quinta-feira, 6 de junho de 2019

Criação de UCs: solução para frear a devastação dos biomas

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Criação de UCs: solução para frear a devastação dos biomas



05 Junho 2019   |   0 Comments
Renata Andrada Peña

A Convenção sobre Biodiversidade Biológica (CDB), tratado da ONU do qual o Brasil é signatário desde 1998, quando ratificou sua participação, estabelece que no mínimo 10% da área de cada bioma deve ser protegida. Para alcançar essa meta, inicialmente fixada para 2010, o Brasil precisaria criar hoje mais de 260 mil quilômetros quadrados de Unidades de Conservação (UCs). Especialistas reunidos hoje no Senado Federal defenderam a necessidade urgente de seguir esse caminho como forma de garantir a preservação da biodiversidade brasileira e de barrar a devastação de biomas como Cerrado e Mata Atlântica, fortemente massacrados pelo desmatamento.

Mariana Ferreira, gerente do WWF-Brasil para Ciências, chamou a atenção para a devastação do Cerrado: “a taxa de desmatamento é de 700 a um milhão de hectares por ano e somente 3% dele está protegido em Unidades de Conservação”. A gerente do WWF-Brasil reforçou a importância do bioma para o país e defendeu um modelo sustentável de produção. “O Cerrado tem conexão hoje com todo o planeta. A maioria do que é produzido no bioma é exportado. É muito importante que o Brasil acompanhe o mundo em objetivos de produção sustentável, já que é perfeitamente possível aumentar a efetividade da área de pastagem ou de agricultura, por exemplo, aumentando ao mesmo tempo a proteção. Já sabemos por meio de estudos que podemos atender toda a demanda global até 2050 sem derrubar sequer 1 hectare de Cerrado de agora em diante”, afirmou.

A diretora executiva da Fundação SOS Mata Atlântica, Márcia Hirota, falou sobre o bioma que possui sete das nove bacias hidrográficas existentes no país e concentra 72% da população brasileira, mais de 145 milhões de pessoas. “Hoje restam apenas 12,4% de Mata Atlântica no Brasil e o desmatamento continua crítico em cinco estados: Minas Gerais, Piauí, Paraná, Bahia e Santa Catarina. Atuamos no fortalecimento do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) como forma de garantir a conservação do bioma”, disse Márcia.

Joao Paulo Capobianco, presidente do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS) defendeu a criação urgente de mais UCs no Brasil para frear a devastação de biomas como Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga e Pampas. “Desde a década de 1960, países da Europa e os Estados Unidos implementaram essa estratégia como forma de conservação Essa é uma estratégia que é sucesso no mundo inteiro, é a melhor forma de proteger os biomas. Não há outra melhor ou comparável a essa. As Áreas Protegidas além de conservar, geram emprego e renda para as comunidades locais”, afirmou Capobianco. “Não podemos aceitar informações falsas como a de que o Brasil é o país que mais conserva ou que criando UCs o país vai deixar de produzir alimentos. Isso é falso. Estamos avançando na degradação do meio ambiente brasileiro e na extinção de espécies. Temos mais de mil espécies de fauna ameaçadas no país e mais de 2 mil da flora.

“Meio Ambiente: balanço da conservação dos biomas brasileiros”, foi o tema da audiência pública que ocorreu hoje no Senado Federal. O debate foi organizado a pedido do senador Fabiano Contarato, presidente da Comissão de Meio Ambiente da Casa e faz parte do ciclo de debates “Junho Verde – O Meio Ambiente Une”.

Retrocesso ambiental
Os três especialistas falaram sobre fizeram um apelo para que os parlamentares freiem tentativas de retrocesso ambiental atualmente em curso ou futuras. A gerente do WWF-Brasil para Ciências, Mariana Ferreira, defendeu a possibilidade real do desenvolvimento sustentável no país: “O Brasil pode sem dúvida produzir e conservar ao mesmo tempo por meio de três pilares: setor público comprometido, empresas e sociedade engajada”.

“Apavora vivenciar as iniciativas que estão sendo publicamente declaradas pelo Executivo.  de paralização de criação de UCs, de intervenção no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)... Isso está acontecendo. É um retrocesso inadmissível. Na criação do Fundo Amazônia conseguimos por meio de negociações convencer países a premiar o Brasil sempre que ele diminuísse o desmatamento e corremos o risco de perder essa conquista”, disse Capobianco.

Para Márcia Hirota, todos os brasileiros podem exercer a cidadania em seus próprios municípios. “O cidadão pode participar dos eventos nas Assembleias Legislativas e não permitir o desmonte da legislação ambiental e a destruição de todas as conquistas que o Brasil conseguiu. O crescimento deve ser aliado à conservação. Não podemos aceitar nada que não seja isso”, disse.

O senador Jaques Wagner (PT-BA), vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente, que presidiu a audiência, disse que o momento atual é de luta: “o sentimento de tristeza não pode se transformar em prostração. Temos que ter vontade de batalhar e de ir para as ruas cobrar nossos direitos. Com relação ao meio ambiente, por exemplo, estamos vivendo momento de sandices difíceis de entender, como a tentativa de negar as mudanças climáticas. Temos que atualizar nossas ferramentas de batalha”, disse.

Rio: ambientalistas fazem ato em defesa do Fundo Amazônia

Rio: ambientalistas fazem ato em defesa do Fundo Amazônia


Rio: ambientalistas fazem ato em defesa do Fundo Amazônia
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Um ato contra mudanças no Fundo Amazônia reuniu dezenas de pessoas, no início da noite desta terça-feira (4), em frente à sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no centro do Rio. A manifestação teve a participação de funcionários do banco, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), de ambientalistas, indígenas e apoiadores da causa ecológica.


Os participantes demonstraram temor de que eventuais mudanças na gestão do fundo, mantido principalmente com verbas da Alemanha e da Noruega, possam causar danos à imagem do Brasil e colocar em risco a continuidade da iniciativa.


O governo brasileiro, por meio do Ministério do Meio Ambiente (MMA), sinalizou o desejo de modificar tanto o corpo gerencial do fundo quanto a destinação das verbas, que poderiam, por exemplo, serem utilizadas na desapropriação de terras ocupadas por fazendeiros na Amazônia.


Um dos criadores do fundo, que começou em 2008, e ex-diretor-geral do Serviço Florestal, Tasso Azevedo, ressaltou a preocupação dos ambientalistas com as mudanças propostas pelo governo e até com a imagem do país no exterior, pois o fundo foi criado para ajudar a reduzir o desmatamento.


“O Fundo Amazônia, a gente desenhou e criou com objetivo de, baseado nos resultados que o Brasil obteve, de reduzir o desmatamento, receber contribuições de parceiros internacionais, com doações, baseadas no resultado que a gente obtém. Cada vez que a gente reduz o desmatamento, a gente reduz uma quantidade de gases de efeito estufa, de carbono, na atmosfera. Por cada tonelada de carbono que a gente reduz, por ter menos desmatamento e queimadas, a gente pode receber US$ 5 de contribuição para o fundo. E foram muitos milhões de toneladas que deixaram de ser emitidas quando o Brasil reduziu o desmatamento”, disse.


Segundo Azevedo, as contribuições de países, especialmente Noruega e Alemanha, tornaram o Fundo Amazônia o maior em conservação florestal do mundo, todo baseado em resultados. “Os doadores não dão palpite, mas temos que seguir as regras que foram acordadas quando foi feito o contrato. Essas regras têm de essencial que o BNDES é o gestor do fundo e é quem aprova os projetos. Outra coisa é que o fundo tem um comitê orientador formado pelo governo federal, pelos governos estaduais e pela sociedade civil. E esta comissão não pode ser alterada sem que isso impacte o contrato com os doadores”, disse Tasso.


Procurado por meio de sua assessoria, o Ministério do Meio Ambiente não se pronunciou até o fechamento desta matéria.

Por Vladimir Platonow, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 05/06/2019

Rio: ambientalistas fazem ato em defesa do Fundo Amazônia

, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 5/06/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/06/05/rio-ambientalistas-fazem-ato-em-defesa-do-fundo-amazonia/.

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Bancos de sementes e tecnologias de captação de água contribuem para o desenvolvimento sustentável no semiárido

Bancos de sementes e tecnologias de captação de água contribuem para o desenvolvimento sustentável no semiárido

Bancos de sementes e tecnologias de captação de água – Projeto atende 3.731 famílias que vivem em 69 municípios: 3.560 com bancos de sementes e 171 com cisternas e barreiros trincheiras


cisterna

Os nove estados que compõem o semiárido brasileiro – Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe – terão, até o final deste semestre, a conclusão de 178 bancos de sementes comunitários. A iniciativa é uma parceria da Associação Programa Um Milhão de Cisternas – AP1MC e da Fundação Banco do Brasil, que já implantou 171 unidades de tecnologia social de acesso à água de chuva para produção de alimentos: 54 cisternas calçadão, 63 cisternas enxurradas e 54 barreiros trincheiras.

O projeto “Bancos Comunitários de Sementes com Tecnologias de Acesso a Água” permite aos moradores da região o acesso às sementes crioulas de boa qualidade e adaptadas ao semiárido, e também água para nutrir os animais e irrigar a produção de alimentos. Os beneficiados são agricultores familiares, inscritos nos programas sociais do Governo Federal. O investimento social da
Fundação BB no projeto foi de R$ R$ 10,2 milhões.

Os contemplados são de 3.731 famílias localizadas em 69 municípios. Dessas, 3.560 foram mobilizadas para os bancos de sementes (40 famílias por banco) e 171 receberam as cisternas e os barreiros trincheiras. Todas foram capacitadas em gestão dos bancos de sementes, manutenção das cisternas e uso racional da água.

As famílias também participam de intercâmbios, que permitem as trocas de sementes crioulas entre as guardiãs e guardiões, possibilitando a diversidade dos grãos que já possuem e cultivam há muitos anos. Na lista estão, principalmente, feijões (de arranque/comum e de corda/macassar/caupi), dezenas de variedades de milho crioulo, arroz, fava; sorgo, gergelim, batata, amendoim, algodão, hortaliças e nativas.

De acordo com Claudio Ribeiro, assessor de coordenação da AP1MC, cada banco comunitário possui regimento próprio de gestão de suas sementes. Ele explica que a maioria das famílias devolve uma quantidade maior do que foi tomado emprestado, com o objetivo de aumentar o estoque armazenado. No caso do milho, especificamente, há um grande cuidado nas entradas de sementes para que não ocorra a contaminação por variedades transgênicas. Nesse caso, o projeto desenvolveu kit’s de testes de transgenia onde foi possível analisar os lotes de sementes de milho adquiridos pelo projeto, evitando propagar o material genético contaminado.

Durante a gestão do projeto, os agricultores participam de encontros estaduais das sementes, como os que já aconteceram em Vitória da Conquista (BA), Canindé (CE), Pedro II (PI), Aracaju (SE) e Porteirinha (MG). Nesta quarta-feira (29) e quinta-feira (30), o município de Serra Talhada, sertão de Pernambuco, sedia o 3º Encontro Estadual de Sementes da Partilha. O evento reúne agricultoras e agricultores do Agreste Central, Meridional e Setentrional e Sertão de Pernambuco para roda de experiências, diálogo compartilhado sobre transgenia, feira de troca de sementes e sabores, e uma mesa de diálogo sobre política de sementes crioulas em Pernambuco. A previsão é que os próximos encontros aconteçam em municípios de Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte.
Sobre as tecnologias de captação de águas

Cisternas Calçadão e de Enxurrada – são métodos usados para captação e armazenamento de água pluvial destinada ao consumo de pequenos rebanhos e plantio de hortaliças. As tecnologias sociais possibilitam a captação da água de chuva das estradas e caminhos, que normalmente se perde por escoamento superficial.

Barreiros Trincheiras – são tanques longos, estreitos e fundos escavados no subsolo. Eles têm esse nome porque se parecem muito com uma trincheira e servem para armazenar a água da chuva.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 05/06/2019

Bancos de sementes e tecnologias de captação de água contribuem para o desenvolvimento sustentável no semiárido

, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 5/06/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/06/05/bancos-de-sementes-e-tecnologias-de-captacao-de-agua-contribuem-para-o-desenvolvimento-sustentavel-no-semiarido/.

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Dois mil anos de crescimento demoeconômico global, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Dois mil anos de crescimento demoeconômico global, artigo de José Eustáquio Diniz Alves


crescimento demoeconômico glogal em dois milênios

Dois mil anos de crescimento demoeconômico global

[EcoDebate] O crescimento da população e da economia nos últimos dois mil anos foi algo impressionante. Do ano 1 da Era Cristã até o ano 2000, a população mundial passou de cerca de 225 milhões de habitantes para 6 bilhões de habitantes e a renda per capita global passou de $ 467 para $ 6.055 (dólares internacionais em poder de paridade de compra – ppp, na sigla em inglês). Isto quer dizer que o PIB global era de $ 106 bilhões no ano 1 e passou para $ 36,3 trilhões no ano 2000.


O crescimento da população foi de 26,5 vezes em dois mil anos, enquanto o crescimento da economia foi de 342,7 vezes. Isto quer dizer que a renda per capital mundial cresceu 13 vezes no período.
Mas o crescimento demoeconômico não foi uniforme ao longo dos dois milênios. Entre o ano 1 e o ano de 1500, a população passou de 226 milhões de habitantes para 438,4 milhões (um aumento de 1,93 vezes), enquanto a renda per capita passou de $ 467 para $ 566 (uma aumento de 1,2 vezes). Ou seja, a população cresceu menos de 2 vezes e a renda per capita cresceu apenas 20% em um milênio e meio.


Entre 1500 e cerca de 1800 a população mundial passou de 438,4 milhões de habitantes para 1 bilhão de habitantes (um crescimento de 2,28 vezes). No mesmo período a renda per capita global passou de $ 566 para $ 667 (um crescimento de 1,2 vezes). Portanto, houve uma aceleração da população neste período, mas a renda per capita continuou praticamente estagnada.


Todavia, tudo mudou com o desenvolvimento da Revolução Industrial e Energética que começou nas últimas décadas do século XVIII. Houve uma grande aceleração do ritmo do crescimento demoeconômico. Nos cerca de 200 anos, entre o início do século XIX e o final do século XX, a população mundial passou de 1 bilhão de habitantes para 6 bilhões (um crescimento de 6 vezes). Já a renda per capita passou de $ 667 por volta de 1800 para $ 6.055 no ano 2000 (um aumento de 9,1 vezes em dois séculos).


O que os dados do gráfico acima mostram é que a Revolução Industrial, que iniciou por meio de avanços tecnológico e o uso em larga escala de energia extrassomática (combustíveis fósseis), acelerou o ritmo de crescimento da população e da economia. A despeito das desigualdades sociais, o avanço no padrão de vida da humanidade foi muito significativo. A esperança de vida ao nascer da população mundial que estava em torno de 25 anos em 1800, ultrapassou os 70 anos no início dos anos 2000. Cerca de 94% da população mundial vivia abaixo da linha de extrema pobreza no início do século XIX e esta percentagem caiu para 10% em 2015.


O gráfico abaixo mostra, de forma esquemática, como se dá o processo de transição demográfica (TD). Primeiro caem as taxas de mortalidade e só depois de um certo tempo cai a taxa de natalidade. Em decorrência, há uma aceleração do crescimento populacional e depois uma desaceleração. A TD provoca também uma mudança na estrutura etária.


taxas de nascimentos e mortes (por 1.000 pessoas por ano)

Indubitavelmente, houve um aumento significativo do padrão de vida dos seres humanos nos últimos 200 anos. Mas todo o enriquecimento da humanidade ocorreu às custas do empobrecimento da natureza e do holocausto biológico dos demais seres vivos do Planeta.

O crescimento demoeconômico foi tão grande que o volume de atividades produzidos pela civilização ultrapassou os limites da resiliência do Planeta.

O caminho adotado desde a Revolução Industrial e Energética chegou numa encruzilhada, pois não dá mais para continuar a insana marcha forçada de crescimento e acumulação de capital, pois, ecologicamente, é insustentável manter o grau de exploração dos recursos naturais e muito menos manter elevado nível de descarte de resíduos sólidos, poluição em geral e aumento das emissões de gases de efeito estufa.

Não há muitas alternativas para o terceiro milênio. Ou a curva de crescimento demoeconômico sofre uma inflexão urgente, ou a humanidade terá que enfrentar um colapso ambiental de grandes proporções, só comparável com aquele momento em que a Terra foi atingida por um grande meteoro que provocou uma extinção em massa da vida no Planeta e o desaparecimento dos dinossauros.


O “meteoro” que está provocando uma grande extinção de espécies no Antropoceno e gerando mudanças climáticas catastróficas se chama ser humano, mas que quer ter o mesmo destino dos dinossauros.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 03/06/2019

Dois mil anos de crescimento demoeconômico global, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 3/06/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/06/03/dois-mil-anos-de-crescimento-demoeconomico-global-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/.

Efeito dominó da extinção de espécies também ameaça a biodiversidade

Efeito dominó da extinção de espécies também ameaça a biodiversidade


As dependências mútuas de muitas espécies de plantas e seus polinizadores significam que os efeitos negativos das mudanças climáticas são exacerbados.

Como mostram os pesquisadores da UZH, o número total de espécies ameaçadas de extinção é, portanto, consideravelmente maior do que o previsto em modelos anteriores.



abelha
Parte de uma rede gigante de dependências mútuas: as plantas precisam de insetos 
para dispersar seu pólen e, por sua vez, os insetos dependem das plantas para 
se alimentarem.
(Imagem: istock.com/KenanOlgun)

A mudança climática global está ameaçando a biodiversidade. Para prever o destino das espécies, os ecologistas usam modelos climáticos que consideram espécies individuais isoladamente. Esse tipo de modelo, entretanto, ignora o fato de que as espécies fazem parte de uma rede gigante de dependências mútuas: por exemplo, as plantas precisam de insetos para dispersar seu pólen e, por sua vez, os insetos dependem das plantas para se alimentarem.


Sete redes de polinização na Europa investigadas
Esses tipos de interações mutuamente benéficas têm sido muito importantes na geração da diversidade da vida na Terra. Mas a interação também tem um efeito negativo quando a extinção de uma espécie faz com que outras espécies dependentes dela também morram, um efeito que é chamado de co-extinção. Biólogos evolucionistas da Universidade de Zurique, juntamente com ecologistas da Espanha, Grã-Bretanha e Chile, já quantificaram o impacto de uma mudança climática na biodiversidade quando essas dependências mútuas entre as espécies são levadas em conta. Para esse fim, a equipe de pesquisadores analisou as redes entre plantas com flores e seus insetos polinizadores em sete diferentes regiões da Europa.


Ameaça particular à biodiversidade nas regiões mediterrânicas
Os autores também observaram que o papel das co-extinções no aumento do número de espécies erradicadas poderia ser particularmente alto nas comunidades mediterrâneas. Como exemplo, em uma comunidade na Grécia, o número total de espécies de plantas com previsão de desaparecer localmente até 2080 pode ser tão alto quanto entre duas e três vezes a quantidade esperada quando se considera espécies isoladas.


Os pesquisadores apontam duas razões para isso: primeiro, as regiões do Mediterrâneo foram mais fortemente afetadas pela mudança climática do que a Europa central e do norte. Em segundo lugar, as regiões do sul da Europa abrigam espécies com faixas de distribuição mais estreitas, o que as torna mais suscetíveis à extinção do que aquelas amplamente distribuídas.


Referência:
Jordi Bascompte, María B. García, Raúl Ortega, Enrico L. Rezende, and Samuel Pironon. Mutualistic interactions reshuffle the effects of climate change on plants across the tree of life. Scientific Advances. 15 May 2019. DOI: 10.1126/sciadv.aav2539
https://advances.sciencemag.org/content/5/5/eaav2539


Fonte: University of Zurich, com tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 31/05/2019

 

Efeito dominó da extinção de espécies também ameaça a biodiversidade

, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 3/06/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/06/03/efeito-domino-da-extincao-de-especies-tambem-ameaca-a-biodiversidade/.

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Biocombustíveis – Impactos do óleo de palma (dendê) sobre a biodiversidade neotropical

Biocombustíveis – Impactos do óleo de palma (dendê) sobre a biodiversidade neotropical


Plantação de dendê
Plantação de dendê, Culturas Energéticas – NACE da Embrapa Agroenergia e Embrapa Cerrados. Foto de SANTOS, Maria Goreti Braga dos

Caros Colegas,
Estou indicando artigos liderados por Lain Pardo, meu ex-aluno de doutorado, que estudou os impactos da expansão do óleo de palma (dendê) sobre os mamíferos nativos na Colômbia, usando o método de captura de câmeras.

Como vocês sabem, o dendê está se expandindo rapidamente na América Latina e em outros lugares nos trópicos.

O último artigo de Lain tem duas conclusões fundamentais:

1 – Reduções na diversidade de mamíferos não são tão severas se as faixas de floresta riparia forem retidas nas plantações de dendezeiros, em vez de serem completamente removidas
2 – As perdas de mamíferos também são menores se for permitido que a vegetação de cobertura do solo se regenere sob dendezeiros, em vez de manter o sub-bosque nu de cobertura
Os artigos anteriores de Lain (listados abaixo) fornecem descobertas importantes:
1 – Em geral, as plantações de dendezeiros têm uma biodiversidade de mamíferos substancialmente menor do que a floresta nativa ciliar e as savanas que substituem
2 – Algumas espécies de mamíferos são muito mais vulneráveis ??à expansão da palmeira do que outras, sendo os mesopredadores generalistas e os herbívoros relativamente tolerantes, e muitas outras espécies sendo altamente vulneráveis.
3 – Em escala de paisagem, quando o dendê aumenta para mais da metade da cobertura do solo (45-75%), a diversidade de mamíferos diminui drasticamente


Artigos Indicados:
Pardo, L. E. V., W. F. Laurance, G. R. Clements, and W. Edwards. 2015. The impacts of oil palm agriculture on Colombia’s biodiversity: What we know and still need to know. Tropical Conservation Science 8:828-835.
Pardo, L., M. Campbell, W. Edwards, G. R. Clements, and W. F. Laurance. 2018. Terrestrial mammal responses to oil palm dominated landscapes in Colombia. PLoS ONE 13(5):e0197539.
Pardo, L. E., F. de Roque, M. J. Campbell, N. Younes, W. Edwards, and W. F. Laurance. 2018. Identifying critical limits in oil palm cover for the conservation of terrestrial mammals in Colombia. Biological Conservation 227:65-73.

Saudações a todos(as)
Bill
William F. Laurance, PhD, FAA, FAAAS, FRSQ
Distinguished Research Professor
Australian Laureate & Prince Bernhard Chair in International Nature Conservation (Emeritus)
Director of the Centre for Tropical Environmental and Sustainability Science (TESS)
Director of ALERT (ALERT-conservation.org)

College of Science and Engineering
James Cook University
Cairns, Queensland 4878, Australia

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 03/06/2019

Biocombustíveis – Impactos do óleo de palma (dendê) sobre a biodiversidade neotropical

, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 3/06/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/06/03/biocombustiveis-impactos-do-oleo-de-palma-dende-sobre-a-biodiversidade-neotropical/.

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