por anos e anos de exposição aos venenos, entre as quais o câncer, ficam de fora dos cálculos. “Esses dados mostram apenas a ponta do iceberg”, diz ela.

Ainda assim, são chocantes. O Brasil é campeão mundial no uso de agrotóxicos, posto roubado dos Estados Unidos na década passada e ao qual seguimos aferrados com unhas e dentes. A cada brasileiro cabe uma média de 5,2 litros de venenos por ano, o equivalente a duas garrafas e meia de refrigerante, ou a 14 latas de cerveja.

Em breve, todo o material reunido por Larissa será público. O livro Geografia sobre o uso de agrotóxicos no Brasil é uma espécie de atlas sobre o tema, com previsão de lançamento para o segundo semestre. Será um desenvolvimento do Pequeno Ensaio Cartográfico Sobre o Uso de Agrotóxicos no Brasil, já lançado este ano, com dados atualizados e mais detalhados. No período abrangido pela pesquisa, 2007-2014, foram 1.186 mortes diretamente relacionadas aos venenos. Ou uma a cada dois dias e meio:

“Isso é inaceitável. Num pacto de civilidade, que já era hora de termos, como a gente fala com tanta tranquilidade em avanço de agronegócio, de permitir pulverização aérea, se é diante desse quadro que a gente está vivendo?”, indaga a professora ao programa De Olho nos Ruralistas.

O papel do agronegócio

Larissa fala de agronegócio porque é exatamente esse modelo o principal responsável pelas pulverizações. Os mapas mostram que a concentração dos casos de intoxicação coincide com as regiões onde estão as principais culturas do agronegócio no Brasil, como a soja, o milho e a cana de açúcar no Centro-Oeste, Sul e Sudeste. No Nordeste, por exemplo, a fruticultura. A divisão por Unidades da Federação e até por municípios comprovam com exatidão essa conexão.

A pesquisadora compara a relação dos brasileiros com agrotóxicos à maneira como os moradores dos Estados Unidos lidam com as armas: aceitamos correr um risco enorme. Quando se olha para um dos mapas, salta à vista a proporção entre suicídio e agrotóxicos. Em parte, explica Larissa, isso se deve ao fato de que estes casos são inescapavelmente registrados pelos órgãos públicos, ao passo que outros tipos de ocorrências escapam com mais facilidade. Mas, ainda assim, não é possível desconsiderar a maneira como distúrbios neurológicos são criados pelo uso intensivo dos chamados “defensivos agrícolas”, termo que a indústria utiliza para tentar atenuar os efeitos negativos das substâncias.

Soja, milho e cana, nesta ordem, comandam as aplicações.

Uma relação exposta no mapa, que mostra um grande cinturão de intoxicações no centro-sul do país. São Paulo e Paraná aparecem em destaque em qualquer dos mapas, mas a professora adverte que não se pode desconsiderar a subnotificação no Mato Grosso, celeiro do agronegócio no século 21.

O veneno está na cidade

A conversa com o De Olho nos Ruralistas – durante gravação do piloto de um programa de TV pela internet – se deu em meio a algumas circunstâncias pouco alvissareiras para quem atua na área. Há alguns dias, a Rede Globo tem veiculado em um de seus espaços mais nobres, o intervalo do Jornal Nacional, uma campanha em favor do “agro”. Os vídeos institucionais têm um tom raríssimo na emissora da família Marinho, com defesa rasgada dos produtores rurais de grande porte.

“Querem substituir a ideia do latifúndio como atraso”, resume Larissa. Ela recorda que, além do tema dos agrotóxicos, o agronegócio é o responsável por trabalho escravo e desmatamento. E questiona a transformação do setor agroexportador em modelo de nação. “A alternativa que almejaríamos seria a construção de uma outra sociedade em que esse tipo de insumo não fosse utilizado. Almejamos uma agricultura agroecológica com base em uma ampla reforma agrária que revolucione essa forma de estar na sociedade.”

No mesmo dia da entrevista, o Diário Oficial da União trouxe a sanção, pelo presidente provisório, Michel Temer, da Lei 13.301. Em meio a uma série de iniciativas de combate à dengue e à zika, a legislação traz a autorização para que se realize pulverização aérea de venenos em cidades, sob o pretexto de combate ao mosquito Aedes aegypti. A medida recebeu parecer contrário do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, posição que foi ignorada por Temer.

Larissa considera que a medida representa um grande retrocesso e demonstra preocupação pelo fato de a realidade exposta em seus mapas ser elevada a potências ainda desconhecidas quando se transfere um problema rural para as cidades. “O agrotóxico se dispersa pelo ar, vai contaminar o solo, vai contaminar a água. O agrotóxico não desaparece. Ao contrário, ele permanece.” Em outras palavras: o veneno voa e mergulha. Alastra-se. E tem longa duração. (Por João Peres/ Do De Olho nos Ruralistas)

Fonte: Envolverde

Parque flutuante é feito com lixo plástico coletado de rio na Holanda

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Parque flutuante é feito com lixo plástico coletado de rio na Holanda

Os resíduos usados no projeto Recycled Park foram captados no rio Meuse, que nasce na França, passa pela Bélgica e Países Baixos, e vai em direção ao mar do Norte.

Depois de quase cinco anos de projeto, recuperação de plásticos, reciclagem, angariação de fundos e colaboração intensiva, foi inaugurado o primeiro parque flutuante de plástico reciclado. O protótipo foi instalado no porto de Roterdã, o maior porto marítimo da Europa na segunda maior cidade holandesa.




Com 140m2, o chamado “Recycled Park” comprova o potencial dos materiais descartados. No caso deste projeto, coube a fundação Recycled Island recolher os plásticos, durante um ano e meio, instalando “armadilhas” nos rios poluídos (que poderiam parar no mar).




A organização ambiental afirma que a tecnologia consegue capturar o lixos mesmo com tráfego de navios, mudanças de vento ou maré. E melhor ainda, pode ser implementada em qualquer lugar do mundo: portos, rios e fozes dos rios.




“Quando recuperamos os plásticos diretamente em nossas cidades e portos, evitamos ativamente o crescimento adicional da “sopa de plástico” em nossos mares e oceanos. Roterdã pode servir de exemplo para as cidades portuárias em todos os lugares do mundo. A construção dos blocos de construção em plástico reciclado é um passo importante em direção a um rio livre de lixo”, afirma o arquiteto Ramon Knoester, fundador da Fundação Recycled Island.




Antes chegar ao mar
Uma pesquisa encomendada pelo Ministério Holandês de Infraestrutura e Meio Ambiente afirmou que mais de mil metros cúbicos de resíduos plásticos são transportados todos os anos pelo Rio Meuse e pelo Mar do Norte. Os plásticos são provenientes de aterros, agricultura, esgoto e navegação interna e chegam ao mar pelo despejo, lixo e escoamento



Os resíduos usados nesse projeto foram captados no rio Meuse (rio Mosa), que nasce na França, passa pela Bélgica e Países Baixos, e vai em direção ao mar do Norte. A ideia é justamente impedir que tais componentes cheguem ao mar, onde o problema ganha dimensões incontroláveis.




Para criar as plataformas, o plástico coletado foi para a Universidade de Wageningen (na Holanda), que lidera a pesquisa sobre técnicas eficazes de reciclagem. E outras universidades holandesas, incluindo TU Delft e Universidade de Roterdã, ajudaram a desenvolver os blocos hexagonais interligados, que posteriormente foram ancorados no piso do porto holandês.




Além de contribuir para a redução do lixo aquático, as estruturas também ajudam as plantas a se desenvolverem. Acima e abaixo das plataformas a vegetação pode tomar conta e criar um ecossistema sadio -, inclusive com espécies marinhas. Isso é favorecido pela forma dos blocos de construção em forma de hexágono, onde pássaros, peixes e microorganismos podem encontrar alimento, terreno fértil e abrigo. O espaço é um abrigo ideal para pequenos bichos que podem se desenvolver ali antes de entrar nas águas mais profundas.




Fonte: Ciclo Vivo

Empresas de carnes e laticínios podem se tornar piores poluidores mundiais

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Empresas de carnes e laticínios podem se tornar piores poluidores mundiais

As maiores corporações de carne e laticínios do mundo podem se tornar as piores poluidoras climáticas do planeta nas próximas décadas, de acordo com um novo relatório do Instituto de Política Agrícola e Comercial (IATP) e da GRAIN. 
 
 
Em um momento em que o planeta deve reduzir drasticamente suas emissões de gases que causam o efeito estufa, esses gigantes da carne e do leite estão impulsionando o consumo excessivo ao aumentar a produção e as exportações, apesar dos compromissos públicos que alguns deles assumiram para combater a mudança climática.
 
 
A nova pesquisa mostra que:
• Juntas, as cinco maiores empresas de carne e laticínios (JBS, Tyson, Cargill, Dairy Farmers of America e Fonterra) já são responsáveis por mais emissões anuais de gases de efeito estufa do que as petroleiras ExxonMobil, Shell ou BP.
 
 
 
• As emissões combinadas das 20 maiores empresas de carnes e laticínios superam as emissões de nações inteiras, como Alemanha, Canadá, Austrália ou Reino Unido.
 
 
 
 
• A maioria das 35 principais empresas de carnes e laticínios não consegue relatar completamente as emissões ou exclui suas emissões da cadeia de fornecimento, que respondem por 80-90% de suas emissões. Apenas quatro deles fornecem estimativas abrangentes de emissões.
 
 
 
 
• Apenas metade das 35 maiores empresas de carne e laticínios anunciaram qualquer tipo de metas de redução de emissões. Destes, apenas seis incluem as emissões da cadeia de suprimentos.
 
 
 
 
• Se o crescimento da indústria global de carne e laticínios continuar conforme projetado, o setor pecuário como um todo poderia responder por 80% do orçamento anual de gases de efeito estufa do planeta até 2050.
 
 
 
O relatório também mostra que as operações das 35 principais empresas estão altamente concentradas em um pequeno número de países que têm uma participação desproporcional na produção e consumo mundial de carne e laticínios: Estados Unidos, as nações da União Europeia, Canadá, Brasil, Argentina, Austrália, Nova Zelândia e China são responsáveis por mais de 60% das emissões da produção mundial de carne e laticínios – cerca de duas vezes o resto do mundo por ano numa base per capita. Apenas seis deles produzem mais de 67% da carne bovina do mundo; apenas três (EUA, União Europeia e China) produzem 80% da carne suína do mundo; apenas quatro produzem 61% do frango do mundo, enquanto três (União Europeia, EUA e Nova Zelândia) produzem quase metade dos laticínios do mundo.
 
 
“Não há outra escolha. A produção de carne e laticínios nos países onde as 35 principais empresas dominam deve ser significativamente reduzida”, afirma Devlin Kuyek, da GRAIN. “Essas corporações estão pressionando por acordos comerciais que aumentem as exportações e as emissões,e estão minando soluções climáticas reais, como a agroecologia, que beneficia agricultores, trabalhadores e consumidores.”
 
 
“Não existe carne barata”, alerta Shefali Sharma, do IATP. “Durante décadas, a produção em massa de carne e laticínios tem sido possibilitada por agricultores sendo pagos abaixo do custo de produção, trabalhadores sendo explorados e contribuintes pagando a conta da poluição do ar, da terra e da água causada por grandes produtores de carnes e laticínios. É hora de percebermos que o consumo excessivo está diretamente ligado aos subsídios que fornecemos à indústria para continuar desmatando, esgotando nossos recursos naturais e criando um grande risco à saúde pública por meio do uso excessivo de antibióticos. O que este relatório mostra é o papel fundamental que eles desempenham nas mudanças climáticas também ”.
 
 
O relatório conclui que é necessário incentivar sistemas alimentares nos quais os agricultores possam fornecer a todos quantidades moderadas de carne e laticínios de alta qualidade, respeitando pessoas, animais e o planeta. 
 
Fonte: Envolverde